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TÉCNICO DE ESTÉTICA

MODULO 01

Aula 1 - EMOÇÕES E COMPORTAMENTO

Introdução

Vivemos uma época de ampla exposição a telas e formas de interação que modificaram nossa forma
de nos relacionar. Por um lado, a tecnologia nos permitiu avançarmos em conectividade, por outro,
permanecemos com as mesmas necessidades e respostas emocionais de nossos ancestrais de 70 mil anos
atrás, nem sempre compatíveis com nossa experiência. Acima de tudo, somos seres sociais e
organizamos a realidade a partir da interação com outras pessoas.

Nesta aula, vamos compreender as rotas evolutivas de nossas emoções, especialmente medo, raiva e
tristeza, e como o cérebro emocional trabalha para garantir nossa sobrevivência e promover
comportamentos adaptativos.

Falaremos da resposta luta-fuga e da síndrome geral de adaptação, entendendo a relação entre nossas
emoções e nosso corpo físico. Ao final, esperamos que você possa ampliar a própria capacidade de
percepção de estados emocionais, identificando os sentimentos envolvidos e seu impacto na tomada de
decisão e comportamento.
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Assimile

Os assuntos desta aula têm a ver com o tema “gerenciamento de emoções”. Você sabe o que é isso?
O gerenciamento de emoções diz respeito a competências emocionais intra e interpessoais e nos permite
lidar com estados emocionais positivos e negativos, de forma construtiva e positiva, possibilitando maior
abertura à experiência, ao acolhimento afetivo e ao bem-estar, além de favorecer processos de
desenvolvimento e relacionamentos. Desejamos que o conteúdo a ser apresentado contribua para que
você saiba como gerir suas emoções.
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Bons estudos!
Parte 01: REAÇÃO – LUTA-FUGA

Do conceito – resposta: luta-fuga e estresse

Nossas emoções negativas são provenientes de uma necessidade de sobrevivência; tudo nasceu com
a resposta luta-fuga, que nos prepara para ameaças iminentes.

A resposta luta-fuga, também conhecida como resposta ao estresse agudo, representa as escolhas que
nossos ancestrais tiveram de fazer quando confrontados com o perigo em seu ambiente: lutar ou fugir.
Em ambos os casos, a resposta fisiológica e psicológica ao estresse prepara o corpo para reagir ao perigo,
sendo liberados hormônios que preparam o corpo para confrontar a ameaça ou fugir para um local
seguro.

Mais especificamente, o sistema nervoso simpático estimula as glândulas adrenais, desencadeando a


liberação de adrenalina e noradrenalina, que provoca aumento na frequência cardíaca, pressão arterial e
frequência respiratória. A resposta de lutar ou fugir pode acontecer diante de um perigo físico iminente
(como encontrar um cachorro rosnando no meio da rua) ou como resultado de uma ameaça psicológica
(como se preparar para fazer uma apresentação importante na faculdade ou no trabalho).

A resposta luta-fuga pode ocorrer como “alarme”, conhecido como parte do primeiro estágio da
síndrome geral de adaptação, um padrão específico de resposta comportamental proposto por Hans
Selye, em 1936, e que ajuda a explicar o efeito do estresse no corpo humano.

De acordo com a teoria (Figura 1 a seguir), existem três fases sucessivas de resposta diante de
um evento estressor: alerta, resistência e exaustão:
FASE DE Ocorre quando o indivíduo entra em contato com o agente estressor e o seu corpo
ALERTA: perde o equilíbrio. Alguns sintomas possíveis são dores no estômago (acidez
estomacal), aumento de sudorese, tensão nos ombros, insônia, mudança de
apetite.
FASE DE Nessa fase, o corpo busca voltar ao equilíbrio. Há um aumento de liberação de
RESISTÊNCIA: cortisol e tem-se impressão de controles esporádicos. Alguns sintomas possíveis
podem ser cansaço constante, problemas dermatológicos, problemas com
memória, gastrite prolongada, tonturas, sensibilidade emotiva excessiva e
obsessão pelo agente estressor.
FASE DE Na última fase, podem ocorrer diversos comprometimentos físicos em forma de
EXAUSTÃO: doença. Alguns sintomas podem ser: diarreias frequentes, tiques nervosos,
problemas dermatológicos prolongados, tonturas frequentes, úlcera,
impossibilidade de trabalhar, taquicardia, insônia prolongada, formigamento nas
extremidades.

Após a fase de exaustão, podem se instalar no organismo diversas doenças crônicas, como úlceras,
hipertensão arterial, artrites e lesões miocárdicas.

A resposta ao estresse é um dos principais tópicos estudados na psicologia da saúde e comportamento


humano. A compreensão de nossas rotas emocionais e seus efeitos no corpo nos permite encontrar
maneiras de combater o estresse em direção a uma vida mais saudável e produtiva. Nesse sentido,
compreender a resposta natural de luta ou fuga do corpo é uma maneira de ajudar a lidar com situações
estressantes em nossa vida.

Parte 02: A TECNOLOGIA E O CÉREBRO HUMANO

As últimas quatro décadas trouxeram uma explosão de inovações tecnológicas. Na década de 1980,
comemoramos a linha telefônica disponível em residências; já na virada do milênio, tivemos
computadores individuais; e nas últimas décadas, cada pessoa vem carregando consigo um computador
com seus e-mails, vídeos preferidos, programação da própria dieta, conta bancária e tantas outras
funcionalidades de aplicativos de celular.

Sem dúvida, como sociedade, avançamos muito na acessibilidade de informações que nos são
interessantes, no entanto, um mecanismo permanece o mesmo há 70 mil anos: nossa capacidade de
assimilar, compreender e expressar informações emocionais. Sim, nosso cérebro emocional é o mesmo.
E isso acarreta uma série de dificuldades em nossa relação com nosso mundo interior e as outras pessoas,
ou seja, provoca-nos desafios à adaptação.

De acordo com Paul MacLean (1990), a progressão da vida pode ser vista em nosso cérebro a partir
dos níveis de desenvolvimento que ele possui: reptiliano (primitivo ou instintivo), límbico (emocional)
e neocórtex (racional). Nossos tecidos corticais são mais complexos, lentos, situam-se na periferia do
cérebro (ou topo) e são responsáveis pelas nossas funções executivas (tomada de decisão, raciocínio
lógico, memória da linguagem). No centro do cérebro, abaixo do córtex e acima do tronco cerebral, fica
nossa região subcortical, também conhecida como sistema límbico.

No centro do sistema límbico, no meio do caminho entre nossas orelhas e atrás de nossos olhos, está
a amígdala cerebral, envolvida, principalmente, no processamento de emoções e nas memórias
associadas ao medo (Figura 2). Ela é peça-chave de como processamos emoções fortes, como medo ou
prazer, e responsável por disparar a resposta luta-fuga.

Figura 2 | Amígdala cerebral. Fonte: Goleman (2011, p. 94).

Podemos não perceber o papel da amigdala em nosso comportamento, no entanto, a título de


exemplo, se estamos com nossos “sensores de medo” ligados, ficamos mais “desconfiados” e “atentos”
a qualquer sinal de desaprovação. Isso, por um lado, pode servir para nos tornar mais prudentes, por
outro, pode tornar impossível o ato de confiar nas pessoas. A amígdala é, ainda, capaz de orientar nossos
pensamentos, atenção e percepção, tornando-nos instintivamente vigilantes a estímulos que corroborem
nossa ideia inicial de ameaça.

Além disso, é interessante o mecanismo de contágio emocional que nosso cérebro sofre. Quando
ficamos encantados com um bebê sorridente ou quando nos entristecemos diante de uma pessoa em
situação vulnerável, estamos nos conectando às outras pessoas, e essa também é uma característica de
nossa espécie: somos influenciáveis socialmente e necessitamos do contato com outras pessoas. Isso
ajuda a explicar o fenômeno das redes sociais e seu amplo crescimento nas últimas décadas.

O fato de que podemos desencadear qualquer emoção em outra pessoa – e ela em nós – atesta o
poderoso mecanismo por meio do qual os sentimentos de uma pessoa se espalham para outras. Esses
contágios são a principal transação da economia emocional, o intercâmbio de sentimentos que
acompanha toda interação humana, não importa qual seja o tema em questão. (GOLEMAN, 2019, p.
26)

Para compreendermos as implicações do contágio emocional, é interessante falarmos sobre o papel


de cada emoção e de como elas eliciam nossos comportamentos.
Parte 03: DAS EMOÇÕES BÁSICAS AO COMPORTAMENTO

Aprendemos, nesta aula, sobre nosso cérebro emocional e suas respostas evolutivas; para finalizar,
vamos falar, especificamente, de nossas emoções e de como elas eliciam o comportamento e influenciam
nossa resposta diante das mais diversas situações. Uma emoção é composta de vários elementos; ela
passa por nossa consciência tão rapidamente que, por vezes, não a percebemos. Existem, pelo menos,
três elementos em cada emoção: o tipo de pensamento associado a ela; a resposta fisiológica que ela
gera, e o comportamento que assumimos a partir dela (GONZAGA, 2021).
De acordo com Paul Ekman (2016), temos emoções universais, ou seja, compartilhadas por toda a
espécie a partir de cinco rotas evolutivas.

A compreensão de nossas cinco rotas emocionais básicas nos permite saber as bases de nosso
comportamento:
Medo: Uma percepção de ameaça real e iminente.
Raiva: Aponta uma percepção de injustiça, algo que nos bloqueia.
Tristeza: Provoca nossa resposta diante da perda de algo de valor.
Nojo: Aponta nossos gostos e preferências pessoais.
Alegria: Indica percepção de algo de valor.

Cada uma dessas cinco rotas abre caminho para centenas de estados emocionais secundários, como
melancolia, ansiedade ou frustração, perceptíveis em nossas relações de trabalho. Para cada “família”
emocional existem determinadas atitudes, e todas as emoções são “úteis” no sentido de que nos trazem
informações sobre nossa relação com o mundo. No entanto, podemos utilizá-las a nosso favor, de
maneira construtiva (visando ao bem-estar e a uma melhor relação com a realidade) ou destrutiva
(quando não nos desvencilhamos dos estados negativos ou prejudicamos outras pessoas).

Vamos, então, compreender alguns comportamentos possíveis para cada uma das famílias
emocionais, explorando respostas construtivas ou destrutivas a partir de exemplos:
AÇÕES DIANTE DO Evitar a ansiedade (medo de uma ameaça imaginada) pode ser
MEDO: construtivo, se nos ajudar a fazer uma apresentação para uma sala cheia
de pessoas, e destrutivo, se nos impedir de confrontar nosso difícil
relacionamento com nosso chefe.
AÇÕES DIANTE DA Suprimir nossa frustração pode ser algo construtivo, se nos ajudar a evitar
RAIVA: discussões, e destrutivo, se estivermos magoados por não falarmos por
nós mesmos.
AÇÕES DIANTE DA Renunciar a sentimentos de desamparo pode ser uma ação construtiva
TRISTEZA: para superar um luto intenso, porém destrutiva, se não buscarmos apoio
quando precisarmos ou se formos vítimas de uma positividade tóxica
(evitação extrema de sentimentos negativos).
AÇÕES DIANTE DO Evitar a aversão pode ser algo construtivo para superar o preconceito, mas
NOJO: destrutivo se levar a um envolvimento com uma pessoa prejudicial.
AÇÕES DIANTE DA Expressar nossa alegria por um comportamento extrovertido e brincalhão
ALEGRIA: pode ser construtivo como meio de compartilhar com amigos um final de
tarde, mas destrutivo se for em resposta a zombar de alguém.

Com base nesses exemplos, reflita sobre a forma como você lida com as diferentes emoções, se de
maneira construtiva ou destrutiva, e qual família emocional (medo, raiva, tristeza, nojo, alegria)
representa um desafio à inteligência emocional.

Sobre a inteligência emocional e as habilidades que ela traz, trataremos na próxima aula.

Parte 04: VIDEOAULA: EMOÇÕES E COMPORTAMENTO

Você já reparou como a tecnologia permite que ampliemos nossas conexões com outras pessoas,
mas, ainda assim, sofremos de ansiedade, tristeza e frustração entre tantas emoções? Isso porque, por
mais que avancemos tecnologicamente, permanecemos com as mesmas necessidades emocionais, a
partir de milênios de nossa evolução humana.

Nesta aula, compreendemos de que forma podemos reagir às ameaças reais ou imaginárias
analisando a resposta luta-fuga e a síndrome geral de adaptação; aprendemos um pouco sobre a amígdala
cerebral, integrante de nosso sistema límbico, e como nossas emoções são a base para o comportamento;
por último, refletimos sobre respostas construtivas ou destrutivas a partir de nossas emoções universais.

Alessandra Gonzaga, PhD.

Professora e mentora de inteligência emocional, budista praticante. Consultora em gestão da


mudança professora de inteligência emocional na PUCRS, IMED e Unisinos.
Doutora em gestão de pessoas, mestre em psicologia clínica. Certificada internacionalmente para
avaliação e desenvolvimento de inteligência emocional pelos métodos ESCI da Korn Ferry Hay Group
(Harvard), MSCEIT (Yale University) e pelos assessments da EI Learning Systems (EITRI).
Facilitadora do Cenex e diretora da Conexão IE.
Aula 02 – A ESCOLA DE HARVARD DE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Introdução

Por muito tempo, consideramos inteligência e emoção como áreas de nossa cognição e
comportamento totalmente distintas e antagônicas. Nos últimos anos, no entanto, a pesquisa e a
aplicação de técnicas na área de inteligência emocional foram ampliadas consideravelmente. Sim, existe
uma maneira inteligente de lidarmos com nossas emoções!

Nesta aula, vamos falar, em primeiro lugar, da escola clássica de inteligência emocional, conhecida
como modelo quadrifatorial ou de aptidões; em seguida, vamos conhecer a escola de Harvard de
inteligência emocional a partir do modelo de competências socioemocionais proposto por Daniel
Goleman; por fim, esperamos que você reconheça as próprias competências emocionais, conectando-as
com as atividades de seu dia a dia e refletindo sobre sua aplicação nos relacionamentos.

Bons estudos!

Parte 01 - UMA INTELIGÊNCIA PARA AS EMOÇÕES

Demorou muito tempo para que a palavra inteligência se aproximasse de uma visão subjetiva ou
emocional. Por muitos séculos, o mundo emocional foi associado a nossos instintos e ao homem-animal.
Um marco importante para mudar isso ocorreu em 1983, quando Howard Gardner apresentou as
inteligências pessoais à lista de inteligências múltiplas humanas.

Esse par, denominado inteligências "intrapessoal" e "interpessoal” é, atualmente, referida por muitos
autores como inteligências pessoal e social.

A inteligência intrapessoal de Gardner diz respeito ao "eu localizado no indivíduo", bem como ao
“desenvolvimento dos aspectos internos de uma pessoa”. Em um ponto-chave, ele observou que ela
envolvia, principalmente, acesso à própria vida sentimental (GARDNER, 2009). Já a inteligência
interpessoal é a capacidade de entender as intenções, motivações e desejos de outras pessoas e,
consequentemente, trabalhar com outras pessoas de maneira eficaz.

Baseados no modelo de Gardner, os pesquisadores John Mayer e Peter Salovey publicaram, em 1990,
o primeiro artigo científico que fez menção a uma inteligência emocional, ou seja, a um conjunto de
habilidades mentais para se lidar com as emoções. Esse modelo ficou conhecido como quadrifatorial ou
de ability cuja tradução é melhor definida como de aptidões mentais para se lidar com emoções humanas.
De acordo com o modelo quadrifatorial, são quatro as habilidades de inteligência emocional:
PERCEBER Identificar emoções em si, nos outros e em coisas, bem como expressá-las
EMOÇÕES: acuradamente.
USAR EMOÇÕES: Facilitar o pensamento e o julgamento a partir de estados emocionais.
ENTENDER Nomear emoções e sentimentos complexos e compreender progressões.
EMOÇÕES:
ADMINISTRAR Estar aberto aos sentimentos e gerenciar emoções em si e nos outros.
EMOÇÕES:

Perceber
Emoções

Administr Usar/Faci
ar IE litar
Emoções Emoções

Entender
Emoções

Figura 1 | Modelo quadrifatorial de IE. Fonte: elaborada pela autora.

Em uma revisão do modelo clássico, Mayer e Salovey (1997, p. 10) definem dessa forma a
inteligência emocional:

Inteligência emocional é a habilidade de perceber, avaliar e expressar emoções de forma acurada e


adaptativa; a habilidade de entender a emoção e o conhecimento emocional; a habilidade de acessar ou
gerar sentimentos quando eles facilitam o pensamento; e a habilidade de regular emoções de maneira a
auxiliar o pensamento.

No modelo quadrifatorial, todas as habilidades incluem as faculdades interpessoal e intrapessoal, ou


seja, a compreensão e a interação com nós mesmos e com os outros. A principal contribuição desse
modelo de inteligência emocional é considerar que nossas emoções são informações que podemos
utilizar para melhor avaliarmos cada situação da vida e como nos posicionarmos. Para Susan David
(2018), nossas emoções podem servir como guias ao nosso comportamento, uma vez que sinalizam que
valores nossos estão sendo acionados.

Enquanto navegamos pela vida, nós, humanos, temos poucas maneiras de saber que rumo tomar ou
o que vem pela frente. Não temos faróis que nos mantenham afastados de relacionamentos
problemáticos. Não temos vigias na proa ou radares na torre atentos a possíveis ameaças submersas que
podem afundar nossos planos de carreira. Em vez disso temos nossas emoções – sensações como medo,
ansiedade, alegria e euforia – um sistema neuroquímico que evoluiu para nos ajudar a navegar pelas
complexas correntes da vida. (DAVID, 2018, p. 12)

Parte 02 - DO EMOCIONAL AO SOCIAL

Em 1995, o então psicólogo e jornalista científico Daniel Goleman lançou o best-seller Inteligência
Emocional – a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente, e os estudos na área cresceram
em número e complexidade impressionantes. Já na época, o escritor trazia algumas provocações sobre
a Inteligência Emocional (IE), conectando-a ao contexto organizacional e ao exercício da liderança pela
primeira vez. Em seu trabalho, Goleman disseminou a inteligência emocional em todos os continentes,
sendo sua obra uma das mais traduzidas no mundo inteiro. Nos anos 2000, Goleman se associou à Korn
Ferry Hay Group, uma consultoria global de recursos humanos, e desenvolveu, em parceria com outros
pesquisadores de Harvard, o modelo de competências socioemocionais para explicar sua ideia de
inteligência emocional.

Faz-se interessante notar que, no modelo de competências, as dimensões intra e interpessoais ganham
destaque, servindo para separar as competências do ser (self) das competências interpessoais (sociais),
tanto para reconhecimento como para regulação das emoções. Surge, então, uma nova definição de
inteligência emocional, que contempla o social:

Inteligência emocional e social é a capacidade de reconhecer nossos próprios sentimentos e de outros,


motivar a nós mesmos e administrar emoções efetivamente em nós mesmos e outros. (GOLEMAN;
BOYATZIS, 2016, p. 2)

De forma a promover a avaliação de competências socioemocionais de executivos do mundo inteiro,


Goleman e Boyatzis (2016) associaram-se à Korn Ferry Hay Group e criaram o assessment ESCI –
Emotional and Social Competence Inventory, que serve de base para processos de desenvolvimento
gerencial e coaching sistêmico em equipes de liderança.

O instrumento ESCI é uma avaliação 360° que permite que um indivíduo se avalie e seja avaliado
por pares, clientes, líderes e liderados em relação a 12 competências socioemocionais ligadas ao trabalho
nas dimensões de autoconsciência, autocontrole, consciência social e gestão de relacionamentos:
AUTOCONSCIÊNCIA: Reconhecer e entender as próprias emoções. Competência emocional
associada (1): autoconsciência das emoções.
CONSCIÊNCIA Reconhecer e entender emoções em outros. Competências emocionais
SOCIAL: associadas (2): empatia e consciência organizacional.
AUTOCONTROLE: Efetivamente, administrar as próprias emoções. Competências
emocionais associadas (4): adaptabilidade, otimismo, autocontrole,
orientação para resultados.
GESTÃO DE Aplicar e entender as emoções ao lidar com as emoções de outros.
RELACIONAMENTOS: Competências emocionais associadas (5): coaching e mentoring,
gestão de conflitos, influência, liderança inspiradora, trabalho de
equipe

Além do assessment ESCI, existem diversas escalas para avaliação de competências


socioemocionais, algumas com validação científica, outras não. O que se espera desse tipo de assessment
é que possa contribuir para que a organização possa medir a inteligência emocional de líderes e
liderados, aumentar a conscientização das pessoas a respeito de seus comportamentos, desenvolver
qualidades específicas para as interações sociais e promover confiança e emoções positivas em
indivíduos e equipes.

Parte 03 - BASES PARA AVALIAR E DESENVOLVER A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Uma pergunta muito comum para quem trabalha com emoções é: como faço para avaliar minha
inteligência emocional? Ou, ainda, qual é a competência socioemocional mais importante para o nosso
sucesso e como desenvolvê-la?

De acordo com a escola de competências de inteligência emocional, a resposta é: comece por você.
Isso significa que a competência emocional mais importante para se desenvolver é a autoconsciência
das emoções; ela diz respeito à capacidade de compreender suas próprias emoções e seus efeitos no
raciocínio e na ação.

Quando você sabe como se sente e por que sente, ou seja, os motivos por trás de seus sentimentos,
fica mais fácil não se “deixar levar” pelas situações, mantendo uma atenção flutuante em relação às
coisas que acontecem. Quem é autoconsciente também tem uma maior clareza de suas forças e fraquezas
e consegue direcionar seus esforços de aprendizagem; frente a isso, muitos estudos de inteligência
emocional estão se direcionando para a compreensão dos mecanismos de nossa atenção, uma vez que
ela pode promover mudança de comportamento.
O movimento rumo ao próprio desenvolvimento parte da autoconsciência e caminha para as
dimensões de autocontrole e consciência social, simultaneamente, porque, uma vez que temos maior
consciência, passamos, também, a regular mais facilmente nossos estados emocionais e, paralelamente,
a “reparar” mais nas reações e mensagens não verbais das outras pessoas.

Por último, uma vez desenvolvida a nossa dimensão intrapessoal e ampliado o nosso processo
empático com outras pessoas, passamos a ter maior clareza do efeito que causamos em interações de
longo prazo, ou seja, passamos a levar inteligência emocional para nossos relacionamentos.

Refletindo sobre a própria inteligência emocional (IE)

Uma dificuldade nos programas de desenvolvimento organizacionais é medir o nível de consciência


e ação emocional das pessoas. Nesse sentido, há uma contradição em relação aos testes de Inteligência
Emocional, porque, se de um lado, somos pouco acurados em medir nossas próprias habilidades
emocionais (na maioria das vezes, quem “menos precisa” de Inteligência Emocional é quem mais se
beneficia de programas de desenvolvimento), de outro, é interessante perguntar aos outros sobre nosso
comportamento, e isso faz com que as avaliações por pares ou por informantes sejam largamente
utilizadas. Porém, para que essas avaliações sejam bem-sucedidas, é preciso treinamento quanto à forma
de condução e muito zelo com as informações coletadas, a fim de que não promovam um clima de
desconfiança e perseguição.

Com base em nossa aula, reflita sobre suas competências socioemocionais, iniciando pela
autoconsciência: quais são suas maiores forças em relação à interação com outras pessoas? E as
fraquezas? Em seguida, procure refletir sobre seu autocontrole: existem pessoas que acionam seus
gatilhos emocionais? Quem são essas pessoas e que valores elas violam?

Finalizando a compreensão “intrapessoal” de suas competências, vale a pena escolher um colega ou


amigo de confiança para perguntar se você é uma pessoa que transmite empatia, como é trabalhar em
grupo com você, se você consegue influenciar as pessoas a modificar seu comportamento e, ainda, se
você contribui para o aprendizado de outras pessoas.

Esse tipo de questionamento ajuda a colocar sua inteligência social em perspectiva, favorecendo o
processo de autodesenvolvimento.
Parte 04 - Videoaula: A ESCOLA DE HARVARD DE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Você sabia que o acesso ao nosso mundo emocional requer inteligência?


Desde os anos 1990, convivemos com modelos de inteligência emocional, compreendendo que
existem habilidades mentais e comportamentais específicas às pessoas com alta Inteligência Emocional.
Mais especificamente, a escola de Harvard de Inteligência Emocional reconhece que temos
competências socioemocionais, ou seja, existem determinados comportamentos que levam pessoas a
uma melhor performance social.
Nesta aula, vamos conhecer o modelo clássico e o modelo de competências de inteligência
emocional, bem como falar das implicações para programas de avaliação e desenvolvimento nas
organizações.

Parte 05 - SAIBA MAIS

Leia artigos sobre inteligência emocional na newsletter semanal da "Conexão Inteligência


Emocional"
Aula 03 - QUANDO FALTA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Introdução

Como percebemos que uma pessoa tem inteligência emocional? Podemos entender as emoções como
veículos para troca de informações que impactam o nosso desempenho e a qualidade ou eficácia das
interações que mantemos com as outras pessoas, e uma pessoa com inteligência emocional considera
essas informações para moldar o seu comportamento e a sua tomada de decisão.

Não existe um comportamento ótimo que sempre provê os melhores resultados numa dada situação;
é preciso flexibilidade e agilidade emocional para moldar o comportamento e a decisão, conforme o
contexto de cada situação.

Uma pessoa com habilidades de inteligência emocional é considerada aquela capaz de processar
informações emocionais de forma adequada. Nesta aula, vamos debater sobre o tema.

Bons estudos e até breve!

Parte 01 - SOBRE EMOÇÕES E ESTADOS EMOCIONAIS

Todos estamos sujeitos a fenômenos afetivos, que, de acordo com o professor Rafael Bisquerra,
da Universidade de Barcelona, englobam:
EMOÇÕES: Respostas de nosso organismo aos estímulos que recebemos.
SENTIMENTOS: Tomada de consciência sobre essas emoções.
ESTADOS Podem ser entendidos como uma predisposição dos indivíduos para uma
EMOCIONAIS: determinada atitude, comportamento ou decisão.

Esses fenômenos afetivos são modulados por crenças e valores pessoais, isto é, o mesmo estímulo
pode provocar respostas distintas nas pessoas, e isso traz impactos não apenas em nosso comportamento
individual mas também nos relacionamentos interpessoais. Vamos analisar esses impactos a seguir, no
curto e no longo prazo.

No curto prazo, esses fenômenos emocionais predispõem nossa intenção de ação, podendo
influenciar nossa percepção ou predisposição a atuar em favor ou contra uma ideia ou a posição de
algum colega ou funcionário sob nossa supervisão. Por exemplo: um gestor tomado de um estado
emocional de impaciência pode rejeitar novas ideias ou estratégias por considerá-las, inicialmente, de
alto risco, sendo que, frente a uma análise mais calma e sensata, poderia enxergá-las como uma excelente
oportunidade. Se esse gestor pudesse perceber como esse estado emocional o influencia, talvez, viesse
a tomar outra linha de ação em relação a essa situação específica. Para isso, precisaria colocar em prática
as habilidades de inteligência emocional do modelo dos professores Goleman e Richard Boyatzis que
aprendemos em nossa última aula, ou seja, ele precisaria: exercitar a autoconsciência de seu estado
emocional e perceber que sua impaciência dificulta a análise de novos conceitos e ideias; exercer a
consciência social, entrando em sintonia com as necessidades e expectativas de seus colegas ou
funcionários; praticar o autocontrole, regulando sua resposta emocional para um estado de maior calma
e abertura; por fim, realizar uma boa gestão dos relacionamentos, aplicando o entendimento emocional
no trato com os outros, mantendo-se assertivo e aberto ao diálogo que pode levá-lo a decidir por uma
nova linha de ação ou decliná-la de forma adequada, sem gerar frustração ou desmotivação em seus
pares ou funcionários.

Já no longo prazo, precisamos considerar que os fenômenos afetivos constituem aspectos essenciais
de nossa personalidade. A exteriorização repetida de certas emoções em uma pessoa pode chegar a
constituir um traço de sua personalidade.

Retomando o nosso exemplo, se um gestor se mostra constantemente impaciente em suas atitudes e


posicionamentos, isso pode passar a ser percebido como um traço de sua personalidade. Tendemos a
identificar as pessoas pela emoção predominante em seu comportamento, logo, se um gestor é percebido
como impaciente, isso pode levar seus pares ou funcionários a nem mesmo cogitar apresentar-lhe uma
nova ideia, podendo provocar prejuízos a ele ou ao próprio negócio que administra.

Tal situação caracteriza o que a doutora Susan David chama de falta de agilidade emocional. Por
mais inteligente e capaz que esse gestor de nosso exemplo possa ser, se ele mantém um estado contínuo
de impaciência, seus sentimentos determinam suas ações, decisões e a forma com que administra seus
relacionamentos. É necessário, portanto, que ele perceba o seu estado emocional e aja para mudar
padrões, hábitos ou comportamentos que o impedem de se adaptar às diferentes situações que são
apresentadas e de atuar de forma eficaz frente a elas, modulando suas respostas emocionais.

Parte 03 - A NECESSIDADE DE FLEXIBILIDADE E AGILIDADE EMOCIONAL

Vamos reforçar o entendimento das competências que compõem o modelo de inteligência emocional
para reconhecer e regular emoções em si e nos outros. Considerando nossas respostas aos estímulos
internos e externos do ambiente, precisamos exercer as competências desse modelo de forma
balanceada, pois a falta de alguma delas poderá prejudicar o processamento e o uso da informação
emocional.
Vamos às competências:
AUTOCONSCIÊNCIA: É a principal competência de inteligência emocional, pois exerce grande
influência nas demais, e é baseada numa vontade de ter acesso a novas
perspectivas e no entendimento de si mesmo(a).
Pessoas com essa habilidade têm maior facilidade para o
desenvolvimento pessoal.
VOCÊ DEMONSTRA - Dá-se conta de seus próprios sentimentos.
AUTOCONSCIÊNCIA - Sabe o que causa esses sentimentos.
QUANDO: - Compreende as consequências de seus estados emocionais em seu
comportamento ou em suas decisões.
- Conhece suas forças e limites.
- Está aberto ao feedback.
AUTOCONTROLE O autocontrole provê direção, energia e restrição ao nosso
comportamento.
Ele nos permite regular as emoções no cotidiano e ter maior controle das
respostas emocionais em situações desafiadoras.
VOCÊ DEMONSTRA - Consegue lidar de forma calma com situações estressantes.
AUTOCONTROLE - Consegue regular a intensidade de suas respostas emocionais e
EMOCIONAL controlar seus impulsos.
QUANDO: - Mantém sua positividade e otimismo mesmo perante eventos difíceis.
- Consegue realizar suas entregas mesmo quando envolto em
sentimentos negativos.
CONSCIÊNCIA Consciência social tem a ver com entrar em sintonia com as
SOCIAL necessidades, expectativas, comportamentos e estados emocionais de
outras pessoas. Aqui, é necessário considerar pessoas e contextos.
VOCÊ DEMONSTRA - Consegue ler pistas sobre os estados emocionais de outras pessoas de
EMPATIA QUANDO: forma precisa.
- Desenvolve escuta ativa.
- Entende as perspectivas e os pontos de vista de outras pessoas.
- Compreende as razões que motivam as outras pessoas.
VOCÊ DEMONSTRA - Entende as forças políticas em seu trabalho, grupo ou organização.
SENSIBILIDADE AO - Consegue compreender as principais relações de poder existentes.
CONTEXTO - Compreende os valores e a cultura de seu grupo ou organização.
QUANDO: - Compreende os processos informais existentes em seu grupo ou
ambiente de trabalho.
- Entende quais comportamentos são valorizados e quais são
considerados inadequados em seu grupo ou ambiente de trabalho.
GESTÃO DE A gestão de relacionamentos é a competência que nos permite "fazer a
RELACIONAMENTOS diferença", influenciar e motivar outras pessoas, bem como aplicar o
entendimento emocional no trato com o outro, mantendo a assertividade
e o diálogo fácil para objetivos comuns.
VOCÊ DEMONSTRA - Consegue construir consenso e influenciar pessoas para apoiar suas
UMA BOA GESTÃO ideias e sugestões.
DE - Oferece feedback para melhorar o desempenho de outras pessoas,
RELACIONAMENTOS reconhecendo suas forças e oportunidades de desenvolvimento.
QUANDO: - Consegue inspirar outras pessoas para atingir metas e objetivos,
extraindo o melhor de cada uma delas.
- Consegue promover confiança, cooperação e espírito de equipe nos
grupos em que atua.

Parte 04 - QUANDO FALTA UMA HABILIDADE DE INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Exploramos as competências de inteligência emocional, mas será que ficou claro o que acontece
quando essas competências não estão presentes? Para reforçar o entendimento, apresentaremos, a seguir,
quatro casos de indivíduos que encontramos, frequentemente, em organizações.

CASO 1 “O disperso”: você deve conhecer o perfil desse indivíduo, que apresenta muita
dificuldade em manter o foco na tarefa. Essa pessoa trabalha com muitas janelas
mentais abertas ao mesmo tempo ou se desdobra tentando atender a muitas demandas.
A fala é acelerada, dificultando o entendimento da ideia que está tentando,
efetivamente, transmitir, e como não consegue atuar nesse nível de energia por muito
tempo, apresenta comportamento inconstante. Frente a isso, a competência que falta
nesse caso é a autoconsciência, seja por não perceber seu estado, seja por estar,
propositadamente, tentando ignorar seus limites. E para evitar isso, sempre preste
atenção em seu corpo, pois é nele que o estresse se manifesta; busque desacelerar com
práticas de meditação e peça feedback de pessoas em quem confia.
CASO 2 “Pavio curto”: emoções acumuladas, irritação com todos, respostas ásperas,
comportamento passivo-agressivo ou agressivo e alta sensibilidade ao que os outros
dizem. O que falta neste caso é o autocontrole emocional. Procure identificar quais são
os gatilhos ou situações que disparam essas reações intensas e busque refletir sobre
suas causas, bem como modificar seu comportamento. Ajudar outras pessoas a
desenvolver seu controle emocional também traz benefícios para o nosso próprio
autocontrole.
CASO 3 “Muito racional”: esse indivíduo tem o comportamento de quem se acha dono da razão,
perguntando-nos, às vezes, se “queremos que ele desenhe” uma determinada situação,
a fim de que a entendamos e concordemos com o seu ponto de vista. Esse é um
comportamento de desconexão social e de dificuldade de perceber qualquer emoção
manifestada por outras pessoas. Neste caso, é preciso, preventivamente, pedir feedback
contínuo a pessoas de nossa confiança, que possam nos fornecer legendas emocionais
sempre que deixarmos de compreender o impacto de nossas atitudes perante nossos
colegas de trabalho.
CASO 4 “Muito desconectado”: esse indivíduo apresenta desinteresse pelo grupo do qual
participa, tendo dificuldade de compor ideias com os outros. Ele é focado apenas no
que precisa acontecer, sem considerar que precisa que as pessoas compartilhem sua
visão e sem se comprometer com os resultados. Neste caso, falta a gestão de
relacionamentos, e mais do que justificar o que é preciso, corações e mentes precisam
ser conquistados. Sempre que encontrar resistência as suas ideias e opiniões, busque
ouvir ativamente as pessoas que apresentam contrapontos, esforce-se em conhecer seus
motivos, valores e opiniões e, assim, conseguirá influenciá-los de forma positiva.

Para compreender melhor a mudança necessária, além de assistir ao Ted recomendado da Dra. Susan
David (encontrará o link a seguir, em Saiba mais), é importante adotar as seguintes medidas:

FAÇA UM ESFORÇO PARA Precisamos nos dar conta de nossos estados emocionais antes
RECONHECER SEUS PADRÕES de qualquer iniciativa para modificá-los.
DE COMPORTAMENTO:
TENHA O HÁBITO DE Isso o ajudará a separar o estado emocional do indivíduo.
NOMEAR SEUS
PENSAMENTOS E EMOÇÕES:
ACEITE SEUS ESTADOS Desenvolva compaixão por si mesmo em vez de negar tais
EMOCIONAIS: estados, buscando entender suas causas, e aproveite essa
informação valiosa para o seu processo de aprendizado e
crescimento pessoal.

Tome decisões e haja com base em valores: esse comportamento representa o que você ou sua
organização valoriza ou aspira?
Já as transformações de longo prazo, voltadas ao desenvolvimento da agilidade emocional, requerem
a aplicação dessas competências de forma continuada.
Parte 05 - Videoaula: QUANDO FALTA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Em nosso vídeo resumo, vamos explorar as competências do modelo de inteligência emocional e,


por meio de estudos de caso, compreender o impacto de sua falta em nossas relações interpessoais, bem
como formas de desenvolvê-las. Além disso, vamos explorar o desenvolvimento de longo prazo de
nossas competências e nossa agilidade emocional.

Parte 06 - SAIBA MAIS

Com base na obra Agilidade Emocional, o "TED Talk da psicóloga Susan David" explora como a
forma de encararmos nossas emoções determina tudo aquilo que é importante: os nossos
comportamentos, a nossa carreira profissional, as nossas relações, a nossa saúde e a nossa felicidade.
Aula 04 - COMO DESENVOLVER A GESTÃO EMOCIONAL

Introdução

Vivemos uma época em que a ansiedade e a depressão alcançam níveis epidêmicos. Segundo a
Organização Mundial de Saúde, estima-se que uma a cada cinco pessoas desenvolve quadros
depressivos durante a vida e uma a cada quatro pessoas sofre de ansiedade.

Com a pandemia da Covid-19, essas estimativas ampliaram-se consideravelmente, especialmente


entre jovens e adolescentes, por conta do excesso de estímulos audiovisuais, do isolamento social, do
alto grau de incertezas e de risco a que todos estamos submetidos, entre outros fatores. Disso, surgiu a
necessidade de compreendermos formas de regulação emocional frente às emoções aflitivas, logo,
conheceremos alguns conceitos ligados à psicologia positiva e falaremos sobre o valor das práticas
contemplativas.

Ao final desta aula, esperamos que você descubra formas de acalmar estados ansiosos e garantir o
alívio da tristeza a partir do acesso a emoções positivas.

Parte 01 - UMA EPIDEMIA DE ANSIEDADE

Um fato que intriga pesquisadores de saúde mental é o aumento significativo de quadros de ansiedade
nas mais diversas culturas e populações. Segundo Leahy (2011), a criança média, hoje, exibe o mesmo
nível de ansiedade do paciente psiquiátrico da década de 1950! Considerando que, atualmente, temos
acesso facilitado a tratamentos médicos, as pessoas vivem mais e vivem em melhores condições de
saúde, por que isso acontece?

Uma explicação para isso está em nosso estilo de vida. Por exemplo: a alta facilidade em nos
conectarmos às mais diferentes notícias e realidades nos coloca em constante comparação e confusão.
Absorvermos informações demais sobre fatos e imagens, o que “cansa” nossos sensores emocionais e
nos coloca em uma espécie de vertigem, algo típico da ansiedade.

De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria (APA), a ansiedade é uma emoção


caracterizada por sentimentos de tensão, pensamentos preocupados e mudanças físicas, como aumento
da pressão arterial. Pessoas com transtornos de ansiedade, geralmente, têm pensamentos ou
preocupações intrusivas recorrentes; elas podem evitar certas situações por preocupação e apresentar
sintomas físicos, como sudorese, tremores, tonturas ou taquicardia.
Como outros estados emocionais, a ansiedade pode ser facilitada por questões fisiológicas, mas é,
das emoções aflitivas, a mais ligada ao modo como projetamos nossa percepção da realidade. Ela é,
portanto, uma emoção ancorada no tempo futuro, geralmente, ocupando nossa mente com situações
sobre as quais não temos controle, mas desejamos controlar.

De acordo com Laguaite (2011), são múltiplos os sintomas de ansiedade, entre eles:
Evitar amigos ou família. Preocupação constante. Choro.
Sensação de irritação, cansaço Sentir que você precisa ser Ter problemas para dormir.
ou tensão. perfeito.
Perder o interesse no seu Ter problemas para se Comer demais ou de menos.
trabalho. concentrar ou lembrar das
coisas.

Existem situações que podem disparar nossa ansiedade e nos fazer antecipar nosso desempenho
diante de outras pessoas.

No espaço de trabalho, algumas delas são:


Lidar com problemas de Montar e realizar Acompanhar e atualizar as
colegas. apresentações. redes sociais.
Reuniões, almoços de equipe e Cumprir e definir prazos em Falar durante as reuniões.
festas de escritório. equipe.

Certos comportamentos não nos ajudam a lidar com preocupações e ansiedades, como tentar suprimir
os pensamentos, alienar-se com álcool e outros vícios, superestimar o risco de algo ruim acontecer ou
checar repetidamente o status nas redes sociais. Ao contrário! O que pode contribuir para a diminuição
das ansiedades é ter clareza do que efetivamente se pode controlar e uma certa apreciação da experiência,
ainda que a vida apresente novos riscos e incertezas a cada dia. Em relação aos desafios diários, para
diminuir a ansiedade, é importante dedicar-se a uma atividade por vez, buscando pausas para observar
o que acontece e refazer as energias.

Parte 02 - NOSSO JEITO DE VIVER E A TRISTEZA

Com a depressão aumentando em todas as faixas etárias e o estresse se tornando algo comum em
nossas vidas, é seguro supormos que nosso estilo de vida pode estar contribuindo para nos deixar “para
baixo”. Ao contrário do que parece, o estresse não é um elemento isolado dos estados de abatimento, na
verdade, são estados emocionais que convivem. A fórmula já conhecemos: um esforço imenso para
fazer as atividades mais corriqueiras seguido de um cansaço extremo e a vontade de não fazer nada. Em
muitas situações, estresse e fadiga são duas faces da mesma moeda, assim como ansiedade e depressão.

Todo mundo tem um dia ruim de vez em quando; uma discussão com um cliente, uma briga dolorosa
com o cônjuge, a perda de um animal de estimação, ser preterido de uma promoção e outras decepções
do dia a dia podem fazer com que nos sintamos péssimos. A tristeza é uma emoção normal, que deve
desaparecer com o tempo, mas quando essa melancolia não é temporária, o perigo de depressão pode
estar no horizonte.
Existem alguns pontos importantes que apontam a diferença entre a simples tristeza e um quadro
depressivo.

O Quadro 1 a seguir explica em que elas se diferem:


CARACTERISTICA Tristeza Depressão
DURAÇÃO Hora ou Dias Semanas a Meses
PERDA AFETIVA RECENTE Presente Geralmente Ausente
AUTOESTIMA Preservada Muito Comprometida
SENTIR-SE UM PESO AOS OUTROS Ausente Presente
DESEMPENHO FRENTE A TAREFES Geralmente preservado Nunca
COTIDIANAS
ÁS VEZES CONSEGUE SE ANIMAR Geralmente Sim Nunca
SINTOMAS CORPORAIS Mininos Graves
LENTIDÃO PSÍQUICA E MOTORA Leve ou Ausente Geralmente Presente
IDEIA DE SUICÍDIO Improvável Comum
Quadro 1 | Diferenças entre tristeza e depressão. Fonte: Botega (2020, p. 23).

É importante compreendermos que a tristeza é uma emoção humana normal, que todo mundo sente
de vez em quando. Como vimos na primeira aula, ela está associada a algum tipo de perda, podendo
estar vinculada à forma como entendemos alguma situação da vida. Uma característica interessante da
tristeza é que, quando a sentimos, é como se “nunca tivéssemos” sentido a felicidade antes, além disso,
facilmente, ela é a emoção dominante. Quando em intensidade baixa, a tristeza favorece a análise crítica
e a empatia por outras pessoas; por essa razão, a tristeza pode ser aliviada quando desabafamos,
choramos ou, simplesmente, entramos em contato com nossos sentimentos.

O mais importante em relação à tristeza é que ela é temporária. Se ela se intensificar e não estiver
mais vinculada a algum fato específico (geralmente de perda), é possível que haja algo mais a se
investigar, como uma possível depressão, e, nesse caso, o ideal é procurar ajuda de um profissional de
saúde mental.

Ainda, a depressão pode ser desencadeada por uma predisposição fisiológica, como uma forte
alteração hormonal, ou devido a circunstâncias externas. O termo "deprimido" é frequentemente mal
utilizado e muitas pessoas explicam estados de melancolia a partir do sentimento de depressão. A
depressão clínica, no entanto, só pode ser diagnosticada por um profissional de saúde mental, que pode
avaliar os sintomas e recomendar o tratamento adequado.

Parte 03 - PRÁTICAS PARA VIVER MELHOR

Como vimos até aqui, nosso estilo de vida conectado e hiperligado contribui para a perda de bem-
estar e satisfação pessoal. Por isso, para fazer frente a estados depressivos e ansiosos, muitas pessoas
estão se voltando a práticas contemplativas, como mindfulness e meditação, que ajudam a diminuir o
fardo de nossos embates emocionais cotidianos.

Muitas são as práticas contemplativas, podendo ser generativas, quando intentam gerar pensamentos
e sentimentos de compaixão ou conexão com algo superior (como orações e mantras), de movimento
(como caminhadas ou artes marciais) ou de quietude, quando buscam promover calma e tranquilidade
(como meditação sentada). Elas são chamadas "práticas" porque se aperfeiçoam com o tempo e a
repetição, modificando a forma como experimentamos a realidade.

De acordo com a organização CMind (2021), as práticas contemplativas podem incluir atividades
como cantar, tocar música e tricotar, bem como práticas como ioga ou tai-chi. Em comum, elas têm a
característica de promover uma melhora em nossa saúde emocional, afastando-nos de emoções aflitivas
e nos aproximando de estados de bem-estar e apreciação da vida.

Mindfulness é uma expressão em inglês melhor traduzida como “atenção plena” e diz respeito a uma
observação da realidade de forma curiosa e distanciada. Quando estamos “mindful”, percebemos o que
acontece de maneira livre de julgamentos, por isso, a prática de mindfulness

torna-se uma ferramenta poderosa para nos ajudar a controlar o sofrimento que experienciamos,
promovendo calma, apreciação da experiência e felicidade.

Não é preciso fechar os olhos para a prática de mindfulness; podemos praticar, por exemplo, a partir
de uma alimentação consciente, em que cada garfada é apreciada cuidadosamente, bem como o sabor
dos alimentos e suas diferentes texturas. Outra opção é uma caminhada ao ar livre, de forma que todos
os nossos sentidos estejam atentos ao ambiente e que possamos “prestar atenção” às nossas passadas
sob efeito do vento e das paisagens que vislumbramos.

Muitas são as práticas possíveis de meditação. Uma delas é sentar-se confortavelmente por alguns
minutos diariamente, fechando os olhos para presenciar as diferentes “janelas mentais”, separando sons,
percepções do corpo e pensamentos, bem como observar a si mesmo com tranquilidade. Outra meditação
bastante comum é, simplesmente, prestar atenção na respiração, pontuando o ar que entra e o ar que sai,
e nas diferentes sensações e nos sentimentos que surgirem, sem julgamentos.

Outra opção simples é prestar atenção no seu momento presente. Pratique agora: inspire
profundamente pelo nariz e exale devagar pela boca, por três inspirações e expirações. Em seguida feche
os olhos e deixe o “pensamento flutuar”, sem julgar, sem reter nenhuma emoção e sem evitar. Você verá
como uma prática tão simples pode nos fazer “recuperar o fôlego” e, quem sabe, levar a vida um pouco
mais leve.

No Saiba mais desta aula, sugerimos que você construa a árvore de práticas contemplativas,
descobrindo o seu jeito de estabelecer uma conexão saudável com suas emoções.

Parte 04 - Videoaula: COMO DESENVOLVER A GESTÃO EMOCIONAL

Vivemos em uma época acelerada, em que o isolamento social e o excesso de informações nos
tornam cada vez mais estressados e ansiosos. Nesta aula, falamos sobre ansiedade e depressão,
compreendendo as características que desafiam nossas mentes a lidar com a realidade; ao final,
apresentamos algumas formas de fazer frente às emoções aflitivas, a partir de práticas contemplativas
de mindfulness e meditação.
Aula 05 – Revisão da Unidade

Parte 01 – VIDEOAULA: REVISÃO DA UNIDADE

Cérebro Cognitivo: Decisões, Consciência, Pensamentos


Cérebro Limbico: Emoções
Cérebro Reptiliano: Instintos e Regulação

E o modelo de IE de Goleman se refinou*...

Autoconsciência: Consciência Social:


01. Reconhecer e entender 01. Reconhecer e entender
as próprias emoções emoções em outros

IE

Autocontrole: Gestão de Relacionamento:


01. Efetivamente 01. Aplicar e entender das
administrar as próprias emoções ao lidar com
emoções emoções de outros

QUANTO FALTA IE

A falta de autoconsciência: Inteligência emocional diz respeito a um conjunto de competências para


reconhecer e regular emoções em si e nos outros – GOLEMAN

A falta de gestão de Relacionamento

Gestão de Relacionamento: A gestão de relacionamento é a competência que permite “fazer a


diferença”, influenciar e motivar outras pessoas. Ela permite aplicar o entendimento emocional no trato
com o outro, mantendo-se assertividade e também diálogo fácil para objetivos comuns.

Parte 02 - ESTILOS DE LIDERANÇA

A tarefa fundamental de um líder é cultivar bons sentimentos naqueles que lidera. Isso ocorre
quando o líder cria ressonância - um reservatório de positividade que liberta o melhor das
pessoas. Em sua raiz, então, o trabalho primordial da liderança é emocional.
No livro “O poder da inteligência emocional”, Daniel Goleman, Richard Boyatzis e Aniee McKee
apresentam diferentes estilos de líderes ressonantes, que seriam mais eficazes por fazerem uso de
competências de inteligência emocional. Alguns desses estilos são reproduzidos na tabela a seguir.
Estilo de Liderança Quando Apropriado Como Constrói a Ressonância
VISIONÁRIO Quando as mudanças exigem uma Lava as pessoas a sonhos
nova visão, ou quando uma direção compartilhados
clara é necessária.
COACH Para ajudar um funcionário a Conecta o que uma pessoa deseja
melhorar o desempenho, criando com os objetivos da organização
capacidade de longo prazo
AFILIATIVO Para resolver problemas em uma Cria harmonia conectando as
equipe, motive durante momentos de pessoas umas ás outras
estresse ou fortaleça as conexões
DEMOCRÁTICO Para construir adesão ou consenso, Valoriza a opinião das pessoas e
ou para obter informação valiosas obtém compromisso por meio da
dos funcionários participação

Procure descrever quais dimensões e competências de inteligência emocional, conforme o modelo


de IE da Escola de Harvard, são fundamentais para o exercício desses estilos de liderança, justificando
sua resposta.

Anotação: As diferentes dimensões vão ter competências que os lideres vão desempenhar

Entendimento das
Autoconhecimento Relações
01. Autoconhecimento 01. Empatia
emocional 02. Entendimento
Organizacional

Gerenciamento das
Autogerenciamento Relações
01. Orientação para 01. Gerenciamento de
Resultados Conflitos
02. Adaptabilidade 02. Coach e Mentor
03. Autocontrole 03. Influência
Emocional 04. Liderança
04.Otimismo Inspiradora
05.Trabalho em Equipe
Possível resposta...
ESTILO DE DIMENSÕES/ ANOTAÇÕES FILMES
VIDA COMPETÊNCIAS
VISIONÁRIO Autocontrole: Otimismo, As pessoas são levadas a O Destino
Orientação para Resultados sonharem junto com o líder, de uma
Gestão de Relacionamentos: a visionarem um mundo Nação
Influência, Liderança melhor;
Inspiradora Quando apropriado esse líder
garante uma nova cultura,
visão e etc.
COACH Consciência Social: Empatia; Leva as pessoas ao O
Gestão de Relacionamentos: desempenho melhor; Estagiário
Coaching e Mentoring, Uma pessoa que deseja o
Liderança Inspiradora melhor para o outro e faz
com que o outro vá em
direção aos seus objetivos
AFILIATIVO Autoconsciência: Esse líder consegue entrar Ao mestre
Autoconsciência Emocional; nos corações das pessoas, com
Consciência Social: Empatia e consegue se conectar com o carinho
Consciência Organizacional outro com o nível ligado ao (To Sir,
Gestão de Relacionamentos: afeto, portanto faz com que With Love)
Gestão de Conflitos, Trabalho as pessoas consigam se
de Equipe conectarem umas com as
outras, sendo bastante
emocional
DEMOCRÁTICO Consciência Social: Empatia e Aquele que procura garantir Invictos
Consciência Organizacional; a adesão do grupo à uma
Autocontrole: Autocontrole; determinada ideia ou trazer
Gestão de Relacionamentos: as diferentes opiniões para
Gestão de Conflitos, Trabalho um objetivo comum;
de Equipe Geralmente ele não possui a
própria voz, ele é muito mais
facilitador da voz coletiva
Modolo 02

Aula 01 - FACILITAÇÃO EMOCIONAL DO PENSAMENTO CRIATIVO

Introdução

Você já reparou em algum artista realizando uma performance, como um dançarino ou um pintor?
Já se envolveu em uma atividade e não viu o tempo passar? Essas situações podem indicar o estado de
flow, um estado de espírito em que ficamos totalmente imersos no que fazemos e podemos criar o novo
em atividades que já temos amplo domínio.

Vamos falar nesta aula sobre isso e sobre a formação de indivíduos criativos, compreendendo o papel
do ambiente e de nossas relações afetivas, inclusive com a própria tarefa. Por último, vamos conhecer
uma técnica para facilitação de nossas emoções de forma a promover a criatividade.

Ao final da aula espera-se que você perceba mais atentamente seus processos criativos e facilite
humores positivos para que novas soluções possam chegar a seu campo cognitivo.

Parte 02 – O PROCESSO DE FLOW

É encantador observar os movimentos de uma bailarina em uma apresentação de alto desempenho.


A fluidez na pista faz parecer fácil a condução dos passos e por mais força que ela coloque em seus
músculos, o que conseguimos perceber é leveza. Se perguntarmos para a bailarina como ela se sente no
momento da performance, ela dirá que é como se o tempo parasse ou como se não tivesse percepção
alguma de tempo. Outra característica é que ela não perceberia seus pensamentos, como se nesse
momento o eu se fundisse com a tarefa, ou seja, ela se tornasse a dança. Esse estado de espírito em que
estamos totalmente imersos em uma atividade é chamado de flow, ou fluxo.

Para chegar ao desempenho em flow em processos criativos são necessárias muitas horas de
treinamento. De acordo com o psicólogo positivo Mihaly Csikszentmihaliy (2020), que estuda o
processo de flow nos últimos 30 anos, são necessários 10 anos de dedicação a um determinado tema ou
atividade para que se possa criar algo totalmente novo a respeito. E aqui o autor faz uma conexão entre
o flow e a criatividade: é preciso muito envolvimento com uma atividade para que se possa ser criativo
em relação a ela. É como se a mente precisasse de muitos registros de uma determinada ação para que
pudesse automatizar totalmente o processo e então fluir de forma mais independente, sem programar os
pensamentos.
Ao realizar uma tarefa em estado flow, a pessoa sente-se “livre” de ter de pensar e simplesmente flui.
Csikszentmihaliy explica que mesmo atividades consideradas repetitivas, burocráticas ou cansativas,
pode oportunizar momentos de criatividade, gerando satisfação posterior. Para isso acontecer, é
necessário que os indivíduos dessas atividades tenham o chamado perfil autotélico, que consegue
reconhecer oportunidades onde outros não reconhecem e tirar bem-estar psicológico a partir de
atividades consideradas difíceis para outras pessoas. A pessoa autotélica cria condições para o flow
acontecer. Outros exemplos são as atividades de “abrir a massa” feita em algumas pizzarias artesanais
ou de “soprar o vidro” feita em vidraçarias tradicionais. Essas são tarefas aparentemente banais que são
transformadas criativamente por pessoas autotélicas, que retiram satisfação e promovem um toque
artístico no que fazem.

Algumas outras definições ajudam a compreender melhor o flow. É necessário que a pessoa se sinta
desafiada pela tarefa e, ao mesmo tempo, tenha condições de executá-la. Daí a importância do amplo
tempo de dedicação para que se chegue ao flow. Se temos muito domínio sobre uma atividade e não
somos desafiados por ela, é fácil cair em um estado de tédio. Já se temos pouca habilidade e o desafio
da tarefa é muito grande, entramos em estado de preocupação ou ansiedade, uma vez que não vemos
saída fácil. Essas diferentes relações entre o desafio e a habilidade são explicadas pela Figura 1.

Figura 1 | Estado de flow. Fonte: adaptada de Csikszentmihalyi (2020).

O que se pode resumir é que duas condições são necessárias para que o flow possa acontecer: a
pessoa sentir-se altamente motivada para a atividade e com capacidade ou competência para realizá-la
a contento. Nesse caso, há um grande investimento de energia e concentração, até que se perca a noção
do tempo ou do pensar. Passa-se a tão somente executar, com espaço para criar. Daí a satisfação
decorrente.
Parte 03 – O INDIVÍDUO CRIATIVO EM FORMAÇÃO

Inspirado na teoria de Csikszentmihalyi, Howard Gardner explorou as condições necessárias para as


pessoas serem criativas. Ele analisou a vida de sete personalidades criativas: Freud, Einstein, Picasso,
Stravinsky, Eliot, Graham e Gandhi e chegou à conclusão de que a criatividade não é um fato isolado e
restrito a indivíduos geniais, ao contrário, depende das condições de formação do indivíduo criativo, do
ambiente em que cresceu, do afeto que recebeu e das oportunidades que encontrou.

Para explicar essas condições, Gardner (1996) propôs o triângulo da formação (Figura 2), que
traz três elementos centrais:
DA CRIANÇA AO Compreensão de como o indivíduo passa de criança a mestre, como os
MESTRE talentos foram identificados e que meios encontraram para florescer.
CAMPO DE A relação entre o indivíduo e o trabalho em que se envolveu.
DOMÍNIO
AMBIENTE- A relação entre o indivíduo e outras pessoas que fazem parte do seu
COMUNIDADE mundo, tais como familiares e professores.

A interconexão desses três elementos faz com que se compreenda as bases do processo de
criatividade no decorrer de uma vida, inclusive todos os afetos envolvidos.

Domínio
(Ação)
Relação com
o trabalho
em si

Criatividade

Ambiente Indivíduo
(Meio) (Talento
Relação com inato)
outras Espaço
pessoas intropessoal

Dessa forma, o triângulo da formação engloba aspectos individuais (herança genética, temperamento,
constituição básica); aspectos do ambiente (influência de pais, professores e demais pessoas que julgam
ou emitem opiniões sobre o comportamento do indivíduo); e o domínio (o estágio de desenvolvimento
de uma dada disciplina em uma determinada época). O mesmo triângulo já havia sido utilizado por
Gardner para explicar o conceito de Inteligências Múltiplas.

Alguns achados na formação do indivíduo criativo


De acordo com Gardner, todos os mestres criativos estudados mostraram dons formidáveis na
infância, havendo especial destaque para o nível de habilidade do jovem Picasso. Um desenhista
talentoso na primeira década de sua vida, ele estava no final da adolescência pintando com tanta sutileza
quanto qualquer outro artista de sua época – e lançando as bases para mais 75 anos de produtividade.
Picasso oferece a oportunidade de considerar as contribuições da prodigiosidade para as primeiras
realizações deslumbrantes e sua transmutação em uma forma que permite a realização de contribuições
mais duradouras.

Outra característica compartilhada pelos mestres criativos é que vivenciaram diferentes culturas e
contextos, não ficando restritos aos códigos sociais de uma determinada região ou cidade e havendo
inclusive participado de movimentos criativos de seu tempo. O autor cita o exemplo do escritor T.S.
Eliot, que se tornou de certa forma “marginal” em sua própria era, mesclando estilos diversos em sua
obra.

Por último, todos os criadores tinham algum tipo de sistema de suporte significativo. Isso incluiu
apoio afetivo de alguém de quem colhia suporte emocional e cognitivo. Em algumas situações, a mesma
pessoa supria ambas as necessidades, em outras ocasiões, foi necessária mais de uma pessoa para os
diferentes suportes. A relação entre o indivíduo criativo e esse “outro significativo” se compara em
utilidade a outros dois tipos de relacionamento: a relação entre o cuidador e a criança no início da vida,
e a relação entre um jovem e seu ou seus amigos no decorrer do crescimento. Em alguns aspectos, essa
relação passa por algum tipo de embate, em que o mestre tenta introduzir um novo jeito de ver as coisas
e seu amigo-confidente é o zelador da língua e cultura existente. O que se reforça é que a criatividade
passa pela ação de forças sociais e afetivas, que agem no desenvolvimento do indivíduo criativo.

Parte 04 – FACILITAÇÃO EMOCIONAL PARA CRIAR

Será que existe um jeito de pensar que facilita a criatividade? A resposta é sim e esse jeito envolve
determinados humores e suas formas análogas de pensar. Antes de mais nada é preciso deixar de encarar
as emoções como visitas inoportunas que atrapalham nosso pensamento e começar a considerá-las como
componentes-chave para despertar nossa cognição. Uma das mensagens mais importantes para nosso
melhor desempenho em tarefas cognitivas de criação é de que as emoções podem melhorar nosso
raciocínio.

Isso acontece porque nossos humores têm impacto direto sobre o pensamento. Conforme nosso
humor se altera, o mesmo ocorre com o pensamento. Assim, se somos capazes de perceber como
estamos nos sentindo e em seguida conseguirmos alterar esse sentimento, facilitamos o espaço para
pensarmos criativamente. Porque a cada mudança de humor muda também a forma como analisamos a
realidade. E esse é exatamente o “pulo do gato” que favorece o novo chegar. E melhor ainda se
estivermos sob efeito de emoções positivas.

Os humores positivos ajudam nossa mente a “abrir janelas” e pensar em novas possibilidades. Por
exemplo, se estamos de “bom humor” de repente nos vemos elaborando com facilidade um
determinado plano de marketing, já que esse bem-estar fornece segurança psicológica e favorece que
pensemos sobre coisas que “não estão ali”. Quando nos sentimos alegres e confiantes olhamos para fora
da caixa, arriscamos dar uma opinião em uma apresentação coletiva, topamos um passeio diferente,
acreditamos que as coisas “podem dar certo” e diminuímos a percepção de risco.

O contrário acontece com os humores negativos. Eles nos abrem os olhos para tudo que pode dar
errado e nesse sentido podem ser um empecilho a novas ideias. Mas se houver uma leve mudança de
um estado negativo pode-se abrir espaço para a criatividade, especialmente para questões de organização
e ordenamento. E eis que numa tarde um tanto melancólica olhamos para as gavetas e, no meio de uma
motivação momentânea, nos vemos descobrindo uma forma criativa de disposição das peças. Foi nosso
humor que teve uma leve alteração, suficiente para que o “pop up” mental da criação pudesse acontecer.

A pausa também pode ser um facilitador emocional para a criatividade. Muitas vezes simplesmente
pausar e ficar sem “fazer nada” é suficiente para construir as bases para que uma nova ideia possa
surgir. Eis aqui uma prática revelada por muitos criativos: não é só buscando a solução que a
encontramos. Vale a pena se “abastecer de informações” a respeito do que queremos resolver, mas
também deixar um tempo de folga para que a mente intuitiva possa trabalhar subliminarmente e, sem
que possamos antecipar, a solução simplesmente “aparece” no campo mental.

Eis então uma proposta de atividade para promover sua troca de humor e consequente abertura à
criatividade. De acordo com Caruso e Salovey (2007), uma das estratégias mais eficazes para alterar o
humor é simplesmente repetir declarações positivas. O efeito é sutil, mas bastante eficaz.

O ideal é que você leia essas declarações em voz alta ou silenciosamente para si mesmo:
01. Me sinto muito bem hoje. 02. Estou muito feliz. 03. Este é um grande dia.
04. As coisas estão 05. É fácil fazer essa tarefa, eu 06. Estou muito alegre hoje.
melhorando. consigo.

Desejamos uma boa prática das estratégias que estudamos e ótimas criações!
Aula 02 – GRUPOS CRIATIVOS E SOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Introdução

Será que a criatividade é algo que já trazemos de nascença ou pode ser desenvolvida? Embora
existam talentos que já trazemos conosco, todos nós podemos ser criativos porque criatividade diz
respeito a um processo, não a uma determinada forma de perceber a realidade. Nesta aula, vamos
aprender sobre os obstáculos à criatividade e como o diálogo é a porta de entrada para a criação
compartilhada em grupos humanos.

Em seguida, vamos conhecer os elementos que fazem parte do processo criativo, entendendo o papel
da razão e da emoção em nossas inovações e propostas de solução de problemas. Por último, teremos a
sugestão de duas práticas que prometem acelerar os processos criativos.

Parte 02 – OBSTÁCULOS À CRIATIVIDADE E O VALOR DO DIÁLOGO

Todos podemos ser criativos, mas o que separa os grandes autores e artistas dos que não criam é a
crença na própria criatividade. É verdade, no entanto, que existem alguns obstáculos à criatividade,
desde bloqueios simples de atenção até mais complexos. Eis aqui alguns deles:

OBSTÁCULOS DA São aqueles provocados pelo próprio ego, embates do raciocínio. A


PERCEPÇÃO análise crítica, o julgamento e as percepções negativas podem atrofiar o
processo de criação.
OBSTÁCULOS A emoção que mais bloqueia a criatividade é o medo, em suas mais
EMOCIONAIS diversas formas: medo de errar, medo do desconhecido e principalmente
medo da rejeição. Algumas pessoas dizem “tenho medo de falhar” e isso
as paralisa.
OBSTÁCULOS Nesse caso não há apenas a barreira do ego, mas sim dificuldades de
INTELECTUAIS construção do raciocínio. Um exemplo é algum tipo de bloqueio da
linguagem e conotações específicas. Por isso é tão difícil criar um texto
em uma língua que não dominamos.
OBSTÁCULOS Muitas vezes ficamos presos à nossa própria cultura. Barreiras culturais
CULTURAIS podem impedir o acesso a novas possibilidades de ação e de pensamento.
OBSTÁCULOS Restrições de acesso, ação ou presença de outras pessoas e dificuldades
AMBIENTAIS tecnológicas são exemplos de barreiras à criação que independem da ação
do criativo.
Muitos dos obstáculos são atitudes de autodefesa em que o indivíduo procura evitar sentimentos
ansiosos e interrompe a criação. Às vezes, a remoção ou o afastamento dos obstáculos requer
criatividade.

Mas como podemos então gerar novas ideias? De onde elas vêm? Um bom lugar para se começar é
nossa memória. Por isso, quanto mais experientes somos também maior é nosso arquivo de base criativa
(SEAWARD, 2009). As ideias podem vir de diferentes recursos: livros, filmes, conversas com os
amigos, posts de redes sociais e até mesmo aquele episódio preferido da Netflix. Para sermos criativos
é necessária uma postura de abertura à experiência, um certo espírito explorador, em que deixamos de
lado a censura mental e nos tornamos curiosos à novidade.

E os grupos humanos, podem cocriar juntos?

William Isaacs, pesquisador há mais de 30 anos de grupos humanos entende que é possível promover
a arte de pensar juntos, a partir do diálogo. Segundo ele, problemas entre gerentes e funcionários,
cidadãos e autoridades eleitas e nação e nação muitas vezes derivam de incapacidade de conduzir um
diálogo bem-sucedido. O diálogo envolve aprender a abandonar as reações iniciais diante da posição de
outras pessoas e tomar consciência de um fluxo de novas possibilidades (ISAACS, 1999).

Alguns empecilhos para o bom diálogo são o excesso de preparação – chegamos prontos para falar,
não para ouvir – e o pensamento rígido a respeito dos temas a serem tratados. Pessoas que pensam e
conversam com eficácia, favorecendo o processo criativo de um grupo, possuem as seguintes
qualidades:

ESCUTA Devemos ouvir não apenas os outros, mas a nós mesmos, abandonando nossas
suposições, resistências e reações.
RESPEITO Devemos permitir ideias diferentes das nossas serem expressas, ao invés de
tentar mudar as pessoas com um ponto de vista diferente.
OBSERVAÇÃO Devemos suspender nossas opiniões, recuar, mudar de direção e ver com novos
olhos.
AUTONOMIA Devemos falar nossa própria voz, sem termos agendas predeterminadas com
alguém ou alguma instituição.
Encontrar a própria autoridade é também desistir da necessidade de dominar.
Parte 03 – A CONCRETUDE DA CRIATIVIDADE

Há um certo consenso de que os indivíduos criativos, sejam eles artistas, líderes ou cientistas, têm
em comum uma ampla capacidade de observação, uma motivação e energia ímpar e às vezes uma forma
particular de viver e tomar decisões. Entende-se que seu pensamento é mais livre e menos dependente
da lógica, mais inclinado ao sonho e à fantasia.

Contrapondo em parte essa visão, o sociólogo Domenico De Masi (2003) desenhou um modelo para
explicar grupos criativos que equilibram razão e emoção, fantasia e realidade.
De acordo com o autor, existem quatro forças entre as quais a criatividade atua:

a) o pensamento primário, b) o pensamento secundário, c) a esfera emotiva e d) a esfera racional.

O pensamento primário tem a ver com o funcionamento inconsciente da psique, em que prevalece o
sonho e algumas psicoses. Já o pensamento secundário diz respeito ao funcionamento da mente desperta
e serve-se da lógica comum. A esfera emotiva é composta de emoções, sentimentos e atitudes e a esfera
racional de conhecimentos e habilidades.

Das intersecções entre esses quatro fatores surgem as condições para a criatividade acontecer,
conforme apresentado na Figura 1.
Da intersecção entre a esfera emotiva e o pensamento secundário surge a (1) área das emoções
administradas. Um exemplo dessa primeira intersecção são os diálogos em torno de nossos sentimentos
ou a dramatização em forma de arte.
Da união entre a racionalidade e a mente consciente surge a (2) área da concretude, em que as
soluções e inovações tornam-se materiais e reais.
Na intersecção entre emotividade e a mente inconsciente está a (3) área da fantasia, em que os
primeiros movimentos involuntários do processo criativo podem surgir e entre a esfera racional, e no
pensamento primário está a (4) área das técnicas introjetadas, como aqueles sonhos que não servem para
o campo da realidade.

Assim, entende-se que a criatividade não se caracteriza apenas pela imaginação e fantasia, mas
também pelo movimento para sua realização (concretude), ainda que na síntese do entroncamento entre
fantasia e concretude, entre emoções administradas e técnicas introjetadas instala-se a criatividade,
conforme resumido na figura a seguir.
01. Área
das
02. Área da
emoções
concretude
administra
das

04. Área
03. Área da
das técnicas
fantasia
introjetadas

Figura 1 | Processo criativo para De Masi (2003). Fonte: De Masi (2003, p. 571).

Por último, vale reforçar que o movimento da inspiração e realização não é necessariamente linear.
Espera-se que toda grande criação parta de um arroubo de intuição fantasiosa para depois se planificar.
Nem sempre esse é o caso, também o inverso pode acontecer. Um exemplo de obra que partiu da
concretude para a fantasia é do auditório de Oscar Niemeyer na cidade de Ravello, na Itália. Conforme
resgata De Masi (2003), segundo o arquiteto, na proposta de projeto já se sabia que a inclinação do
terreno era irregular e estreita. Percebendo a dificuldade da obra e o custo de aplainar o espaço, o artista
aproveitou a inclinação para definir a localização da plateia, fazendo com que essa característica servisse
de ponto de partida para o desenho do restante do projeto.

Parte 04 – O ENCONTRO COM O ARTISTA

A arte é uma atividade do cérebro artista e sua linguagem é a imagem e o símbolo. Por isso a
linguagem do artista é sensual, alimentada pela experiência e os cinco sentidos. Para Seaward (2009),
as atividades criativas envolvem uma combinação das funções dos hemisférios direito e esquerdo do
cérebro humano. Maslow (1987) concluiu que o processo criativo e o caminho para a autorrealização
eram o mesmo. Antecedendo o pensamento de De Masi, ele dividiu o processo criativo em duas partes:
primária e secundária. A criatividade primária é a origem das ideias: uma espécie de playground da
mente em que as imagens são geradas, ainda incipientes e não necessariamente úteis. Já a criatividade
secundária é o momento do processo criativo em que é traçado um plano estratégico para que a ideia
selecionada funcione na realidade, quando ela é posta em ação.

Considerado pelo diretor Martin Scorsese como uma ferramenta valiosa para se conectar com a
própria criatividade, o livro O Caminho do Artista, de Julia Cameron, propõe uma jornada de atividades
para recuperação de nosso eu criativo. Na base de todas as reflexões, Cameron (2019) propõe duas
ferramentas para o despertar criativo: as páginas matinais e o encontro com o artista.

As páginas matinais são três páginas escritas à mão com livre associação. Simplesmente isso, sem
um plano prévio e sem necessidade de editar o texto. A intenção é liberar as preocupações cotidianas ou
as histórias que passam em nossa cabeça, de forma que sobre o espaço para a criatividade acontecer. As
páginas permitem que nos afastemos de nossos censores ou críticos internos e vão aos poucos permitindo
que nos livremos de medos, dúvidas, negatividade e outros humores que impeçam nossa ação criativa.

Todas essas coisas que lhe provocam raiva, irritação e implicância, escritas pela manhã, são um
obstáculo entre você e sua criatividade. Preocupações com o emprego, a lavanderia, o barulho esquisito
que o carro está fazendo, o olhar diferente do seu namorado – isso tudo fica se revolvendo em seu
subconsciente e enlameando seus dias. Deixe tudo no papel. (CAMERON, 2019, p. 35)

A ferramenta de encontro com o artista é um tempo, talvez duas horas por semana, reservado para
alimentar a consciência criativa e o artista interior. É uma hora “para brincar”, só que planejada com
antecedência. No momento do encontro é importante não ser interrompido.

Alguns exemplos de atividades de encontro com o artista são: uma visita a uma loja de artigos de
segunda mão, um passeio na praia, assistir a um filme antigo, um passeio no parque. São coisas que
custam tempo, e não dinheiro. Conforme aponta Cameron (2019, p. 44): “passar um tempo a sós com
sua criança artista é essencial para nutri-la”.

Achou isso tudo interessante? Então agora é sua vez: separe um caderno específico para a sua prática
criativa e nele passe a produzir suas páginas matinais. Também uma vez ao menos por semana, por pelo
menos uma hora, garanta seu encontro com o artista, consigo mesmo.

Bons estudos e boa prática criativa!

Parte 05 – SAIBA MAIS

Assista a este TED, com Marily Oppezzo: OPPEZZO, M. Quer ser mais criativo? Faça uma
caminhada. "TEDxStanford", 2017.
AULA 03 – HEURÍSTICAS E VIESES

Introdução

O conceito de Homo Economicus foi introduzido por John Stuart Mill no século XIX. Ele se baseia
no pressuposto de racionalidade perfeita do indivíduo, isto é, assume que somos capazes de decidir
sobre questões complexas de forma ótima. Para isso, parte-se do princípio de que seremos sempre
capazes de analisar e julgar todos os caminhos ou opções possíveis e escolher o curso de ação que trará
o melhor resultado.

Embora hoje saibamos que esse indivíduo não existe, isso não quer dizer que estudar a forma como
realizamos julgamentos e tomamos decisões não seja importante. Segundo Herbert Simon, Nobel de
Economia em 1978, compreender os processos de decisão e estudar se os mesmos processos levam a
boas decisões, estão entre os tópicos de pesquisa mais relevantes na área de gestão.

Das formas de pensar aos processos de tomada de decisão, serão objetos de estudo nesta aula.

Desejamos uma excelente imersão na temática heurísticas e vieses.

Parte 02 – OS PROCESSOS DE TOMADA DE DECISÃO

Métodos racionais de tomada de decisão

Para muitos de nós, existe a percepção – e podemos dizer que, às vezes, a esperança – de que o
processo de tomada de decisão eficaz possa ter como base uma escolha racional, que envolve
identificação, escolha e aplicação da melhor alternativa possível. Os métodos racionais são estruturados
geralmente no seguinte conjunto de etapas, conforme Figura 1:

Identificar um problema ou Por vezes, agimos sem ter um entendimento completo do problema,
uma oportunidade de o que nos leva a resolvê-lo de maneira errada.
maneira clara:
Definir o método a ser Identificação e priorização de todos os objetivos por meio de
utilizado: critérios de avaliação para selecionar a melhor opção considerando
todos os aspectos envolvidos.
Desenvolver possíveis É recomendado envolver as equipes na tarefa de atribuir peso
escolhas ponderadas pela relativo a cada problema para classificá-lo e priorizá-lo.
utilização dos critérios:
Identificar a solução Realizadas as primeiras etapas, esta resultaria teoricamente do
otimizante: julgamento natural fundamentado nas anteriores, facilitando o
consenso. Recomenda-se fazer previsões sobre eventos futuros,
tentando avaliar as consequências potenciais das escolhas.
Implementar a solução Deve-se avaliar, sempre que possível, tanto a aderência aos planos
selecionada: quanto aos resultados obtidos em relação aos esperados, propondo
ajustes quando necessário.
Avaliar a escolha É recomendado que haja um aprendizado sobre todo o processo,
selecionada: incluindo fatores não previstos durante a implantação e diferenças
de resultados entre planejado e realizado, buscando-se aprimorar
métodos e critérios para processos futuros.

01.
Identificar o
problema ou
oportunidade
02. Escolher o
06. Avaliar a
melhor
escolha
processo
selecionada
decisório
O processo de
toomada de
decisão com
escolha
racional
03. Descobrir
05.
ou
Experimentar
desenvolver
a escolha
escolhas
selecionada
possiveis
04. Selecionar
a escolha com
maior valor

Figura 1 | Estrutura de métodos racionais de tomada de decisão. Fonte: adaptada de McShane e


Von Glinow (2014).

McShane e Von Glinow (2014) explicam que um dos problemas com essa abordagem é que, na
verdade, as pessoas não conseguem adotar métodos racionais por terem dificuldades (ou, às vezes, falta
de vontade) de reconhecer problemas, falta de capacidade para processarem simultaneamente
informações associadas a problemas complexos e dificuldade para reconhecerem seus limites ou
situações em que suas decisões e premissas anteriores fracassaram.

Métodos naturalistas

Os métodos naturalistas são, às vezes, a melhor opção recomendada, dada a impossibilidade


de utilização de métodos racionais em função de fatores como:
01 Problemas não estruturados que dificultam abordagens racionais.
02 Presença de incertezas em ambientes dinâmicos, com ciclos que realimentam o modelo a
partir das primeiras escolhas realizadas.
03 Objetivos mal definidos e mutáveis.
04 Pressão do tempo para tomada de decisão.
05 Múltiplos participantes com conflitos de interesse e dificuldade de chegar a um consenso.
06 O fato de que esses modelos não consideram de forma adequada as consequências graves
para o decisor, que talvez esteja inclinado a posturas mais conservadoras ou menos arriscadas
em relação às indicadas pelos processos racionais.

A estrutura dos métodos naturalistas é apresentada na Figura 2. Determinada situação ou problema


gera estímulos que permitem o reconhecimento de padrões adotados em situações ou casos semelhantes
que já vivenciamos. Esses padrões determinam a escolha de roteiros para ação. A resposta pode ser mais
rápida ou intuitiva ou ainda passar por ciclos de refinamento com base nos padrões mentais que
utilizamos para análise e tomada de decisão.

Figura 2 | Estrutura de métodos naturalistas de tomada de decisão. Fonte: adaptada de Yu et al.


(2011).
Parte 03 – COMPREENDENDO MELHOR OS SISTEMAS 1 E 2

Faz sentido afirmarmos que uma decisão pode ser considerada “racional” se ela produz um
resultado ótimo? Como definirmos “resultado ótimo”? Como o “comportamento” influencia a
obtenção desse resultado?

Essas eram questões que Herbert Simon, Nobel de Economia em 1978, fazia sobre o processo de
tomada de decisão. Segundo suas conclusões, era necessário reconhecer as fronteiras da racionalidade
e reconhecer que havia limitações da capacidade de análise e solução de problemas vinculadas à
capacidade de acesso à memória de longo prazo e ao aprendizado individual e coletivo.

As decisões eram influenciadas por sistemas de análise “laterais” que colocam limites na
abordagem do que se pode considerar um resultado ótimo. Essa é a origem do Sistema 1 (rápido e
intuitivo) e Sistema 2 (devagar e racional) de tomada de decisão. A evidência primária por trás dessa
dicotomia veio a partir do aprofundamento dos estudos do cérebro. Nossos dois hemisférios cerebrais
exibem uma divisão de trabalho: em pessoas destras, o hemisfério direito desempenha um papel
especial no reconhecimento de padrões visuais e o hemisfério esquerdo nos processos analíticos e no
uso da linguagem, que é fundamental para processos racionais de tomada de decisão.

Daniel Kahneman (2012), matemático e psicólogo também ganhador do Prêmio Nobel em


Economia em 2002, nos apresenta com mais detalhes esses dois personagens que animam a mente:

SISTEMA 1 Opera de forma automática e rápida, com pouco ou Ágil, Intuitivo, Automático,
nenhum esforço e nenhuma sensação de controle Emocional, Experiencia
voluntário.
SISTEMA 2 Atribui atenção às atividades mentais que a exigem, Lento, Lógico, Intencional,
incluindo cálculos complexos. Racional, Analítico
O As operações do Sistema 2 são frequentemente
associadas à filtros subjetivos.

Para Kahneman (2012), essas são as principais características do Sistema 1:


01 Gera impressões, sentimentos e inclinações; quando endossados pelo Sistema 2, tornam-se
crenças, atitudes e intenções.
02 Opera automaticamente e rapidamente, com pouco ou nenhum esforço e nenhuma sensação
de controle voluntário.
03 Cria um padrão coerente de ideias ativadas na memória associativa.
04 Liga uma sensação de facilidade cognitiva a ilusões da verdade, sentimentos agradáveis e
vigilância reduzida.
05 Infere e inventa causas e intenções.
06 Negligencia a ambiguidade e suprime a dúvida.
07 É tendencioso para acreditar e confirmar.
08 Concentra-se nas evidências existentes e ignora as evidências ausentes.
09 Gera um conjunto limitado de avaliações básicas.
10 Responde mais fortemente às perdas do que aos ganhos

Simon (1987) destaca a importância desse sistema de tomada de decisão a partir de seu estudo com
grandes mestres enxadristas, que resolvem problemas "criativamente" – de novas maneiras
interessantes ou socialmente valiosas – com base na experiência que acumularam em seu campo ao
longo dos anos e fazendo apostas calculadas com base em conhecimento superior.

Já o Sistema 2 é sujeito a heurísticas e vieses, que são atalhos de pensamento que adotamos frente a
análises de situações por demasiado complexas, em função de nossa racionalidade limitada.

Parte 04 – HEURÍSTICAS E VIESES – QUANDO OS SISTEMAS 1 E 2 SE ENCONTRAM

Em questões realmente complexas, o Sistema 2 não é suficiente para nos ajudar a concluir por quais
caminhos seguiremos em um determinado processo de julgamento e tomada de decisão. Ou seja, os
modelos racionais utilizados não são suficientes por si só: eles são no mais das vezes utilizados como
instrumentos de apoio e análise para a tomada da decisão em paralelo com o julgamento subjetivo do
Sistema 1, estando sujeitos ao que chamamos de heurísticas, vieses e falácias, que podem ser definidos
como atalhos de pensamento que tomamos ao fazermos julgamentos e que possuem impacto na
qualidade das decisões.

Destacamos aqui, como exemplo, alguns desses atalhos:


RACIOCÍNIO POR Julgar uma situação com base em evento anterior similar prevendo que os
ANALOGIA resultados serão os mesmos como consequência do mesmo conjunto de
ações.

ANOTAÇÕES: É você entender que uma vez que tenha dado certo em
um evento anterior, é que vai dar certo de novo.
Exemplo: Na primeira vez um gato caça um pardal e obtém êxito, já na
segunda caçada por ter pego um pardal ele acha que poderá pegar um
pássaro maior (gavião). Por analogia esse bicho voa e eu sei pegar um
bicho que voa, então terei êxito novamente, porém a analogia não ajuda
em nada, pois dependera da situação, do momento, das características
indicadoras que se apresentam e assim conseguir ter uma decisão melhor.
ÂNCORA E AJUSTE Somos influenciados por um ponto de âncora inicial e não nos afastamos
suficientemente dele à medida que novas informações são fornecidas.
Exemplo: São as empresas, preocupadas em impedir a entrada de novos
concorrentes a seu modelo de negócio atual, deixando de considerar o
impacto das inovações.

Anotações: âncora inicial em que a gente se baseia em uma forma de


pensar e não importa o que pode ser mudado, sempre voltarei para a
mesma âncora
Exemplo: Não importa quantas vezes enxergamos uma caixa de papelão
inferior à uma cama para gatos, o seu gato sempre irá enxergar o papelão
de outra forma e se sentindo mais “confortável” e/ou gostando mais.
FALÁCIA DA Estimar a facilidade de que algum evento de impacto ocorra com base na
ELIMINAÇÃO POR facilidade de lembrar-se de eventos de natureza semelhante.
ASPECTOS Temos mais facilidade em dar crédito e aumentar a probabilidade de
ocorrência de eventos associados a fortes emoções ou eventos mais
recentes.

Anotações: Eliminação por alto especifico


Exemplo: Selecionar somente gatos de raça, com pelagem preta e olhos
verdes, sendo assim você acaba de eliminar todos os outros tipos de gatos
HEURÍSTICA DE Escolhemos as melhores opções dentro de limites de tempo, orçamento,
DISPONIBILIDADE facilidade de acesso, etc., sem necessariamente observarmos todas as
alternativas.
Exemplo: Uma empresa que busca determinada solução tecnológica
solicita cotações e continua o processo de seleção até avaliar ter
encontrado uma solução satisfatória; no entanto, isso não significa que
tenha optado pela solução ótima.

Anotações: É o que está mais acessível a minha memória, o que eu posso


buscar mais facilmente e está mais disponível. Estimar a facilidade de um
evento, a partir da facilidade com que ele ocorra, colocando ele como
primeira oportunidade ou primeiro acesso.
Exemplo:
FALÁCIA DA Exemplo: Há uma quantidade muito grande de candidatos a uma vaga de
SATISFAÇÃO emprego, pela facilidade, eliminamos a maior parte dos candidatos pelos
critérios de proximidade da empresa e pretensão salarial para verificarmos
menos currículos, que já é uma análise mais trabalhosa.
Fazendo assim, corremos o risco de deixar de lado os candidatos
potenciais.

Anotações: Não buscarei o mais legal, o mais interessante ou em melhores


condições, vou buscar aquilo que me torna satisfeito minimamente, sendo
assim, acabamos ficando com o possível

Daniel Kahneman et al. (2021), em seu mais recente livro, exploram outros atalhos comuns no meio
corporativo:

ANOTAÇÃO: Decidimos com emoção e justificamos nossas decisões com lógica

O sistema 01 gera impressões, sentimentos e inclinações que quando endossados pelo sistema 02,
tornam-se crenças e eventualmente, novas heurísticas e vieses inconscientes.

ILUSÃO DE Construímos narrativas para ajudar na compreensão e dar sentido ao


COMPREENSÃO: mundo. Procuramos causalidade onde não existe.
ILUSÃO DE Analistas e especialistas tendem a sobrevalorizar suas capacidades de
VALIDADE: análise e tomada de decisão.
ILUSÃO DE Algoritmos, mesmo os aparentemente primitivos, aplicados com
VALIDADE: disciplina muitas vezes superam os especialistas.
FALÁCIA DE Essa falácia aflige muitas profissões e se origina de planos e previsões que
PLANEJAMENTO: estão irrealisticamente próximos do melhor caso e não levam em
consideração os resultados reais de projetos semelhantes.
OTIMISMO E A A maioria das pessoas é excessivamente confiante, tende a negligenciar
ILUSÃO os concorrentes e acredita que eles terão um desempenho melhor do que
EMPREENDEDORA: a média.
Para Daniel Kahneman et al. (2021), nos casos de decisões complexas em organizações, é essencial
que se desenvolvam formas estruturadas de análise da qualidade das decisões tomadas, as quais sejam
conduzidas por times de pessoas que trabalhem de forma independente e sem conflito de interesse com
as decisões tomadas e seus resultados e, preferencialmente, apoiadas por métricas quantitativas da
qualidade ou dos riscos associados às decisões.

Parte 05 - Videoaula: HEURÍSTICAS E VIESES

Em nosso vídeo resumo, vamos explorar os processos de julgamento e tomada de decisão, incluindo
as principais características do Sistema 1 ou Intuitivo e do Sistema 2 ou Racional de tomada de decisão,
bem como as principais heurísticas, vieses e falácias as quais incorremos quando estamos apoiados no
Sistema 2, mas sob a influência permanente do Sistema 1.
Aula 04 - APRENDENDO A APRENDER

Introdução

Será que existe um jeito certo de aprender? Nesta aula vamos conhecer o Ciclo de Kolb, que nos
aponta as diferentes formas como razão e emoção se envolvem na absorção de conhecimentos e como
lidamos com o conhecimento adquirido, se observando ou se agindo.

Em seguida, falaremos sobre as diferentes formas de aprender, a partir da Pirâmide de Aprendizagem,


considerando as metodologias ativas de aprendizagem. Por último, falaremos de algumas qualidades
para se aprender melhor.

A intenção é que ao final da aula você possa praticar métodos ativos de aprendizagem e sinta-se
conectado com os conteúdos desta aula e de outros em que esteja envolvido.

Parte 02 – UM CAFÉ NO CICLO DE KOLB

A teoria do estilo de aprendizagem experiencial de Kolb foi criada nos anos 1980 e revolucionou a
forma como pedagogos e professores do mundo todo elaboram seus planos de ensino. Ela é representada
por um ciclo de aprendizagem de quatro estágios. Para que a aprendizagem seja facilitada, a ideia é que
o aluno possa acessar o conhecimento em cada uma das bases.

Os estilos de aprendizagem de Kolb são:


EXPERIÊNCIA Uma nova experiência ou situação é encontrada, ou uma
CONCRETA reinterpretação da experiência existente.
OBSERVAÇÃO Permite fazer a compreensão da experiência e verificar possíveis
REFLEXIVA DA NOVA inconsistências.
EXPERIÊNCIA
CONCEITUALIZAÇÃO Reflexão sobre o que foi aprendido, que dá origem a uma nova ideia
ABSTRATA ou modificação de um conceito abstrato existente.
EXPERIMENTAÇÃO O aluno aplica suas ideias no mundo ao seu redor para ver o que
ATIVA acontece.
A aprendizagem efetiva acontece quando a pessoa progride pelo ciclo de quatro estágios: (1) há uma
experiência concreta seguida por (2) observação e reflexão sobre essa experiência, que leva à (3)
formação de conceitos abstratos (análise) e generalizações (conclusões) que são então (4) usados para
testar uma hipótese em situações futuras, resultando em novas experiências.

Se em uma situação hipotética fôssemos ensinar alguém a fazer um café percorrendo todo o ciclo de
Kolb, poderíamos: (1) começar com uma sessão de degustação de diferentes cafés, (2) refletir sobre
como absorvemos a experiência e qual café nos agradou mais, podendo inclusive escrever a respeito e
depois (3) compreender os processos de maturação dos grãos, formas de processamento e técnicas de
produção para (4) testar possibilidades alternando técnicas de moagem inovadoras, que não havíamos
experimentado antes.

Mas o que pode influenciar o nosso estilo de aprendizagem?

Vários fatores influenciam o estilo de aprendizado de cada pessoa: o ambiente em que ela cresce,
suas experiências no campo educacional e mais especificamente, conforme a teoria de Kolb, sua forma
individual de pensar.

Existem dois pares de variáveis que influenciam nossa forma de aprender, duas dimensões com pares
opostos: o par pensar/sentir e o par observar/agir. Quando estamos experimentando determinada
atividade (experiência concreta) estamos pensando a respeito e quando paramos para compreender o
que essa experiência causou em nós (conceitualização abstrata), estamos no campo das emoções e dos
sentimentos.

Da mesma forma, quando nos afastamos da experiência, podemos observá-la e quando já


conceitualizamos o que vivemos, podemos nos preparar para a ação. São movimentos de um pêndulo e
em todas as atividades da vida trabalhamos nesses dois continuums: um da percepção (pensar ou
sentir/experiência concreta ou abstrata) e outro do processamento da tarefa (observar ou agir/refletir ou
atuar).
• Experienci • Observação
a Concreta Reflexiva

OBSERV
PENSAR
AR

SENTIR ATUAR

• Experiment • Conceituali
a Ação zação
Ativa Abstrata
Figura 1 | Ciclo de Kolb. Fonte: elaborada pela autora.

Conhecer o próprio estilo de aprendizagem permite que possamos selecionar diferentes métodos de
ensino. Se, por exemplo, somos mais sensíveis do que racionais, temos a tendência de nos afastarmos
da experiência para melhor compreendê-la. Nesse caso, atividades coletivas podem não ser as preferidas.
Já se somos mais concretos, gostamos de atuar nas atividades, não tanto de refletir a respeito delas.

Dito isso, todos respondem e precisam do estímulo de todos os tipos de estilos de aprendizagem de
uma forma ou de outra.

Parte 03 – O MELHOR JEITO DE APRENDER

Da base do sistema de liderança das empresas até o nível de desenvolvimento gerencial, as


organizações investem todos os anos milhões de reais em capacitação in company ou vinculada a
instituições de ensino superior, com o objetivo de preparar sua força de trabalho para os diversos
desafios do mercado. Assim, seja qual for a área de trabalho em que se atua, há uma necessidade de
contínuo aprendizado, conhecido como “forever learning”.

Nos últimos anos, o grande desafio tem sido capturar a atenção das pessoas, uma vez que o uso de
imagem e vídeos em alta escala transformou a figura do professor em um facilitador de diferentes
conhecimentos, encriptados em diversas “mídias”. Se antes o único meio de ensino era da fala de um
professor para um aluno, atualmente as metodologias ativas de aprendizagem provocam o aluno para
um maior envolvimento em seu processo de aprendizagem.

Existe uma nova geração de alunos que é nativa digital, ou seja, foi apresentada a telas e à ampla
opção de formas de entretenimento desde seus primeiros anos de vida. Nesse sentido, embora continue
sendo um mediador da informação para torná-la conhecimento, o professor precisa incentivar o aluno a
uma participação ativa, ainda que seja sob a forma de reflexão em torno dos temas abordados, ou até, se
possível, incentivando-o a produzir e disseminar em classe o conteúdo abordado e, portanto, ensinar.

Idealizada pelo psiquiatra americano William Glasser (1998), a pirâmide de aprendizagem dá ampla
ênfase às formas de aprendizagem ativa (ver Figura 2), que dizem respeito a: discutir o que foi estudado
(conversar, perguntar, repetir, recordar, debater, nomear), praticar (escrever, interpretar, traduzir,
comunicar, catalogar) e ensinar (explicar, resumir, estruturar, ilustrar). Essas três formas ativas de
aprendizagem envolvem a percepção subjetiva do aluno, ou seja, convidam às emoções, tanto pelo
entusiasmo que geram como pela interpretação que suscitam.
Figura 2 | Pirâmide de aprendizagem de William Glasser. Fonte: adaptada de Franco, Trennenphol e Oliveira (2021).

O efeito Netflix na tomada de decisão

Você já ficou perdido na busca pelo filme ou série ideal para assistir? Já chegou ao ponto de esgotar
as opções disponíveis de entretenimento? Na Netflix existe a opção “me surpreenda”, disponível para
aqueles expectadores realmente indecisos, que procura “zerar” o perfil existente e trazer novas
possibilidades. Mas ainda assim há aqueles que desligam a tela depois de muito tempo “zapeando”,
havendo desistido de escolher. Em seu discurso de formatura em Harvard, o orador Pete Davis (2018)
chamou esse fenômeno de dificuldade de tomar decisões e se comprometer com uma única alternativa
de “mantenha minhas opções em aberto” e disse que é o típico estado mental que caracteriza toda uma
nova geração de trabalhadores.

A dificuldade de tomar decisões afeta diretamente na capacidade de aprender. Isso porque seja qual
for o tema que desperte nosso interesse, é preciso comprometimento com o que estamos lendo, ouvindo
ou escrevendo de forma a produzir aquele sentimento de “a-há” que caracteriza a produção de sentido
e, por consequência, a aprendizagem. É preciso também paciência para passar por trechos não tão
interessantes, não tão envolventes, para que em algum momento o conteúdo possa ser todo absorvido
por nossos canais cognitivos.

Parte 04 – COMO APRENDER MELHOR

Com a mudança nos modelos de carreira, já a partir dos anos 1990, tornou-se crucial que tenhamos
compromisso com nossa aprendizagem, buscando cursos e qualificações que possam fornecer novas
competências ou aperfeiçoamento das habilidades que já possuímos.

Mas o que pode facilitar nosso processo de aprendizagem? Como podemos aprender melhor?
Algumas variáveis importantes para considerarmos são o tipo de curso certo, o currículo dos
professores, a solidez da instituição de ensino, a abordagem metodológica. Mas talvez a variável mais
importante não seja o curso em si e sim a postura de quem busca, ou seja, a qualidade do aluno. Diretor
de Recursos Humanos de uma instituição financeira, Kehoe (2018) estudou o comportamento de alunos
de cursos on-line.

Quatro hábitos que contribuem para aprendermos novas habilidades:


CONCENTRE-SE EM No lugar de se inscrever no curso mais famoso e badalado, é
HABILIDADES EMERGENTES preciso ficar atento àqueles requisitos de trabalho que estão
evoluindo rapidamente.

Nos anos da pandemia, por exemplo, as habilidades ligadas à produção e edição de vídeo passaram
a ser extremamente valorizadas, não apenas por profissionais liberais, mas também por organizações
que precisaram gravar suas reuniões e treinamentos e disponibilizar em rede.

A dica de Kehoe é ficar atento a ofertas de emprego recentes e mapear que tipo de qualificação está
surgindo ou conversar com líderes e perguntar que tipo de habilidade eles consideram importante para
tornar um candidato viável.

CONECTE-SE COM Vivemos uma época de amplo crescimento da aprendizagem on-line.


SEU CURSO A vantagem de assistir às aulas quando e onde for conveniente, com um
custo reduzido, torna essa opção muito atraente.
O problema é que as experiências assíncronas costumam ser solitárias,
causando perda de motivação e queda na aprendizagem.
Nesse sentido, prefira formações que permitem algum momento de troca
síncrona.
Caso isso não seja possível, defina atividades de rotina para repassar os
conteúdos ou estudar com olhar renovado o que foi abordado.
IMPLEMENTE O Aplicar os conhecimentos aprendidos de forma imediata permite
APRENDIZADO completar o ciclo de aprendizagem, facilitando a memória e melhorando
IMEDIATAMENTE a absorção dos conhecimentos.
O contrário também ocorre: se deixamos por muito tempo um conteúdo
sem uso, é altamente provável que venhamos a esquecê-lo.
DEFINA OBJETIVOS Para manter o foco na aprendizagem, é necessário te objetivos de médio e
CLAROS longo prazo – um novo emprego, uma promoção na carreira, uma chance
de fazer parte de uma grande equipe. Saber que o que aprendemos pode
contribuir com nossa carreira, melhora nosso envolvimento com o que é
ensinado.

Isso tudo dito, vamos aproveitar para favorecer o aprendizado de nossas aulas. Responda as
seguintes perguntas e reflita sobre sua forma de aprender:
01 A que competências de mercado os temas abordados em nossas aulas atendem?
02 Que assunto abordado merece um segundo olhar em seus estudos pós-aulas?
03 Como é possível aplicar os conhecimentos adquiridos em sua rotina?
04 A que objetivos de médio prazo ou de carreira essa disciplina corresponde?

Parte 05 – Videoaula: APRENDENDO A APRENDER

Em nossa aula falamos sobre o ciclo de Kolb e como nossa razão e emoção atuam enquanto
absorvemos novos conhecimentos e praticamos novas habilidades. Em seguida, vamos falar sobre as
melhores formas de aprender, conhecendo atividades que fazem parte de metodologias ativas de
aprendizagem. Por último, vamos compreender como o aluno pode ser parte do processo, envolvendo-
se com o que é ensinado e aplicando seus novos saberes em sua carreira.
MODULO 03: COMUNICAÇÃO E PROTAGONISMO DE VIDA

Aula 01 - DO VERBAL PARA O NÃO VERBAL

Introdução

Já dizia Peter Drucker que comunicar-se é entender o que não está sendo dito. Neste módulo,
aprenderemos sobre indicadores comportamentais ou não verbais, que nos permitem fazer a leitura das
pessoas com quem interagimos. Falaremos também da necessidade de legenda emocional em nossos
diálogos, de forma a tornar a comunicação mais efetiva, e que tipo de mensagem é enviada quando
estamos sob efeito de emoções como medo, ansiedade, tristeza e frustração.

Ao final da aula, a intenção é de que se possa praticar a observação dos indicadores não verbais em
nossos relacionamentos, ampliando nossa percepção emocional e consciência do tipo de mensagem que
estamos emitindo.

Parte 02 – O QUE OBSERVAR NAS RELAÇÕES

Em 2009 eu iniciava processos de coaching de inteligência emocional com executivos de alta


performance em organizações brasileiras. Naquela época, utilizava o teste MSCEIT (Mayer-Salovey-
Caruso Emotional Intelligence Test) para mensurar o quociente emocional (QE) e, com base no
diagnóstico, propunha ações de desenvolvimento.

Esse executivo em questão – vamos chamá-lo de João – tinha baixíssima percepção emocional no
seu score de QE. Isso quer dizer que ele tinha dificuldade de ler emoções, tanto em si mesmo como em
outras pessoas. Iniciante que eu era, dei a ele a tarefa de observar pessoas em um café e tentar perceber
seus estados emocionais. Com cuidado e distanciamento, tão somente para “testar” sua habilidade de
leitura emocional. O resultado foi catastrófico: na semana seguinte ele me trouxe um relatório contendo
quantas mesas havia no café, que tipo de café era servido, como os garçons se organizavam – tudo que
sua mente analítica e organizada havia captado, menos a leitura emocional.
O que eu ainda não sabia é que justamente a dificuldade de percepção emocional de João lhe impedia
de captar as informações emocionais – essenciais para conseguirmos ler as pessoas. Mas que
informações são essas?

De acordo com Dimitrius (2009), existem categorias de indicadores não verbais: aparência física,
linguagem corporal e voz são os mais prementes, pois já permitem uma leitura emocional, ainda que em
breve interação. Primeiramente, vamos falar brevemente sobre essa tríade e na sequência vamos
aprofundar a leitura não verbal, entrando nos demais indicadores:

APARÊNCIA FÍSICA A forma como uma pessoa se apresenta transmite a informação que
ela quer passar, mas também dados não intencionais.
Exemplo: alguém que esteja muito bem-vestido, mas com as unhas
totalmente ruídas pode indicar uma certa ansiedade ou tema de
preocupação.
Essa é a “primeira impressão” que captamos de uma pessoa e inclui
características físicas, como postura e altura, mas também escolhas
afetivas, como estilo de roupa, uso de maquiagem e acessórios em
geral.
O mais importante vai ser comparar essa impressão com os demais
indicadores emocionais.
LINGUAGEM CORPORAL Esse é o indicador que mais fornece informações emocionais, pois
traz comportamentos que em geral a pessoa não consegue disfarçar:
movimentos leves do corpo, maneirismos, gesticulação de mãos.
Por ele é possível captar o nível de energia de alguém (pessoas mais
motivadas tendem a movimentar-se mais), mas também é possível
captar emoções como medo, honestidade, nervosismo, alegria.
Aqui já é interessante fazer a comparação com a aparência física e
ver se “combinam” ou são incoerentes.
VOZ O mais importante nesse indicador não é tanto o que é dito, mas
como é dito, ou seja: se a voz sai alta ou baixa, aguda ou grave,
entrecortada ou contínua.
O mais importante aqui é a intensidade com que o traço aparece.
Exemplo: um pequeno tremor na voz não necessariamente indica
nervosismo, especialmente se for pontual.
Mais uma vez é interessante comparar – voz, linguagem corporal e
aparência – vendo possíveis incongruências.
Parte 03 – OUTROS INDICADORES E LEGENDA EMOCIONAL DIGITAL

“Comunicação é entender o que não está sendo dito.” - Peter Drucker (apud MOYERS; FLOWERS,
1989, [s. p.])

Havendo captado a aparência física, linguagem do corpo e voz – fundamentais para a leitura emocional
– é possível, com o avanço de tempo da interação, captar outros quatro indicadores não verbais: estilo
de comunicação, conteúdo da comunicação, ação e ambiente. Esses novos indicadores permitem que,
mais do que uma breve percepção de humor, possamos captar crenças pessoais, valores, experiências e
atributos da personalidade de uma pessoa.

Vamos falar um pouco sobre cada um deles:


ESTILO DE Aqui estão contidas diversas técnicas de comunicação, como: deixar de
COMUNICAÇÃO responder, responder breve ou longamente, responder com perguntas,
pausar, interromper, divagar, mudar de assunto, trazer ou tirar atenção de
si mesmo.
Muitas dessas ações são instintivas, outras são manobras conscientes para
dominar a conversa.
CONTEÚDO DA Aquilo que é dito importa para se ler uma pessoa e, especialmente, o que
COMUNICAÇÃO há de “embrulho” no conteúdo, aquele tipo de ênfase que se dá a um
assunto ou outro.
Especialmente, deve-se procurar por elementos como uso de gírias
(aponta base étnica ou cultural), temas repetidos, exageros e até presença
ou não de se falar de outras pessoas (fofoca).
AÇÃO A forma como uma pessoa se comporta com os outros também fornece
informações valiosas sobre seu comportamento, assim como o tipo de
atividade que ela executa.
Por exemplo, pessoas que passam muito tempo em posição de autoridade
e controle como atividade profissional tendem a levar para casa e para as
interações sociais esse tipo de atitude.
Outras possíveis leituras a partir desse indicador: como alguém reage sob
pressão, como a pessoa chega na casa de um estranho, como interage com
crianças, etc.
AMBIENTE Esse indicador fornece o “pano de fundo” em que as interações humanas
acontecem, nos fornecendo contexto.
Por exemplo, no espaço de trabalho é possível observar comportamentos
coletivos e até mesmo subculturas.
Assim é que a área de marketing tende a ser mais descontraída do que a
área financeira.
Nesse sentido, o lugar em que as pessoas interagem interfere diretamente
no tipo de comunicação realizada.

Legendas emocionais no mundo digital

Nas últimas décadas, ampliamos muito a facilidade de comunicação e acesso a outras pessoas. No
início dos anos 2000 lembro-me de uma amiga executiva me confidenciar em um aeroporto, enquanto
aguardávamos um voo: “amiga, recebi mais de 300 mensagens em meu Blackberry hoje”. Lembro de
ter ficado horrorizada. Naquela época o meio principal de comunicação era o e-mail. Hoje, temos
WhatsApp, Direct, Chat pelo Teams e, sim, e-mail. Trabalhamos na redundância também: por exemplo,
enviar um Whats dizendo que envio um e-mail. Se somarmos a essas mensagens rápidas o arsenal de
notificações de aplicativos de redes sociais que recebemos em nosso celular, vemos que ganhamos em
quantidade na troca de informações e perdemos, muito, em qualidade.

Daí que se configura importante sabermos fazer a legenda emocional, a partir do tom da mensagem
e do uso de emojis ou interjeições mais amigáveis.

Alguns exemplos a considerar:


E-MAIL Aqui o principal é como abrimos e como finalizamos a mensagem.
A intenção é ser breve, mas não taquigráfico.
Um cordial “bom dia” e no final “um abraço” (caso nos sintamos à vontade
com o interlocutor) tiram o ar tão formal que o e-mail ainda tem.
MENSAGENS Emojis demais trazem infantilidade ou informalidade para a mensagem e
INSTANTÂNEAS emojis de menos trazem a sensação de uma troca mais rígida e formal.
Áudios merecem ser curtos e poucos, geralmente para pontuar algo muito
específico.
Uso de figurinhas é liberado em trocas com amigos ou familiares, cuidando
para não exagerar no deboche.
Parte 04 – O QUE CADA EMOÇÃO NOS DIZ

Em nossa busca por bem-estar contínuo e evitação de sentimentos negativos, por vezes não
conseguimos ver com clareza a realidade que se apresenta. Nossos estados emocionais de base – medo,
raiva e tristeza – fornecem um determinado “filtro” para nossa leitura de mundo. Essas emoções e seus
estados emocionais decorrentes (como frustração, ansiedade ou culpa) podem dificultar que vejamos
com objetividade nosso próprio comportamento ou de outras pessoas. Assim, tendemos a tomar decisões
baseados em evitar o que é doloroso ou buscar o que é agradável para nós no momento.

No entanto, compreender as razões de base para nossas emoções pode permitir uma tomada de
consciência e uma orientação para nosso comportamento, como já vimos em nossas primeiras aulas.
Assim é que “o coração tem motivos que a razão desconhece”, como dizia Pascal. E nos beneficiamos
muito em conhecer as bases emocionais de nosso comportamento.

Por isso, vamos explorar aqui como a tríade de emoções negativas, medo, tristeza e raiva, influencia
nossa percepção da realidade.

MEDO A força para evitarmos a perda, a dor ou a morte é o desejo mais primitivo em todos
nós, nosso motivador primário.
Por isso, a tentativa de puramente evitá-lo é infrutífera.
Devemos, ao contrário, compreender qual é exatamente a situação que tememos.
Explorar cenários e possibilidades que desejamos e investigar as possibilidades que
aconteçam.
A melhor arma contra o medo é o conhecimento.
TRISTEZA Na leitura interpessoal, a emoção da tristeza acaba aparecendo em comportamentos de
carência e privação afetiva, uma vez que quando estamos tristes acabamos
interrompendo o fluxo de trocas e “nos isolando” em nós mesmos.
Quando estamos carentes, tendemos a “precisar” de soluções ou respostas rápidas.
Uma boa saída é ganhar tempo e verificar se aquilo que tanto desejamos é mesmo
necessário e urgente ou se só estamos tentando preencher algum vazio interior.
RAIVA A principal barreira para compreender a realidade que a raiva oferece é a incapacidade
de ouvir que ela provoca.
Quando estamos nos sentindo acuados, tendemos a só ver as coisas de nosso ponto de
vista, nos tornando incapazes de conhecer as razões de outras pessoas.
Aqui a estratégia de saída é buscar conhecer mais todos os elementos envolvidos.
Só assim conseguimos ter nosso melhor julgamento.
Havendo percebido os possíveis “filtros” à realidade que nossas emoções provocam, podemos dar
um passo atrás. É na figura de observadores atentos que melhor conseguimos ler nós mesmos e outros.
No entanto, é muito importante que façamos esse movimento livres de preconceitos e pré-julgamentos,
que tenhamos clareza de que nossas experiências e nossos valores moldam nossa concepção da realidade
e que as pessoas têm também suas próprias visões. Elas não são nem certas nem erradas, só são diferentes
das nossas.

Pensando nisso tudo, procure colocar-se algumas vezes na posição de observador da rotina que lhe
cerca. Você vai perceber que algumas pessoas são mais “fáceis” aos seus olhos, pois se parecem mais
com você. Outras, no entanto, desafiam sua capacidade de comunicação, pois trazem maneiras diferentes
de concepção da realidade ou simplesmente características que não lhe parecem fáceis de lidar.

Aproveite também para se avaliar e responder: que valores os seus comportamentos revelam?

Parte 05 - Videoaula: DO VERBAL PARA O NÃO VERBAL

Estudamos nesta aula os indicadores não verbais: pistas de que a observação atenta pode nos fornecer
sobre nosso comportamento e o das outras pessoas. Entendemos ainda como o uso de legenda emocional
é fundamental para a melhora de nossa comunicação digital, que usar ou não usar emojis pode revelar
nossa intenção e o tom de nossas palavras. Encerramos falando sobre o filtro que nossas emoções
provocam em nossa leitura da realidade.

Parte 06 – TREINAMENTOS DE SEGURANÇA (ESTUDO DE CASO)

Uma indústria de transformação com elevados níveis de acidentes e situações de risco identificadas.

Novos funcionários recém-contratados em período de experiência, que ainda se expunham em


demasia a situações de risco ou demonstraram desconhecimento das normas de segurança da empresa.

Programa de integração conduzido pela área de RH:


01 Palestra de 45 minutos sobre segurança no trabalho, em que assistem um vídeo com
aproximadamente 20 minutos de duração sobre os procedimentos de segurança genéricos,
02 20 minutos sobre as normas e procedimentos do Sistema de Segurança no Trabalho,
03 Chefia responsável, que basicamente instrui sobre a utilização dos epis pertinentes
(equipamentos de proteção individuais) e sobre as sinalizações de segurança na área.

Você seria capaz de propor uma reestruturação do programa de treinamento em segurança, sugerindo
pelo menos duas atividades a serem executadas em cada etapa do ciclo (experiência concreta,
observação reflexiva, conceitualização abstrata e experimentação ativa) com base no ciclo de
aprendizagem de KOLB?
CE
Controle
Experience

AE RC
Active Reflective
Experimentation Observation

AC
Abstract
Conceptualization

Análise do programa atual

Programa de integração conduzido pela área de RH:


01 Palestra de 45 minutos sobre segurança no trabalho, em que assistem um vídeo com
aproximadamente 20 minutos de duração sobre os procedimentos de segurança genéricos,
02 20 minutos sobre as normas e procedimentos do Sistema de Segurança no Trabalho,
03 Chefia responsável, que basicamente instrui sobre a utilização dos epis pertinentes
(equipamentos de proteção individuais) e sobre as sinalizações de segurança na área.

Possivel resposta...
ETAPA CARACTERIST. SUGESTÃO DE ANOTAÇÕES
ATIVIDADES
EXPERIÊNCIA Observação de Apresentar aos novos O que é a ausência
CONCRETA uma experiência funcionários fotos de da segurança do
concreta e seus incidentes ocorridos na trabalho, nada mais
efeitos empresa ou em empresas/ importante nesse
processos semelhantes. momento do que o
fato e/ou incidente
OBSERVAÇÃO Compreensão das Analisar relatórios de Analisar relatórios
REFLEXIVA causas e efeitos incidentes; de incidentes,
associados à Participar na análise de participar de
experiência relatórios ou situações de situações de riscos
risco no setor; nos setores.
Workshops interativos Exemplo: Ir em
conduzidos por uma determinada
funcionários de seu setor/ área e pedir para
área de atuação. algum funcionário
relatar como foi
participar de uma
editoria de trabalho
anterior
CONCEITUALIZAÇÃO Estudo de Aprender o uso dos EPIs Conceito e técnica
ABSTRATA conceitos e e como podem prevenir associada a questão
técnicas associadas consequências de da segurança, como
ao conceito acidentes; por exemplo,
Entender como é definido aprender o uso de
o uso de EPIs e EPIs.
sinalização a partir do Começar a
Mapa de Riscos de cada categorizar as coisas
área. e para que elas
servem, construir
um mapa de risco
para empresa
EXPERIMENTAÇÃO Testagem de ideias Assistir simulação de Testar ideias e
ATIVA e técnicas impactos/ acidentes com técnicas, exemplo:
ou sem a utilização de assistir simulações
EPIs; de impactos e/ou
Participar de exercícios acidentes com ou
de simulação de sem utilização de
primeiros socorros. EPIs, participar em
situações de riscos
de primeiros
socorros.
Aula 02 - INFLUÊNCIA POSITIVA

Introdução

Vivemos a cultura em que influenciar se tornou a profissão de muitas pessoas. Em um mundo na


internet regido pelos algoritmos de rede, aquele que ganha mais cliques e likes tem a chance de chegar
a mais pessoas.

Nesta aula, vamos falar sobre as bases da influência em nossos relacionamentos. Qual o valor do
elogio? Como devemos compor alianças?

Ao final vamos traçar as relações entre influência, autenticidade e poder, para que possamos nos
questionar de que forma o nosso comportamento modifica ou amplia o comportamento de outras
pessoas. A intenção da aula é contribuir para que possamos tirar o máximo de nossas relações
interpessoais.

Parte 02 – FAZER AMIGOS E INFLUENCIAR PESSOAS

Um dos livros mais vendidos de todos os tempos no campo das relações humanas chama-se Como
fazer amigos e influenciar pessoas, de Dale Carnegie. O lançamento da obra foi em 1937, no contexto
de trabalho pós-depressão dos Estados Unidos. A intenção do autor era tão somente ensinar
comerciantes e administradores da época a terem um melhor trato com as pessoas.

Adicionalmente, que eles pudessem expressar suas ideias com clareza eficiência e equilíbrio nos seus
contatos comerciais. Posteriormente, tornou-se um fenômeno mundial de vendas, já tendo chegado a
mais de 50 milhões de pessoas. Seus conselhos são interessantes de resgatarmos aqui na disciplina, por
apontarem princípios básicos das interações humanas. Como a teoria de base, ancora-se no
comportamentalismo, ou do inglês, behaviorismo. Como veremos posteriormente, esses princípios não
dão conta de alguns desafios nos relacionamentos que os tempos atuais oferecem e podem estar na
contramão da influência obtida a partir da autenticidade.

São nove os princípios de liderança de Carnegie (2012):


01 Comece com um elogio ou uma apreciação sincera.
02 Chame a atenção para os erros das pessoas de maneira indireta.
03 Fale sobre os seus erros antes de criticar os das outras pessoas
04 Faça perguntas ao invés de dar ordens indiretas.
05 Permita que a pessoa salve seu próprio prestígio.
06 Elogie o menor e todo progresso, seja sincero na sua apreciação.
07 Proporcione à outra pessoa uma boa reputação para zelar.
08 Empregue o incentivo, torne o erro fácil de ser corrigido.
09 Faça a outra pessoa sentir-se feliz realizando aquilo que você sugere.

Como pode-se perceber, no centro dos princípios de Carnegie está que devemos apreciar as pessoas,
elogiar seu bom desempenho, evitar criticá-las abertamente, incentivá-las a repetirem os
comportamentos delas desejados. A teoria de base para esse ensinamento advém do psicólogo B. F.
Skinner, que já pontuava nos anos 1930 que qualquer animal, quando recompensado por seu “bom
comportamento”, aprenderá com mais facilidade e rapidez do que se for castigado por mau
comportamento.

Em outras palavras, nós seres humanos tendemos a nos comportar de forma a evitar o sofrimento ou
buscar o prazer, sendo ambas forças que modelam nosso comportamento. Nesse sentido, a crítica, dura
e contundente, provoca em nós sentimentos negativos de autodepreciação e culpa (sofrimento),
funcionando como um reforço negativo. Já o elogio, por promover sentimentos agradáveis de alegria,
satisfação e felicidade, funciona como um reforço positivo.

Não há nada de errado em elogiar as pessoas. Todos gostam de ser recompensados pelo bom
cumprimento de uma tarefa. Porém existe o contexto ideal para cada elogio. Há, por exemplo, o
entendimento de que “é melhor elogiar no coletivo e criticar no privado”. Nem sempre isso é verdade.
Por exemplo, se uma pessoa é elogiada coletivamente, havendo também participação das outras na
entrega que é mencionada no elogio, isso pode ser considerado injustiça e gerar intrigas em uma equipe
de trabalho. Ainda, se um elogio vem logo após uma crítica, ainda que ela seja sutil, ambos podem sair
esvaziados, ficando o interlocutor confuso sobre seu comportamento. Também importa de quem vem o
elogio e, acima de tudo, se é sincero. Ao contrário, uma crítica bem contextualizada e com intenção
construtiva torna-se uma semente de aprendizado. Ou seja, mais importante do que se diz é como se diz
e com que intenção.

Parte 03 - FORMANDO ALIANÇAS

As relações profissionais exercem impacto em diferentes frentes, desde a disposição para exercer
nossas habilidades até a facilidade de acesso a informações relevantes. No contexto de trabalho, formar
alianças permite que se encontre uma identidade coletiva e que se estabeleça um bom convívio nas
interações. De acordo com Dillon (2018, p. 166), formar uma aliança é “tomar a decisão de encontrar e
cultivar relações profissionais com pessoas que você respeita, de quem gosta e com quem deseja
trabalhar”. Existem, porém, linhas tênues para separar a prática de formação de alianças saudáveis – que
permite que as pessoas se desenvolvam e atuem em um bom clima de trabalho – das formações tóxicas,
como as que dividem as pessoas em “panelinhas”, o que pode ser bastante nocivo para as trocas entre
equipes.

Mas para que servem as alianças?

Alianças estratégicas podem suprir necessidades específicas. Por exemplo, você tem alta habilidade
e desejo de incorporar grupos de consultoria interna da empresa, mas sua área não se envolve em
programas de melhoria. Talvez então possa valer a pena buscar alianças com pessoas envolvidas em
projetos de consultoria, de forma a entender melhor no que trabalham e como trabalham. Isso permitiria
entregar o seu melhor para uma área que também precisa de você.

Outras vezes, alianças surgem como uma troca de favores, ainda que não de forma explícita. Por
exemplo, durante uma reunião você apoia o posicionamento de um colega diante de uma determinada
atividade. Posteriormente, esse mesmo colega apoia sua entrada num projeto de melhoria, por entender
que suas visões são parecidas. Mais uma vez aqui pode haver uma relação ganha-ganha, em que todos
podem sair fortalecidos a partir de uma interação.

Para formarmos boas alianças, é necessário ter clareza de que pessoas queremos nos vincular, de que
forma podemos contribuir com elas e elas conosco. Ser um bom aliado é ser útil para as pessoas,
contribuir para seu desenvolvimento, participar com entusiasmo de atividades que o outro organize.

Assim como as amizades, as alianças precisam de cuidados para permanecerem saudáveis. O contato
regular ajuda a manter a sintonia. A comunicação precisa ser assertiva, por isso a crítica construtiva,
assim como a desculpa sincera, são movimentos que podem ajudar a estreitar laços e promover
confiança.

Em alguns momentos, pode ser necessário se afastar, especialmente quando o aliado começa a agir
de maneiras que vão em direção oposta a seus valores pessoais. Isso porque o mau comportamento de
um aliado pode se refletir em quem está ao seu lado.

Alianças saudáveis são aquelas que permanecem enquanto as diferentes partes podem contribuir uma
com a outra. E tudo bem serem podadas ou renovadas, uma vez que o que torna o laço forte é a utilidade
que tem para o bem-estar coletivo.
Parte 04 – INFLUÊNCIA, AUTENTICIDADE E PODER

“Ser autêntico e ter sabedoria são dinâmicas humanas intimamente relacionadas, que se reforçam e
constroem mutuamente.” - Kets de Vries (2012, p. 266)

Sou da época em que se pedia para pessoas estranhas para que batessem uma foto. Nos víamos de
longe, nunca de tão de perto, nem com tantos filtros. Hoje circulamos em redes sociais recheadas de
selfies, danças de TikTok e imagens de autopromoção. Movimentos que antes pareceriam narcisismo
hoje são considerados parte do jogo, parte de como as pessoas querem ser vistas e se deixam ver. Nessa
busca por sucesso é fácil se iludir ou perder o rumo, faltar com a verdade e a sinceridade e se
decepcionar.

Na contramão das selfies, autenticidade implica ser verdadeiro consigo mesmo e as demais pessoas,
viver de forma integrada aos próprios valores e princípios, encontrar significado no que se faz. Uma
pessoa autêntica tem a disposição de se aceitar como é e não tenta se fazer passar por outra coisa ou
outra pessoa. Tem a coragem de dizer como são as coisas, consegue encarar a verdade e fazer a coisa
certa porque isso é correto. Consegue ver seus pontos fortes e os seus pontos fracos, sendo paciente com
as próprias falhas (DE VRIES, 2012).

A autenticidade aumenta a coragem de sermos diferentes e seguirmos o que nossos corações e mentes
pedem, não o que os outros querem. Por isso, os maiores testes de autenticidade surgem quando nossa
opinião ou nosso jeito de ser não combina com o da maioria. Ser autêntico implica fazer coisas que
façam sentido para nós e que nos tornem úteis para a sociedade.

Disso decorre a relação entre a autenticidade e a influência: uma pessoa autêntica torna-se influente
porque tem clareza do que prefere fazer e como fazer. No mundo das incertezas e da validação de
comportamento a partir do olhar do outro torna-se inspirador ver uma pessoa “com luz própria”, que
não busca dissuadir olhares, e sim aceita-se como é. A exemplo disso, voltando-se à analogia das redes
sociais, tem-se o movimento de “body positive”, em que pessoas postam fotos reais de seus corpos e
produzem simpatia pela veracidade que buscam divulgar.

Mas qual a relação entre influência e poder?

Poder é a capacidade de influenciar o comportamento de outras pessoas para conseguir o que se


deseja. Em nossas vidas, o poder traz consequências negativas ou positivas, a depender da maneira como
essa colaboração do outro é obtida. Entre as consequências negativas podemos apontar a corrupção, a
autocracia, o abuso moral. Quando aplicado com inteligência social e positivamente, o poder pode
produzir alinhamento, senso de identidade e bem-estar entre as pessoas.

De acordo com especialistas em comportamento organizacional, existem seis fontes de poder


(McSHANE; VON GLINOW, 2014).

Em cada situação podemos ter uma delas ou todas, ficando assim mais influentes:
PODER LEGÍTIMO Que vem da posição hierárquica exercida em uma organização.
PODER DE Habilidade de fornecer recompensas, como pagamentos ou posições
RECOMPENSA de interesse dos outros.
PODER COERCITIVO Habilidade de retirar punições ou exercê-las.
PODER DE Aquele que vem do conhecimento ou de habilidade específica.
ESPECIALISTA
PODER DE Similar ao de especialista, porém diz respeito ao acesso à informação.
INFORMAÇÃO
PODER POR Daquele que tem características pessoais que outras pessoas desejam.
REFERÊNCIA

Mas como podemos saber se exercemos ou não a influência, ou seja, se somos poderosos? A partir
da reflexão sobre nossas próprias experiências e como elas afetam nossos relacionamentos. Ou seja, se
conseguimos, por nossa ação e forma de ser influenciar as ações de outras pessoas.

Parte 05 - Videoaula: INFLUÊNCIA POSITIVA

Você já parou para pensar que a influência pode ser construída? Nesta aula, vamos falar sobre o
poder do elogio e de como pode ir na contramão da autenticidade. Falamos do papel das alianças em
nosso desenvolvimento de carreira e encerramos compreendendo as fontes de poder, provocando a
reflexão sobre como nosso comportamento afeta as outras pessoas.
Aula 03 – TORNANDO A COMUNICAÇÃO EMPÁTICA E ASSERTIVA

Introdução

Ampliamos consideravelmente a facilidade de comunicação a partir de novas mídias e redes sociais.


O que podemos observar, no entanto, é que muito do que é dito ainda é em tom de conflito e confronto.

Nossos diálogos e comentários ainda são bastante violentos. Nesta aula, vamos compreender como
é possível estabelecer a comunicação não violenta, que tem por base a empatia e a habilidade de
combinar o processo observação-sentimento-necessidade-pedido nos diálogos que são realizados.

Ao final da disciplina, a intenção é que você tenha condições de fazer seus próprios pedidos, sabendo
ler seus sentimentos e suas necessidades e também de outras pessoas.

Bons estudos!

Parte 02 – BASES DA COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA (CNV): CONHECENDO OS


PRÓPRIOS VALORES

“A violência é a expressão de uma frustração impossível de ser manifesta em palavras.” -


D’Asembourg (2018, p. 17)

Formas violentas de comunicação fazem parte de nosso inconsciente coletivo. Na base estão as
emoções de raiva e medo, atuando em nós por meio das palavras. A violência nas relações surge como
efeito da ausência de consciência e surge não para criar, estimular ou proteger nossas ideias ou bens, e
sim para exercer pressão sobre outras pessoas. Na maior parte das vezes, a violência é sutil, não
chegando a agressões físicas ou verbais, e sim imposta como uma pressão no campo afetivo e
psicológico. Ao contrário, quando somos mais conscientes, conseguimos exprimir nossa intenção e
vontade sem agredir a outra pessoa, nos comunicando de forma empática e assertiva.

O processo de comunicação não violenta foi proposto pelo psicólogo Marshall Rosenberg nos anos
1960, em sintonia com o movimento dos direitos civis americano. Durante esse período, Rosenberg
atuou com arbitragem e forneceu treinamento em sua recém-criada técnica comunicativa CNV
(comunicação não violenta). Muitos anos se passaram e a tecnologia revolucionou nossa comunicação.
Basta, no entanto, uma zapeada nas redes sociais para que encontremos comentários raivosos e
posicionamentos que isolam as pessoas em seus pontos de vista. Também em organizações a
comunicação tornou-se mais ágil e ganhou novas mídias, mas seguem as trocas ácidas e os comentários
belicosos.

Atualmente, a CNV é utilizada na resolução de conflitos em mais de 65 países do globo, sendo


aplicada para o desenvolvimento de sistemas sociais, na justiça restaurativa, nas organizações e na área
de educação. Em suas diversas aplicações, permanece tendo por base a consideração do bem comum e
uma atitude baseada em empatia, por isso também chamada de comunicação empática ou comunicação
compassiva. Para facilitar a compreensão em nossa aula, vamos nos referir a ela simplesmente como
CNV.

De acordo com D’Ansembourg (2018), a CNV nos estimula a parar e refletir sempre que reagimos
fortemente a alguma coisa ou situação. O processo da CNV é composto por quatro fases: observação da
situação, leitura dos sentimentos envolvidos, compreensão da necessidade de base e formulação de um
pedido.

Mas por que temos dificuldade de expressar nossas necessidades? Uma explicação possível é de que
somos seres sociais. Crescemos nos acostumando a perceber a reação das outras pessoas e buscando
corresponder ou nos antepor às necessidades delas. Por isso, muitas vezes, “partimos do princípio” de
que estamos atendendo a necessidade de alguém quando, na verdade, não chegamos nem mesmo a
compreendê-la. Podemos, aliás, estar simplesmente projetando.

Julgamentos e rótulos

Julgamos os comportamentos de outras pessoas o tempo todo. Vemos passar aquele colega tatuado
e imaginamos que sua vida inteira é muito descolada. Não sabemos nada a respeito da vida dessa pessoa
e nem imaginamos que não é um cara “de Humanas”, mas sim um engenheiro de qualidade. Construímos
nosso mundo a partir do pouco que vemos do outro e, assim, “assumimos” algumas verdades que acabam
por atalhar nossas interações.

O primeiro componente ou fase da CNV pede para que observemos a realidade de nossa troca tal
como ela aparece, livres de julgamentos e preconcepções, ou seja, observar sem avaliar. Abrindo-nos ao
que está acontecendo e conhecendo nossos próprios valores e crenças, podemos abrir espaço para chegar
às nossas emoções e necessidades pessoais.
Parte 03 – PERCEBENDO EMOÇÕES E NECESSIDADES

No segundo momento da comunicação empática, passamos a ficar mais atentos a nossos próprios
sentimentos e aos sentimentos do outro. Deixamos de jogar a responsabilidade do que sentimos para as
pessoas (“você me fez sentir raiva de...”) para colocar a responsabilidade em nós mesmos: “estou com
raiva porque meu valor de ... foi violado”.

Mas o que faz com que nossos sentimentos sejam muitas vezes estranhos a nós mesmos? Em algumas
profissões – como médicos, engenheiros e militares – a expressão dos sentimentos é desencorajada
(ROSENBERG, 2006). Falar de si pode ser considerado algo egocêntrico, não profissional ou uma
expressão de carência. Porém, o primeiro contato a ser feito com os sentimentos é ainda no âmbito
intrapessoal, ou seja, do indivíduo consigo mesmo. Isso porque, ainda que nos últimos anos estejamos
mais flexíveis nas organizações para conversar sobre os sentimentos, são poucas as oportunidades em
que acontecem.

Em minha experiência como facilitadora de inteligência emocional em treinamentos executivos


posso testemunhar: é impressionante o efeito integrador e de alívio que é poder falar abertamente. O
acolhimento afetivo fornece, já no curto prazo, uma ampliação do bem-estar no trabalho e a promoção
de sentido, que é nutridora das relações no longo prazo.

Os benefícios de se enriquecer o vocabulário emocional aparecem nos relacionamentos pessoais e


no mundo profissional. Expressar a nossa vulnerabilidade pode ajudar a ampliar o espaço de confiança
nas conversas e trocas e resolver ou diminuir conflitos (BROWN, 2013). Especificamente conhecer
nossos sentimentos permite que possamos saber quais necessidades estão ou não sendo atendidas, pois
são por elas que nossas emoções são ativadas.

Chega-se então ao terceiro momento da CNV: a compreensão de nossas necessidades. Fundamental


é esse momento de acolher o fato de que temos desejos intrínsecos, necessidades relacionadas às nossas
questões fisiológicas, necessidades ligadas à segurança, aos relacionamentos, de estima e de realização
pessoal ou crescimento. Nesse sentido, é interessante trazermos a Teoria da Hierarquia de Necessidades
(Figura 1), proposta por Maslow nos anos 1980 e amplamente difundida no âmbito acadêmico.
Criatividade, talento e
desenvolvimento pessoal
Reconhecimento, status e
autoestima
Amor, amizade, familia e
comunidade
Segurança da familia e
da propriedade
Comida, água, abrigo e
sono

Figura 1 | Teoria da Hierarquia de Necessidades. Fonte: G4 Educação (2020, [s. p.]).

Além das categorias de necessidades propostas por Maslow, existem outras, ligadas aos nossos
valores: autonomia, integridade, expressão pessoal e clareza estão entre elas. Conhecer as próprias
necessidades permite que não sejamos dependentes da opinião dos outros. Paramos de fazer perguntas
do tipo “O que você acha?”, “O que quer fazer?” e “Você acha que isso é o melhor?” e passamos a ter
um norteador interno. Essa direção nos traz calma e tira de nós a intenção de controlar as outras pessoas
ou a sina de sermos por elas controlados.

Identificar nossas necessidades provoca alívio e bem-estar, ainda que não tenhamos condições
imediatas de satisfazê-las. No entanto, podem surgir divergências quando partimos do princípio de que
as outras pessoas, especialmente as mais próximas, têm a obrigação de conhecer e até satisfazer as nossas
necessidades. Por isso é fundamental que saibamos formular pedidos.

Parte 04 – APRENDENDO A FAZER PEDIDOS E PRATICAR A CNV

Falamos até aqui sobre o valor de considerarmos nossas emoções e conhecermos nossas
necessidades. Esses movimentos são fundamentais para que possamos chegar ao último componente da
CNV: fazer pedidos.

Muitas vezes, confundimos pedidos com necessidades, e vice-versa. Por isso, é importante
separarmos sentimento (S), necessidade (N) e pedido (P). Vamos a um exemplo bem trivial. Ana chega
em casa do trabalho e diz para o marido Cláudio que está com vontade de comer uma pizza. O marido
confunde pedido com necessidade e diz que não quer pizza novamente, pois é cara, demora para chegar
e depois não lhe desce bem. Eles começam a discutir, já que Ana diz que Cláudio nunca concorda e
Cláudio diz que Ana só quer comer coisas gordurosas, o que não lhe cai bem de noite.

Se Ana praticasse a CNV, poderia explicar-se melhor: “Querido, estou me sentindo supercansada e
faminta (S). Não estou com vontade de fazer nada, nem de cozinhar (N). O que você acha de pedirmos
algo para comer, como uma pizza (P)?”. Uma vez tendo colocado pizza como uma das possibilidades
de atender sua necessidade, Ana poderia se abrir às ideias de Cláudio e, quem sabe, chegassem juntos à
uma opção rápida e saudável, como uma salada. Como a discussão aconteceu, não houve a possibilidade
de Cláudio saber que Ana adora, sim, uma salada. Não houve espaço para que ambos pudessem
compartilhar seus sentimentos e suas necessidades.

Praticando a CNV

Havendo compreendido os quatro componentes da CNV de observar (O), sentir (S), perceber a
necessidade (N) e fazer pedidos (P), é importante aplicar todos os componentes ao mesmo tempo e, para
isso, é fundamental recebermos a realidade do outro com empatia.

A empatia permite que se faça uma compreensão respeitosa do que as outras pessoas estão vivendo
ou sentindo e para acontecer faz uso de todos os nossos sentidos. Só conseguimos ser empáticos quando
esvaziamos a nossa mente de ideias preconcebidas. Quando empáticos, preferimos perguntar e ouvir,
em vez de falar. O hábito da pergunta amplia nosso espaço na interação com o outro e a escuta favorece
a abertura a falar de sentimentos.

Um outro cuidado para favorecer a empatia é evitar pensar demais já que o excesso de trabalho
cognitivo atrapalha a troca afetiva, uma vez que ficamos tentando encontrar causas e efeitos na fala do
outro e perdemos sinais importantes de como a pessoa está se sentindo. Dois bons sinais de que estamos
de fato praticando um diálogo empático: (1) não sabemos o que vamos dizer a seguir e precisamos da
fala do outro para construir nosso posicionamento e (2) na linguagem não verbal do outro, a partir por
exemplo do tom de voz e movimentos do corpo, é possível perceber sinais de calma e bem-estar. A
conversa segue fácil e de forma confortável.

Com base no que tratamos em aula, procure formular pedidos reconhecendo, assim como no exemplo
de Ana e Cláudio, quais são os sentimentos envolvidos (S), que necessidades precisam ser atendidas (N)
e o que efetivamente vai ser solicitado em forma de pedido (P).

Parte 05 – Videoaula: TORNANDO A COMUNICAÇÃO EMPÁTICA E ASSERTIVA

Você já reparou como ainda temos diálogos violentos em nossas interações diárias? Às vezes o que
parece opinião chega recheado de julgamento e preconcepção da realidade. Nesta aula, aprendemos
sobre os princípios da comunicação não violenta, também conhecida como comunicação empática, em
que podemos acolher nossos sentimentos e expressar nossas necessidades de maneira assertiva.
ANOTAÇÕES: A girafa símbolo da comunicação não violenta

01. Grandes ORELHAS para escutar com EMPATIA


02. Um longo PESCOÇO para ver além dos julgamentos e partilhar esta CONSCIÊNCIA
03. O maior CORAÇÃO dos mamíferos terrestres. A CNV = Linguagem do Coração
04. Os CASCOS expressão suas necessidades com a AUTENTICIDADE
Aula 04 – INTELIGÊNCIA SOCIAL

Introdução

Somos seres sociais. Construímos nossa realidade, nossos pensamentos e sentimentos a partir da
interação com outras pessoas. Especialmente aquelas com quem mais convivemos são as responsáveis
por muito do que experimentamos em nosso mundo interior. Na contrapartida, nós também
influenciamos todos aqueles com os quais convivemos.

Nesta aula, falaremos de contágio emocional e de relações tóxicas ou salutares. Abordaremos as


diferentes dimensões da inteligência social e o conceito de liderança ressonante.

Para finalizar, faremos reflexões para que possamos produzir ressonância e melhor gestão de nossos
relacionamentos. A intenção desta aula é contribuir para que possamos perceber o impacto de nossas
emoções em nossas relações interpessoais e o valor da empatia na influência positiva de outras pessoas.

Parte 02 – AS BASES DO CONTÁGIO EMOCIONAL

Os primeiros anos de nosso milênio trouxeram para a pesquisa científica um campo emergente: a
neurociência social. Estudos recentes revelam o que acontece no cérebro humano enquanto as pessoas
interagem. O que se descobriu é a força da empatia. Quando entramos em contato com os sentimentos
de outras pessoas e compreendemos seus motivos, temos nossa química cerebral afetada, assim como
afetamos o outro. Não se trata apenas de dois cérebros reagindo independentemente, mas, ao contrário,
dois cérebros que funcionam como um único sistema (GOLEMAN; BOYATZIS, 2008).

A compreensão desses poderosos circuitos sociais do cérebro permitiu que se ampliasse a nossa
teoria de inteligência emocional (IE) – anteriormente fundamentada em teorias de psicologia individual
ou intrapessoal –, compreendendo-se agora que existe uma vasta zona interpessoal de ação da IE.
Inteligência social é então definida como um conjunto de competências interpessoais construídas em
circuitos neurais específicos (e sistemas endócrinos relacionados) que inspiram outras pessoas a serem
eficazes (GOLEMAN; BOYATZIS, 2008).
As interações que temos com as pessoas atuam como reguladoras de nossas emoções, acionadas pelo
sistema límbico de nosso cérebro. Quanto mais forte nossa ligação emocional com alguém, maior é a
força com que os cérebros se influenciam. Por isso, nossas trocas mais potentes ocorrem com pessoas
que passamos mais tempo e aquelas que mais importam para nós, ou seja, mais vezes são acessadas em
nossos sentimentos e pensamentos (GOLEMAN, 2019).

Nossos sentimentos têm consequências biológicas de longo alcance, sendo espalhados em nosso
corpo por meio da ação de neurotransmissores (acetilcolina, noradrenalina, serotonina, dopamina,
ocitocina, etc.), que regulam os sistemas biológicos, do coração às células do sistema imunológico. Por
isso, de acordo com Goleman (2019), nossos relacionamentos moldam nossa experiência e nossa
biologia.

O mais interessante é que, além de influenciar nosso corpo e nossas interpretações da realidade,
nossas interações podem também influenciar diretamente o que estamos sentindo. Esse fenômeno é
conhecido como contágio emocional.

Quando pessoas despejam sobre nós seus sentimentos tóxicos – explodindo de raiva ou fazendo
ameaças, demonstrando repulsa ou desprezo – ativam em nós circuitos que provocam essas mesmas
emoções aflitivas. (GOLEMAN, 2019, p. 23)

Quando as emoções trocadas são negativas, há muita força no contágio, uma vez que somos
programados evolutivamente para captar tudo que possa nos ferir ou nos causar perda. Nossa amígdala
cerebral está sempre vigilante, por isso é mais fácil se contagiar com as emoções negativas.

Mas o contágio emocional pode também ser positivo. E eis que nos vemos gargalhando após vermos
outra pessoa gargalhar ou quem sabe fiquemos felizes tão somente por ver uma criança sorrir. O fato é
que participamos o tempo todo de uma espécie de economia emocional, em que são feitas trocas entre
as pessoas a partir da forma como se sentem. Tudo isso ocorre de forma subconsciente, o que faz com
que seja muito importante termos consciência de que tipo de mensagem não verbal estamos emitindo, a
partir da expressão de nossos sentimentos e o que estamos conseguindo captar.

Parte 03 – RELAÇÕES RESSONANTES E SALUTARES

“É por observação que no futuro eles não vão se lembrar do que você disse, eles não vão se lembrar
do que você fez, mas vão se lembrar de como você os fez se sentirem.” - Maya Angelou (apud
DOUGLAS, 2019, p. 67)
A inteligência social pode ser compreendida como o conjunto de habilidades socioemocionais que
utilizamos na interação com outras pessoas. No modelo de Goleman e Boyatzis (2016), mencionado em
nossa Unidade 1, a inteligência social diz respeito às dimensões de empatia e gestões de
relacionamentos.

Já Albrecht (2006) entende que são cinco as dimensões da inteligência social:


CONSCIÊNCIA Radar social ou habilidade de ler situações e interpretar comportamentos de
SITUACIONAL outras pessoas, assim como suas possíveis intenções, estados emocionais e
propensão à interação.
PRESENÇA Incorpora padrões verbais e não verbais, como aparência, postura, qualidade
da voz e movimentos do corpo.
AUTENTICIDADE O quanto somos percebidos como honestos, abertos, éticos e confiáveis.
CLAREZA Nossa habilidade de explicar, esclarecer ideias, transmitir dados, articular
visores e cursos de ação de forma a conquistar a cooperação alheia.
EMPATIA Sentimento compartilhado de duas pessoas que se vinculam e interagem de
forma a cooperarem positivamente.

No modelo de Albrecht, a inteligência social tem um significado análogo à inteligência intrapessoal


de Gardner (2009), o que você já deve ter estudado. Por isso, sua definição de inteligência social é
“habilidade de interagir bem com outros, fazendo com que cooperem com você” (ALBRECHT, 2008,
p. 23). Ao mapear os diferentes comportamentos para construir seu modelo, Albrecht (2006) percebeu
que pessoas com baixa inteligência social tendem a ter atitudes tóxicas, que contribuem para alienação,
conflito e animosidade, enquanto pessoas com alta inteligência social conduzem os outros à empatia,
compreensão e cooperação, tendo assim uma atitude salutar no comportamento de outros. As atitudes
salutares fazem com que as pessoas se sintam valorizadas, capazes, amadas, respeitadas e apreciadas.
Por isso, pessoas com alta inteligência social tornam-se magnéticas para as outras, afinal, todos
apreciamos a interação com pessoas que fazem com que nos sintamos bem.

O conceito de atitudes salutares assemelha-se à ideia de liderança ressonante, de Boyatzis e McKee


(2006). A analogia ao conceito de ressonância vem da física: reforço ou prolongação do som a partir da
reflexão ou sincronicidade de vibração. Da mesma forma, o líder ressonante promove conexão
emocional, “sincronia”. Nesse caso, a partir da relação líder-liderados, a mensagem original “ressoa”,
reverberando para outros níveis da organização, de forma construtiva e positiva. Atuando com escuta
ativa e atitude vibrante, os líderes ressonantes são aqueles que conseguem tirar o melhor das pessoas,
promovendo nelas uma visão compartilhada e inspirando sentimentos de confiança e esperança no
futuro. Na contrapartida, quando interagem com líderes ressonantes, as pessoas sentem-se apreciadas,
contribuindo positivamente para os grupos em que atuam.
Parte 04 – APRENDENDO A PERCEBER CONTEXTOS

Até aqui entendemos que nossas interações moldam nossa forma de ver e experimentar o mundo.
Mas o contrário será verdade? Será que um indivíduo consegue modificar seus relacionamentos? Ou
pelo menos melhorá-los? A resposta é sim. Mas vamos por partes.

Um contexto é feito de pequenas unidades. Paradoxalmente, segundo Carl Rogers (2017), nós como
indivíduos não mudamos ninguém, mas, quando nós mudamos, podemos mudar o outro também. Ou
seja, somos indivíduos em relacionamentos que se formam dentro de grupos, que se formam dentro de
organizações, que se formam dentro de comunidades. Vivemos em um sistema social complexo, porém
fundamentalmente interdependente. E cada nível do sistema social influencia o comportamento do
indivíduo. Assim, a ressonância não se constrói a partir da ação de cada pessoa. Afinal, nossa realidade
emocional é compartilhada o tempo todo.

Então, é justo perguntar: como podemos promover influência positiva ou ressonância em nossos
relacionamentos? De acordo com Boyatzis e McKee (2006), o lugar para se começar é exatamente na
menor unidade, ou seja, em si mesmo.

Para isso, precisamos ter clareza de quem somos – nossas forças e fraquezas – e quem desejamos ser,
nosso eu ideal. Raramente temos clareza de para onde estamos indo e por que, mas quando atingimos
esse lugar, conquistamos nossa integridade pessoal, algo que o psicólogo Carl Rogers (2017) entendia
como Congruência. Quando congruentes, temos os eu real e eu ideal alinhados e estamos totalmente
conectados à nossa experiência, não desejando ser nada diferente do que somos. E se você não se sente
assim tão integrado, não se preocupe. A maioria de nós está nessa busca e o trabalho de crescimento
pessoal serve para que possamos promover ressonância enquanto aprendemos sobre nós mesmos e
nossos relacionamentos.

Para melhor compreensão dos conceitos de inteligência social, vale agora fazer um exercício
em 03 etapas:
CONHEÇA A forma como nos conectamos com nossos sonhos diz muito sobre nós mesmos.
SUAS Assim, precisamos ter clareza de onde queremos chegar e perceber como nossas
ASPIRAÇÕES aspirações se encaixam nas intenções das pessoas de nosso convívio e grupos de
PESSOAIS trabalho.
ANALISE A Uma outra observação interessante de ser feita no caso de você ocupar
PRÓPRIA alguma posição de liderança é:
LIDERANÇA Como você lidera pessoas?
Gosta de desenvolver novas habilidades em seus liderados?
E caso ainda não atue como líder, vale perguntar sobre algumas outras
habilidades da liderança:
Como você atua em conflitos?
Você é um bom colega de trabalho, gosta de compartilhar ideias?
Consegue obter o melhor das pessoas?
Esse tipo de pergunta permite que possamos ser honestos a respeito de nossas
habilidades interpessoais, reconhecendo pontos fortes e oportunidades de
melhoria.
PEÇA Havendo investigado suas aspirações e suas habilidades de liderança, peça
FEEDBACK feedback sobre a forma como se relaciona:
Você é um bom ouvinte?
As pessoas costumam se sentir bem após uma interação com você?

De posse dos elementos dessa reflexão elabore pontos a melhorar, descobertas interessantes que fez
sobre si mesmo e temas sobre os quais gostaria de continuar aprendendo.

Parte 05 - VIDEOAULA: INTELIGÊNCIA SOCIAL

Os estudos de inteligência social trouxeram novas descobertas sobre o valor das emoções que
compartilhamos. Somos todos influenciáveis coletivamente, ou seja, construímos nossa realidade a
partir do tipo de interação que temos. Nesta aula, falamos sobre contágio emocional, ressonância,
atitudes tóxicas ou nutridoras e dimensões da inteligência social. Finalizamos com algumas reflexões
que permitem que possamos influenciar os outros positivamente, a partir da pessoa mais importante para
nossos relacionamentos: nós mesmos.
Aula 05 – EMPRESA DE SOFTWARE

01 O gerente de uma equipe de projetos de softwares está tendo muitas dificuldades para manter
a motivação e o engajamento dos membros de sua equipe;
02 Grupo de aproximadamente 30 pessoas, de diferentes experiências e especialidades de
linguagem, que precisa interagir em pequenos grupos para fazer frente às entregas;
03 06 líderes de projeto coordenam o trabalho dos demais funcionários;
04 Grupo tem trabalhado de forma remota já há dois anos;
05 Aproximadamente metade da equipe atual já foi contratada nessa modalidade, isso é, nunca
chegaram a se conhecer pessoalmente;
06 Integrantes de diferentes cidades e até mesmo outros Estados;
07 Interações online são de baixa qualidade interacional e majoritariamente voltadas a cobranças
sobre o andamento dos projetos ou soluções de problemas e reclamações de clientes e usuários
08 O líder promoveu recentemente um treinamento online sobre inteligência social e emocional,
mas os resultados não foram os esperados;
09 O treinamento acabou gerando um clima de cobrança e acusações, mesmo que na forma de
“brincadeiras”, principalmente por parte dos líderes de projeto que acusam seus pares e alguns
funcionários de não apresentam uma postura emocionalmente inteligente;

Considerando os conceitos aprendidos na Unidade, sugira estratégias que o líder poderia adotar para
promover a formação de um espírito de equipe entre os membros do grupo.

Descreva pelo menos duas linhas de ação possíveis, justificando-as com base nos conhecimentos
aprendidos.

Exemplos de sugestões seriam:


Aplicar os conceitos de CNV diretamente com os líderes Aa pessoas gostam de
de projeto, em reuniões individuais, buscando aplicar as observar vendo de ponto a
fases de observar suas dificuldades no relacionamento com a ponto
gerência: Pares e liderados (O),
Sentir os efeitos nos relacionamentos (S), Segurança psicológica
Perceber a necessidade associada a uma postura voltada à (emocional)
Formação do espírito de equipe (N), e
Fazer pedidos específicas a cada líder com base nas fases O obvio deve ser dito, mas é a
anteriores (P). necessidade que tem que ser
analisada para não ser
“agressivo”
Com o grande grupo e também em grupos menores de Momentos de descontração
projetos, promover momentos de interação positiva, fora entre os funcionários
da rotina atual de cobranças de prazos e solução de
problemas, de forma a oportunizar contágios e influências
positivas e formação de uma consciência de grupo.
MODULO 04 - AUTOGESTÃO E REALIZAÇÃO

Parte 01 - O CAMINHO PARA O SELF IDEAL

Introdução

O movimento da psicologia humanista trouxe uma nova visão de ser humano e permitiu que
considerássemos o acesso a nossos sentimentos como parte inerente à nossa jornada em direção à
autorrealização e ao eu ideal.

Nesse contexto, nossos valores passam a ser parte preponderante de nossa experiência, pois explicam
as bases de nosso comportamento.

Nesta aula, percorreremos alguns conceitos fundamentais trazidos por Abraham Maslow, Carl
Rogers e outros autores alinhados às suas premissas. Na sequência, falaremos sobre autorrealização,
postulados do humanismo e congruência, percorrendo conceitos de base para que possamos trabalhar a
autogestão, reconhecendo habilidades emocionais necessárias ao desenvolvimento pessoal.

---

Assimile

Toda mudança de comportamento parte de uma tomada de consciência. Para chegarmos aos nossos
objetivos pessoais, é necessário que tenhamos clareza de onde queremos chegar e de que realidade
temos. A trajetória rumo aos nossos objetivos fica mais fácil quando encaramos a vida de forma positiva,
ancorando-nos em nossas forças, valores e virtudes e conectando-nos em relacionamentos saudáveis.

Parte 02 - UMA PSICOLOGIA PARA O PLENO POTENCIAL HUMANO

No final dos anos 1960, emergia um movimento psicológico, capitaneado pelos psicólogos Abraham
Maslow e Carl Rogers, que se opunha à visão do ser humano proposta pela psicanálise (considerada
pessimista e determinista) e do comportamentalismo (considerada maniqueísta). Nascia a psicologia
humanista, com a crença de que qualquer pessoa contém em si o potencial para um desenvolvimento
sadio e criativo. Era até o momento uma lufada de otimismo e esperança, uma vez que o passado não
era mais determinante de sucesso pessoal e o comportamento não era tão programável e organizável.
Percebia-se o ser humano como um organismo integrado, conectado à sua realidade e às suas
experiências, em que a compreensão de sentimentos e pensamentos passava a ser essencial para o bem-
estar e desenvolvimento pessoal.

ABRAHAM MASLOW (1908-1970) é mais conhecido pela hierarquia de necessidades, já vista na


Unidade 3, em que passamos por necessidades de sobrevivência (fisiológicas e de segurança), de
relacionamento, de estima e, no topo, a necessidade de autorrealização. Sobre essa última vamos nos
deter aqui. Maslow acredita que somos inerentemente motivados a satisfazer nossas necessidades, mas
também a nos autorrealizarmos, ou seja, sermos nosso melhor, em nosso maior potencial. Para isso,
contamos com um motivador interno para a autoatualização, nos tornando a cada experiência mais
próximos da melhor versão de nós mesmos (MASLOW, 2013).

CARL ROGERS (1902-1987) traz uma visão de ser humano similar à de Maslow e propõe que há
uma incongruência entre o eu real e o eu ideal que nos causa desconforto e sofrimento. Ao contrário,
quando por meio da descoberta de nós mesmos nos aproximamos de nosso eu ideal, entramos em estado
de congruência e adquirimos o melhor funcionamento que podemos ter.

Nesse estado, nossos sentimentos são totalmente acolhidos e somos nossa própria pessoa-referência,
ou seja, não desejamos ser ninguém senão não nós mesmos. Para nos tornarmos mais próximos desse
máximo potencial, Rogers (2017) entende que precisamos desenvolver a aceitação incondicional de
quem somos. Quando, por exemplo, colocamos certas condições para outras pessoas nos valorizarem,
como: “se eu me formar e me casar, então serei amada por meus pais”, ou condições autoimpostas,
como: “quando eu conseguir meu apartamento, então serei uma pessoa bem-sucedida”, estamos
limitando nossas condições de valor e, por consequência, estamos nos afastando das pessoas que
amamos e condicionando nosso amor-próprio.

Como podemos compreender até aqui, Maslow e Rogers enfatizaram a existência, em todo ser
humano, de um impulso intrínseco para a realização do nosso maior potencial ou autorrealização. Assim,
quando iniciamos nosso processo de autodesenvolvimento, é salutar vermos nós mesmos com aceitação
incondicional, retirando barreiras e aceitando nossa experiência exatamente como ela se apresenta. Esse
movimento parece mais fácil do que realmente é, uma vez que temos a tendência a “lutar” contra a
aceitação, nos apoiando em ideias preconcebidas de como “devemos ser” ou como os relacionamentos
“devem ser”.
Parte 03 – BASES PARA A AUTOGESTÃO

“Conhece-te a ti mesmo.” (Sócrates)

A abordagem humanista da psicologia inspirou a criação de movimentos em torno da gestão de


pessoas e comportamento organizacional e, mais recentemente, programas de coaching, realizados
dentro ou fora do mundo empresarial. Por ter como base a mente consciente, permite que as pessoas
realizem a compreensão de si mesmas, com ou sem acompanhamento, a partir da autorreflexão ou
acessem programas de desenvolvimento pessoal, não necessariamente associados a processos
psicoterapêuticos. Entende-se, porém, que ter alguém para dividir as interpretações da própria vida,
provocando reflexões relevantes, seja um líder ou um coach, pode contribuir para o melhor
aproveitamento das próprias reflexões.

ANOTAÇÃO

Agregando variáveis ao comportamento:


01 Forças biológicas e ancestrais;
02 Registros de nossas experiências;
03 Forma como (re)interpretamos nossa realidade, promovendo novos (neuroplasticidade).

Assim, algumas suposições fundamentais da psicologia humanística servem a propósitos que


extrapolam a psicoterapia e passam a contribuir com a autogestão:
01 O que experimentamos pelos nossos sentidos conscientes (pensamentos e sentimentos) e
podemos lembrar é base para a compreensão de nosso comportamento.
02 Uma compreensão precisa do comportamento humano não pode ser alcançada estudando
animais e, ao contrário, nossas próprias experiências cotidianas são base para
compreendermos a nós mesmos.
03 A necessidade de atingirmos nosso máximo potencial é algo inerente ao ser humano.
04 As pessoas são inerentemente boas e o ambiente em que se desenvolvem é fundamental para
seu melhor desenvolvimento.
05 Cada pessoa e cada experiência é única, por isso nosso desenvolvimento deve levar em
consideração essa biografia e compreensão da realidade.
06 Nosso comportamento não é predeterminado, nem por forças inconscientes nem pelo passado.
O livre arbítrio existe, por isso devemos assumir a responsabilidade pessoal por nosso
crescimento e autorrealização.
Algumas dessas suposições vão diametralmente contra pesquisas de comportamentalismo, por
exemplo, os estudos com animais; e contra a psicanálise, como dizer que nosso comportamento tem por
base puramente a consciência. Havendo negado a força do inconsciente, os humanistas não negaram
nossas bases biológicas, nem evolutivas, apenas deram ênfase à nossa experiência e às interpretações
que fazemos dela.

Fazendo-se hoje um balanço desses postulados, é importante não irmos “nem tanto ao céu nem tanto
à terra”. Na nova abordagem humana da inteligência emocional, por exemplo, agregam-se diferentes
bases epistemológicas. Assim, entende-se que nosso comportamento é influenciado por (1) forças
biológicas e ancestrais, mas também pelos (2) registros de nossas experiências (nosso passado), que
moldam nossos circuitos neurais e pela (3) forma como (re)interpretamos nossa realidade e projetamos
nosso futuro, promovendo novos circuitos (neuroplasticidade). Nesse sentido, as novas teorias ligadas
à neurociência social agregam variáveis, não as descartam. Adicionalmente, também consideram
pesquisas quantitativas, mais do que qualitativas, como base para a compreensão do comportamento
humano.

Na sequência de nossos estudos, veremos que os predecessores do humanismo, na Psicologia


Positiva, podem tratar a compreensão das emoções positivas, por exemplo, compreendendo que são
processos tão próprios de nossa experiência quanto as emoções negativas. Entende-se que ver “a metade
cheia do copo” pode trazer muitos benefícios para a promoção de bem-estar e melhor aproveitamento
de nossas potencialidades. Falaremos mais sobre essas leituras em nossa próxima aula.

Parte 04 - EXERCITANDO O SENTIR E O PENSAR

Compreendemos nesta aula a importância de considerarmos nossos sentimentos e nos valorizarmos


incondicionalmente, tomando responsabilidade por nossas características pessoais e nossa realidade
exatamente como ela se apresenta, sem pressuposições de como ela “deveria ser” ou medo de realizar
nosso máximo potencial.

Mas como podemos treinar nossas mentes para alcançarmos nosso máximo potencial?

A genética e a interação com o ambiente formam, conjuntamente, nossa noção própria de “self”.
Tanto a natureza (no inglês, nature) como nossa criação (no inglês, nurture) permitem que possamos
modificar nossas estruturas cerebrais. O cérebro aprende melhor em ambientes em que pode exercer sua
liberdade, afastando-se das ameaças mais prementes e incorporando-as como desafios possíveis de
serem vencidos. As experiências moldam e transformam nosso cérebro. Novas experiências trazem o
aprendizado de novas formas de pensar, sentir e agir, criando novas rotas neurais e fisicamente
modificando o cérebro. (NELSON; LOW; HAMMET; SEN, 2013).

Nessa direção, a melhor relação intrapessoal que você pode ter é caracterizada por aceitação
incondicional, como comentamos, e por respeito, curiosidade, autocompaixão, honestidade e motivação
para se tornar a melhor versão de si mesmo. Isso porque nossos comportamentos, incluindo nossas
reações emocionais, são relacionadas a essas rotas neurais, a como o cérebro processa, armazena e retém
as informações do cotidiano. Cada um de nós tem um jeito próprio de construir a própria realidade e,
consequentemente, aprender sobre ela.

Nosso aprendizado depende da experiência (emocional) e do processamento cognitivo (pensamento)


que atuam de forma colaborativa. Sendo a cognição mais conhecida, vale reforçar o valor da mente
emocional, uma vez que não há apreciação de conhecimento sem participação de nosso mundo
emocional e que para toda informação que recebemos já temos crenças e valores associados: que
apontam o que importa ou não, o que é moralmente correto ou não, o que apreciamos ou não.

Nessa direção, algumas escolas de desenvolvimento salientam a importância de exercícios de


autorreflexão, em que confrontamos nossas interpretações a partir da separação entre o que queremos
(base de nossas preferências emocionais) e o que precisamos fazer (base de nossa mente racional) para,
por exemplo, definir e priorizar tarefas de rotina.

Com base nos aprendizados de nossa aula, construa a tabela do mapa de autogestão abaixo,
considerando atividades que estão no seu “to do list”, ou seja, que você deseja ou precisa fazer, mas não
consegue bem priorizar. Comece preenchendo a coluna da esquerda, da mente emocional, em seguida
passe para a coluna da direita, da mente racional, e finalize priorizando o que fazer e descartando o que
não é relevante:

O que quero fazer O que preciso fazer O que decido fazer


(Mente Emocional) (Mente Racional) (Pensamento Autodirigido)
1. 1. 1.
2. 2. 2.
3. 3. 3.
4. 4. 4.
5. 5. 5.
Tabela 1 | Mapa mental de autogestão. Fonte: adaptada de Nelson, Low, Hammet e Sen (2013, p. 143).
Considere agora uma previsão de prazo para as atividades elencadas, prevendo uma ordenação para elas
considerando o que é prioritário (ordem de importância) e o que é urgente (ordenação por prazo),
organizando tudo em uma agenda de ação para as próximas.
AULA 02 – O JEITO POSITIVO DE VER A VIDA

Introdução

A psicologia positiva traz uma visão moderna de ser humano, em que as potencialidades, virtudes e
melhores qualidades são colocadas em evidência.

Inspirados nos autores Martin Seligman e Barbara Fredrickson, nesta aula falaremos sobre o valor
do otimismo, em como podemos aprender a ver o copo “meio cheio” e como podemos provocar uma
espiral positiva em nossa vida a partir da ativação de emoções positivas.

Em seguida, abordaremos as bases do comportamento reflexivo, em que passamos da resposta


automática para a ação intencional. Por último, traremos lições de felicidade que podem ser aplicadas
em nossa prática autorreflexiva.

A intenção de nossa aula é projetar algumas qualidades de nosso eu ideal, promovendo formas
positivas e construtivas de comportamento.

Bons estudos!

Parte 02: UMA VISÃO POSITIVA PARA O HUMANO

Vimos na última aula que a psicologia humanista trouxe respostas para a compreensão de ser humano
que nem a psicanálise nem o comportamentalismo haviam trazido. Já em seus primeiros textos, Abraham
Maslow (1954) apontava a necessidade de criação de uma psicologia positiva, que saísse da preocupação
com doenças mentais e focasse nas virtudes e no potencial do ser humano. Décadas depois, considerando
que precisamos ver tanto os aspectos negativos (como psicopatologias, nossos erros e instintos
destrutivos) como positivos do ser humano (como valores, virtudes, produção de sentido e emoções
positivas, entre outros), com mais ênfase no último, surge o movimento da Psicologia Positiva,
capitaneado por Martin Seligman, Barbara Fredrickson e diversos autores contemporâneos na sequência.

Um dos mais proeminentes temas de estudo da Psicologia Positiva é o otimismo, considerado como
“tendência a esperar o melhor” da vida, ainda que as situações não nos sejam favoráveis. Ele aparece
em oposição ao pessimismo, pelo qual assumimos que as coisas vão continuar ruim ou piorarem.
Seligman (2006) acredita que podemos aprender a ser otimistas e, com isso, obtermos mais facilmente
bons resultados de nosso comportamento ou, no mínimo, nos recuperarmos mais rápido dos vieses da
vida. De acordo com ele, formas habituais de pensar não precisam ser para sempre e uma das mais
significativas descobertas da psicologia nos últimos anos é que os indivíduos podem escolher a forma
como pensam.

As emoções positivas

Antes de considerarmos o papel de nossas emoções positivas, vamos relembrar por que temos
emoções negativas. O que emoções como medo e raiva fazem é sinalizar situações que requerem nossa
atenção e disponibilidade de resposta imediata. Da mesma forma, o mecanismo de resposta automática
da luta-fuga permite que tenhamos ações de autoproteção e possamos garantir a nossa sobrevivência.
Ainda, o nojo e a tristeza surgem para que possamos lidar com nossas preferências pessoais e possamos
trabalhar nossas perdas. Porém, se prolongadas em nosso corpo e alimentadas por nossos pensamentos,
as emoções negativas se tornam aflitivas (LAMA; CUTLER, 2000). Como já estudamos na Unidade 1,
nossas emoções são orientadas por nossos valores pessoais. E nesse ponto é interessante pensar o papel
específico das emoções positivas.

As emoções positivas não são tão estudadas como as emoções negativas. De acordo com Fredrickson
(2009), o propósito principal de nossas emoções positivas é fazer com que nos sintamos bem em relação
à vida, razão pela qual nos estudos em inglês os autores se refiram a elas como “feels good emotions”
(emoções para nos sentirmos bem). Em contraste com as negativas, as emoções positivas permitem uma
expansão criativa ao nosso pensamento e oferecem recursos adicionais para o nosso comportamento em
quatro categorias:

INTELECTUAL A partir de habilidades de solução de problemas.


FÍSICA Promovendo força e saúde cardiovascular.
SOCIAL Facilitando a qualidade dos relacionamentos e a quantidade de amigos e
conexões.
PSICOLÓGICA Desenvolvendo habilidades de resiliência e otimismo.

Em resumo, a experiência das emoções positivas oferece uma “espiral positiva” de efeitos físicos,
comportamentais e psicoemocionais, nos preparando para lidarmos com os desafios da vida.
Parte 03 – COMPORTAMENTO REFLEXIVO

O comportamento humano é em boa parte automático, acontecendo sem participação de nossa


consciência ou pensamento que o anteceda. No entanto, cada vez que reagimos a uma situação, seja na
interação com estressores ou em um evento qualquer da vida, existe a possibilidade de direcionar o
comportamento, para que passe de reativo a reflexivo.

O comportamento reflexivo é aquele que traz o que escolhemos fazer, deixando assim de ser
automático. Nesse caso, há uma brevíssima, mas fundamental pausa, suficiente para que nossa
inteligência emocional seja acionada e possamos substituir a reação automática pela ação intencional.
Isso não quer dizer que as respostas automáticas não sejam necessárias, já que dizem respeito a rotas
evolutivas de nosso comportamento, em que a mente emocional é acionada de forma que tenhamos uma
resposta rápida diante de algo importante que merece nossa atenção, como alguém nos atacando ou um
perigo imediato que ameace nossa sobrevivência. Assim, o comportamento autodirecionado ou reflexivo
corresponde à integração das mentes emocional e cognitiva, de forma que se favoreça nosso
desempenho e nossa saúde como um todo (NELSON; LOW; HAMMETT; SEN, 2013).

Sabe quando estamos procurando a melhor rota para chegarmos em um determinado lugar? Vamos
pegar como exemplo o aplicativo Waze. Antes de nos posicionarmos para mover o carro, é necessário
parar e digitar nosso “destino”. Em seguida, o aplicativo oferece a melhor rota para chegarmos lá,
baseado em critérios que já selecionamos de antemão (mais rápida, mais segura, mais bonita, etc.). Se
por acaso mudarmos de destino, o aplicativo buscará novas rotas, sempre tendo por base o caminho
possível para se chegar onde se quer.
De forma semelhante acontece com nosso cérebro, com a diferença que na maior parte das vezes não
temos muita clareza de onde queremos chegar. Por isso, nossas rotas tornam-se confusas e mudam o
tempo todo. É preciso então reconfigurar o sistema e partir do começo: nosso destino desejado.
Mas como podemos fazer isso? Nosso cérebro pode ser estimulado pela imaginação, assim como
pela percepção do que acontece em tempo real. Isso porque a mente emocional não distingue entre uma
imagem imaginada e uma real. Dessa forma, a imaginação torna-se uma poderosa ferramenta para a
mudança pessoal. Técnicas de imaginação ativa nos colocam em situações de melhor desempenho, em
que atuamos exatamente como desejamos. Nesse processo, entendemos que o melhor cenário é uma
realidade possível de ser alcançada. Por isso é tão importante nos questionarmos: onde queremos
chegar? Qual é a situação por nós desejada? Só respondendo essas perguntas sobre uma visão de futuro
desejado é que chega o momento de buscar a colaboração da mente racional e de afirmar: “ok, agora
que esse cenário é possível e tangível em minha melhor visualização, é hora de me colocar em ação e
caminhar para chegar lá”. Sem dúvida traçar o plano de ação e a agenda de atividades é muito mais fácil
após termos delimitado qual é nosso destino desejado.

Parte 04 – LIÇÕES DE FELICIDADE

Com o que vimos até aqui, poderíamos resumir que temos sentimentos positivos em relação a pessoas
ou coisas das quais queremos nos aproximar, enquanto temos sentimentos negativos daquilo que
queremos nos afastar. Assim, o componente comum de todas as emoções negativas é a aversão, assim
como o componente comum das emoções positivas é a aproximação (“me dê mais disso, me faz sentir
bem!”) (SELIGMAN, 2019).

Após essa breve reflexão sobre nossos sentimentos e o valor de nossas interpretações na construção
da realidade, uma pergunta justa é: por que nos sentimos felizes? Ou ainda: será que a felicidade é algo
que trazemos conosco, como uma “capacidade” de ver algo bom em tudo que vivemos?

De acordo com Seligman (2019), a resposta é sim, temos predisposições genéticas para sermos mais
risonhos e bem-humorados, por isso existem pessoas que são, por natureza, mais felizes. Afinal, todo
mundo conhece aquela pessoa que, a despeito das poucas posses ou conquistas pessoais, está sempre
sorridente e bem-disposta, não é mesmo? Isso significa que a felicidade tem em si um componente de
personalidade. Porém também podemos aprender a nos sentirmos assim. Novamente faz-se presente
a composição dupla de nature (genética) e nurture (criação), que já mencionamos em aulas anteriores.

Alguns hábitos contribuem para que possamos reter a felicidade por mais tempo. Por exemplo,
estudos mostram que pessoas felizes conseguem reter por mais tempo suas experiências positivas,
inclusive pensando que ocorrem em maior número. Fato exatamente oposto às pessoas que se sentem
infelizes: elas só conseguem lembrar do que dá errado. Outro exemplo é que pessoas felizes vivenciam
o momento presente com mais intensidade.

Isso me faz lembrar de um dos melhores livros de psicologia positiva que tive o privilégio de
encontrar: Conversas com Minha Gata, de Eduardo Jáuregui (2015). O livro conta a história de Sara,
que, prestes a fazer quarenta anos, descobre que não é feliz. Seu trabalho não a motiva mais e seu
relacionamento com o namorado não é mais o mesmo. Como resposta de uma fase de exaustão
emocional, ela experimenta um colapso nervoso e passa a ouvir uma elegante e misteriosa gata amarela,
chamada Sibila. A gata traz conselhos tão interessantes quanto ensinamentos de um mestre Jedi e ensina
Sara a viver no momento presente, apreciando inteiramente sua experiência de vida, diminuindo o poder
das emoções negativas e dos pensamentos que transitam entre o passado e o futuro.

“O sentido da vida? Deixe de bobagem. Só existe uma coisa que você precisa saber: ao comer,
coma; ao caminhar, caminhe” (Sibila, a gata). (JÁUREGUI, 2015, p. 69)

Pegando emprestado um dos questionamentos feitos por Sibila, trago para nós uma reflexão para
você responder: Que motivos você tem para ser feliz?

Procure trazer com carinho aquelas situações, pessoas e acontecimentos que contribuem para sua
felicidade. Não se apresse na resposta. Depois avalie: você se sente mais feliz, só por pensar a respeito?
Explique como.

Parte 05 – VIDEOAULA: O JEITO POSITIVO DE VER A VIDA

Quando nossas melhores virtudes e potencialidades são colocadas em evidência, podemos modificar
nosso comportamento e transformar positivamente nossas vidas. Nesta aula, falamos sobre otimismo,
emoções positivas e compreendemos as bases para o comportamento reflexivo ou auto-orientado.
Finalizamos com lições de felicidade, em que utilizamos a positividade para alcançarmos o máximo de
nosso potencial.
AULA 03 - TEMAS FUNDAMENTAIS PARA A AUTOGESTÃO

Introdução

Vivemos totalmente conectados, sendo a todo momento acessados por informações e mensagens de
texto ou imagem. Esse excesso de disponibilidade desafia nosso controle do tempo e torna difícil
cumprir com a programação que fazemos para nossos dias.

Nesta aula, falaremos sobre as premissas para a autogestão e o valor de administrar nosso tempo a
partir da energia. Traremos algumas dicas de como recuperar o controle e falaremos sobre hábitos que
permitem desenvolver resiliência, respondendo com maior efetividade aos desafios cotidianos.

Ao final da aula, espera-se que você possa fazer uso de algumas práticas de autogestão e reflita sobre
seus hábitos atuais, modificando-os quando necessário e contribuindo assim para o próprio
desenvolvimento.

Parte 02 - PERGUNTAS DE BASE PARA A GESTÃO DE SI MESMO

Os modelos de carreira modificaram-se imensamente a partir dos anos 1990. Antes da chegada da
internet e, com ela, de toda a gama de profissões e informações que o mundo digital proporcionou –, era
comum planejarmos uma profissão “para a vida”. Esse antigo pacto foi quebrado assim que as pessoas
não puderam mais contar com trilhas de carreira em uma mesma organização e precisaram se
responsabilizar por sua jornada de desenvolvimento.

Atualmente, estão em vigor os novos modelos de carreira, em que não dependemos mais de uma
organização para apontar nossa contribuição no mundo, ao contrário, estamos constantemente polindo
nossas competências técnicas e socioemocionais, nos preparando para cada novo desafio profissional
que se configura. Saímos do enfoque no trabalho e na organização para o enfoque no indivíduo, bem
como suas aspirações e potencialidades.

Assim, a autogestão de si mesmo e da carreira torna-se mais uma das competências do mundo do
trabalho. Precisamos constantemente reavaliar nossa posição e verificar se estamos usando nosso melhor
potencial naquilo que fazemos. Pensando nessa autonomia de se autorregular, Drucker (2018) traz
algumas perguntas fundamentais (Tabela 1) para respondermos, de forma a nos posicionarmos em
relação a nossas competências pessoais. São perguntas que podemos nos fazer a qualquer momento, de
maneira a provocar uma reflexão que sirva para movimentar nossa cognição em direção à autogestão e
excelência pessoal. Elas englobam nossas características pessoais, nossos valores e a forma como nos
relacionamos com o trabalho, bem como que tipo de contribuição podemos prestar.

COMO EU Procure identificar de que forma você trabalha melhor, se sozinho ou


TRABALHO acompanhado de outros, se com música de fundo ou sem nenhuma
MELHOR? interferência. Ainda, se é melhor tomando decisões ou dando conselhos e se
prefere uma rotina estrutura ou desafios surpreendentes.
QUAIS SÃO Realize inventários para conhecer seus valores pessoais (Beleza,
MEUS VALORES? Aprendizado, Bondade, Justiça, Desafio, etc) e reconheça se a organização
em que você atua e sua vida em geral estão em consonância com esses valores
(ao final desta aula, na seleção. Saiba mais, temos o link para o inventário on-
line gratuito de valores pessoais).
QUE CARREIRA Lembre-se de que estamos constantemente construindo nossa carreira.
DEVO SEGUIR? Analise seus pontos fortes, estilo de trabalho preferindo e seus valores,
identificando-se se complementam.
QUAL DEVE SER Para responder a essa última pergunta, é fundamental utilizar horizontes
MINHA curtos de análise, considerando o que é necessário em cada situação ou seja
CONTRIBUIÇÃO? considere que, a partir de suas potencialidades, jeito de atuar e valores pode
ser feita a melhor contribuição possível.
Tabela 1 | Perguntas de base para a gestão de si mesmo.

Parte 03 - O VALOR DA ADMINISTRAÇÃO DO TEMPO

O ritmo do trabalho na vida moderna é cada vez mais acelerado. Por um lado, temos diversos
aplicativos e facilitadores para nossa organização das ideias e do tempo, por outro, estamos com muitas
“janelas mentais” abertas, pois estamos expostos a mais informação e mais interação. Antigamente,
cerca de 10 anos atrás, as pessoas abriam suas caixas de e-mail e levavam a primeira meia hora da manhã
para respondê-los, quem sabe também a primeira hora da tarde. Com o advento da comunicação
instantânea, no entanto, por meio de Snapchat, WhatsApp e outros meios, ficou quase impossível
terminar uma tarefa sem que sejamos em algum momento interrompidos em nosso fluxo de raciocínio
por algum tipo de notificação. Em muitas atividades profissionais, o excesso de reuniões coloca mais
pressão no sistema, fato que se multiplicou enormemente no período mais crítico da pandemia, quando
as pessoas saiam de uma reunião virtual para outra e sobrava pouco tempo para execução das tarefas
acordadas.

Como resposta a isso, muitas pessoas entendem que o ideal é aumentar a carga horária em torno das
respostas e das tarefas, o que causa prejuízos físicos, emocionais e mentais. Eis que o tão sagrado turno
da noite, que era usado para relaxarmos e prepararmos nosso corpo para o descanso é, em muitos casos,
utilizado para finalizar as tarefas administrativas, cuidar da casa, realizar um curso de aperfeiçoamento.
E assim, apesar de toda tecnologia, trabalhamos cada vez mais e temos cada vez menos tempo livre.

O problema de aumentar nossa carga horária de trabalho é que o tempo é um recurso finito, assim
como nossa disposição e disponibilidade cognitiva. Não é porque estamos à frente da tela que
conseguimos produzir magicamente todas as soluções, é preciso que tenhamos as informações
necessárias e a atenção concentrada, no mínimo. Como então tirar o máximo possível do tempo que
temos?

De acordo com Schwartz e McCarthy (2018), precisamos reabastecer nossas fontes de energia física,
emocional, mental e espiritual. Isso pode ser feito a partir de rituais e programações de otimização,
resumidas na Tabela 2.

ENERGIA - Melhore o sono, indo para cama mais cedo e não ingerindo bebida alcóolica;
FÍSICA - Reduza o stress fazendo atividades cardiovasculares pelo menos 03 vezes por
semana;
- Faça pequena refeições, com lanches leves a cada 03 horas;
- Aprenda a identificar sinais de baixa energia (Bocejos, Fome, Dificuldade de
Concentração) e aproveite para se alongar;
- Faça pausas curtas e regulares, se afastando do trabalho de cada 90 ou 120
minutos.
ENERGIA - Faça respiração abdominal profunda para neutralizar emoções negativas;
EMOCIONAL - Cultive emoções positivas em si e nos outros, manifestando reconhecimentos;
- Observe situações perturbadoras com lentes reversas, perguntando-se o que pode
aprender a respeito ou qual podem ser os motivos do outro.
ENERGIA - Durante tarefas de alta concentração, evite ficar perto de telefone ou e-mail;
MENTAL - Estabeleça horários predeterminados para responder mensagens, inclusive as
instantâncias;
- Antes de dormir identifique qual é o maior desafio do dia seguinte, transformando
em propriedade ao chegar no trabalho.
ENERGIA - Identifique suas atividades prediletas, aquelas que lhe fornecem satisfação sem
ESPIRITUAL esforço;
- Dedique tempo ao que considera mais importante;
- Identifique e viva em sintonia com seus valores fundamentais.
Tabela 2 | Práticas para renovar a energia pessoal. Fonte: adaptada de Schwartz e McCarthy
(2018, p. 71-72).
ANOTAÇÕES: - Recuperando o controle

01 - Hobbies;
02 - Foco no que é importante;
03 - Identifique e viva em sintonia com seus valores

Parte 04 – EXERCITE SUA RESILIÊNCIA

“Nossa maior glória não é nunca falhar, mas sim nos erguermos a cada vez que falhamos.” Confúcio
(apud CASTRO, 2016, p. 64)

Todos nós em algum momento da vida precisamos lidar com situações adversas, mas por que razão
algumas pessoas conseguem sair das dificuldades da vida renovadas enquanto outras permanecem por
muito tempo abatidas? Será que existe uma maneira de melhorar nossa capacidade de administrar e
superar obstáculos inesperados, transformando as crises em oportunidades de crescimento?

Sobre essas questões tratamos quando pensamos em resiliência. Ao contrário do que possa parecer,
resiliência não diz respeito a suportar as pressões da vida – isso seria resistência –, mas sim ser capaz
de retornar a nosso melhor eixo o mais rápido possível, logo após uma adversidade.

Mais especificamente, quando falamos de resiliência nos referimos à nossa habilidade de seguir em
frente diante das dificuldades, de retornar a nosso melhor o mais rápido possível, após algum infortúnio
e manejar nossas emoções negativas de forma mais efetiva ao invés de deixá-las nos levar em uma
espiral de negatividade (GREENVILLE-CLEAVE, 2012).

Normalmente, pensamos que a resiliência é um traço de personalidade, uma característica que


algumas pessoas têm e outras não. Na verdade, a resiliência também pode ser aprendida. Ainda,
pesquisas sugerem que se tornar resiliente em um domínio da vida, por exemplo no trabalho, pode ajudar
na resiliência em outras áreas, como nos relacionamentos.

De acordo com o Hanson (2019), existem práticas que contribuem para vivenciar, desenvolver e
utilizar recursos mentais fundamentais para o bem-estar resiliente. O autor elencou 12 potencialidades
que se sustentam muito mutuamente e contribuem para a vida resiliente, como pontos de uma rede. Elas
são: compaixão, atenção plena, aprendizado, garra, gratidão, confiança, calma, motivação, intimidade,
coragem, aspiração e generosidade. Essas potencialidades contribuem para que possamos reconhecer
nossos estados emocionais, buscar recursos internos para fazer frente às adversidades, gerenciar nossas
emoções negativas e nos relacionarmos mais ativamente com as outras pessoas, promovendo em nós
emoções positivas.

Para que possamos praticar, elaborei duas práticas que considero simples e extremamente relevantes,
uma para diminuir o efeito de emoções negativas e ativar calma e outra para ativar estados emocionais
positivos, a partir da gratidão.

Exercício 1 – PROLONGUE SUA RESPIRAÇÃO

Quando prolongamos nossa expiração, acionamos naturalmente nosso sistema nervoso


parassimpático e conseguimos acalmar o nosso corpo. Experimente: respire profundamente, enchendo
os pulmões de ar. Faça uma breve pausa e em seguida expire lentamente, pela boca, pressionando o ar
levemente na passagem pelos lábios, prolongando a expiração. Faça uma breve pausa ao final da
expiração e inspire novamente. Repita esse procedimento de inspirar, pausar, exalar, pausar por seis
vezes, sempre exalando todo o ar que há nos pulmões. Ao final, perceba como você fica mais calmo e
centrado. Sorria.

Exercício 2 – ENCONTRANDO GRATIDÃO

Inspire profundamente e relaxe. Para facilitar sua prática, mentalize essas instruções ou grave, para
seu melhor aproveitamento. Quando estiver bem relaxado, após três longas inspirações e expirações,
pense em alguém que você aprecia muito e que lhe quer muito bem. Lembre-se de coisas que essa pessoa
lhe proporcionou ou de momentos que passaram juntos. Toque em seu coração. Perceba como você foi
afortunado em ter essa pessoa em sua vida e mentalmente agradeça a presença dela em seu coração.
Agradeça o que compartilharam juntos e deseje que ela esteja bem e seja feliz.

Parte 05 – VIDEOAULA: TEMAS FUNDAMENTAIS PARA A AUTOGESTÃO

Iniciamos nossa aula com algumas perguntas de base para a compreensão da autogestão, que
englobam questões ligadas a características pessoais, valores, carreira e contribuição. Em seguida,
salientamos a importância de administrarmos nossa energia para corpo, mente, emoções e espírito.
Finalizamos com alguns exercícios para ampliar a resiliência, facilitando que recuperemos o controle da
situação logo após a exposição a emoções aflitivas.
AULA 04 – FAZENDO ACONTECER

Introdução

Vivemos uma época sobrecarregada de opções e possibilidades de escolha, em que a constante


mudança nos deixa atordoados frente ao futuro. Isso nos torna ansiosos e preocupados em relação aos
caminhos possíveis e às melhores rotas de aprendizagem em nosso processo de autodesenvolvimento.

Abrimos nossa aula falando sobre o valor das escolhas na vida pessoal e carreira e como nossas
expectativas precisam ser bem administradas para não serem um peso em nossa rotina.

Em seguida, consideraremos os elementos do bem-estar e o que torna os relacionamentos positivos


ou tóxicos. Na sequência, falaremos de motivação como energia de base para nossas realizações.

Como resultado desta aula, espera-se que você possa praticar hábitos que contribuam para realizar
seus sonhos e ter satisfação com a vida.

Parte 02 - O VALOR DE CADA ESCOLHA

Nossa vida é permeada de constante transformação. Seja no trabalho ou na vida pessoal, tudo que
sabemos é que a mudança é parte inerente de nossa existência. Tecnologias que antes nos eram úteis,
hoje se tornam obsoletas. Competências que adquirimos nos primeiros anos de formação agora parecem
desatualizadas. E pensar nisso tudo nos causa desconforto e mal-estar, porque não podemos prever ou
antecipar o futuro. Mas não precisa ser assim.

Como representante de uma geração que chegou ao mercado de trabalho antes da chegada dos
primeiros scanners, antes mesmo da internet, cheguei a ter uma profissão atualmente extinta: typist.
Quando morei no exterior, meu trabalho era datilografar documentações para fins de arquivo. Era eu
aplicando as lições aprendidas no início dos anos 1990, na Escola Tecla de digitação, lá no interior do
estado do Rio Grande do Sul, em Alegrete. Por outro lado, a habilidade de digitar com os dez dedos me
trouxe uma habilidade útil na produção das aulas e dos artigos, algo que faço com frequência em minhas
atividades de professora e facilitadora de treinamentos. O que exemplifica uma outra realidade: tudo
que aprendemos pode ser reconfigurado e compõe, em uma análise mais detalhada, o que sabemos e
somos no dia de hoje. Competências se combinam, habilidades se complementam.

Estudos na área da psicologia positiva sugerem que o sentimento de que estamos no controle de
nosso destino é vital para a nossa saúde psicológica e que a limitação de nossas escolhas pessoais pode
reduzir o bem-estar. Escolher significa ter liberdade para viver e para nos expressarmos como
indivíduos. Porém, ter muitas opções para escolher também causa estresse (GREENVILLE-CLEAVE,
2012).

Há mais de cinquenta anos, Toffler (1970) entendeu que lidar com a mudança e a escolha nos traz
uma variedade muito grande de sentimentos. Ele chamou a constante reação à mudança e à diversidade
de opções de future shock, algo como um choque ou uma dificuldade de adaptação na nossa tentativa
de lidar com o futuro. Ele teorizou que encarar muitas opções de escolha, em um curto período, configura
uma dificuldade de processamento de informação que pode tornar nossas reações mais lentas, assim
como nossas decisões, e ainda causar efeitos psicológicos indesejados, como depressão, estresse e
comportamento neurótico. O que dizer então de nossa realidade, com tantos aplicativos, opções de
entretenimento e aprendizado e distrações digitais? Vivemos uma época sobrecarregada de
possibilidades de escolha!

Como então escolher com base no que é melhor para nosso autodesenvolvimento tendo tantos
caminhos como opção? Uma boa alternativa é deixarmos de lado a noção da “escolha perfeita” e
aceitarmos a possibilidade da melhor escolha possível. Para isso, é fundamental diminuir o peso de cada
decisão e aceitar as coisas como são e como se apresentam, sem alimentar expectativas.

Parte 03 - ELEMENTOS DO BEM-ESTAR E RELACIONAMENTOS POSITIVOS

A felicidade é a satisfação com a vida. Quando estamos felizes, nos sentimos bem, é fácil fazer qualquer
tarefa, somos cercados de leveza. Esse “bem-estar” é composto de vários elementos e nenhuma parte
específica da vida pode explicá-lo, sendo influenciado por múltiplos fatores.

Na busca por compreender os elementos que compõem o bem-estar, Seligman (2011) chegou em cinco
fatores, todos intercambiáveis e ao mesmo tempo independentes: emoção positiva, engajamento,
sentido, relacionamentos positivos e realização. Na Tabela 1, apresentamos cada um deles.

EMOÇÃO POSITIVA Diz respeito à vida agradável e à presença de sentimentos como alegria,
orgulho, satisfação, esperança, gratidão, amor, prazer, afeição, entre tantas
outras que nos fazem “sentir bem”;
ENGAJAMENTO Medida do quanto nos sentimos absorvidos por nossas tarefas, inclusive
de certa forma ausentes de sentimentos e pensamentos, tão somente
experimentando o que fazemos (Flow);
SENTIDO Ato de pertencer e servir a algo maior que nós mesmos, possibilidades de
encontrar significado direção e orientação naquilo que fazemos;
REALIZAÇÃO Possibilidade de obter o que se deseja, aquilo que afetivamente
conquistamos como efeito de nossos esforços;
RELACIONAMENTO Consideradas o melhor antidoto para momentos ruins da vida, as outras
POSITIVOS pessoas são parte inerente a uma vida de bem-estar.
Tabela 1 | Elementos do bem-estar. Fonte: adaptada de Seligman (2011, p. 27-28).

O valor dos relacionamentos saudáveis

De todos os elementos para o bem-estar, o que é mais independente apenas de nós mesmos, aquele
que define nossa interação com o mundo, é o de relacionamentos, por isso vale aqui um pouco mais de
detalhamento. De fato, em todos os modelos para construção de uma vida próspera e feliz aparecem os
relacionamentos como elemento-chave, mais inclusive que conquistas materiais. Aqueles com os quais
compartilhamos nossa caminhada importam mais que o próprio caminho. Afinal, é fácil perceber como
nossas conexões com outras pessoas trazem grande contribuição para a nossa saúde física e psicológica.

O contrário também acontece. Quando estamos sob efeito de relacionamentos tóxicos, todas as áreas
de nossa vida começam a decair: trabalho, autocuidado, espiritualidade, até mesmo nossa motivação.
Um relacionamento é tóxico quando nos fazem sentir insegurança, medo, culpa ou inadequação, quando
sentimos que nossa identidade não é valorizada ou quando somos desrespeitados em nossa autonomia e
forma de ver o mundo.

Mas o que caracteriza um relacionamento positivo ou saudável? Além de nos proporcionar emoções
positivas, existem características na interação com pessoas saudáveis que vale a pena reforçarmos.
Pessoas saudáveis (SARKIS, 2019):

01 Incentivam a expressão de opiniões, ainda que não concordem com tudo o que dizemos.
02 Dizem o que sentem e sentem o que dizem, ou seja, são sinceras.
03 Dizem de forma direta e gentil quando você as magoou.
04 São capazes de compartilhar ideias e sentimentos, favorecendo a afetividade da relação.
05 Confiam nos outros.
06 Têm comportamentos genuínos, relacionados a seus valores.

É fácil ler essa lista e pensarmos que por vezes nós mesmos não somos assim tão saudáveis ou que
as pessoas “tropeçam” em seus comportamentos e nem por isso vamos descartá-las de nosso círculo de
amizades. A questão aqui não é acertar sempre, mas ter em mente que o relacionamento positivo é
nutridor, nos faz sentir bem, enquanto o relacionamento tóxico nos traz sentimentos negativos. Por isso,
caminhar em direção ao bem-estar compartilhado é a melhor intenção que podemos ter em qualquer
relacionamento.

Parte 04 – MOTIVAÇÃO NA BASE DA REALIZAÇÃO

Em nossas aulas, falamos sobre a importância de conhecermos nossas forças e fraquezas e termos
um norte, sabermos aonde queremos chegar. Um elemento que falamos pouco até aqui e que faz toda a
diferença nesse espaço entre o eu real e o eu ideal é a motivação. Motivação é a energia que nos leva a
agir, o motor de nosso comportamento, o “motivo para a ação”.

Um motivo é um processo interno que energiza e direciona o comportamento. Esses motivos podem
ser internos, dizendo respeito a nossas próprias necessidades, emoções, crenças e pensamentos, ou
externos, como dinheiro, conquistas materiais ou aprovação social (REEVE, 2006).

É interessante perceber o que causa a falta de motivação. Essa ausência de energia vital em nosso
comportamento nos torna apáticos. Desmotivados deixamos de acreditar em nosso potencial,
interrompemos o investimento da energia para a ação, não temos mais direção ou propósito. Nos
tornamos invisíveis e pouco interessantes.

Por outro lado, não é preciso muito esforço para ver a motivação manifesta no comportamento de
outras pessoas. Basta que estejam executando alguma tarefa e, se estiverem motivados, será possível ver
o grau de engajamento, a disposição física, a persistência, a concentração de esforços. A motivação é
também contagiosa: eis que motivamos mais quando estamos motivados.

Quando estamos motivados, nosso comportamento é direcionado e energizado, não é preciso muito
esforço para a consecução de nossos objetivos porque nos “fundimos” àquilo que está sendo realizado.
Assim, somos mais realizadores – tornamos real nossa intenção – quando estamos motivados. Como
então podemos ampliar nossa motivação? O que fazer para fornecer energia e motivo à nossa ação?

De acordo com Goleman (2019), a motivação é parte inerente ao processo de autogestão das
emoções. A pessoa motivada é aquela ativada por suas conquistas e algumas características de seu
comportamento são a paixão pelo trabalho e novos desafios, disposição incansável para melhorar e
otimismo diante do fracasso.

Eis aqui então algumas características de pessoas que têm o comportamento motivado:
01 Elas estão sempre buscando melhorar seu desempenho e gostam de saber como estão se
saindo.
02 Elas são otimistas, procurando sempre ver o lado bom das coisas e não esmorecendo quando
algo dá errado.
03 Elas são abertas e curiosas, gostam de descobrir novas formas de fazer as coisas.
04 Elas persistem, não esperando resultados imediatos de suas ações.

Uma das formas mais simples de nos motivarmos é buscarmos reproduzir o comportamento
motivado. Isso porque a própria ação mobiliza nossos esforços e coloca em marcha o movimento da
motivação. Quer ver um exemplo? Vamos imaginar que você tenha um roupeiro cheio de roupas
bagunçadas para arrumar. O que lhe traz mais motivação para arrumar: imaginar formas de organizar as
roupas e fazer listas do que você precisa consertar, guardar e colocar para doação ou imediatamente
pegar três baldes para fazer a separação e iniciar a arrumação? O ato de realizar é o motor da motivação.

Parte 05 – VIDEOAULA: FAZENDO ACONTECER

Decidir não é uma tarefa fácil, especialmente com o excesso de opções que temos hoje em dia e o
alto nível de expectativa em relação ao que podemos alcançar. Nesta aula, vamos falar sobre o valor de
nossas escolhas e sobre os elementos do bem-estar. Como parte disso, compreendemos as características
de relacionamentos saudáveis e finalizamos falando sobre motivação como base para uma vida cheia de
realizações
AULA 05 – COMANDO E CONTROLE

Você foi contratado para trabalhar no RH em uma organização que poderia ser descrita como “o
quartel general do comando e controle”.
Tudo e todos são regidos por normas, procedimentos, indicadores, métricas e sistemas.

Você percebe a desmotivação no olhar das pessoas enquanto caminha pelos corredores e salas. No
entanto todos têm muito medo de tentar impor mudanças nessa situação.

Nos últimos 2 anos a organização se viu de cabeça para baixo: os protocolos sanitários impuseram
mudanças radicais, sobre as quais a empresa não teve como resistir, embora uma série de novos controles
tenham sido implementados para monitorar à distância o que os funcionários-chave estavam fazendo de
suas residências.

Você recém concluiu uma formação em que tomou contato com os conceitos de resiliência e do poder
das emoções positivas para melhoria do desempenho das pessoas da organização e também da
capacidade de resposta e recuperação em caso de adversidades.
Você não acredita no caminho que a empresa está seguindo, cultivando emoções negativas de medo
e raiva na direção oposta.

Os diretores percebem que alguma coisa diferente precisa ser feita, pois a rotatividade da empresa
está aumentando.
Anteriormente localizada em níveis operacionais e administrativos, cargos de liderança e
coordenação estão ficando vagos.

Eles estão dispostos a participar de uma sensibilização sobre mudança organizacional e desejam um
plano de ação focado na retenção de lideranças da empresa.

Quais assuntos você traria para essa sensibilização? Descreva e tópicos principais que você abordaria
e porque escolheu esse tópico.

Quais seriam as linhas gerais de seu plano de ação para os gestores?


Descreva pela menos 2 atividades que buscaria implantar o mais breve possível na empresa.

Possível resposta:
SENSIBILIZAÇÃO AÇÕES COM OS LÍDERES
- Os tópicos deveriam ser relacionados à - Em função da importância do contágio
importância das emoções positivas no ambiente emocional a partir da posição de liderança,
de trabalho, mostrando como as práticas atuais de incluindo a própria direção, poderiam ser
comando e controle despertam o medo e a raiva recomendados treinamentos de desenvolvimento
nos relacionamentos, levando ao stress e de habilidades de inteligência emocional.
eventualmente sendo fatores que contribuem para
a alta rotatividade. - Práticas de relaxamento e mindfulness também
podem ser introduzidas aos gestores interessados.
- Também poderia ser incluída na pauta a questão
da resiliência e da importância de promover
autonomia e bem-estar para que os colaboradores
possam ter mais capacidade de resposta à
situações adversas.

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