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Representação
3. Ora, sabemos que Freud não tem uma concepção estritamente empírica da memória,
segundo a qual ela seria um receptáculo puro e sim- pies de imagens; mas fala de
sistemas mnésicos, multiplica a lembrança em diferentes séries associativas e, por fim,
designa pelo nome de traço mnésico* muito mais um signo sempre coordenado com
outros e que não está ligado a esta ou àquela qualidade sensorial do que uma “impressão
fraca” que mantivesse uma relação de semelhança com o objeto. Nesta perspectiva, a
Vorstellung de Freud já foi aproximada da noção linguística de significante.
4. No entanto, seria o caso de distinguirmos aqui, como Freud, dois níveis destas
“representações”: as “representações de palavra” e as “representações de coisa”. Esta
distinção sublinha uma diferença a que Freud confere, aliás, um valor tópico
fundamental; as representações de coisa, que caracterizam o sistema inconsciente, estão
em relação mais imediata com a coisa: na “alucinação primitiva”, a representação de
coisa seria considerada pela criança como equivalente do objeto percebido e investida
na sua ausência (ver: vivência de satisfação).
Do mesmo modo, quando Freud, em especial nas primeiras descrições do
tratamento apresentadas nos anos de 1894-96, procura, no fim dos caminhos
associativos, a “representação inconsciente patogênica”, visaria o ponto último onde o
objeto é indissociável dos seus traços, o significado inseparável do significante.
Representação-Meta
Termo forjado por Freud para exprimir o que orienta o curso dos
pensamentos, tanto conscientes como pré-conscientes e inconscientes. Em
cada um destes níveis existe uma finalidade que assegura entre os
pensamentos um encadeamento que não é apenas mecânico, mas determinado
por certas representações privilegiadas que exercem uma verdadeira atração
sobre as outras representações (por exemplo, tarefa a realizar no caso de
pensamentos conscientes, fantasia inconsciente nos casos em que o sujeito se
submete à regra da associação livre).
O termo “representação-meta” assinala que para Freud as associações obedecem a uma
certa finalidade. Finalidade manifesta no caso de um pensamento atento, discriminador,
em que a seleção é assegurada pela representação da meta a atingir. Finalidade latente e
descoberta pela psicanálise quando as associações parecem entregues ao seu livre curso
(ver: associação livre).
Por que Freud fala de representação-meta, e não apenas de meta ou finalidade? A
questão se coloca sobretudo quanto à finalidade inconsciente. Poderíamos responder
dizendo que as representações em causa não são outra coisa senão as fantasias
inconscientes. Essa interpretação justifica-se em referência aos primeiros modelos do
funcionamento do pensamento apresentados por Freud. O pensamento, incluindo a
exploração que caracteriza o processo secundário, só é possível graças ao fato deque a
meta, ou a representação-meta, permanece investida, exerce uma atração que torna mais
permeáveis, mais bem “facilitadas”, todas as vias que dela se aproximam. Esta meta é a
“representação de desejo” (Wunschvorstcllung) que provém da vivência de satisfação.