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Sumário: Damásio e a mente. O conceito integrador da mente. Papel dos afetos.

A mente

Ler alguns aspetos da biografia do neurocientista.

António Damásio procurou compreender a mente a partir do funcionamento do


cérebro. Contesta as conceções que, durante séculos, defenderam uma mente apenas
orientada pela razão, independentemente do corpo, das emoções e dos afetos. Rejeita o
dualismo corpo-mente, afirmando que a mente é uma produção do cérebro. “A mente é o que
o cérebro faz”. Defende a integração entre corpo e mente. O corpo é a mente dotada de
funções de agir, pensar e sentir. Rejeita a conceção imaterial da mente. Os processos mentais
têm uma base biológica.

O objeto de estudo da psicologia é a interação entre corpo e mente, entre processos


cognitivos, biológicos e emocionais. A investigação que este cientista desenvolve é
reconhecida mundialmente. As tecnologias de neuro imagem dão razão a Damásio. É possível
não só observar a anatomia do cérebro como também a atividade cerebral.

Na sua obra – O Erro de Descartes, argumenta que não é possível separar os processos
cognitivos dos emocionais, que o corpo e a mente não são entidades separadas e
independentes. No seu entender o erro de Descartes foi o de julgar que o ser humano podia
ser uma razão pura. Nos seus estudos de pacientes com lesões no córtex pré-frontal, Damásio
reparou que há uma participação substancial das emoções nos processos de tomada de
decisão e raciocínio. Ficaríamos incapazes de tomar decisões e de fazer escolhas se
deixássemos de sentir emoções.

O conceito integrador da mente

A tese central deste investigador é que a mente humana é indissociável do corpo. O


ser humano pensa e age ao mesmo tempo racionalmente e emocionalmente. Ao raciocinar e
decidir o ser humano comporta-se como uma estrutura integrada que inclui o corpo com as
suas emoções.

Esta conceção integradora do ser humano, em que as emoções estão relacionadas com
a razão, foi reforçada com a investigação que Damásio fez com alguns dos seus pacientes.

O caso Elliot:

Um dos casos que Damásio deu a conhecer, tratou-se de um paciente que devido à
remoção de um temor, sofreu danos no córtex pré-frontal, perdendo a capacidade de sentir
emoções. Damásio estudou de forma detalhada o cérebro deste paciente e as surpresas foram
avolumando-se. Depois da cirurgia a que Elliot foi sujeito tudo indicava que tinha sido um
sucesso e o prognóstico revelava-se excelente. Contudo, assim não veio acontecer. Depois da
operação o paciente começou a evidenciar perturbações da personalidade que lhe custaram o
emprego e arruinaram a sua vida privada. Embora não manifestando, aparentemente sofrer de
algum sintoma, Elliot parecia ter-se tornado incapaz de agir de modo coerente. Encarregado

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de ler e de classificar uma série de documentos, acontecia-lhe subitamente, mergulhar na
leitura de um só e passar assim todo o dia.

Foi despedido, divorciou-se, perdeu a casa e a família. Foi nesse momento que
Damásio se encarregou de investigar o seu caso. Todas as faculdades mentais de Elliot
pareciam intatas. Os testes de Q I, revelaram mesmo uma inteligência superior ao normal. A
memória, a capacidade de atenção, a aptidão para aprender e para efetuar cálculos lógicos e
numéricos não sofriam qualquer perturbação. Contudo, era incapaz, na vida quotidiana de
tomar decisões. A simples planificação de escolher um restaurante para jantar era ineficaz.

Damásio descobriu que a operação ao temor afetou uma pequena região do seu córtex
pré-frontal. Pequena extensão, mas de extrema importância. Funcionalmente este região do
cérebro desempenha um papel charneira entre a memória, as emoções e as faculdades de
raciocínio. Sem ela ou molestada somos incapazes de tomar decisões, de planear o curso de
uma ação na vida real.

Quando a equipa de Damásio examinou as reações emocionais do seu paciente,


constatou que não deixava transparecer qualquer emoção. Contava ou relatava tudo como se
fosse um mero espetador imparcial. A evocação de recordações dolorosas da sua vida, não
despertavam nele a mínima perturbação.

Como resumiu Damásio: “as capacidades cognitivas permaneciam intatas, mas tinha
perdido a capacidade de sentir, de se emocionar.

O interesse deste caso é inverter a perspetiva habitual sobre a inteligência: considera-


se geralmente que a emoção é um elemento perturbador do juízo; que para raciocinar
corretamente é preciso “manter a cabeça fria”. O caso de Elliot mostra, inversamente, que
uma inteligência sem emoção é inoperante: não pode haver inteligência desligada da ação e
não há ação sem um ser de carne e sangue para a realizar. (Artigo da revista, Nouvel
Observateur, nº 1658 - Agosto de 1996)

Temos aqui falado muito da importância das emoções no controlo do comportamento


humana. O que se entende por emoção? Iremos na unidade I – A Entrada na Vida, tema 2 – Eu,
1.3 - a natureza dos processos emocionais, estudar a visão de Damásio sobre as emoções.
Contudo vamos aqui ficar com uma ideia do que se entende por emoção.

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Os processos emocionais referem-se aos aspetos afetivos, agradáveis ou
desagradáveis, que acompanham as nossas vivências. São estados do organismo decorrentes
de uma situação que desencadeia alterações psicológicas e expressivas internas e de curta
duração. É um conjunto de reações corporais perante certos estímulos. Quando sentimos
medo, por exemplo, o ritmo cardíaco acelera, sentimos a boca seca, a pele fica pálida, os
músculos contraem-se, às vezes ficamos paralisados. As emoções têm uma vertente expressiva
e comunicável, voltada para o exterior.

As emoções podem ser primárias e secundárias:

Foram reconhecidas seis emoções comuns a todos os povos e culturas, que se


designam emoções primárias, são elas: alegria, tristeza, medo, cólera, surpresa, aversão.

Emoções secundárias – vergonha, ciúme, culpa, orgulho.

Papel dos afetos nas decisões

O que se entende por afetos?


É o estado psíquico elementar que corresponde a uma avaliação positiva ou negativa
da realidade. São orientadores do nosso comportamento no sentido de assegurar a satisfação
das nossas necessidades. Os afetos são bipolares, por exemplo, afastamo-nos daquilo que nos
faz sentir mal e aproximamo-nos do que nos faz sentir bem.

Existem diferentes tipos de afetos, entre eles, as emoções e os sentimentos (os que
interessam para o nosso estudo)

Na obra: Ao Encontro de Espinosa”, Damásio expõe a sua teoria acerca dos afetos.
Mostra a sua importância como sensores, como formas de avaliar as coisas em positivas ou
negativas. Os afetos permitem descriminar experiências, atribuir-lhes valor e significado,
levando – nos a decidir quanto ao modo de atuar. Segundo Damásio a emoção é pouco original
porque se trata de uma reação própria da espécie, uma reação biológica e primária. (sorriso
dos bebés).

O neurocientista considera que as emoções e os sentimentos foram evoluindo ao


longo da história humana. Segundo ele as emoções surgiram primeiro no ciclo evolutivo,
produzindo reações fisiológicas ou biológicas. São o elemento expressivo, a manifestação ou
reação pública a um dado fenómeno. (demonstração da alegria, do medo…)

Os sentimentos são as representações que o sujeito faz das reações emotivas ao meio
externo. É a experiência subjetiva ou interna das emoções. Correspondem a estados psíquicos

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íntimos e privados e à tomada de consciência e interiorização da forma como somos afetados
por esta ou aquela realidade. Os sentimentos surgem quando tomamos consciência das nossas
emoções. Os sentimentos são uma espécie de imagem instantânea do nosso estado corporal
(António Damásio, 2004). O sentimento é uma espécie de linguagem que a mente
compreende. Damásio atribui ao sentimento funções muito personalizadas como a atenção, a
imaginação, as lembranças. O sentimento dá-nos a capacidade de antecipação e de previsão
de problemas e a possibilidade de criar soluções novas não estereotipadas.

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