Apostila Álgebra de Boole

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Álgebra de Boole

Fonte: Mathematical Analysis of Logic, George Boole (1847)

1. Princípios básicos

1.1 Conceitos primitivos

Classes: X, Y, Z, …

- Classes devem ser entendidas como conjuntos, coleções abstratas de elementos.

Símbolos eletivos: x, y, z, ...

- Símbolos eletivos devem ser vistos como símbolos que operam sobre uma classe e
retornam seus elementos. Desta maneira, dizemos que o símbolo x elege todos os
elementos da classe X.

Universo: 1

- 1 deve representar o universo do discurso, isto é, a totalidade dos elementos

1.2 Propriedades e conceitos derivados

x=x
- O símbolo de igualdade simplesmente diz que ambos os lados da expressão
selecionam os mesmos elementos.

xy
- O produto de dois símbolos eletivos seleciona, os elementos da classe Y e, em
sucessão, os elementos da classe X que pertencem à classe Y. Sendo assim, xy
seleciona os objetos que são X e Y.
- Uma expressão que usa símbolos eletivos para selecionar objetos é, para Boole,
uma função eletiva. Uma equação cujos membros são funções eletivas é uma
equação eletiva.
xy = yx

- A ordem da seleção de elementos em um produto não importa, os mesmos


elementos são selecionados pelas funções xy e yx. (Propriedade comutativa)

x(u+v) = xu + xv

- Sendo u e v partes de uma classe e (u + v) a classe tomada como um todo, tem-se


que o produto entre dois termos eletivos pode ser distribuído entre as partes,
(Propriedade distributiva)

xx = x

- Se em um conjunto de objetos selecionamos os elementos que são X, obtemos uma


classe em que todos os elementos são X. se repetimos a operação, nada muda.
(Idempotência)

2. Expressando as proposições categóricas de Aristóteles por meio de equações


eletivas

Primeiramente, é necessário definir como podemos expressar a classe dos não-X. Para
tal, precisamos de uma função eletiva que selecione, do nosso universo, todos os
elementos que não pertencem à classe X. Ora, temos que o universo é 1, e queremos
subtrair do nosso universo todos os elementos da classe X para obter a classe dos não
x. Isso pode ser expresso por (1-x).

Tomemos as proposições categóricas uma a uma:

Universal afirmativa (A): Todos os X são Y

Boole percebeu que duas equações eletivas representam essa proposição categórica.
Em primeiro lugar, percebeu que se todos os X são Y, então selecionar os objetos que
são X e Y é o mesmo que selecionar apenas os objetos que são X, portanto:

xy = x

Em segundo lugar, percebeu que declarar que todos os X são Y, significa que não há
qualquer elemento que seja X e não-Y, portanto:

x(1-y) = 0
Universal Negativa (E): Nenhum X é Y

Declarar que nenhum X é Y é o mesmo que declarar que não há termos em comum
entre as classes X e Y:

xy = 0

Particular afirmativa (I): Algum X é Y

“Se algum X é Y, então há alguns termos em comum entre as classes X e Y. Sejam


esses termos os elementos de uma classe à parte V, para a qual corresponde o símbolo
eletivo v, então:

v = xy ” (Página 21)

Outra equação eletiva que podemos deduzir disto é que os elementos selecionados por
vx são os mesmos que os elementos selecionados por vy, a partir dos seguintes passos:

vx = x²y (multiplicando ambos os lados por x)

vx = xy (idempotência)

Ora, podemos tomar a equação eletiva original e multiplicar ambos os lados por y:

vy = xy² , e pela idempotência

vy = xy

Ora, se vx = xy e vy = xy, então:

vx = vy

Outra equação eletiva ainda que expressa a mesma proposição categórica é transmitida
pelo seguinte raciocínio. Se dizemos que algum X é Y, então dizemos também não
existe um elemento que pertença a classe V, à classe X e à classe não-Y (lembre-se,
definimos a classe V como a classe dos elementos que são X e Y), portanto:

vx(1-y) = 0

Temos também que não há elemento que seja V e não-X:

v(1-x) = 0

Ou V e não-Y:

v(1-y)=0
Particular Negativa (O): Algum X são não-Y

Seguindo o mesmo raciocínio aplicado à particular afirmativas, temos que:

v = x(1-y)

vx = v(1-y)

vxy = 0

Exercício: Preste atenção a essas equações eletivas e as explique em linguagem


natural!

3. Proposições hipotéticas

Até agora vimos que símbolos, funções e equações eletivas podem representar as
proposições categóricas de Aristóteles. Boole usa essa interpretação para reconstruir
todas as partes da silogística de Aristóteles, incluindo as conversões e as conclusões
dos silogismos. Para isso, como foi visto, entendemos as proposições categóricas de
Aristóteles como declarações sobre as relações entre classes (ao dizer “Todo X é Y”,
estamos declarando uma relação entre os membros da classe X e os membros da classe
Y).

Essa, contudo, não é a única interpretação possível para o uso da análise matemática
de Boole. Não é forçoso que interpretemos os símbolos eletivos como os elementos
das classes expressas nos termos das proposições categóricas. Podemos adotar uma
interpretação proposicional da álgebra booleana. Para tal, devemos simplesmente
entender as classes como proposições inteiras (e não como termos de proposições).

Nesta interpretação, os símbolos eletivos passam a selecionar os casos em que uma


dada proposição é verdadeira. Assim, se X é uma proposição, x seleciona os casos em
que X é verdadeiro. Disso, temos uma consequência interessante:

Se X é uma proposição falsa, e sabemos que x seleciona os casos em que y é


verdadeira, então:
x=0
Por outro lado, Seja Y é uma proposição verdadeira, e (1-y) uma função eletiva
que seleciona os casos que em que y é falsa. Ora, já dissemos que é verdadeira!
1-x = 0
E, portanto:
x=1
Desta maneira, percebemos que podemos interpretar as funções eletivas como funções
de verdade. O produto (xy) e a negação (1-x) são as mais simples dessas funções. Já
vimos a negação acima, examinemos agora o produto:

xy seleciona os casos em que X é verdadeira e Y é verdadeira. Disso entendemos que


xy = 1 somente quando x = 1 e y =1. Caso X seja falsa, por exemplo, teríamos que x =
0 e xy seria 0y = 0.

Disso, podemos expressar outras funções:

a) É verdadeira somente quando X é verdadeira e Y é falsa: x(1-y)


b) É verdadeira somente quando X é falsa e Y é falsa: (1-x)(1-y)
c) É verdadeira somente quando X é falsa e Y é verdadeira: (1-x)y

Neste ponto, vale lembrar algo que foi dito no início deste material quando
mencionamos a propriedade distributiva: podemos separar uma classe selecionando
partes dela e expressando isso como a soma: a + b

Tendo isso em mente e as funções eletivas mencionadas logo acima, podemos


construir funções mais complexas que selecionam casos de duas ou mais delas
somando-as.

Assim, para construir uma função eletiva que selecione casos em que duas proposições
X e Y 1) Sejam ambas verdadeiras, 2) Seja somente X verdadeira ou 3) Seja somente
Y verdadeira, temos:

xy + x(1-y) + y(1-x) ; que podemos resolver até chegar em:

x + y – xy

Perceba que acabamos de chegar em uma função que expressa a ideia de disjunção:
Sejam X e Y duas proposições, a expressão x + y – xy retornará o valor 1 (verdadeiro)
quando aceitarmos que “X ou Y” é verdadeiro.

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