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Unidade 5

Introdução à linguística

IntertextualidadeProf. Dr. Marcos Costa


Unidade 5
Objetos de ensino
5.1 Intertextualidade
5.2 Citação do discurso alheio
5.3 Polifonia nos textos
5.1 Intertextualidade
Revisitando o conceito de Intertextualidade


De acordo com Marcuschi (2008, p. 129):

Este critério subsume as relações entre um dado texto e os


outros textos relevantes encontrados em experiências
anteriores, com ou sem mediação. Há hoje um consenso
quanto ao fato de se admitir que todos os textos comungam
com outros textos, ou seja, não existem textos que não
mantenham algum aspectos intertextual, pois nenhum texto
se acha isolado e solitário.
Destarte, compreende-se que a intertextualidade é uma
propriedade constitutiva de todos os textos.
A transtextualidade

Marcuschi (2008, p. 130), retomando Genette (1982), propõe as


seguintes relações transtextuais, as quais englobam os diversos
tipos de diálogo entre textos e discursos:

• Intertextualidade: que supõe a presença de um texto em


outro (por citação, alusão etc.);
• Paratextualidade: que diz respeito ao entorno do texto
propriamente dito, sua periferia (títulos, prefácios,
ilustrações, encarte etc.);
• Metatextualdiade: que se refere à relação de com=mentário
de um texto por outro (resenha; comentário etc.);
A transtextualidade

• Arquitextualidade: bastante mais abstrata, que põe um texto


em relação com as diversas classes às quais ele pertence (tal
poema de Baudelaire se encontra em relação de
arquitextualidade com a classe dos sonetos, com a das obras
simbolistas, com a dos poemas, com a das obras líricas etc.)
• Hipertextualidade: que recobre fenômenos como a paródia,
o pastiche etc.
Tipos de intertextualidade (sentido restrito)

Marcuschi (2008) esclarece que, se trabalharmos com um


sentido restrito de intertextualidade, como aquele dado por
Koch (1991) – a saber: intertextualidade é “a relação com outros
textos previamente existentes, isto é, efetivamente produzidos”,
teremos, pelo menos, três tipos de intertextualidade:

• A) intertextualidade de forma e conteúdo: quando alguém


utiliza, por exemplo, determinado gênero textual como a
epopeia em um outro contexto não épico só para obter um
efeito de sentido especial.
Tipos de intertextualidade (sentido restrito)

• B) intertextualidade explícita: como no caso de citações,


discursos diretos, referência documentada com a fonte,
resumos, resenhas;

• C) intertextualidade com textos próprios, alheios ou


genéricos: alguém pode muito bem situar-se numa relação
consigo mesmo e aludir a seus textos, bem como citar textos
sem autoria específica como os provérbios.
ATENÇÃO
• Existem diversos estudos sobre
intertextualidade e interdiscursividade, como
vimos na Unidade 1 com o texto de Fiorin.
• Marcuschi (2008, p. 181) é ciente dessa
diversidade de perspectivas e inclusive ressalta:
“a intertextualidade colabora com a coerência
textual. É hoje estudada detidamente porque
tem importância fundamental ao relacionar
discursos entre si”.
A independência da intertextualdiade

• Segundo Fiorin (2016, p. 162),


Kriteva e o ressurgir de Bakhtin
• Segundo Fiorin (2016, p.0163 ),
É preciso repensar o repensado de Kristeva

• Segundo Fiorin (2016, p. 165),


Retomando o conceito de dialogismo

• Segundo Fiorin (2016, p. 166 ),


Dialogismo em duas perspectivas

• Segundo Fiorin (2016, p. 167 ),


Por que o dialogismo é o princípio constitutivo
da linguagem?

• Fiorin (2016, p. 167 ) responde da seguinte maneira:


Qual é a fronteira entre um enunciado e outro?

• É a alternância de sujeitos, pois, segundo Fiorin (2016, p. 168 ),


Duas formas de se incorporar as vozes no
enunciado

• Segundo Fiorin (2016, p. 168 ),


Distinção entre intertextualidade e
interdiscursividade

• Segundo Fiorin (2016, p. 181 ),


Em síntese

De acordo com Fiorin (2016, p. 181), assim, se


diferencia a intertextualidade da interdiscursividade:

(i) intertextualidade: a relação discursiva é


materializada em textos, tendo marcas e registros
materiais dentro do enunciado.

(ii) interdiscursividade: a relação dialógica não se


manifesta no texto, mas pode ser pressuposta, mesmo
sem marca alguma no texto.
5.2 Citação do texto alheio
Características do texto dissertativo

De acordo com Platão e Fiorin (1996, p. 242),


essas são as características do texto
dissertativo:

a) Ao contrário do texto narrativo e descritivo, é


temático, isto é, não serve apenas para
caracterizar situações e/ou seres, mas
aborda interpretações genéricas válidas em
diversos e distintos contextos;
b) Pode abordar mudanças de situação, como
acontece nas narrativas;
c) O tempo verbal mais comum nas
dissertações é o presente no seu valor
atemporal, todavia pode aparecer sentenças
no futuro do presente e também no pretérito
perfeito.
O texto dissertativo e suas particularidades

Platão e Fiorin (1996, p. 253)


explicam ainda que:


O texto dissertativo é temático é mais abstrato
que os outros dois [narrativo e descritivo], ele
explica os dados concretos da realidade. Por
isso, numa dissertação, as referências a
casos concretos e particulares, ou seja,
narrações ou descrições que aparecem em
seu interior, ocorrem apenas para ilustrar
afirmações gerais ou para argumentar a favor
delas ou contra elas. A dissertação fala
também de mudanças de estado, mas aborda
essas transformações de maneira diferente da
narração. Enquanto a finalidade central desta
é relatar mudanças, a daquela é explicar e
interpretar as transformações relatadas. O
discurso dissertativo típico é o da ciência, o da
filosofia, o dos editoriais dos jornais, etc.
Quais são os elementos que sustentam o texto
dissertativo?

Observado que o texto dissertativo não se sustenta apenas e


meramente porque expõe um posicionamento em três
partes concatenadas (introdução, desenvolvimento e
conclusão), o que faz um texto, de fato, caracterizar-se
como dissertativo.
De acordo com Fiorin e Platão (1996, p. 252), as
características do texto dissertativo são as seguintes:

(a) Ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é


temático, ou seja, não trata de episódios u seres
concretos e particularizados, mas de análises e
interpretações genéricas válidas para muitos casos
concretos e particulares opera predominantemente
com termos abstratos.
Quais são os elementos que sustentam o texto
dissertativo?

De acordo com Fiorin e Platão (1996, p. 252), as


características do texto dissertativo são as seguintes:

(d) Já que a dissertação pretende expor verdades


gerais válidas para muitos fatos particulares, o tempo
por excelência da dissertação é o presente no seu valor
atemporal; admite-se nela ainda o uso de outros
tempos do sistema do presente, a saber, o presente
com o valor temporal, o pretérito perfeito e o futuro do
presente.
De acordo com Fiorin e Platão (1996), como dito em
Unidades anteriores, compreende-se que o
desenvolvimento textual e os tipos de texto
compartilham traços, embora se distinguem:

Descrição: figurativo, figuras (objetos e seres)


Narração: figurativo, figuras e percursos narrativos (ações)
Dissertação: temático, argumentos

Isso explica o quê?


Isso desmistifica a ideia de que a produção de um texto dependa de um
saber técnico. As classificações são rótulos que podem auxiliar o estudo
do processamento da linguagem, mas que não deve engessar sua
produção. Além disso, também explica que mesmo em uma dissertação,
existem traços e mecanismos similares aos que estão presente na
narração e na descrição.
Existem diversas maneiras de explicar como e
para que serve a dissertação. A perspectiva de
Platão e Fiorin (1996) não é a única. A diferença
da proposta teórica desses autores é que ela não
reduz o processamento das informações no texto
a uma tipologia que engessa as possibilidades de
criação textual.

Os próprios estudiosos entendem que “cada um deles


[descrição, narração e dissertação] tem uma função
distinta. Os textos narrativos e descritivos são
figurativos. Eles representam o mundo e simulam-no”
(FIORIN; PLATÃO, 1996, p. 252). Já os textos
dissertativos são temáticos e, por isso, servem para
explicar, analisar, classificar, avaliar os seres concretos.
Todavia, isso não impede que, como dissemos, uma
dissertação tenha elementos narrativos e descritivos em
sua tessitura discursiva e enunciativa.
Só a dissertação serve para expor o
ponto de vista do autor sobre o mundo?

Fiorin e Platão (1996, p. 253) discordam que somente o texto


dissertativo possa expor o ponto de vista sobre os objetos do
mundo – embora seja o mais utilizado. De acordo com os
estudiosos, como já dissemos, tanto a narração, quanto a
descrição pode – em geral, expressam – um posicionamento
discursivo sobre o mundo.
Portanto, a afirmação de que “a dissertação é o único tipo
textual que expressa o ponto de vista do autor” é reducionista
e não apreende as diversas possibilidades discursivas do
texto dissertativo em sala de aula.
Tipos de texto dissertativo

Dentre as diversas tipologias e classificações


do texto dissertativo, podemos distingui-lo em
duas espécies:

(a) Texto dissertativo-expositivo

(b) Texto dissertativo-argumentativo


Texto dissertativo-expositivo

Othon Moacyr Garcia distingue dissertação de


argumentação. Vamos adaptar essa distinção às duas
espécies propostas. Para esse estudioso, a dissertação
tem apenas “como propósito principal expor ou
explanar, explicar ou interpretar ideias” (GARCIA, 1996,
p. 370). Nesse sentido mais restrito, pode-se dizer que
aquilo que Garcia (1996) chama de dissertação é,
nossa proposta, um texto dissertativo-expositivo, uma
vez que possui a função de expor “o que sabemos ou
acreditamos saber a respeito de determinado assunto;
externamos nossa opinião sobre o que é ou nos
parece ser” (GARCIA, 1996, p. 370, grifo do autor).
Texto dissertativo-argumentativo

De acordo com Garcia (1996, p. 370), a argumentação


serve para “convencer, persuadir ou influenciar o
leitor ou ouvinte”. Desse modo, aquilo que Garcia
(1996) chama de argumentação é o que nós
chamamos de texto dissertativo-argumentativo,
porque, nesse tipo de texto, “procuramos
principalmente formar a opinião do leitor ou ouvinte,
tentando convencê-lo de que a razão está conosco, de
nós é que estamos de posse da verdade”.
O texto dissertativo-argumentativo
em três vertentes

Podemos aprender o texto dissertativo-argumentativo


em três vertentes, a saber:

a) O ensino desse tipo textual em manuais didáticos;


b) A produção escrita desse tipo textual na sala de
aula;
c) O uso desse tipo textual na produção científica.
O texto dissertativo-argumentativo nos
livros didáticos
Em geral, os livros didáticos trazem fórmulas,
esquemas e outras estratégias didáticas para ensinar
como fazer uma dissertação.
Essas metodologia didática está associada às
finalidade desse ensino: a produção escrita em
exames como os vestibulares, concursos e testes.
É uma cultura escolar que promove o ensino, sem
aprender as diversas possibilidades de aplicação,
veiculação e difusão desse tipo textual.
Como é ensinado o texto dissertativo-
argumentativo nos livros didáticos?

Costa, Viel e Campos (2013, p. 316) analisam duas referências de obras


didáticas aprovadas pelo Programa Nacional de Livro Didático (PNLD, 2012):
Português linguagens, de Cereja e Magalhães (2010), e Tantas linguagens,
Campos e Assumpção (2012). Depois de analisar as seções que abordam o
ensino do texto dissertativo-argumentativo, os autores defendem que:

Diante dessas abordagens tão distintas, faz-se necessária a


afirmação saussuriana, que abriu nossa discussão: em se tratando
do campo da linguagem, o objeto não precede o ponto de vista.
Portanto, o que se apreende, na discussão de como os LDs
apresentam o objeto de ensino argumentação, em especial o
conteúdo texto dissertativo-argumentativo, é que não se pode
apenas expor uma estrutura composicional do gênero, como faz
Cereja e Magalhães; deve-se também dar um instrumental
investigativo ao aluno, como faz Campos e Assumpção. Enfim,
ensinar a pescar ao invés de dar o peixe (COSTA; VIEL; CAMPOS,
2013, p. 316).
E na sala de aula, como o texto dissertativo-
argumentativo é ensinado?
Diversas são as possibilidades didático-
pedagógicas de se ensinar a produzir
dissertações, sejam elas expositivas ou
argumentativas.
Todavia, há uma predominância do
ensino tradicional em que o alunado é estimulado
a produzir textos dissertativos-argumentativos a
partir de propostas de redação já veiculadas em
vestibulares, nos exames anteriores do ENEM ou
de outros tipos de concurso.
É um ensino mecanicista, repetitivo e que
não promove a amplitude necessária para se
apreender o tipo textual dissertativo como um
motor da criatividade, da reflexão e da criticidade
do cidadão.
Por que é importante ensinar os alunos a
pensar e a defender suas ideias?

Se formos capazes de criar condições que induzam nossos alunos a


pensar, estaremos contribuindo para a formação do cidadão
participante, do indivíduo autônomo e humanitário, de um ser
com maiores probabilidades de conhecer-se a si mesmo e de
perceber a responsabilidade de sua atuação no mundo. A
compreensão da realidade, a capacidade de tecer julgamentos
equânimes é a condição que liberta os homens dos preconceitos,
dos impulsos passionais, egoístas, injustos e discriminatórios.
(SILVA, 2000, p. 32).

SILVA, Elisabeth Ramos da. O desenvolvimento do pensar crítico no


ensino da língua materna: um objetivo de natureza transdisciplinar.
In: ______. Texto e ensino. Taubaté: Cabral Editora, 2002.
Qual abordagem posso utilizar em sala de aula
para ensinar o texto dissertativo-argumentativo?

Diversas são as abordagens possíveis. A abordagem que mais tem


apresentado bons resultados na literatura é a interacionista – ou
sociointeracionista –, a qual Irandé Antunes faz a seguinte síntese:

Uma visão interacionista da escrita supõe, desse modo, encontro,


parceria, envolvimento entre sujeitos, para que aconteça a comunhão
das ideias, das informações e das intenções pretendidas. Assim, por
essa visão se supõe que alguém selecionou alguma coisa a ser dita a
um outro alguém, com quem pretendeu interagir, em vista de algum
objetivo (grifos da autora).

Como se apreende, a estudiosa defende um ensino em que a escrita


participe da vida de quem escreve e não que ela seja algo apartado, isto
é, mais um exercício de escrita que, em nada, relaciona-se com a vida
de quem o faz.

ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino de línguas


sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
O texto dissertativo-argumentativo na
produção acadêmica

Em geral, o texto científico possui características


bem definidas, as quais primam pela clareza,
coesão e coerência das ideias propostas.
Vamos apresentar a seguir algumas estratégias
utilizadas para se escrever textos dissertativos-
argumentativos.
O intuito dessa seção não é trazer “fórmulas
mágicas” para se escrever mais e melhor. Longe
disso, é apresentar algumas técnicas que podem
melhor sua performance no momento da escrita de
um texto dissertativo-argumentativo.
A estratégia KISS

A estratégia KISS (em tradução para o português, MICS)


é uma forma de construir um pensamento coerente e
conciso a partir de uma premissa simples: manter a ideia
curta e simples. Esse acrônimo resume uma estratégia de
design adotada pela Marinha americana na década de
1960, conforme Dalzell (2009, p. 565).

KISS = Keep It Short and Simple


(Tradução: MICS - Mantenha Isso Curto e Simples)
A estratégia 5C’s

A estratégia 5C’s é um mnemônico que propõe a memorização


de cinco palavras-chave que o escritor de um texto
dissertativo-texto tem que expressar em sua produção escrita.
Essas cinco expressão são as propriedades esperadas em um
texto dissertativo-argumentativo, a saber:

1. Completo
2. Claro
3. Correto
4. Coerente
5. Conciso
Costa, Silva Filho e Ferreira (2020)
explicam essas cinco propriedades da
seguinte maneira:

Fonte: Costa, Silva Filho e Ferreira (2020, p. 15)


Como argumentar?

Como apresentamos na Unidade 2, para argumentar, é preciso


reconhecer dois importantes processos:

Evidência das provas: fatos, exemplos, ilustrações, dados


estatísticos e testemunhos

Consistência do raciocínio: argumentação informal e


argumentação formal (plano-padrão)
Evidência

De acordo com Garcia (1996, p. 371),


enumera cinco tipos de evidência, a
saber:
(a)Fatos;
(b)Exemplos;
(c)Ilustrações;
(d)Dados estatísticos;
(e)Testemunhos.
Plano-padrão da
argumentação formal
Para produzir o efeito de sentido de consistência dos
argumentos que são formulados, sobretudo, aqueles que são
escritos, Garcia (1996) sugere o seguinte plano-padrão:

1. Proposição (afirmativa, suficientemente definida e limitada; não


deve conter em si mesma nenhum argumento, isto é, prova ou
razões)
2. Análise da proposição
3. Formulação dos argumentos (evidência)
a) fatos;
b) exemplos;
c) ilustrações;
d) dados estatísticos;
e) testemunho.
4. Conclusão
Desse modo, quando, no vestibular ou em um concurso,
solicita-se que se faça um texto dissertativo-
argumentativo, espera-se que o texto produzido execute
duas funções: (1) expor uma ideia; (2) defender essa ideia.

ATENÇÃO
Quando se está demonstrando que a função social de um texto,
como no caso o dissertativo-argumentativo, depreende-se que, no
caso do universo dos discurso científico, existem “regras discursivas”
para se escrever que se baseiam tanto no conjunto de evidências
que se apresenta na pesquisa, quanto na consistência dos
argumentos que, como aprendemos com Garcia (1996) na Unidade 2
e, agora, retomamos, está associada a uma estrutura formal.
Essa estrutura está explicitada no plano-padrão de argumentação
formal, sugerido por Garcia (1996).
Muitos têm dificuldade de expor suas ideias seja oralmente
ou sobre o papel. Mais do que essa aversão à exposição
pública, muitos outros temem entrar em conflito ao
argumentar. Por isso, é preciso esclarecer a função social
da argumentação.

ATENÇÃO
“A legítima argumentação, tal como deve ser
entendida, não se confunde com o “bate-boca” estéril
ou carregado de animosidade. Ela deve ser, ao
contrário, “construtiva na sua finalidade, cooperativa
em espírito e socialmente útil” (GARCIA, 1996, p. 371).
Por isso, não tenha medo de expressar suas ideias e
defendê-las. Lembrem-se de que a Democracia não é o
império da ideias hegemônicas, mas a convivência
harmoniosa entre ideias distintas, não raramente
contraditórias.
O que é a ABNT?

A ABNT é sigla de Associação Brasileira de Normas


Técnicas. Esse é o órgão responsável por normatizar
padrões de diversas atividades humanas, dentre elas a
escrita de documentos técnicos e científicos.
Desse modo, o intuito dessa seção é apresentar as normas
gerais que ABNT propõe para a escrita de documentos
técnico-científicos.
De acordo com Robert Barras (1979), os cientistas precisam
escrever para transmitir o resultado de suas atividades, de
suas investigações e de seus saberes. É importante, então,
que você, estudioso da linguagem, saiba como escrever em
conformidade com as normas da ABNT.
Como a ABNT normatiza?

É preciso esclarecer que a ABNT possui diversas


normativas e cada uma delas aborda um tema
específico. Por isso, vamos abordar algumas das
normas expostas sobre os textos técnico-científicos. A
seguir, tem as principais normativas:
ABNT NBR 5892.2019 – Norma para datar
ABNT NBR 6022.2018 – Artigos em periódicos
ABNT NBR 6023.2018 – Referências
ABNT NBR10719.2015 – Relatório técnico e/ou científico
ABNT NBR 6027.2013 – Sumário
ABNT NBR 6024.2012 – Numeração progressiva
ABNT NBR 14724.2011 – Trabalhos acadêmicos
ABNT NBR 15287.2011 – Projeto de pesquisa
ABNT NBR 15437.2006 – Pôsteres técnicos e científicos
ABNT NBR 1225.2004 – Lombada
ABNT NBR 6034.2004 – Índice
ABNT NBR 6028.2003 – Resumo
ABNT NBR 10520.2002 – Citações em documentos
Do conteúdo para a forma

Nas seções anteriores de nossa disciplina,


abordamos, com maior ênfase, o conteúdo dos
gêneros do discurso que abordamos, por
exemplo, do resumo e da resenha. Agora, vamos
explorar a forma dos textos científicos, isto é, a
diagramação da página, os tópicos essenciais, o
tamanho da letra, a citação do discurso alheio,
etc.
Para tanto, nas próximas telas, serão
apresentadas normas de formatação dos
textos baseadas, sobretudo, em três normas
da ABNT, a saber:

• ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.


NBR 10520: Informação e documentação – Citações
em documentos – Apresentação. Rio de Janeiro:
ABNT, 2002.
• ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
NBR 14724: informação e documentação: trabalhos
acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro, 2011.
• ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.
NBR 6023: informação e documentação: Referências
– Elaboração. Rio de Janeiro, 2018.
Diagramação: a apresentação do texto na página

Observe o que orienta a NBR 14724 (ABNT, 2011):

a) papel branco ou reciclado com formato A4;


b) pode-se digitar no anverso das folhas;
c) fonte textual padrão: tamanho 12 e fonte Arial ou Times
New Roman;
d) fonte menor: tamanho 10 e fonte Arial ou Times New
Roman;
e) margens: esquerda e superior com 3 cm e direita e
inferior com 2 cm;
f) uso de Negrito: para títulos e tópicos primários;
g) uso de itálico: destaque e palavras estrangeiras; e
h) uso de aspas duplas (“ “): para citação direta de
discurso alheio com até três linhas.
Espaçamento

Nos trabalhos acadêmicos, o espaçamento é de 1,5


entre as linhas, excetuando-se as citações de mais de
três linhas, notas de rodapé, referências, legendas
das ilustrações e das tabelas, natureza (tipo do
trabalho, objetivo, nome da instituição a que é
submetido e área de concentração), que devem ser
digitados em espaço simples.
As referências, ao final do trabalho, devem ser
separadas entre si por um espaço simples em branco.
Em relação à numeração progressiva das seções de
um documento escrito, a NBR 6024 (ABNT, 2012)
estabelece um sistema de numeração progressiva
das seções de documentos escritos de modo a expor
numa sequência lógica o inter-relacionamento da
matéria e permitir sua localização.
• Deve-se limitar a numeração progressiva até a
seção quinária;
• Na leitura oral não se pronunciam os pontos;
• Não se utilizam ponto, hífen, travessão ou
qualquer sinal após o indicativo de seção, ou de
seu título;
• Destacam-se gradativamente os títulos das
seções, utilizando os recursos de negrito, caixa
alta ou outro recurso.
Seções

A seção é parte em que se divide o texto de um


documento, que contém as matérias
consideradas afins na exposição ordenada do
assunto:

• Seção primária: principal divisão do texto de


um documento;
• Seção secundária, terciária, quaternária,
quinária: é uma divisão do texto de uma seção
primária, secundária, terciária, quaternária,
respectivamente.
Exemplo de Seções
Tipos de notas

Conforme a NBR 14724 (ABNT, 2011), existem


três tipos de notas, a saber:

• Notas de referência: notas que indicam


fontes consultadas ou remetem a outras partes
da obra onde o assunto foi abordado
• Notas de rodapé: indicações, observações ou
aditamentos ao texto feitos pelo autor,
tradutor ou editor, podendo também aparecer
na margem esquerda ou direita da mancha
gráfica.
Notas explicativas: notas usadas para comentários,
esclarecimentos ou explanações, que não possam ser
incluídos no texto. A numeração das notas explicativas é
feita em algarismos arábicos, devendo ter
numeração única e consecutiva para cada capítulo ou
parte. Não se inicia a numeração a cada página.
Citações

Na Unidade 4, foi dito que A NBR 10520 (ABNT, 2018)


especifica as características exigíveis para apresentação de
citações em documentos. De acordo com a normativa,
citação é a menção de uma informação extraída de outra
fonte. Como já dito, mas é bom relembrar: existem três
tipos de citação, a saber:
• Citação de citação: citação direta ou indireta de um
texto em que não se teve acesso ao original.
• Citação direta: transcrição textual de parte da obra do
autor consultado.
• Citação indireta: texto baseado na obra do autor
consultado.
Sistema Autor-data

No sistema Autor-Data, a indicação


da fonte é feita pelo sobrenome de
cada autor ou pelo nome de cada
entidade responsável até o primeiro
sinal de pontuação, seguido(s) da
data de publicação do documento e
da(s) página(s) da citação, no caso
de citação direta, separados por
vírgula e entre parênteses.
Exemplo do Sistema Autor-Data

Veja o exemplo a seguir da referenciação no sistema Autor-Data:


Escrita da autoria: por extenso ou com siglas?

Uma das dúvidas mais comuns no sistema Autor-Data


é se na lista de referências deve-se escrever o nome
dos autores por extenso ou usando siglas. As normas
mais recentes aceitam os dois modos, mas fazem
duas recomendações:
6.8 Ao optar pelo uso de elementos complementares,
estes devem ser incluídos em todas as referências do
mesmo tipo de documento.
6.9 Os casos omissos devem ser resolvidos utilizando-se
o código de catalogação vigente” (ABNT, 2018, p. 5).
Fique atento!

Se você escolheu escreveu por extenso, isso


deve ser seguido em toda a lista de referências.
E se houver um código de catalogação vigente
– por exemplo, as regras de normatização de
um periódico científico ou um Manual de
Redação Científica oficial da instituição de
ensino –, essa normatização deve ser seguida.
Definições de autoria

Conforme a ABNT, duas são as definições de autoria, a


saber:

• Autor é pessoa física e/ou pessoa(s) física(s)


responsável(eis) pela criação do conteúdo intelectual ou
artístico de um documento;
• Autor-entidade é pessoa jurídica, evento,
instituição(ões), organização(ões), empresa(s), comitê(s),
comissão(ões), evento(s), entre outros, responsáveis por
publicações em que não se distingue autoria pessoal.
Definição de referência

A referência é constituída de elementos essenciais e,


quando necessário, acrescida de elementos
complementares. Os elementos essenciais e
complementares são retirados do próprio documento e
devem refletir os dados do documento consultado. Na
inexistência desses dados, utilizam-se outras fontes de
informação, indicando-os entre colchetes.
Fique atento!

Para documentos on-line, além dos elementos


essenciais e complementares, deve-se registrar
o endereço eletrônico, precedido da expressão
Disponível em:, e a data de acesso, precedida
da expressão Acesso em:. Não se aplica a
mensagens e documentos eletrônicos, cujos
endereços não estejam disponíveis.
Referências

A ABNT possui normas específicas para referenciar cada tipo de


documento. Por exemplo, para referência de livro completo, deve-se
indicar as seguintes informações: autor, título, subtítulo (se houver),
edição (se houver), local, editora e data de publicação.

Para maiores esclarecimentos sobre como fazer as referências no


final do texto acadêmico, indicamos a leitura do resumo que
fizemos e colocamos à disposição em uma pasta da Biblioteca,
intitulada: Como fazer citações e referências. Boa leitura!
5.3 Polifonia nos textos
Polifonia nos textos

Costa (2013, p. 62) explica que:


Em uma carta destinada a seu amigo Vadim Kojínov,
em 30 de julho de 1961, Mikhail Bakhtin (1895-1975)
explicita que o conceito de polifonia, “mais que
qualquer outra coisa, suscitou objeções e mal-
entendidos”.2 Essa observação pode ser confirmada
pela ampla difusão editorial das obras de Bakhtin e de
seus comentadores em várias partes do mundo. Em
solo brasileiro, há revistas especializadas em temáticas
bakhtinianas, como a Bakhtiniana, revista da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que
publica, desde 2008, artigos científicos, resenhas e
traduções a respeito desse temário.3 No que se refere
ao conceito de polifonia, observamos que esse termo
possui muitas concepções, sendo algumas delas
diferentes da proposta do filósofo da linguagem russo.
Como definir?

Bakhtin afirma que:


A essência da polifonia consiste justamente no fato de que as vozes,
aqui, permanecem independentes e, como tais, combinam-se numa
unidade de ordem superior à da homofonia. E se falarmos de
vontade individual, então é na polifonia que ocorre a combinação de
várias vontades individuais, realiza-se a saída de princípio para além
dos limites de uma vontade. (BAKHTIN, 1997, p. 21).

Costa (2013, p. 70) argumenta que “como podemos notar nesse excerto,
não há uma clara definição do conceito de polifonia (como as personagens
podem ser independentes? Como ocorre essa combinação de vontades
individuais? Por que as vozes se combinam numa unidade superior à da
homofonia?), o que se perpetua durante toda a explanação de Bakhtin
(1997)”.
Aparentemente, sem definição...

Morson e Emerson (2008, p. 168) explicam que:


Para começar, Bakhtin nunca define explicitamente a polifonia. No
primeiro capítulo de Problemas da Poética de Dostoiévski (e
intitulada, na edição de 1929, Problemas da Arte Criativa [ou
Criatividade] de Dostoiévski), ele reexamina seletivamente a
literatura crítica sobre Dostoiévski e, depois de cada sumário,
especifica as suas razões para concordar ou discordar. Essa
exposição fragmentada leva à repetição de alguns pontos e à
ambiguidade em relação a outros. No final do capítulo, ele forneceu
muita informação sobre polifonia, mas nenhuma definição explícita
dela. Se esperamos que essa omissão seja corrigida nos capítulos
subsequentes, ficamos desapontados. O resto do livro discute as
implicações da polifonia para representação do herói e das ideias,
para a forma dos entrechos e o uso da linguagem bivocalizada, mas
Bakhtin nunca especifica exatamente o que é e o que não é
constitutivo da polifonia per se .
O que a polifonia não é

Costa (2013, p. 73) argumenta que “tendo em vista esse


panorama, o conceito de polifonia provocou muitos
equívocos. Desse modo, desfaçamos alguns deles em
benefício de uma maior clareza a respeito do nosso
objeto de estudo”. Por isso, passamos a apresentar,
conforme o autor, o que a polifonia não é.
O que a polifonia não é um atributo de todo
romance

Costa (2013, p. 73) argumenta que:

Em primeiro lugar, a polifonia não é um atributo de todos


os romances e, segundo Bakhtin, Dostoiévski foi o criador
do romance polifônico – o que justifica o nosso interesse
por esse escritor. No entanto ele não foi o único a utilizar
esse recurso, embora o fenômeno ainda seja relativamente
raro no panorama literário, segundo Morson e Emerson
(2008) e Frank (2003).
O que a polifonia não é heteroglossia

Costa (2013, p. 73) argumenta que:


Em segundo lugar, polifonia não deve ser
confundida com heteroglossia, que é um
fenômeno que descreve uma multiplicidade de
estilos de discurso em uma língua, ao passo que
a polifonia, como pretendemos aqui demonstrar,
apresenta um outro tipo de posicionamento do
autor e de suas personagens dentro da esfera
discursiva literária.
O que a polifonia não isenta a obra do ponto
de vista do autor

Costa (2013, p. 73) argumenta que:


Em terceiro lugar e principalmente, o conceito de polifonia não torna
ausente o ponto de vista do autor. Se essa questão não for pontuada, pode
haver um equívoco na apreensão da noção de polifonia, pois poderia ser
considerado que, se as personagens possuem tamanha independência do
autor, logo, este não apresentaria seu ponto de vista. Todavia essa crítica
não se sustenta, posto que Bakhtin disse reiteradamente que o autor
polifônico – principalmente Dostoiévski – não deixa de expressar suas
ideias e valores: “a consciência do criador do romance polifônico
[Dostoiévski] está constantemente em todo esse romance, onde é ativa ao
extremo” (BAKHTIN, 1997, p. 68). Podemos notar, então, não uma
renúncia a ele próprio ou à sua consciência, mas um novo posicionamento
do autor, como averiguaremos em nossa análise por meio do exame do
campo de presença do efeito de polifonia
O que a polifonia não carece de unidade

Costa (2013, p. 73) argumenta que:

O quarto mal-entendido diz respeito à unidade do romance. A obra


polifônica não carece de unidade – como se poderia presumir em uma
leitura superficial de Problemas da poética de Dostoiévski –, posto que,
segundo a própria proposta bakhtiniana, uma obra sem algum tipo de
unidade seria simplesmente uma obra deficiente, visto que não
constituiria uma arquitetônica eficiente.5 De acordo com Morson e
Emerson (2008, p. 249), “a polifonia requer um tipo diferente de
unidade, que Bakhtin chama de ‘unidade de ordem superior’”, a qual é
alvo de nossa investigação.
O que a polifonia não separa forma de
conteúdo

Costa (2013, p. 73) argumenta que:


Outro equívoco é a separação polarizante entre forma e conteúdo nas
análises que procuram elaborar o conceito de polifonia. Como observa
Todorov (1984), um dos posicionamentos de Bakhtin e seu Círculo
consiste na recusa sistemática em separar forma e conteúdo. A
tentativa do filósofo da linguagem russo de aplicar esse princípio está
no cerne da obra Problemas da poética de Dostoiévski. Dessa forma,
todo ato estético é também ético, um se refrata no outro. Isso ocorre
porque, como propõe Bakhtin (2010), todo ato ético implica ação, ao
mesmo tempo em que participa do que realiza e faz integrar o ser ao
realizado. Assim, através desse ato, o sujeito se reconhece e é
reconhecido.
O que é a polifonia, afinal?

Costa (2013, p. 75) propõe que:

Como notamos nessa citação, a polifonia também é um método artístico e


está situada no próprio plano da criação estética. Consideramos, a partir
dos pressupostos da semiótica discursiva, a polifonia como um efeito de
sentido que não escapa de um campo de presença. No entanto, diante
dessa orientação bakhtiniana, salientamos que esse conceito também
remete a um método de criação estética, isto é, a uma posição singular do
autor necessária para criar e recriar esse efeito de sentido específico.
Exemplo de Crime e Castigo, de Dostoiévski

“ Partindo desse pensamento, propomos que as personagens


de Crime e castigo– corpus de nosso estudo – possuem
interdependência e espaço para arealização de seus
próprios discursos. Essas personagens se entrelaçam na
escrita do romance, produzindo distintos modos de
presença, os quais podem ou não convergir entre si.
Ressaltamos, ainda, que a mesma inclinação pode ser
observada entre os modos de presença do autor com
relação aos de suas personagens, se cotejados, pois tanto o
autor como elas se encontram em equipolência discursiva
na arquitetônica romanesca, o que preanuncia um método
singular de criação estética (COSTA, 2013, p. 76).
Trecho de análise
Primeiros indícios

Costa (2013, p.80)


Nível fundamental

Costa (2013, p.80)


Nível narrativo

Costa (2013, p.81)


Nível discursivo

Costa (2013, p.82)


Achados da pesquisa

Costa (2013, p.83)


Características do efeito de polifonia nos
textos

Costa (2013, p. 83) propõe, ao fim de seu texto, três


categorias apreendidas da narratividade de Crime e
Castigo, de Dostoiévski. Essas tríade corresponde as
características do efeito de sentido de polifonia nos
textos, a saber:

(i) uma confluência fórica no nível fundamental;


(ii) um campo dialógico exacerbado definido pela
coabitação e divergência de diversos e distintos
programas narrativos no nível narrativo;
(iii) uma multiplicidade de vozes imiscíveis e
plenivalentes resultantes dos posicionamentos
ideológicos distintos dos atores do enunciado que estão
em relação de polêmica principalmente.
O que aprendemos nessa unidade?

Nesta unidade, diversos conceitos e abordagens foram


examinados, a saber:
Intertextualidade, conforme a linguística textual
Intertextualdiade e interdiscursividade, conforme
a semiótica discursiva
Texto dissertativo: expositivo e argumentativo
Formas de citação e normatização da ABNT
Problematização do conceito de polifonia
Proposta de análise de polifonia como efeito de
sentido
Análise de um excerto de Crime e castigo, de
Dostoiévski
Muito obrigado !

• Se houver qualquer dúvida, por favor,


encaminhe mensagem no Fórum de
Dúvidas.

• Meu e-mail de contato é:


marcos.costa@unb.br
Bons estudos!

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