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1 – Introdução
É notório que o período entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do
século XX, no âmbito da lógica e da matemática, foi marcado por um crescente interesse na
investigação sobre os fundamentos da matemática e pela ênfase no rigor demonstrativo no intuito
de reduzir – ou até mesmo eliminar – as intuições matemáticas.
Tal otimismo, no entanto, não era, em nenhum sentido, apenas uma crença infundada, uma
vez que o desenvolvimento da Teoria dos Conjuntos de Zermelo-Fraenkel e alguns resultados
como o teorema de compacidade3 pareciam indicar que, cedo ou tarde, seria possível formalizar
cada campo da matemática. Entretanto, um breve pronunciamento realizado no Segundo
1
Expressão latina: ‘algo que nós nunca saberemos’.
2
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. p.16.
3
O teorema de compacidade diz que dado um conjunto infinito C, se todo subconjunto finito de C tem um modelo,
então o conjunto infinito C tem um modelo. Com isto é possível dar uma prova de consistência relativa da aritmética
(a aritmética é consistente se a teoria dos conjuntos for consistente).
Departamento de Filosofia
Seminário sobre a Epistemologia das Ciências Exatas, representou um forte golpe4 neste
otimismo geral.
Segue-se aqui uma breve ilustração da estrutura geral da prova de Gödel. Uma apresentação
mais detalhada – porém não exaustiva – será apresentada na versão final da presente pesquisa.
Suponhamos uma sentença A, análoga ao paradoxo de Epimenides (paradoxo do mentiroso),
que afirme que ela mesma não é demonstrável. Teremos então (i): A diz que A não é
demonstrável. Assumamos também que, independentemente de qualquer sistema, sentenças
falsas não podem ser demonstradas. Teremos então (ii): sentenças falsas não são demonstráveis.
Assumindo a consistência do sistema (i.e. que o sistema não produz contradições),
suponhamos que a sentença A seja falsa. Pela afirmação (i), teríamos então que A é
demonstrável. No entanto, o fato de A ser falso e demonstrável contradiz a afirmação (ii). Logo,
por reductio ad absurdum, A é verdadeira, mas indemonstrável. A negação ¬A também é não-
demonstrável, pois, dado que A é verdadeiro, ¬A é falso; e por (ii) temos que sentenças falsas
não são demonstráveis, logo ¬A é não-demonstrável.
Portanto, o sistema formal que produziu a sentença A é incompleto, uma vez que não é capaz
de gerar uma prova para todas as sentenças verdadeiras do sistema, em especial a sentença A.
No entanto, qualquer sentença A (ou ¬A) que seja não-demonstrável em um dado sistema
consistente S, poderá ser demonstrável em outros sistemas formais consistentes. Podemos
adicionar A como novo axioma de S, obtendo o sistema formal consistente S+A, com A
4
É importante salientar que, apesar do forte impacto, o teorema de incompletude não refuta, em nenhum sentido, a
visão otimista de Hilbert. O teorema apenas estabelece que tal otimismo não pode ser justificado pela exibição de um
único sistema, mesmo se nos atermos apenas aos problemas da aritmética. Ibid.[1] p.16, 34 e 39.
5
A bem da verdade, ninguém, com a exceção de von Neumann, percebeu, naquele dia, a força e o impacto de tais
palavras. No entanto tal fato não diminui sua grandeza, mas, pelo contrário, ilustra o tamanho da originalidade da
descoberta de Gödel.
6
KLEENE, S.C. Introduction to Metamathematics. 2ª ed. New York.2009. 204-205p.
Departamento de Filosofia
O primeiro teorema de Gödel nos diz precisamente que, se um sistema formal S, que
contenha no mínimo a aritmética elementar, for consistente, então S será incompleto, com a
sentença A9 como um exemplo de sentença verdadeira e indemonstrável no sistema. Já o segundo
teorema de Gödel diz que, se o sistema formal S for consistente, então S não é capaz de provar
sua própria consistência por meio dos seus métodos de formalização.10 Certamente, a primeira
pergunta que o leitor não-especializado irá fazer será: “o que isto quer dizer exatamente?”
O problema foi bem delimitado por Franzén: “Os teoremas de incompletude são teoremas
sobre a consistência e a completude de sistemas formais. ‘Consistente’, ‘inconsistente’,
‘completo’, ‘incompleto’ e ‘sistema’ são palavras usadas não apenas como termos técnicos da
lógica, mas em muitos outros sentidos na linguagem comum. Portanto, não é nenhuma surpresa
que os teoremas de Gödel tenham sido associados com várias idéias relacionadas à incompletude,
sistemas e consistência em algum sentido informal.” 11
Tendo isto em vista, a presente seção terá como objetivo uma breve exposição sobre cada um
dos conceitos envolvidos nos enunciados dos teoremas. Para, na seção seguinte, analisarmos
algumas interpretações equivocadas, causadas por um uso semântico livre dos termos.
7
É claro que isto não nos diz se A é demonstrável em um sentido mais interessante de ser (ou não) demonstrável
por raciocínio puro, de maneira que fosse aceita pela maioria dos matemáticos.
8
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 50 p.
9
Seção 1.2.
10
KLEENE, S.C. Introduction to Metamathematics. 2ª ed. New York.2009. 207p. 210p.
11
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 4 p.
12
Pode parecer estranho dizer que um axioma A de um sistema S, seja demonstrável em S (ou ainda, que A seja
falso), uma vez que, em contextos informais, axiomas são tomados como verdades básicas que não podem ser
demonstradas. Na lógica, no entanto, algo é ‘demonstrável’ em relação à um sistema formal S. Cada axioma A de S
possui uma prova trivial, produzida pela sentença ‘A é um axioma’, que serve de ponto de partida para
demonstrações menos triviais.
13
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 16 p.
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Os dois sistemas formais de maior destaque, aos quais o teorema da incompletude se aplica,
são a aritmética de Peano (PA) e a teoria dos conjuntos de Zermelo-Fraenkel + Axioma da
escolha14 (ZFC). PA é um sistema formal para aritmética elementar. Já ZFC é um sistema
extremamente poderoso, suficiente para provar a maioria dos teoremas dos dias de hoje.
De um ponto de vista mais técnico, cada sistema formal deve conter ainda um algoritmo (i.e.
um procedimento mecânico simples, sendo possível ser realizado por um computador) que, dado
uma sequência qualquer de símbolos s, é capaz de decidir se tal sequência pertence a um
determinado conjunto E de sequências do sistema. Ou seja, dado uma sequência s como input
(entrada), o computador, por meio de algumas operações, retornará como output (saída) ‘sim’,
caso s pertença ao conjunto E ou ‘não’, caso s não pertença ao conjunto E.17
14
O axioma da Escolha afirma que dado uma coleção de conjuntos não-vazios (i.e. conjuntos que contenham ao
menos um elemento), é possível criar um conjunto, chamado conjunto escolha, que possui exatamente um
elemento de cada um dos conjuntos iniciais. O axioma da Escolha, apesar de ser muito útil para demonstração de
alguns teoremas importantes, não é unanimidade entre os matemáticos.
15
GÖDEL, K. On formally undecidable propositions of principia mathematica and related systems. 2ª ed. New York.
1992.
16
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 19 p.
17
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 64 p.
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(∀) e existencial (∃); operadores lógicos para negação (¬), conjunção (∧), disjunção (∨) e
implicação (→); além do ‘bottom’ (⊥) e do ‘verum’18 (⊤).19
Qualquer sistema que, em sua linguagem, contenha a linguagem descrita acima, certamente
será capaz de demonstrar alguns fatos básicos sobre os números naturais e, portanto, satisfará a
condição do teorema de incompletude. O teorema, no entanto, também se aplica a sistemas que
não produzem sentenças explicitas sobre os números naturais, mas que se referem a objetos
matemáticos que podem ser usados como representantes dos números naturais. Sequências de
símbolos ou conjuntos finitos, por exemplo, podem ser usados como representantes de números
naturais.20
2.3 – Consistência
Os sistemas formais inconsistentes (i.e. que produzem contradições), por outro lado, não
possuem sentenças não-demonstráveis e são capazes de demonstrar quaisquer sentenças, como
por exemplo, as sentenças ‘2 + 2 = 5’ ou ‘x = 1782, y = 1841, z = 1922 e n = 12 é um
contraexemplo para o teorema de Fermat’. Isso acontece, pois, em um sistema formal
inconsistente, todas as sentenças são demonstráveis pela regra de inferência conhecida na lógica
como ex falso quodlibet (qualquer coisa se segue de uma contradição). 22 23
18
O ‘bottom’ é usado para indicar algo que é sempre falso, já o ‘verum’ é usado para indicar uma tautologia, ou
seja, algo sempre verdadeiro.
19
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 155 p. (adaptado)
20
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 22 p.
21
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 19 p.
22
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 18 p.
23
Estamos tomando como dado que os sistemas formais apresentados possuem a regra do 'ex falso quodlibet', no
entanto, algumas lógicas, como por exemplo a lógica paraconsistente, não empregam o uso de tal regra.
24
Assumir que a sentença ‘S é consistente’ é capaz de ser expressa no sistema é um passo muito importante para a
prova, pois, em caso contrário, a observação de que a consistência de S não pode ser demonstrada em S não
representaria nenhum conteúdo relevante (não é um fato relevante que um sistema formal para aritmética não
seja capaz de provar sentenças de fora da linguagem da aritmética, como, por exemplo, que cavalos tem quatro
patas). Ver: FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 35 p.
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‘o sistema formal S é consistente’ for verdadeira, segundo o teorema de incompletude, então não
é possível demonstrar tal sentença usando apenas os métodos de prova contidos no sistema.25
2.4 – Completude
Isso posto, é importante observar ainda que, assim como o ‘ser’ de Aristóteles, a completude
se diz de múltiplas formas.27 Existem, além da completude sintática, a completude funcional (ou
completude de Post), a completude semântica e a completude modal.
A completude semântica29 é uma propriedade que afirma que todas as sentenças válidas de
um sistema formal são demonstráveis (⊨ A → ⊢ A), ou seja, todas as sentenças formalmente
verdadeiras são demonstráveis sintaticamente. O igualmente famoso teorema de completude de
Gödel afirma que a lógica de primeira ordem é completa semanticamente.
25
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 37 p.
26
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 28 p.
27
Aristóteles, grande filósofo e fundador da lógica clássica, uma vez afirmou que ‘o ser se diz de muitas formas’. A
frase a que esta nota se refere é apenas paráfrase da declaração do Filósofo.
28
SMITH, P. An introduction to formal logic. 6ª Ed. Cambridge.2013.
29
Van DALEN, D. Logic and Structure. 5ª Ed. Utrecht. 2013. 43p.
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Há ainda a completude modal, que afirma que um sistema formal para lógica modal é
modalmente completo se toda incorporação de modelos for uma incorporação elementar.
3.1 – Complexidade30
É comumente dito que Gödel demonstrou que existem verdades que não podem ser provadas.
Tal afirmação está apenas parcialmente correta, pois não há nada no teorema de incompletude
que afirme que uma sentença não pode ser demonstrada em um sentido absoluto. Indemonstrável,
no contexto do teorema de Gödel, quer dizer indemonstrável em um sistema formal particular.
30
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 23 p
31
Retirado do Blog ''Postmodernism and the future of traditional photography" de Richard Garrod.
32
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 24 p
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Pode-se pensar que o fato de uma sentença específica ser indemonstrável em um sistema
formal em particular, implica que a matemática se ramifica em duas versões, uma em que tal
sentença é verdadeira e outra em que a sentença é falsa (analogamente ao que acontece com o
postulado das paralelas, responsável pela distinção entre as geometrias euclidianas e não-
euclidianas).
Tal idéia é tomada em combinação com uma visão geral do teorema de Gödel, em favor de
um argumento pós-modernista, por Kadvany34:
“A simples observação de como os teoremas de Gödel criaram uma condição para pós-
modernidade começa com o primeiro teorema de incompletude. Este teorema diz, de fato, que um
sistema axiomático consistente, forte o suficiente para provar alguns resultados básicos da teoria
elementar dos números, será incompleto: sempre haverá sentenças formuladas pela sintaxe do
sistema em consideração que não serão nem demonstráveis nem refutáveis dentro do sistema.
Tais sentenças são ditas indemonstráveis com respeito ao sistema. Tomando a sentença
indemonstrável e sua negação, podemos estender o antigo sistema em dois novos sistemas
mutuamente incompatíveis, pela adição da sentença indemonstrável, ou de sua negação, como um
novo axioma. O exemplo clássico deste procedimento é a produção da geometria não-euclidiana
a partir da adição da negação do postulado das paralelas como axioma da geometria elementar
sem o postulado das paralelas. Os novos sistemas construídos também terão novas sentenças
indemonstráveis, diferentes das originais, e o processo de construção de novas sentenças
indemonstráveis e de novos sistemas capazes de incorporar essas novas sentenças e suas
negações seguirão ad infinitum.”
33
A sentença A é demonstrável no sistema S + A, em que A é um axioma de S.
34
KADVANY, J. Reflection on the legacy of Kurt Gödel: Mathematics, Skepticism, Postmodernism. The Philosophical
Forum 20 (1989). 161 – 181 p.
35
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 77 p
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Conforme já dito acima, “completude”, “consistência” e “sistema” são palavras usadas tanto
em um sentido técnico na lógica quanto em sentidos informais. Portanto, não é nenhuma surpresa
que o teorema de incompletude tenha sido usado em um grande número de aplicações fora do
campo da matemática. Seguem alguns exemplos:
• Pessoas religiosas afirmam que todas as respostas podem ser encontradas na Bíblia, ou em
qualquer outro livro que eles usem. Isto quer dizer que a Bíblia é um sistema completo,
mas Gödel parece indicar que isto não é verdade.
• Conforme a demonstração de Gödel, todos os sistemas formais consistentes são
incompletos e todos os sistemas formais completos são inconsistentes. A constituição
americana é um sistema formal, feitos alguns ajustes. Os pais fundadores fizeram a
escolha pela consistência em detrimento da completude, criando o poder judiciário para
fechar os espaços abertos pela incompletude.
A primeira coisa que se deve notar é que as três afirmações desconsideram o fato essencial
de que os sistemas formais, aos quais o teorema de Gödel se aplica, devem ser capazes de
formalizar pelo menos certa parte da aritmética. Se lembrarmos de incluir esta condição, estas
supostas aplicações do teorema de incompletude caem por terra, uma vez que nem a Bíblia, nem
a constituição americana e nem a filosofia de Ayn Rand são fontes de teoremas da aritmética.
A Bíblia não é um sistema formal pelo simples motivo de que ela não possui uma linguagem
formal, mas sim um conjunto de textos em alguma linguagem comum como o grego, o hebraico
ou o inglês. Ela não possui axiomas explícitos, nem regras de inferência e muito menos teoremas.
O mesmo vale para a constituição americana e para filosofia de Ayn Rand. Decidir o que se
segue e o que não se segue destes textos não é uma questão para os matemáticos, mas para
teólogos, crentes, juristas, advogados e filósofos.
36
Ayn Rand foi uma romancista e filósofa libertária russo-americana. Rand desenvolveu uma corrente filosófica
conhecida como 'Objetivismo'. Tal doutrina está exposta, principalmente, em 'Atlas Shrugged' (1957, disponível em
português) e em 'The Fountainhead' (1943).
37
FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: an incomplete guide to its use and abuse.1ª ed.Wellesly.2005. 80 p
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linguagem formal bem definida, axiomas e regras de inferência. Portanto, não faz sentido, à
primeira vista, dizer o que o teorema de incompletude se aplica à ‘mente humana’. No entanto,
existem dois pontos específicos na suposta relação entre a ‘mente humana’ e o teorema da
incompletude que merecem destaque.
Tomemos a seguinte afirmação: Na medida em que os seres humanos tentam ser lógicos,
seus pensamentos formam um sistema formal e então, necessariamente, o teorema de
incompletude se aplica à mente humana.
Se por “tentam ser lógicos” queira-se dizer apenas, em um sentido informal de “lógico” (i.e.
tentar fazer sentido, ser consistente ou falar de maneira clara) então não é possível apontar
nenhum sistema formal que se relacione com o pensamento humano. Sistemas formais são
estudados e aplicados em contextos matemáticos e na programação de computadores. Quando
dizemos que a ‘mente humana’ é um sistema formal que trata de questões como debates políticos,
argumentos legais, discussões formais (e informais) sobre esportes, ciência ou notícias, estamos
sendo metafóricos na melhor das hipóteses.
Outra observação interessante é que mesmo se aceitarmos que só faz sentido falar do teorema
de incompletude em contextos matemáticos, ainda podemos afirmar que os seres humanos
(‘mente humana’) de fato produzem provas matemáticas, em especial provas de sentenças da
aritmética. Portanto, se dissermos que a ‘mente humana’, quando produz provas de sentenças
aritméticas, não é afetada pelo teorema de Gödel, não estaríamos obrigados a aceitar que existe
algo de essencialmente não-computável sobre o pensamento matemático dos homens, que nos
permite transcender as limitações dos computadores e sistemas formais?
Existem alguns argumentos a favor e contra a existência te tal conjunto, no entanto, nenhum
deles é de fato conclusivo e, portanto, nos restringimos a apenas dizer que nós não possuímos
ainda as ferramentas necessárias capazes realizar um tratamento definitivo para questão.
REFERÊNCIAS
[1] FRANZÉN, T. Gödel’s Theorem: a incomplete guide to its use and abuse.1ª
ed.Wellesly.2005.
[2]PEREIRA, L.C.P.D & CASANAVE, A.L. A propósito del formalismo de Johann von
Neumann. Aceito para publicação na revista 'Metatheoria'.
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