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O SOLICITADORIA
3.º Ano
2021/2022
Escola Superior de
Comunicação, Administração e
Turismo
Parte II - O Registo Predial
- 1. A organização registral
- 3. Os atos de registo
- 5. Publicidade
1. A organização registral
1. Competencia territorial
O registo predial está a cargo das conservatórias do registo predial. Desde 1/1/2009
que os atos de registo predial podem ser efetuados em qualquer conservatória do
registo predial, independentemente da situação geográfica dos prédios (DL n.º 519-F2/79 de
29 de dezembro , art. 6.º A, n.º 2 - aboliu a competência territorial).
(margens de tolerância)
1. A organização registral
A. O objeto
Como decorre do art. 1.º CRPredial, “O registo predial destina-se, de acordo com o
previsto no art. 1.º do Código do Registo Predial, a dar publicidade à situação jurídica
dos prédios, com vista à segurança do comércio jurídico imobiliário.”
O registo predial é um registo de factos relativos a direitos e a ónus que incidem sobre
prédios.
2. O objeto e os efeitos do
registo
A. O objeto
O registo predial tem por objeto os prédios que se encontrem no domínio do direito
privado, i.e., os bens que pertencem ao domínio público estão fora do comércio
jurídico e não são objeto de registo.
Contudo podem ser ser registadas as concessões bens de domínio público, em casos
de hipoteca (art. 2º, n.º 1, al. v) CRPredial).
2. O objeto e os efeitos do
registo
A. O objeto
Mas o CRPredial não define o conceito de prédio para efeitos de registo o que nos
obriga a analisar o conceito da previsão do art. 204.º CC em confronto com o art. 2º do
CIMI
Artigo 204.º Código Civil
(Coisas imóveis)
1. São coisas imóveis:
a) Os prédios rústicos e urbanos;
b) As águas;
c) As árvores, os arbustos e os frutos naturais, enquanto estiverem ligados ao solo;
d) Os direitos inerentes aos imóveis mencionados nas alíneas anteriores;
e) As partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos.
2. Entende-se por prédio rústico uma parte delimitada do solo e as construções nele existentes que não tenham autonomia
económica, e por prédio urbano qualquer edifício incorporado no solo, com os terrenos que lhe sirvam de logradouro.
3. É parte integrante toda a coisa móvel ligada materialmente ao prédio com carácter de permanência.
2. O objeto e os efeitos do
registo
A. O objeto
Artigo 2º CIMI
(Conceito de prédio)
1 - Para efeitos do presente Código, prédio é toda a fracção de território, abrangendo as águas, plantações, edifícios e
construções de qualquer natureza nela incorporados ou assentes, com carácter de permanência, desde que faça parte do
património de uma pessoa singular ou colectiva e, em circunstâncias normais, tenha valor económico, bem como as
águas, plantações, edifícios ou construções, nas circunstâncias anteriores, dotados de autonomia económica em relação
ao terreno onde se encontrem implantados, embora situados numa fracção de território que constitua parte integrante de
um património diverso ou não tenha natureza patrimonial.
(…)
4 - Para efeitos deste imposto, cada fracção autónoma, no regime de propriedade horizontal, é havida como constituindo
um prédio.
2. O objeto e os efeitos do
registo
A. O objeto
Não havendo coincidência de conceitos o certo é que para efeitos de registo, o conceito
de prédio é similar ao conceito da lei fiscal, isto é, para efeitos de registo, prédio e
coisas imóveis são conceitos com idêntica abrangência (art. 3º, 4º e 5º do CIMI)
B. Os efeitos do registo
O art. 7.º do CRpredial estabelece uma presunção de verdade pela qual quem tem o registo
a seu favor não precisa de provar que o direito lhe pertence, o que significa que o ónus da
prova cabe a quem pretender demonstrar uma realidade diferente da que consta no registo.
Consequentemente a impugnação judicial de factos registados faz presumir o pedido de
cancelamento do registo.
2. O objeto e os efeitos do
registo
B. Os efeitos do registo
Nos termos do disposto no art 4º CRPredial os factos sujeitos a registo, ainda que não
registados, podem ser invocados entre as próprias partes ou seus herdeiros,
porquanto o registo é, por principio, meramente declarativo, salvo no caso da hipoteca,
em que é constitutivo.
2. O objeto e os efeitos do
registo
B. Os efeitos do registo
Conceito restrito: são aqueles que do mesmo autor ou transmitente recebem sobre o
mesmo objeto direitos total ou parcialmente incompatíveis;
Conceito amplo: são aqueles que têm a seu favor um direito que não pode ser
afetado pela produção dos efeitos de um ato que não foi levado ao registo e que é
incompatível com aquele direito.
2. O objeto e os efeitos do
registo
B. Os efeitos do registo
Nas palavras de Seabra Lopes “Terceiros para efeitos de registo predial são os
titulares de direitos incompatíveis (conceito amplo) provindos do mesmo transigente
(conceito restrito)”.
Ex (Seabra Lopes):
B. Os efeitos do registo
B. Os efeitos do registo
O cancelamento é feito por averbamento à respetiva inscrição ( art. 101, n.º 2, al. g))
O cancelamento é feito:
- a pedido dos interessados
- oficiosamente (art. 98.º, n.º 3; 101.º n.º 4 e n.º 5, 97.º n.º 1)
2. O objeto e os efeitos do
registo
O registo juridicamente inexistente não produz quaisquer efeitos, podendo a inexistência ser
invocada por qualquer pessoa, a todo o tempo, independentemente de declaração judicial (15.º).
Se for emitida certidão do registo sem assinatura deve ser feita referencia desse vício (art. 112.º n.º
1, al. c)
2. O objeto e os efeitos do
registo
D. Vícios do registo
a) Quando for falso ou tiver sido lavrado com base em títulos falsos;
b) Quando tiver sido lavrado com base em títulos insuficientes para a prova legal do facto registado;
c) Quando enfermar de omissões ou inexatidões de que resulte incerteza acerca dos sujeitos ou do objeto da
d) Quando tiver sido efetuado por serviço de registo incompetente ou assinado por pessoa sem competência,
salvo o disposto non.º 2 do artigo 369º do Código Civil e não for confirmado nos termos do artigo 16º-A;
e) Quando tiver sido lavrado sem apresentação prévia ou com violação do princípio do trato sucessivo.
2. O objeto e os efeitos do
registo
D. Vícios do registo
A. Quando tiver havido violação do trato sucessivo pode o registo ser ratificado pela feitura
do registo em falta, caso não esteja registada a ação de declaração de nulidade ( art. 121.º,
n.º 4)
C. Se o registo é nulo por ter sido assinado por pessoa sem competência, pode ser
confirmado após tramitação do art. 78.º, n.º 2 e 3 (art. 16.º A)
2. O objeto e os efeitos do
registo
D. Vícios do registo
- Em certos casos o registo nulo pode produzir efeitos (a nulidade do registo não prejudica os
direitos adquiridos por terceiro de boa fé se o registo dos correspondentes factos for anterior
ao registo de ação de nulidade - art 17.º n.º 2 ).
N. B. A nulidade do registo não se confunde com a nulidade do facto, que leva à recusa -
art. 69.º n.º 1, d)
2. O objeto e os efeitos do
registo
D. Vícios do registo
O registo é inexato:
a) quando se mostre lavrado em desconformidade com o título que lhe serviu de base
b) enfermar de deficiências provenientes desse título que não sejam causa de nulidade
- Art. 18.º.
D. Vícios do registo
Por exemplo:
- o registo da totalidade de um prédio quando deveria ser registada apenas uma quota
parte.
3. Os atos de registo
- prazo e ordem dos registos - os registos são lavrados, em relação cada ficha, no prazo de 10 dias e pela
ordem de anotação no diário, salvo nos casos de urgência. Em caso de urgência o registo deve ser efetuado no
prazo máximo de um dia, sem subordinação à ordem de anotação no diário, mas sem prejuízo da ordem a
respeitar em cada ficha. Deve ser sempre respeitada a ordem dos registos em relação cada ficha, mesmo
relativamente processos a que deve ser aplicado o mecanismo do suprimento de deficiências (art. 75.º CRPredial).
- data e assinatura - a data dos registos é a da apresentação dos documentos no Diário, ou,
se desta não dependerem, a data em que forem efetuados. Esta regra é determinante pois
obedece ao princípio da prioridade (art. 6º CRPredial), ou seja os documentos são anotados no
Diário pela ordem de entrega dos pedidos.
Os registos são assinados com menção da respetiva qualidade (conservador ou pelo seu
substituto legal, quando em exercício, ou, ainda, pelo oficial de registos quando competente)
(art. 77.º CRPredial).
- suprimento da falta de assinatura - os registos que não tiverem sido assinados devem
ser conferidos pelos respetivos documentos para se verificar se podiam ou não ser efetuados.
Se se concluir que podia ser efetuado, o registo é assinado e é feita a anotação do suprimento
da irregularidade com menção da data ou, caso contrário, é consignado, sob a mesma forma,
que a falta é insuprível e notificado do facto o respetivo titular para efeitos de impugnação (art.
78.º CRPredial). Se a assinatura for insuprível o registo é inexistente (art. 14º, al. b) CRPredial)
3. Os atos de registo
- Descrições - A descrição tem por fim a identificação física, económica e fiscal dos
prédios e a cada prédio corresponde uma descrição distinta (principio da
especialidade). A partir da descrição é que são lançadas as inscrições ou as
correspondentes cotas de referência (art. 79º CRPredial). Sobre as descrições é que
recaem as inscrições, ou seja sobre o prédio descrito é que vão inscrever-se direitos e
ónus.
- a) Abertura - (art. 80º CRPredial) As descrições são feitas na dependência de
uma inscrição ou de um averbamento. Também podem ser feitas na dependência de
uma anotação e em caso de desanexação.
3. Os atos de registo
c) Menções gerais das descrições - (art. 82º CRPredial) o extrato da descrição deve conter:
- i) Averbamentos à descrição - (art. 88º e 89º CRPredial) - os elementos das descrições podem
ser alterados, completados ou retificados por averbamento, com salvaguarda dos direitos de quem neles
não teve intervenção, desde que definidos em inscrições anteriores.
- j) Atualização oficiosa das descrições (art. 90º CRPredial) - os elementos das descrições
devem ser oficiosamente atualizados nos termos do disposto no art. 90º
- l) Anotações especiais (art. 90º A CRPredial) - com vista a evitar a incerteza jurídica emergente da
duplicação de descrições, quando se reconheça a duplicação de descrições, reproduzir-se-ão na ficha de
uma delas os registos em vigor nas restantes fichas, cujas descrições se consideram inutilizadas. Nas
descrições inutilizadas e na subsistente far-se-ão as respetivas anotações com remissões recíprocas.
3. Os atos de registo
- Inscrições - visam definir a situação jurídica dos prédios mediante extrato dos
factos a eles referentes. Trata-se da figura tabular destinada a dar publicidade aos
direitos registáveis (art. 91ºCRPredial).
As inscrições podem ser definitivas ou provisórias.
a) Requisitos gerais da inscrição - na inscrição são indicados os sujeitos e os factos definidos, nos
termos do art. 93º CRPredial. Especial relevância tem o n.º 3 quanto à possibilidade de inscrição de
sujeitos que não puderem ser identificados pela forma ali prevista, caso em que devem ser mencionadas
as circunstâncias que permitam determinar a sua identidade (vide art. 2033 CC).
“Conclusão III - Na inscrição do legado a favor de pessoas ainda não determinadas, em vez da menção
pessoal e concreta dos sujeitos activos do facto, é indispensável mas suficiente a indicação da forma da
sua determinabilidade”
3. Os atos de registo
b) Convenções e cláusulas acessórias - (art. 94º CRPredial) - se o negócio jurídico tiver sido celebrado
com determinadas convenções ou clausulas acessórias o extrato da inscrição deve mencioná-las.
AVERBAMENTOS À INSCRIÇÃO
- art. 100.º CRPredial - a inscrição pode ser completada, atualizada ou
restringida por averbamento. As modificações operadas pelo averbamento têm
efeitos ex nunc.
Se o facto amplia o objeto ou os direitos e os ónus definidos na inscrição, só
poderá ser registado mediante nova inscrição, mas se restringir pode ser feito por
averbamento.
AVERBAMENTOS ESPECIAIS
art. 101.º CRPredial
a) mandatário com procuração com poderes para o ato, mas não carecem de
procuração os que tenham poderes para intervir no respetivo título
b) advogados, solicitadores, notários
4. O pedido e o processo de
registo
B. Pedido de registo
Modalidades do pedido
C. Documentos
a) Art. 43.º - só podem ser registados os factos legalmente comprovados por documentos, i.e. não é apenas a lei
registral que estabelece os documentos bastantes para a feitura do registo mas também a lei civil, processual,
administrativa e outras. Do conjunto do ordenamento jurídico é que se vai encontrar as disposições aplicáveis a cada
processo registral;
b) Documentos com função complementar como é o caso da comprovação do cumprimento das obrigações fiscais
( art. 50.º CIMT);
Complementares (destinam-se a complementar a identificação dos sujeitos / à menção dos elementos que integram
a descrição)
4. O pedido e o processo de
registo
- aquisição e hipoteca antes de lavrado o contrato (art.47.º) - permite o registo provisório de aquisição e de
hipoteca voluntária antes de titulado o negócio. Tem a vantagem de salvaguardar a prioridade do registo (art. 6.º
n.º 3) e de os direitos ainda que inscritos provisoriamente serem oponíveis a terceiros;
- aquisição por venda em processo judicial (art. 48.ºA) - o registo é feito com base na comunicação
eletrónica do AE;
- aquisição em comunhão hereditária (art. 49.º) - o registo é feito com base no doc. comprovativo da
habilitação de herdeiros e declaração que identifique os bens a registar
4. O pedido e o processo de
registo
- hipoteca legal e judicial (art.50.º) - o registo é feito com base na certidão do título;
- afetação de imóveis (art. 51.º) - o registo é feito com base na declaração do proprietário ou
possuidor inscrito ( p.ex: para garantir o pagamento de indemnização a trabalhadores, resultante de
acidente de trabalho - 95.º n.º 2)
- renúncia à indemnização (art. 52.º) - o registo é feito com base na certidão emitida pela entidade
expropriaste contendo a declaração do proprietário ( ónus real que permite à entidade expropriaste
não ter que e pagar uma indemnização superior à que o prédio teria sem as benfeitorias);
- ações e procedimentos cautelares (art. 53.º) - certidão de teor do articulado com prova de que
entrou em juízo ou comunicação do tribunal com cópia do articulado (…)
- decisões judiciais (art. 53.º -A ) - o registo é feito com base em certidão da decisão ou
comunicação do tribunal com cópia da decisão;
4. O pedido e o processo de
registo
- prédios não descritos (art. 59.º B) - deverá ser confirmado pelo serviço do registo
da área da sua situação
4. O pedido e o processo de
registo
D. Apresentação
A anotação da apresentação deve ser feita por cada facto e pode ser feita por :
- os docs. apresentados;
- os registos anteriores;
- a identidade do prédio;
Recusa do registo apenas nos casos taxativos do n.º 1 do art. 69.º e ainda nos termos do n.º
A recusa deve ser anotada na ficha (em cumprimento do principio da prioridade - art 6.º n.º
4).
O art. 70.º é uma norma genérica que abrange qualquer irregularidade (ao nível
do doc. que titula o ato ou ao nível dos docs. com função acessória), que não é
grave o bastante para justificar a recusa.
4. O pedido e o processo de
registo
E. Qualificação do registo
A. Publicidade do registo
A publicidade respeita aos prédios e não aos seus titulares por isso a
conservatória não pode fornecer informações apenas com base no nome das
pessoas
5. Publicidade
B. Proteção de dados
B. Proteção de dados
Não é possível dar informações sobre prédios com base em dados pessoais,
exceto no caso da autorização de consulta das bases de dados das
conservatórias para descoberta de bens por parte de agente de execução, em
processo de execução (art. 748.º n.º 1 CPC).
5. Publicidade
C. Prova do registo
O registo prova-se por meio de certidões (art. 110.º), que têm a validade de 6
meses, podendo ser revalidadas. As certidões podem ser disponibilizadas em
suporte eletrónico (Portaria 1513/2008 de 23 de dezembro). O acesso à certidão
permanente pode fazer-se em www.predialonline.mj.pt através de um código
emitido após o pagamento (serviço que é gratuito por 3 meses aquando do
processo e registo).
C. Prova do registo
O pedido e certidão pode ser verbal ou escrito, neste caso através do modelo
próprio (art. 41.º B e 111.º).
A certidão deve conter os elementos da previsão do art. 112.º, e deve ser emitida
imediatamente após o recibo ( salvo a certidão negativa cujo prazo é de 1 dia útil)
(art. 113.º)
Em caso de recusa de emissão de certidão o interessado pode impugnar, no
prazo e 30 dias, pela via hierárquica e pela via judicial ( art. 147.º C)
5. Publicidade
C. Prova do registo
Custo das certidões (Portaria 622/2008, de 18 de julho, atualizada)
Artigo 2.º
Certidões, fotocópias, informações e certificados de registo predial
8 — O montante devido pelo pedido de certidões e fotocópias, nos termos dos números anteriores, é restituído no
caso da recusa da sua emissão.