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DIÁRIO DE CLASSE

Seguindo regras: Wittgenstein, Hart e


Dworkin
20 de novembro de 2021, 10h37 Imprimir Enviar

Por Luã Jung, Luísa Giuliani Bernsts e Francisco Campis LEIA TAMBÉM

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Sobre o filtro catalisador da
Lúcia Helena Galvão
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liberdade: a moral
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DIÁRIO DE CLASSE

No sentido em que enfatiza o professor Lenio Streck em suas obras, a Teoria Contra o senso comum teórico, um
do Direito não é imune às mudanças paradigmáticas que se dão na filosofia. estímulo ao pensamento crítico
Isto é, a concepção de Direito de uma época pressupõe uma visão de mundo DIÁRIO DE CLASSE
(Weltansicht), sendo esta, por sua vez, dependente da compreensão humana As criptomoedas e o Estado em
acerca de temas como a metafísica, teoria moral e filosofia da linguagem. No xeque: uma nova crise se apresenta?
presente texto, pretendemos fazer apontamentos introdutórios acerca da
influência de Ludwig Wittgenstein sobre as teorias de H. L. A. Hart e Ronald DIÁRIO DE CLASSE

Dworkin. Não se combate a corrupção com


cruzada moralista
Wittgenstein afirma que se as palavras não
tivessem relevância, não haveria qualquer razão DIÁRIO DE CLASSE

para escolhermos uma em vez de qualquer Incondições do Direito e o risco de


outra. Para o autor, portanto, existe algo que retorno ao senso comum
transcende a rotulação pela rotulação. Se fosse
excluído da linguagem o elemento intenção, Facebook Twitter
toda a sua função desmoronaria. Por outro lado,
vale mencionar a figura desenvolvida por Linkedin RSS
Wittgenstein sobre “o besouro na caixa”: Imaginemos que um grupo de
diferentes pessoas possui uma caixa própria com um besouro dentro. No
entanto, cada uma delas tem acesso apenas a sua própria caixa. Dessa forma,
aquilo que elas afirmam entre si sobre besouros só pode ser significativo a
partir de conceitos comuns a todas, e não a partir de sua percepção íntima
derivada de seu acesso individual às respectivas caixas.
Com este exemplo, Wittgenstein propõe que o uso efetivo de conceitos só pode
se desenvolver intersubjetivamente por meio da linguagem, e não como
decorrência de sensações privadas. Como compatibilizar a intencionalidade da
linguagem com o seu caráter intersubjetivo e, portanto, não individual?

Para Wittgenstein, o uso compartilhado da linguagem pressupõe o emprego de


regras. Isto é, a linguagem é uma instituição cuja estrutura e compreensão
depende de normas públicas de inferência. Assim, a intencionalidade da
linguagem é transposta ao nível transsubjetivo em que a própria linguagem se
constitui. Mas o que isso tem a ver com o Direito?

Um dos méritos de H. L. A. Hart foi o de desenvolver elementos da filosofia da


linguagem ordinária no âmbito do Direito. Em sua obra O conceito de Direito,
Hart reduz a grande questão de “o que é o Direito?” a três perguntas essenciais
às quais se esforça em responder: i) O que diferencia o Direito de mera
coerção? ii) Quais são as relações, semelhanças e diferenças entre obrigações
morais e jurídicas? iii) O que são regras sociais e em que medida o Direito é
por elas constituído?

Influenciado pela noção wittgensteiniana de “seguir regras”, Hart argumentará


contra a ideia compartilhada por autores como Hobbes e Austin, por exemplo,
de que o Direito consistiria em um simples ato de vontade ou mandamento de
um soberano detentor da força. Afinal, como distinguir este conceito de Direito
de uma mera ordem de um criminoso seguida de ameaça?

Para Hart, o Direito não consiste apenas em regras que impõem obrigações,
mas, também, em regras antecedentes que conferem validade normativa às
primeiras. Assim, a estrutura do Direito não está amparada meramente na
autoridade. Ela pressupõe a noção de justificação. O fundamento do Direito,
nesse sentido, será encontrado em uma regra do segundo tipo, a qual é
compartilhada intersubjetivamente. O seu desenvolvimento não se dá de forma
pontual ou voluntária, sendo o resultado da interação social e linguística em
um sentido muito próximo ao explorado por Wittgenstein a respeito dos jogos
de linguagem.

Todavia, quando compreendemos o sentido atribuído por Hart à regra de


reconhecimento, percebemos que a mesma não possui uma regra que a
anteceda normativamente, carecendo, assim, de justificação. Nesse sentido, o
Direito, para Hart, não deixa de ter um fundamento meramente convencional,
ainda que este seja distinto da mera vontade ou intenção soberana relacionada
a teses positivistas como a de Hobbes ou Austin, acima mencionados.
Dworkin, por sua vez, explora o caráter intencional e intersubjetivo da
linguagem proposto por Wittgenstein em um sentido distinto de Hart. Para
Dworkin, diferentes jogos de linguagem atendem a distintos propósitos. Tais
propósitos, cujo conteúdo é simultaneamente descritivo e normativo e,
portanto, controverso, guiam as distintas concepções acerca do correto sentido
de determinada prática. O Direito, para o autor, atende a um propósito político
e as divergências teóricas acerca deste propósito estruturante resultam, por sua
vez, em divergências particulares acerca da correta interpretação de
dispositivos legais particulares e precedentes. Simultaneamente a esta
dimensão intencional da prática jurídica, Dworkin também reconhece a
dimensão intersubjetiva. Trata-se da dimensão de ajuste constante em sua tese
do romance em cadeia. Isto é: ao aplicar o Direito, os juízes devem levar em
consideração não apenas a melhor leitura política da instituição que
representam, mas, também, os limites de sentido impostos pelas decisões
pretéritas.

Observa-se, portanto, a latente diferença entre Hart e Dworkin no que tange a


influência da teoria de Wittgenstein. Postula-se, de acordo com os
ensinamentos da CHD, uma postura como a de Dworkin, que endossa
intencionalidade como forma de combate ao arbítrio. É necessário que
estejamos preocupados com o fortalecimento da linguagem pública como
limite para subjetivismos e, bem por isso, com o fortalecimento da democracia.

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Luã Jung é advogado, pós-doutorando em Direito Público na Unisinos, doutor e mestre em


Filosofia pela PUC-RS, com período de pesquisa (doutorado sanduíche) na Goethe-
Universität Frankfurt am Main, e membro do Dasein – Núcleo de Estudos Hermenêuticos.

Luísa Giuliani Bernsts é doutoranda e mestre em Direito Público pela Unisinos (RS), bolsista
Capes/Proex e membro do Dasein — Núcleo de Estudos Hermenêuticos.

Francisco Campis é mestrando em Direito Público pela Unisinos e membro do Dasein –


Núcleo de Estudos Hermenêuticos.
Revista Consultor Jurídico, 20 de novembro de 2021, 10h37

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COMENTÁRIOS DE LEITORES
2 comentários

TEXTO CONFUSO
Rejane G. Amarante (Advogado Autônomo - Criminal)
20 de novembro de 2021, 15h38

A conclusão foi péssima, a meu ver. Identificou o Direito com a jurisprudência


"coerente" e "íntegra" e ainda diz que isso fortalece a democracia. CREDO !
Então, além de o Direito ser o que os tribunais dizem que é, também a democracia é
o que os tribunais dizem que é ? Tornaram-se prepostos dos atuais ministros do STF
?
O principal é evitar a todo custo justamente o que os autores entendem por
"democracia". Ora, "linguagem pública" restrita aos órgãos jurisdicionais tornar-se-
á, rapidamente uma ditadura da toga.
Outro problema sério é não entender a necessidade de aplicar princípios, regras
também ao Poder Legislativo. De nada adianta zelar por coerência e integridade
(sendo até perigoso ou tolo) quando o Legislativo se aproveita dessa estabilidade e
racionalidade para fazer cumprir leis absurdas, injustas, tirânicas.
Cadê coerência e integridade nas mais de uma centena de emendas constitucionais
desde 1988 ?
Cadê a democracia se NENHUMA delas foi submetida a referendo popular ?
Quando um grupo político consegue aprovar uma substancial alteração legislativa só
na base do lobby, imediatamente começa a falar em segurança jurídica. Claro, não
interessa mudar o que tanto custaram para aprovar.
Tem que parar com esses pressupostos de que a Academia sempre é democrática,
civilizada, sofisticada. Não é o que está parecendo.
Até acho que Hart chegou mais perto da realidade, embora eu concorde com RAZ
no sentido de que a existência do Direito se prova por fatos sociais e não por
argumentos morais. Essa interpretação que os autores conferiram à aplicação da
teoria de Dworkin e ainda por cima o Lenio Streck é a receita da ditadura da toga
fantasiada de democracia.

EXCELENTE TEXTO
C. De Bona (Professor)
20 de novembro de 2021, 10h56

Excelente texto. Parabéns aos autores.

Comentários encerrados em 28/11/2021.


A seção de comentários de cada texto é encerrada 7 dias após a data da sua publicação.

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