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SEMIÓTICA – UN1

A ESCOLA DO ESTOICISMO
Por sua vez, a escola do estoicismo, fundada por Zenão de Cítio (340 a.C. - 264 a.C.), fazia outra divisão
do signo, esta em três aspectos: o significante, o significado e o objeto.

O significante é o som da palavra, o significado é a coisa revelada a partir da compreensão, a partir do


pensamento, e o objeto é a existência de fato da coisa. Ou seja, duas delas são palpáveis (o significante
e o objeto), enquanto o significado é incorpóreo.

SANTO AGOSTINHO
Vimos que, na Antiguidade, o filósofo Platão estava preocupado em entender o signo como passaporte
para acessar o mundo das ideias. No entanto, ele ainda se ocupava somente do signo linguístico, verbal,
não dos signos em geral, por exemplo, os não verbais. Quem vai se dedicar a eles é o filósofo Agostinho
de Hipona, mais conhecido como Santo Agostinho (354 d.C.-430 d.C.).

Atento à abordagem dos filósofos estoicos (Atenas, 3 a.C.), Santo Agostinho vai se preocupar com a
função cognitiva do signo – é ele quem usa o termo em latim signum a primeira vez – , ou seja, como o
signo atua no processo de conhecimento. Nesse sentido, ele afirma na obra A dialética: “Um signo é o
que se mostra a si mesmo ao sentido, e que, para além de si, mostra ainda alguma coisa ao espírito.” Ou
seja, além de se revelar aos sentidos, ele revela ao espírito algo que está além dos sentidos, algo
próximo ao mundo das ideias puras de Platão.

Santo Agostinho busca sua base filosófica nos estoicos e propõe uma nova constituição do signo, agora
com quatro elementos: a palavra, o exprimível, a expressão e a coisa.Em comparação à divisão dos
estoicos, o filósofo da Idade Média parece dividir o significante em dois elementos, a palavra e
a expressão, enquanto o exprimível é o significado.

JOÃO DE SANTOS TOMAS


Outro filósofo medieval, o português João de Santo Tomás (1589-1644), escreveu o Tratado dos signos,
parte do seu Curso filosófico. Sua principal contribuição aos estudos dos signos está no fato de ele ter
sido o primeiro teórico a encarar o estudo dos signos como uma ciência à qual outras ciências são
dependentes, pois elas precisam usar adequadamente os signos para que consigam comunicar o
conhecimento gerado por elas.

Assim, ele assume também a função comunicativa já proposta por Santo Agostinho. Ele também divide
os signos em categorias: naturais (aqueles que significam por sua própria natureza), convencionais (que
significam por uma convenção social) e consuetudinários (que adquirem significado por repetição e não
por imposição social).
SEMIÓTICA- UN1/MOD2
O SOCIAL E O INDIVIDUAL
Saussure vai dar um caráter geral à linguística, saindo do âmbito exclusivo da língua falada ou da escrita
e estendendo-a aos processos de comunicação presentes na vida social.Mesmo assim, ele se restringiu à
linguagem verbal. Chamou a isso de semiologia, abrigando-a, dentro do campo científico da Psicologia
Social. Sua semiologia vê a linguística como um modelo de análise da linguagem aplicável a outras
áreas.Para adentrarmos em sua teoria linguística, ou semiologia, vamos analisar a distinção inicial que
Saussure fez entre o que é social e o que é individual.

SOCIAL - Social, em sua definição, é a língua, pois ela já está instituída socialmente quando o indivíduo a assume em
seu processo de socialização. Por língua se entende o sistema de linguagem adotado historicamente por uma
sociedade.

INDIVIDUAL - A fala, por sua vez, é individual, a maneira com que o indivíduo emprega a língua, combinando-a
no ato de comunicação.

SIGNO, SIMBOLO E SEMA


Por ser uma representação do objeto, o signo é arbitrário, pois não mantém relação de similaridade
com ele. O mesmo não acontece com o símbolo, que não é necessariamente arbitrário. Por exemplo, o
símbolo usado para representar a ideia de mensagem, largamente usado nas interfaces digitais
(computadores e celulares). Apesar de se referir ao correio eletrônico, o símbolo representa um
envelope que, por sua vez, remete à ideia de correio. Portanto não é arbitrário, como o são as escritas
da palavra em português “carta” ou em inglês letter, que usam o código alfabético e fonético de cada
língua para representar a ideia de correio. Uma terceira representação seria a que, por meio de um
sistema não linguístico, remete a um enunciado, ou seja, a um conjunto de signos.

Grande parte das pessoas falantes da língua portuguesa convencionou que a imagem de
significa “é proibido estacionar neste local”.O sema em geral exige que seu significado seja uma
convenção social, ou seja, ele depende de um processo de comunicação para que seja compreendido.

SENTIDO DENOTATIVO E CONOTATIVO


Quando, num confronto militar marítimo, se diz “mandar um torpedo”, essa construção com três signos
se refere ao ato de disparar uma arma de guerra submarina que tem a capacidade de percorrer
quilômetros até destruir seu alvo. Mas se usamos essa mesma construção – “mandar um torpedo” – em
resposta a alguém que espera uma informação, ela estará sendo usada figurativamente para designar o
envio de mensagens pelo celular.
O primeiro exemplo revela o sentido denotativo do signo, ou seja, ele tem uma relação direta com o
objeto. Já no segundo, ele tem um sentido conotativo, pois usa um sentido subsidiário ao objeto. Por
que se usa “mandar um torpedo” para se referir ao envio de mensagem por celular?
Não há uma substituição de significado quando o signo denotativo passa a ser conotativo, mas o signo
conotativo traz em si o denotativo.Só entendemos o sentido figurativo de “mandar um torpedo” porque
conhecemos o sentido de representação inicial do signo. Por causa disso é que o signo se torna
ambíguo, podendo, se lido ou falado fora do contexto, ter o seu sentido confundido.
SINTAGMA E PARADIGMA

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
poema de Fernando Pessoa:

A combinação dessas palavras, seguindo uma ordem linear e sequencial, ou seja,


o/poeta/é/um/fingidor/etc., constrói um discurso em que cada signo se apresenta de cada vez, sendo
impossível dizer dois signos, por exemplo, “poeta” e “fingidor”, ao mesmo empo.
O sentido se constrói a partir de um sistema de signos que se relacionam, se associam e criam
um sintagma. Portanto, sintagma é um processo de combinação de signos.
Ao escolher as palavras certas dentro de um repertório de outras possibilidades para combiná-las no
poema, ou seja, para dizer que “a dor que o poeta deveras sente é também um fingimento”, ele usou
vários paradigmas (modelos). Paradigma é um processo de seleção de signos.

Tradicionalmente eles são exemplificados como eixos de uma mesma construção discursiva, sendo o
sintagma o eixo horizontal e o paradigma o vertical.

Podemos, ainda, usar esses conceitos concebidos para análise da linguagem oral a fim de analisarmos a concepção
artística de um desenho. É possível reunir técnicas específicas (paradigma) e experiências de outros artistas para se
conceber uma obra inédita (sintagma). Esse exemplo escapa à teoria linguística de Saussure, mas fica evidente que
ela pode ser empregada em linguagens não verbais, como perceberam os teóricos da semiótica que o sucederam.

RECAPITULAÇÃO: Você conheceu as dualidades do estudo dos signos proposto por Ferdinand de Saussure em
seu Curso de linguística geral, a começar pela língua e pela fala, sendo a primeira uma construção social e a segunda
uma construção individual. Também pôde entender a estrutura do signo, que é dividido em significado (conceito)
e significante (estrutura verbal), e a possibilidade do signo não ser tão arbitrário quando ele é símbolo ou sema.
Tomou contato com o processo de significação, ou seja, formas pelas quais o indivíduo interage com os significados
convencionados socialmente, além de outra dualidade desse processo, a denotação (signo com vínculo direto com o
objeto) e a conotação (associação subjetiva com o objeto). Por fim, pôde entender que a construção do discurso se dá
por dois eixos: o paradigmático, em que ocorre a seleção dos signos que irão compor o discurso, e o sintagmático,
que trata da combinação desses signos na definição dos enunciados.

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