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ESCOLA SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO

DELEGAÇÃO DE PEMBA

A Função da Sociologia Jurídica sob ponto de vista Científica e Prática

Nome do Estudante: Mário Agostinho

Pemba, Outubro de 2022


ESCOLA SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO

DELEGAÇÃO DE PEMBA

A Função da Sociologia Jurídica sob ponto de vista Científica e Prática

Trabalho de carácter avaliativo Cadeira de


Finanças Públicas, a ser submetido na
Escola Superior de Economia e Gestão.

Ano: Iº Ano, Iº Semestre,

Período Pós-Laboral

Docente: Alegre Bonifácio

Pemba, Outubro de 2022


Índice

1. Introdução..................................................................................................................................1

1.1. Objectivo Geral......................................................................................................................1

1.2. Objectivos específicos............................................................................................................1

1.3. Metodologia............................................................................................................................1

2. Função da Sociologia Jurídica Sob Ponto de Vista Científica e Prática...................................2

2.1. Conceitos Básicos...................................................................................................................2

3. O Objecto da Sociologia Jurídica..............................................................................................3

3.1. O Direito no seu contexto social............................................................................................5

3.2. Função Social.........................................................................................................................6

3.3. Função Científica...................................................................................................................7

4. Desenvolvimento da Sociologia Jurídica na Contemporaneidade............................................8

Conclusão....................................................................................................................................12

Referências Bibliográficas..........................................................................................................13
1. Introdução

O presente trabalho é da disciplina de Sociologia Jurídica, que visa abordar sobre função da
mesma sob ponto de vista científica e prática.

A sociologia jurídica examina a influência dos factores sociais sobre o direito e as incidências
deste último na sociedade, ou seja, os elementos de interdependência entre o social e o jurídico,
realizando uma leitura externa do sistema jurídico.

A sociologia do direito (ou sociologia jurídica ) é frequentemente descrita como uma


subdisciplina da sociologia ou uma abordagem interdisciplinar dentro dos estudos
jurídicos. Alguns veem a sociologia do direito como pertencente “necessariamente” ao campo
da sociologia, mas outros tendem a considerá-la um campo de pesquisa entre as disciplinas do
direito e da sociologia.

1.1. Objectivo Geral

 Analisar a função da sociologia jurídica no contexto científico e prático;

1.2. Objectivos específicos

 Conceituar a Sociologia Jurídica;


 Descrever as funções sociais e científicas;
 Conhecer o objecto da Sociologia Jurídica.

1.3. Metodologia

Para os procedimentos metodológicos utilizou-se a revisão bibliográfica, tendo em vista a


existência de material diversificado acerca do tema, capaz de revelar a realidade actual acerca
do tema e consulta a sítios de internet, os quais fornecem grande variedade de abordagens
inovadoras, capazes de aguçar a reflexão que a dinâmica e complexidade do tema exige.

O trabalho encontra-se estruturado da seguinte maneira: elementos pré-textuais, capa, folha de


rosto, índice. Elementos textuais, introdução, a fundamentação teórica, conclusão e finalmente
os elementos pós-textuais, referências bibliográficas.

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2. Função da Sociologia Jurídica Sob Ponto de Vista Científica e Prática

2.1. Conceitos Básicos

A Sociologia “é um vasto campo de embates teóricos, ideológicos e mesmo metodológicos, a ponto


de já se ter dito que existem tantas sociologias quantos são os sociólogos [...]” (Oliveira, 2004, p.
14).

Desta forma, Oliveira explica que:

Estabelece o campo da sociologia como um campo onde se confrontam os sociólogos, não existindo,
portanto, uma visão única da sociologia sobre a família, o crime, etc. Não se pretende aqui dizer que o
Direito não possa chegar a determinados consensos ou conceitos, mas somente ressaltar que para se
chegar a consensos, consolidações de Jurisprudências por exemplo, seria muito mais proveitoso que os
atores que tem para si essa tarefa estivessem abertos ao novo, a um pensamento que acompanhasse a
sociedade, a economia, e todas as outras diversas esferas (Oliveira, 2004, p. 15).

“A sociologia jurídica examina a influência dos factores sociais sobre o direito e as incidências
deste último na sociedade, ou seja, os elementos de interdependência entre o social e o jurídico,
realizando uma leitura externa do sistema jurídico.”

A sociologia do direito (ou sociologia jurídica ) é frequentemente descrita como uma


subdisciplina da sociologia ou uma abordagem interdisciplinar dentro dos estudos
jurídicos. Alguns veem a sociologia do direito como pertencente “necessariamente” ao campo
da sociologia, mas outros tendem a considerá-la um campo de pesquisa entre as disciplinas do
direito e da sociologia.

Independentemente de a sociologia do direito ser definida como uma subdisciplina da


sociologia, uma abordagem dentro dos estudos jurídicos ou um campo de pesquisa por direito
próprio, ela permanece intelectualmente dependente principalmente das tradições, métodos e
teorias da sociologia convencional e, em certa medida, em menor grau, em outras ciências
sociais, como antropologia social, ciência política, política social, criminologia, psicologia e
geografia. Como tal, reflecte teorias sociais e emprega métodos científicos sociais para estudar
direito, instituições jurídicas e comportamento jurídico.

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Para Machado (1987), a Sociologia do direito ou sociologia jurídica é frequentemente definida
como o ramo da sociologia dedicado ao estudo do Direito, disciplina “auxiliar” relegada a
condição subalterna no campo jurídico. Contudo, essa situação constrangedora foi superada
graças ao renovado interesse em noções como “interdependência”, “controle”, “consenso”,
“coercibilidade”, e à perspectiva do Direito e da Justiça como sistemas sociais, mais
especificamente “subsistemas da sociedade”, derivados analiticamente mas assim mesmo
refletindo a realidade objetiva. Nessa condição, e do mesmo modo que a política, a economia e
a educação (socialização), ambos exercem funções específicas: estabelecer e manter as
condições genéricas de coercibilidade, controle social, consenso e interdependência; contribuir
para a existência e a preservação do sistema social.

Assim, a sociologia jurídica considera o direito como um conjunto de práticas institucionais


que evoluíram ao longo do tempo e se desenvolveram em relação e por meio da interação com
estruturas e instituições culturais, econômicas e sociopolíticas. Como um sistema social
moderno, o direito se esforça para ganhar e manter sua autonomia para funcionar
independentemente de outras instituições e sistemas sociais, como religião, política e economia
(Nader, 1997).

No entanto, permanece histórica e funcionalmente ligada a essas outras instituições. Assim, um


dos objectivos da sociologia do direito continua sendo o de conceber metodologias empíricas
capazes de descrever e explicar a interdependência do direito moderno com outras instituições
sociais

Na perspectiva de Scuro (2009) diz que a Sociologia, pode ser descrita como uma ciência
positiva que estuda a formação, transformação e desenvolvimento das sociedades humanas e
seus factores, econômicos, culturais, artísticos e religiosos, enfim possui uma vasta acepção.

Já o Direito pode ser vislumbrado como uma ciência normativa, que estabelece e sistematiza as
regras necessárias para assegurar o equilíbrio das funções do organismo social. Diante disto
percebe-se que é de fundamental importância o aprofundamento deste estudo e a percepção que
se deve ter do real sentido existente entre a Sociologia e o Direito, como ciências essenciais que
o são.

3. O Objecto da Sociologia Jurídica

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A sociologia jurídica inclui objectos diversa nas perspectivas macrossociológica e
microssociológica. Na primeira perspectiva ocorre a investigação dos sistemas legais além das
relações com outros sistemas, como os políticos, econômico e religioso. Outro objecto é a
pesquisa da eficácia da norma jurídica como controle social ou seu total desprezo (a “lei não
pegar”). Em contraste, na abordagem micro a sociologia jurídica estuda a relação entre a norma
jurídica, as acções sociais e o comportamento desviante (criminologia). Em uma abordagem
dinâmica, a disciplina investiga as transformações sociais que afetam o processo de escolha de
quais normas sociais ou valores positivarem.

Com esses dados, a sociologia jurídica permite compreender as instituições jurídicas inseridas
em um contexto social amplo. Entre as instituições estudadas estão as noções de humanidade, a
identidade, a propriedade, a resolução de disputa, a administração pública, a família, os papéis
sociais dos operadores jurídicos, o policiamento, as organizações de interesse público e a
opinião pública.

Arruda (1993) complementa explicando que ao ter por objecto de estudo os factos sociais, a
Sociologia não pretende exercer o monopólio nesse estudo. Na verdade, nada do que se refere à
vida do homem em sociedade, é, a priori, estranho ao sociólogo que tanto pode estudar as
relações familiares como o desporto, a vida política, as práticas culturais ou os lazeres.

Doptada dessa capacidade de examinar várias instituições de direito, a sociologia jurídica


investiga também a formulação e acompanhamento de políticas públicas, cujo exame reflexivo
permite ajustá-las a seus objetivos ou recomendar suas alterações ou substituições.

Apesar de um rigoroso método de produção de conhecimento, a sociologia jurídica é bem


pouco invocada por legisladores e juristas na produção do direito. Factos sociais — como
configurações familiares, hábitos de relações trabalhistas, modelos de organização empresarial,
dinâmicas de solidariedade em seguridade social, posse da terra, ciclo de criminalidade, dentre
outros - são profundamente estudados por sociólogos de interesse jurídicos e por juristas com
métodos sociológicos. Os resultados desses estudos normalmente fogem do senso comum e
deveriam ser incorporados à prática jurídica.

Portanto, percebe-se que houve sempre uma tentativa, com relação aos estudos sociológicos, de
se analisar as modificações que ocorreram na sociedade, seus conflitos e consequências. O

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objecto da Sociologia é exactamente este, examinar os fenômenos colectivos, através de teorias
e métodos próprios (Machado, 1987).

3.1. O Direito no seu contexto social

Bobbio (1992), Afirmar que o ordenamento jurídico reflecte o contexto social, que o Direito é
um “facto” ou “fenômeno”, é mero truísmo. Dizer que a “qualidade de ser social” é “uma
característica da realidade jurídica”, e que é impossível “conceber qualquer actividade social
desprovida de forma e garantia jurídicas, nem qualquer regra jurídica que não se refira à
sociedade”, não passa de uma autorização para encarar modo leviano o Direito em seu contexto
social.

Na realidade, a ordem jurídica reflecte de modo incontestável apenas o contexto social mais
amplo. Além desses limites é preciso especificar as condições e os padrões sociais (valores,
normas e modelos de conduta) que determinam a relação de mútua dependência entre o Direito
e a sociedade. Eis a razão de os sociólogos tanto insistirem em verificar em que medida esse
processo de influência - que para o operador do Direito dispensa demonstração - é de facto
recíproco.

Para tanto, do ponto de vista metodológico, o melhor seria determinar as variáveis


independentes a que se atribui papel preponderante na modificação do contexto social pelo
Direito e vice-versa. Algo, na verdade, virtualmente impossível, pois acarretaria manter
constantes as condições sociais, o que cada vez mais nos obriga a pesquisar a estrutura
ontológica, a natureza e o carácter dos ordenamentos jurídicos à luz de uma ampla perspectiva
histórica e comparada, mister no qual a Sociologia é ferramenta inestimável.

O homem é um ser social por natureza, isto pode ser percebido ao se analisar a sua constituição
física, que o leva a relacionar-se com outro ser de sua espécie, para que este possa reproduzir-
se, criando assim a base da sociedade, que é a família. A partir desta, ele irá começar a exercitar
a sua sociabilidade iniciando suas actividades em grupos sociais maiores, como o do seu bairro,
o da escola e etc., (Chauí, 1986).

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Ao ingressar na sociedade o indivíduo terá que adaptar-se às normas que a mesma impõe.
Estas, podem ser de acordo com a moral social ou com a lei, divergindo com relação ao tipo de
conduta. O comportamento considerado como um desvio de conduta terá sanções que podem
ser repressivas, excludentes e se a infracção estiver prevista na lei, estas serão objecto do
direito. Pode-se citar como exemplo um indivíduo que faça parte de um grupo religioso e que
venha a trair a sua esposa, o mesmo sofrerá uma sanção de repressão do grupo, uma vez que
este grupo social condena essa conduta, podendo o mesmo ser até expulso ou mesmo responder
a um processo judicial.

3.2. Função Social

Diante disto, percebe-se que o homem durante toda a sua vida social irá submeter-se a regras,
sejam estas impostas por um grupo social ou pelo Estado. Daí surge a ligação entre a
Sociologia e o Direito, que é expressa desde a mais simples das relações sociais, podendo ser
vislumbrada até mesmo num jogo entre crianças, onde há regras a serem cumpridas para que
não haja conflitos (Chauí, 1986).

Percebe-se pois, que na sociedade existem vários tipos distintos de grupos sociais e estes
caracterizam-se basicamente pelas normas que impõem, e os indivíduos escolhem o grupo do
qual queiram participar de acordo com a doutrina de cada um, pois, se o mesmo discorda das
regras do grupo este será rapidamente banido. A moral de cada grupo é rigorosamente
respeitada, chegando a ter mais força do que a própria lei, inclusive o indivíduo que responde a
um processo judicial, seja ele criminal ou não, geralmente sofre discriminação pelo seu grupo
social.

A sociedade possui vários modos de conduta colectiva, entre elas, a que mais se destaca são os
usos e os costumes. Recaséns distingue os usos dos costumes, estes exercendo uma simples
pressão ou uma certa obrigatoriedade, reservando a designação de hábitos sociais para os usos
não normativos. Existem várias teorias que tentam diferenciar as diversas normas existentes na
sociedade, como o direito, a moral, as normas de trato social, normas técnicas, religiosas,
políticas, higiênicas e etc., porém, esta não é uma tarefa das mais fáceis, pois, vários fatores
influenciam nesta diferenciação, entre eles a própria convicção de cada grupo.

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Para Machado (1987) a moral tem por sujeito o homem individual, que esta orienta no sentido
de sua vida autêntica, já o direito refere-se ao eu socializado, que procura regular no sentido
que convenha à convivência humana em dada sociedade. A sociologia do direito fala da moral
colectiva como facto social e não da moral individual, em que o indivíduo é o próprio
legislador. O objecto da sociologia jurídica de Recaséns é o direito em sua projecção de facto
social. A sociologia jurídica é uma ciência generalizadora, ou seja, que procura elaborar leis
gerais sobre essa íntima relação entre sociedade e direito, cabendo a esta ciência estudar os
processos sociais que levam ao direito e os efeitos que o direito causa na sociedade.

A Sociologia Jurídica surge exatamente para perceber as consequências dos tipos de norma de
conduta social que são impostas pelos grupos sociais e estudá-las. Pode ser considerada, ainda,
como o estudo do direito, este comportando-se como um agente de controle de uma sociedade
onde há conflitos entre os que possuem algo e os que nada possuem. A Sociologia Jurídica é
uma ciência muito jovem, estando, ainda, numa fase de discursar sobre problemas
metodológicos.

3.3. Função Científica

Para Santos (1994), destaca-se o condicionamento da justiça e do direito por factores como a
mentalidade pragmática, a impaciência com abstrações e os ritmos acelerados das mudanças
sociais, ou seja, as sociedades estão evoluindo e com elas surgindo novos conflitos que não
estão tendo soluções tão imediatas quanto os mesmos estão necessitando. O sector judiciário
precisa de uma reavaliação para melhor atender e solucionar os conflitos do fim do século.

Sociologicamente, pode-se dizer que cada sociedade possui uma noção de direito e justiça e que
mediante estes conceitos é que se pode analisar as causas da deficiência do setor judiciário.
Muitas vezes o que pode ser considerado como crime grave. Mas ainda, alguns tipos de
sociedade acreditam que a justiça está relacionada com a paz social e se não existir um órgão
jurisdicional competente que efective esse sentimento, para esta sociedade, o mesmo tornar-se-
á falho.

O sociólogo, pois, procura analisar as inter-relações, as qualidades contrastantes, enfim, tudo o


que inicie um questionamento sobre o modo de vida colectivo. Ou seja, ele se torna uma
ligação entre a sociedade e o conhecimento científico (Scuro, 2009).

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Actualmente, a justiça popular, ou seja, a de “pagar com a mesma moeda”, pode ser
compreendida, muitas vezes, como uma defesa da sociedade diante da falha da polícia ou dos
órgãos de defesa da população. Existe uma grande deficiência no sistema judiciário, seja ela
econômica, política ou social e esta crise reflecte directamente na sociedade que já não deposita
tanto crédito na justiça, por perceber a lentidão dos processos judiciais, a lotação dos presídios,
a falta de recursos para a polícia, enfim uma série de factores que terminam prejudicando o
sector judiciário. Essa decadência é provocada, também, pelo esgotamento do Estado como
sociedade politicamente organizada e gerenciadora das actividades públicas e privadas. Isto
está ocorrendo também em outros países.

O direito possui como função primária pacificar os conflitos existentes na sociedade. Para
Recaséns esta ciência regula estes interesses conflitantes da seguinte forma:

 Classificando os interesses opostos em duas categorias, a dos que merecem protecção e


a dos que não merecem;
 Harmonização ou compromisso entre interesses parcialmente opostos;
 Definindo os limites dentre os quais tais interesses devem ser reconhecidos e
protegidos, mediante princípios jurídicos que são congruentemente aplicados pela
autoridade jurisdicional ou administrativa, caso tais princípios não sejam aplicados
espontaneamente pelos particulares;
 Estabelecendo e estruturando uma série de órgãos para declarar as normas que servirão
como critérios para resolver tais conflitos de interesse, desenvolver e executar as
normas, ditar normas individualizadas aplicando as normas gerais aos casos concretos.

Pode-se citar ainda o poder social que refere-se ao mecanismo sociológico da vigência do
direito. O legislador irá impor suas vontades, seus interesses, que na verdade são as vontades de
senso comum, através das leis e essas serão cumpridas pelo povo que irá decidir se vigorará ou
não.

Portanto, se a opinião pública pressionar os tribunais, juízes e funcionários administrativos


sobre uma norma, mesmo que esta já esteja regulamentada, deverá haver uma revisão para que
se atenda às necessidades da população.

4. Desenvolvimento da Sociologia Jurídica na Contemporaneidade

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Díaz (1992) afirma haver de facto um processo de constituição e de desenvolvimento da
Sociologia Jurídica na contemporaneidade, reconhecida como ciência com base empírica
suficientemente autônoma, sob adequada metodologia. Trata-se de aplicar a sociologia jurídica
sob elementos caracterizadores de sua concepção positivista: “observação, análise, verificação
dos fenômenos sociais e, consequentemente, possibilidade de formular hipóteses e contrapô-las
a teorias verificáveis e não-verificáveis”.

Estes elementos apresentam uma preocupação de cientificidade no duplo sentido: encontrar


uma pureza metodológica e confrontar os chamados juízos de valor (ideológicos), diante da
busca de objectividade e de neutralidade.

Santos (1994) assim caracterizou a concepção jurídica do mundo:

 É o direito que cria a sociedade;


 As relações socioeconômicas reduzem-se a relações jurídicas;
 O direito burguês é o ponto culminante da evolução histórica do direito.

Deste entendimento surgem duas consequências dessa auto percepção, duas premissas são
estabelecidas (Sousa Júnior, 2008):

1) O direito limita-se a acompanhar e a incorporar os valores sociais e os padrões de conduta


construídos na sociedade (buscar garantir uma harmonia para os conflitos);

2) O direito é promotor da mudança social – material, cultura e mentalidade (expressa


interesses de classes é instrumento de dominação econômica e política).

Este modo de conhecer o direito, a partir de uma visão normativista do direito somente seria
afetada pelo desenvolvimento de duas atitudes: o direito vivo e a judicialização do direito.

Santos (1994) traz ainda o “direito vivo”, que seria a existência de uma “contraposição entre o
direito oficialmente estatuído e formalmente vigente e a normatividade emergente das relações
sociais, por meio das quais se regem os comportamentos e se previne ou resolve a maioria dos
conflitos”. Já em relação judicialização do direito, coloca-se a distinção entre a normatividade
abstrata e fria da lei e a concreta decisão judicial.

A partir do desenvolvimento dessas duas atitudes, produziram-se condições teóricas e


condições sociais que designam a transição da visão substantivista do direito para uma
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percepção processual, institucional e organizacional do direito, operando um deslocamento da
unidade de análise centrada na norma para uma unidade de análise centrada no conflito (Sousa
Júnior, 2008, pp. 224-225).

É a partir deste entendimento que se pode realizar análise das situações sociológicas
contemporâneas então inseridas nas possibilidades alternativas jurídicas e tornadas possíveis na
medida da disponibilidade dos conteúdos ideológicos do Direito. É aí que actua a sociologia
jurídica ao designar “os valores e ideologias não explicitados que a legislação, a jurisprudência
e a dogmática jurídica contêm” (Arnaud, 1999).

É neste sentido que Díaz (1978), sugere criar um esquema que permita que o Direito não se
deixe perder em idealizações históricas – sociedades arcaicas de base mágico-religiosa,
sociedades teocráticas-carismática, sociedades patriarcais, sociedades dominadas pelo cidade-
estado ou império, sociedades ainda com resíduos da predominância da Igreja feudal,
sociedades unificadas pela preeminência do Estado territorial e pela autonomia da vontade
individual, sociedade com base em um sistema contemporâneo com tendências para a
democracia pluralista e para o totalitarismo, dentro do qual o jurídico se constitui, e possa se
sobre- determinar e se transformar, superar-se em cada etapa e nas condições próprias de sua
produção social e teórica.

Assim, é possível perceber que a Sociologia Jurídica para Díaz é um estudo e análise das inter-
relações entre Direito positivo e sociedade, devendo ser desdobrado em dois níveis diferentes
(Sousa Júnior, 2008, p. 226):

1) No nível das inter-relações entre direito positivo - sistema de legalidade, e sociedade:

a) A constatação do direito realmente vivido (direito eficaz) numa sociedade diferente do


direito vigente (formalmente válido);
b) Trata da análise do substrato sociológico de um sistema jurídico, qual seja, da norma
positiva (como funcionam as instituições, quais são as forças reais, fatores infra e super-
estruturais que determinam o nascimento, conservação, transformação e possível
desaparecimento do Direito;
c) A análise da realidade social mediante a comprovação dos efeitos que um ordenamento
jurídico, suas normas e instituições produzem em uma determinada sociedade,

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identificando o Direito como instrumento de conservação ou de mudança social e o
papel dos seus operadores na sociedade.

2) No nível das inter-relações entre valores jurídicos, entendidos como sistema de legitimidade,
e sociedade:

a) A constatação dos valores jurídicos aceitos em uma sociedade [vivência real, rejeição de
valores;
b) A análise sociológica dos valores jurídicos, por meio do estudo dos fatores sociais
(econômicos, políticos, culturais), relativos às classes/profissões que, junto com os
fatores individuais, determinam a criação, a aceitação e a vivência de certos valores
jurídicos e a rejeição de outros;
c) A análise da influência dos valores jurídicos sobre a realidade social e a repercussão das
concepções ou ideologias jurídicas em temas como dignidade da pessoa humana e
defesa dos direitos humanos.

Bobbio (1992), cita Renato Treves, para designar as tarefas da sociologia do direito:

a) Investigar a função do direito (e dos direitos do homem) na mudança social, qual seja, “o
direito na sociedade”;

b) Analisar a aplicação das normas jurídicas numa determinada sociedade, relativas aos direitos
do homem, qual seja, “a sociedade no direito”. Estas tarefas foram resumidas a partir de uma
pesquisa mais ampla em que se buscou identificar os problemas de definição do direito e sua
posição na sociedade, bem como o funcionamento do sistema. E não só, buscou-se também
pela análise das relações entre direito e mudança social, apontando como se dá o controle social
tendo o direito como instrumento de transformação social.

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Conclusão

No decorrer deste trabalho, conclui-se que é preciso compreender que a sociologia tem
condições de fornecer ao Direito e aos seus operadores indicadores sociais que revelam as reais
condições sociais da população – suas carências, regras, mudanças nos costumes, valores, etc.,
de forma que os juízes se orientem para uma decisão socialmente mais acertada.

O caminho para a consolidação da sociologia jurídica enquanto disciplina já encontra-se


delineado. Entretanto, falta ainda uma uniformização tanto dos programas quanto da formação
dos profissionais. Talvez uma associação possa efectivamente consolidar o campo da
sociologia jurídica através da ênfase na pesquisa empírica e na reflexão crítica sobre o direito.

Por fim, salienta-se que este estudo não deve parar por aqui, outros estudos devem surgir no
sentido de incrementar outros caminhos para a sociologia jurídica. Para que deste modo, as
concepções e produções científicas mais contemporâneas não fiquem marginalizadas nos
cursos e sejam utilizadas. Isso também contribui para a actualização dos temas contemporâneos
da sociologia.

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Referências Bibliográficas

Arruda, J. E. L. (1993). Introdução à sociologia jurídica alternativa. São Paulo: Editora


Acadêmica.

Bobbio, N. (1992). A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus.

Chauí, M. (1986). Roberto Lyra Filho ou da Dignidade Política do Direito. In: LYRA,
Doreodó de Araujo (org.). Desordem e Processo. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris
Editor.

Diaz, E. (1978). Legalidad-Legitimidad en el Socialismo Democratico. Madrid: Civitas.

Machado, N. A. L. (1987). Sociologia Jurídica. São Paulo: Saraiva.

Nader, P. (1997). Introdução ao Estudo do Direito. Rio de Janeiro: Forense.

Oliveira, L. (2004). Não fale do Código de Hamurábi! A pesquisa sócio-jurídica na pós-


graduação em Direito. In: Sua excelência o comissário e outros ensaios de Sociologia
Jurídica. Rio de Janeiro: Letra Legal.

Santos, A. L. L. (1994). Ensino jurídico: uma abordagem político-educacional. Campinas:


Edicamp.

Scuro, N. P. (2009). Sociologia geral e jurídica (6ª ed.). São Paulo: Saraiva.

Souza, J. J. G. (2008). Direito como Liberdade: O Direito Achado na Rua Experiências


Populares Emancipatórias de Criação do Direito. Tese [Doutorado em Direito]. Brasília:
Universidade de Brasília.

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