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RESUMO
1
Gabriel Both Borella é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná – Câmpus Pato Branco.
Plaza afirma que há várias formas de recuperar a história, como fetiche,
como novidade, como conservadorismo, como nostalgia, ou de forma crítica.
Para Plaza, a forma de recuperar a história mais sintonizada ao projeto tradutor
é a recuperação da história como ‘afinidade eletiva’, ou seja, a história que se
insere dentro de um projeto não somente poético, mas também político (PLAZA,
2003, p 7-8);
A tradução, portanto, é uma recuperação da história e ao mesmo tempo
uma trama entre passado, presente e futuro, que nos faz reler o passado com
olhos novos, transforma o presente e projeta-se para o futuro (PLAZA, 2003, p.
9).
Baseado, principalmente, nas ideias de Walter Benjamin, Plaza discute a
relação entre arte e historicidade. Na visão de ambos, as transformações dos
meios artísticos estão diretamente ligadas ao desenvolvimento das forças
produtivas. Dessa forma, o tradutor se vê diante de uma variedade de códigos,
suportes e convenções que os artistas de valeram para criar. Portanto, o
processo tradutor intersemiótico é influenciado não apenas por procedimentos
de linguagem distintos, mas também pelos suportes empregados, o que revela
que as artes vêm se transformando, influenciadas, entre outros aspectos, pelos
meios de produção.
Considerando o exposto acima, Plaza situa a Tradução Intersemiótica
como uma prática que busca a interação sígnica, como síntese e reescritura da
história.
O primeiro capítulo da Parte I – A Semiótica da Tradução Intersemiótica,
intitulado A Tradução Intersemiótica como Pensamento em Signos trata de
aproximar a concepção pierceana de signo a ideia de tradução. Sendo signo
basicamente definido como algo que representa algo para alguém sob algum
prisma, o próprio pensamento humano pode ser enquadrado dentro da
perspectiva sígnica proposta por Pierce. Sendo assim, para Plaza, “onde quer
que exista pensamento, este existe por mediação de signos” (2003, p. 18).
Pela característica de um signo se transformar em outro, em uma cadeia
semiótica que tende ao infinito, para Plaza, “qualquer pensamento é
necessariamente tradução” (PLAZA, 2003, p. 18), pois todo pensamento é a
tradução de outro pensamento.
Influenciado pelas ideias de Bakhtin e Pierce, Plaza afirma que a
linguagem é necessariamente social, pois todo o conhecimento é mediado pela
linguagem, e que é por meio de um processo de tradução que o pensamento se
torna linguagem.
Sendo o próprio pensamento intersemiótico, ou seja, uma troca sígnica,
Plaza procura discutir o conceito de signo na perspectiva triádica pierceana, e
dedica a esse tópico várias explicações, especialmente sobre o que chama signo
estético, conceito que se aproxima da ideia de ícone proposta por Pierce. Afirma
o autor que “o signo estético erige-se sob a dominância do ícone, isto é, como
um signo cujo poder representativo apresenta-se no mais alto grau de
degeneração porque tende a se negar como processo de semiose” (PLAZA,
2003, p. 24).
A partir da definição de signo estético, Plaza irá analisar a problemática
da tradução da poesia, um gênero inerentemente ambíguo e de acordo com
Octavio e Roman Jakobson, intraduzível. Os dois teóricos da linguagem, de
acordo com Plaza, “convergem num mesmo ponto de chegada: a tradução como
transcodificação criativa” (PLAZA, 2003, p. 26).
Considerando o signo estético como algo característico no texto poético,
em um processo de tradução, afirma Plaza citando Haroldo de Campos, “não se
traduz apenas o significado, traduz-se o próprio signo, ou seja, sua fisicalidade,
sua materialidade mesma” (PLAZA, 2003, p. 28). Dessa forma, a tradução
poética, nessa perspectiva, afasta-se da busca pela fidelidade e adentra o campo
da criação. Plaza (2003, p. 30) afirma que: “A TI é, portanto, estruturalmente
avessa à ideologia da fidelidade”.
Na tradução de um signo estético traduzido por outro signo estético, é
mantida uma relação entre o original e a tradução, na qual ambos têm as suas
ambições complementadas.
Ao tratar de leitura e tradução, Plaza afirma a existência de uma “relação
dialógica entre o signo e o leitor e não o predomínio de um eu cartesiano”
(PLAZA, 2003, p. 34). Portanto, durante o processo de leitura, o signo provocará
vários efeitos no leitor, resultando em um choque de mundos, interno (do sujeito)
e externo (do signo).
No processo de tradução criativa, afirma Plaza, citando Edgar Allan Poe,
os signos são deslocados e os seus interpretantes recriados, programando
assim, os efeitos.
Ainda sobre o papel da leitura na tradução, Plaza afirma que: “a leitura
para a tradução não visa captar no original um interpretante que gere consenso,
mas ao contrário, visa penetrar no que há de mais especial no signo” (PLAZA,
2003, p. 36). Plaza também ressalta que na leitura do original por meio da
tradução deve se considerar as condições de sua produção.
Portanto, para Plaza, citando Haroldo de Campos, a tradução é vista como
um processo de dupla semiose: “uma de leitura decodificadora e outra de
inserção recodificadora” (PLAZA, 2003, p. 36). Sendo assim, de acordo com
Plaza (2003, p. 37), “o que traduzimos são formas como sentimentos sem partes
que se tornam progressivamente articulados e reunidos numa síntese”.
Retornando ao tópica da tradução como criação, e fechando o primeiro
capítulo, Plaza cita as contribuições de Octavio Paz e Ezra Pound, que
percebiam a tradução e a criação fundidas em único objeto.
No segundo capítulo da Parte I, intitulado A Tradução Intersemiótica como
Intercurso dos Sentidos, Plaza irá tratar de como as diferenças culturais são
resultados da captação do real por meio dos sentidos, e de como essa captação
do real pelo sensorial afeta a linguagem, e consequentemente, a tradução.
Sendo o real impossível de ser captado pelo signo, pois ele não é idêntico
a coisa significada, Plaza apresenta como, pelo sentido visual, aspectos da
realidade vêm sendo representados na arte, tratando, inicialmente da relação
entre o olho e o signo.
Avançando na relação entre sentidos e signos, Plaza trata do tato e do
signo. Para o autor, a relação do tato com o signo, seja na representação ou na
tradução, “está intimamente ligado a sua organização material ou, mais
especificamente: o sentido háptico se dá na relação tensional entre intervalo e
elementos e também entre a semântica dos materiais e a sua organização”
(PLAZA, 2003, p. 58). Como exemplo disso, Plaza cita a escultura, na qual a
fusão sensorial e semântica dos materiais está unificada.
Após tratar dos sentidos visuais e táteis, Plaza debruça-se sobre o
acústico. Relacionando-se externamente ao sentido, “a relação entre som e
sentido também pode ser da ordem da semelhança como acontece nos sons
onomatopaicos e expressivos que designam um objeto fora do som” (PLAZA,
2003, p. 60).
Após falar das relações dos signos com os sentidos, Plaza trata da
hibridização deles, afirmando que os meios e linguagens tendem ao trânsito
entre sentidos.
Desse processo de hibridização entre sistemas surgem os conceitos de
multimídia, uma espécie de colagem na qual os meios não chegam a realizar
uma síntese qualitativa, e intermídia, que ocorre quando a síntese qualitativa
dos meios se realiza plenamente.
É nesse contexto que a Tradução Intersemiótica irá operar, muito além da
interpretação de signos linguísticos por outros não linguísticos, ela diz mais
respeito às transmutações intersígnicas (PLAZA, 2003, p. 67). O que interessa
para a Tradução Intersemiótica, de acordo com Plaza, é o rótulo do código
(verbal ou musical, por exemplo), que fornece ao analista “a habilidade de
radiografar as operações sígnicas que estão se processando no interior de uma
mensagem” (PLAZA, 2003, p. 67).
No terceiro capítulo da Parte I, nomeado A Tradução Intersemiótica como
Transcriação de Formas, Plaza afirma que a Tradução Intersemiótica, visa,
portanto, penetrar nas estruturas dos signos e transformá-los, transcriá-los. Essa
transcriação da forma pode ser feita de três formas diferentes: