Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SUMÁRIO
DIREITOS HUMANOS 1 - 70
DIREITOS HUMANOS - 1
DIREITOS HUMANOS 2
DIREITOS HUMANOS DAS MINORIAS E GRUPOS
VULNERÁVEIS 53
13.1. Noções Iniciais 53
13.2. Direitos Humanos das Mulheres 53
13.3. Direitos Humanos dos Idosos 55
13.4. Direitos Humanos das Crianças e
Adolescentes 57
13.5. Direitos Humanos dos Povos Indígenas e
Comunidades Tradicionais 58
13.6. Direitos Humanos das Pessoas com
Deficiência 62
13.7. Direitos Humanos das Pessoas Pertencentes
à Comunidade LGBTQIA+ 64
13.8. Direitos Humanos dos Refugiados 67
13.9. Direitos Humanos dos Consumidores 69
DIREITOS HUMANOS - 2
DIREITOS HUMANOS 3
jurisdição. São direitos indispensáveis a uma vida
NOÇÕES GERAIS
digna e que, por isso, estabelecem um nível protetivo
Para Mazzuoli2, a expressão Direitos fato, sabe-se que a proteção jurídica dos direitos das
humanos é intrinsecamente ligada ao direito pessoas pode provir ou vir a provir da ordem interna
“direitos humanos”, o que tecnicamente se está a dizer internacional). Quando é a primeira que protege os
é que há direitos que são garantidos por normas de direitos de um cidadão, está-se diante da proteção de
tratados celebrados entre Estados com o propósito segunda que protege esse mesmo direito, está-se
específico de proteger os direitos (civis e políticos; perante a proteção de um direito humano dela.3
Os direitos humanos são, portanto, direitos “direitos fundamentais” e “direitos humanos”. Por isso,
3
1
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 45. São Paulo: 2021, p. 22.
2 4
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p.22. São Paulo: 2021, p. 24-25.
DIREITOS HUMANOS - 3
DIREITOS HUMANOS 4
direitos naturais (ou seja, ainda não tais sacrifícios resultarão em benefícios a
5 6
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
São Paulo: 2021, p. 27. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 48-49.
DIREITOS HUMANOS - 4
DIREITOS HUMANOS 5
construindo com o decorrer do tempo7, conteúdo. Isto é, não há liberdade que
● Universalidade: Significa que são titulares seja de forma onerosa ou gratuita, ou seja,
dos direitos humanos todas as pessoas, são inegociáveis. Ou seja, pugna pela
para se poder invocar a proteção desses pecuniária dos direitos humanos para fins de
direitos humanos não há como ter uma vida constante renovação e incorporação de
DIREITOS HUMANOS - 5
DIREITOS HUMANOS 6
pois isso constituiria um verdadeiro concreto, deve sempre aplicar a norma mais favorável
qualquer exceção.
13
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 29.
14
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 155.
15
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 155.
DIREITOS HUMANOS - 6
DIREITOS HUMANOS 7
espaço de liberdade individual ao qual o
A TEORIA DOS STATUS DE
Estado deve respeito, abstendo-se de
face do indivíduo.
A teoria dos status de Georg Jellinek busca
● Status Positivo ou Status Civitatis: Consiste
explicar a relação do indivíduo com o Estado, sob a
no conjunto de pretensões do indivíduo
ótica dos direitos. Na sua visão, em oposição ao
para invocar a atuação do Estado em prol
jusnaturalismo, os direitos humanos devem ser
dos seus direitos. O indivíduo tem o poder
traduzidos em normas jurídicas estatais para que
de provocar o Estado para que interfira e
possam ser garantidos e concretizados. Por isso, sua
atenda seus pleitos. A liberdade do indivíduo
teoria relaciona-se com a posição do direito do
adquire agora uma faceta positiva, apta a
indivíduo em face do Estado, com previsão de
exigir mais do que a simples abstenção do
mecanismos de garantia a serem invocados no
Estado (que era a característica do “status”
ordenamento estatal.16
negativo), levando a proibição da omissão
Segundo a teoria, quatro são as posições estatal.19
que o indivíduo pode se encontrar diante do Estado,
● Status Ativo ou Status Activus: Consiste no
sendo as seguintes:
conjunto de prerrogativas e faculdades que o
● Status Subjectionis ou Status Passivo: O indivíduo possui para participar da formação
indivíduo se encontra em uma posição de da vontade do Estado, refletindo no exercício
subordinação em face do Estado, que detém de direitos políticos e no direito de aceder
atribuições e prerrogativas, aptas a vincular o aos cargos em órgãos públicos. Em outros
indivíduo e exigir determinadas condutas ou termos, é possibilidade de participação do
ainda impor limitações (proibições) a suas indivíduo na vida pública.20
ações.17
DIREITOS HUMANOS - 7
DIREITOS HUMANOS 8
exemplo o direito à propriedade, à igualdade
GERAÇÕES OU DIMENSÕES DE
formal, ao nome etc.
23
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 45.
21 24
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 88. São Paulo: 2021, p. 45.
22 25
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
São Paulo: 2021, p. 44. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 90.
DIREITOS HUMANOS - 8
DIREITOS HUMANOS 9
da sociedade aberta do futuro, em sua
26
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 45.
27
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 46.
DIREITOS HUMANOS - 9
DIREITOS HUMANOS 10
Westfália de 1648, que colocaram fim à Guerra dos
DIREITO INTERNACIONAL DOS
Trinta Anos e fomentaram o nascimento do
contemporânea. Sem dúvida, os direitos humanos, tais ● O Direito Humanitário: Trata-se do direito
como hoje concebidos, são uma reação da sociedade aplicável na proteção do ser humano na
internacional às barbáries perpetradas desde esse situação específica dos conflitos armados
28
período. (internacionais e não internacionais)31,
DIREITOS HUMANOS - 10
DIREITOS HUMANOS 11
● A Liga das Nações: A Liga das Nações foi Quanto aos instrumentos de caráter global,
criada após a Primeira Guerra Mundial pertencem ao sistema de proteção das Nações
com finalidade de promover a cooperação, a Unidas (ou sistema “onusiano”). Por sua vez, os de
paz e a segurança internacional, condenando caráter regional pertencem a um dos três sistemas
Entende-se que o antecedente que mais passou a ser considerado sujeito do direito
Internacional dos Direitos Humanos foi a global, a ONU passou a ser o grande foro
criada, finda a Primeira Guerra Mundial, com direitos humanos e sua proteção.35 São
Crianças etc.
A estrutura normativa do sistema
● Sistemas Regionais: Além dos instrumentos
internacional de proteção dos direitos humanos
de proteção global, existem instrumentos de
conforma-se em instrumentos de caráter global e
proteção regional, pertencentes aos
regional.
sistemas europeu, americano e africano.
34
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 55.
33 35
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 54. São Paulo: 2021, p. 55.
DIREITOS HUMANOS - 11
DIREITOS HUMANOS 12
Na atualidade, o sistema mais desenvolvido é solução no sistema regional em que a violação de
37
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 56.
36 38
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 55. São Paulo: 2021, p. 57.
DIREITOS HUMANOS - 12
DIREITOS HUMANOS 13
internacional e no desenvolvimento das relações
AS NAÇÕES UNIDAS E A
pacíficas entre as Nações.40
Foi com o nascimento das Nações Unidas “Art. 13. 1. A Assembleia Geral iniciará
que teve início uma nova ordem internacional que estudos e fará recomendações, destinados
instaura um novo modelo de conduta nas relações a: (...) b) promover cooperação internacional
internacionais, com preocupações que incluem a nos terrenos econômico, social, cultural,
padrão internacional de saúde, a proteção ao meio “Art. 55. Com o fim de criar condições de
ambiente, a criação de uma nova ordem econômica estabilidade e bem-estar, necessárias às
humanos. 39
Nações, baseadas no respeito ao princípio
da igualdade de direitos e da
Com a consolidação da Carta da ONU, o
autodeterminação dos povos, as Nações
respeito às liberdades fundamentais e aos direitos
Unidas favorecerão: (...) c) o respeito
humanos passou a ser preocupação internacional e universal e efetivo dos direitos humanos e
propósito básico das Nações Unidas. Nesse cenário, os das liberdades fundamentais para todos, sem
problemas internos dos Estados e suas relações com distinção de raça, sexo, língua ou religião”;
os seus cidadãos passam a fazer parte de um contexto
DIREITOS HUMANOS - 13
DIREITOS HUMANOS 14
“Art. 56. Para a realização dos propósitos princípio, porém, não
separadamente”.
A partir de tal disposição, muitos Estados
DIREITOS HUMANOS - 14
DIREITOS HUMANOS 15
relacionado à proteção dos direitos humanos, pode ser necessária a criação de dois pactos (hard law) com a
assunto cuja competência está mais ligada à ordem finalidade de dar operatividade técnica aos direitos
internacional que à ordem jurídica interna. Os direitos nela previstos: o Pacto Internacional dos Direitos Civis
humanos e liberdades fundamentais e, ainda, outros e Políticos (Pacto Civil) e o Pacto Internacional sobre
assuntos tipicamente nacionais, como os relativos à Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Pacto Social),
imigração, nacionalidade, trabalho e armamentos, não ambos concluídos em Nova York em 1966.45
Universal de 1948
DIREITOS HUMANOS - 15
DIREITOS HUMANOS 16
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS
6.2. Estrutura
DIREITOS HUMANOS
A estrutura da DUDOH é bipartite, ao passo
217 A-III, da Assembleia Geral da ONU, tem como um A estrutura dual ou bipartite revela um
dos principais objetivos a positivação internacional dos caráter compromissório da Declaração, uma vez que
direitos mínimos dos seres humanos, conjuga ideais liberais com ideais sociais. Assim,
complementando, de certa maneira, aquelas preocupa-se tanto com a liberdade do indivíduo frente
proposições previstas da Carta da ONU. ao autoritarismo estatal quanto com a igualdade
protetivo das Nações Unidas, a partir do qual se A partir do seu art. 1º, a Declaração
fomentou a multiplicação dos tratados relativos a contempla uma série de direitos que são reproduzidos
46
direitos humanos em escala global. A DUDOH foi em diversas Constituições até os dias de hoje, tais
concebida para ser um verdadeiro “código de conduta como direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal
mundial”, no sentido de que todas as pessoas devem (art. 3.º); vedação de tortura ou a castigo cruel,
ser consideradas sujeito dos direitos humanos, sendo desumano ou degradante (art. 5.º); direito a ser julgado
estes universais e transponíveis de quaisquer por um tribunal justo e imparcial (art. 10); direito à
barreiras, sejam culturais, econômicas ou sociais. Em presunção de inocência (art. 11, §1º); liberdade de
suma, a dignidade da pessoa humana é intrínseca à locomoção (art. 13, §1º); direito de propriedade (art.
toda pessoa do planeta. 17, §1º e 2º); direito à justa remuneração pelo trabalho
DIREITOS HUMANOS - 16
DIREITOS HUMANOS 17
procedimentos tanto internacionais como internos que
de igualdade com a Carta das Nações Unidas. A isso se Já no que diz respeito ao ordenamento
pode acrescentar que a Declaração Universal, por ser a interno brasileiro, a Declaração Universal serviu de
manifestação das regras costumeiras universalmente paradigma para a Constituição da República de 1988,
reconhecidas em relação aos direitos humanos, trazendo uma alta carga de proteção aos direitos
integra as normas do jus cogens internacional, em humanos em seu texto. É possível notar que muitos
relação às quais nenhuma derrogação é permitida, a dispositivos da Constituição são praticamente
não ser por norma de jus cogens posterior da mesma idênticos a alguns artigos da DUDH, não havendo
natureza, por deterem uma força anterior a todo o como negar a sua influência no constitucionalismo
direito positivo. brasileiro.
48
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 70.
49 50
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 71. São Paulo: 2021, p. 74.
DIREITOS HUMANOS - 17
DIREITOS HUMANOS 18
regulamento a parte liberal da DUDH (art. 1º ao 21),
PACTOS INTERNACIONAIS DA
que trata, sobretudo, de direitos humanos de 1ª
práticos para efetivação dos direitos previstos na Com o advento dos Pactos de 1966 foram
DUDH, tem-se procurado firmar vários pactos e criados mecanismos convencionais de monitoramento
convenções internacionais a fim de assegurar a dos direitos humanos, por meio da Organização das
proteção dos direitos humanos nela consagrados. Nações Unidas, a exemplo dos relatórios temáticos
Dentre os instrumentos, podemos citar dois como os (ou reports), em que cada Estado relata à ONU o modo
mais importantes: o Pacto Internacional sobre pelo qual está implementando os direitos humanos no
Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos país, e das comunicações interestatais, em que um dos
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos Estados-partes no acordo alega que outro
aprovados pela Assembleia Geral da ONU, em Nova Estado-parte incorreu ou está incorrendo
51
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. 53
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 78.
52 São Paulo: 2021, p. 79.
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. 54
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 78. São Paulo: 2021, p. 78.
DIREITOS HUMANOS - 18
DIREITOS HUMANOS 19
Existe, ainda, o mecanismo das petições não fazer estatal em face do indivíduo, vendando
DIREITOS HUMANOS - 19
DIREITOS HUMANOS 20
● A primeira, com previsão no art. 41 do ser vítimas de violação, por um Estado-parte, de
Pacto, é de natureza conciliatória e faculta qualquer dos direitos enunciados no Pacto. Com isso,
Estado contra outro, quando se alega que indivíduos, abrindo a possibilidade de utilização direta
decorrentes do tratado.
O mecanismo de petições individuais
● A segunda é de natureza investigatória encontra alguns requisitos previstos no art. 5.º, § 2.º,
assegurar de que:
de inquérito ou de decisão;
O protocolo facultativo, que entrou em vigor
23 de março de 1976 e foi aprovado foi aprovado no b) O indivíduo esgotou os recursos internos
Brasil apenas em 16 de junho de 2009, pelo Decreto disponíveis. Esta regra não se aplica se a
Um dos pontos de maior destaque do pela doutrina como “local remedies rule”. Porém,
Protocolo é o mecanismo de petições individuais, por ainda na alínea “b” há uma exceção a essa regra,
meios dos quais se abre a possibilidade, caso haja dispensando a exigência de prévio esgotamento dos
consentimento dos Estados, de atribuem ao Comitê a recursos internos quando a aplicação de tais recursos
DIREITOS HUMANOS - 20
DIREITOS HUMANOS 21
qualquer outro tratado internacional, tendo as dar juridicidade aos preceitos da Declaração Universal
mesmas características destes e devendo passar pelos de 1948, sobretudo à sua segunda parte, que abrange
mesmos trâmites internos. Contudo, eventual falta de os arts. 22 a 27. Além disso, contém um elenco de
promulgação executiva não retira a sua eficácia, por direitos muito mais amplo e mais bem elaborado que
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos com vistas Direitos Econômicos, Sociais e Culturais são exemplo
à abolição da pena de morte, tendo sido adotado e daquilo que se convencionou chamar de normas de
proclamado pela Resolução n. 44/128 da Assembleia caráter programático64. Nesse sentido, estabelece a
Geral da ONU, de 15 de dezembro de 1989. No Brasil, obrigação de o Estado adotar medidas, inclusive pela
foi aprovado junto do Protocolo Facultativo ao Pacto assistência e cooperação internacionais, para
daqueles direitos.65
O Pacto em análise foi aprovado pela (PIDCP) diz respeito às distintas obrigações jurídicas
Assembleia Geral da ONU em 16 de dezembro de que ambos impõem. Enquanto no PIDESC o Estado
1966, mas somente entrou em vigor em 1976, sendo precisa dispor de recursos financeiros (que são finitos)
considerado um marco por ter assegurado destaque para consecução dos direitos econômicos, sociais e
aos direitos econômicos, sociais e culturais, vencendo culturais, exigindo uma progressiva implementação
a resistência de vários Estados e mesmo da doutrina, dos mesmos ante a escassez de recursos, no âmbito
que viam os direitos sociais em sentido amplo como do PIDCP os direitos civis e políticos são uma obrigação
DIREITOS HUMANOS - 21
DIREITOS HUMANOS 22
Muitos direitos foram previstos no Pacto Até o ano de 2008 era desconhecido o
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e mecanismo das petições individuais no âmbito do
autodeterminação dos povos (art. 1.º, § 1.º); liberdade Facultativo, o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e
de escolha do trabalho (art. 6.º, § 1.º); filiação sindical Culturais fica habilitado a apreciar as petições
(art. 8º); direito à previdência social (art. 9.º); e o direito individuais (de pessoas ou grupos de pessoas) em que
de cada indivíduo de participar da vida cultural, se alega violação de um dos direitos econômicos,
desfrutar do progresso científico (art. 15, §1º). sociais e culturais enunciados no Pacto.70 Reafirma-se,
realizado, com o objetivo de assegurar a observância admissibilidade das petições individuais, com
dos direitos reconhecidos no Pacto.67 Os relatórios previsão no art. 3.º, §§ 1.º e 2.º, do Protocolo, vejamos:
DIREITOS HUMANOS - 22
DIREITOS HUMANOS 23
b) Os fatos que são o objeto da com a finalidade de evitar possíveis danos irreparáveis,
comunicação ocorreram anteriormente à em circunstâncias excepcionais, a qualquer tempo
entrada em vigor do presente Protocolo depois do reconhecimento da comunicação e antes da
para o Estado Parte interessado, a não ser decisão de mérito (art. 5). Ademais, o Comitê pode
que tais fatos tenham continuado a ocorrer
disponibilizar os seus bons préstimos para a finalidade
após tal data;
de se alcançar um acordo amigável entre as partes
uma comunicação; ou
escrito.”
DIREITOS HUMANOS - 23
DIREITOS HUMANOS 24
Esses mecanismos não convencionais criados
MECANISMOS GLOBAIS NÃO
pela Comissão funcionam até os dias atuais e vêm
Os mecanismos não convencionais são utilizados pelo Conselho são considerados não
aqueles não previstos originariamente em tratados convencionais porque a autorização que o Conselho
internacionais a que os Estados formalmente tem para investigar a situação dos direitos humanos
aderem. Assim, o fundamento desses mecanismos não nos países não provém de tratados, mas de
internacional específico, tendo como supedâneo a Econômico e Social da ONU. Tais resoluções autorizam
própria Carta das Nações Unidas.75 o monitoramento dos direitos humanos em quaisquer
antiga Comissão logrou acompanhar a situação dos No ano de 1967, a partir das vindicações dos
direitos humanos em diversos países, agindo por países afro-asiáticos relativamente às violações de
75
comento, a Comissão de Direitos Humanos passou a
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 92.
76 77
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 93. São Paulo: 2021, p. 93.
DIREITOS HUMANOS - 24
DIREITOS HUMANOS 25
investigar as mais diversas violações de direitos
Resolução 1235 do ECOSOC passou a ter um objeto Trata-se de mais um mecanismo não
bem mais amplo, autorizando a investigação de convencional de monitoramento, instituído por meio
quaisquer questões relativas a direitos humanos em da Resolução 60/251 da Assembleia Geral da ONU. A
todo o mundo, e não somente relacionadas à finalidade do mecanismo é a implementação da
preconceito.78 chamada revisão por pares (peer review) em matéria
de direitos humanos.
A resolução em análise veio para situação dos direitos humanos em seus respectivos
operacionalizar os trabalhos da a Comissão de Direitos territórios, sob o escrutínio dos demais países (ao que
Humanos da ONU, mormente quanto à investigação se denomina “escrutínio universal”). Dessa maneira, há
autorizada pela Resolução 1.235 do ECOSOC uma avaliação recíproca dos Estados no que concerne
(apartheid). Como forma de criar um procedimento à proteção dos direitos humanos no território de cada
para realização dos trabalhos desenvolvidos, fora qual, permitindo uma visualização ampla do cenário
Proteção às Minorias, por meio da atuação de um situação dos direitos humanos em um dado Estado, é
grupo de trabalho, tem competência para analisar as o que se chama de relatório-sombra (shadow
comunicações sobre violação de direitos humanos report). Esses relatórios devem ser públicos e são
recebidas e decidir quais se submetem à Comissão de levados em consideração quando do escrutínio dos
78
supervisionam em relação às políticas que cada um
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 95.
79
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 95.
80 81
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 96. São Paulo: 2021, p. 99.
DIREITOS HUMANOS - 25
DIREITOS HUMANOS 26
vem adotando em matéria de democracia,
82
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 100.
DIREITOS HUMANOS - 26
DIREITOS HUMANOS 27
Como reação a todas as barbáries cometidas
DIREITO INTERNACIONAL
no Holocausto, criou-se (por meio do Acordo de
83
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 148.
84 86
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 787. São Paulo: 2021, p. 149.
85 87
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
São Paulo: 2021, p. 149. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 789.
DIREITOS HUMANOS - 27
DIREITOS HUMANOS 28
violações de direitos de idêntica gravidade perpetrados 9.2. O Estatuto de Roma e O Tribunal Penal
em Ruanda. Internacional
Esses tribunais são importantes porque Após anos de negociação no seio das Nações
(como genocídio, crime contra a humanidade e crimes Intergovernamental em Roma (Itália), foi adotado o
de guerra) associados ao devido processo legal, com texto do tratado internacional que cria o Tribunal
direitos da defesa. Também adotaram o princípio da Penal Internacional (TPI), também chamado de
detrimento da jurisdição nacional, dado o momento foi a de constituir um tribunal internacional com
eles violaram a regra basilar do direito penal segundo O TPI é dotado de características próprias e
a qual o juiz, assim como a lei, deve ser pré-constituído peculiares que o diferenciam dos demais tribunais
aceleraram-se os esforços das Nações Unidas para a humanos centrífugos são os que regem as
permanente, para julgar os indivíduos acusados de indivíduos com a chamada jurisdição global
cometer crimes de jus cogens posteriores à data de (ou universal). Denominam-se centrífugos
instalação do tribunal (evitando-se o estigma do exatamente porque são tratados que saem
tribunal ad hoc e as críticas aos “tribunais de exceção”), do centro, ou seja, da jurisdição comum,
90
sob o pálio do devido processo legal. normal ou ordinária, retirando o sujeito ou o
88
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed. 91
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 791. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 792.
89
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. 92
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 150. São Paulo: 2021, p. 151.
90 93
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 791. São Paulo: 2021, p. 152.
DIREITOS HUMANOS - 28
DIREITOS HUMANOS 29
● Tribunal Independente: Diferente dos 9.3. Estrutura e Funcionamento do TPI
DIREITOS HUMANOS - 29
DIREITOS HUMANOS 30
Já em relação ao âmbito espacial, a jurisdição ● Uma Seção de Recursos, uma Seção de
do TPI só pode ser exercida em quatro hipóteses, ou Julgamento em Primeira Instância e uma
do Tribunal for:
● Gabinete do Promotor (chamado pelo
Estado não contratante (caso o crime tiver Devemos ter atenção, também, às questões
100
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 154.
DIREITOS HUMANOS - 30
DIREITOS HUMANOS 31
c) A pessoa em causa já tiver sido julgada pela (assassinato).102 O art. 6º do Estatuto de
conduta a que se refere a denúncia, e não Roma define o genocídio como sendo o ato
puder ser julgada pelo Tribunal em virtude do ou atos cometidos com a intenção de
disposto no parágrafo 3o do artigo 20; destruir, no todo ou em parte, um grupo
vejamos:
Há vedação expressa no art. 120 do Estatuto
obrigações.101
a) Homicídio de membros do grupo;
O TPI é competente para julgar, com caráter c) Sujeição intencional do grupo a condições
nas partículas genos (raça, tribo) e cídio contra a humanidade foram introduzidos no
101 102
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
ed. São Paulo: 2021, p. 156. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 800.
DIREITOS HUMANOS - 31
DIREITOS HUMANOS 32
Direito Internacional pelo Estatuto de d) Deportação ou transferência forçada de
mental.”
c) Escravidão;
DIREITOS HUMANOS - 32
DIREITOS HUMANOS 33
Internacional Humanitário, que compreende a) As violações graves às Convenções de
condutas na guerra.104 Tais crimes são fruto qualquer um dos seguintes atos, dirigidos
biológicas;
praticados durante conflitos armados com
DIREITOS HUMANOS - 33
DIREITOS HUMANOS 34
internacional, a saber, qualquer um dos meios para se defender, se tenha
população civil em geral ou civis que não trégua, a bandeira nacional, as insígnias
DIREITOS HUMANOS - 34
DIREITOS HUMANOS 35
xi) Matar ou ferir à traição pessoas efeitos indiscriminados, em violação do
xvii) Utilizar veneno ou armas envenenadas; xxiii) Utilizar a presença de civis ou de outras
DIREITOS HUMANOS - 35
DIREITOS HUMANOS 36
de socorros, tal como previsto nas d) A alínea c) do parágrafo 2o do presente
que tenham deposto armas e os que população civil em geral ou civis que não
i) Atos de violência contra a vida e contra a sanitários, bem como ao pessoal que esteja
DIREITOS HUMANOS - 36
DIREITOS HUMANOS 37
onde se agrupem doentes e feridos, sempre causem a morte ou ponham seriamente a
assalto; o exijam;
gravidez à força, tal como definida na alínea que não tenham caráter internacional e, por
o o
f do parágrafo 2 do artigo 7 ; esterilização à conseguinte, não se aplicará a situações de
força ou qualquer outra forma de violência distúrbio e de tensão internas, tais como
sexual que constitua uma violação grave do motins, atos de violência esporádicos ou
o
artigo 3 comum às quatro Convenções de isolados ou outros de caráter semelhante;
DIREITOS HUMANOS - 37
DIREITOS HUMANOS 38
o crime de agressão como sendo “o 3. Nos termos do presente Estatuto, será
pessoa em posição de efetivo controle ou poderá ser punido pela prática de um crime
dos Estados-partes ativou a jurisdição do TPI desse crime, sob forma consumada ou sob a
106
f) Tentar cometer o crime mediante atos
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 804. que contribuam substancialmente para a
107
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 159.
DIREITOS HUMANOS - 38
DIREITOS HUMANOS 39
sua execução, ainda que não se venha a público, em caso algum eximirá a pessoa em
físicas em nada afetará a responsabilidade Tribunal exerça a sua jurisdição sobre essa
internacional.”
responsabilidade do Estado. Outro ponto a se destacar Para os crimes punidos pelos TPI não há
é que as imunidades ou os privilégios especiais que uma pena em abstrato prevista, ou seja, não há
possam ser concedidos aos indivíduos em função de previsão de intervalo específico de pena por tipo de
sua condição como ocupantes de cargos ou funções crime. Dessa maneira, o Tribunal pode impor à pessoa
estatais, segundo o seu direito interno ou o próprio condenada pena de prisão por um número
direito internacional, não constituem impedimento a determinado de anos, até o limite máximo de 30 anos;
que o Tribunal exerça a sua jurisdição relativamente a ou ainda a pena de prisão perpétua, se o elevado grau
essas pessoas108, é o que estabelece o art. 27. de ilicitude do fato e as condições pessoais do
de Governo ou do Parlamento, de
108 109
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
ed. São Paulo: 2021, p. 160. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 813.
DIREITOS HUMANOS - 39
DIREITOS HUMANOS 40
catálogo de direitos protegidos, ampliando o seu bloco
INCORPORAÇÃO DOS
de constitucionalidade.111
TRATADOS DE DIREITOS
HUMANOS NO BRASIL 10.2. Terminologia
direitos humanos, quando, no § 2.º do seu art. 5.º, Portanto, a Constituição de 1988, seguindo a
estabeleceu: tradição constitucional brasileira, adota essa
111
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed.
São Paulo: 2021, p. 164.
112
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 846.
110 113
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
São Paulo: 2021, p. 163. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 847.
DIREITOS HUMANOS - 40
DIREITOS HUMANOS 41
Os arts. 84, VIII, e 49, I, da Constituição Após a fase de ratificação, há ainda uma
cuidam desse processo de celebração de tratados: quarta e última fase, que é a incorporação do
I – resolver definitivamente sobre tratados, realiza a assinatura do texto negociado, pela qual
internacionais de que o Brasil pretende ser parte, Por sua vez, na segunda fase, que é a
sejam eles tratados comuns ou de direitos humanos.114 aprovação congressual, o Presidente da República
10.4. As Quatro Fases: da Formação da Vontade à feita pelo Ministro das Relações Exteriores), solicitando
115
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 848.
114 116
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
São Paulo: 2021, p. 166. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 852.
DIREITOS HUMANOS - 41
DIREITOS HUMANOS 42
Federal, há o envio de mensagem ao Presidente da está vinculado internacionalmente, mas não
República deve celebrar em definitivo o tratado, Na esteira dessa linha de pensamento, para
ficando a critério do Presidente da República o o STF, fundado na supremacia da Constituição da
momento mais oportuno. É uma discricionariedade República, o conflito entre qualquer norma
do Presidente. constitucional e um tratado em geral a Constituição
âmbito internacional. Porém, a norma, válida Já se o conflito for entre norma legal e o
internacionalmente, não será válida internamente até tratado, deve-se utilizar o critério cronológico ou da
que seja editado o Decreto de Promulgação (também especialidade na avaliação do conflito, não havendo
chamado de Decreto Executivo ou Decreto que falar em hierarquia.
Presidencial) pelo Presidente da República e
87, I, da Constituição), que incorpora ou recepciona 10.6. Hierarquia Constitucional dos Tratados Sobre
117
internamente o tratado. Esse Decreto inova a Direitos Humanos
ordem jurídica brasileira, tornando válido o tratado
Mesmo os tratados que versam sobre
no plano interno.
direitos humanos podem possuir hierarquia diversa, a
Assim como na ratificação, não há prazo para depender da sua forma de incorporação ao
edição do Decreto de Promulgação, e até lá o Brasil ordenamento jurídico.
117
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 853.
DIREITOS HUMANOS - 42
DIREITOS HUMANOS 43
Podemos tratar desse tema sob a ótica de O “status” normativo supralegal dos tratados
Emenda Constitucional nº 45/2004. A referida EC subscritos pelo Brasil, dessa forma, torna
forem aprovados, em cada Casa do Por sua vez, os tratados aprovados no rito
Congresso Nacional, em dois turnos, por especial do § 3º do art. 5º, possuem status
três quintos dos votos dos respectivos
constitucional, sendo equivalentes às
membros, serão equivalentes às emendas
Emendas à Constituição.
constitucionais.”
qualquer lei.118
118 119
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed. RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 871. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 871.
DIREITOS HUMANOS - 43
DIREITOS HUMANOS 44
humanos como parâmetro supralegal ou
Flávia Piovesan, a teoria relaciona-se com o status III. Os tratados incorporados pelo rito especial
normativo dos Tratados Internacionais de Direitos previsto no art. 5º, § 3º, da CF/88 passam a
Humanos na ordem jurídica interna. Para ela, estariam integrar o bloco de constitucionalidade
no ápice do ordenamento jurídico interno tanto a restrito, podendo servir de parâmetro para
ocuparia o ápice do ordenamento jurídico. 10.8. Aplicação Imediata dos Tratados de Direitos
Humanos
Com base nesse tratamento diferenciado “as normas definidoras dos direitos e garantias
dos tratados de direitos humanos a depender da fundamentais têm aplicação imediata”. Essa “aplicação
forma de incorporação, consagrou-se a Teoria do imediata” deve ser estendida aos direitos previstos nos
Duplo Estatuto dos tratados de direitos humanos: tratados de direitos humanos121, como fruto lógico da
natureza constitucional, para os aprovados pelo rito do aplicação desse § 1º combinado com o § 2º do art. 5º,
consequências120:
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta
I. As leis e atos normativos são válidos se Constituição não excluem outros decorrentes
DIREITOS HUMANOS - 44
DIREITOS HUMANOS 45
imediatamente aplicados pelo nosso Poder Judiciário, interpretação da norma que, no caso concreto, mas
com status de norma constitucional, proteja e projete o ser humano como sujeito de
independentemente de promulgação e publicação no direitos. Tal é assim pelo fato de o indivíduo ser
Diário Oficial da União e de serem aprovados de sempre a parte mais vulnerável na relação com o
Em outros termos, os direitos contidos nos ordem internacional e interna, buscando uma
tratados internacionais são tendencialmente proteção cada vez maior do ser humano. A doutrina
completos , ou seja, aptos a serem invocados desde cita como exemplo desta cláusula o disposto no art.
123
logo pelo jurisdicionado . 29, b, da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos:
“ARTIGO 29
10.9. Interpretação dos Tratados de Direitos
ordem doméstica, podendo até mesmo equivaler a b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito
uma emenda constitucional formal no Brasil (pela ou liberdade que possam ser reconhecidos de
sistemática do art. 5.º, § 3.º, da Constituição). acordo com as leis de qualquer dos
123 124
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 882. ed. São Paulo: 2021, p. 183.
DIREITOS HUMANOS - 45
DIREITOS HUMANOS 46
regime, princípios e tratados de direitos humanos, o
BLOCO DE
reconhecimento de um bloco de constitucionalidade
constitucionalidade.
11.2. Bloco de Constitucionalidade Restrito
A respeito dessa temática, o Supremo
Tribunal Federal, em 2002, por meio do Min. Celso de Com a introdução do § 3º ao art. 5º da
Mello, levantou debate sobre o bloco de Constituição, o STF modificou sua posição anterior que
constitucionalidade, uma vez que os dispositivos considerava todos os tratados, fossem sobre direitos
normativos pertencentes ao bloco poderiam ser humanos ou não, como equivalentes às leis ordinárias
125
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed. Pessoa com Deficiência.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 883.
126
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed. 127
Disponível em: Atualização legislativa – Instituto Professora Carla
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 883. Patrícia (professoracarlapatricia.com.br)
DIREITOS HUMANOS - 46
DIREITOS HUMANOS 47
● Protocolo adicional à Convenção da ONU
impresso).
Presidente da República).
DIREITOS HUMANOS - 47
DIREITOS HUMANOS 48
Ademais, o controle de convencionalidade
CONTROLE DE
pode ser classificado em Internacional e Interno (ou
128 130
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 888. ed. São Paulo: 2021, p. 190.
129 131
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 189. ed. São Paulo: 2021, p. 190.
DIREITOS HUMANOS - 48
DIREITOS HUMANOS 49
Deve-se ressaltar que, desde o início de suas No julgamento do Caso Cabrera García e
atividades (em 18 de julho de 1978), a Corte Montiel Flores Vs. México a Corte Interamericana
das leis dos Estados-partes à Convenção Americana, órgãos do Estado vinculados à administração da
mas somente em 2006 é que se utilizou, formalmente, Justiça, no âmbito de suas respectivas competências e
obrigatoriedade de controle, de forma prioritária, para Em 2016, avançando ainda mais na proteção
o Judiciário interno dos Estados-partes, fazendo com do ser humano, a Corte Interamericana, no Caso
que, em regra, o controle de convencionalidade seja Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde Vs. Brasil,
não somente aquela. Logo, não há uma limitação do Por fim, o controle de convencionalidade a
controle de convencionalidade à Convenção ser realizado pelos órgãos internos dos Estados não é
Americana, pois todos os direitos previstos nos mais absolutamente livre para decidir e interpretar como
diversos tratados sobre direitos humanos formam um quiser, pois, como bem delineado pela Corte
de constitucionalidade), ou seja, formam um corpus Punta Piedra e seus Membros Vs. Honduras, julgado
juris de direitos humanos de observância obrigatória em 2015, o Estado deve controlar a convencionalidade
132 133
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 192. ed. São Paulo: 2021, p. 193.
DIREITOS HUMANOS - 49
DIREITOS HUMANOS 50
12.3. Controle de Convencionalidade no Direito Tratado incorporado nos moldes do §3º, art.
Concentrado e Difuso. Vamos estudá-los. aquele a ser exercido por todos os juízes e
(ADIN, ADPF, ADC etc.) não mais fundadas Interamericana tem entendido, desde 2006,
também nos tratados de direitos humanos parte dos juízes e tribunais locais é um dever,
aprovados pela sistemática do art. 5.º, § 3.º, sob pena de responsabilização internacional
da Constituição.134 do Estado.
Nesse trilhar, a título de exemplo, a Ação Aqui, assim como ocorre no controle difuso
Internacional.
DIREITOS HUMANOS - 50
DIREITOS HUMANOS 51
procedimentais) dos tratados de direitos humanos também aquelas previstas nos tratados
internacional.
135
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 201.
136
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 201.
137
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 203.
DIREITOS HUMANOS - 51
DIREITOS HUMANOS 52
Os direitos humanos das minorias e grupos
DIREITOS HUMANOS DAS
vulneráveis coloca em segundo plano a ideia de
geral, são aquelas categorias de pessoas social e proteção especial em razão de sua fragilidade ou
historicamente menos protegidas pelas ordens indefensabilidade, passam a merecer o devido amparo
domésticas, e por essa razão exigem uma proteção no (também singular e especial) da ordem jurídica estatal.
sofrem histórica e crônica discriminação por 13.2. Direitos Humanos das Mulheres
Por sua vez, continua explicando o autor, que fosse ontem, algo muito recente.
138 139
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 208. ed. São Paulo: 2021, p. 209.
DIREITOS HUMANOS - 52
DIREITOS HUMANOS 53
Instrumento normativo de grande destaque diversos direitos às mulheres, destacando-se o direito
na proteção internacional da mulher foi Convenção a que se respeite sua integridade física, mental e
sobre a Eliminação de todas as Formas de moral, o direito a que se respeite a dignidade inerente
Discriminação contra a Mulher, também chamada à sua pessoa e a que se proteja sua família, o direito a
de “Carta Internacional dos Direitos da Mulher”, de ser livre de violência, tanto na esfera pública como na
1979, que consagrou, em âmbito global, a dupla esfera privada, dentre outros.
A Convenção traz em seu bojo o conceito de emblemático envolvendo o Brasil sobre o tema da
discriminação contra a mulher: violência contra a mulher foi o relativo à Sra. Maria da
civil, com base na igualdade do homem e da razão da ineficiência judicial perante casos de violência
DIREITOS HUMANOS - 53
DIREITOS HUMANOS 54
razões de gênero em situações de violência doméstica jurídica a esse grupo de pessoas não se faz totalmente
mulher. Além do mais, tal figura passou a constar no humanos. No âmbito da ONU, o documento de
rol de crimes hediondos da Lei 8.072/90. destaque sobre o assunto são os Princípios das
humanos das mulheres no sistema interamericano.141 Carta de San José sobre os Direitos dos Idosos de
Nesse contexto, o tema que tem sido mais debatido, é América Latina e Caribe, de 2012, que busca
irregularidades e atrasos nas investigações dos de soft law, logo, não são cogentes para os Estados que
mulheres; o caso Penal Miguel Castro Castro Vs. destituídos de sanção propriamente jurídica. Assim,
Peru, relativo à violência sexual sofrida por mulheres podemos afirmar que a proteção internacional no
(inclusive gestantes) recolhidas num complexo sistema global é deficitária quanto à proteção dos
Em que pese a relevância da tutela proteção condizente com suas necessidades físicas e
141 142
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 215. ed. São Paulo: 2021, p. 221.
DIREITOS HUMANOS - 54
DIREITOS HUMANOS 55
Quanto ao sistema interamericano, houve Conferência de Estados-partes e um Comitê
San Salvador (1988), segundo o qual os idosos têm de petições individuais, por meio do qual
direito à proteção especial, tais como direito à qualquer pessoa ou entidade, governamental
específico de proteção dos direitos dos idosos, qual Embora a gigantesca relevância da comissão
seja a Convenção Interamericana sobre a Proteção para o avanço da proteção internacional dos
143
dos Direitos Humanos dos Idosos. Por ser o direitos dos idosos, a Convenção ainda não
principal instrumento internacional de proteção dos foi ratificada pelo Brasil, razão pela qual não
Proteção dos Direitos Humanos dos Idosos idosa, vamos trabalhar a proteção interna, no Brasil.
(2015): Trata-se da primeira convenção Inicialmente, a própria Constituição traz, em seu art.
143 144
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 222. ed. São Paulo: 2021, p. 223.
DIREITOS HUMANOS - 55
DIREITOS HUMANOS 56
Para além do texto constitucional, no ano de depois surgiu o principal documento internacional
2003 surgiu um marco regulatório dos direitos dos sobre o tema: a Declaração Universal dos Direitos
idosos no país, o chamado Estatuto do Idoso (Lei n.º das Crianças (DUDC), de 1959.
13.4. Direitos Humanos das Crianças e Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e
esportes e, bem assim, cooperar na prevenção da Embora houvesse todo esse arcabouço de
DIREITOS HUMANOS - 56
DIREITOS HUMANOS 57
Para efeito da presente Convenção, inseridos. O ECA concretizou a doutrina da “proteção
considera-se como criança todo ser humano integral”, pela qual se reconhece a qualidade de sujeito
com menos de 18 anos de idade, salvo de direitos a ambas as categorias e a necessidade de
quando, em conformidade com a lei sua proteção especial, em razão de sua particular
aplicável à criança, a maioridade seja
condição de ser humano em desenvolvimento.148
alcançada antes.”
No ano de 2014 tivemos importante
A Convenção sobre os Direitos da Criança foi
alteração legislativa no ECA, promovida pela Lei n.º
complementada por dois protocolos, ambos já
13.010/2014 (Lei Menino Bernardo), que veio a
ratificados pelo Brasil: o Protocolo Facultativo à
estabelecer o direito da criança e do adolescente de
Convenção sobre os Direitos da Criança Referente à
serem educados e cuidados sem o uso de castigos
Venda de Crianças, à Prostituição Infantil e à
físicos ou de tratamento cruel ou degradante, trazendo
Pornografia Infantil e o Protocolo Facultativo à
uma série de mecanismos para efetivação desse
Convenção sobre os Direitos da Criança Relativo ao
direito.
Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados.
proteção dos direitos humanos das crianças e 13.5. Direitos Humanos dos Povos Indígenas e
DIREITOS HUMANOS - 57
DIREITOS HUMANOS 58
Para fins de melhor compreensão, faz-se o critério da autoidentificação deve ser considerado
necessário esclarecer os seguintes conceitos150: dominante uma vez que previsto na Convenção da OIT
milênios antes das invasões ou colonizações, proteção dos direitos humanos dos povos indígenas e
conhecida, com suas manifestações culturais formas de Discriminação Racial (1965) foi o primeiro
e hábitos, mantendo-se distintos dos outros mecanismo ainda vigente relativo à sua proteção, uma
setores da sociedade que atualmente vive vez que rechaça qualquer forma de discriminação
reconhecem como tais, que possuem formas questões indígenas no plano global, merecem
como condição para sua reprodução cultural, forma degradante com que os indígenas eram
Ramos151 indica que são possíveis dois por essa razão, o instrumento internacional
critérios para identificação do indivíduo como assegurava a proteção dos grupos aborígenes até o
autoidentificação, segundo o qual índio é qualquer integrados à comunidade nacional, negando-lhes suas
indivíduo que se identifica como tal. A outra forma é o manifestações culturais e, portanto, sua própria
heterorreconhecimento, por meio do qual se identidade. O próprio art. 1º da Convenção retrata essa
DIREITOS HUMANOS - 58
DIREITOS HUMANOS 59
1. A presente Convenção se aplica: a) aos comunidades tradicionais conservarem suas próprias
membros das populações tribais ou instituições sociais, econômicas, culturais e políticas;
semitribais em países independentes, cujas de terem respeitados o seu estilo de vida tradicional e
condições sociais e econômicas organização, diferentemente do restante da população
correspondem a um estágio menos
do país, ou seja, respeitou-se a autodeterminação
adiantado que o atingido pelos outros
desses povos e comunidades. A visão, agora, passou a
setores da comunidade nacional e que
ser garantista.
sejam regidas, total ou parcialmente, por
ano de 1989, a Convenção n.º 107 foi integralmente culturais e econômicas os distingam de
substituída pela Convenção n.º 169 (chamada de outros setores da coletividade nacional, e
“Convenção Sucessória”). A nova Convenção trouxe que estejam regidos, total ou parcialmente,
influenciada por essas ideias mais modernas e o país ou uma região geográfica pertencente
154
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
153
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 ed. São Paulo: 2021, p. 239.
ed. São Paulo: 2021, p. 239.
DIREITOS HUMANOS - 59
DIREITOS HUMANOS 60
suas próprias instituições sociais, Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, que
econômicas, culturais e políticas, ou parte afirma em seu art. 1º o seguinte:
delas.”
“Artigo 1
Há outro ponto de grande destaque na
Os indígenas têm direito, a título coletivo ou
Convenção n.º 169, trata-se do reconhecimento aos
individual, ao pleno desfrute de todos os
povos indígenas dos direitos de propriedade e de
direitos humanos e liberdades fundamentais
posse sobre as terras que tradicionalmente
reconhecidos pela Carta das Nações Unidas, a
ocupam, devendo os governos adotar as medidas
Declaração Universal dos Direitos Humanos e
necessárias para salvaguardar tal direito. Essa temática
o direito internacional dos direitos humanos.”
gera uma certa discussão no direito brasileiro, uma vez
que a Constituição Federal de 1988, em seu art. 20, XI, A Declaração compõe a soft law, ou seja, suas
insere entre os bens da União as terras normas não são vinculantes aos Estados, mas podem
tradicionalmente ocupadas pelos índios. Assim, servir como base de um futuro costume internacional
sustenta a doutrina que haveria uma antinomia entre de proteção dos direitos indígenas. Serve, também,
Constituição, que deve ser resolvida pelos critérios internacionais vinculantes eventualmente aplicáveis à
Desde a Convenção n.º 169, muitos outros Quanto à proteção em âmbito regional, no
direitos indígenas e de comunidades tradicionais vêm sistema interamericano, há uma ampla jurisprudência
sendo perfilhados pelo direito internacional. Fruto da Corte Interamericana, como, por exemplo, nos
dessa evolução dos direitos indígenas e de casos Mayagna (Sumo) Awas Tingni Vs. Nicarágua,
comunidades tradicionais, o principal instrumento, no de 2001, Comunidade Indígena Yakye Axa Vs.
plano onusiano, é a Convenção sobre a Proteção e a Paraguai, de 2005, Comunidade Indígena Xákmok
Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, Kásek Vs. Paraguai, de 2010. Embora cada um desses
adotada pela Unesco (Paris), no ano de 2005, que, casos tenha sua particularidade, em geral, reconhecem
dentre outras previsões, considera a importância dos a necessidade de proteção da cultura, religiosidade e
povos indígenas e a necessidade de preservação de direito à identidade cultural dos povos indígenas.
155
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 156
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
ed. São Paulo: 2021, p. 241. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 463.
DIREITOS HUMANOS - 60
DIREITOS HUMANOS 61
aspectos que se relacionam a uma vida digna desses autodeterminação desses povos, o respeito à
Norte, América Central, América do Sul e no Caribe.158 No Brasil, após pesquisa realizada pelo
Sem dúvidas, o instrumento significou um novo marco Senado Federal, conclui-se que a melhor expressão a
à proteção dos direitos dos povos indígenas no ser empregada é “pessoas com deficiência”, tal qual
Continente Americano, levando em consideração que como veiculada nas normas internacionais de
passa a orientar as atividades dos Estados e dos proteção, em especial na Convenção da ONU sobre os
órgãos de monitoramento do sistema interamericano Direitos das Pessoas com Deficiência de 2007.
de direitos humanos no que concerne aos direitos
Embora saibamos a correta nomenclatura,
desse grupo de pessoas.
falta-nos conceituar o que se entende por pessoas
Temas de grande relevância foram tratados com deficiência, ao menos sob a ótica do direito
por meio da Declaração, tais como a participação dos internacional. Sendo o seguinte, conforme art. 1º da
povos indígenas nas tomadas de decisão do Estado, a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência:
157
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 243.
158 159
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 246. ed. São Paulo: 2021, p. 265.
DIREITOS HUMANOS - 61
DIREITOS HUMANOS 62
“Pessoas com deficiência são aquelas que discriminação contra as pessoas com deficiência e
têm impedimentos de longo prazo de proporcionar a sua plena integração à sociedade.161
natureza física, mental, intelectual ou
Como visto, muitos foram os documentos
sensorial, os quais, em interação com
que buscaram ao longo dos anos ampliar a proteção
diversas barreiras, podem obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade das pessoas com deficiências. Porém, o mais
de deficiência, a mental. Já no ano de 1975 surgiu a Antes da CDPD o que havia eram normas de
Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, soft law, sem qualquer cunho jurídico-obrigacional,
que nada mais é do que uma resolução que orienta os sendo de cumprimento meramente facultativo por
Estados a utilizá-la como substrato na elaboração de parte dos Estados, logo, desvinculado de grandes
leis para a proteção das pessoas com deficiência.160 efeitos práticos e efetividade. Por essa razão, a
160 161
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 267. ed. São Paulo: 2021, p. 267.
DIREITOS HUMANOS - 62
DIREITOS HUMANOS 63
violação de direitos humanos dessas pessoas, tanto na considerado um marco legal para as pessoas com
Tamanha é a importância na Convenção, que Por fim, mas não menos importante,
constituição, nos moldes do art. 5º, §3º, da celebrado em 2013, que tem por finalidade superar a
tratado significou uma importante mudança de deficiência visual ou com dificuldade de acesso ao
paradigma na ordem interna, fazendo com que todo o texto impresso no que tange ao seu direito à leitura, à
ordenamento passasse a ter uma visão mais protetiva cultura e, consequentemente, ao pleno
Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD), surgiu no acesso à leitura de obras impressas às pessoas cegas,
Brasil, em 2015, o Estatuto da Pessoa com com deficiência visual ou outras dificuldades
Deficiência (Lei n.º 13.146/2015), a lei tem sua congêneres. Além disso, também foi incorporado ao
finalidade muito bem definida no art. 1º: direito brasileiro nos termos do art. 5º, §3º, da
direta das obrigações impostas ao Brasil pela intersexuais, assexuais e + (comunidade LGBTQIA+) é
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com motivo de preocupação constante dos organismos
Deficiência e seu Protocolo Facultativo, passando a ser internacionais de proteção aos direitos humanos.
162 164
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 269. ed. São Paulo: 2021, p. 271.
163 165
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 271. ed. São Paulo: 2021, p. 274.
DIREITOS HUMANOS - 63
DIREITOS HUMANOS 64
Exemplo muito marcante da discriminação encontro dos tratados de direitos humanos ratificados
que as pessoas pertencentes a essa comunidade pelo Brasil, de outros direitos já reconhecidos à
sofrem são as chamadas “leis de sodomia”, utilizadas comunidade LGBTQIA+ na ordem interna, e ao próprio
Já no Continente Americano, embora não ADPF n.º 132/RJ, em um dos casos mais emblemáticos
haja leis que criminalizem a conduta homossexual, de sua história, decidiu pelo reconhecimento da união
existem diversos instrumentos legais que discriminam, contínua, pública e duradoura entre pessoas do
como, por exemplo, em Trinidad e Tobago, que proíbe mesmo sexo, a partir de uma interpretação do art.
a entrada de homossexuais em seu território. 226, § 3.º, da Constituição Federal. Para o Tribunal, a
sexual, mas veda qualquer tipo de discriminação.166 reconhecimento do status de direito fundamental da
166 167
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 279. ed. São Paulo: 2021, p. 288 – 289.
DIREITOS HUMANOS - 64
DIREITOS HUMANOS 65
Inconstitucionalidade por Omissão n.º 26 e do devem perseguir para proteger os direitos das pessoas
Mandado de Injunção n.º 4733, que houve omissão pertencentes à comunidade LGBTQIA+, indicando o
inconstitucional do Congresso Nacional por não melhor caminho de aplicabilidade das normas
editar lei que criminaliza as condutas de homofobia e internacionais pelo direito interno, sempre em busca
transfobia. Para a Suprema Corte, enquanto não de uma aplicação que valorize as questões atinentes à
sobrevier lei federal a criminalizar tais atos, todas as orientação sexual e identidade de gênero,
ações dessa natureza deverão ser enquadradas no compreendendo que ambas são essenciais à dignidade
tipo penal definido na Lei do Racismo (Lei n.º de cada ser humano.169
humanos de pessoas pertencente à comunidade Esse foi o primeiro caso julgado pela Corte
LGBTQIA+ em todo o planeta. Interamericana.
DIREITOS HUMANOS - 65
DIREITOS HUMANOS 66
Duque de fazer jus à pensão por morte de violando suas obrigações internacionais
negado pela Colômbia, sob o argumento de Internacional dos Direitos Civis e Políticos e
que a seguridade social daquele país não reconheceu a violação dos direitos humanos,
garantir ao Sr. Duque a pensão por morte do 13.8. Direitos Humanos dos Refugiados
ex-companheiro pelo simples fato de se
Os refugiados ganharam especial atenção a
tratar de união homoafetiva.171
partir do término da Primeira e Segunda Guerras
● Caso “Oliari e outros Vs. Itália” (Corte Mundiais. Embora esses momentos históricos tenham
Europeia de Direitos Humanos): No caso ocorrido no início e meados do século passado,
em análise a Corte Europeia declarou que a respectivamente, até os dias de hoje existem milhões
Itália tem o dever reconhecer a união de pessoas refugiadas no mundo, por diversas razões
duradoura entre pessoas do mesmo sexo, existentes, desde guerras locais, desastres naturais, e
tendo em vista que o país não oferecia perseguições políticas, até crises econômicas e sociais
qualquer proteção jurídica para as relações nos mais diversos países.
homoafetivas, violando o direito ao respeito
Os direitos dos refugiados, no direito
pela vida privada e familiar. Após essa
internacional, vêm consagrados na Convenção
condenação, o Parlamento italiano, em 11 de
Relativa ao Estatuto dos Refugiados, de 1951, e no
maio de 2016, aprovou a Lei que legaliza a
seu Protocolo de 1967, que são os textos magnos dos
união civil de pessoas do mesmo sexo.172
refugiados em plano global. Quando da sua redação
● Caso “Nicholas Toonen Vs. Austrália” original, a Convenção possuía uma limitação temporal,
(Comitê de Direitos Humanos da ONU): abarcando somente acontecimentos ocorridos antes
Trata-se de caso, apresentado em 1991, que de 1º de janeiro de 1951, e geográfica da definição de
versa acerca da criminalização das relações refugiado, aplicando-se somente para os eventos
homossexuais consentidas entre homens ocorridos na Europa. Em 1967, com o advento do
adultos, inclusive em ambientes privados. O Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados, houve a
Comitê de Direitos Humanos das Nações retirada de tais limitações.173
Unidas entendeu que a Austrália estava
171
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 283.
172
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 285. 173
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 8. ed.
São Paulo: Saraiva, 2021, p. 272.
DIREITOS HUMANOS - 66
DIREITOS HUMANOS 67
A partir desses dois documentos podemos compartilhadas a serem implementadas pelos Estados,
políticas, se encontra fora do país de sua Por sua vez, no Brasil há a Lei 9.474/97, que
nacionalidade e que não pode ou, em
define os mecanismos para a implementação do
virtude desse temor, não quer valer-se da
Estatuto dos Refugiados de 1951 e estabelece critérios
proteção desse país, ou que, se não tem
para a concessão do status de refugiado no país. Tal
nacionalidade e se encontra fora do país no
norma é a primeira lei nacional a implementar um
qual tinha sua residência habitual, não pode
tratado de direitos humanos no Brasil, sendo ainda a
ou, devido ao referido temor, não quer
lei latino-americana mais ampla já existente no
voltar a ele.”
tratamento da questão177. O art. 1º da referida Lei
Dois são, portanto, os elementos essenciais estabelece quem será considerado refugiado:
do conceito de refúgio: temor de perseguição (por
“Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo
motivo de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou
indivíduo que:
opiniões políticas) e a extraterritorialidade. Ademais,
uma vez concedido o status de refugiado, por decisão I - devido a fundados temores de perseguição
de natureza declaratória, todos os que deixaram seus por motivos de raça, religião, nacionalidade,
perseguição (por qualquer dos motivos acima fora de seu país de nacionalidade e não possa
DIREITOS HUMANOS - 67
DIREITOS HUMANOS 68
Da mesma maneira que a lei estabelece outro (migração internacional), temporária ou
aqueles que são considerados refugiados, traz em seu definitivamente, e aqueles que estão se deslocando
art. 3º os indivíduos que não podem se beneficiar dentro do próprio país de nacionalidade (migração
por parte de organismo ou instituição das 13.9. Direitos Humanos dos Consumidores
Nações Unidas que não o Alto Comissariado
defesa do consumidor;”
Por fim, de maneira semelhante, mas não
DIREITOS HUMANOS - 68
DIREITOS HUMANOS 69
Embora o Código de Defesa do Consumidor proteger o consumidor contra a publicidade enganosa
Quando se fala em normativa internacional, humanos dos consumidores, até os dias de hoje
Mercosul, proclamada em 2000, na cidade de tendo os trabalhos da OEA passado ainda do plano
179
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 302.
180 181
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 8
ed. São Paulo: 2021, p. 303. ed. São Paulo: 2021, p. 304.
DIREITOS HUMANOS - 69
DIREITOS HUMANOS 70
OPINIÕES CONSULTIVAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 71
OPINIÕES CONSULTIVAS DA A COMPETÊNCIA DA CORTE IDH PARA EMITIR
OPINIÕES CONSULTIVAS NÃO SE RESTRINGE ÀS
NORMAS DA CADH 11
CORTE INTERAMERICANA DE
OC-11/90 13
1
DIREITOS HUMANOS A CONDIÇÃO DE INDIGÊNCIA E O TEMOR
GENERALIZADO DOS ADVOGADOS AFASTA O
1a EDIÇÃO/2022 REQUISITO DA NECESSIDADE DE ESGOTAMENTO DOS
RECURSOS INTERNOS PARA PETICIONAR PERANTE A
OC-1/82 3 CORTE IDH 13
OC-3/83 5 OC-14/94 18
RESTRIÇÕES À PENA DE MORTE 5 LEIS QUE NÃO SÃO DE APLICAÇÃO IMEDIATA NÃO
VIOLAM, POR SI SÓ, DE DIREITOS HUMANOS, AINDA
OC-4/84 6 QUE INCOMPATÍVEIS COM A CADH 18
OC-7/86 8 OC-17/02 21
OC-8/87 9 OC-18/03 25
1
Este material é um resumo da seguinte obra: PAIVA, Caio. OC-19/05 27
HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência Internacional
de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª Edição. Editora EXISTE ALGUM ÓRGÃO QUE FISCALIZE A ATUAÇÃO DA
CEI, 2020. CIDH? 27
1
OC-21/14 28
OC-22/16 31
OC-23/17 32
OC-24/17 33
OC-25/18 35
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, como “(...) a competência consultiva da Corte
deve ser interpretada a frase: “ou de outros tratados pode ser exercida, em geral, sobre toda
concernentes à proteção dos direitos humanos nos disposição, concernente à proteção dos
regime previsto pela Convenção; seja por entrará em vigor na data do depósito do
adesão.
INDEPENDENTE DE MANIFESTAÇÃO
Com a finalidade de entender a abrangência do
OU CONCORDÂNCIA DOS OUTROS
dispositivo acima, a Comissão Interamericana de
ESTADOS PARTES.
Direitos Humanos (CIDH) interrogou à Corte:
A CADH dispõe:
1. Toda pessoa tem o direito de que se ● Pode um Governo aplicar a pena de morte?
respeite sua vida. Esse direito deve ser ● Pode um Governo que fez reserva ao art. 4.4
protegido pela lei e, em geral, desde o da CADH legislar impondo a pena de morte a
momento da concepção. Ninguém pode delitos que não tinham essa sanção quando
ser privado da vida arbitrariamente. se efetuou a ratificação?
2. Nos países que não houverem abolido
com lei que estabeleça tal pena, extensão da pena de morte e que,
aplicação a delitos aos quais não se pena de morte a delitos para os quais
morte nos Estados que a hajam abolido. interna”. Outrossim, “Uma reserva
4. Em nenhum caso pode a pena de limitada por seu próprio texto ao art. 4.4
morte ser aplicada por delitos políticos, da CADH não permite ao Governo de um
nem por delitos comuns conexos com Estado Parte legislar posteriormente
5. Não se deve impor a pena de morte a morte a delitos para os quais não estava
em estado de gravidez.
território nasceu se não tem direito a deve ser interpretada de forma ampla. Logo, nela está
outra.
tem espaço maior no Sistema Europeu, ela dispõe Após isso, no RE 511.961, de 17 de junho de 2009, o
que os órgãos internacionais devem se abster de STF decidiu que é inconstitucional a exigência de
decidir determinadas temáticas, a fim de que os diploma de curso superior de jornalista para o
deferência da Corte às jurisdições nacionais p/ que Tivemos aqui, portanto, o que a doutrina chama de
preencham o conteúdo da violação de Direitos DIÁLOGO DAS CORTES ou, segundo prefere o
Humanos, a fim de que não haja interferência professor André de Carvalho: FERTILIZAÇÃO
excessiva nas jurisdições dos Estados pelos órgãos de CRUZADA ou CROSS-FERTILIZATION.
proteção internacional.
O professor Thimotie Aragon Heemann afirma que a
No caso ora analisado, a Corte IDH fez menção liberdade de expressão possui algumas dimensões,
expressa à teoria da margem de apreciação no que se dentre elas, uma individual e outra coletiva.
refere à fixação dos requisitos para naturalização,
A primeira abrange a possibilidade de o indivíduo
mas acrescentou que eles não podem ser arbitrários
se expressar de maneira individual e, para isso,
ou discriminatórios.
utilizar de todo e qualquer meio de comunicação - no
superior era compatível com os arts. 13 e 29, da CIDH, SOMENTE LEIS EM SENTIDO FORMAL
que tratam da liberdade de expressão e do princípio OC-6/86 PODEM RESTRINGIR DIREITOS
pro persona, respectivamente. PREVISTOS NA CADH
jurídico?
autônomo e não devem ser interpretados à luz do prejuízo por meios de difusão legalmente
Com a finalidade de entender o alcance das liberdade física, salvo pelas causas e nas
disposições acima, o Estado da Costa Rica indagou à condições previamente fixadas pelas
Corte IDH se o artigo 14, da CADH, é autoaplicável e, constituições políticas dos Estados Partes
não sendo, como o Estado deveria tratar a matéria. ou pelas leis de acordo com elas
promulgadas.
Em resposta, a Corte IDH respondeu que se trata de
3. Ninguém pode ser submetido a
matéria autoaplicável e que os Estados têm
detenção ou encarceramento arbitrários.
obrigação de adotar as medidas necessárias para
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser
garantir esse direito no âmbito interno, inclusive,
informada das razões da sua detenção e
implementando-o, se ainda não estiver
notificada, sem demora, da acusação ou
implementado.
acusações formuladas contra ela.
Para a Corte, ainda, a palavra “lei”, constante no art.
5. Toda pessoa detida ou retida deve ser
14.1, compreende todas as disposições internas
conduzida, sem demora, à presença de
que sejam adequadas para garantir um livre
um juiz ou outra autoridade autorizada
exercício do direito de resposta, mas, quando se
pela lei a exercer funções judiciais e tem
tratar de medidas restritivas ao direito em
direito a ser julgada dentro de um prazo
questão, faz-se necessária lei em sentido formal.
razoável ou a ser posta em liberdade,
pela própria pessoa ou por outra pessoa. contraídas em virtude desta Convenção,
7. Ninguém deve ser detido por dívidas. desde que tais disposições não sejam
contra atos que violem seus direitos jurídica); 4 (Direito à vida); 5 (Direito à
toda pessoa que interpuser tal recurso; 3. Todo Estado Parte que fizer uso do
1. Em caso de guerra, de perigo público, da data em que haja dado por terminada
Parte, este poderá adotar disposições Perceba que as referidas garantias não se encontram
que, na medida e pelo tempo no rol de ressalvas do art. 27.2. Mas, a Corte IDH, em
estritamente limitados às exigências da resposta às Opiniões Consultivas nº 8 e 9, de 1987,
10
detido ante o juiz ou tribunal aos direitos e às liberdades cuja suspensão não
a função que cumpre o habeas corpus procedimentos judiciais de cada Estado inerentes à
vida e à integridade da pessoa, para garantias do devido processo, do art. 8º, da CADH,
(Nº/ANO)
Ainda segundo a Corte:
A COMPETÊNCIA DA CORTE IDH
11
competente para emitir opiniões consultivas emitir sobre ela uma opinião consultiva
de Direitos do Homem, desde que esteja dentro do competência, quando isso seja
dos limites de sua competência em relação com a necessário para interpretar tais
Em outras palavras: a Corte pode interpretar a que determina quais são os direitos
DADDH e expedir Opinião Consultiva quando isso humanos a que se refere a Carta. De
for necessário para interpretar a CADH ou a Carta outra parte, os artigos 1.2.b) e 20 do
Isso porque, segundo a Corte: o fato de DADDH não igualmente, a competência da mesma a
seja um tratado não conduz à conclusão de que respeito dos direitos humanos previstos
careça de efeitos jurídicos nem de que a Corte na Declaração. Isto é, para estes Estados
internacionais.
“Pode ser considerar então que, como
Para os Estados Partes na Convenção a
uma interpretação autorizada, os
fonte concreta de suas obrigações, no
Estados Membros têm entendido que a
tocante à proteção dos direitos
Declaração contém e define aqueles
humanos, em princípio, é a própria
direitos humanos essenciais aos quais a
Convenção. Porém, há que se levar em
Carta se refere, de modo que não se
conta que à luz do artigo 29.d), embora o
pode interpretar e aplicar a Carta da
instrumento principal que rege para os
Organização em matéria de direitos
12
mesma, nem por isso se liberam das prazo de seis meses, a partir da data
Declaração pelo fato de serem membros seus direitos tenha sido notificado da
OPINIÃO petição.
(Nº/ANO) quando:
impedido de esgotá-los; e
igual entendimento pode ser dado quando houver processo, distorcendo o sistema da
CIDH
Na OC 12/91, o governo da Costa Rica submeteu à consulta apresentada pelo Governo da Costa Rica.”
15
e organismo internacional.
ou direitos que se alegue tenham sido escritas que houverem sido feitas pelos
aos recursos da jurisdição interna, ou Estados interessados, aos quais não será
16
35 desta opinião. sobre Direitos Humanos dita uma lei que viola
comunicação de caráter individual (art. 2) Quando um Estado parte na Convenção dita uma
41.f em relação aos arts. 44 e 45.1 da lei cujo cumprimento por parte dos agentes ou
PORTANTO, UM TERCEIRO
RELATÓRIO
Conforme a CADH:
19
dentre juristas da mais alta autoridade materiais sobre os fatos do caso ou,
Relações Consulares:
“A CIDH, no exercício das atribuições
21
de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de pessoas que possam lançar luz sobre os
2. Toda pessoa acusada de delito tem g. direito de não ser obrigado a depor
sua defesa;
e. direito irrenunciável de ser assistido contra atos que violem seus direitos
defender ele próprio nem nomear seja cometida por pessoas que estejam
22
toda pessoa que interpuser tal recurso; objeto de proteção; (...) a expressão
sociedade e do Estado
A Corte ainda é da opinião:
De acordo com a Corte IDH, dentre outras “3. Que o princípio de igualdade
não apenas objeto de proteção; b) o “interesse Americana sobre Direitos Humanos não
igualdade não impede a adoção de regras e medidas tratamento diferente em função de suas
desenvolvimento da criança, por isso, deve-se deve ser orientado à proteção dos
familiar; e) o Estado deve se valer de instituições que 4. Que a família constitui o âmbito
disponham de pessoal adequado para atenção às primordial para o desenvolvimento da
crianças; f) o direito à vida compreende a adoção de criança e o exercício de seus direitos.
medidas para que o referido direito se desenvolva em Por isso, o Estado deve apoiar e
condições dignas. Vejamos as exatas palavras da fortalecer a família, através das diversas
Corte: medidas que esta requer para o melhor
nesse campo.
“(...) de conformidade com a normativa
separá-lo de sua família, em função do crianças contra maus tratos, seja em sua
sociais e culturais, que lhes atribuem delituosa devem ser sujeitos a órgãos
a obrigação de adotar medidas positivas que o Estado deve ter no caso dos
24
típicas. Porém, nesses casos é preciso Em resposta, a Corte IDH respondeu que não. Isso
normas do devido processo legal, tanto requisito para que se respeite seus direitos
no que diz respeito a quem exerce Assim "o Estado tem a obrigação de respeitar e
direitos em relação a eles, derivados do garantir os direitos humanos trabalhistas de todos
estatuto familiar, atendendo também às os trabalhadores, independentemente de sua
condições específicas nas quais se condição de nacionais ou estrangeiros, e não
encontrem as crianças. tolerar situações de discriminação em detrimento
13. Que é possível empregar vias destes nas relações de trabalho que se estabeleçam
controvérsias que afetem as crianças, Nas exatas palavras, a Corte é da opinião de:
mas é preciso regular com especial
25
independentemente de que seja parte por ser trabalhador, que devem ser
internacionais.
7. Que o direito ao devido processo legal
26
do Estado receptor, e este último deve atuação da CIDH em matéria de direitos humanos (...)”
prática.
CONSULT INTERESTATAIS?
ASSUNTO CENTRAL
IVA
(Nº/ANO)
Trata-se de opinião consultiva solicitada pela
FISCALIZE A ATUAÇÃO DA CIDH? Sobre o tema, nos termos do art. 55, da CADH:
Trata-se de Opinião Consultiva solicitada pela 1. O juiz que for nacional de algum dos
Venezuela, cujo questionamento veiculado foi: existe Estados Partes no caso submetido à
algum órgão no sistema interamericano que fiscalize a Corte, conservará o seu direito de
atuação da CIDH? conhecer do mesmo.
Em resposta, a Corte IDH concluiu que i) a CIDH, 2. Se um dos juízes chamados a conhecer
atuando no marco legal que a ela é conferido pela do caso for de nacionalidade de um dos
CADH, possui ampla autonomia e independência Estados Partes, outro Estado Parte no
no exercício de suas funções. Outrossim, compete a caso poderá designar uma pessoa de sua
Corte IDH efetuar o controle de legalidade dos escolha para fazer parte da Corte na
atos da Comissão no que diz respeito aos assuntos qualidade de juiz ad hoc.
que estejam sob seu conhecimento. 3. Se, dentre os juízes chamados a
Finalmente, “no contexto de sua relação com a OEA, conhecer do caso, nenhum for da
os Estados têm a faculdade de apresentar perante os nacionalidade dos Estados Partes, cada
órgãos competentes desta organização, um destes poderá designar um juiz ad
particularmente a Assembleia-Geral, todas as hoc.
27
28
o caso, sua condição de apátrida; obter direito a ser ouvido e a participar nas
separação familiar se for o caso, de suas tradutor e/ou intérprete; o acesso efetivo
dos direitos humanos, devem reger de assegurar a unidade familiar, toda vez
29
como prioridade a proteção integral dos uma criança a um Estado quando sua
direitos da criança, com estrito respeito vida, segurança e/ou liberdade estejam
ordenadas devem ser adotadas por uma generalizada ou violações massivas aos
regime adequado para as crianças num seus direitos humanos pode adquiri
30
motivada pela condição migratória de Trata-se de Opinião Consultiva solicitada pelo Estado
empregar uma análise de ponderação, Sobre o tema, de acordo com o art. 1.2, da CADH:
que contemple as circunstâncias
31
Colômbia, cujo debate principal girou em torno das tenham conhecimento que uma
obrigações estatais em relação ao meio ambiente. atividade planejada sob sua jurisdição
32
como consultar e negociar, de boa-fé, As seguintes questões foram levadas à Corte IDH:
com os Estados potencialmente afetados
1. Levando em conta que a identidade de gênero é
por danos transfronteiriços significativos.
uma categoria protegida pelos artigos 1º e 24 da
4. Os Estados têm a obrigação de CADH, além do estabelecido nos artigos 11.2 e 18 da
garantir o direito ao acesso à informação Convenção, esta proteção contempla a obrigação de o
relacionada com possíveis afetações ao Estado reconhecer e facilitar a mudança de nome das
meio ambiente; o direito à participação pessoas, de acordo com a identidade de gênero de
pública das pessoas sob sua jurisdição na cada uma?
tomada de decisões e políticas que
2. Se a resposta à consulta anterior for positiva,
possam afetar o meio ambiente, assim
pode-se considerar contrário à CADH que a pessoa
como o direito de acesso à justiça em
interessada em modificar seu nome somente possa
relação com as obrigações ambientais
assim proceder mediante processo jurisdicional, e não
estatais.”
através de um procedimento administrativo?
do possível gratuito; e e) não deve exigir 7. De acordo com os artigos 1.1, 2, 11.2,
a comprovação de intervenções 17 e 24 da CADH, é necessário que os
cirúrgicas e/ou tratamentos hormonais. Estados garantam o acesso a todas as
Consequentemente, em virtude do figuras já existentes nos ordenamentos
controle de convencionalidade, o art. 54 jurídicos internos, incluindo o direito ao
do Código Civil deve ser interpretado em matrimônio, para assegurar a proteção
conformidade com os parágrafos de todos os direitos das famílias
estabelecidos para que as pessoas que integradas por casas do mesmo sexo,
desejam adequar integralmente os sem discriminação a respeito das
registros e/ou os documentos de constituídas por casais heterossexuais.”
identidade à sua identidade de gênero
(Nº/ANO)
4. O Estado da Costa Rica, com o
vínculo familiar entre pessoas do mesmo protegido pelo art. 22.7 da CADH ou pelo
liberdade.
independentemente de se encontrar em
aéreo do Estado.⠀
Estados."
36
1
Este material é um resumo dos capítulos I e II da obra:
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020.
● bis in idem, já que foi submetida a novo de traição à prática, vestida com traje de
processo pelo mesmo fato. penitenciária. No que diz respeito à persecução penal
"Las Casetas", local que registrava uma taxa alta de ÓRGÃO JULGADOR
delinquência e criminalidade, além de abrigar um
Corte Interamericana de Direitos Humanos
número muito grande de "meninos de rua". Na época
razão de a detenção dos jovens ter sido arbitrária, Americana e supremacia das normas do
assentando igualmente a violação da Convenção É importante lembrar aqui que há precedente no STF
final, estabeleceu a Corte Interamericana que o como um metadireito, entendendo que a CF/88 se
Estado descumpriu com seu dever de investigar e posiciona no sentido do “livre mercado de ideias (free
humanos, determinando, então, que realizasse Vale pontuar, também, que no caso Ellwanger o STF
3
uma investigação real e efetiva.” propôs que a liberdade de expressão não abarca o
CASO OLMEDO BUSTOS E OUTROS VS. religiosa abrange não apenas a possibilidade de
também com a ideia de que uma norma de o Estado chileno reformar a sua Constituição para
mero fato e as normas constitucionais não são vistas CASO COMUNIDADE MAYAGNA (SUMO)
como normas supremas.
AWAS TINGNI VS. NICARÁGUA
ÓRGÃO JULGADOR
RESUMO DO CASO
Corte Interamericana de Direitos Humanos
realizada pelo Estado chileno e avalizada pela sua titulação das terras indígenas;
Corte Suprema, o caso chegou à CIDH, que, sem obter ● Interpretação dos Tratados.
uma solução consensual, submeteu a demanda à
Corte Interamericana.
PECULIARIDADES
Após o processamento do caso, a Corte IDH
Primeiro caso julgado pela Corte IDH envolvendo a
responsabilizou o Estado do Chile por ter violado o
relação entre as comunidades tradicionais e a
direito à liberdade de pensamento e expressão,
propriedade de suas terras.
previsto no art. 12 da CADH. Por outro lado, a Corte
IDH concluiu que o Estado chileno não violou o Neste caso, a Corte interpretou extensivamente o art.
direito à liberdade religiosa, pois o conteúdo desse 21 da CADH, para reconhecer que além do direito à
direito estaria relacionado com a permissão para que propriedade privada, a CADH abrange a proteção
as pessoas professem, conversem e divulguem suas da propriedade comunal dos povos indígenas em
alternativa à pena de morte a torna imposta, consequentemente, de acordo com a Lei dos
● Direito à integridade pessoal; execução se daria através da forca. A Lei dos Delitos
Segundo os professores Caio Paiva e Thimotie, Tobago à espera de sua execução na forca. As únicas
citando o professor André de Carvalho Ramos, há três exceções são Joey Ramiah, que foi executado, e
fases de regulação jurídica internacional da pena Wayne Matthews, cuja pena foi comutada. Após o
Neste caso, também restou consignado que a pena corredor da morte, consistiu em tratamento
de morte, além de não poder ocorrer de forma desumano, cruel e degradante, em violação,
automática – hipótese que viola a CADH, não deve portanto, do direito à integridade pessoal das
ser aplicada ao menor de 18 anos, ao maior de 70 vítimas (CADH, art. 5a). A Corte IDH também decidiu
anos e à mulher grávida. Outrossim, criticou-se que Trinidad e Tobago violou o dever de adotar as
severamente o “corredor da morte”, já que a disposições de direito interno (CADH, art. 2a), o direito
constante ameaça à vida nesse espaço representa ao prazo razoável (CADH, art. 8.1), o direito a um
pena cruel, inumana e degradante. recurso efetivo (CADH, arts. 8a e 25) e o direito de
6
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência 7
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 114. Edição. Editora CEI, 2020, pág. 112-113.
em relação ao duplo grau de jurisdição; CIDH, por meio da qual alega ter o senhor Maurício
Neste caso, restou decidido que o não esgotamento Internacional de Energia Atômica na Áustria. Herrera
dos recursos internos deve ser alegado durante a UUoa foi condenado, então, em 1999, por crime
tramitação do caso perante a CIDH, sob pena de contra a honra daquele diplomata, tendo o seu nome
estoppel substitui o nosso princípio do “venire contra referida sentença condenatória, aplicou-se ao réu
factum proprium” e proíbe o comportamento uma pena de multa, assim como se lhe ordenou que
legal do jornal "La Nación" foi intimado a dar de Herrera Ulloa e do diretor do jornal "La Nación", de
sentença, sob pena de incorrer no crime de impedidos de julgar, pois já haviam se pronunciado
desobediência à autoridade judicial. Os fatos deste sobre parte do mérito da causa. Finalmente, a Corte
caso alteraram a vida profissional, pessoal e familiar condenou o Estado demandado a adequar seu
de Herrera Ulloa, assim como produziram um efeito ordenamento jurídico interno aos termos da CADH e a
inibidor no exercício da liberdade de expressão por pagar uma indenização por danos morais às vítimas.” 8
sequência, ressaltando que "(...) o direito a ser julgado ● Proibição absoluta da tortura;
por um juiz ou tribunal imparcial é uma garantia ● Guantamização do processo penal;
fundamental do devido processo" (§ 171), a Corte
● Audiência de Custódia.
Interamericana considerou violada a garantia da
Suprema de Justiça que julgaram o recurso contra a Neste caso, restou assentado que "(...) a prisão
sentença absolutória, declarando a nulidade do preventiva é a medida mais severa que se pode
provimento decisório na ocasião e remetendo os
Finalmente, a Corte IDH, após considerar que o ● Extensão da jurisprudência da Corte IDH
Estado violou diversos outros dispositivos da CADH e sobre ligação dos povos indígenas com suas
também da Convenção Interamericana para Prevenir terras a outras comunidades étnicas.
e Punir a Tortura, condenou o Estado equatoriano a, ● Greening.
entre outras medidas: a) num prazo razoável,
cometidas em prejuízo do senhor Tibi; b) emitir uma De acordo com a Corte: “(...) os N'djukas têm direito a
declaração pública na qual admita sua apreciar seu projeto de pós-vida, o encontro de
responsabilidade internacional pelos fatos referidos cada um deles com seus antepassados, a relação
neste caso; c) estabelecer um programa de formação harmoniosa entre os vivos e os mortos. Sua visão de
Judiciário, do Ministério Público e da Polícia; e d) pagar largamente olvidados e perdidos pelos filhos e filhas
a quantia fixada na sentença para fins de reparação das 'revoluções' industriais e comunicativas (ou outras
14
dos danos materiais e morais provocados ao senhor involuções, desde a perspectiva espiritual)” .
14
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 141.
13
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência 15
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 133-134. Edição. Editora CEI, 2020, pág. 141.
pago entre nós quando da queda de um Avião da Gol Prosseguindo, após rejeitar outras preliminares, a
É possível afirmar, também, que no caso ora estudado responsável pela violação do direito à integridade
houve um “esverdeamento dos DH”, eis que as física, psíquica e moral dos membros da
normas ambientais foram protegidas, ainda que comunidade Moiwana (CADH, art. 5.1), considerando
16
Detalhes sobre o caso é possível encontrar aqui:
legado cultural e transmiti-lo às gerações futuras"
https://apublica.org/2017/02/gol-pagara-indenizacao-a-indio (Exceções preliminares, mérito, reparações e custas, §
s-por-dano-espiritual
SENTENÇA
20 de junho de 2005
RESUMO DO CASO
morte. Importante observar que o Ministério Público Estados contra o crime deve se desenvolver dentro
denunciou Fermín pelo crime de estupro qualificado dos limites e conforme os procedimentos que
pela morte da vítima, e não, portanto, pelo crime de permitam preservar tanto a segurança pública
homicídio. A sentença penal condenatória foi como o pleno respeito aos direitos humanos
proferida logo após um debate oral e público, quando daqueles que sejam submetidos à sua jurisdição"
se discutiu tão somente a ocorrência do crime de (Mérito, reparações e custas, § 63). Sobre o mérito do
estupro seguido de morte, sancionado com pena caso, a Corte IDH entendeu que o Estado violou o
Durante o primeiro dia do debate, porém, o Tribunal considerando uma "garantia fundamental do devido
advertiu às partes sobre a possibilidade de modificar processo em matéria penal, que os Estados devem
a qualificação jurídica do crime, mas sem especificar observar no cumprimento das obrigações previstas na
qual delito poderia surgir desta mudança. Encerrados Convenção" (Mérito, reparações e custas, § 68), já que
conduta, ainda assim o MP pediu a imposição da pena mas, sobretudo, modificou a base fática da
alegações finais, o que foi acolhido pelo Tribunal, não estupro agravado pela morte à qualificação do
tendo havido qualquer informação à defesa de crime de homicídio. Assim, entendeu a Corte IDH
Fermín de que a referida requalificação jurídica da que o Poder Judiciário da Guatemala não poderia, de
conduta podería desencadear na condenação por ofício e sem contraditórios entre as partes, agravar a
crime sancionado com pena de morte. Fermín situação jurídica do senhor Fermín. Na sequência,
esgotou os recursos internos e não conseguiu considerando que Fermín foi condenado à pena de
reverter sua condenação à pena capital, suspensa por morte em razão de o Poder Judiciário guatemalteco
força de medidas provisórias concedidas pela Corte ter invocado o art. 132 daquele país, que justifica a
IDH. Após o processamento do caso, a Corte IDH pena capital quando se verificar, no caso concreto,
inicialmente entendeu por esclarecer que, no marco um "juízo de periculosidade", a Corte IDH apontou,
de um processo penal, "(...) os órgãos do sistema primeiro, que tal previsão normativa "(...) constitui
funcionam como uma instância de apelação ou puniendi estatal sobre a base das características
internos", ressaltando que a sua função é somente substituindo, pois, "o Direito Penal do ato ou do
"(...) determinar a compatibilidade das atuações fato, próprio do sistema penal de uma sociedade
realizadas em ditos processos com a Convenção democrática, pelo Direito Penal do autor", abrindo,
Americana" (Mérito, reparações e custas, § 62). Ainda então, "a porta do autoritarismo precisamente numa
neste momento preambular, a Corte IDH também matéria em que estão em jogo os bens jurídicos da
advertiu, principalmente em razão de o fato envolver maior hierarquia" (Mérito, reparações e custas, § 94).
alterações legislativas.”19
desproporcional.
19
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 149.
18
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência 20
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 145. Edição. Editora CEI, 2020, pág. 150.
SENTENÇA
Trata-se de caso importante cuja notoriedade se deve necessidade de adequá-la a certos parâmetros éticos.
ao fato de a Corte ter enfrentado por meio dele as Com base no ordenamento jurídico chileno,
esclarecendo que o fato de a vítima ter utilizado existindo, sejam reservados a ela somente os crimes
sua formação e sua experiência profissional para funcionais cometidos por militares; e e) proceder com
escrever o livro não configura abuso daquele o pagamento de indenização pelos danos materiais e
direito, pois "Uma interpretação contrária morais sofridos pela vítima, na forma como fixado na
por violação do devido processo legal. Finalmente, a Trata-se da primeira vez que a Corte Interamericana
Corte IDH determinou, entre outros provimentos, que analisou um caso de violência estrutural de gênero.
o Estado deve: a) permitir que o senhor Palamara Também, foi a primeira vez que um tribunal
publique seu livro, assim como lhe restituir todo o internacional reconheceu o feminicídio como crime.
administrativos e judiciais;
Ainda de acordo com a Corte, é necessário que se e no Centro Penitenciário La Joyita, o sr. Vélez Loor
garanta ao preso em situação de migração o seu não dispôs de defesa técnica e nem pôde constituir
ordens do Estado panamenho contra sua liberdade políticos decidida em processo de natureza não
de locomoção. Em razão dos fatos narrados, o caso penal viola o art. 23.2 da CADH.
chegou até a CIDH. O Estado do Panamá não Outrossim, a aplicação retroativa de normativas
apresentou informações sobre as recomendações punitivas que restringem direitos políticos viola o
feitas pela CIDH, o que motivou a submissão da art. 9.2 da CADH.
demanda à Corte Interamericana. Após o
A Corte IDH, neste caso, falou que o princípio da Venezuela. No entanto, López Mendoza foi inabilitado
presunção de inocência também deve ser aplicado para o exercício da função pública em dois processos
sua associação sem fins lucrativos. Neste primeiro Também não prosperaram as alegações de que o
processo administrativo, López Mendoza foi direito ao duplo grau de jurisdição teria sido violado.
multa; posteriormente, por meio de resolução, foi Venezuela por violar o art. 8.2 da CADH c/c art. 1.1 da
declarada a sanção de inabilitação para o exercício da mesma Convenção, tendo em vista que o Estado
função pública por três anos. Já no segundo processo Venezuelano apenas declarou a inabilitação de López
administrativo movido pelo Estado da Venezuela Mendoza, sem que fossem expostos os motivos de tal
contra López Mendoza, a acusação versava sobre uma condenação. Caracterizou-se, portanto, no entender
possível malversação de recursos públicos, eis que o da Corte, uma violação do dever de motivar as
governo da Venezuela alegou que ele havia aplicado decisões por parte da Venezuela, bem como um
créditos orçamentários em finalidades diversas das cerceamento ao direito de defesa de López Mendoza.
previstas em lei enquanto foi prefeito do Município de Prosseguindo, a Corte Interamericana reconheceu a
Chacó. Neste segundo processo administrativo, o violação do art. 22.3 da Convenção Americana, eis que
Estado venezuelano reconheceu a responsabilidade a restrição de direitos políticos deveria ter advindo de
administrativa de López Mendoza e lhe condenou ao um processo criminal, processado e julgado diante de
pagamento da pena de multa e, posteriormente, todas as garantias, o que não teria ocorrido.
declarou, por meio de resolução, a sua inabilitação Finalmente, a Corte IDH determinou a anulação das
para o exercício de função pública por mais seis anos. medidas emitidas pela Controladoria-Geral da
Em virtude das condenações proferidas em sede República que decretaram a inabilitação do acusado
Os fatos do presente caso se iniciaram em 2002, norma, ato ou prática discriminatória baseada na
quando Karen Atala Riffo decidiu encerrar seu orientação sexual pelo Direito interno, seja por
casamento com Ricardo Jaime López Allendes, com parte de autoridades estatais ou por particulares.
quem tinha três filhas. Como parte da separação de A Corte IDH também afirmou que o interesse
fato, estabeleceram por mútuo acordo que as filhas superior da criança não pode ser utilizado para
do casal ficariam aos cuidados da senhora Atala Riffo. amparar discriminação contra os pais em razão da
Em novembro de 2002, a senhora Emma de Ramón, orientação sexual de qualquer deles, não podendo
companheira amorosa da senhora Atala, começou a o julgador levar em consideração essa condição
conviver na mesma casa com ela e suas filhas. Em social para decidir sobre processos de guarda.
janeiro de 2003, o pai das três filhas ajuizou uma ação Finalmente, a Corte IDH esclareceu que a CADH não
Menores de Villarrica. O senhor Ricardo, pai das tampouco protege somente um modelo
meninas, teve a sua pretensão indeferida pelo Juizado "tradicional" de família, assentando que o conceito
de Menores, cuja sentença foi confirmada pela Corte de vida familiar não pode ser reduzido unicamente ao
de Apelações. Em maio de 2004, porém, a Corte matrimônio, devendo abranger outros laços
Suprema de Justiça do Chile acolheu um recurso do familiares em que as pessoas têm vida em comum.
senhor Ricardo e lhe concedeu a guarda das suas Assim, portanto, a Corte IDH não adentrou no mérito
mas somente considerou incompatível com a CADH a comunidades indígenas, ele deve ser prévio, livre e
RESUMO DO CASO
vidas e à sua segurança. Diante dos fatos ocorridos, a inclusão da pessoa com deficiência na sociedade,
a Corte ainda estipulou uma indenização de um devendo adotar medidas positivas para eliminar as
Trata-se do primeiro caso de atuação da Defensoria da Corte Interamericana de que, diante do estado de
adote as medidas necessárias para garantir ao senhor essencial para o livre desenvolvimento da
condenatória, nos termos estabelecidos no art. 8.2. h ocasiona impacto desproporcional para um grupo
julgamento do recurso a ser interposto pelo senhor que gera discriminação indireta.
31
Mohamed; e (c) pague as indenizações fixadas.” A FIV está inserida no direito a gozar dos benefícios do
RICA
RESUMO DO CASO
ÓRGÃO JULGADOR
“Os fatos do presente caso se relacionam com a
Corte Interamericana de Direitos Humanos
aprovação de um Decreto Executivo em fevereiro de
(CADH, art. 17.2), afirmando que por concepção, nos ● Atuação da Defensoria Pública
termos da CADH, deve se entender a implantação do Interamericana;
óvulo fecundado no útero materno, e não a própria ● Crianças imigrantes;
fecundação do óvulo. Finalmente, a Corte IDH
● Asilo em sentido amplo;
determinou que o Estado deve adotar, com a maior
● Possibilidade de submeter ao crivo dos
celeridade possível, as medidas apropriadas para que
tribunais internacionais a concessão ou
fique sem efeito a proibição de praticar a fecundação
denegação dos institutos do asilo e refúgio.
in vitro e para que as pessoas que desejam fazer uso
A Corte IDH também determinou que o Estado A Corte, também, falou do asilo em sentido amplo,
indenizasse as vítimas e lhes oferecesse tratamento englobando o asilo territorial, diplomático, militar e o
ÓRGÃO JULGADOR
32
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência “O caso em análise diz respeito à expulsão sumária
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 236-237. dos membros da família peruana Pacheco Tineo de
irregular, na qualidade de refugiados, em fevereiro de origem, onde seu direito à vida ou à liberdade pessoal
2001, em razão de estarem sendo perseguidos pela esteja em risco de violação em virtude de sua raça,
ditadura do Governo Fujimori no Peru. Após adentrar nacionalidade, religião, condição social ou de suas
apresentou na imigração para pedir refúgio. Mesmo non-refoulement), consagrado no art. 22.8 da
realizando o pedido de forma amigável e com todos Convenção Americana de Direitos Humanos; c) o
família peruana, eles foram expulsos sumariamente direito à proteção especial das crianças consagrado
sem qualquer direito de notificação sobre a Humanos, em prejuízo de Frida Edith, Juana
assistência consular, devido processo legal, proteção Guadalupe e Juan Ricardo Pacheco Tineo, todos
proteção especial às crianças. Como não houve Trata-se da primeira vez que a Corte
solução amistosa entre as partes, o caso foi Interamericana não aprecia o mérito de um caso
encaminhado à Corte Interamericana. Após o por acolher uma exceção preliminar de ausência
Estados se encontram facultados a estabelecer leis De acordo com a Corte, o princípio da máxima
internas para garantir o comparecimento do acusado" taxatividade legal tem importância especial na
(Exceções preliminares, § 134). E finaliza a Corte, tipificação do crime de terrorismo.
portanto, acolhendo a exceção preliminar, levando
Ainda, a presunção legal do "dolo terrorista" é
em conta que "(...) no presente caso não foram
incompatível com o princípio da legalidade.
esgotados os recursos idôneos e efetivos, e que não
A testemunha anônima é compatível com a CADH,
procediam as exceções ao requisito do prévio
desde que a sua utilização seja excepcional e que
esgotamento dos recursos internos" (Exceções
sejam adotadas medidas de contrapeso.36
preliminares, § 144), deixando, consequentemente, de
RESUMO DO CASO
● Direito à presunção de inocência; lhes aplicou a Lei chilena 18.314, conhecida como "Lei
35
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência 36
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 254-255. Edição. Editora CEI, 2020, pág. 776-777.
à proteção da família.” 37
37
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 256-257.
psiquiátrico.
DATA DA SENTENÇA
04 de julho de 2006
RESUMO DO CASO
1
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência auxílio à polícia. Ximenes Lopes faleceu no mesmo
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª dia, aproximadamente duas horas depois de ter sido
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 367.
ocasionado no contexto dos fatos narrados; e c) os Trata-se do primeiro caso envolvendo violação de
direitos às garantias judiciais e à proteção judicial direitos humanos de pessoas que defendem
consagrados nos arts. 8.1 e 25.1 da CADH, em razão direitos humanos. Nele, a Corte IDH entendeu que
da ineficiência em investigar e punir os responsáveis ela não pode substituir o Estado no exame dos
pelos maus-tratos e óbito da vítima. Finalmente, a fatos e das provas apresentadas, isso porque, para
Corte IDH determinou que o Estado brasileiro o órgão: “(...) as medidas específicas de investigação e
indenizasse os familiares de Ximenes Lopes pelos julgamento num caso concreto para obter um
danos materiais e imateriais provocados, além de ter resultado melhor ou mais eficaz, mas sim constatar se
ordenado diversas outras obrigações, a exemplo do nos passos efetivamente dados no âmbito interno
dever de garantir, em prazo razoável, que o processo foram ou não violadas obrigações internacionais do
interno destinado a investigar e punir os responsáveis Estado decorrentes dos artigos 8a e 25 da Convenção
pelos fatos deste caso seja regularmente Americana.”3 Mais que isso, o Estado Brasileiro foi
RESUMO DO CASO
CASO GILSON NOGUEIRA DE CARVALHO E
2
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência 3
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 366-367. Edição. Editora CEI, 2020, pág. 369.
vítima não foi garantido e que o Estado brasileiro não arquivamento do expediente.”4
processo sobre a morte da vítima já se encontrava em CASO ESCHER E OUTROS VS. BRASIL
fase de pronúncia. Após sucessivas prorrogações de
vítima havia sido absolvido pelo Tribunal do Júri e que Corte Interamericana de Direitos Humanos
concordado com o Estado no sentido de que a morte ● Inviolabilidade das comunicações telefônicas
da vítima ocorreu dois anos antes do reconhecimento
● Ilegalidades no processo
da competência contenciosa pelo país, considerou- se
○ ausência de motivação
competente para examinar as ações e omissões
○ não apresentação dos meios que
relacionadas com violações contínuas e permanentes,
seriam empregados para realizar a
que têm início antes da data de reconhecimento da
interceptação
competência da Corte e persistem ainda depois dessa
data. Assim, a Corte IDH indeferiu a objeção ○ falta de clareza quanto aos fatos
a data do reconhecimento da competência da De acordo com o art. 11.2 da CADH: “Ninguém pode
Corte, único período considerado neste caso. ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em
Assim, a Corte IDH não reconheceu a violação dos sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou
direitos à proteção e às garantias judiciais
4
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
consagradas nos arts. 8a e 25 da CADH,
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 368.
honra ou reputação”. Analisando o caso em comento, promover a reforma agrária no Estado do Paraná. O
a Corte IDH afirmou que no direito à privacidade fundamento apresentado pela PM para requerer a
está incluída a proteção das comunicações interceptação telefônica foi justamente a existência de
telefônicas. Os professores Caio e Thim apresentam indícios de que os membros daquelas organizações
a hipótese de a Corte ter dado interpretação evolutiva mantinham algum vínculo com o MST para a prática
Ainda, quanto ao levantamento das interceptações pela juíza da Vara de Loanda/PR por meio de mera
telefônicas, a Corte se manifestou no sentido de elas anotação na folha da petição, em que escreveu
serem ingerência arbitrária e ilegal na vida "Recebido e analisado. Defiro. Oficie-se". O Ministério
privada, na honra e na reputação das pessoas.5 Público não foi intimado da decisão. Fragmentos das
social vulnerável.
RESUMO DO CASO
ÓRGÃO JULGADOR
7
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 374.
de reparação, fixou uma quantia a título de reparação - direito à reparação das vítimas e seus familiares;
pelos danos sofridos pelos familiares da vítima.”8 - adequado tratamento jurídico aos crimes
cometidos; e
8
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência 9
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 373. Edição. Editora CEI, 2020, pág. 378.
lembrar que o STF e a Corte IDH possuem conflito real entre as decisões porque cada Tribunal
entendimentos diferentes. Para o STF, em decisão age em esferas distintas e com fundamentos diversos.
proferida na ADPF 153, a Lei da Anistia deveria ser De um lado, o STF, que é o guardião da Constituição e
aplicada aos atos criminosos cometidos pelos exerce o controle de constitucionalidade. Por
agentes da ditadura. Para a Corte IDH, no entanto, exemplo, na ADPF 153 (controle abstrato de
com o caso Gomes Lund e outros vs. Brasil, a Lei constitucionalidade), a maioria dos votos decidiu que
de Anistia é inválida e, a partir disso, condenou o o formato amplo de anistia foi recepcionado pela
Estado brasileiro a investigar e punir os agentes da nova ordem constitucional. Por outro lado, a Corte de
ditadura militar pelas graves violações de direitos San José é guardiã da Convenção Americana de
humanos ocasionadas na região do Araguaia durante Direitos Humanos e dos tratados de direitos humanos
o período ditatorial. Para solucionar a divergência, que possam ser conexos. Exerce, então, o controle de
Caio e Thim apontam a Teoria do duplo controle convencionalidade. Para a Corte IDH, a Lei da Anistia
como alternativa. não é passível de ser invocada pelos agentes da
histórica, em razão do contexto no qual ocorreram as significativamente de sua liberdade individual, com
violações de direitos humanos das 85 vítimas. Nesse intenção de exploração mediante o uso, a gestão, o
sentido, também constitui o primeiro caso no qual a benefício, a transferência ou o despojamento de uma
Corte IDH expressamente determina a pessoa. Em geral, este exercício se apoiará e será
responsabilidade internacional contra um Estado obtido através de meios tais como a violência, fraude
de exclusão”.12
DATA DA SENTENÇA
15 de maio de 2017
RESUMO DO CASO
16
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência 17
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 393. Edição. Editora CEI, 2020, pág. 404.
Estado do Rio de Janeiro em 18.10.1994 e 08.05.1995 Estado é responsável pela violação do direito à
na Favela Nova Brasília. As mortes foram justificadas proteção judicial, previsto no art. 25 da CADH em
pelas autoridades policiais mediante a lavratura de relação aos artigos 1.1 e 2 do mesmo instrumento. 3.
"autos de resistência à prisão". Alega-se ainda que, no O Estado é responsável pela violação dos direitos à
contexto da incursão policial de 18.10.1994, três proteção judicial e às garantias judiciais, previstos nos
mulheres, sendo duas delas menores de idade, foram artigos 25 e 8.1 da CADH em relação com o art. 1.1 do
vítimas de tortura e atos de violência sexual por parte mesmo instrumento, e artigos 1°, 6° e 8Q, da
de agentes policiais. Finalmente, alega-se que a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a
investigação dos fatos mencionados teria sido Tortura, assim como o art. 7a da Convenção - de
conduzida com o objetivo de estigmatizar e revitimizar Belém do Pará. 4. O Estado é responsável pela
as pessoas falecidas, pois teria sido focada na violação do direito à integridade pessoal, previsto no
culpabilidade delas e não na verificação da art. 5.1 da CADH em relação ao art. 1.1 do mesmo
legitimidade do uso da força. Em audiência pública instrumento. 5. O Estado não violou o direito de
realizada na Corte, o Brasil reconheceu que seus circulação e de residência, previsto no art. 22.1 da
agentes policiais foram responsáveis pelos 26 CADH. Finalmente, a Corte Interamericana fixou as
homicídios e pelos 3 crimes de violência sexual contra seguintes medidas de reparação: 1. O Estado deve
as mulheres vítimas. No entanto, o Estado brasileiro conduzir de forma eficaz a investigação em curso
insistiu na preliminar de incompetência rationi sobre os fatos relacionados com as mortes ocorridas
temporis da Corte Interamericana, pois os fatos na incursão de 1994, com a devida diligência e em
ocorreram entre os anos 1994 e 1995, enquanto que prazo razoável para identificar, processar e, se for o
a aceitação da competência contenciosa se deu em caso, punir os responsáveis. A respeito das mortes
1998. Após o processamento do caso, a Corte ocorridas na incursão de 1995, o Estado deve iniciar
temporis, admitindo que não pode apreciar os fatos República, deve analisar se os fatos referentes às
ocorridos antes de 1998, o que não impede, porém, incursões de 1994 e 1995 devem ser objeto de
falhas do Estado para processar e punir as violações competência. 2. O Estado deve iniciar uma
de direitos humanos causadas pelos policiais. E assim, investigação eficaz a respeito dos fatos relacionados à
a Corte entendeu por condenar o Estado brasileiro. violência sexual. 3. O Estado deve oferecer
Dos pontos resolutivos da sentença, ressaltamos os gratuitamente, através de suas instituições de saúde
imparcialidade da investigação, devida diligência e vítimas necessitarem e pelo tempo que seja
prazo razoável, estabelecidas no art. 8.1 da CADH em necessário, inclusive o fornecimento gratuito de
internacional em relação aos fatos objeto do presente medidas necessárias para uniformizar a expressão
caso e sua posterior investigação, e durante esse ato "lesão corporal ou homicídio decorrente de
público deverão ser inauguradas duas placas em intervenção policial" nos documentos e investigações
memória das vítimas na praça principal da Favela realizadas pela polícia ou pelo Ministério Público em
Nova Brasília. 5. O Estado, dentro do prazo de um ano casos de mortes ou lesões provocadas pela atuação
policial, em que prima facie apareça como possível CASO POVO INDÍGENA XUCURU E SEUS
imputado um agente policial, desde a notitia criminis MEMBROS VS. BRASIL
se encarregue a investigação a um órgão
Ministério Público, assistido por pessoal policial, Corte Interamericana de Direitos Humanos
técnico criminalístico e administrativo alheio ao corpo
da Corte. Neste caso, o Brasil alegou que os recursos direito ao uso e gozo dos bens, dadas pela cultura,
internos ainda não tinham sido esgotados, pelo que a usos, costumes e crenças de cada povo, equivaleria a
Corte se manifestou da seguinte maneira “O Estado afirmar que só existe uma forma de usar os bens, e
deve especificar claramente os recursos que, a seu deles dispor, o que, por sua vez, significaria tomar
critério, ainda não foram esgotados, ante a ilusória a proteção desses coletivos por meio dessa
processual entre as partes que deve reger todo dos membros das comunidades indígenas sobre
procedimento no Sistema Interamericano. Como a seus territórios, se poderia afetar outros direitos
Corte estabeleceu, de maneira reiterada, não é tarefa básicos, como o direito à identidade cultural e à
deste Tribunal, nem da Comissão, identificar ex própria sobrevivência das comunidades indígenas
esgotamento, em razão do que não compete aos Restou assentado, também, que o artigo 21, acima
órgãos internacionais corrigir a falta de precisão referido, deve ser interpretado à luz das normas da
das alegações do Estado. Os argumentos que Convenção 169 da OIT.
conferem conteúdo à exceção preliminar interposta
Quanto ao esverdeamento, Caio e Thim pontuam
pelo Estado perante a Comissão durante a etapa de
que: “o Caso Xucuru acabou por tutelar, ainda que
admissibilidade devem corresponder àqueles
de forma indireta ou "por ricochete", interesses
19
expostos à Corte.”
ambientais”21 e essa proteção internacional a
Outrossim, o conceito de propriedade privada direitos ambientais recebeu o nome de de
possui interpretação especial quando se refere às “Greening”.
terras indígenas. Para a Corte: “o artigo 21 da
do local habitado pela comunidade indígena Xucuru, Trata-se da segunda condenação do Brasil em
bem como em razão da demora injustificada no razão de tortura praticada durante a ditadura
processo administrativo e judicial de demarcação de militar. Neste caso, a Corte se posicionou no sentido
terras indígenas. O Estado brasileiro aduziu que não da relativização do princípio do no bis in idem
violou nenhum dispositivo da CADH. Ao analisar a quando se estiver diante de crimes contra a
demanda, a Corte condenou o Estado brasileiro de humanidade. Nas palavras da Corte:
forma unânime por violação aos artigos I a (dever de
"A exceção a esse princípio, assim como no caso da
respeitar), 8a (garantias judiciais), 21 (direito à
prescrição, decorre do caráter absoluto da
propriedade) e 25 (proteção judicial), todos da
proibição dos crimes contra a humanidade e da
Convenção Americana, estabelecendo, assim, a
expectativa de justiça da comunidade
morosidade do Estado brasileiro em reconhecer e
internacional. Isso se explica, como especificou a
22
demarcar as terras indígenas do Povo Xucuru.”
Comissão de Direito Internacional, pelo fato de que
Nesse caso, o indivíduo não foi julgado ou punido do Estado bandeirante considerou que a Lei de Anistia
pelo mesmo crime, mas por um 'crime mais leve' que era um óbice para a realização das investigações. Em
não compreende em toda a sua dimensão sua 2008, com base em fatos novos, foi feita outra
conduta criminosa. Assim, 'um indivíduo podería ser tentativa para iniciar o processo penal contra os
julgado por um tribunal nacional por homicídio com responsáveis pelas violações cometidas. No entanto, o
agravantes e julgado uma segunda vez por um procedimento foi novamente arquivado, desta vez
tribunal penal internacional pelo crime de genocídio sob o argumento de que os crimes já estariam
baseado no mesmo fato'. Nas situações em que o prescritos. Após o esgotamento dos recursos
indivíduo não foi devidamente julgado ou punido pela internos, o caso chegou até a CIDH. No dia 22 de abril
mesma ação ou pelo mesmo crime, em função do de 2016, após fracassar na tentativa de solucionar o
justiça pelas autoridades nacionais na ação do caso processar e julgar a demanda, a Corte IDH condenou,
ou na instrução da causa, a comunidade internacional por unanimidade, o Estado brasileiro pela violação do
não deve ser obrigada a reconhecer uma decisão art. l s (dever de promoção e respeito aos direitos),
decorrente de uma transgressão tão grave do art. 28 (dever de adotar disposições do ordenamento
(...)".24
24
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 413-414.
humanos no estabelecimento;
Todas as medidas provisórias deferidas pela
● possibilitar a visita dos familiares;
Corte Interamericana contra o Brasil dizem respeito a
Thimotie1, os seguintes casos foram objeto de medida ● ajustar a ocupação prisional à capacidade do
Rondônia)
● Complexo do Tatuapé da FEBEM (São Paulo, “Nas condições antes indicadas, a Corte
● proteger a integridade pessoal, inclusive das devem ter por finalidade essencial a reforma
conduta violentas que, tanto nos grupos que estabelecimento se deterioram até dar lugar a
exercem o poder como nos que se submetem uma pena degradante como consequência da
carcerárias até o extremo de resultar numa incrementa numa medida que o torna ilícito
direito na convivência livre. Deste modo, uma virtude de essa pena impor uma dor ou
violação prolongada do artigo 5.6 da aflição que exceda em muito aquilo que é
direitos de todos os habitantes, e isso porque liberdade, foram basicamente duas: i. que se
os presos num estabelecimento regido por proceda, conforme propõem alguns, à direta
grupos violentos sofrerão atos e humilhações liberação dos presos, considerando que é
que em boa parte deles causarão sua saída intolerável que um Estado de Direito execute
com grave deterioração de sua subjetividade penas que são, no mínimo, degradantes; ii.
violência com desvios delitivos inclusive mais provoque uma diminuição da população
graves que aqueles que motivaram a prisão. penal, em geral mediante um cálculo de
Se por um lado uma violação do artigo 5.2 da tempo de pena ou de privação de liberdade,
Convenção Americana viola os direitos das que abrevie o tempo real, atendendo ao
de uma pena pelo menos degradante, por superpopulação penal. (...) a eventual situação
direitos de todos os habitantes. (...) Toda pena construção de novos estabelecimentos, uma
privativa de liberdade e qualquer privação de vez que nem sequer foram projetados e, por
liberdade, ainda que a título preventivo ou outro lado, o próprio Estado alega falta de
cautelar, implica necessariamente uma cota recursos (...). Das respostas oferecidas pelo
de dor ou aflição inevitável. Não obstante, Estado acerca da situação prisional geral,
uma instituição total e ao respeito aos porque estes não têm capacidade para
outros centros penitenciários, com o radical, antes mencionada, que se inclina pela
e funcionários. Isso mostra que persiste uma Estado de Direito, embora seja firmemente
direitos à integridade pessoal e à vida dos jurídica, desconhece que seria causa de um
beneficiários destas medidas provisórias, o enorme alarme social que pode ser motivo de
preservar esses direitos fundamentais. Por dispostas pelos juízes do Estado, a título penal
conseguinte, o único meio para fazer cessar a ou cautelar, o foram no prévio entendimento
continuação da eventual situação ilícita frente de sua licitude por parte dos magistrados que
princípio, e dado que é inegável que as entanto, são executadas ilicitamente e, por
podem estar sofrendo uma pena que lhes que nunca devia ter existido, mas existe, ante
maior que o inerente à mera privação de prudente é reduzi-las de forma que seja
liberdade, por um lado, é justo reduzir seu computado como pena cumprida o excedente
deve ater a um cálculo razoável, e, por outro, autorizado pelos juízes do Estado. (...) Os
essa redução implica compensar, de algum desvios de conduta provocados por condições
antijurídica de sua execução. As penas ilícitas liberdade põem em risco os direitos e os bens
não deixam de ser penas em razão de sua jurídicos do restante da população, porque
circunstâncias que não se pode negar para pode ignorar essa circunstância e, pelo menos
chegar a uma solução o mais racional possível no que se refere aos direitos fundamentais, a
Dado que está fora de dúvida que a ela se impõe formular um tratamento
de 200%, ou seja, duas vezes sua capacidade, integridade física, ou de natureza sexual, ou
disso se deduziria que duplica também a por eles condenados, embora levando em
aflição antijurídica eivada de dor da pena que conta que esses desvios secundários de
se está executando, o que imporia que o conduta não ocorrem de maneira inexorável,
tempo de pena ou de medida preventiva ilícita o que exige uma abordagem particularizada
realmente sofrida fosse computado à razão em cada caso. Por conseguinte, a Corte
de dois dias de pena lícita por dia de efetiva entende que a redução do tempo de prisão
PECULIARIDADES
● abster-se de praticar revistas íntimas ou ● Tratou-se da eficácia dos direitos humanos
vexatórias em visitantes4, conforme se nas relações entre particulares
percebe na Resolução de 22.05.2014 sobre ● Primeiro Pacto para revogação das medidas
medidas provisórias a serem cumpridas pelo provisórias
Brasil no Complexo Penitenciário de Curado,
in verbis:
O Estado de Rondônia assumiu o compromisso de
“(...) garanta que os registros sem roupa e
melhorar o sistema prisional com os representantes
íntimos se ajustem aos critérios de utilização
das vítimas através do “Pacto para Melhoria do
necessária, razoável e proporcional. Se
Sistema Prisional do Estado de Rondônia”. Com isso,
registros corporais são realizados, devem ser
pessoal qualificado e do mesmo sexo que a Outorgadas pela Corte Interamericana. No entanto, as
pessoa registrada e devem ser compatíveis medidas tomadas não foram suficientes e, por isso, a
com a dignidade humana e o respeito aos Procuradoria Geral da República solicitou intervenção
direitos fundamentais. Estão legalmente
federal no Estado por desrespeito a Direitos Humanos
proibidos os registros vaginais ou anais
no sistema prisional.
invasivos. A emissão de passes para visitantes
Corte entendeu que o Estado Brasileiro implementou Medidas provisórias determinadas em 2011 e
avanços no sistema, já que não construiu novas fiscalizadas até 26 de setembro 2014
Medidas provisórias em 2014 e ainda em carcerária também viola o art. 5.6 da CADH ao
aprisionamento;
condições degradantes;
50%.6
6
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência Internacional
de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª Edição. Editora CEI, 2020, pág.
785.
1.1. CASO DE JOSÉ PEREIRA VS. BRASIL quais destacamos o compromisso de defender a
DATA DA DECISÃO
PECULIARIDADES
Data da homologação da solução amistosa: 24 de
A Comissão Interamericana homologou o acordo
outubro de 2013
entre os peticionários e o Estado Brasileiro com as
seguintes deliberações:
RESUMO
■ Reconhecimento pelo Estado Brasileiro de sua
“Entidades não governamentais apresentaram uma responsabilidade ante a ineficácia de prevenção
petição na CIDH, pela qual alegaram que a vítima José do trabalho escravo bem como a não punição dos
Pereira foi gravemente ferida e outro trabalhador autores das condutas criminosas;
rural foi morto quando ambos tentaram escapar, em
■ Criação da Comissão Nacional de Erradicação do
1989, da Fazenda Espírito Santo, para onde tinham
trabalho Escravo (CONATRAE – criada pelo Decreto
sido atraídos com falsas promessas sobre condições
Presidencial de 31 de julho de 2003);
de trabalho, terminando submetidos a trabalhos
■ Brasil assume o compromisso de cumprir
forçados, sem liberdade para sair e sob condições
efetivamente os mandados de prisão dos autores
desumanas e ilegais, situação em que agonizaram
dos crimes ensejadores das violações;
juntamente com sessenta outros trabalhadores dessa
■ Compromisso do Estado Brasileiro em defender a
fazenda. As entidades peticionárias alegaram que os
competência da Justiça Federal no caso dos crimes
fatos denunciados, caracterizadores de situação de
de redução a análoga a condição de escravo;
trabalho escravo na zona sul do Estado do Pará,
■ Fortalecimento do Ministério Público do
constituem um exemplo da falta de proteção e
Trabalho; fortalecimento do grupo móvel do
garantias do Estado brasileiro, cuja conduta se pautou
Ministério do Trabalho e Emprego.
pelo desinteresse e ineficácia nas investigações dos
Justiça do Maranhão, os familiares das vítimas, Neste caso, o Estado do Maranhão reconheceu a
Criança e do Adolescente Padre Marcos Passerini solução imediata alegando a deficiência estrutural do
(CDMP) e Justiça Global, apresentaram duas petições sistema de segurança, a impropriedade técnica e a
o homicídio da criança Raniê Silva Cruz, ocorrido em punir os responsáveis, além de adotar as seguintes
apresentaram uma segunda petição, esta a instalar placa em homenagem simbólica às crianças.
denunciando o homicídio das crianças Eduardo Rocha ■ Medidas de reparação material: inclusão das
ocorrido em junho de 1997 e também em Paço do Social, programas sociais e de transferência de renda.
das famílias durante 15 anos. Justiça brasileira ainda não havia chegado à
■ Medidas de não repetição: combate à violência condenação definitiva do réu, que se mantivera em
sexual contra crianças e adolescentes, capacitação de liberdade durante todo esse tempo, tudo isso apesar
policiais civis e militares para lidar com tais casos, e da gravidade da acusação e do substancioso conjunto
incremento da assistência jurídica prestada pela probatório contra ele. Em 1998, a CIDH recebeu a
cumprimento do acordo, relatórios semestrais e humanos das mulheres. Em 2001, a CIDH declarou o
anuais, visitas in situ caso a CIDH avaliasse necessário. Estado brasileiro responsável pela violação do direito
Comissão Interamericana de Direitos Humanos que não faz senão perpetuar as raízes e fatores
3) Adotar, sem prejuízo das ações que possam ser curriculares destinadas à compreensão da
instauradas contra o responsável civil da agressão, as importância do respeito à mulher e a seus direitos
medidas necessárias para que o Estado assegure à reconhecidos na Convenção de Belém do Pará, bem
vítima adequada reparação simbólica e material como ao manejo dos conflitos intrafamiliares.
4) Prosseguir e intensificar o processo de reforma que O caso Maria da Penha representa a primeira vez
evite a tolerância estatal e o tratamento em que a CIDH aplicou a Convenção de Belém do
discriminatório com respeito à violência doméstica Pará.
contra mulheres no Brasil.
Permanente da Justiça Militar em 1996, quando adotar e instrumentalizar medidas de educação dos
aplicou o princípio in dubio pro reo em favor dos funcionários de justiça e da polícia, a fim de evitar
policiais acusados, tendo em vista a dúvida quanto à ações que impliquem em discriminação racial nas
medidas especiais de proteção de crianças, à 1.5. CASO DE SIMONE ANDRÉ DINIZ VS.
proteção judicial e garantias judiciais, consagrados, BRASIL
respectivamente, nos arts. 7, 5, 4, 19, 25 e 8 da
ÓRGÃO JULGADOR
Convenção Americana. Dentre as recomendações
Comissão Interamericana de Direitos Humanos
emitidas pela Comissão, podem ser destacadas as de
efetiva dos fatos, por órgãos que não sejam militares; outubro de 2006
O jornal "A Folha de São Paulo", de grande circulação autoridades públicas em efetuar diligente e adequada
Classificados, a pedido de Gisele Mota da Silva, nota racial e racismo cria o risco de produzir não somente
por meio da qual Gisele comunicava o seu interesse um racismo institucional, onde o Poder Judiciário é
em contratar uma empregada doméstica que, entre visto pela comunidade afrodescendente como um
outros requisitos, deveria ter a "cor branca". Simone poder racista, como também resulta grave pelo
André Diniz, tomando conhecimento do anúncio, impacto que tem sobre a sociedade na medida em
entrou em contato e se apresentou como candidata que a impunidade estimula a prática do racismo" (§
ao emprego, sendo prontamente recusada pela 107). A Comissão prossegue, depois, afirmando que
empregadora em razão da sua cor. Inconformada e excluir uma pessoa do acesso ao mercado de trabalho
sentindo-se discriminada, Simone apresentou notitia por sua raça constitui um ato de "discriminação
criminis por meio da Subcomissão do Negro da racial", expressão que, segundo dispõe o art. 1Q da
Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP, a partir da Convenção Internacional para a Eliminação de Todas
qual foi instaurado inquérito policial para apurar as Formas de Discriminação Racial, "visa qualquer
eventual ocorrência do crime previsto no art. 20 da distinção, exclusão, restrição ou preferência fundada
Lei 7.716/1989. Concluída a investigação, porém, o na raça, cor, ascendência na origem nacional ou
Ministério Público manifestou-se pelo arquivamento étnica que tenha como objetivo ou como efeito
por não ter identificado qualquer base para o destruir ou comprometer o reconhecimento, o gozo
homologado pelo Poder Judiciário, arquivando-se, direitos do homem e das liberdades fundamentais
pois, o caso. A Subcomissão do Negro da Comissão de nos domínios político, econômico, social e cultural ou
Direitos Humanos da OAB/SP e o Instituto do Negro em qualquer outro domínio da vida pública". E conclui
Padre Batista denunciaram o Brasil na Comissão a Comissão que, se o Estado permite que a referida
Interamericana de Direitos Humanos, alegando que o conduta racista permaneça impune, convalidando-a
Brasil não garantiu o pleno exercício do direito à implicitamente ou prestando sua aquiescência,
justiça e ao devido processo legal, falhou na condução haverá a violação ao art. 24 da CADH em conjunto
dos recursos internos para apurar a discriminação com o art. 1.1, já que a igual proteção perante a lei
racial sofrida por Simone e, consequentemente, impõe que qualquer manifestação de práticas racistas
Comissão Interamericana anotou, primeiro, que este seguintes recomendações para o Brasil: "1. Reparar
caso infelizmente não é único e isolado no Brasil, plenamente a vítima Simone André Diniz,
comportamento das autoridades brasileiras quando pelas violações de direitos humanos determinadas no
racismo. Por esse motivo, a Comissão "chama a publicamente a responsabilidade internacional por
7
PAIVA, Caio. HEEMANN, Thimotie Aragon. Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos. Belo Horizonte, 3ª
Edição. Editora CEI, 2020, pág. 540-542.