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Ana Cláudia Salim Scatena

A clínica do trauma e da tanatologia


A distinção entre a representação\palavra e a representação\coisa na teoria
freudiana.

Introdução
Ao longo deste artigo, pretendo desenvolver e ilustrar a sintetização feita por Freud
na elaboração das divisões das representações nos pares representação-afeto,
representação-coisa e representação-palavra, que inova e rompe com os conceitos
da psicologia científica e os pressupostos filosóficos. Para isso apresentarei
brevemente os aspectos fundamentais da concepção freudiana.

Desenvolvimento
Para dar ínicio, acho interessante mencionar que segundo Paul-Laurent Assoun
(2005), devido a coevidade da psicanálise com a revolução saussuriana, é possível
pressupor que os termos freudianos “representação-coisa” e “representação-
palavra” podem ser equivalentes ao “significante” e ao “significado” propostos por
Ferdinand de Saussure, e que farão sentido à diante quando forem explicado os
conceitos de Freud.
A distinção entre representação de palavra e representação de coisa aparece pela
primeira vez na produção freudiana em 1891, anterior ao nascimento da psicanálise.
Para via de regra da filosofia moderna, o entendimento de representação é
empregado para designar a forma sob a qual algo se apresenta, ou seja, a maneira
como um sujeito capta algo externo que se lhe apresenta. O que demanda portanto
três componentes: o ato de representar, o representado e a representação. As
representações cognoscitivas têm importância para a filosofia devido a capacidade
do sujeito para captar a realidade externa.
A representação para a filosofia se dá como um tipo de relação especular e
referencial. A representação freudiana abandona os pressupostos filosóficos. Freud
começa a usar o termo representação como sendo os conceitos mais básicos do
psiquismo, e contrapondo representação ao afeto. A partir daí esboça a teoria do
trauma, onde o afeto que acompanha uma representação é sufocado, devido a um
fato traumático. Nesse caso, a catarse precisa alocar o afeto aquilo que lhe deu
origem, ou seja, à representação qual se desprendeu, levando-o à recordação da
vivência real.
Freud faz alusão a outra divisão para as representações, separando representação
de objeto de representação de palavra. A representação de palavra estaria
localizada no pré-consciente, e são explicadas por meio de um aglomerado de
dados adquiridos sensorialmente e separados por cadeias associativas. A
representação de objeto mantém com o objeto uma relação de aparência
incompleta. Portanto a representação\objeto aparece como algo não fechado,
enquanto a representação\palavra aparece como algo fechado, ainda que possa ser
ampliado. Nessa relação a palavra delimita a realidade. Deste modo a divisão
representação-afeto dá conta das representações das neuroses, ao mesmo tempo
que a divisão palavra-objeto dá conta das representações com o mundo.

Considerações Finais
Freud inova no campo da psicologia e estabelece uma distância dos pressupostos
filosóficos. Renúncia às explicações em termos neurológicos para falar de
descargas de energia psíquica (líbido), e introduz a ideia de uma localização
psíquica que não é análoga à anatômica. Se afasta da psicologia científica por
considerar que apesar das representações exercerem um papel importante nos
fenômenos, sua significação se dá pela ligação com o fator para ele central, as
pulsões. Diferentemente da filosofia, para na concepção freudiana, as
representações de coisa provém de representações sensoriais. Seu conteúdo não é
determinado pela coisa representada. A representação em si mesma não é mais do
que a impressão de um acontecimento. A representação de palavra não significa
uma representação de coisa, não se relacionam como signo e referencial, mas sim
a primeira é uma tradução da segunda, assim sendo, é uma tentativa de captar algo
que sempre escapa. Nem as representações de coisa, nem sequer as de palavras
remetem ao mundo material, pois estão tentando dar conta de uma realidade
psíquica, e de um objeto constituído pela psique. São representações às quais o
líbido se prende.
Bibliografia
Assoun, P-L. (2005). Introducción a la Metapsicología Freudiana. Buenos Aires:
Paidós.
Arnao, Magdalena A DISTINÇÃO ENTRE REPRESENTAÇÃO DE PALAVRA E
REPRESENTAÇÃO DE COISA NA OBRA FREUDIANA: MUDANÇAS TEÓRICAS E
DESDOBRAMENTOS FILOSÓFICOS Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, vol.
XI, núm. 2, julio-diciembre, 2008, pp. 187- 201 Universidade Federal do Rio de
Janeiro Rio de Janeiro, Brasil

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