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Belo Horizonte – MG
2020/2
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Belo Horizonte – MG
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus: meu criador, a fonte de força, a energia suprema, o dono do tempo e
da minha vida.
Agradeço à minha mãe: amor da minha vida, a mulher das mulheres, a parceira, o grande
incentivo, a maior das maiores.
Agradeço ao meu irmão: o companheiro de sangue, o motivador, o apaziguador.
Agradeço ao meu esposo: o ombro amoroso, o acolhimento diário, o suporte dos
suportes, o exemplo de marido, meu coração.
Agradeço aos meus amigos Guilherme, Fernanda, Anna Carolina, Hellen, Letícia,
Michaela, Daniel, Eduardo, Maria Fernandina, Judson, Maria Eduarda, Paulo, Larissa, Shirlene,
Bárbara, Marcelo: a luz, a energia, o encorajamento, o aprendizado, o exemplo.
Agradeço ao Professor Jairo Carvalhais: poço de compreensão, de inteligência, de
carisma, de cuidado, de afeto; um profissional raro, um docente incomparável, um grande
mestre.
Agradeço à UFMG: o lugar dos sonhos e das realizações, a morada dos estudos e da
transformação, o palco da ciência e da humanidade, o melhor lugar para ser o melhor de si.
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“É a linguagem que permite ao homem pensar e agir. Pois não há ação sem pensamento, nem
pensamento sem linguagem.”
Patrick Charaudeau
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RESUMO
Segundo Charaudeau (2019 [2008]), aquele que argumenta vale-se de uma convicção que visa
à persuasão de outrem, com a finalidade inquestionável de modificar seu comportamento.
Assim, sendo a argumentação, então, uma prática essencial entre os indivíduos, tal habilidade
é exigida na prova de produção escrita do maior processo seletivo para ingresso nas
universidades do Brasil: o ENEM. Partindo dessa perspectiva, o presente trabalho tem como
objetivo apresentar uma pesquisa que analisa, à luz da Teoria Semiolinguística do Discurso
(Charaudeau, 2005, 2007, 2019 [2008]), a construção da encenação argumentativa em redações
com nota máxima no ENEM/2018, buscando caracterizar nesses textos o funcionamento do
dispositivo argumentativo e os procedimentos discursivos, semânticos e etóticos colocados em
cena pelos sujeitos escritores. Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa
documental, de natureza qualitativa e interpretativista. Os resultados apurados evidenciam a
existência de uma encenação retórica nas redações analisadas, revelando, entre outros aspectos,
como os mecanismos propostos pela Teoria Semiolinguística podem contribuir para o
aprimoramento da produção escrita em sala de aula e, mais especificamente, para uma reflexão
sobre as múltiplas faces do processo argumentativo no gênero textual denominado “Redação
do Enem”.
ABSTRACT
According to Charaudeau (2019 [2008]), those who argue draw on a conviction that aims to
persuade others with the unquestionable purpose of modifying their behavior. Thus, given that
arguing is an essential practice among individuals, such skill is demanded at the writing exam
of the largest selection process for admission in Brazilian universities: the ENEM. On that
assumption, this work intends to present a research that analyses, under Charaudeau’s (2005,
2007, 2019, [2008]) Semiolinguistic Discourse Theory, the construction of argumentative
scenarios in essays that were awarded the highest grade on the 2018 ENEM, aiming to
characterize in these texts the functioning of the argumentative device and the discourse,
semantic and ethotic procedures used by the subjects as writers. From a methodological point
of view, it is a documental research of qualitative and interpretative nature. The results have
shown the existence of a rhetorical enactment in the analyzed essays, revealing among other
aspects how the mechanisms proposed by the Semiolinguistic Theory can contribute to the
improvement of written productions in the classroom and, more specifically, to a reflection on
the multiple faces of the argumentative process in the genre “ENEM essay”.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 10
2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE GÊNEROS, ESCRITA E REDAÇÃO DO ENEM ....... 12
2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE GÊNEROS TEXTUAIS/DISCURSIVOS ....................... 13
2.2 A ESCRITA NO AMBIENTE ESCOLAR: HISTÓRIA E PERSPECTIVAS ............................... 18
2.3 A REDAÇÃO DO ENEM COMO GÊNERO TEXTUAL ............................................................ 22
2.3.1 A REDAÇÃO DO ENEM E SEU CONTEÚDO TEMÁTICO ................................................... 24
2.3.2 A REDAÇÃO DO ENEM E SUA ESTRUTURA COMPOSICIONAL ..................................... 27
2.3.3 A REDAÇÃO DO ENEM E SEU ESTILO DE LINGUAGEM ................................................. 28
3. A TEORIA SEMIOLINGUÍSTICA E OS ESTUDOS SOBRE ETHOS .......................................... 33
3.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A SEMIOLINGUÍSTICA ........................................... 33
3.2 O CONTRATO DE COMUNICAÇÃO NA SEMIOLINGUÍSTICA ............................................ 36
3.3 O MODO ARGUMENTATIVO DE ORGANIZAÇÃO DO DISCURSO ..................................... 38
3.3.1 A ORGANIZAÇÃO DA ENCENAÇÃO ARGUMENTATIVA .............................................. 42
3.3.1.1 ENCENAÇÃO ARGUMENTATIVA E OS PROCEDIMENTOS SEMÂNTICOS ................ 42
3.3.1.2 ENCENAÇÃO ARGUMENTATIVA E OS PROCEDIMENTOS DISCURSIVOS ............... 43
3.3.1.3 ENCENAÇÃO ARGUMENTATIVA POR MEIO DA CONSTRUÇÃO DO ETHOS .......... 45
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................................................... 47
4.1 PROCEDIMENTOS PARA A COLETA E SELEÇÃO DO CORPUS .......................................... 47
4.2 PERCURSO DE ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................... 48
5. ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................... 49
5.2 ANÁLISE DA SEÇÃO DE “INTRODUÇÃO” DAS REDAÇÕES ............................................... 53
5.2 ANÁLISE DA SEÇÃO DE “DESENVOLVIMENTOS” DAS REDAÇÕES ............................... 58
5.3 ANÁLISE DA SEÇÃO DE “CONCLUSÃO” DAS REDAÇÕES ................................................. 67
6. CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 73
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 77
10
1. INTRODUÇÃO
a escrita faz de tal modo parte da nossa civilização que poderia servir de definição
dela própria. A história da humanidade se divide em duas imensas eras: antes e a partir
da escrita. (…). Vivemos os séculos da civilização da escrita. Todas as nossas
sociedades baseiam-se sobre o escrito. A lei escrita substitui a lei oral, o contrato
escrito substituiu a convenção verbal, a religião escrita se seguiu à tradição lendária.
E, sobretudo não existe história que não se funde sobre textos (HIGOUNET, 2003, p.
10).
1
A terminologia utilizada na conceituação de gêneros apresenta algumas variações, tais como “gêneros
discursivos”, “gêneros do discurso”, “gêneros textuais”, “gêneros de texto”, a depender da corrente teórica a
que se filiam alguns estudiosos do assunto. Neste trabalho de pesquisa, não temos como objetivo opor ou
contestar nomenclaturas, o que nos leva a considerar, de forma intercambiável, os termos gênero textual e
gênero discursivo.
14
ganhavam destaque os elementos de coesão, ou seja, os termos que promoviam a conexão entre
as frases. Contudo, após diversos estudos no campo, os primeiros problemas começavam a
surgir: como analisar uma frase em que existe uma determinada conexão, mas não há a presença
de um conectivo? Em razão desse e de outros diversos questionamentos, a necessidade de
ampliação das pesquisas para outros vieses da língua se tornou cara.
À época, também, constatou-se que se carecia do conhecimento do falante para que as
relações entre as partes fossem compreendidas, ou seja, “o resultado disso foi uma mudança de
objetivo: em vez de analisar o texto no lugar da frase, passou-se a vislumbrar a necessidade de
algo maior, de uma gramática de texto (...)”. (SILVA, 2012, p. 15)
Nesse horizonte, além de terem sido colocadas em voga as inúmeras constatações das
teorias gerativistas de Noam Chomsky, a ideia de texto ainda era abstrata e minimamente
estabelecida (padronizada), gerando inúmeras divergências conceituais entre os estudiosos e
levando-os a uma perspectiva mais profunda e específica, como as pesquisas sobre a teoria do
texto.
No bojo dessa teoria, extrapolava-se a noção de frase, texto e falante, indo ao encontro
das pluralidades textuais, em que condições essas são elaboradas e de que maneira podem ser
compreendidas, além de envolver, de forma significativa, âmbitos da análise do discurso:
Após todo esse longo percurso de análise que atravessou a micro, a macro e a
extraestrutura da língua: frase, texto e contexto, respectivamente, trabalhos de referência
desenvolvidos por Dolz e Schneuwly (1999), Bronckart (1999) e Marcuschi (2000) ancoraram-
se em uma nova perspectiva de análise da materialidade linguística atrelada ao seu uso no
cotidiano. Sob esse prisma, os gêneros textuais, mesmo com diferentes abordagens para esses
pesquisadores em razão de “sua conceituação e vinculação a uma prática social, sociorretórica,
15
discursiva e/ou escolar (...)” (BORGES, 2012, p.119), foram profundamente estudados e
inseridos em novos panoramas de análise, investigação e discussão teórica.
Os gêneros textuais, então, naquele momento e até em recentes conceituações, são
classificados como eventos comunicativos por meio dos quais traços linguísticos estruturam-se
e padronizam-se, considerando tanto as restrições impostas por uma determinada esfera de uso
da língua como também as intencionalidades discursivas e o jogo de imagens projetado por
autor e leitor - via textos - durante as interações humanas.
Os incontáveis gêneros textuais - com suas características minimamente estabelecidas,
já que são mutáveis por natureza - estão altamente atrelados às práticas de comunicação entre
os homens, conformando-se ao sabor das ações em comunidade desses indivíduos, os quais
podem, em razão disso, ser extintos, reestruturados, recriados, reproduzidos de infinitas formas
e em diferentes meios, pois “[...] são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade
humana [...]” (BAKHTIN, 1997 [1979], p. 262).
Para chegar à tal concepção, Mikhail Bakhtin, conceituado filósofo da linguagem do
século XX, primeiramente analisa as teorias vigentes na época: as saussurianas. Assim, se em
meados de 1910, por meio de seus discípulos Charles Bally e Albert Sechehay, a conceituação
linguística estruturalista de Ferdinand de Saussurre (1995 [1916]) – objetivismo abstrato -
ganha notoriedade no campo da linguagem, “pois acreditava-se, naquele momento, que a língua
pertencia ao passado, isto é, a descrição era histórica, diacrônica e os registros escritos eram
considerados o ponto alto para o estudo do idioma.” (PARREIRA, 2017, p. 1025), Bakhtin as
refuta. Em Marxismo e filosofia da linguagem, Bakhtin (2006 [1929]) discute acerca do
objetivismo abstrato, afirmando que essa corrente, em detrimento da pluralidade de
significações, prioriza a unicidade da palavra. O resultado de tal processo, então, é uma
sequência de enunciações fechadas, com significado próprio e orientadas para uma mesma
direção. Nessa linha de pensamento, a língua é dada como um produto acabado, deslocada do
fluxo comunicacional e repassada de geração em geração.
Contudo, para Bakhtin (2006 [1929]), a língua encontra-se atrelada a esse fluxo de
comunicação e caminha juntamente a ele; a língua não é, inclusive, transmissível, uma vez que
se constitui de um ininterrupto processo evolutivo. Ainda, os indivíduos, como um todo, “não
recebem a língua pronta para ser usada; eles penetram na corrente de transmissão verbal; ou
melhor, somente quando mergulham nessa corrente é que sua consciência [...] começa a
operar.” (BAKHTIN, 2006 [1929], p. 109). Assim, a vertente defendida no cerne do
objetivismo abstrato, então, segundo o autor russo, distancia-se da questão evolutiva da língua
e de suas inúmeras funções dentro do bojo social. Com tais perspectivas em vista, Bakhtin
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elabora uma nova concepção de língua fortemente atrelada ao uso, a qual, segundo Marina
Yaguello, pesquisadora que assina a introdução de Marxismo e filosofia da linguagem,
“valoriza justamente a fala, a enunciação, e afirma sua natureza social, não individual: a fala
está indissoluvelmente ligada às condições da comunicação, que, por sua vez, estão sempre
ligadas a estruturas sociais” (BAKHTIN, 2006 [1929], p. 7), contrapondo-se à visão teórica em
voga postulada por Ferdinand de Saussure (1995 [1916]). Para Bakhtin (2006 [1929]), só é
possível analisar a linguagem enquanto fenômeno capaz de situar os sujeitos que dela fazem
parte em um determinado meio social.
Para mais, enquanto o objetivismo abstrato, segundo Bakhtin (2006 [1929]), é apontado
como uma linha de pensamento que desconsidera a enunciação e o ato de fala como sendo
individual, Yaguello destaca que o autor dá à fala um papel protagonista, classificando-a como
um instrumento de dominação. Nesse sentido, o teórico russo se interessa pelas ideologias que
os signos traduzem e os conflitos no interior desse mesmo sistema, inclusive os de classe,
demarcados pelo uso que se faz dessa habilidade: opressão, adaptação ou resistência à
hierarquia. Para ele, a língua é o meio pelo qual são expressas as relações e as lutas em
sociedade, representando tanto um instrumento quanto um material.
Mantendo uma visão amplificada sobre o estudo da linguagem, o autor ainda vai de
encontro às perspectivas abordadas pelo subjetivismo idealista - preconizadas por Humbolt e
Vossler – corrente que desconsidera a interação verbal e focaliza a linguagem como forma de
representação do que é encontrado na atividade mental dos indivíduos. Tal concepção, ainda,
aponta o ato de fala como individual e a defesa da enunciação monológica como basilares da
teoria. Entretanto, para Bakhtin (2006 [1929]), o ato de fala, ou seu resultado, a enunciação,
não podem ser considerados individuais - analisados a partir das condições psicofisiológicas do
falante - pois a enunciação pertence ao social, assim como as atividades mentais a serem
expressas.
À luz desses apontamentos, nota-se que, se nos primeiros estudos acerca da frase e do
texto, a compreensão de uma mensagem era voltada para o nível da palavra, para o interior de
uma construção textual, a ideia da estruturação da comunicação por meio dos gêneros textuais
configurou-se como uma alternativa capaz de transpor tais práticas, as quais, estanques e
reduzidas, apresentavam produções linguísticas deslocadas do humano enquanto ser social,
interacional e dinâmico.
Partindo dessas considerações, Bakhtin (1997 [1979]) traz para o centro de suas
discussões a questão dos “gêneros do discurso”, os quais são por ele caracterizados como
enunciados que apresentam determinadas condições e objetivos em cada produção linguística,
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Para mais, Marcuschi (2010) reforça a relevância da elaboração dos gêneros textuais em
sociedade no que diz respeito à padronização das interações linguísticas, mesmo que se
caracterizem por estruturas com representativo grau de maleabilidade e de plasticidade. Ainda,
o linguista promove um significativo destaque ao surgimento de gêneros modernos, ligados às
novas tecnologias e mídias em funcionamento, constatando a intrínseca relação desses eventos
comunicativos às práticas rotineiras dos grupos sociais.
Desse modo, vê-se como o recorte apontado encontra-se no campo da complexidade,
tendo em vista a riqueza linguística - em constante reconstrução - que constitui cada um dos
gêneros textuais em uso. Contudo, as constatações feitas representam um importante norteador
para analisar emergentes estruturas originadas nos últimos anos, sejam elas prosaicas ou
avaliativas, como a redação do ENEM, objeto de estudo deste trabalho.
De acordo com Bunzen (2006), do século XVIII até parte do XX, priorizou-se o ensino
de gramática tradicional e de leitura em detrimento da prática da escrita, visando à
decodificação e à memorização de conteúdos literários. À época, o ensino da “composição”, tal
como eram denominados os textos que os alunos elaboravam, “estava reservado praticamente
para as últimas séries do chamado ensino secundário, nas disciplinas de retórica, poética e
literatura nacional” (BUNZEN, 2006, p. 142). A escrita, nesse período, conforme destaca o
autor, consistia na produção de textos a partir de figuras ou títulos pré-determinados, cuja base
eram textos-modelo apresentados pelo docente. Como exemplo desse cenário, existiam os
manuais de retórica, os quais apontavam uma classificação dos gêneros literários que deveriam
ser usados em sala de aula, compostos por pontos positivos e negativos de estilo, além de
conterem técnicas de como esquematizar ideias. Com isso, tal como enfatiza Bunzen (2006),
objetivava-se que o aprendizado fosse efetivado pela exposição do aluno à boa linguagem,
visava-se ao “escrever bem”, de forma que os estudantes produzissem seus textos similarmente
às obras clássicas da época. O foco era dado no “produto final, sendo o texto entendido como
tradução do pensamento lógico. Logo, quem pensa bem escreve bem.” (BUNZEN, 2006, p.
142), e, embora esse método de ensino tenha sido extinto em 1890, ainda se mantém nas salas
de aula da atualidade.
Para mais, essa mesma metodologia, conforme endossa Bunzen (2006), era encontrada
de forma implícita na “Antologia Nacional”, a qual influenciou, por décadas, a língua materna
ensinada no Ensino Médio e as avaliações para ingresso em cursos superiores. O implícito em
19
questão dava-se pois, nesse material, não existiam atividades didáticas para os estudantes ou
orientações para os docentes, diferentemente do que se pode observar nos livros didáticos da
contemporaneidade. Entretanto, as literaturas brasileira e portuguesa, em destaque na obra,
eram basilares para o ensino da norma culta, o que era feito por meio de exercícios de leitura,
análise sintática, recitação e composição. Bunzen (2006), então, sintetiza que havia algum
ensino de escrita durante essa época, mas que esse não se dava de maneira formal e sistemática
como se vê hoje nas escolas brasileiras.
Foi entre os anos 1960 e 1970, conforme destaca Bunzen (2006), que algumas
modificações começaram a ocorrer no ensino de redação: a criatividade dos alunos começou a
ser mobilizada, e os textos lidos eram utilizados como estímulo para a escrita dos estudantes.
(ROJO; CORDEIRO, 2004, apud BUNZEN, 2006, p. 144). Ainda assim, o ensino da produção
textual não recebia seu devido protagonismo, pois o texto não era utilizado como mecanismo
de ensino-aprendizagem, mas sim como objeto de uso, tal como ressalta o autor.
Na década de 1970, de acordo com Bunzen (2006), ocorreu um aumento significativo
de livros didáticos para o Ensino Médio que destacavam o ensino de redação, o qual se deu em
virtude LDB nº 5692/71, criada para modificar os objetivos, os procedimentos didáticos e as
metodologias para o ensino de língua materna. Nessa perspectiva, as produções textuais
elaboradas “pelos alunos passaram a ser vistas como atos de comunicação e expressão”.
(BUNZEN, 2006, p. 144); dessa vez, o foco era o estudo dos códigos comunicacionais e não o
saber sobre a língua.
Em 1977, houve, segundo Bunzen (2016), um movimento para que o ensino de redação
fosse consolidado no Ensino Médio: a promulgação do Decreto Federal nº 79.298, o qual
passava a estabelecer que os vestibulares deveriam, obrigatoriamente, exigir que seus
candidatos realizassem uma prova escrita de redação em língua portuguesa. A partir disso, as
escolas começaram a dar foco nesse requisito, introduzindo essa disciplina na grade curricular
do Ensino Médio.
Bunzen (2016) destaca que, a partir de então, iniciam-se os questionamentos sobre a
real efetividade do ensino de redação no ambiente escolar, cujo principal objetivo era o de
indicar os desvios gramaticalmente cometidos pelos alunos, ou seja, a metodologia de ensino
docente priorizava - quase que exclusivamente - os aspectos normativos. Com isso, os textos
eram produzidos sem dialogar com outras produções ou leitores, já que até citações, com o uso
de aspas, por exemplo, eram proibidas de serem utilizadas pelos alunos, tornando a prática da
escrita um mero exercício escolar. Consequência dessa realidade, segundo o autor, é a prática
recorrente, hoje, da elaboração de dissertações - estrutura majoritária no Ensino Médio - pelos
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alunos, cujo conteúdo é baseado em um tema proposto pelo docente e corrigido por monitores
através de comentários voltados, sobretudo, para a estrutura geral do texto e as pontuações
gramaticais. Em síntese, a finalidade dessa produção é disciplinar, tendo em vista que os
estudantes escrevem para que as exigências dos professores sejam atendidas ou que possam ser
aprovados nos vestibulares pretendidos, segundo Bunzen (2006).
Com esse cenário em vista, os professores, já na década de 1980, passaram a conviver
com a expressão “produção de textos”, o que não se tratava de uma simples troca de
nomenclatura, mas de uma tentativa de rever as produções textuais que os alunos elaboravam,
ressalta Bunzen (2006). Esses textos eram vistos como um “não-texto”, pois, além de não
apresentar, em muitos casos, determinados padrões de textualidade, suas condições de produção
revelam produtos meramente escolares.” (BUNZEN, 2006, p. 149). Nesse momento, então, o
ensino de produção de textos começa a valorizar o próprio processo de elaboração desses textos,
de forma a ampliar a concepção de linguagem e as práticas de letramento na escola, afirma
Bunzen (2006). Em síntese, “A preocupação volta-se muito mais para os contextos de produção
e de recepção dos textos (quem está falando, com quem, com que objetivos, de que forma etc)”.
(BUNZEN, 2006, p. 149).
No final de 1980 e início de 1990, a concepção de texto passa a ganhar uma nova
interpretação, sendo esse fenômeno concebido como uma unidade de ensino/aprendizagem,
(REINALDO, 2001 apud BUNZEN, 2006, p. 151), pois, anteriormente, esse conceito era
restrito a análises dos aspectos de textualidade e minimamente voltado para as questões de
intencionalidade e relação usuário/interlocutor. Contudo, de acordo com Bunzen (2006),
mesmo com essa nova visão sobre o assunto, e os alunos escrevendo uma variada gama de
textos (cartas, telegramas, bilhetes etc), essas produções continuaram a centrar-se na estrutura
composicional, no lugar de explorarem as condições de produção, de circulação e de recepção.
A partir dos PCN de Ensino Fundamental (1998), dos PCN+ (2002) e dos PCNEM
(1999), o texto passa a ser adotado como uma “unidade de ensino e os gêneros como objeto de
ensino.” (BUNZEN, 2006, p. 153). Nesse sentido,
perdendo, ao longo dos anos, a capacidade de se colocarem como cidadãos autônomos e críticos
por meio da língua(gem), sendo, muitas vezes, impedidos de dominar a multiplicidade de
gêneros textuais em uso capazes de modificar a realidade que os rodeia.
2002 “O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as
transformações sociais de que o Brasil necessita?”
2016
1ª “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”
aplicação
2016
2ª “Caminhos para combater o racismo no Brasil”
aplicação
2020
ENEM “O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil”
digital
Fonte: elaboração da autora
tipo de texto que demonstra, por meio de argumentação, a assertividade de uma ideia
ou de uma tese. É mais do que uma simples exposição de ideias; por isso, você deve
evitar elaborar um texto de caráter apenas expositivo, devendo assumir claramente um
ponto de vista. Além disso, é preciso que a tese que você irá defender esteja relacionada
ao tema definido na proposta. (BRASIL, 2019. p. 12)
2
Sobre a expressão “tipos de discurso”, vale esclarecer que tal conceito goza de uma flutuação terminológica na
área dos estudos do texto e do discurso, a depender, sobretudo, dos autores e das correntes teóricas utilizadas. Esse
mesmo conceito, por exemplo, pode ser denominado como “tipos de texto” (Marcuschi, 2010) ou como
“sequências textuais” (Adam, 2008).
29
Por fim, de acordo com Paulinelli e Fortunato (2016), os aspectos linguísticos referem-
se aos recursos lexicais compatíveis à situação de comunicação que, no caso do ENEM, devem
conter valor dissertativo e argumentativo;
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos
ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade
escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Manipulação do comportamento do
usuário pelo controle de dados na internet”, apresentando proposta de intervenção que
respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e
coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. (BRASIL, 2019, p. 30)
A partir dessa ótica, infere-se, segundo os autores, que produzir textos implica a
realização de escolhas no que se refere à organização e seleção das unidades composicionais
que os constituem. Nessa lógica, conforme pontuam Prado e Morato (2016), o autor genebrino
endossa que a construção da materialidade textual organiza-se por meio de três níveis (ou
camadas sobrepostas): a infraestrutura geral do texto, os mecanismos de textualização e os
mecanismos enunciativos. A infraestrutura volta-se para o nível mais profundo, no qual se
encontram as operações que possibilitam não só a construção do plano geral do texto
(organização do conjunto e do conteúdo temático), como também a constituição dos tipos de
discurso e das sequências textuais.
Já o segundo nível proposto por Bronckart (1999) seria o que ele denominou de
mecanismos de textualização, os quais possuem a função de garantir a organização temática
dos textos, atuando como mecanismos de conexão, coesão verbal e coesão nominal. Por fim, o
terceiro nível, o dos mecanismos enunciativos, é responsável por manter a coerência pragmática
das produções, “o movimento das vozes do texto” (PRADO; MORATO, 2016, p. 211). Sob
esse viés, é por meio dos mecanismos enunciativos que se pode construir, segundo os autores,
“compromissos enunciativos, (julgamentos, preconceitos, declarações, crenças, etc.), isto é,
compromissos com os interlocutores do texto no que diz respeito à orquestração das vozes em
uma perspectiva pragmática.” (PRADO; MORATO, 2016, p. 211). Dessa forma, de acordo com
Prado e Morato (2016), se os estudos de Bakhtin (1997 [1979]) e Bronckart (1999) enaltecem
os fatos sociais na construção dos gêneros discursivos-textuais, pode-se pensar, então, nas
31
redações do ENEM como um fato social definido e delimitado, tal como será ampliado nos
parágrafos seguintes.
De maneira a buscar elucidar esse cenário, Prado e Morato efetuaram uma pesquisa com
um grupo de 50 alunos do Ensino Médio de duas escolas públicas de cidades de Minas Gerais.
A primeira parte dela consistia na aplicação de duas perguntas de múltipla escolha, cujas
respostas deveriam elucidar o que esses alunos compreendem do que seria um texto
dissertativo-argumentativo: 1) O que é um texto dissertativo-argumentativo em prosa? 2) O que
é uma redação do ENEM? a) um gênero b) um modelo de discurso c) uma maneira de escrever.
Os dados revelaram que, para a maioria dos entrevistados, a definição de texto dissertativo em
prosa não corresponde à de gênero (76%), entretanto a redação do ENEM, sim (72%). Desse
modo, nota-se que os futuros autores de redações da prova do ENEM, ao afirmarem que estão
trabalhando com gênero, ilustram uma perspectiva altamente relevante, tendo em vista que
estamos nos referindo àqueles que produzirão tal texto. São esses indivíduos que pensam sobre
o que e como será escrito e o público-alvo em questão; “sem uma concepção do que é uma
redação do ENEM, o aluno corre o risco de não conseguir desenvolver o que é pedido por esse
exame.” (PRADO; MORATO, 2016, p. 213).
Para além de conhecermos como os alunos concebem a prova de redação do ENEM, é
importante demonstrar como essas produções podem apresentar - ou não - um padrão em
específico, o qual será capaz de determinar o texto em questão como um gênero do discurso.
Nesse sentido, os pesquisadores verificaram, por meio de uma coletânea de 26 redações de
temáticas distintas do ENEM de alunos da 3ª série de uma mesma escola de Ensino Médio,
embora de turmas diferentes, os seguintes aspectos: I. Extensão das redações em parágrafos:
uma redação apresentou somente um parágrafo; 11 produções continham três parágrafos; 14
textos eram compostos por quatro parágrafos e somente uma produção estruturava-se por meio
de cinco parágrafos. Com isso em vista, nota-se a existência de um padrão mais ou menos
estável no que se refere à estrutura física - padrão estético - das produções textuais. Nessa
mesma seara, uma outra padronização foi verificada: a maioria dos parágrafos apresentavam
construções curtas, entre quatro e seis linhas.
Também ganhou destaque a abertura e o fechamento dos parágrafos elaborados pelos
alunos, os quais apresentavam formações lexicais aproximadas. A maioria dos parágrafos (96%
- excetuando o de introdução) foi iniciada com a aplicação de algum operador argumentativo.
A partir desse panorama, constatou-se que a utilização de operadores argumentativos nas
produções, ou seja, a capacidade de articulação linguística entre os parágrafos denota uma
relativa estabilidade. Por fim, também foi verificada, na maior parte das redações, a existência
32
de um número superior de períodos compostos aos simples, demonstrando, mais uma vez, uma
determinada estabilidade na construção dos textos como um todo. Então, ao se observar toda
essa análise, nota-se que as produções em voga ultrapassam o que a prova de redação do ENEM
exige: um aleatório texto dissertativo-argumentativo em prosa.
Ainda em conformidade com o que apresentam Prado e Morato (2016), o que também
torna a redação do ENEM um gênero textual é que a prova solicita ao candidato uma apreciação
crítica, um ponto de vista bem definido e defendido do início ao fim da produção textual, além
de propostas de intervenção para os problemas sociais por ele elencados, colocando-o como
protagonista de sua própria escrita e em cena sua posição de cidadão e ser social atuante por
meio da linguagem, ou seja, atende a uma determinada demanda comunicacional; trechos
apontados por Prado e Morato, nas produções colhidas pelos pesquisadores, demonstram
claramente isso.
Ainda, é possível perceber nos textos analisados “mais que um padrão estrutural, mas
também um padrão composicional de determinadas ocorrências lexicais (mesmos tipos de
verbos (ter, dever, existir) e advérbios (felizmente, infelizmente), por exemplo)” (PRADO;
MORATO, 2016, p. 217). Tal fato evidencia, novamente, que, embora a variação textual esteja
presente, essa é minimamente comprometedora, pelo contrário, são essas variações que
garantem a constituição do gênero e promovem a relatividade de sua estabilidade, assim como
aponta Bakhtin. Para o russo, não é possível pensar em gêneros como estruturas acabadas,
homogêneas, e isso também pôde ser observado nos textos analisados.
Por fim, mas não menos importante, quando se elabora a redação do ENEM para a banca
de redação que irá corrigi-la, busca-se colocar em evidência uma produção linguística que
atenda determinada demanda social, a qual, no caso da prova avaliativa, é a demonstração de
capacidade de escrita que garanta ingresso em uma universidade, por exemplo. Desse modo,
verifica-se que a produção do texto em questão aponta finalidade previamente definida,
característica fundamental dos gêneros discursivos, conforme endossa Bakhtin (1997 [1979]).
Logo, é justamente por todas essas questões que, neste trabalho, defende-se a redação do ENEM
como um gênero textual/discursivo.
33
campo disciplinar. Assim, com essa gama de possibilidades em vista, deve-se, então,
“relacionar entre si determinados questionamentos que tratam da linguagem - sendo uns mais
externos (lógica das ações e influência social), outros mais internos (construção do sentido e
construção do texto)” (CHARAUDEAU, 2005, p. 13). A partir disso, deve-se ressaltar, todavia,
que a articulação desses questionamentos ocorre em uma perspectiva linguística, em seu sentido
amplo. Se existe uma comunicação, é de uma comunicação em específico de que tratamos:
aquela que se efetiva por meio da linguagem verbal; se o sentido é construído, trata-se da
construção ocorrida pelas formas verbais, e se há elaboração de um texto, trata-se daquela a
qual dependerá de “ordenamento” do verbal.
Desse modo, a semiolinguística, na análise do discurso, pode ser definida como:
semiosis “o fato de que a construção do sentido e sua configuração se fazem por meio de uma
relação forma-sentido (em diferentes sistemas semiológicos)” (CHARAUDEAU, 2005, p. 13),
sob o comando de um sujeito interacional, com determinada influência social e em um
específico quadro de ação; linguística, de maneira a destacar que a matéria principal da forma
em questão são as línguas naturais. Assim, essa dupla articulação, na qual há a combinação de
suas unidades (sintagmático-paradigmática em diferentes níveis: palavra, frase, texto), impõe
um procedimento de semiotização do mundo diferente das demais linguagens.
Sob essa perspectiva, para que a semiotização do mundo se realize, é necessário que se
efetive um duplo processo: 1) de transformação: parte-se de um “mundo a significar” para um
“mundo significado”, sob a ação de um sujeito falante; 2) de transação: o qual “faz deste
“mundo significado” um objeto de troca com um outro sujeito que desempenha o papel de
destinatário desse objeto.” (CHARAUDEAU, 2005, p. 14).
Nesse viés, são quatro os tipos de operação concernentes ao processo de transformação:
1) a identificação: compreende a necessidade de apreensão, no mundo fenomênico, dos seres
materiais ou ideais, reais ou imaginários, de forma a conceituá-los e nomeá-los. Assim, tais
seres são transformados em “identidades nominais”; 2) a qualificação: refere-se à consciência
de que esses seres possuem propriedades e características que os discrimina, especificam-nos e
motivam a maneira como são. Logo, são transformados em “identidades descritivas”; a 3) ação:
nessa, vê-se que esses seres agem e sofrem a ação, inserindo-se em esquemas “de ação
conceitualizados que lhes conferem uma razão de ser, ao fazer alguma coisa. Os seres do mundo
são transformados em ‘identidades narrativas’” (CHARAUDEAU, 2005, p. 14); a 4) causação:
pois esses seres agem ou sofrem a ação em virtude de determinados motivos (humanos ou não
humanos) que os inserem em uma cadeia de causualidade. Assim, essa sucessão de fatos é
transformada em “relações de causualidade”.
35
os parceiros, que são os interlocutores, sujeitos de ação, seres sociais que têm intenções
- que chamamos de sujeito comunicante e sujeito interpretante; e os protagonistas, que
são os intra-locutores, os sujeitos de fala, responsáveis pelo ato de enunciação - os quais
37
Dentro dessa lógica, o ato de linguagem é definido como oriundo de uma situação
concreta de troca entre sujeitos, a qual depende de intencionalidade e produz significações a
partir da interdependência de um espaço externo e de um espaço interno, propondo um modelo
de estruturação em três níveis:
• o nível situacional: refere-se aos dados do espaço externo, o qual também constitui o
espaço de restrições do ato de comunicação. É aqui que estão determinados a finalidade
do ato de linguagem, ou seja, o que deve ser dito ou feito; a identidade dos parceiros:
quem fala a quem; o domínio de saber, sobre o que se fala; e o dispositivo, constituído
pelas circunstâncias materiais da troca comunicativa, ou seja, como se determina o
ambiente físico de espaço e de tempo.
Com base nesses apontamentos, observa-se que os sentidos de um texto são construídos
pelas restrições da situação de troca e, também, pela singularidade do projeto de fala de um
38
comunicativa é finalizada, ou seja, dirigida a um fim. Esse fim pode ser, por exemplo, o de
influenciar um auditório ou um interlocutor a fazer algo ou a aderir a uma crença” (Emediato,
2001). Nesse sentido, tal excerto elucida, de forma sintética, a égide sobre a qual se constrói o
objetivo da argumentação: promover o convencimento.
Trilhando o mesmo percurso ideológico, os sofistas, constituídos por um grupo de
pensadores gregos itinerantes, que percorriam as cidades levando seus discursos e
conhecimentos em troca de pagamento, desempenharam um relevante papel no
desenvolvimento da retórica clássica; dentre seus principais, destacam-se Górgias, Protágoras,
Pródico e Hípias. Segundo Emediato (2001), esses sábios eram exímios oradores e afirmavam
que, por meio da arte retórica, podiam defender qualquer tese e, até mesmo, o seu contrário. De
linguagem instrumentalizada, apurada, cujo objetivo era, inquestionavelmente, a persuasão, os
sofistas potencializavam a habilidade do discurso, a amplitude polissêmica e encantada das
palavras e o poder da comunicação, com a finalidade de aplicar a técnica em diversos âmbitos
sociais, fossem esses políticos ou voltados para os interesses dos indivíduos que procuravam
pela retórica sofística.
Platão, por sua vez, segundo Emediato (2001), era fortemente contrário às ideologias e
práticas retóricas dos mestres sofísticos – tais quais as cobranças feitas por eles para ensinar os
conteúdos voltados à educação e à cidadania e a relativização da verdade - classificando-as
como não positivas e subjugadas a qualquer tipo de manipulação; nem filósofos esses sábios
eram considerados por Platão. Em virtude disso, os sofistas começaram a ser vistos como
enganadores e “charlatães” pelos atenienses, e as ações por eles realizadas despontaram como
antiéticas. Assim, “Combatendo o que ele considerava uma prática do falseamento da realidade,
manipulação e comércio do discurso, Platão propõe a filosofia como discurso positivo de
apreensão do real [...]” (EMEDIATO, 2001, p. 161-162), centralizando, então, o conceito de
verdade e declinando a retórica vigente.
Emediato (2001) ressalta ainda que Aristóteles, embora não contraposto às críticas de
Platão acerca da retórica, constrói um trabalho significativo sobre essa, esmiuçando os meios e
os procedimentos mais profícuos para persuasão e elaboração de um discurso. Saindo do campo
que se refere à arte de falar bem, a retórica, então, passa a se tornar um compilado de técnicas
pautadas no raciocínio que visam ao convencimento de um público. É neste momento que a
relação entre orador e auditório se torna primordial, tendo em vista que, para que uma tese seja
aderida, ela precisa estar em conformidade com as crenças do auditório em questão ou, ao
menos, com o que esse público admite como racional. Nesse contexto,
40
o orador é, para Aristóteles, incorporado pelo Ethos, pois sua credibilidade é função
de seu caráter, de sua virtude e da confiança que o auditório lhe atribui. Este, por si,
representa o Pathos, simbolizando as paixões que o orador deve considerar em seu
auditório a fim de poder suscitar sua adesão. (EMEDIATO, 2001, p. 163)
de um mesmo universo até que seja possível a efetivação da coenunciação, ao passo que aquela
se volta para um ideal de verdade em relação às explicações de fenômenos do mundo, sobre as
quais prevalecem princípios semânticos e, sobretudo, lógicos.
grupo sociocultural compartilharem valores específicos; esses, por Charaudeau (2019 [2008]),
são denominados de domínios de avaliação.
Para este trabalho, três desses domínios serão mais relevantes: o domínio da Verdade,
o domínio do Ético e o domínio do Pragmático. O primeiro deles, o domínio da Verdade, define
de maneira absoluta, e em termos de verdadeiro e falso, tanto o que se refere à existência de
seres em sua originalidade, sua autenticidade e sua unicidade, quanto ao que pertence à seara
do saber como princípio único de explicação dos fenômenos do mundo. O segundo, o domínio
do Ético, abarca os âmbitos do bem e do mal e como devem ser os comportamentos humanos
frente a uma moral externa (sendo essas as regras impostas aos indivíduos pela legislação de
consenso social) ou interna (aquelas regras criadas pelo próprio cidadão). Charaudeau ainda
destaca que:
Em ambos os casos, o indivíduo deve agir de uma certa maneira. É o domínio do dever
e da obrigação no qual, ao contrário do domínio Pragmático (...), o argumento é
colocado como origem de uma ação. Esta se realiza em nome de um princípio, e esse
princípio é o próprio argumento. (CHARAUDEAU, 2008, p. 232 - grifos do autor)
No que se refere aos procedimentos discursivos, vê-se que tais recursos, a partir das
considerações de Charaudeau (2019 [2008]), consistem na utilização, de forma ocasional ou
sistêmica, de determinadas categorias de língua ou de recursos de outros modos de organização
do discurso, objetivando produzir específicos efeitos de persuasão no âmbito de uma
argumentação. Neste trabalho, destacamos a definição, a dedução, a comparação, a citação, a
descrição narrativa e a acumulação.
A definição trata-se de uma atividade de linguagem que visa à descrição de traços
semânticos que caracterizam um termo, em um tipo de contexto determinado, constituída saber
popular (consensual) ou do conhecimento (científico). Pertencente à categoria de Qualificação
e ao modo de organização Descritivo, é utilizada, na argumentação, com fins estratégicos, tendo
44
em vista sua forma para produzir um efeito de evidência e de saber para o sujeito argumentante;
há dois tipos de definição: do ser e do comportamento.
A dedução refere-se a “um modo de raciocínio que se baseia em A1 para chegar a uma
conclusão A2, conclusão que representa a sequência, o resultado, o efeito, em resumo, a
consequência mental” (CHARAUDEAU, 2019 [2008], p. 214), (ainda que esta se baseie na
experiência dos fatos), “da tomada em consideração de A1, através da inferência.”
(CHARAUDEAU, 2019 [2008], p. 214).
A comparação, por sua vez, “é utilizada para reforçar a prova de uma conclusão ou de
um julgamento, produzindo efeito pedagógico (comparar para ilustrar e fazer compreender
melhor) (...) (CHARAUDEAU, 2019 [2008], p. 237 - grifos do autor), caso seja uma
comparação objetiva; ou, também, um efeito de ofuscamento (que vise promover o desvio da
atenção do interlocutor para um outro fato, o qual, por semelhança a outro, impede que se avalie
a veracidade da prova), quando a comparação for subjetiva. A comparação encontra-se,
concomitantemente, em duas categorias da língua: a Qualificação e a Quantificação. Na
primeira, porque frequentemente as propriedades da comparação dão foco a contextos de
semelhança ou dessemelhança; na segunda, pois, algumas vezes, comparam-se quantidades, em
outras, faz-se uma comparação graduada de propriedades. Nesse sentido, as marcas da
comparação podem se dar por meio dos vocábulos gramaticais, como “tal”, “assim”, “da mesma
forma” etc e dos vocábulos lexicais “parecer”, “assemelhar-se”, “corresponder” etc.
Na descrição narrativa, vê-se um procedimento que se assemelha ao da comparação,
já que, nele, é descrito um fato ou contada uma história, de maneira a reforçar uma prova ou
produzi-la. Contudo, difere-se da citada em virtude de sua possibilidade para desenvolver um
raciocínio por analogia, o qual produz um efeito de exemplificação. Pode-se vê-la no âmbito da
imprensa, em análises e comentários de correspondentes estrangeiros, em retratos destinados a
fornecer indícios ou falsas pistas, em parábolas do ensino religioso etc.
A citação é definida pelo autor como um fenômeno linguístico que objetiva, de forma
mais fiel possível, realizar a referenciação de emissões orais ou escritas de um outro locutor, de
forma a produzir na argumentação um efeito de autenticidade. Tal procedimento funciona como
uma fonte de verdade, advindo de uma experiência: quando a citação faz referência a
declarações de indivíduos que testemunharam o que viram ou ouviram; de um dizer: quando a
citação refere-se a declarações de pessoas com a finalidade de provar a veracidade de algo; ou
de um saber: quando a citação é proveniente de uma proposta científica, ou, então, de uma
pessoa que representa uma autoridade.
45
segunda identidade, o sujeito elabora para si próprio uma imagem daquele que enuncia, atendo-
se “aos papéis que ele se atribui em seu ato de enunciação, resultado das coerções da situação
de comunicação que se impõe a ele e das estratégias que ele escolhe seguir.” (CHARAUDEAU,
2007, p. 115). Logo, o sentido emanado pelas palavras emitidas dependerá, ao mesmo tempo,
daquilo que somos e daquilo que falamos. Além disso, o autor endossa que o processo de
construção do ethos não é algo totalmente voluntário - uma vez que grande parte desse
fenômeno não é predominantemente consciente - podendo, com isso, não coincidir com aquilo
que o destinatário interpreta ou, até mesmo, projetar uma imagem não necessariamente validada
ou pretendida pela instância de produção do discurso.
Charaudeau (2007) ressalta, também, que a identidade do sujeito é atravessada por
representações sociais e, nesse cenário, o sujeito que fala não possui outra realidade além da
possibilitada pelos grupos sociais nos quais está inserido. Assim,
observa-se que, por meio do estilo, das competências linguísticas e das crenças implícitas
(Amossy, 2005), emergem nas redações examinadas diversas imagens dos sujeitos participantes
da prova.
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
No tocante aos recursos empregados para a coleta e seleção do corpus, este trabalho
caracteriza-se como uma pesquisa de natureza documental, já que se propõe a descrever e a
analisar os procedimentos que configuram a encenação argumentativa presente em redações
que obtiveram a nota máxima no ENEM/2018.
As produções textuais que alcançaram nota máxima - 1000 - na prova de Redação do
ENEM de 2018 investigadas nesta pesquisa foram coletadas da obra intitulada “A redação no
ENEM 2019: cartilha do participante”, disponibilizada virtualmente pelo Ministério da
Educação, por meio do O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP). A opção por coletarmos redações publicadas nessa coletânea justifica-se pelo
fato de ela ser, no Brasil, o único documento oficial produzido pela banca elaboradora da prova
e colocado à disposição da sociedade anualmente. Além disso, vale destacar que essa cartilha
passa periodicamente por revisões técnicas e alterações, uma vez que, a cada ano, são
apresentadas, via amostragem, algumas redações que obtiveram nota máxima no exame
aplicado no ano imediatamente anterior. Assim, do total de sete redações modelares presentes
na cartilha do participante do ENEM-2019, cinco foram selecionadas para este estudo. Essa
escolha foi feita de forma assistemática, tendo em vista que os textos apresentam uma mesma
48
temática central, bem como estruturas e conteúdos semelhantes, não havendo, portanto,
necessidade de análise da totalidade das redações.
Para alcançar o objetivo geral previamente delineado, a análise do corpus foi dividida
em três etapas. Na primeira, discorremos sobre as condições de produção e de recepção das
redações selecionadas, levando em conta os elementos basilares do contrato de comunicação
que caracteriza o ato de linguagem na teoria Semiolinguística. Além disso, ainda nessa etapa,
explicitamos o funcionamento geral do dispositivo que sustenta a encenação argumentativa dos
textos.
Na segunda etapa, identificamos os procedimentos semânticos, discursivos e etóticos
empregados pelos sujeitos argumentantes na elaboração de redações que obtiveram a nota
máxima no Enem/2018. Para isso, dividimos e organizamos os parágrafos dos textos
examinados em três seções: (i) Introduções; (ii) Desenvolvimentos; (iii) Conclusões. Em
seguida, cada parágrafo foi segmentado em unidades informacionais menores (representadas
por orações ou por períodos sintáticos).
Para essa divisão, consideramos o conceito de “ideia unit” proposto por Decat (2010) e
já utilizado na análise empírica de textos por Oliveira e Grijó (2014). Tal conceito, vale
esclarecer, diz respeito a unidades de informação portadoras de sentido e textualmente
representadas por pequenos “jatos de linguagem” ou “blocos de informação”, os quais, a
depender dos propósitos do/da analista, podem ser constituídos por sentenças, proposições,
períodos, complexos oracionais ou blocos textuais de maior extensão. No presente trabalho,
conforme afirmado, essas unidades foram representadas por orações e períodos (levando em
consideração a análise interna de cada parágrafo das redações).
Ainda em relação a esse critério, é importante registrar que, para facilitar o processo de
análise dos dados, os parágrafos de cada redação foram apresentados em forma de quadros.
Nesses quadros, as unidades informacionais foram precedidas de uma numeração e de uma
identificação alfabética, respectivamente. Além disso, tais unidades serviram como ponto de
partida para a classificação e interpretação dos seguintes aspectos analisados: (i) procedimentos
semânticos, relativos a valores assentados em diferentes domínios de avaliação, tais como
domínio da Verdade, domínio do Ético ou domínio do Pragmático; (ii) procedimentos
discursivos, presentes na materialidade dos textos por meio de recursos como Citação,
Comparação, Acumulação, Descrição narrativa, Dedução e Definição e (iii) procedimentos
49
etóticos, os quais sustentam a construção discursiva do ethos - entendido, neste trabalho, como
as diferentes imagens de si projetadas pelos sujeitos argumentantes em seus textos. Essas
imagens identitárias (ethé) podem ser de variados tipos, tais como: ethos de erudição, ethos de
alerta, ethos de indignação, ethos de aconselhamento, ethos de otimismo etc.
Na terceira etapa da análise, buscamos, de forma sintetizada, apontar a frequência dos
procedimentos supracitados na materialidade dos textos e, concomitantemente, discorrer sobre
o impacto dessas estratégias na encenação argumentativa de redações que, em 2018, obtiveram
a nota máxima no Exame Nacional do Ensino Médio. Para o cumprimento dessa empreitada,
valemo-nos, sobretudo, de fundamentos teóricos relativos ao modo argumentativo de
organização do discurso e de estudos contemporâneos sobre o ethos (CHARAUDEAU, 2007,
2019 [2008]); AMOSSY, 2005), sendo tais categorias abordadas conforme os postulados da
Análise Semiolinguística do Discurso.
Uma vez realizada a apresentação dos procedimentos metodológicos utilizados na
investigação, o capítulo que segue destina-se à análise dos dados e à discussão dos resultados
obtidos na pesquisa.
Este capítulo destina-se à análise das redações que compõem o corpus desta pesquisa.
Em um primeiro momento, para tratar das condições de produção e de recepção dos textos
selecionados, foram considerados os elementos basilares do contrato de comunicação que
caracteriza o ato de linguagem na teoria Semiolinguística. Nessa corrente teórica, conforme
pontua Oliveira (2018), é possível notar uma abordagem contemporânea e interacionista para o
tratamento da significação, haja vista que tal teoria leva em consideração, na construção dos
sentidos, as dimensões situacional, discursiva e linguageira das trocas comunicativas.
Além disso, a Semiolinguística postula que a construção de sentidos, mediante qualquer
ato de linguagem, procede de um sujeito que se dirige a outro sujeito, dentro de uma situação
de intercâmbio específica. Essa situação, de natureza contextual, sobredetermina parcialmente
a seleção de recursos linguageiros que podem ser usados em determinados gêneros
textuais/discursivos (CHARAUDEAU, 2019 [2008]). Tendo em vista esses apontamentos,
apresentamos, na sequência, a figura que representa o ato de linguagem e os sujeitos de que
dele participam numa troca comunicativa.
relação à situação escolar, 58,6% já haviam concluído o Ensino Médio; 29,7% eram concluintes
em 2018 e 10,6% iriam finalizar o 3º ano do ensino somente após o ano de 2018, compondo,
portanto, o grupo dos participantes denominados “treineiros”.
No momento da realização da prova, esses sujeitos, submetidos a um contrato de
comunicação que rege a situação avaliativa em questão, passam de figura empírica para figura
discursiva. Em outras palavras, o EUc transforma-se, no universo da enunciação, em figura
discursiva, recebendo um novo papel: o de Sujeito Enunciador (EUe). A esse sujeito é dado o
direito à fala, cabendo a ele, no universo textual-discursivo da produção textual, gerenciar
informações, relacionar dados, selecionar provas, garantias e argumentos em defesa de uma
proposta sobre o mundo, com vistas à defesa da tese apresentada. Para a Semiolinguística, no
âmbito do modo argumentativo de organização do discurso, esse Sujeito Enunciador (EUe) é
denominado, portanto, como “Sujeito Argumentante”.
A produção de um texto, conforme propõe Oliveira (2018), não é um ato isolado e
solitário, mas uma prática discursiva em que o interlocutor também faz parte da construção dos
sentidos. Sob esse prisma, Charaudeau (2019 [2008], p. 52) esclarece que todo ato de linguagem
“resulta de um jogo entre o implícito e o explícito e, por isso: (i) vai nascer de circunstâncias
de discurso específicas; (ii) vai se realizar no ponto de encontro dos processos de produção e
de interpretação”. Desse modo, ao construir a sua redação, o sujeito argumentante leva em conta
diferentes representações sobre a banca avaliadora que irá “corrigir” o seu texto. Essa banca,
no âmbito da situação comunicativa proposta, é representada pelo Sujeito Destinatário (TUd),
o qual pode ser entendido como uma entidade interna ao circuito linguageiro.
Trata-se, na verdade, da figura discursivamente idealizada do “professor avaliador”, a
quem caberá o processo de leitura e a atribuição de nota à redação produzida. A representação
construída sobre o Sujeito Destinatário (TUd) constitui uma importante referência para o
Sujeito Argumentante no ato de escrita, uma vez que, em função dessa imagem (e, obviamente
do tema proposto para a redação), diferentes recursos composicionais e linguísticos poderão ser
acionados como estratégias retóricas na busca da persuasão. Ainda no campo da recepção, além
da figura do (TUd), também faz parte do ato de linguagem o Sujeito Interpretante, denominado
pela Semiolinguística como (TUi). No contexto situacional da prova de redação do Enem, esse
sujeito representa o universo de leitores empíricos, aqui entendido com o vasto conjunto
daqueles que, após a divulgação da nota da prova e da liberação do “espelho de correção”,
poderá, por motivos e interesses variados, ter acesso ao texto efetivamente produzido e
avaliado. No âmbito social, portanto, o Sujeito Interpretante (TUi) é representado, de forma
compósita, por professores da educação básica, estudantes do ensino médio, pais e mães de
52
Redação 1
1-[Em sua canção “Pela Internet”, o cantor brasileiro Gilberto Gil louva a quantidade de
informações disponibilizadas pelas plataformas digitais para seus usuários.] 2- [No
entanto, com o avanço de algoritmos e mecanismos de controle de dados desenvolvidos
por empresas de aplicativos e redes sociais, essa abundância vem sendo restringida e as
notícias, e produtos culturais vêm sendo cada vez mais direcionados – uma conjuntura
atual apta a moldar os hábitos e a informatividade dos usuários.] 3- [[a]Desse modo, tal
manipulação do comportamento de usuários pela seleção prévia de dados é inconcebível
e [b] merece um olhar mais crítico de enfrentamento.]]
Domínio
(1) da Descrição narrativa Ethos de erudição
Verdade
Domínio
(2) do Acumulação Ethos de alerta
Ético
[a] Ethos de
[a] Domínio
descontentamento/
do Ético
[a] Definição indignação
(3)
[b] Definição
[b] Domínio
[b] Ethos de
do Pragmático
aconselhamento
Redação 2
54
Domínio
(1) Descrição narrativa Ethos de erudição
da Verdade
Domínio Ethos de
(2) Definição
do Ético descontentamento
Domínio
(4) Acumulação Ethos de acusação
do Ético
Redação 03 -
Domínio
(1) Descrição narrativa Ethos de erudição
da Verdade
55
Redação 04 -
Domínio
da Verdade
Descrição narrativa/
(1) e Ethos de erudição
Comparação
Domínio
do Ético
[a] Domínio [a] Ethos
do Ético descontentamento
(2) [a] e [b] Acumulação
[b] Domínio [b] Ethos de
do Pragmático aconselhamento
(3) Domínio Acumulação Ethos de assertividade
da Verdade
Redação 05
Domínio
da Verdade
e Descrição narrativa Ethos de erudição
(1) Domínio
do Ético
Ethos de justificação/
Domínio Comparação/
(2) Ethos de
do Ético Acumulação
descontentamento
3
Quando a unidade informacional 3 não for a central, mas a de conclusão, ela não será analisada, já que será
enquadrada na análise da última parte do parágrafo. Ainda, a unidade informacional 2 do parágrafo da redação 05
será avaliada na conclusão do parágrafo, já que essa é a última do parágrafo do escritor.
4
Haverá diferença na quantidade de unidades informacionais nos trechos em que existir o procedimento discursivo
denominado Acumulação, tendo em vista que esse recurso argumentativo não considera as orações de forma
separada, mas resulta do conjunto delas.
58
Redação 01
1-[Em primeiro lugar, é válido reconhecer como esse panorama supracitado é capaz de
limitar a própria cidadania do indivíduo.] 2-[Acerca disso, é pertinente trazer o discurso
do filósofo Jürgen Habermas, no qual ele conceitua a ação comunicativa: esta consiste
na capacidade de uma pessoa em defender seus interesses e demonstrar o que acha
melhor para a comunidade, demandando ampla informatividade prévia.] 3-[[a]Assim,
sabendo que a cidadania consiste na luta pelo bem-estar social, caso os sujeitos não
possuam um pleno conhecimento da realidade na qual estão inseridos e de como seu
próximo pode desfrutar do bem comum – já que suas fontes de informação estão
direcionadas –, [b] eles serão incapazes de assumir plena defesa pelo coletivo.]] 4-
[Logo, a manipulação do comportamento não pode ser aceita em nome do combate,
também, ao individualismo e do zelo pelo bem grupal.]
Domínio
(1) Definição Ethos de valoração
do Ético
Domínio
(2) Citação Ethos de erudição
da Verdade
[a] Domínio
[a] Ethos de
da Verdade
justificação
(3) [a] e [b] Acumulação
[b] Domínio
[b] Ethos de Alerta
do Ético
Domínio
(4) Definição Ethos de intolerância
do Ético
Redação 02
Domínio
(1) Descrição narrativa Ethos de denúncia
do Ético
Domínio
(2) Citação Ethos de erudição
da Verdade
Domínio
(3) Descrição narrativa Ethos de justificação
do Ético
Domínio Ethos de
(4) Definição
do Ético assertividade
Redação 03
1-[A princípio, é necessário avaliar como o uso de dados pessoais por servidores de
tecnologia contribui para fomentar condutas intolerantes nas redes sociais.] 2-[Em
consonância com a filósofa Hannah Arendt, pode-se considerar a diversidade como
inerente à condição humana, de modo que os indivíduos deveriam estar habituados à
convivência com o diferente.] 3-[[a]Todavia, a filtragem de informações efetivada
pelas redes digitais inibe o contato do usuário com conteúdos que divergem dos seus
pontos de vista, [b] uma vez que os algoritmos utilizados favorecem publicações
compatíveis com o perfil do internauta.]] 4-[Observam-se, por consequência, restrições
ao debate e à confrontação de opiniões, que, por sua vez, favorecem a segmentação da
comunidade virtual.] 5-[[a]Esse cenário dificulta o exercício da convivência com a
diferença, [b] conforme defendido por Arendt, [c] o que reforça condutas intransigentes
como a discriminação.]]
Domínio
(1) Descrição narrativa Ethos de fiscalização
do Ético
Domínio
(2) Citação Ethos de erudição
da Verdade
[a] Domínio [a] Ethos de
do Ético descontentamento
(3) [a] e [b] Acumulação
[b] Domínio [b] Ethos de
do Ético justificação
Domínio
(4) Acumulação Ethos de didatismo
do Ético
[a] Domínio
[a] Ethos de
do Ético
descontentamento
[a] Descrição narrativa
[b] Domínio [b] Citação
[b] Ethos de erudição
(5) da Verdade [c] Descrição narrativa
[c] Ethos de
[c] Domínio
assertividade
do Ético
Redação 04
Domínio
(1) Descrição narrativa Ethos de valoração
do Ético
Domínio
(2) Acumulação Ethos de justificação
da Verdade
61
Domínio
(3) Citação Ethos de erudição
da Verdade
Domínio
(4) Acumulação Ethos de justificação
do Ético
Redação 05
Ethos de
Domínio
(1) Descrição narrativa assertividade/ Ethos
do Ético
de erudição
Domínio
(2) Citação Ethos de erudição
da Verdade
Domínio
(3) Acumulação Ethos de didatismo
da Verdade
Domínio Ethos de
(4) Descrição narrativa
do Ético assertividade
Redação 01
62
1-[Em segundo lugar, vale salientar como o controle de dados pela internet vai de
encontro à concepção do indivíduo pós-moderno.] 2-[Isso porque, de acordo com o
filósofo pós-estruturalista Stuart-Hall, o sujeito inserido na pós-modernidade é dotado
de múltiplas identidades.] 3-[Sendo assim, as preferências e ideias das pessoas estão
em constante interação, o que pode ser limitado pela prévia seleção de informações,
comerciais, produtos, entre outros.] 4-[Por fim, seria negligente não notar como a
tentativa de tais algoritmos de criar universos culturais adequados a um gosto de seu
usuário criam uma falsa sensação de livre-arbítrio e tolhe os múltiplos interesses e
identidades que um sujeito poderia assumir.]
Domínio
(1) Descrição narrativa Ethos de valoração
do Ético
Domínio
(2) Citação Ethos de erudição
da Verdade
Domínio
(3) Descrição narrativa Ethos de justificação
do Ético
Domínio Ethos de
(4) Acumulação
do Ético descontentamento
Redação 02
1-[Outrossim, a busca pelo ganho pessoal acima de tudo também pode ser apontado
como responsável pelo problema.] 2-[De acordo com o pensamento marxista, priorizar
o bem pessoal em detrimento do coletivo gera inúmeras dificuldades para a sociedade.]
3-[[a]Ao vender dados particulares e manipular o comportamento de usuários, [b]
empresas invadem a privacidade dos indivíduos e ferem importantes direitos da
população em nome de interesse individuais.]] 4-[Desse modo, a união da sociedade é
essencial para garantir o bem-estar coletivo e combater o controle de dados e a
manipulação do comportamento no meio digital.]
Ethos de
Domínio
(1) Descrição narrativa valoração/Ethos de
do Ético
fiscalização
da Verdade
Redação 03
1-[Em seguida, é relevante examinar como o controle sobre o conteúdo que é veiculado
em sites favorece a adesão dos internautas a certo viés ideológico.] 2-[Tendo em vista
que os servidores de redes sociais como “Facebook“ e “Twitter” traçam o perfil de
usuários com base nas páginas por eles visitadas, torna-se possível a identificação das
tendências de posicionamento político do indivíduo.] 3-[Em posse dessa informação,
as empresas de tecnologia podem privilegiar a veiculação de notícias, inclusive
daquelas de procedência não confirmada, com o fito de reforçar as posições políticas
do usuário, ou, ainda, de modificá-las para que se adequem aos interesses da
companhia.] 4-[Constata-se, assim, a possibilidade de manipulação ideológica na rede.]
Domínio
(1) Descrição narrativa Ethos de fiscalização
do Ético
Domínio
(2) Descrição narrativa Ethos de justificação
da Verdade
Domínio
(3) Acumulação Ethos de justificação
do Ético
Domínio Ethos de
(4) Descrição narrativa
do Ético assertividade
Redação 04
64
1-[Somado a isso, tendo em vista a capacidade dos algoritmos de selecionar o que vai
ou não ser lido, estes podem ser usados para moldar interesses pessoais dos leitores, a
fim de alcançar objetivos políticos e/ou econômicos.] 2-[[a]Nesse cenário, a divulgação
de notícias falsas é utilizada como artifício para dispersar ideologias, [b] contaminando
o espaço de autonomia previsto pelo sociólogo Manuel Castells, o qual caracteriza a
internet como ambiente importante para a amplitude da democracia, devido ao seu
caráter informativo e deliberativo.]] 3-[Desse modo, o controle de dados torna-se
nocivo ao desenvolvimento da consciência crítica dos usuários, bem como à
possibilidade de uso da internet como instrumento de politização.]
Domínio
(1) Acumulação Ethos de fiscalização
do Ético
[a] Domínio
[a] Ethos de
do Ético
[a] Definição assertividade
(2)
[b] Citação
[b] Domínio
[b] Ethos de erudição
da Verdade
Domínio Ethos de
(3) Acumulação
do Ético descontentamento
Redação 05
Domínio
(1) Descrição narrativa Ethos de fiscalização
do Ético
65
[a] Ethos de
[a] Domínio justificação/Ethos de
da Verdade didatismo
(2) [a] e [b] Acumulação
[b] Domínio [b] Ethos de
do Ético valoração/Ethos de
didatismo
[a] Domínio [a] Ethos de
do Ético descontentamento
(3) [a] e [b] Acumulação
[b] Domínio [b] Ethos de
do Ético assertividade
Conclusões
5
Serão desconsideradas as terceiras unidades informacionais que são, porventura, também a conclusão dos
parágrafos. A quarta unidade informacional do primeiro parágrafo do desenvolvimento da redação 03 também será
considerada nesse parágrafo de análise, pois o parágrafo desse candidato apresenta 5 unidades informacionais.
67
Redação 01
Domínio
(1) Dedução Ethos de avaliação
do Pragmático
[a] Domínio [a] Ethos de
da Verdade assertividade
[a] Definição
(2)
[b] Acumulação
[b] Domínio [b] Ethos de
do Ético cidadania
[a] Domínio [a] Ethos de
do Pragmático aconselhamento
Redação 02
Domínio
(1) Dedução Ethos de avaliação
do Ético
[a] Domínio [a] Ethos de
da Verdade justificação
Redação 03
Domínio
(1) Dedução Ethos de avaliação
do Pragmático
Domínio Ethos de
(2) Descrição narrativa
do Pragmático aconselhamento
Domínio
(3) Acumulação Ethos de didatismo
do Pragmático
[a] Domínio
[a] Ethos de
do Ético
cidadania
(4) [a] e [b] Acumulação
[b] Domínio
[b] Ethos de otimismo
do Ético
Redação 04
Domínio
(1) Dedução Ethos de avaliação
do Ético
[a] Domínio
[a] Ethos de
do Pragmático
aconselhamento
[b] Domínio
[b] Ethos de
do Pragmático
[a], [b], [c] e [d] didatismo
(2)
Acumulação
[c] Domínio
[c] Ethos de justiça
do Ético
[d] Ethos de
[d] Domínio
cidadania
do Ético
Domínio
(4) Descrição narrativa Ethos de otimismo
do Ético
Redação 05
71
6. CONCLUSÃO
Como visto no início deste trabalho, a ideia de argumentar, persuadir, remonta à Grécia
Antiga, quando nos referimos ao surgimento da retórica. Desde então, em virtude de sua
constante aplicação e relevância entre os homens, a prática da argumentação passou a compor
diversos âmbitos da sociedade, chegando até a atualidade. Assim, com base nos apontamentos
ao longo deste estudo, foi possível verificar que tal prática se faz presente (e necessária) em
diversas provas seletivas para ingresso no ensino superior do país, fato que lhe proporciona
ainda mais prestígio, além do reconhecimento de sua eficácia como instrumento de persuasão
ao longo dos séculos.
Com isso em vista, o presente trabalho apresentou os resultados de uma pesquisa que
analisou, com base na Teoria Semiolinguística do Discurso, a construção da encenação
argumentativa em redações com nota máxima no ENEM/2018. Nesses textos, caracterizamos,
à luz dos fundamentos teóricos relativos aos gêneros do discurso, à retórica e à argumentação
(BAKHTIN, 1997 [1979]; CHARAUDEAU, 2005, 2007, 2019 [2008]; EMEDIATO, 2001), o
funcionamento do dispositivo argumentativo, os procedimentos semânticos, discursivos e
etóticos colocados em cena pelos sujeitos escritores na tessitura de seus textos, o que foi feito
por meio de uma pesquisa documental, de natureza qualitativa e interpretativista.
Abrimos este trabalho apresentando os pressupostos gerais relativos ao conceito de
gêneros textuais/discursivos, levando em conta, sobretudo, os estudos de Bakhtin (1997 [1979],
2006 [1929]), de Charaudeau (2004) e de Marcuschi (2010), nos quais prevalece a ideia de que
74
para que um ato de linguagem seja válido, é necessário que os parceiros reconheçam o direito
à fala, um do outro, e que possuam saberes em comum. Ao mesmo tempo, segundo princípios
de influência e regulação, tais parceiros valem-se também do uso de estratégias. Portanto, é
possível afirmar que a estruturação de um ato de linguagem abarca dois espaços: um de
restrições - o qual compreende as condições mínimas que possibilitam a validade do ato de
linguagem - e de estratégias - correspondendo esse “às escolhas possíveis à disposição dos
sujeitos mise-en-scene do ato de linguagem” (CHARAUDEAU, 2005, p. 18).
Também ganhou destaque a apresentação do modo argumentativo de organização do
discurso, teoria na qual Charaudeau (2019 [2008]) pontua que a argumentação é direcionada à
parte do interlocutor que raciona, reflete e compreende. Para o autor, aquele que argumenta
vale-se de uma convicção e de uma explicação que visa à persuasão de outrem, com finalidade
inquestionável de modificar seu comportamento primeiro. Assim, para que tal cenário se
efetive, é necessário, em primeiro lugar, que exista uma proposta acerca do mundo que promova
um questionamento, sobre alguém, em relação à sua categoria de legitimação. Em segundo
lugar, faz-se preciso que um falante possa se engajar em relação a tal questionamento,
potencializando um raciocínio que objetive estabelecer uma verdade quanto à proposta em
questão. Por fim, carece-se, na ponta, de um outro sujeito de interação, interligado à mesma
proposta, questionamento e verdade, do qual busca-se a adesão.
Para mais, aprofundamo-nos, a partir de Charaudeau (2019 [2008]), no aspecto teórico
encenação argumentativa do discurso. Essa consiste - no que se refere ao sujeito que deseja
argumentar - em se valer de procedimentos que, baseados nos diversos componentes do modo
de organização argumentativo, devem servir à comunicação em função da situação e do modo
pelo qual o interlocutor é percebido. Tais procedimentos têm a função primordial de validar
uma argumentação, ou seja, demonstrar que a proposição é justificada, o que para ser feito
precisa da elaboração da prova.
Assim, diversos procedimentos contribuem para produzir o que irá provar a validade de
uma encenação argumentativa, segundo Charaudeau (2019 [2008]). Por vezes, baseia-se no
valor dos argumentos, os quais são procedimentos semânticos. Outros aplicam categorias
linguísticas com a finalidade de produzir determinados efeitos de discurso, as quais são
denominadas procedimentos discursivos. No que se refere aos procedimentos semânticos,
notamos que consistem na utilização de argumentos os quais se fundamentam em um consenso
social, em razão de os membros de um determinado grupo sociocultural compartilharem
valores específicos. Para este trabalho, três desses domínios foram mais relevantes: o domínio
da Verdade, o domínio do Ético e o domínio do Pragmático. No que se refere aos procedimentos
76
discursivos, vimos que tais recursos, a partir das considerações de Charaudeau (2019 [2008]),
consistem na utilização, de forma ocasional ou sistêmica, de determinadas categorias de língua
ou de recursos de outros modos de organização do discurso, objetivando produzir específicos
efeitos de persuasão no âmbito de uma argumentação. Neste trabalho, destacamos a definição,
a dedução, a comparação, a citação, a descrição narrativa e a acumulação.
Por fim, o arcabouço teórico foi finalizado com a apresentação da noção ethos. A partir
da perspectiva semiolinguística de Charaudeau (2007), verificamos que tal é resultado da fusão
das duas identidades do sujeito: a social (inerente ao locutor) e a discursiva (relacionada ao
enunciador). A primeira aqui inscrita é aquela que proporciona o direito à fala, permitindo a
legitimidade comunicante em virtude do papel que lhe é atribuído a partir da situação de
comunicação. Já na segunda identidade, o sujeito elabora para si próprio uma imagem daquele
que enuncia, atendo-se “aos papéis que ele se atribui em seu ato de enunciação, resultado das
coerções da situação de comunicação que se impõe a ele e das estratégias que ele escolhe
seguir.” (CHARAUDEAU, 2007, p. 115). Logo, o sentido emanado pelas palavras emitidas
dependerá, ao mesmo tempo, daquilo que somos e daquilo que falamos.
Após a apresentação das teorias, realizamos análise do corpus, a qual foi dividida em
duas etapas. Em ambas, buscamos apontar o funcionamento do dispositivo argumentativo das
redações selecionadas e a encenação argumentativa dos textos, com foco nos procedimentos
semânticos, discursivos e etóticos empregados pelos candidatos na elaboração dos textos que
obtiveram a nota máxima no Exame, no ano de 2018. Assim, na primeira etapa, organizamos
os parágrafos das redações em três seções: (i) Introduções; (ii) Desenvolvimentos; (iii)
Conclusões. Em seguida, cada parágrafo foi segmentado em unidades informacionais menores
(representadas por orações ou por períodos sintáticos).
Ao analisarmos as unidades informacionais (representadas por orações ou por períodos
sintáticos) que compunham cada um dos parágrafos das redações de nota máxima no Enem,
observamos que o procedimento semântico mais aplicado foi o Domínio do Ético, o
procedimento discursivo mais utilizado foi a Acumulação e os ethos projetados mais
frequentemente foram o de Erudição, seguido do de Descontentamento. Com isso, constata-se
como a Teoria Semiolinguística do Discurso de Charaudeau atravessa as estratégias
argumentativas encenadas pelos escritores da prova de redação do Enem.
Logo, vê-se que este trabalho alcançou os objetivos propostos em seu início, já que foi
possível caracterizar, nas redações com nota máxima no ENEM/2018, os procedimentos
semânticos, discursivos e etóticos colocados em cena pelos sujeitos escritores. Em virtude
disso, tal como mencionado na finalidade deste estudo, este trabalho pode ser didatizado e
77
aplicado em sala de aula, já que faltam materiais teóricos variados cuja análise argumentativa
se dê nas micropartes do texto dissertativo-argumentativo. Com isso, os alunos poderiam
dominar as múltiplas maneiras de colocar a argumentação em cena, com estratégias mais plurais
e significativas, sempre colaborando para a existência e permanência do contrato de
comunicação.
Fica, também, a sugestão para que trabalhos semelhantes, embasados em outras teorias,
possam ser elaborados e direcionados a docentes da área de Língua Portuguesa das escolas
básicas – ou até mesmo das universidades – para que existam profissionais suficientemente
capacitados para lidar com o trabalho da argumentação em sala de aula e com a prova escrita
mais importante do país: a redação do ENEM.
REFERÊNCIAS
ADAM, J. M. Linguística textual: introdução à análise textual dos discursos. São Paulo: Cortez,
2008.
BAKHTIN. M (1979). Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997. (Original
de 1979)
BAKHTIN. M (1929). Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2006. (Original
de 1929)
BUNZEN, C. Da era da composição à era dos gêneros: o ensino de produção de texto no ensino
médio. In: BUNZEN, C.; MENDONÇA, M. (Orgs). Português no ensino médio e formação do
professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
LORDES, A. Wa. O estudo dos gêneros sob três dimensões de análise: a situação comunicação,
as restrições discursivas e as restrições formais. Anais do SILEL. vol 2, n° 2. Uberlândia:
EDUFU, 2011.
PRADO, D. de F; MORATO, R.A. A redação do ENEM como gênero textual discursivo: uma
breve reflexão. Cadernos CEsPUC. Belo Horizonte, nº 29, 2016.
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. 26 ed. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo
Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 1995. (Original de 1916)
SEGATE, A. Gêneros Textuais no Ensino de Língua Portuguesa. Linha D’Água, (23), 13-24,
2010.