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Árvore genealógica de Hades[17]

Cronos Reia

Hades Perséfone

Zagreu Macária Erínias Melinoe

Epítetos e etimologia
Nome grego Transliteração Grafia latina Significado
Άιδης Άδης Haidês, Hadês Hades O Invisível
Αιδης
Aidês, Aidôneus Ades, Aidoneus O Invisível
Αιδωνευς

O nome Hades vem de á (a - não) e ’ideîn (idêin - ver), uma "falsa etimologia que lhe


deram os gregos" (segundo Junito Brandão), em alusão ao capacete da invisibilidade que
lhe fora presenteado pelos Ciclopes. Este sentido de não visto cabe tanto ao deus quanto
ao seu reino.[2]
Junito Brandão diz que o nome Pluto ou Plutão (significando rico e consagrado entre os
romanos), é de origem grega, estando intimamente ligado em sua origem ao episódio da
semente de romã — unindo os cultos agrários (a Deméter) e da morte (a Hades) que, nas
origens, eram bastante próximos. Sobre isto, informa: "Pluto é a projeção dessa semente.
Se verdadeiramente o deus da riqueza agrária ficou eclipsado no Hino a Deméter pela
evocação patética de Core perdida e depois reencontrada, uma estreita relação sempre
existiu, desde tempos imemoriais, entre os cultos agrários e a religião dos mortos, e é
assim que o Rico em trigo, Pluto, acabou por confundir-se com outro rico, o Rico em
hóspedes, polydégmōn, que se comprimem no palácio infernal. Pois bem, esse rico em
trigo, com uma desinência inédita, se transmutou, sob o vocábulo Ploútōn, Plutão, num
duplo eufemístico e cultural de Hádēs".[2]
Dentre as muitas formas eufemísticas que os autores gregos usaram para chamar o Deus
dos Mortos, as principais foram:[18]

 Edoneu - Uma forma variante de Aïdês. (Hom. Il. v. 190, xx. 61.)
 Ctônio - Tem o mesmo significado que Ctônia, e por isso é aplicado para os
deuses do mundo inferior, ou das sombras (Hom. II. ix. 457; Hesíod. Op. 435;
Orph. Hymn. 17. 3, 69. 2, Argon. 973), e aos seres que são considerados
como nascidos da terra. (Apolodoro iii. 4. § 1; Apolon. Rod. iv. 1398.) É
também usado no sentido de "deuses do lugar", ou "divindades nativas".
(Apolon. Rod. iv. 1322.)[18]
 Eubuleu - Eubuleu ocorre também como um sobrenome de várias divindades,
e descreve-as como deuses do bom conselho, como Hades e Dioniso.(Schol.
ad Nicandro. Alex. 14; Hin. Órf. 71. 3; Macrob. Sat. i. 18; Plat. Simpós. vii. 9.)[18]
 Éubulo - Este nome ocorre como um sobrenome de várias divindades que
eram consideradas autores de bons conselhos, ou como bem-dispostos
embora, quando aplicado a Hades é, como Eubuleu, um mero eufemismo.
(Hin. Órf. 17. 12, 29. 6, 55. 3.)[18]
 Isódetes - de deô, o deus que trata a todos igualmente, é usado como
sobrenome de Hades para expressar sua imparcialidade. (Hesíq. s. v.), e
Apolo. (Bekker, Anecdot. p. 267.)[18]
 Plutão - foi inicialmente usado como epíteto de Hades, deus do mundo inferior
e, posteriormente, usado como seu próprio nome. Neste último sentido ocorre
a primeira vez em o doador da riqueza, em um primeiro apelido de Hades, o
deus do mundo inferior e, posteriormente, também utilizada como o nome
verdadeiro do deus. No último sentido que ocorre pela primeira vez
em Eurípides.(Herc. Fur. 1104 ; comp. Lucian, Tim. 21.)[18]
 Polidegmo ou Polidectes - ou seja, "aquele que recebe muitos", ocorre como
um sobrenome de Hades. (Hom. Hin. in Cer. 431; Ésq. Prom. 153.)[18]
Mais comuns eufemismos para Hades
Nome Transcrição
Transliteração Grafia latina Significado
grego lusófona
A Riqueza
Πλουτων Ploutōn Pluto Plutão
(ploutos)
Ζευς Zeus do
Zeus Khthonos Zeus Cthonius Zeus Ctônio
Χθονος Submundo
Θεων Deus do
Theōn Khthonos Theon Chthonius Teão Ctônio
Χθονος Submundo
Epítetos mais usados por Homero
Transcrição
Nome grego Transliteração Grafia latina Significado
lusófona
Soberano de
Пολυσημαντων Polysēmantōr Polysemantor Polisemantor
Muitos
Hospedeiro de
Пολυδεγμων Polydegmōn Polydegmon Pilidegmo
Muitos
Epítetos usados em poesias e tragédias
Transcrição
Nome grego Transliteração Grafia latina Significado
lusófona
Hospedeiro de
Пολυξενος Polyxenos Polyxenus Polixeno
Muitos
Recebedor dos
Νεκροδεγμων Nekrodegmōn Necrodegmon Necrodegmo
Mortos
Νεκρων Salvador dos
Nekrōn Sōtēr Necron Soter Nécron Sóter
Σωτηρ Mortos

Culto
Bastante disseminado era o culto a Hades, tanto entre gregos quanto, depois, pelos
romanos (na variante de Plutão).[12] Brandão diz contudo que "as inscrições mostram que
mesmo assim era muito pouco cultuado na Terra, possuindo, com certeza, apenas um
templo em Elêusis e outro menor em Élis, que era aberto somente uma vez por ano e por
um único sacerdote".[19]
Entretanto, era tão temido que seu nome não era pronunciado, senão raramente. Vigorava
o temor de, nomeando-o, atrair-lhe a cólera. Preferiam, assim, referirem-se a ele por meio
de eufemismos, como Plutão — "o rico", em razão das riquezas advindas dos
subterrâneos (daí ser representado por uma cornucópia com tesouros).[2] Dentre
os epítetos com os quais era referido, encontram-se em Homero (Ilíada 9, 457) os
seguintes: "o Forte", "o Invencível" e o já mencionado "Zeus do Inferno".[20]
Na Grécia, seus mais importantes templos ficavam em Pilos, Atenas, Olímpia e Élida.
Neste povo dedicavam ao deus o narciso, o cipreste e o buxo.[12] O templo de Pilos era
uma construção magnífica e, próximo ao rio Corelo, na Beócia, possuía um altar que, por
razões místicas, era partilhado com Atena.[21]
Em Roma, um grande festival ocorria em fevereiro - as februationes - que durava doze
noites.[12] Também era chamado Carístia, uma vez que as oblações eram feitas à morte.
[21]
 Nele eram sacrificados touros e cabras negras, enquanto o sacerdote que presidia o
cerimonial ostentava uma coroa com folhas de cipreste. Uma vez a cada cem anos eram
realizados em sua honra e tributo aos mortos os jogos chamados Seculares.[12] Era ilícito o
sacrifício diurno, pois o deus tinha aversão à luz. [21]
Hacquard registra que era invocado num ritual onde se batia na terra com as mãos ou
varas, sendo-lhe também sacrificados touros ou ovelhas negras, no período noturno.
[14]
 Além dos romanos, os etruscos tomaram emprestado aos gregos o casal que governava
o Submundo, chamando-os de Aita e Persipnei.[13]

Análise do culto
Otto regista que a visão do deus na ótica da religião grega teve dois momentos distintos: o
primitivo e o posterior, registado por Homero.[20]
Embora o deus figure em diversas passagens da obra homérica, e se relacione com outros
tantos mitos de deuses e heróis, Hades não é objeto de qualquer adoração, nem se relata
maiores cuidados com relação à memória dos mortos - ao contrário das épocas anteriores.
Ali o pós-vida transforma as almas em meros espectros ou sombras, sem memória ou
personalidade; na época pré-homérica, contudo, como em todos os demais povos, havia
no pós-morte a manutenção da individualidade, e uma possível forma de ligação daqueles
com o mundo dos vivos - esta ligação, em Homero, é praticamente inexistente. [20]

Mistérios eleusinos
Ver artigo principal: Mistérios de Elêusis
Os mais importantes dentre os cultos greco-romanos eram os Mistérios de Elêusis, que
tinham por base o mito de Deméter e sua filha Core/Perséfone, raptada pelo deus dos
mortos.[10] Essa veneração teve lugar na Grécia por vários séculos, somente
desaparecendo no século VI, quando o santuário foi destruído pelos bárbaros invasores.[10]

Sepulcro da era romana em Pisa, com relevo órfico.

Cultos órficos
Ver artigo principal: Orfismo (culto)
No culto que teria sido iniciado por Orfeu, o seu renascimento (com anterior catábase - ou
volta ao mundo inferior) foi a base para a crença na metempsicose, espécie
de reencarnação (neste caso, transmigração das almas) em que os mortos voltam a
experimentar novas existências até atingirem a purificação. [2][3]
Tendo cumprido duas encarnações a alma desceria ao reino de Hades, onde purgaria
seus pecados, e estaria pronta para gozar um destino feliz ao lado dos deuses. Para isto,
mister ser iniciada nos mistérios órficos; sem este conhecimento, contudo, ficaria presa de
um eterno ciclo de renascimentos, daí ser importante o rito iniciático. [14]
A doutrina órfica teve penetração em toda a cultura grega, chegando mesmo a influir em
doutrinas de filósofos como Pitágoras e Platão, e em trabalhos de poetas e escultores da
Antiga Grécia.[14]

Alegoria

Hades e Cérbero, numa antiga escultura.

As representações de Hades apresentam a mesma face de Zeus e Posídon, seus irmãos.


As antigas obras de arte diferenciam-no somente por alguns "rasgos de expressão", como
registou Murray. As espessas barbas e cabelo sombreiam a face. Aparece de ordinário
sentado em seu trono, ao lado da esposa ou em pé, num carro junto dela. [12]
Seus atributos diferenciais eram um cetro, similar ao de Zeus, e um capacete que, como o
elmo das nuvens do mito nórdico de Sigfrido, conferia a invisibilidade a quem o portasse.
Seu auxiliar é o cão de três cabeças , Cérbero. [12]
Sua figura é bastante sóbria, sem ornatos: além da expressão sombria pelo franzir dos
cenhos, a barba em desalinho e cabelos desgrenhados num rosto pálido completam o
quadro do Zeus inferi. Suas vestes consistem num pesado manto e túnica vermelhos; seu
trono é representado por uma coruja.[3]
A despeito disto, Wilkinson e Philip registram que nunca era retratado pelos artistas. Isto
se dava porque, além da invisibilidade, imperava o temor e mistério que lhes inspirava
Hades.[13] Quanto ao capacete da invisibilidade William F. Hansen registrou que este não é
propriamente uma ferramenta do deus, apesar da popular etimologia reinterpretar seu
nome grego (aidos kyneè) como elmo de Hades: além da passagem que diz que o elmo
lhe fora presenteado pelos ciclopes, nenhuma outra diz que o deus utiliza-se dele e,
quando é citado que outros deuses ou heróis fazem serventia de seus poderes, não há
menção de que lhe tomaram emprestado diretamente. [4]

Hades e outros mitos


Diversos outros mitos incorporam a presença, direta ou indireta, de Hades, como no caso
de Admeto que, para fugir à morte, entrega ao deus sua esposa Alceste,[22] ou mesmo em
variantes com ligações de parentesco aventadas, como para com os Cabiros.[23] Também
no mito de Psiquê sua presença é aludida, pois uma das tarefas da Alma é, justamente,
obter num frasco um pouco da beleza de Perséfone. [9]
O próprio Hermes era um arauto de Hades, encarregado de chamar os moribundos com
suavidade, e neles depositar os báculos de ouro em seus olhos.[7] Na gigantomaquia o
deus teria usado o capacete da invisibilidade para poder matar Hipólito.[2]
Junto a Afrodite e Éris, Hades era dos únicos deuses que não odiavam Ares, deus da
guerra; o motivo estava na voracidade com que o deus dos mortos acolhe de bom grado
as almas dos jovens guerreiros abatidos em combate. [7]
Deuses e homens se beneficiaram ainda dos poderes privilegiados do capacete mágico de
Hades. Jovens deuses usaram seus poderes, bem como também do tridente de Posídon.
[13]
 Foi este o caso de Hermes que, durante a Gigantomaquia, serviu-se do elmo da
invisibilidade para matar o gigante Hipólito.[24]
No Egito, junto a Dionísio, Hades era identificado com o deus Osíris.[24]

Adônis: a Perséfone infiel

A morte de Adônis, por Jean Monier.

Adônis, um mortal fruto de relacionamento incestuoso, apaixonou-se por Afrodite e era por


ela amado - mas também despertou o amor em Perséfone, que ficou furiosa por não gozar
da preferência do jovem.[13]
A deusa da primavera então procurou Ares que, sabia, amava Afrodite. O deus então
matou o jovem guerreiro, de modo que assim fosse obrigatoriamente enviado ao
Submundo, onde sua governante o esperava.[13]
Inconformada com tal destino, Afrodite procura Zeus que delibera ficar Adônis seis meses
com Perséfone e a metade restante do ano com sua amada. [13]

Zagreu/Dioniso: identidade com Hades


Brandão informa que o mito de Zagreu seria bastante mais antigo do que o do próprio
Dioniso, e que teria uma possível origem em Creta de onde, pela similitude, fora absorvido
ao do deus orgíaco. Nesta fusão mítica fora transformado, nos cultos órficos, na primeira
vida de Dioniso - e feito em filho de Zeus com Perséfone. Após ter sido assassinado pelos
Titãs, ressurge de Sêmele.[25]
Analisando a história de Zagreu - espécie de reencarnação de Dioniso (o Baco romano) -
Walter Otto narra que Zeus procura reparar a injustiça da morte cruel de Dioniso (morto
pelos Titãs, após ter-se transmutado num touro); enquanto sua carne era devorada, Zeus
interveio, conseguindo salvar vivo ainda seu coração). O autor ressalta que esta morte o
liga ao mundo dos mortos, aos poderes do submundo. Zagreu renasce da mortal Sêmele -
entrara no Hades tal como entrará no Olimpo. Esta versão explica, ainda, a afirmação de
E. Rohde de que o reino dos mortos fazia parte do reino dionisíaco. [26]
Otto relembra os Hinos Órficos 46 e 53, onde se diz explicitamente que Dioniso dormia na
casa de Perséfone e que Hades e Dioniso - por quem as mulheres enlouquecem e ficam
enraivecidas - seriam a mesma pessoa. Isto, segundo o autor, pode ser lido em Heráclito,
que registara: "...Hades e Dioniso, por quem elas ficam loucas e iradas, são um e o
mesmo."[nota 3] e conclui que "Agora podemos entender por que os mortos foram
homenageados em vários dos principais festivais de Dioniso"[26][nota 4]
Jean Shinoda Bolen, apreciando o arquétipo feminino de Perséfone, alude que a deusa
pode se entregar aos prazeres sexuais. Entre os gregos antigos, ressalta a psiquiatra,
havia a crença de que os poderes intoxicantes de Dioniso levava as mulheres ao êxtase
sexual, transformando-as em mênades cheias de paixão e delírio. As antigas tradições
davam conta de que o deus do vinho passava temporadas em casa da esposa de Hades,
ou para lá retornava nos intervalos de suas aparições. [10]

Hércules

Sala dos Gigantes, no Palácio de Te, retrata cena da luta de Hércules contra os gigantes.

Na luta contra os gigantes comandados por Alcioneu e Porfírio, Hércules tem a ajuda de


Hades. Uma imagem de sua volta aos Infernos, após a vitória, foi representada no teto
do Palácio de Te, em Mântua.[27]
Numa passagem da Ilíada (V, 402), Homero registra que Hades foi ferido por Hércules —
para logo esclarecer que foi facilmente curado por Apolo, "porque ele (Hades) não havia
nascido mortal!"[23]
O décimo-segundo dos Doze Trabalhos de Hércules, a catábase (katábasis), a ida ao
mundo dos mortos para lá apreender o monstruoso cão Cérbero, encarregado de evitar
que os vivos entrem naquele reino e que de lá saiam tendo entrado, salvo por ordem do
seu Rei, o herói conta com a ajuda de Hermes e Atena, para não errar o rumo e clarear a
escuridão, respectivamente, por ordem de Zeus.[23]
Nesta tarefa, Hércules demonstra seu caráter humano, apiedando-se de alguns dos
prisioneiros que ali estavam, e procura ajudá-los em seu sofrimento. Dentre estes
estavam Pirítoo e Teseu, ainda vivos (como adiante se verá), e Ascáfalo. Ascáfalo era o
filho de uma ninfa do rio Estige com o barqueiro Aqueronte e, no episódio do resgate de
Perséfone por sua mãe, quando Hades a fizera comer o grão de romã, foi ele quem a
denunciara ao deus dos mortos. Numa primeira variante deste mito, Deméter o
transformara em coruja, como castigo; em outra, a deusa o fizera ficar preso sob um
grande rochedo — e teria sido deste sofrimento que Hércules o poupara, mas o alívio não
durou muito, pois Deméter enfim o transformou em coruja, mantendo a punição. [23] Bulfinch
adiciona que o rochedo encantado que os prendia ficava à entrada do palácio dos reis do
submundo.[9]
Finalmente, chegando à presença de Hades, o heroi pede para que lhe fosse permitido
levar Cérbero à presença de seu primo Euristeu, que lhe impingira as tarefas impossíveis.
Hades concorda, desde que para tanto não usasse o filho de Alcmena nenhuma de suas
armas, servindo-se apenas da capa feita do Leão de Nemeia, o que fez. Após cumprir o
trabalho, Cérbero foi devolvido ao mundo ctônico.[23]

Teseu
O heroi Teseu, que já havia praticado o rapto de Hipólita (rainha das Amazonas), e
de Ariadne, combinara com o amigo Pirítoo, cujos laços se estreitaram após
a Centauromaquia, que raptariam por esposas de ambos apenas filhas de Zeus e
humanos, visto serem os dois, eles próprios, de origem divina: Teseu filho de Zeus e
Pirítoo de Posídon. Após tirarem a sorte, acordaram que a Teseu caberia Helena, e ao
outro a própria Rainha dos Infernos, Perséfone. Ambos se auxiliariam na tarefa, mas
Teseu — então aos cinquenta anos, encontra Helena ainda impúbere, e a esconde. Junto
a Pirítoo, desce ao Reino dos Mortos.[23]
No Submundo, foram bem recebidos por Hades. Cometeram, então, duas das atitudes
mais temerárias ali: convidados ardilosamente para um banquete pelo deus infernal,
sentaram-se e comeram: sentar significa, ali, intimidade e permanência; comer, a fixação.
Ficaram, portanto, presos às suas cadeiras.[23]
Quando da catábase de Hércules, o herói tenta livrá-los, mas os deuses permitiram que
somente Teseu fosse liberto, ficando Pirítoo preso na Cadeira do Esquecimento.[23]

Perseu

Representação helenística de Serápis.

Na sua campanha para matar a Górgona (ou Medusa), Perseu recebe o auxílio de Atena e


de Hermes; assim, consegue penetrar no reduto das Greias que, em razão de possuírem
somente um olho, uma montava guarda enquanto as duas outras dormiam: num lance
rápido, o herói arrebata-lhes o olho e, então, negocia a troca do membro pelo auxílio em
derrotar a terrível inimiga. Impotentes, as três irmãs entregam-lhe o necessário para
chegar às ninfas e para vencer, segundo lhe havia sido revelado por um oráculo: as
sandálias aladas, o alforje chamado quibísis (para guardar a cabeça da Medusa) e o
capacete da invisibilidade, de Hades.[23]

Hades e Serápis
Menard narra uma história em que o Zeus infernal é considerado o mesmo deus
egípcio Serápis, cuja origem e atributos permanecem obscuros.[28]
Governava Ptolomeu II Filadelfo a cidade de Alexandria, que procurava embelezar
quando, num sonho, foi-lhe ordenado por Serápis que buscasse no Ponto uma estátua que
lhe fosse dedicada. Havia tal monumento em Sinope, dedicado ao Zeus infernal. O rei de
Sinope anuiu ao pedido, mas o povo do lugar se insurgiu, cercando o templo a fim de
impedir a retirada da imagem: a estátua, então, erguera-se e foi, andando, ao navio que a
transportou para o Egito.[28]
Dada a sua grande semelhança com Hades, o Imperador Juliano, procurando saber as
distinções entre Plutão e aquele deus, obteve do Oráculo de Delfos a seguinte resposta:
"Júpiter Serápis e Plutão são a mesma divindade". [28]

Hades e Esculápio
Era ainda Esculápio (Asclépio) um mortal quando, ao restituir a vida a um morto, despertou
a ira de Hades. Como castigo, o Zeus atende ao pedido do irmão e o fulmina com seu raio.
Sendo o médico filho de Apolo, o deus resolve vingar-se atacando os ciclopes que,
no Etna, fabricavam as armas do Olímpico. Zeus, por conta disto, pune seu filho,
condenando-o a passar um ano como escravo de Admeto, rei da Tessália. Depois de sua
morte, contudo, o próprio Zeus admite Esculápio como deus. [9]

Orfeu tange a lira e entoa seu lamento aos deuses dos infernos.


Virgil Solis, desenho para as Metamorfoses, de Ovídio.

Hades e o canto de Orfeu


Mais um filho de Apolo acaba por ter sua história ligada ao rei dos mortos: Orfeu, que
ganhara do pai uma lira e a tocava com tamanha perfeição e encanto que até as pedras se
comoviam. Tendo se casado com Eurídice, logo a perde pois, fugindo ao assédio do
pastor Aristeu, a jovem morre picada por uma cobra. [9]
Orfeu desce aos Infernos e vai ter diante dos tronos de Hades e Perséfone. Ali entoa um
canto tão fascinante que os fantasmas derramam lágrimas; Tântalo esquece a sede; o
abutre cessa o ataque ao fígado de Prometeu; Sísifo parou de rolar a pedra pela
montanha, nela se sentando para ouvir; as Danaides pararam de recolher água com
peneiras e Íxion deixa de girar sua roda.[9]
Os soberanos do submundo também se comovem e concedem-lhe o desejo de trazer de
volta à vida a amada esposa, com a condição de não olhar para ela até saírem dos
domínios ctônios — o que acaba ocorrendo, morrendo Eurídice uma segunda vez. [9]

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