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Frege tentou reduzir a matemática à lógica, estabelecendo uma linguagem formal para
expressar pensamentos e ideias matemáticas de forma precisa.
À sua maneira, ele queria fornecer uma base sólida para a matemática, buscando
estabelecer as noções fundamentais em que toda a matemática poderia ser construída
de forma consistente e livre de contradições.
Considerou a linguagem precária para lidar com a empreitada de revisar e reformular
a matemática de um modo coerente, lógico e completo. Então recorreu a sinais novos
e metodologia própria, de modo a simplificar o caminho que seria demasiado longo e
complexo, ao lidar com a matemática que havia.
Ele procurou exprimir o pensamento com recursos gráficos, que podem concluir pela
verdade ou falsidade das proposições. Essa abordagem analítica possibilitou que
representasse as questões, por meio de proposições, cuja forma simbólica se tornou
mais clara e resumida.
Um conceito importante introduzido por Frege foi o de "função" (ou "conceito
funcional"). Ele considerava que as sentenças podiam ser compostas por funções e
argumentos.
Frege também se valeu da teoria da verdade, atribuindo significado às sentenças
declarativas através de condições de verdade. Pois uma sentença é verdadeira se
corresponde a um fato ou à relação apropriada entre os objetos referidos em sua
expressão. Ele tratou os números naturais como objetos, e incluiu o conceito de
quantificação, permitindo quantificar sobre conjuntos de objetos, além da lógica do
sinal de identidade. Essas ideias foram fundamentais para a lógica de predicados e
teoria dos conjuntos.
Com a sua conceitografia, Frege tratou de evitar o risco de surgirem interferências
da intuição, o que poderia afetar a coerência das conclusões obtidas por meio da
lógica, gerando uma complexidade inconveniente, que poderia causar "desvios de
rota", levando a erros, ou - pelo menos - dificultando manter a coerência do
processo.
Num primeiro momento ele foi bem sucedido, pois introduziu um método que podia
simplificar as abordagens feitas à matemática - e acho que esse é o seu mérito.
Contudo Frege não logrou encontrar um conceito adequado para "número", e - apesar
das contribuições significativas para a lógica e a matemática - a conceitografia de
Frege não foi completamente bem-sucedida em seu objetivo original de reduzir a
matemática à lógica formal. No início do século XX, Bertrand Russell descobriu uma
contradição na teoria dos conjuntos de Frege, conhecida como "Paradoxo de Russell",
que lançou dúvidas sobre os fundamentos de toda a lógica formal. Essa descoberta
levou a uma série de esforços para revisar e aperfeiçoar os sistemas lógicos e
matemáticos, dando origem à lógica e à teoria dos conjuntos modernos. No entanto, a
conceitografia de Frege continua sendo uma das bases para o estudo da lógica e da
filosofia analítica. Em 1903, o próprio Russell considerou o trabalho de Frege como
sendo superior ao seu, e o recomendou.
Frege perseguiu o propósito de fundamentar a aritmética em uma base lógica sólida,
ou seja, mostrar que as leis e os conceitos aritméticos podem ser derivados de
princípios lógicos mais fundamentais, sem precisar se basear nem na experiência,
nem na intuição, para as suas demonstrações.
Usando a sua "conceitografia", desenvolveu o conceito de "função", e definiu os
números naturais como valores de uma função. Em outras palavras, ele considerava
cada número natural como o valor de uma função aplicada a um argumento específico.
Então abordou o problema da definição dos números naturais, utilizando o zero, o
número um e o sucessor de cada número se valendo de formulações.
Após determinar que a indicação numérica contém um enunciado sobre um conceito, ele
tentou definir os números zero e 1.
Para definir o zero, lhe pareceu válido afirmar que a um conceito convém o número O
se vale universalmente, para qualquer a, a proposição de que a não cai sob este
conceito.
Para definir o 1, ele afirmou que a um conceito F convém o número 1 se não vale
universalmente, para qualquer a, a proposição de que a não cai sob F, e se das
proposições "a cai sob F" e b cai sob F" segue-se universalmente que a e b são o
mesmo.
Para definir de modo geral a sucessão de um número ao imediata#mente seguinte,
formulou que ao conceito F convém o número (n + 1) se existe um objeto a que cai
sob F e tal que ao conceito "cai sob F mas não é a", convenha o número n.
No entanto, essas definições não o satisfizeram, pois encontrou os seguintes
problemas:
- relacionado a sucessão concluiu que o sentido da expressão "ao conceito G convém
o número n" é tão desconhecido quanto o da expressão "ao conceito F convém o número
(n + 1)", pois se poderia dizer o que significa "ao conceito F convém o número 1 +
1", e a partir desse resultado, indicar o sentido da expressão "ao conceito F
convém o número 1 + 1 + 1", etc.; mas por meio dessas definições não poderia
decidir se a um conceito convém o "número Júlio César", ou seja, se algo é, ou não,
um número. De modo geral seria impossível demonstrar uma igualdade numérica, pois
não se poderia apreender um número determinado.
Ele concluiu que não havia feito a definição que pretendia. Apenas havia
determinado o sentido das locuções que citavam que "o número zero convém a" e que
"o número 1 convém a", mas não havia demonstrado que zero e 1 seriam objetos
independentes e possíveis de serem reconhecidos novamente, pois a citação de um
número que convém a um determinado conceito, apresenta uma relação desse número com
tal conceito, mas não é, propriamente, a definição desse número.
Por fim, ele conclui que o número não é algo físico nem subjetivo; mesmo que o
anexemos a um nome, não poderemos apreendê-lo, após essa anexação.
Para criar uma definição da noção de número, por meio de um “critério de identidade
numérica”, Frege recorreu a um estratagema que simplificasse o processo. Após
estabelecer que os numerais são objetos independentes, buscou formular proposições
que tivessem sentido e possibilitassem um reconhecimento. Com um sinal a designando
um objeto, precisava de um critério para decidir, em qualquer caso, se b é o mesmo
que a. Após ter logrado um meio de apreender um número determinado e reconhecê-lo
novamente como sendo o mesmo, poderia atribuir-lhe um numeral como nome próprio. A
intenção era formar o conteúdo de um juízo que se deixaria apreender por meio de
uma equação.
Por meio do conceito de igualdade, já de antemão estabelecido, e do conceito de
número, deveriam resultar as condições nas quais números seriam iguais entre si,
sem que para isso houvesse ainda a necessidade de uma definição particular.
Frege pretendia modificar um esquema montado substituindo o que lhe conviesse.
A partir da proposição "a reta a é paralela à reta b", procurou significar que "a
direção da reta a é igual à direção da reta b". Simbolicamente a//b, pode ser
apreendido como uma equação. Ao fazê-lo, podia obter o conceito de direção e dizer:
"a direção da reta a é igual à direção da reta b". Bastava substituir o sinal "//"
pelo sinal mais geral "=", para que, partindo do conteúdo inicial, chegasse a um
novo conceito.
No entanto, Frege concluiu que todas as equações resultariam em reconhecer como o
mesmo, aquilo que é dado da mesma maneira, ou seja, algo evidente e tão estéril que
não valeria a pena formulá-lo.
Frege considerava que os números cardinais são os que estão em conexão com a
operação de contagem, representam a quantidade de elementos que pertencem a um
conjunto e podem cumprir uma relação biunívoca entre conjuntos.
Para Frege são Zahlen todos os números de todas as espécies (inteiros e
fracionários, positivos e negativos, racionais e irracionais, reais e complexos),
mas são Anzahlen apenas os que respondem à questão "Quantos?", os que chamamos de
cardinais.
Os números 0 e 1 são conceitos abstratos que representam quantidades específicas. O
número 0 representa a ausência de elementos em um conjunto, enquanto o número 1
representa a existência de um único elemento nesse conjunto.
Na visão de Frege, zero é o número que convém ao conceito "diferente de si
próprio"... mas, também, o número que convém ao conceito "igual a zero, mas não
igual a zero", enquanto o 1 segue na série natural dos números imediatamente após
zero. Se sob o conceito F cai um objeto, e se, caso x caia sob o conceito F e y
caia sob o conceito F, se pode concluir em geral que x = y, então 1 é o número que
convém ao conceito F.
A relação de um número n com seu sucessor n+1 é uma relação de continuidade. O
sucessor de um número n é o número que possui uma quantidade de 1 elemento
adicionada ao conjunto que corresponde ao número n. Por exemplo, o sucessor de 2 é
3, pois ao adicionar um elemento a um conjunto com 2 elementos, obtemos um conjunto
com 3 elementos.
Segundo Frege, ao conceito F convém o número (n + 1) se existe um objeto a que cai
sob F e tal que ao conceito "cai sob F mas não é a", convenha o número n.
Com um tratamento rigoroso das ideias de funções e variáveis, Frege queria mostrar
que a matemática se desenvolve a partir da lógica. Ele inventou a lógica de
predicados axiomática, que resolveu o problema da generalidade múltipla. A "notação
conceitual" de Frege pode representar inferências envolvendo afirmações matemáticas
indefinidamente complexas. A análise dos conceitos lógicos e a formalização que é
essencial para a Principia Mathematica (3 vols., 1910-1913), a teoria das
descrições de Russell, os teoremas de incompletude de Kurt Gödel (1906-1978), e a
teoria da verdade de Alfred Tarski (1901-1983), são, em última análise, devido a
Frege.
Um dos propósitos de Frege era isolar os princípios lógicos de inferência, de modo
que na representação adequada da prova matemática, seria sem nenhum apelo a
"intuição" - esta deveria ser representada em separado como um axioma, enquanto a
prova era para ser puramente lógica e sem lacunas.
Frege defendia o logicismo.
Frege tentou obter, pelo uso de seu simbolismo, todas as leis da aritmética de
axiomas que ele afirmou como lógicas.