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Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

UNESP - MARÍLIA

GATO EXISTE?
O Que Isso Tem A Ver Com A Filosofia Da Linguagem

Marcelo Fernando Gonçalo

Trabalho de Conclusão de Semestre: Pesquisa e produção de artigo


científico

marcelo.f.goncalo@unesp.br/ Marilia-São Paulo 07/2023


Gato Existe?

Gato existe? Essa é uma pergunta que aqui responderemos, principalmente


com auxílio da Filosofia da Linguagem, onde nos apoiaremos em dois autores, para
nos ajudar a chegarmos em uma conclusão assertiva do fato.
É importante analisarmos que de fato o animal ao qual nós seres humanos
denominamos de ´´gato`` existe, porém, por que o chamamos assim? Seria esse o
nome certo para nos referirmos a esse animal? Quais sentidos denotamos a palavra
gato? Essa e outras questões, foram tratadas por filósofos ao decorrer da história e
buscaremos respondê-las agora.
A primeira teoria e pensamento que exporemos, se encontra no diálogo
Platônico intitulado Crátilo, onde Sócrates, Crátilo e Hermógenes, irão discutir se ao
darmos nomes as coisas faremos pela natureza da coisa, ou por convenção social.
Temos por aqui muito a ver sobre a Ontologia (para Platão) da palavra e
também sobre a etimologia da mesma. Iniciaremos então com as ideias principais
expostas no diálogo e ao final tiraremos uma conclusão sobre a questão levantada.
O debate se iniciara com Crátilo afirmando que os nomes têm a função de
indicar a natureza das coisas, logo, em contraponto, Hermógenes tem a visão de
que as coisas só são nomeadas por convenção.
Sócrates intervém e Hermógenes pede para Sócrates o ajudar a entender
tanto o que Crático quer dizer com isso, quanto a responder a suas investidas.
Sócrates, por sua vez, com sua dialética, acaba que por exemplos práticos expondo
as questões e opiniões de Crátilo, comparando a Arte de dar nomes as coisas com
tecelões e entre outros, resumidamente, as peças tecidas só podem ser feitas com
os instrumentos certos de se fazê-las, por pessoas adequadas para fazê-las,
pessoas estas que conhecem a arte de o fazer.
O mesmo raciocínio se aplicara, portanto, a arte de dar nomes, somente com
o instrumento certo, e com a pessoa correta. Sócrates a chama de legislador, esse
que conhecera de fato a natureza da coisa a qual nomear, por tanto saberá de fato o
nome apropriado a coisa, da mesma forma que o tecelão não conhecendo a
natureza da lã e instrumento que trabalhara, não saberá fazer uma boa peça. Isso
acarreta afirmar que os nomes têm por si a natureza das coisas ao qual se

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referência, Hermógenes concorda e logo entende o que Crátilo estava tentando
afirmar.
E para o problema dos vários idiomas, Sócrates rebate afirmando que, o
importante dos nomes não são as silabas ou os sons que produzem, mas sim a
essência que ela exprime, como no exemplo de rei e king, mesmo que não usamos
a palavra king, ela expressa a mesma essência que a palavra rei para nós, logo,
devera tanto para nós, quanto para falantes da língua inglesa, ser a mesma coisa a
qual nos referimos.
Hermógenes interroga, portanto, a respeito dos termos alma e corpo, onde
Sócrates se utiliza da Etimologia da palavra para elucidar a questão. Alega NUNES
(1988, p. 124, 399e):
Os que deram o nome de psique à alma pretendiam indicar que quando ela
está presente ao corpo é causa da vida, por conferi-lhe a faculdade de
respirar e de refrescar-se (anapsychon), e que do momento em que essa
força refrescante abandona o corpo, ele perece e morre.
Sobre o corpo que também foi questionado, o mesmo diz NUNES (1988, p. 125,
400c):
Uns afirmam que o corpo (sômia) é a sepultura (sêma) da alma, por estar a
alma em vida sepultada no corpo, ou então, por ser por intermédio do corpo
que a alma da expressão ao que quer manifestar (semainei).
Com isso, Sócrates expõe em pratica a etimologia da palavra, sua ontologia e
como é a natureza da coisa.
Logo em seguida, Sócrates, no diálogo com Hermógenes, define dois tipos de
nomes, a qual ele chama de nomes derivados (advém de outras línguas, misturas de
outros nomes e etc.) e nome primitivo (o primeiro nome dado a alguma coisa,
impossível de fracionar mais). Alega que o legislador, imita por meio da voz, letras,
silabas ou palavras a essência das coisas, dando início assim as palavras primitivas,
que exprime a essência da coisa.
Sócrates então começa a dialogar com Crátilo, propriamente dito, afirmando
que do mesmo modo que um artista pode errar ao fazer um retrato e o mesmo não
sair de forma igual a coisa em si, o legislador também é passível de erro, pois, existe
bons e mal artistas, tanto quanto, existe bons e mal legisladores. Também
argumenta que, o nome se for representar exatamente a coisa em si, com todas as
qualidades, ela deixaria de ser um nome e se tornaria a coisa em si, portanto o
nome tem sua falibilidade, acrescentando coisas e tirando outras.
Cratilo argumenta que quem conhece os nomes, conhece, portanto, as
coisas. Sem se demorar, Sócrates rebate dizendo que, as coisas antes de terem
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nome dado pelos legisladores eram precisas ser conhecidas, portanto, como o nome
tem sua falibilidade, é mais proveitoso conhecer a coisa em si do que o nome e
correr o risco de ter alguma distorção.
Assim, é de se assumir que o nome é convencionado, apesar de ter a
natureza da coisa expressa, ele ainda é criado por humanos, que acabam por ter
seu grau de erro, portanto, ao utilizarmos nomes errados das coisas, estamos nos
convencionando ao erro que todos já usam.
Aí vamos a pergunta, e o que isso tem a ver com o gato? Como notamos
´´gato`` é tanto um nome como um animal, além de outros usos que possam ter,
consideraremos só esses dois por agora.
Notamos que o termo gato vem do latim cattus, que originalmente
determinava um tipo de felino de pequeno porte, por assemelhar o andar cuidadoso
de um ladrão a de um gato, surgiu a expressão gatuno. Logo notamos que a palavra
expressa a natureza da coisa em si, porém, também por não expressar tudo o que
de fato é, ela é convencionada também.
Mas quando pensamos no melhor modo de descobrimos se gatos existem,
não precisa ser necessariamente pela linguagem, nome, palavras ou convenções.
Como diz Sócrates acima, basta olhar a natureza, ou seja, o próprio animal ao qual
intitulamos de gato, e veras que o mesmo existe de fato, mesmo que tenha outro
nome, porém, expressando a essência de um gato, é um gato.
Para não ficarmos somente com uma visão do conhecimento da linguagem e
expor então de uma melhor forma como tudo isso se relaciona com ela, trarei mais
um autor para confirmar que gatos existem, independente da linguagem, e que ela
na verdade nos auxilia a conhecer também a coisa. Agora voltado mais para um
pensamento linguista e representacionista, tratarei aqui agora, do autor chamado
Gottlob Frege.
Frege, por sua vez, vai basear sua filosofia da linguagem, de modo analítica,
utilizando-se de termos muito importantes para ela, como: nome próprio (conjunto de
símbolos), que designa um objeto singular; referência (objeto), aquilo que buscamos
estudar; sentido, modo parcial pelo qual vemos a referência; e representação, aquilo
que enxergamos da referência a partir do sentido.
Ele ilustra isso dá melhor forma, com o exemplo de um triangulo equilátero
abc, sendo o conjunto de símbolos, onde o ponto de intersecção de ab, é o mesmo

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que o de bc, o triangulo sendo a referência, o ponto que olhamos o sentido, podendo
ter mais de um e o que enxergamos, portanto, sendo essa representação parcial.
Também podemos dar sentido a coisas sem referências, como no caso do
corpo celeste mais afastado da terra, tem um sentido, mas é quase impossível
encontrar uma referência.
Nos âmbitos das palavras, quando falamos diretamente delas, elas têm por si
então, um sentido indireto, visto que, são palavras se referindo a palavras.
Portanto quando falamos de palavras, as representações que se criam no
âmbito subjetivo de cada um são igualmente importantes, pois temos uma referência
comum, o sentido pelo qual olhamos será diferente (como no exemplo do triangulo),
porém a representação que fazemos da coisa é subjetiva e particular.
Sobre o próprio objeto, para auxiliar, fala MIRANDA (2011, p. 25):
A referência de um nome próprio é o próprio objeto que designamos com
ele; a representação que então temos é totalmente subjetiva; entre os dois
reside o sentido, que não é subjetivo como a representação, mas por certo
não é o próprio objeto.

Isso nos ajuda então a vislumbrar com mais eficiência sua próxima afirmação,
um pouco mais sucinta, onde diz MIRANDA (2011, p. 26):
Um nome próprio (palavra, símbolo, combinação de símbolos, expressão)
exprime o seu sentido, refere-se a ou designa a sua referência. Exprimimos
com um símbolo o seu sentido e designamos com ele a sua referência.

Dado tudo isso, somos obrigados a admitir então que a palavra gato (conjunto
de símbolos) é um animal, portanto nosso objeto de estudo, tem sua referência, tem
seu sentido, ao dizermos ´´gato``, poderíamos dar outro sentido também como
cattus (tem o mesmo referente), portanto gato é o sentido ao qual olhamos, e
quando o pensamos, temos por sua vez a representação imagética de gato, seja por
símbolos, signos, ou imagens, ainda sim é nossa representação do ser.
Chegaremos, portanto, à conclusão de que independente da nossa
linguagem, o gato irá existir enquanto objeto a ser conhecido e mesmo dentro da
linguagem temos como conhecê-lo, por meio da referência, do sentido que damos e
das representações ao qual criamos.
Portanto fica evidente que gato existe e sim, tem tudo a ver com a linguagem,
pois é por meio dela que nos auxilia a conhecer a coisa e compartilhamos esse
conhecimento obtido, como apresentados pelos autores acima.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NUNES, Carlos. Platão Diálogos Teeteto E Cratilo. 2.ed. Pará: Universidade Federal do Pará,
1988.

MIRANDA, Sérgio. Sobre o sentido e a referência. v. 1, n. 3. Minas Gerais: Universidade


Federal de Ouro Preto, 2011.

Dicionário Etimológico. Origem da palavra GATO - Etimologia. Disponível em:


https://www.dicionarioetimologico.com.br/gato/ . Acesso em: 06 jul. 2023.

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