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06/11/2021 23:05 ConJur - Contra o senso comum teórico, um estímulo ao pensamento crítico

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DIÁRIO DE CLASSE

Contra o senso comum teórico, um


estímulo ao pensamento crítico
6 de novembro de 2021, 10h39 Imprimir Enviar

Por Luísa Giuliani Bernsts e Jefferson de Carvalho Gomes

 Ouvir: um teórico, um estímulo ao pensamento crítico 0:00

A tarefa do mestre (assim como a do mediador) é de provocar, estimular, para


ajudar a chegar ao lugar onde se possa reconhecer algo que já estava ali [1].
Dois grandes mestres figuram a coluna desta semana, que é mais uma
homenagem ao professor Luis Alberto Warat. Esse tributo será feito por LEIA TAMBÉM
intermédio do também mestre Lenio Streck, que, afinal de contas, popularizou
DIÁRIO DE CLASSE
o conceito de senso comum teórico de tal maneira que é impossível pensar em
As criptomoedas e o Estado em
CHD sem lembrarmos da importância da reflexão crítica acerca dos conceitos.
xeque: uma nova crise se apresenta?
Primeiro precisamos compreender o que é o DIÁRIO DE CLASSE
pensamento crítico. Segundo Warat [2], ele Não se combate a corrupção com
"encontra-se integrado por um conjunto de cruzada moralista
vozes dissidentes que, sem constituir-se,
ainda, em um sistema de categorias, propõe DIÁRIO DE CLASSE

um conglomerado de enunciações apto a Incondições do Direito e o risco de


produzir um conhecimento do Direito" e, retorno ao senso comum
geralmente, procura revisar o "saber
DIÁRIO DE CLASSE
jurídico sacralizado". Esse deslocamento
Afinal de contas, dados são fatos?
epistemológico deve se dar pelo primado da política sobre a experiência e a
razão e, por tanto, "a análise das verdades jurídicas exige a explicitação das
relações de força, que formam domínios de conhecimento e sujeitos como Facebook Twitter
efeitos do poder e do próprio conhecimento".
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Diante desse quadro, o senso comum teórico "designa as condições implícitas
de produção, circulação e consumo das verdades nas diferentes práticas de

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enunciação e escritura do Direito" [3]. Para o professor argentino, essa


categorização se deve(ria) ao aspecto simbólico que o Direito impõe no
imaginário daqueles que o aplicam, sobretudo os que, em razão da autoridade,
possuem o poder de julgar, acusar e investigar.

O ponto aqui é demonstrar que o emprego estratégico dos conceitos, a partir da


"separação dos conceitos de suas teorias produtoras, permite a constituição de
um sistema de verdades, o qual não está vinculado a conteúdos, mas sim, a
procedimentos legitimadores, determinantes para o consenso social". E esse
consenso provém de um processo de conotações institucionais estereotipadas
intimamente ligadas ao poder dos significados [4].

O professor Lenio Streck, que foi orientando de Warat, ao explicar o senso


comum teórico [5], mostra quatro funções que este exerce para a formação do
imaginário jurídico, a saber: função normativa; função ideológica; função
retórica e função política. Por função normativa, Streck define como sendo o
"intermédio da qual os juristas atribuem significação aos textos legais,
estabelecem critérios redefinitórios e disciplinam a ação institucional dos
próprios juristas". Já a função ideológica é explicada da seguinte maneira

O senso comum teórico cumpre importante tarefa de socialização,


homogeneizando valores sociais e jurídicos, de silenciamento do papel social e
histórico do Direito, de projeção e de legitimação axiológica, ao apresentar
como ética e socialmente necessários os deveres jurídicos.

A função retórica surge como um complemento à função ideológica, com clara


função de efetivá-la. Por fim, vem a função política do senso comum teórico
que, em síntese, busca "reassegurar as relações de poder".

O problema do senso comum é que ele se traduz em uma crença alijada de


fundamentação teórica coerente e estas tendem a se tornar categorias
dogmáticas ou, como bem definido por Freud, uma ilusão, pois "chamamos
uma crença de ilusão quando em sua motivação prevalece a realização de
desejo, e nisso não consideramos seus laços com a realidade, assim como a
própria ilusão dispensa a comprovação" [6].

Retomando Warat, tais crenças fundadas em "marcos institucionais funcionam


como lugares de interlocução repressiva, na medida em que estabelecem uma
interpretação, polissemicamente controlada, das instâncias discursivas que se
apropriam, chegando, em muitos casos, a estabelecer versões estereotipadas
dos conceitos com uma clara função legitimadora" [7]. Ou seja, vão de
encontro ao pensamento crítico e esse é um grande problema.

O texto de base para esta coluna é do ano de 1982! As denúncias Waratianas


acerca da impossibilidade da construção de conceitos pela razão, como uma
"tentativa de suprimir das ideias seus vínculos com as representações
ideológicas ou metafísicas e com suas relações com o poder", ainda são
atualíssimas. Continuamos precisando discutir o sentido político do saber
jurídico e (não só) por isso precisamos (re)ler Warat!

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[1] WARAT, Luis Alberto. Surfando na pororoca: o ofício do mediador.


Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004.

[2] WARAT, Luis Alberto. Saber crítico e senso comum teórico dos juristas. In:
Sequência. V. 03, n. 5. Florianópolis, 1982. Disponível em: <
https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/17121>.

[3] WARAT, Luiz Alberto. Introdução Geral ao Direito, vol. I. Porto Alegre:
Sergio Antonio Fabris Editor, 1994. p.13.

[4] WARAT, Luis Alberto. Saber crítico e senso comum teórico dos juristas. In:
Sequência. V. 03, n. 5. Florianópolis, 1982. Disponível em: <
https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/17121>.

[5] STRECK, Lenio Luiz. O que é isto - o senso incomum? Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2017. p. 9.

[6] FREUD, Sigmund. Obras completas, volume 17: inibição, sintoma e


angústia, o futuro de uma ilusão e outros textos (1926-1929). São Paulo:
Companhia das Letras, 2014. p. 268.

[7] WARAT, Luis Alberto. Saber crítico e senso comum teórico dos juristas. In:
Sequência. V. 03, n. 5. Florianópolis, 1982. Disponível em: <
https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/17121>.

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Luísa Giuliani Bernsts é doutoranda e mestre em Direito Público pela Unisinos (RS), bolsista
Capes/Proex e membro do Dasein — Núcleo de Estudos Hermenêuticos.

Jefferson de Carvalho Gomes é advogado, doutorando em Direito pela Universidade Estácio


de Sá, bolsista Capes/Prosup, mestre em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis e
membro do DASEIN - Núcleo de Estudos Hermenêuticos.

Revista Consultor Jurídico, 6 de novembro de 2021, 10h39

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COMENTÁRIOS DE LEITORES
2 comentários

NÃO SE PODE CONFIAR EM NINGUÉM, NEM EM SI PRÓPRIO


Rejane G. Amarante (Advogado Autônomo - Criminal)

6 de novembro de 2021, 16h14

Em primeiro lugar, cumprimentos à Dra. Luísa e ao Dr. Jefferson pelo excelente


resumo do artigo de Warat.

Li o artigo, ele estava inspirado.

A minha reação é de que ele se preocupou em demonstrar a dinâmica do fenômeno


jurídico, tanto como se manifesta entre leigos quanto entre os profissionais do
Direito e os estudiosos.

Nessa dinâmica, o que pensávamos ser o Direito ontem pode mudar para uma noção
oposta hoje, ou mesmo nos darmos conta de uma insegurança, hesitação ou mesmo
descrença da existência de algo realmente jurídico, ou, no mínimo, justo.

Sim, a sociedade precisa sobreviver enquanto sociedade e isso só será possível se


aceitar certos comportamentos como pressupostos de existência de uma vida em
sociedade.

Então, o senso comum teórico não seria necessário ?

De igual modo, também seria necessário o senso crítico do Direito.

É mais ou menos como quando se é adolescente e se escreve uma lista de coisas que
pretende fazer ao longo da vida. Após alguns anos ou décadas, confrontando com o
que se fez efetivamente, pode haver muitas realizações da lista, ou nem tantas, ou
pouquíssimas.

Mas isso não é nada.

O pior seria constatar que passados alguns anos ou décadas, se fosse escrever tal
lista, talvez não relacionasse nada do que tinha imaginado antes. Seria uma lista
muito diferente.

Aonde isso nos leva ?

Se somos tão mutáveis individualmente, a somatória da mutabilidade de todos os


indivíduos de uma sociedade é insuportável numa pretensa convivência social.

Assim, precisamos assumir compromissos. Compromissos conosco mesmos e


compromissos com a sociedade. Compromissos que possam nos obrigar a cumprir.
Moral da história : o que prevalece é que estejamos de acordo, seja no senso comum
ou no incomum. E ninguém consegue escapar.

Responder

SENSO COMUM TEÓRICO


O ESCUDEIRO JURÍDICO (Cartorário)

6 de novembro de 2021, 11h41

O Mestre Lenio L. Streck critica o "Senso Comum Teórico" captado pelo Luiz
Alberto Warat. E o critica.

Mas, ele procura substituir o "Senso Comum Teórico", pelo seu pensamento, criando
um "Senso Especial de Justiça, moldado pela Constituição.

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