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1 – INTRODUÇÃO (09.10.

2020) 6

Conceito de Obrigação 6

Dever Jurídico 7

Ónus Jurídico 7

Características das obrigações 7

Obrigações autónomas (1411) ou não autónomas (2265): 7

Relações obrigacionais simples e relações obrigacionais complexas: 8

Princípio da liberdade ou da autonomia privada 8

Disponibilidade 8

Elementos constitutivos da relação creditória 8

1. Sujeitos 8

2. Objeto 10

Principais modalidades da prestação (16.10.2020) 10

Prestação instantânea e prestação duradoura 11

Prestação fungível e prestação infungível 11

Facto jurídico ou vínculo jurídico 12

Meios de conservação da garantia patrimonial 14

Garantias especiais das obrigações 14

Garantias pessoais: 14

Garantias reais: 14

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2 – FONTES DAS OBRIGAÇÕES (20.10.2020) 15

Contratos 15

Liberdade de contratar e limitações à mesma 17

Fixação do conteúdo dos contratos 18

Cláusulas contratuais gerais DL 446/85 de 25 de Outubro (26.10.2020) 19

Cláusulas contratuais gerais (Dec-Lei 446/85 25 Outubro) 19

Vantagens dos contratos de adesão: 19

Desvantagens 19

Contratos com eficácia real 20

Cláusula de reserva de propriedade 20

Responsabilidade pré contratual, culpa in contrahendo 20

Classificação dos contratos 21

Os contratos típicos ou nominados 21

Os contratos atípicos ou inominados 21

Contratos Mistos 21

Contratos gratuitos e contratos onerosos 21

Contratos bilaterais e unilaterais: 21

Exceção de não cumprimento (ART. 428 CC) 22

Condição resolutiva tácita 23

Contratos a favor de terceiros 23

Contrato para pessoa a nomear ART. 452 CC 23

Efeitos do contrato 24

Resolução dos contratos (06.11.202) 24

Fundamento de resolução do contrato 25

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Fundamento da resolução dos contratos nos termos dos ART. 437 a 439: alteração substancial
das circunstâncias. 26

Sanção pecuniária compulsória 26

Eficácia externa das obrigações 26

Promessa 27

Promessa unilateral 27

Sinal 28

Transmissões dos direitos e obrigações dos promitentes 30

Não cumprimento do contrato promessa 30

Sinal 31

Execução especifica 31

Violação do contrato promessa 32

Pacto de Preferência (20.11.2020) 32

Ação de Preferência ART. 1410 33

Contratos Tipificados (ART. 874) 34

Negócios Unilaterais 36

Gestão de Negócios (27.11.2020) 36

Deveres do gestor 37

Deveres do dono do negócio 37

Enriquecimento sem causa 39

Análise dos requisitos do enriquecimento sem causa: 39

Carácter subsidiário da obrigação de restituir 40

Objeto da obrigação de restituir: 40

Prescrição do direito à restituição 41

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Responsabilidade Civil (04.12.2020) 41

Responsabilidade por factos ilícitos ART. 483/1 CC 42

1 – Facto voluntário do lesante que pode ser uma ação ou uma omissão 42

2 – Ilicitude 42

2.1 – Abuso de direito 43

2.2 – Causas justificativas do facto ou causas da exclusão da ilicitude 43

2.3 – Ação direta (11.12.2020) 44

2.4 – Legitima defesa 44

2.5 – Estado de necessidade 45

3 – Culpa 45

3.1 – Imputabilidade 45

3.2 – Modalidades da culpa 46

3.3 – Negligência 47

3.4 – Causa de exclusão da culpa 47

3.5 – Presunção de culpa 47

4 – Dano 47

5 – Nexo causalidade entre o facto e o dano 48

Responsabilidade extracontratual pelo risco ou objetiva 49

Caracter objetivo da responsabilidade 49

Responsabilidade do estado e pessoas coletivas 50

Responsabilidade por factos lícitos 50

Cumprimento das Obrigações 51

Garantias Geral das Obrigações 52

Requisitos dos cumprimentos das Obrigações 53

Quem pode cumprir ou quem tem legitimidade para o cumprimento 54

Lugar de Cumprimento (ART. 772 CC) 54

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Não Cumprimento das Obrigações 55

Requisitos do cumprimento art. 764 (08.01.2021) 55

Quem pode cumprir ou quem tem legitimidade para o cumprimento 55

Casos em que o terceiro, que não é devedor, cumpre a obrigação 56

Lugar do cumprimento art. 772 56

Não cumprimento das obrigações 56

Modalidades de não cumprimento quanto à causa 57

Modalidade do não cumprimento quanto ao efeito 58

Incumprimento imputável ao devedor 58

Principais diferenças no regime da responsabilidade civil contratual e extra


contratual 59

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1 – Introdução (09.10.2020)
− Conceito de Obrigação;
− Função da Obrigação;
− Estrutura da Obrigação;

(objeto = relação de crédito)

Conceito de Obrigação
O termo obrigação (em alemão Shulrecht), tem uma acessão ao nível do direito objetivo na
medida em que regula os direitos de crédito. Trata-se assim de uma parte do direito privado que
trata das relações de crédito. Por outro lado, temos como relação de crédito a relação jurídica
mediante a qual, uma pessoa (o credor) está legitimada a exigir de outra pessoa (o devedor)
uma determinada prestação. Por outro lado, o direito das obrigações é a disciplina jurídica que
de forma sistemática e enquanto ciência, dispõe sobre as normas reguladoras das relações de
crédito (noção de obrigações – ART. 397 CC).

1. No direito das obrigações nós temos o que são direitos relativos, ou seja, entre as partes,
partes essas que são o credor e o devedor.
No direito real, são direitos absolutos, ou seja, que se impõem a toda a gente (obrigação
passiva universal).

2. No direito das obrigações nós temos que, o credor tem o direito à prestação (ART. 397),
por sua vez nos direitos reais o titular tem direito sobre uma coisa.

3. No direito das obrigações temos o princípio da atipicidade e nos direitos reais vigora o
princípio da tipicidade (ART. 405).

4. Nos direitos reais, temos ainda o direito de preferência e também o direito de sequela
(o credor com hipoteca registada (pode ir buscar o bem onde e com quem ele estiver).

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Conforme referido, nos direitos reais há um direito de sequela, querendo este direito significar
que o credor poderá agir sobre um determinado bem, mesmo que esse bem não esteja na esfera
jurídica do devedor. O caso típico de sequela prende-se com a hipoteca. Ex: se Ana vender um
imóvel ao Bernardo e se o Bernardo constituir uma hipoteca a favor da Caixa Agrícola e se
posteriormente o imóvel for vendido com hipoteca registada à Diana e se a Diana a vender à
Esmeralda, caso exista uma dívida à Caixa Agrícola, esta poderá executar e retirar o bem à
Diana/Esmeralda. O direito de sequela é assim um direito que permite o credor hipotecário,
buscar o bem onde quer que esteja.

Dever Jurídico
Consiste no facto de uma pessoa ser obrigada a suportar na sua esfera jurídica a modificação da
mesma, fruto do exercício do poder conferido à outra pessoa.

Ónus Jurídico
Consiste na observância de um comportamento ou da manutenção de uma vantagem para o
próprio onerado.

Características das obrigações


Obrigações autónomas (1411) ou não autónomas (2265):
− As obrigações autónomas são aquelas que se constituem direta e originariamente entre
dois sujeitos jurídicos, sem que entre estes pré-exista qualquer outra relação jurídica
conexa com a obrigação, ex: compra e venda no supermercado.

− As obrigações não autónomas, são aquelas que surgem a partir de uma relação jurídica
anterior entre os sujeitos e em função dela, por exemplo: Pensão de alimentos.
Nos termos do ART. 1141, existem obrigações cuja cessação ocorre fruto da caducidade
operada pela morte, nomeadamente a nível do comodato.

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Relações obrigacionais simples e relações obrigacionais complexas:
− A relação jurídica é simples quando compreende o direito subjetivo atribuído a uma
pessoa e o dever jurídico ou estado de sujeição sobre a outra pessoa.

− Por sua vez, a relação jurídica é complexa quando estamos perante um conjunto de
direitos e deveres ou estados de sujeição nascidos do mesmo facto jurídico.

Princípio da liberdade ou da autonomia privada


Onde emerge que as disposições impeditivas têm um carácter excecional. O ART. 398 estabelece
uma posição negativa quanto à patrimonialidade das obrigações, ou seja, não podem constituir
obrigações nem vinculações a comportamentos a que não correspondam um interesse
creditório.

Disponibilidade
É uma caraterística tendencial, no entanto há situações em que não se pode renunciar aos
direitos, por exemplo no caso de prestações de alimentos.

Elementos constitutivos da relação creditória


São três os elementos constitutivos:

1. Sujeitos;
2. Objeto;
3. Vínculo;

1. Sujeitos
Conforme referido temos o credor de um lado e o devedor do outro lado. O credor é a pessoa a
quem se proporciona a vantagem resultante da prestação, ou seja, é o titular do interesse que
o dever de prestar visa satisfazer. Para se ter um interesse protegido, temos que, o credor é
portador de uma necessidade que visa satisfazer por conta de “coisas” pertencentes ao devedor
e o credor quer satisfazer a sua necessidade por conta dos bens do dito devedor. Por sua vez, o

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devedor é a pessoa sobre a qual recai o dever específico de efetuar a prestação. A lei prevê, no
entanto, situações excecionais em que a prestação pode ser feita a terceiros ART. 770. Ainda
quanto aos sujeitos, temos situações de obrigações plurais, neste caso conjunção ou
solidariedade.

Se tivermos vários devedores conjuntos, isto significa que o credor para exigir o cumprimento
integral da obrigação, tem que exigir a cada um e todos os co-devedores a quota que lhe cabe
na obrigação comum. Ex: se o António é credor de Bernardo e Cláudio da quantia de 1000€, se
obrigação dos devedores for conjunta, o António só poderá exigira de Bernardo o pagamento de
500€ e de Cláudio o pagamento dos outros 500€.

Se a obrigação for solidária, o credor pode exigir de qualquer dos devedores o cumprimento
integral da obrigação, ou seja, qualquer um dos devedores está obrigado ao cumprimento da
totalidade das prestações, tendo, no entanto, direito de regresso contra os seus devedores
quanto à quota que corresponde a cada um. Ex: Se António é credor da quantia de 1000€ a
Bernardo e Cláudio, este como devedores são responsáveis pelo pagamento integral da dívida,
ou seja, se Bernardo pagar os 1000€ a António a dívida fica saldada, sendo que Bernardo fica
com um direito de regresso da quantia de 500€ face a Cláudio.

No âmbito do direito civil o regime da obrigação plural é o da conjunção, salvo se a lei ou


eventual convenção entre as partes, estabelecem o regime da solidariedade. Por sua vez, se se
tratar de uma obrigação comercial, a regra é o regime de solidariedade.

Se estivermos perante uma pluralidade ativa, ou seja, a existência de vários credores:

− Se for uma solidariedade ativa, isso significa que qualquer um dos credores pode
sozinho, extinguir do devedor a titularidade da dívida, sendo que tem a obrigação do
pagar aos outros credores a parte que lhes cabe no crédito comum. Ex: O António
assinou uma confissão de dívida mediante a qual diz que deve 1500€ a Bernardo, Cláudio
e Dário, mas se ele pagar os 1500€ a Bernardo a dívida extingue-se por pagamento,
sendo que que o Bernardo tem a obrigação de entregar 500€ a Cláudio e 500€ a Dário.

− Se a obrigação plural do lado ativo for conjunta, cada um dos credores tem o direito a
exigir do devedor comum a parte que lhe cabe no crédito comum. Ex: Se António na
confissão de dívida de 1500€ disser que deve 500€ a Bernardo, 500€ a Cláudio e 500€ a
Dário, estes credores só poderão exigir a sua quota parte. Ex: Bernardo só pode exigir a
António o pagamento de 500€ e não o pagamento do valor total de 1500€.

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2. Objeto
A prestação que é devida ao credor é que é o meio de satisfazer o interesse do credor, que lhe
proporciona a vantagem a que ele tem direito. A prestação consiste em regra numa ação do
devedor, podendo, no entanto, também consistir numa abstenção, permissão ou omissão.

O dever geral de abstenção é típico dos direitos reais, enquanto que no direito das obrigações
temos o dever jurídico de prestar. A prestação tem de obedecer dos ART. 280 para que o negócio
do qual emerge a obrigação, seja válido.

O ART. 280 obriga a 3 pressupostos:

− O objeto tem de ser determinável;


− Tem de haver uma possibilidade física e legal;
− Tem que ser lícito;

(ART. 790) A obrigação só é inválida quando for objetivamente impossível originariamente. Há


casos, no entanto em que se constitui uma obrigação e no momento da sua constituição é
possível a sua prestação, mas posteriormente algo acontece que vem impossibilitar o
cumprimento da referida obrigação.

Neste caso a obrigação é válida, mas tem um outro regime, que é o da impossibilidade
superveniente, previsto no ART. 790 e seg CC. Neste caso podemos ter uma impossibilidade
superveniente não culposa em que o devedor é culpado pelo facto de a obrigação se ter tornado
impossível.

Principais modalidades da prestação (16.10.2020)


Podemos ter uma prestação de facto ou uma prestação de coisa, sendo que nestes casos o
objeto esgota-se nesse próprio facto e coisa que são objetos mediatos da obrigação. Temos
também factos em que poderão estar em causa e ter como objeto coisa futura, nos termos do
ART. 397 e 211 CC.

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Expressão Coisa futura – tem uma dupla vertente podendo abranger uma coisa que existe, mas
ainda não está na disposição do sujeito como também abrange a coisa que ainda não existe, por
exemplo: quando falamos de frutos. Caso a coisa futura não chegue a existir ou venha a existir
em quantidade inferior à prevista por causa não imputável ao devedor a obrigação extingue-se
total ou parcialmente conforme as situações ficando o credor desonerado de toda a
contraprestação ou de parte dela.

Ex: se António convencionar com Bernardo que lhe irá vender uma tonelada de maçãs sendo
também convencionado o pagamento de 1000 euros a título de valor pela tonelada de maçãs,
se António apenas colher meia tonelada, Bernardo também irá reduzir proporcionalmente o
valor da sua contraprestação. A qual será neste caso de 500 euros. Confrontar ART. 793/1 CC.

Ex: Se porventura o António não colher nenhuma maçã o Bernardo nada terá que lhe pagar,
confrontar ART. 795/1 CC. Nada impede, no entanto, que as partes convencionem que o risco da
prestação que não chega a existir será suportado pelo credor ART. 800/2.

Prestação instantânea e prestação duradoura


É instantânea a prestação em que o comportamento exigível do devedor se esgota num só
momento, por exemplo, um contrato de compra e venda. A prestação é duradoura quando a
mesma se protela no tempo, exemplo, o pagamento em prestações.

Prestação fungível e prestação infungível


A prestação é fungível quando pode ser realizada por pessoas diferentes do devedor. Ex: o
António ia reparar a máquina de lavar de Bernardo mas devido a compromissos inadiáveis não
o pode fazer e pediu ao seu colega Custódio para que o mesmo realiza-se a referida reparação,
o que este fez tendo o credor ficado satisfeito.

As prestações serão infungíveis quando o credor tem interesse não só no objeto da obrigação,
mas também nas características e qualidades pessoais do devedor. Ex: António quer ser atendido
pelo conceituado Dr. Bernardo Silva médico especialista em pedopsiquiatria. Caso o Dr. Bernardo
esteja impossibilitado de o atender no dia agendado e como o António quer ser atendido por
aquele concreto médico e não por nenhum colega seu, estamos perante uma prestação
infungível porque a referida substituição não é possível.

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Facto jurídico ou vínculo jurídico
É o vínculo que a ordem jurídica estabelece entre o credor e o devedor. Na relação obrigacional,
há essencialmente um direito subjetivo relativo e que constitui assim um direito de crédito e
por outro lado temos uma posição jurídica passiva, ou seja, uma obrigação. O direito do credor
é assim o direito de obter a satisfação de uma prestação de forma voluntária ou coerciva ART.
817 CC.

O credor tem o direito à prestação e caso o devedor não cumpra a obrigação de forma
espontânea, o credor pode lançar mão de uma ação de cumprimento à qual poderá ser
declarativa ou executiva.

A ação executiva é o meio comum de obter coercivamente a satisfação do direito do credor, no


entanto, a lei prevê ainda outras formas do credor agir, nomeadamente através da ação direta
ART. 336 CC.

Uma vez determinado concretamente o objeto da prestação verifica-se que o mesmo poderá
consistir num bem/coisa facto ou ato.

O vínculo existente entre os sujeitos da relação é composto por três elementos:

1. Direito à prestação;
2. Dever correlativo de prestar;
3. A garantia;

Quanto ao direito à prestação o mesmo respeita ao poder que o credor tem de exigir a
prestação do devedor.

Quanto ao dever de prestar o mesmo respeita à necessidade imposta ao devedor de realizar a


prestação sob a cominação das sanções aplicáveis ao incumprimento/inadimplência.

Quanto à garantia a mesma é tutelada pela lei à qual não se limita a impor um dever de prestar
ao obrigado e a atribuir ao credor o direito à prestação, mas também assegura a realização
coativa da prestação sem prejuízo de em certos casos competir ao credor resolver o contrato ou
recusar de forma legitima o cumprimento da obrigação que recaía sobre ele até que o devedor
se digne a cumprir (por exemplo no caso da exceção de não cumprimento).

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É habitual nos casos de reparações não finalizados ou até mal executadas o credor informar o
devedor que não irá liquidar o preço enquanto o mesmo não de dignar concluir a reparação de
forma eficiente e sem vícios. A garantia é, do lado do devedor, o património que responde pelo
cumprimento da obrigação. A garantia geral das obrigações é assim o património do devedor,
no entanto nem todos os bens são penhoráveis. Há bens que são totalmente penhoráveis ART.
822 e 823 CC.

No que respeita aos mesmos verifica-se que estes respondam total e absolutamente pelo
pagamento a dívida. Há também bens que são relativamente penhoráveis, estando sujeitos a
determinadas limitações. Há bens que são parcialmente penhoráveis. Havendo igualmente
bens que são absolutamente impenhoráveis.

Quanto aos bens absolutamente impenhoráveis temos, por exemplo, os seguintes: utensílios
de culto público, sendo que neste caso devem ser objetos especialmente destinados ao exercício
de culto público, os túmulos, os animais de companhia. Os bens cuja apreensão seja ofensiva
dos bons costumes ou careça de justificação económica pelo seu diminuto valor venal, os bens
pertencentes ao estado e integrantes do domínio público do estado.

No que respeita aos bens relativamente impenhoráveis a lei é clara quando diz que quanto à
isenção da penhora dos instrumentos de trabalho e dos objetos indispensáveis ao exercício da
atividade do executado.

No que respeita aos bens parcialmente penhoráveis a lei estabelece que são impenhoráveis
dois terços da parte líquida dos vencimentos, salários, prestações periódicas pagas a título de
aposentação ou qualquer outra regalia social, seguros, indeminizações, rendas vitalícias ou
quaisquer prestações que tenham como natureza assegurar a subsistência do executado.

É impenhorável o valor respeitante a um salário mínimo nacional quando o executado não


tenha outro rendimento. A impenhorabilidade tem como limite máximo o montante
equivalente a três salários mínimos nacionais ART. 735 a 739 CPC.

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Meios de conservação da garantia patrimonial
Temos vários meios de conservação patrimonial:

− impugnação pauliana conforme ART. 610 e seg CC;


− arresto ART. 619 CC;
− Declaração de nulidade/legitimidade dos credores ART. 605 CC;
− Sub-rogação do credor ao devedor ART. 606 CC;

Garantias especiais das obrigações


Garantias pessoais:
− fiança ART. 627 CC;
− subfiança ART. 630 CC;
− mandato de crédito ART. 629 CC;

Garantias reais:
− consignação de rendimentos ART. 656 CC;
− penhor art 666 CC;
− hipoteca art 686 CC;
− privilégios creditórios art 733 e 736;
− direito de retenção art 754 CC.

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2 – Fontes das obrigações (20.10.2020)
São fontes das obrigações, os factos jurídicos de onde nascem os vínculos obrigacionais, por
exemplo: se António celebra um contrato de compra e venda com Bernardo temos que deste
contrato emerge a obrigação de um deles entregar a coisa vendida e do outro pagar o devido
preço (ART. 879 CC).

Atualmente são fontes das obrigações:

1. Os contratos ART. 405 CC vigorando o princípio da liberdade contratual;

2. Negócios jurídicos unilaterais ART. 457 a 459 CC (ex: dar uma recompensa a quem
encontrar um animal que se perdeu);

3. Gestão de negócios ART. 464 CC;

4. Enriquecimento sem causa ART. 473 CC no enriquecimento sem causa verificamos que
há um empobrecimento de um dos sujeitos, enriquecimento de outros sujeitos e a
ausência de causa justificativa. Ex: se António colocar 30.000 euros numa conta do filho,
ficando como autorizado na referida conta e se o filho o retirar de autorizado impedindo
o acesso à conta que tem o seu dinheiro, temos que o filho enriqueceu, o pai
empobreceu e que terminou (há uma ausência) a causa justificativa, porque o pai deixou
de ter acesso à referida conta e ao seu dinheiro.

5. Responsabilidade Civil ART. 483 CC;

Contratos
O contrato é o acordo vinculativo assente sobre duas ou mais declarações de vontade que são
contrapostas, mas perfeitamente harmonizáveis entre si e que visam estabelecer uma
composição unitária de interesses. Apesar de o CC estabelecer que o contrato constitui
obrigações com prestações de caráter não patrimonial o certo é que existem figuras que são
apelidadas de contrato e que tem um foro pessoal.

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Quanto à questão do caráter não patrimonial temos o ART. 398/2 CC. Temos também relações
mortis causa nomeadamente o pacto sucessório ex: ART. 1701 CC. O contrato hoje não é apenas
uma fonte das obrigações, mas também de direitos reais, familiares e sucessórios. O contrato
implica um acordo de vontade sendo que existem situações em que a vontade está viciada
nomeadamente por erro. Se a resposta do destinatário a uma proposta contratual não for de
pura aceitação tal deverá ser considerado como rejeição da proposta recebida ou como
formulação de nova proposta até se alcançar o pleno acordo dos contraentes ART. 223 CC.

Vigorando entre nós o princípio da liberdade contratual previsto no ART. 405 CC fica em
consignar que as partes são livre de celebrar ou não celebrar o contrato que quiserem, no
entanto temos duas vertentes a essa liberdade contratual: liberdade de estipulação e de
celebração, no entanto temos situações como por exemplo a nível bancário em que a entidade
bancária é a única que tem liberdade e estipulação.

No que respeita contratual ou negocial a mesma é o reflexo do princípio da autonomia privada


estando, no entanto sujeita aos limites do ART. 280 e seg do CC. Em virtude deste princípio
ninguém pode ser compelido à realização de um contrato, havendo, no entanto, algumas
exceções a esta regra.

O princípio da liberdade contratual desdobra-se em vários pontos:

− Possibilidade de as partes contratarem ou não contratarem;


− Possibilidade de cada uma das partes escolher livremente o outro contraente;
− Possibilidade de na regulamentação convencionada pelas partes se afastarem os
contratos típicos ou paradigmáticos disciplinados na lei. Nos termos do ART. 234 CC há
situações em que se dispensa uma declaração expressa de aceitação a qual se reflete
em atos de execução da vontade, no entanto, não deixamos de estar num plano de
liberdade contratual nem de vigência de autonomia privada.

O contrato como negócio unilateral pode ser considerado uma fonte natural das relações de
crédito. No entanto a disciplina dos contratos pauta-se pela autonomia privada que atribui aos
contraentes o poder de os mesmos fixarem a disciplina que mais lhes convém à sua relação
jurídica, à confiança segundo a qual cada contraente deve responder pelas expetativas que
justificadamente cria na contraparte e justiça cumulativa, segundo a qual nos contratos a título

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oneroso a prestação de cada um dos contraentes deve corresponder a uma prestação de valor
objetivo sensivelmente equivalente à parte do outro contraente.

No que respeita ao princípio da autonomia privada, é este que nos permite a liberdade de testar,
a liberdade de associar, a liberdade de tomar deliberações em órgãos colegiais bem como, a
liberdade de praticar atos unilaterais tutelados pelo direito.

O princípio da confiança ou do pacta sunt servanda estabelece uma força vinculativa do contrato
quer ao nível da sua interpretação e integração, quer ao nível da imodificabilidade do contrato
por vontade unilateral de uma das partes ART. 406 CC. No que respeita ao princípio da justiça
comutativa verificamos que a mesma se prende com a equivalência das prestações, ou seja, no
nosso CC estão previstas atuações por forma a zelar pela igualdade negocial das partes, daí que
se preveja a possibilidade de modificação ou anulação de negócios usurários (ART. 282 CC) ou
até a possibilidade de reduzir oficiosamente a cláusula penal excessiva (ART. 812).

Liberdade de contratar e limitações à mesma


A liberdade de contratar está sujeita a limitações ou restrições que se refletem da seguinte
forma:

1. Devendo contratar: há múltiplas situações em que as pessoas singulares ou coletivas


têm o dever jurídico de contratar desde que se verifiquem determinados pressupostos.
Quando assim não seja a pessoa que se recusa a contratar pratica um ato ilícito que
poderá constituí-la em responsabilidade civil perante a pessoa que deseja realizar o
contrato. Há inclusivamente situações em que a pessoa consegue obter a execução
coerciva do contrato, ex: supondo que o fornecimento de energia elétrica em Portugal
é feito apenas pela EDP inexistindo quaisquer outras empresas de fornecimento de
energia elétrica, a EDP tem o dever jurídico de contratar com qualquer cidadão nacional,
sendo que, caso esta empresa recuse a mesma incorrerá em responsabilidade civil.

2. Promessa negocial de contratar: quando uma das partes ou ambas tenham assumido
em contrato promessa a obrigação de celebrar o contrato definitivo/prometido ART.
410 CC.

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3. Profissão de exercício condicionado: casos em que a lei estabelece de forma expressa
que as pessoas que exercem certas profissões só poderão exercê-las caso tenham um
título de habilitação ou estejam inscritas em determinados organismos, por exemplos
os advogados na ordem dos advogados, os médicos que têm de estar inscritos na Ordem
dos médicos, etc…

4. Proibição de contratar com determinadas pessoas: No que respeita ao ART. 579 CC


pretende-se evitar a promiscuidade em determinadas profissões. Outro exemplo de
restrição à liberdade contratual é o que provém da venda a filhos ou a netos. A lei
estabelece nos ART. 877 CC que os pais e avós não podem vender a filhos ou netos se
os outros filhos ou netos não consentirem na venda. A sanção em caso de venda sem o
consentimento de um dos herdeiros/filhos será a anulação do negócio a qual é feita a
pedido do filho que não consentiu e no prazo de um ano a contar do conhecimento da
celebração do contrato.

5. Necessidade do consentimento, assentimento ou aprovação de outrem: os casos em


que para que determinada pessoa contrate necessite do consentimento ou
assentimento de outrem;

6. Renovação ou transmissão do contrato imposta a um dos contraentes: nos casos em


que fica previamente estabelecida a cessão da posição contratual a terceiros.

Fixação do conteúdo dos contratos


A liberdade de modulação do conteúdo dos contratos desdobra-se na possibilidade de
celebração de quaisquer contratos típicos ou nominados (os que estão na lei), na possibilidade
de aditar a qualquer desses contratos as clausulas que melhor convém aos interesses
prosseguidos pelas partes e na possibilidade de se realizarem contratos distintos daqueles que
a lei prevê e regula. É importante atentar que os contratos apesar da liberdade contratual
existente estão sujeitos aos limites previstos no ART. 398/2 e 280 CC. Existem também normas
imperativas que impedem e restringem, quantos aos negócios formais a formação do contrato
conforme o ART. 220 CC, ART. 875 CC e ART. 947 CC.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 18 de 61


Cláusulas contratuais gerais DL 446/85 de 25 de Outubro (26.10.2020)
Quando se fala no limite à liberdade contratual temos que falar nos limites materiais à liberdade
de contratar. O DL 446/85 surgiu assim para estabelecer limites materiais à liberdade contratual
porque existem situações contratuais em que uma das partes não tem o mesmo poder negocial
que a outra. Um dos problemas dos contratos celebrados com base em cláusulas contratuais
gerais é que o aderente ao contrato não reconhece a totalidade do clausulado contratual.

Cláusulas contratuais gerais (Dec-Lei 446/85 25 Outubro)


O diploma das cláusulas contratuais gerais surgiu por forma a proteger a parte mais fraca
quando a mesma negoceia com uma contraparte que detém o monopólio pois nestes casos as
cláusulas e condições são unilateralmente fixadas por essa entidade e a contraparte a quem se
destinam as cláusulas não tem o menor poder de alteração tendo que as aceitar de forma pura
e simples, ex: contratos de luz, entidades bancárias, etc. Estes contratos são habitualmente
conhecidos como contratos de adesão e apresentam as seguintes características:

− Monopólio de uma contraparte;


− Oferta geral e permanente;
− Prestação de serviço privado de utilidade pública;
− Interesse do autor da oferta;

Vantagens dos contratos de adesão:


− Racionalização e facilitação do trafico nacional;
− Rapidez e celeridade negocial;
− Normalização contratual e previsão de incumprimentos;

Desvantagens:

1. A principal desvantagem será a oneração da parte mais fraca;


2. Há uma liberdade aparente por parte da contraparte na medida em que os bens ou
serviços são prestados em regime de monopólio e sendo essenciais à sua vida as pessoas
acabam por não ter a liberdade de não contratar.
3. A redação desses contratos é feita numa linguagem técnica e inacessível.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 19 de 61


Regime Jurídico dos contratos de adesão (ART. 1, ART. 2, ART. 3, ART. 5, ART. 6 e ART. 8)
Nos artigos 17, 18 e 19 tratamos das relações entre empresários ou entidades equiparadas, pois
se tratarmos de relações entre consumidores aplicamos os ART. 20, 21 e 22 do Dec-lei.

Contratos com eficácia real


O ART. 408 estabelece que a constituição ou transferência de direitos reais sobre a coisa opera
por efeito do contrato, mas tal só ocorre se estiverem em causa coisas determinadas. Se se
tratar de coisa futura ou indeterminada o direito só se transfere quando a coisa for adquirida
pelo alienante. O mesmo acontece quando estão em causa frutos naturais ou partes
componentes ou integrantes, sendo neste caso respetivamente que a transferência ocorre no
momento da colheita ou separação.

Cláusula de reserva de propriedade


O ART. 409 estabelece que o vendedor pode reservar para si a propriedade da coisa até ao
cumprimento total ou parcial por parte da contraparte. O ART. 409 tem em vista a salvaguarda
do vendedor, no entanto o próprio CC também salvaguarda o comprador, nos termos do ART.
934.

Responsabilidade pré contratual, culpa in contrahendo


O ART. 227 consagra a tese da responsabilidade civil pré contratual pelos danos culposamente
causados à contraparte tanto no período da negociação como no momento decisivo da
conclusão do contrato. Em segundo lugar temos que a cobertura do ART. 227 abrange ainda a
proteção da boa fé negocial pois que as partes devem pautar os seus comportamentos pelo
respeito e com correção e lealdade.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 20 de 61


Classificação dos contratos
Contratos típicos ou nominados e contratos atípicos ou inominados

Os contratos típicos ou nominados


São aqueles que possuem um nomen iuris, ou seja, um nome próprio que os distingue dos
demais e são objeto de uma regulamentação legal específica.

Os contratos atípicos ou inominados


São aqueles em que as partes, ao abrigo do princípio da liberdade contratual estabelecida no
ART. 405/1 do CC criam fora dos modelos tipificados na lei contratos com todas as
especificidades a eles inerentes e queridas pelas partes.

Contratos Mistos
Diz-se misto o contrato no qual se reúnam elementos de dois ou mais negócios os quais poderão
ser total ou parcialmente regulamentados havendo uma espécie típica diretamente regulada na
lei.

Contratos gratuitos e contratos onerosos


O contrato é gratuito quando um dos contraentes proporciona uma vantagem patrimonial ou
outra sem qualquer correspetivo ou contraprestação.

Os contratos são onerosos quando a atribuição patrimonial efetuada por cada um dos
contraentes tem correspetivamente uma compensação ou contraprestação. Para que o
contrato seja oneroso é assim necessário que cada uma das partes tenha simultaneamente uma
vantagem de natureza patrimonial e um sacrifício do mesmo tipo.

Contratos bilaterais e unilaterais:


Os contratos são unilaterais quando deles só resulta obrigacoes para uma das partes.
Tendencialmente o contrato é um negócio jurídico bilateral, pois nasce da harmonia de duas
declarações de vontade contrapostas ex: compra e venda, empreitada, etc.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 21 de 61


Há, no entanto, negócios bilaterais que criam obrigações apenas para uma das partes, como por
exemplo no comodato, mútuo gratuito, doações, etc. Os contratos bilaterais são também
conhecidos como contratos sinalagmáticos, pois são contratos de que emergem de obrigações,
cada uma a cargo de uma das partes ligadas pelas prestações essenciais de cada contrato.

Exceção de não cumprimento (ART. 428 CC)


Um dos traços do regime dos contratos bilaterais consiste na exceção de não cumprimento.
Assim, desde que não haja prazos diferentes para o cumprimento das prestações qualquer um
dos contraentes pode recusar a sua prestação invocando a exceção de não cumprimento
enquanto outro contraente não efetuar a prestação que lhe compete ou não oferecer o seu
cumprimento simultâneo.

As obrigações compreendidas no sinalagma devem em princípio ser cumpridas


simultaneamente. A exceção de não cumprimento consiste nesta medida na faculdade de
recusar o cumprimento da própria obrigação enquanto a outra parte não cumpra ou não ofereça
o cumprimento. Mesmo que haja um prazo diferente pode-se invocar a exceptio, sendo esta
invocada pela parte que está obrigada a cumprir em segundo lugar quando aquele que estava
obrigado a cumprir em primeiro lugar o não tenha feito.

Quando um dos contraentes oferecer um cumprimento parcial ou imperfeito (defeituoso) o


outro pode invocar a exceção do não cumprimento. O credor pode juridicamente e
fundamentadamente recusar um cumprimento que não é perfeito ou que não é integral. Assim
pode recusar invocando a exceção de não cumprimento por forma a não cumprir a sua própria
obrigação.

Pode também caso tenha aceite o cumprimento parcial ou defeituoso sob reserva da reparação
dos defeitos ou sob reserva da prestação da parte faltosa do cumprimento. Se ainda assim não
houver cumprimento da parte que falta à prestação desde que tenha sido feita essa reserva no
momento da aceitação do cumprimento poderá invocar a exceção do não cumprimento. Essa
exceção poderá ser oponível tanto ao contraente como a terceiro que venha ocupar o lugar dele
no contrato nos termos do ART. 431 CC.

Para que se verifique a exceção de não cumprimento é necessário que estejam em causa
obrigações correspetivas ou correlativas, ou seja que uma seja o sinalagma da outra. A exceção
de não cumprimento aplica-se não só nos casos de falta integral do cumprimento, como também

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 22 de 61


para o cumprimento parcial ou defeituoso desde que a sua invocação não contrarie o princípio
geral de boa fé ART. 227 e 762/2 CC.

Condição resolutiva tácita


Se a impossibilidade da prestação for imputável ao devedor, o credor tem a faculdade de
resolver o contrato e exigir a restituição da sua prestação por inteiro caso já a tenha realizado
ART. 810/2 CC. É a principal sanção apontada quanto inadimplemento (incumprimento) da
obrigação nos contratos bilaterais. A condição resolutiva tácita assenta na ideia de que
considerando a interdependência psicológica existente entre as prestações integradoras do
contrato bilateral, cada uma das partes se reserva na faculdade de resolver o contrato fazendo
cessar a sua eficácia se a outra não quiser ou não poder cumprir.

Contratos a favor de terceiros


É o contrato em que um dos contraentes atribui por conta e à ordem de outro uma vantagem a
um terceiro estranho à relação contratual.

Contrato para pessoa a nomear ART. 452 CC


É o contrato em que uma das pessoas se reserva na faculdade de designar uma outra pessoa
que assume a sua posição na relação contratual como se o contrato tiver sido celebrado ab initio
com esta última. Depois da designação o contraente passa a ser, de acordo com o conteúdo do
contrato a pessoa nomeada e não a que primitivamente constava, nos termos do ART. 455/1
CC.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 23 de 61


Efeitos do contrato
Pelo contrato nomeadamente de compra e venda produzem-se efeitos reais, ou seja, opera um
direito real é a transmissão da propriedade. O contrato tem eficácia interpartes ART. 406. Deste
princípio decorre a imodificabilidade do contrato o qual apenas poderá ser alterado por mútuo
consentimento dos contraentes, ou seja, em princípio o contrato não pode modificar-se nem
extinguir-se senão com o acordo de ambas as partes.

Resolução dos contratos (06.11.202)


O direito à resolução pode ser exercido extrajudicialmente, ou seja, sem recurso à via judicial o
contraente que tem fundamento diz à outra parte. Há, no entanto, casos em que a lei obriga ao
recurso à via judicial, tendo aqui que o direito à resolução é um direito potestativo.

Nos direitos reais, ao contrário dos direitos das obrigações há uma eficácia absoluta. No entanto
estão previstos os chamados contratos com eficácia real também conhecidos como contratos
reais quod effectum, que são contratos reais quanto aos efeitos.

Quanto a estes contratos vigora o princípio da consensualidade o que implica que o contrato se
celebra por mero acordo das partes e também que o efeito real decorre do contrato e é
independente de qualquer ato posterior ao acordo conclusivo do contrato (ver ART. 408, 1129
e 1142).

O ART 408 CC estabelece que o efeito real do contrato se produz, em regra pela mera celebração
do contrato. Por sua vez nos contratos quod constitutionem, ou seja, contratos reais quanto à
sua constituição, verificamos que estes se aperfeiçoam, consideram-se celebrados com a
entrega da coisa que é seu objeto, ex: contrato mútuo, comodato e depósito.

Os contratos podem se extinguir por mútuo consenso, nos termos do artigo 406. Se ambas as
partes quiserem terminar o contrato que celebraram elas podem fazê-lo de forma livre e
esclarecida, esta forma extintiva do contrato designa-se por revogação. A revogação tem uma
eficácia ex nunc (para o futuro), o que significa que todos os efeitos produzidos pelo contrato se
mantém e o contrato deixará de produzir efeitos a partir do momento da sua revogação.

Outra forma de cessação é a caducidade, isto é, quando o efeito jurídico ocorre pela verificação
de um facto jurídico. O negócio em que podemos verificar a caducidade de um contrato será
aquele em que se estabelece um prazo ou quando temos um termo incerto e em que a

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 24 de 61


verificação de um facto jurídico que é o decurso do tempo faz com que o contrato deixe de
produzir efeitos. A caducidade tem tipicamente efeitos para o futuro, por exemplo o contrato
de promessa de compra e venda em que se estabelece que se o promitente comprador não
obtiver um financiamento num prazo, o contrato irá caducar.

Outra forma de cessação dos contratos é a denúncia, a qual é uma forma de extinção dos
contratos de execução duradoura, sem tempo de duração convencional ou legalmente
convencionada, por exemplo denúncia do contrato de prestação de serviços com a Meo.

Por fim, outra forma de extinção dos contratos, é a chamada resolução que também é designada
na doutrina antiga como rescisão. A resolução do contrato está prevista nos artigos 432 e seg.
e consiste na extinção do contrato por declaração unilateral e vinculada de uma das partes, ou
seja, a resolução é feita por um dos contraentes como direito potestativo, que só pode ser
exercido quando tiver fundamento na lei ou no próprio contrato, por exemplo no contrato de
promessa de compra e venda em que havendo incumprimento de uma das partes a contraparte
comunica de forma unilateral e vinculada que o contrato se extingue automaticamente podendo
a parte celebrar um novo contrato com outrem.

Fundamento de resolução do contrato


1. Falta de pagamento do preço;
2. Incumprimento definitivo e culposo de uma das obrigações das partes;

Esta situação acontece nos contratos bilaterais em que o credor tem direito à resolução do
contrato se o devedor incumprir de forma definitiva e culposa a obrigação que sobre ele
impendia. Existem situações em que são estabelecidas contratualmente cláusulas penais tendo
em vista acautelar as situações de incumprimento das partes.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 25 de 61


Fundamento da resolução dos contratos nos termos dos ART. 437 a 439:
alteração substancial das circunstâncias.
A resolução ou modificação do contrato é admitida em termos genéricos para que o tribunal
possa atendendo à boa fé e à base do negócio conceder ou não a resolução ou a modificação.

Para que tal aconteça é necessário que se verifiquem os seguintes requisitos:

− Que haja uma alteração anormal das circunstâncias em que as partes tenham um
fundado receio de contratar (houve uma alteração estranha, não prevista, não
pretendida e excecional);
− Que a exigência da obrigação à parte lesada afete gravemente os princípios da boa fé
contratual e não seja coberta pelos riscos do negócio como no caso de se tratar de um
negócio por sua natureza aleatório.

Sanção pecuniária compulsória


Se estivermos uma prestação de facto fungível, em caso de recusa de cumprimento por parte
do devedor o credor pode requerer ao tribunal que a prestação tenha lugar por outrem
expensas (a cargo) do devedor.

Eficácia externa das obrigações


Supondo que foi celebrado um pacto de preferência por via do qual um sócio de uma sociedade
deu preferência a outro na venda de 100 ações, tendo depois acabado por vender as ações a um
terceiro, a questão é o que o outro sócio pode fazer?

R: Entre nós vigora a tese do efeito externo das obrigações conforme os artigos 406/2, 413, 421,
495/3 e 1306/1.

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Promessa
Promessa é a convenção pela qual ambas as partes ou apenas uma delas, se obriga dentro de
um certo prazo ou verificados certos pressupostos a celebrar um determinado contrato. Ao
contrato que elas irão celebrar chamamos contrato prometido.

O contrato de promessa cria a obrigação de contratar, ou seja, cria a obrigação de emitir a


declaração de vontade correspondente ao contrato prometido.

Quando se diz que o contrato de promessa é uma convenção, quer significar que, primeiro é um
contrato autónomo (que é independente do contrato prometido apesar de estar na base do
mesmo e além disso é uma convenção/compromisso que as partes assumem no sentido de
levarem à celebração o contrato definitivo.

O contrato de promessa pode ser sinalagmático (bilateral) ou não sinalagmático (unilateral).

Distinção de figuras próximas e afins

1. Pacto de preferência ART. 414 e seg;


No pacto de preferência a pessoa não se obriga a contratar, mas apenas a escolher o
contraente caso decida contratar. No contrato de promessa, por sua vez a pessoa
obriga-se a contratar, ou seja, a celebrar o contrato definitivo.

2. Pacto de opção
É uma declaração que corresponde ao contrato que se pretende celebrar, enquanto que
a contraparte se reserva na faculdade de aceitar ou declinar o contrato.

Promessa unilateral
Promessa unilateral confere ao não promitente uma verdadeira pretensão à celebração do
contrato prometido. A promessa unilateral é distinta da proposta contratual pois enquanto que
a promessa unilateral assenta num contrato consumado, a proposta é uma simples declaração
de vontade emitida por uma das partes que só se converte num contato com a aceitação do
outro contraente.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 27 de 61


Sinal
O sinal tem uma íntima ligação com o contrato promessa pois consiste na coisa que um dos
contraentes entrega ao outro no momento da celebração do contrato ou em momento posterior
como prova da seriedade do seu propósito negocial ou como garantia do seu cumprimento,
sendo que em caso de incumprimento utilizado como antecipação da indemnização ART. 411 a
413. O contrato promessa tem consagração legal, o que significa que a lei reconhece
expressamente a validade do contrato promessa, não apenas em relação à compra e venda, mas
também seja qual for o contrato prometido. O ART. 411 estabelece de forma clara a validade da
promessa unilateral. Além disso admite a possibilidade da promessa de alienação ou oneração
de bens imóveis ou móveis sujeitos a registo, produzir efeitos em relação a terceiros, nos termos
do ART. 413. De igual forma está consagrada a regra da transmissibilidade dos direitos e
obrigações dos promitentes. E por fim é admitida a possibilidade da execução específica do
contrato promessa, nos termos do ART. 830.

Princípio da equiparação (13.11.2020)


Este princípio consiste na aplicação como regra dos requisitos e efeitos do contrato promessa
ao contrato prometido (ART. 410º nº1 CC). Existem duas exceções ao princípio da equiparação:
a primeira relativa à forma do contrato e a segunda relativa às disposições que pela sua razão
de ser não se devem considerar extensivas ao contrato promessa.

Quanto á forma, a solução aplicável ao contrato promessa traduz-se no seguinte:

1. Separa o contrato prometido a lei exigir documento como acontece na venda ou na


doação de coisas imóveis (ART. 875º e 947º CC), o respetivo contrato promessa só é
válido se constar de documento escrito assinado pelos promitentes;

2. Sendo um contrato promessa relativo à celebração de contrato oneroso de transmissão


ou constituição de direito real sobre um edifício já construído, em vias de construção ou
que deva vir a ser construído, o documento escrito necessita de ter um reconhecimento
presencial das assinaturas dos outorgantes bem como a certificação da existência de
licença de utilização ou construção;

3. Se o contrato prometido estiver subordinado a qualquer outra finalidade que não seja
a redução a documento vale para a respetiva promessa a regra geral da liberdade de
forma.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 28 de 61


Em síntese, o princípio da equiparação significa que o contrato promessa, além das suas regras
próprias, são aplicáveis as regras próprias do contrato prometido. (ART. 410 nº2 CC).

No ART. 410 nº2 está previsto o princípio da consensualidade segundo o qual o contrato
promessa pode ser válido independentemente da observância de forma especial caso exista um
encontro de vontades.

Se estiver em causa um contrato prometido formal então o contrato promessa também o será,
sendo que neste caso a forma imposta decorrerá da lei ou de documento que a dita lei atribua
esse efeito. Neste caso o contrato promessa será um contrato formal e a sua forma é a de
documento particular subscrito pelas partes.

O contrato promessa cria para o promitente uma obrigação de contratar, ou seja em principio
este goza de uma eficácia meramente obrigacional, ou seja, apenas aplicável às partes
contraentes. Diferentemente se o contrato promessa tiver uma eficácia real, este já poderá ser
oponível a terceiros, ultrapassando a simples relação inter partes. No entanto é essencial o
registo conforme decorre do (ART.413º CC).

Temos assim que o ART.413º CC estabelece 2 requisitos:

1. Quanto à forma, na medida em que será celebrado através de escritura pública,


documento particular autenticado ou documento particular com reconhecimento das
assinaturas quando o contrato prometido não careça de documento autêntico (tem que
constar no contrato promessa a convenção expressa de atribuição de eficácia real).

2. Quanto á publicidade temos que o contrato promessa com eficácia real tem de ser
registado para ser oponível a terceiros. IMPORTANTE!!! (ART. 830º CC), porque confere
ao promitente comprador e mesmo ao vendedor o direito a fazer cumprir o contrato,
mesmo que a contraparte não o queira voluntariamente celebrar.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 29 de 61


Transmissões dos direitos e obrigações dos promitentes
Os direitos e obrigações resultantes da promessa contratual são em princípio transmissíveis por
morte e por negócio inter-vivios (ART. 412º nº1 CC). Se para um dos contraentes a promessa
cria apenas um direito de crédito ele poderá ceder nos termos do (ART. 577º CC) os direitos de
que dispõe. Temos ainda que poderá haver a cedência da posição contratual nos termos do
(ART. 424º CC).

Não cumprimento do contrato promessa


O incumprimento de um contrato promessa pode advir da culpa do promitente comprador ou
do promitente vendedor (ART. 442º CC).

O não cumprimento culposo terá reflexos ao nível da esfera jurídica das partes. Se o devedor
não cumprir no momento em que o deveria fazer, ele poderá cumprir caso o credor mantenha
o interesse na celebração do contrato prometido. Nesta situação estamos perante um "atraso",
ou seja, um incumprimento temporário também conhecido como mora do devedor.

Há situações em que o devedor não cumpre quando devia fazê-lo porque não pode ou não
consegue cumprir. Nesta situação temos uma impossibilidade de cumprimento. Das duas uma,
ou o devedor não cumpre, entra em mora e o credor perde o interesse e temos aqui um
incumprimento definitivo, ou então o devedor entra em mora mas o credor tem interesse e
temos apenas um incumprimento temporário.

A interpelação admonitória do devedor em mora com a cominação do (ART. 808 nº1 CC) é assim
um poder que é conferido ao credor. Se o credor quiser que a mora do devedor se converta num
verdadeiro incumprimento o credor necessita de conceder ao devedor uma nova chance para
cumprir. Nos termos do CC verificando-se o incumprimento voluntário de um contrato promessa
pode implicar o recurso ao (ART. 830º CC).

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 30 de 61


Sinal
O sinal tem como função ser o principio do pagamento, ou seja, o valor entregue pelo
promitente comprador a quando da celebração do contrato promessa sendo ainda possível ao
mesmo fazer um reforço desse pagamento (por exemplo: A celebra com B um contrato promessa
de compra e venda mediante o qual irá adquirir um bem imóvel pela quantia de 100000€ e
convenciona que entregará aquando da assinatura do CPCV o pagamento de 20000€
convencionando ainda o pagamento da quantia mensal de 2000€ a titulo de reforço de sinal até
à celebração do contrato prometido).

Além de ser um princípio de pagamento, o sinal pode ser e funcionar como "cláusula penal" na
medida em que pode ser o meio de compensação em caso de incumprimento definitivo e
culposo do contrato (ART. 442º CC).

Nos termos do (ART. 442º CC) temos que se quem entregou o sinal deixar de cumprir a prestação
por causa que lhe é imputável tem o outro contraente a faculdade de fazer sua a coisa entregue.

Se o não cumprimento do contrato for devido ao promitente vendedor, o promitente


comprador tem a faculdade de exigir o dobro daquilo que prestou. Em vez de utilizar o valor
recebido/entregue a titulo de sinal, o contraente não faltoso pode requerer a execução
especifica do contrato nos termos do (ART. 830 CC) .

Se houver tradição da coisa verificamos que o promitente comprador pode exigir ao promitente
vendedor quando o incumprimento lhe é imputável: ou o sinal em dobro ou requerer a execução
especifica. Sempre que o contraente não faltoso optar pelo valor da coisa, a outra parte pode
opor-se ao exercício dessa faculdade oferecendo-se para cumprir a promessa salvo o disposto
no (ART. 808º CC).

Execução especifica
O (ART. 830 nº1 CC) estabelece que aquele que tiver direito á celebração de um contrato e vir
insatisfeito esse direito pela contraparte pode requerer ao tribunal a emissão de uma sentença
que produza os mesmos efeitos da declaração negocial do faltoso. A execução especifica do
contrato promessa sem eficácia real não é admitida no caso de impossibilidade de cumprimento
por um promitente vendedor que houver transmitido o seu direito real sobre a coisa, objeto do
contrato prometido antes de registada a ação de execução especifica ainda que o terceiro
adquirente não haja obtido registo da aquisição antes do registo da ação, ou seja, o registo da
ação não confere eficácia real à promessa.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 31 de 61


Para obter uma sentença nos termos do (ART. 830º CC) tem que se verificar 3 requisitos:

1. Não ser incompatível coma substituição da declaração negocial a natureza da obrigação


assumida pela promessa;
2. Não existir convenção em contrário;
3. Haver incumprimento por parte do demandado.

A execução específica tem como pressuposto a mora do devedor. Por sua vez o (ART. 830º nº2
CC) tem caracter dispositivo ou supletivo, ou seja, às partes é admissível excluir a execução
especifica. No entanto, no (ART. 830 nº3 CC) temos que o direito à execução especifica não pode
ser afastado pelas partes nos casos do (ART. 410 nº3 CC) não valendo qualquer convenção em
contrário expressa ou tácita. No (ART. 830 nº5 CC) temos que a exceção de não cumprimento
do contrato não é de conhecimento oficioso exigindo a produção de prova.

Violação do contrato promessa


Neste particular temos o (ART. 442 CC).

Temos também que os (ART. 811 e 812 CC) assumem especial importância.

Tendo a promessa eficácia real nos termos do (ART. 413 CC) o direito da contraparte é oponível
ao terceiro adquirente cujo direito não esteja registado antes do registo contrato promessa.

Pacto de Preferência (20.11.2020)


São os contratos pelos quais alguém assume a obrigação de, em igualdade de condições,
escolher uma determinada pessoa como seu contraente, no caso de decidir celebrar o negócio.

Os pactos de preferência podem ter por objeto quer a compra e venda quer outros contratos,
como o arrendamento, aluguer, contrato de fornecimento, etc. Significa isto que os pactos de
preferência são admitidos em relação à compra e venda nos termos do ART. 414 bem como são
admitidos quanto a outros contratos onerosos em que se tenha sentido a opção por certa pessoa
sobre quaisquer outros concorrentes ART. 423.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 32 de 61


A obrigação de dar preferência pode ser assumida em qualquer circunstância, admitindo a
própria lei que a mesma que essa obrigação, seja imposta pelo testador ou legatário ART. 2235.
Ao lado da preferência de origem negocial temos os chamados direitos legais de preferência, os
quais são verdadeiros direitos reais de aquisição, nomeadamente nos ART. 1409, 2130, 1535 e
1555.

Ação de Preferência ART. 1410


A ação de preferência é um instituto que pode ser utilizado pelo titular lesado por forma a que
tenha para si a coisa alienada, desde que o requeira no prazo de seis meses a contar data em
que teve conhecimento dos elementos essenciais da alienação e deposite judicialmente o objeto
da prestação que lhe cumpre efetuar. Ex: Se António vender uma fração a Joana sem dar
preferência a Maria que é sua inquilina desde 2010, Maria que tem direito de preferência fruto
do contrato de arrendamento celebrado, pode instaurar a ação desde que o faça no prazo de
seis meses e deposite à ordem do processo a quantia devida e que foi objeto do contrato.

A ação de preferência está sujeita aos seguintes requisitos:

− Prazo de caducidade de seis meses a contar do conhecimento;


− Depósito do preço à ordem do processo;

Sempre que o obrigado à preferência pretenda vender ou fazer uma dação em cumprimento a
lei impõe os seguintes deveres:

1. Dever de notificar o preferente relativamente ao projeto de alienação e cláusulas


essenciais do contrato a realizar ART. 416 e 1410/1.

2. O dever de não efetivar o projeto de alienação enquanto o preferente não declarar


dentro do prazo em que é lícito fazê-lo se pretende ou não proferir ART. 416/2.

3. O dever de realizar o contrato com o preferente se este, em resposta à notificação,


manifestar a vontade de exercer o seu direito.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 33 de 61


Contratos Tipificados (ART. 874)
1. Contrato de compra e venda ART. 874 e seg. do CC
Do ART. 874 CC resulta de forma clara e inequívoca que o contrato de compra e venda tem
uma atribuição de natureza real e não apenas obrigacional. Da própria letra desse artigo
em conjugação com o ART. 879 al. a) CC temos que a compra e venda continua a ser o
instrumento jurídico da troca de bens.

2. Doação ART. 940 CC


São três os requisitos do ART. 940 CC para que existam uma doação:
a) Disposição gratuita de certos bens ou assunção de uma dívida em benefício do
donatário e atribuição patrimonial sem correspetivo.
b) Diminuição do património do doador.
c) Espírito de liberalidade.

3. Contrato de Sociedade ART. 980 e seg. CC


O ART. 980 define o que é um contrato de sociedade. São três os requisitos essenciais do
contrato de sociedade:
1. A contribuição dos sócios;
2. O exercício em comum de certa atividade económica que não seja de mera fruição;
3. Repartição dos lucros.

A sociedade tem como finalidade o Lucro. Às sociedades são aplicáveis subsidiariamente as


disposições que regulam as pessoas coletivas quando a analogia das situações o justifique
(ART. 157).

4. Locação (ART. 1022)


O contrato de locação é consensual, ou seja, oneroso e tem efeitos duradouros.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 34 de 61


5. Comodato (ART. 1129)
É um contrato de natureza real na medida em que só se completa com a entrega da coisa.
A lei diz intencionalmente que o comodato é o contrato pelo qual uma das partes entrega
uma determinada coisa e não pelo qual se obriga a entregar. O comodato é um contrato
gratuito pelo que, o objeto do comodato é uma determinada coisa móvel ou imóvel que o
comodatário irá restituir findo o contrato.

6. Contrato de Mútuo art 1142:


Implica a transferência da propriedade da coisa e pode ser gratuito ou oneroso.

7. Contrato de prestação de serviços ART. 1154


O contrato de prestação de serviços é aquele em que uma das partes se obriga a
proporcionar à outra um certo resultado do seu trabalho intelectual ou manual com ou sem
retribuição.

8. Contrato de mandato ART. 1157


O contrato de mandato é aquele mediante o qual uma das partes se obriga a praticar um
ou mais atos jurídicos por conta da outra parte.
Caducidade do mandato – O mandato caduca por morte ou interdição do mandatário ou
do mandante e por do mandante se o mandato tiver por objeto atos que não possam ser
praticados sem intervenção do curador responsável/acompanhante se se tratar de um caso
de maior acompanhado

9. Contrato de depósito ART. 1185


O depósito é o contrato pelo qual uma das partes entrega à outra uma coisa móvel ou
imóvel para que a guarde e a restitua para quando o for exigido. Se o depositário a quem
foi entregue uma coisa não a restituir no prazo conferido para o respeito poderá ser
instaurada ação de reivindicação.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 35 de 61


10. Contrato de empreitada ART. 1207
A empreitada é o contrato pelo qual uma das partes se obriga em relação à outra a realizar
certa obra mediante o pagamento de um preço.

11. Transação ART. 1248


É o contrato pelo qual as pares previnem ou terminam um litígio mediante recíprocas
concessões.

Negócios Unilaterais
Conforme decorre no ART. 457 CC, a promessa unilateral de uma prestação só obriga nos casos
previstos na lei. Temos assim previstas duas situações: a promessa de cumprimento e o
reconhecimento de dívida.

Há, no entanto, negócios jurídicos unilaterais que são fonte das obrigações, são eles: a promessa
pública e o concurso público. A promessa pública consiste na declaração feita mediante anúncio
divulgado entre os interessados e na qual o autor se obriga a dar uma recompensa ou
gratificação a quem se encontre numa determinada situação ou pratique um certo facto ART.
459 e 460 CC. Por sua vez o concurso público é um negócio unilateral pelo qual alguém promete
um prémio a quem realizar certas provas discriminadas no concurso. Se o anúncio público não
indicar a existência de prémio a decisão da sua concessão caberá ao autor do concurso público.

Gestão de Negócios (27.11.2020)


A gestão de negócios é a intervenção não autorizada de pessoas na direção de negócio alheio
feita no interesse e por conta do respetivo dono, ou seja, o sujeito assume a condução de um
assunto alheio no interesse dessa pessoa e sem a autorização dessa pessoa (ART.464º CC).

Requisitos:

1. Direção negócio alheio – a atuação do gestor pode concretizar-se na realização de


negócios jurídicos, prática de atos jurídicos não negociais, ou até de simples factos
materiais. Os atos jurídicos são em regra atos de mera administração, mas nada obsta a
que se estenda a atos de verdadeira disposição;

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 36 de 61


2. O gestor atua no interesse e por conta do negócio alheio – a intervenção do gestor tem
que decorrer em proveito alheio e não no exclusivo proveito próprio. O gestor tem que
satisfazer um interesse alheio, ou seja, transferir para a esfera jurídica de outrem os
proveitos e encargos da sua intervenção;

3. Falta de autorização – inexiste uma relação jurídica entre o dono e o agente que confira
a este o direito ou lhe imponha um dever legal de se intrometer nos negócios jurídicos
daquele. Quando falamos em falta de autorização falamos de falta de mandato bem
como falta de poderes voluntários ou legais de representação ou administração.

Deveres do gestor
Os deveres do gestor em face do dono do negócio estão previstos no (ART.465º CC). Em primeiro
lugar, uma vez iniciada a gestão, o agente já não é inteiramente livre de interrompê-la. A lei não
impõe ao gestor de modo direto o dever de prosseguir a gestão iniciada, mas responsabiliza-o
pelos danos que resultarem da injustificada interrupção dela (ART.466º nº1 CC).

O gestor tem ainda um dever de “fidelidade” quanto ao interesse e á vontade real ou presumível
do dono do negócio, sendo que responde pelos danos que causar, por culpa sua, no exercício
da gestão sempre que agir em desconformidade com os interesses ou a vontade real ou
presumível do dono do negócio (ART. 466º e 465º alínea a)).

O gestor tem ainda que entregar os valores por si detidos e prestar contas logo que a gestão
finde ou seja, interrompida. O gestor tem ainda um dever de avisar e informar o dono do negócio
que assumiu a gestão (ART. 465º alínea b) )

Deveres do dono do negócio


Desde que a gestão seja regular, ou seja, o gestor tenha agido conforme o interesse e vontade
do dono do negócio, este último é obrigado a reembolsar o gestor de todas as despesas que
este fundadamente tenha considerado indispensáveis com os juros legais a contar do momento
em que foram feitos.

O dono do negócio tem assim a obrigação de reembolsar essas despesas desde que a situação
objetivamente o justificasse.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 37 de 61


O dono do negócio tem ainda a obrigação de indemnização quando o gestor tenha sofrido
prejuízos com a gestão (prejuízos de natureza patrimonial ou não patrimonial). Existe a
obrigação de remuneração do gestor apenas quando a atividade desenvolvida pelo gestor
corresponda à sua atividade profissional (ART. 470º CC).

Mal o dono do negócio tenha conhecimento da atividade de gestão realizada pelo gestor ele
pode tomar uma das seguintes atitudes:

1. Pode aprovar a gestão

2. Pode nada dizer

3. Pode desaprovar a gestão

A aprovação da gestão é uma declaração negocial dirigida pelo dono do negócio ao gestor e cuja
declaração não tem que ser expressa, pode ser tácita e cujo conteúdo é um juízo de
concordância global com a atividade genérica realizada pelo gestor (p.ex: se A gestor do negócio,
ao ver o telhado da casa de B voar em virtude de uma intempérie e se contratar C para fazer a
reparação, e se C cobrar a quantia de 1000€, se B liquidar diretamente a C os 1000€ ele está
tacitamente a concordar coma a atividade do gestor).

A aprovação da gestão tem os efeitos seguintes:

1. Renuncia por parte do dono do negócio a qualquer direito indemnizatório que ele
tivesse ou pudesse ter contra o gestor por incumprimento culposo e danoso das
obrigações do gestor (ART. 469º CC).

2. Reconhecimento por parte do dono do negócio de pagamento ao gestor do reembolso


das despesas, juros legais e direito de indemnização pelos danos causados (ART. 468º
nº1 primeira parte CC).

No entanto se a gestão não for regular, o gestor apenas terá direito a ser restituído
daquilo com que tenha empobrecido nos termos do enriquecimento sem causa (ART.
468º nº2 CC).

O dono do negócio pode ratificar os atos jurídicos praticados pelo gestor no exercício da
gestão caso o gestor tenha agido representativamente.

Se o gestor agiu no seu próprio interesse, isto é, não comunicou ao terceiro com quem
celebrou os negócios, que estes negócios não eram dele nem para ele, temos uma
gestão não representativa na medida em que o gestor atuou em nome próprio.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 38 de 61


Só quando o gestor comunica ao terceiro que atua em nome e por conta de outrem é
que temos uma gestão representativa. A representação é, assim a realização de atos ou
negócios jurídicos em nome de outrem sendo que o representante pode ter ou não ter
poderes.

A ratificação por sua vez é um negócio jurídico unilateral pelo qual o representado por
outrem que não tinha poderes de representação lhe atribui poderes posteriormente
com eficácia retroativa. (NOTA: A responsabilidade do gestor prevista no (ART.466º
CC) implica que caso este interrompa a gestão e incumpra a obrigação responda
civilmente face ao dono do negócio pelos danos que lhe causar).

Enriquecimento sem causa


Nos termos do (ART.473º CC) existe a obrigação de restituir fundada no enriquecimento sem
causa desde que se verifiquem 3 requisitos cumulativos:

1. É necessário que haja um enriquecimento;


2. O enriquecimento contra o qual se reage carece de causa justificativa;
3. A obrigação de restituir pressupõe que o enriquecimento tenha sido obtido à custa de
quem requerer a restituição, ou seja, á custa do empobrecido.

Análise dos requisitos do enriquecimento sem causa:


Em primeiro lugar é de referir que o instituto do enriquecimento sem causa tem uma aplicação
subsidiária nos termos do (ART. 474º CC), ou seja, só se aplica quando não existe outro instituto
que regule o caso.

1- Haver um enriquecimento: o enriquecimento consiste na obtenção de uma vantagem


de carácter patrimonial podendo traduzir-se num aumento do ativo patrimonial ou na
poupança de despesas;

2- Quanto ao segundo ponto que diz que o enriquecimento contra o qual se reage carece
de causa justificativa: temos de ter em consideração que ou essa causa justificativa
nunca existiu ou existiu e deixou de se verificar. Temos muitas situações em que temos
atos de intromissão do enriquecido em direitos ou bens jurídicos alheios;

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 39 de 61


3- Obrigação de restituir: pressupõe que o enriquecimento tenha sido obtido à custa de
quem requer a restituição, ou seja, do empobrecido temos que a vantagem patrimonial
alcançada pelo enriquecido á custa do empobrecido implica um sacrifício económico
que o empobrecido suporta. Ao enriquecimento injusto de uma pessoa corresponde o
empobrecimento de outra.

Carácter subsidiário da obrigação de restituir


Conforme decorre do (ART. 474º CC), o enriquecimento sem causa aplica-se em último rácio. Se
a transferência patrimonial assentar sobre um negócio nulo ou anulável é a própria declaração
de nulidade ou anulação que determina a devolução ao património de cada uma das partes os
bens com que a outra se poderia enriquecer á sua custa (ART.289º CC). São assim diferentes os
efeitos das obrigações de restituir fundadas na invalidade de um negócio e fundadas no
enriquecimento sem causa conforme (ART. 289º, 479º e 480º CC).

Objeto da obrigação de restituir:


O objeto é determinado em função dos seguintes aspetos:

1- A restituição é medida pelo enriquecimento: ou seja, o beneficiado não é obrigado a


restituir todo o objeto da deslocação patrimonial operada, devendo restituir apenas
restituir aquilo com que efetivamente se haja enriquecido. É o locupletamento que
serve para determinar o limite da obrigação de restituir nos termos do (ART. 479º nº2
e 480º CC);

2- À custa do requerente: Além do limite baseado no enriquecimento temos um limite


fundado no empobrecimento;

3- Agravamento da obrigação de restituir: Nos termos do (ART. 480º CC) o tratamento


favorável do beneficiado cessa mal seja citado para a restituição ou a partir do momento
em que conheça da ausência de causa justificativa.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 40 de 61


Prescrição do direito à restituição
O direito à restituição do que foi obtido sem justa causa está sujeito á prescrição de 3 anos nos
termos do (ART. 482º CC). O prazo de 3 anos conta-se da data em que o credor teve
conhecimento do direito que lhe compete e da pessoa do responsável. Assim, o início da
contagem do prazo de 3 anos depende da verificação cumulativa destes 2 conhecimentos:

1- Conhecimento dos factos


2- Conhecimento da pessoa do enriquecido

É a partir daí que se inicia a contagem do prazo de prescrição de 3 anos. No entanto o prazo de
prescrição ordinária de 20 anos corre a partir do momento em que ocorre a deslocação
patrimonial, não estando dependente do conhecimento de ninguém.

Responsabilidade Civil (04.12.2020)


É muito frequente que nos deparemos com ações de responsabilidade, as quais podem ser de
responsabilidade contratual ou extracontratual. Na rubrica da responsabilidade civil, cabe tanto
a responsabilidade pela falta de cumprimento das obrigacoes emergentes dos contratos,
negócios unilaterais ou da lei (responsabilidade contratual), como também cabe a
responsabilidade pela violação de direitos absolutos ou pela prática de certos atos que embora
sejam lícitos causam prejuízo a outrem (responsabilidade extracontratual).

Há muitas situações em que do mesmo facto decorrem ambas as responsabilidades na medida


em que o agente praticou um ato relativamente ao qual pode simultaneamente haver
responsabilidade contratual e responsabilidade extracontratual e pode inclusivamente haver
quanto ao mesmo facto além da responsabilidade civil uma responsabilidade criminal, sendo
que tudo vai depender do prisma ou perspetiva com que será analisado o facto.

A responsabilidade civil pode assim assumir duas figuras:

1. Responsabilidade obrigacional ou contratual é aquela que resulta do incumprimento de


direitos de créditos ou do incumprimento de obrigacoes em sentido técnico-jurídico.
2. Responsabilidade extracontratual, delitual ou aquiliana, prevista no ART. 483 CC.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 41 de 61


No quadro da responsabilidade civil é necessário ter em conta (quer na responsabilidade
extracontratual, quer na contratual) dois subsetores:

a) Responsabilidade subjetiva: quando ela depende da existência de culpa do agente e


culpa do autor da lesão;

b) Responsabilidade objetiva: quando o agente se constitui na obrigação de indemnizar


independentemente de culpa.

Responsabilidade por factos ilícitos ART. 483/1 CC


Para que se verifique na responsabilidade por factos ilícitos, a obrigação de indemnizar por parte
do lesante é necessário que se verifiquem 5 pressupostos:

1 – Facto voluntário do lesante que pode ser uma ação ou uma omissão
o elemento basilar da responsabilidade do agente implica a prática de um facto dominável ou
controlável pela vontade, ou seja, um comportamento ou forma de conduta humana. O facto
pode-se notar como facto positivo que importa a violação de um dever geral de abstenção ou
seja do dever de não ingerência na esfera de ação do titular do direito absoluto. O facto
voluntário pode traduzir-se também num facto negativo, ou seja, numa abstenção ou numa
omissão ART. 486 CC.

2 – Ilicitude
O CC fixa o conceito de ilicitude através de duas variantes, mediante as quais se releva o caráter
antijurídico da atuação do lesante. Temos assim:

− Violação do direito de outrem: os direitos subjetivos a que são abrangidos são,


essencialmente os direitos absolutos nomeadamente os direitos sobre as coisas ou
direitos reais, os direitos de personalidade, o direito de família e a propriedade
intelectual;

− Violação da lei que protege interesses alheios: trata-se da infração das leis que embora
protejam um direito subjetivo têm principalmente em vista a proteção de interesses

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 42 de 61


coletivos sem deixar de atender aos interesses particulares subjacentes. A previsão da
lei abrange a violação das normas, ou seja, não é necessária a produção do dano em
concreto bastando o simples perigo do dano em abstrato. Para que o lesado tenha
direito a uma indemnização tem que se verificar três requisitos essenciais:

1- que a lesão dos interesses do particular correspondam à violação de uma


norma legal;

2- que a tutela dos interesses dos particulares figure entre os fins da norma
violada;

3- que o dano se tenha registado no círculo de interesses privados que a lei visa
tutelar.

2.1 – Abuso de direito


O abuso de direito não é nem constitui a violação do direito de outrem, nem tao pouco a ofensa
de uma norma que tutela um interesse alheio. O abuso de direito é na verdade o exercício
anormal do direito próprio; a exercermos um direito próprio em termos de provarmos pela lei,
ou seja, respeita-se a estrutura formal do direito, mas viola-se a sua afetação substancial. O ART.
334 CC é claro quando diz que há abuso de direito sempre que o seu titular exerce esse mesmo
direito com manifesto excesso e ultrapassando os limites impostos pela boa fé, bons costumes
ou fim económico ou social desse direito.

Factos ilícitos especialmente previstos na lei


O CC trata de modo especial alguns factos antijurídicos:
− factos ofensivos do crédito ou bom nome das pessoas previsto no ART. 484 CC;
− conselhos, recomendações ou informações geradoras de danos ART. 485 CC;

2.2 – Causas justificativas do facto ou causas da exclusão da ilicitude


A violação do direito subjetivo ou a violação da norma destinada a proteger interesses alheios
constitui em regra um facto ilícito, no entanto pode ocorrer que a violação ou ofensa estejam
cobertas por alguma causa justificativa que afaste a sua aparente ilicitude. O ato do exercício de
um direito ainda que cause danos a outrem é lícito desde que o direito seja exercido de acordo
com a boa-fé, de acordo com os bons costumes, com o fim económico do direito e respeitando

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 43 de 61


as regras de compatibilização dos direitos ART. 335 CC. Constituem causas de justificação as
seguintes formas de tutela privada dos direitos: ação direta art 336, legitima defesa ART. 337
CC, estado de necessidade ART. 339 CC.

Estas figuras têm os seguintes aspetos em comum: natureza preventiva, ou seja, é uma
autotutela para evitar uma violação dos direitos; carater subsidiário: só é lícito atuar com a ação
direta em legitima defesa ou em estado de necessidade, quando não seja possível em tempo
útil recorrer aos meios normais; princípio da proporcionalidade: o ato só é licito na medida que
cause danos inferiores aos que resultariam do ato que se pretende evitar

2.3 – Ação direta (11.12.2020)


É o recurso à força para realizar ou assegurar o próprio direito ART. 336 CC. Para que haja açõ
direta é necessária a verificação dos seguintes requisitos:

1. Fundamento real – é necessário que o agente seja titular de um direito que procura
realizar ou assegurar;

2. Necessidade – pois o recurso à força tem de ser indispensável pela impossibilidade de


recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais para evitar a inutilização prática do
direito do agente;

3. Adequação – o agente não pode exceder o estritamente necessário para evitar o


prejuízo;

4. Valor dos interesses em jogo – através da ação direta o agente não pode sacrificar
interesses superiores aos que visa realizar ou assegurar.

2.4 – Legitima defesa


A legitima defesa consiste na reação destinada a afastar uma agressão atual e ilícita da pessoa
e do património seja do agente ou de terceiro ART. 337 CC. Requisitos:

1. Agressão – tem que haver uma ofensa da pessoa ou de os bens de alguém;


2. Atualidade e ilicitude da agressão – a agressão contra a qual se reage tem de ser atual e
contraria à lei.
3. Necessidade da reação – por não ser viável nem eficaz o recurso em tempo útil aos
meios coercivos normais.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 44 de 61


4. Adequação – tem de haver uma certa proporcionalidade entre prejuízo que se causa e
aquele que se pretende evitar por forma a que o meio utilizado não provoque um dano
manifestamente superior ao que se pretende afastar.

2.5 – Estado de necessidade


É igualmente lícito o ato daquele que para remover o perigo atual de um dano manifestamente
superior, quer do agente quer de terceiro, destrói ou danifica coisa alheia ART. 339 CC. O estado
de necessidade consiste na situação de constrangimento em que age quem sacrifica coisa alheia
com fim de afastar o perigo atual de um prejuízo manifestamente superior.

O ART. 340 CC prevê o instituo do consentimento do lesado que se traduz na aceitação da prática
do ato sem que a mesma constitua uma violação desse direito ou uma ofensa de uma norma
tuteladora do respetivo interesse.

3 – Culpa
Para que o facto ilícito gere responsabilidade é necessário é necessário que o agente tenha
atuado com culpa. Agira com culpa significa atuar de uma forma que merece reprovação ou
censura do direito. Não basta que o agente tenha praticado um facto voluntário e não basta que
esse facto voluntário seja ilícito sendo também necessário que esse facto possa ser imputado
ao agente, sendo que, quando essa tenha atuado culposamente. A culpa em sentido amplo tem
duas sub-modalidades:

1. Mera culpa ou negligência;


2. Dolo

3.1 – Imputabilidade
Diz-se imputável a pessoa que tem a capacidade natural para prever os efeitos e medir o valor
dos atos e para se determinar de harmonia com o juízo que faça sobre eles ART. 488 CC.

A imputabilidade carateriza-se por:

− Capacidade de entendimento mínimo que permite ao sujeito prever as consequências


dos seus atos;

− Mínimo de liberdade para que o agente se consiga determinar;

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 45 de 61


Para que haja responsabilidade do inimputável é necessário que se verifiquem os seguintes
requisitos:

1. Facto ilícito;

2. Que o facto tenha causado danos a alguém;

3. Que o facto tenha sido praticado em condições de ser considerado culposo e reprovável
se nas mesmas condições tivesse sido praticado por pessoa imputável.

4. Que haja entre o facto e o dano um necessário nexo de causalidade;

5. Que a reparação do dono não possa ser obtida dos vigilantes do inimputável;

6. Que a equidade justifique a responsabilidade total ou parcial do autor em fase das


circunstâncias concretas do caso.

A culpa conforme está previsto no ART. 487 CC exprime um juízo de reprovabilidade pessoal da
conduta do agente, pois que o usante em fase das circunstâncias específicas do caso devia e
podia ter agido de outro modo. É um juízo que assenta num nexo existente entre o facto e a
vontade do autor. Há dolo quando o agente atuou por forma a aceitar as consequências ilícitas
da sua conduta. Diz-se dolosa a conduta quando o agente tendo previsto as consequências
danosas e ilícitas do seu ato não se inibiu de atuar, nada tendo feito para as afastar porque as
admitiu. Há negligência quando o agente atua de forma leviana, sem cuidado ou sem atenção,
sem ter empregue a diligência que o bom pai de família teria tido naquela mesma situação.

3.2 – Modalidades da culpa


O dolo é a modalidade mais grave da culpa. Temos as seguintes modalidades de dolo:

1. Dolo direto – acontece quando o agente atuou para obter a consequência ilícita e
danosa e a obteve; o agente atua intencionalmente para obter o resultado ilícito. (eu
atiro o cigarro aceso para incendiar a mata)

2. Dolo necessário – acontece quando o agente não tinha como objetivo do seu
comportamento o resultado ilícito, mas sabia que o seu comportamento ia ter como
resultado necessário e inevitável o ilícito. ((eu atiro o cigarro aceso e inevitavelmente
ira haver um incêndio)

3. Dolo eventual – é quando o agente prefigura a consequência ilícita e danosa como uma
consequência possível do seu comportamento e não fez nada para a evitar. ((eu atiro o
cigarro aceso e penso que possivelmente poderá incendiar).

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 46 de 61


3.3 – Negligência
A negligência consiste na omissão da diligência exigível ao agente.

Há negligência consciente quando o agente representou a possibilidade da consequência ilícita


e danosa e atuou porque se convenceu que o resultado da sua conduta não iria gerar um
determinado resultado, é o chamado otimista inveterado: Há negligência inconsciente quando
o agente não previu o resultado, não pensou nisso e o resultado ocorreu.

3.4 – Causa de exclusão da culpa


Há circunstâncias que afastam a culpa do agente, ou seja, que fazem com que o agente não seja
objeto de juízo de culpabilidade. Os ART. 337/2 e 338 CC refletem duas causas de exclusão da
culpa. Uma causa de exclusão da culpa é o medo, desde que esse medo apresente duas
características:

1. Essencialidade – tenha sido o medo a causa determinante do comportamento do agente


ou dito de outra forma, o agente só pode ter atuado por causa do medo;

2. Desculpabilidade – o medo constitua uma situação psicológica de intimidação em que


um bom pai de família teria incorrido se estivesse na mesma situação.

3.5 – Presunção de culpa


Sendo a culpa do lesante um elemento constitutivo do direito à indemnização incumbe ao
lesado como credor fazer a prova dela nos termos gerais da repartição do ónus da prova do ART.
342/1 CC. Regra oposta vigora para o caso da responsabilidade civil contratual prevista no ART.
799/1 CC. Na responsabilidade extracontratual por sua vez é ao lesado que incumbe provar a
culpa do autor da lesão ART. 487/1 CC, sendo que existem vários casos em que a lei presume a
culpa do responsável.

4 – Dano
Para haver obrigação de indemnizar a condição essencial é que exista dano, ou seja, que o facto
ilícito e culposo tenha causado um prejuízo a alguém. Os danos podem ser classificados como
sendo pessoais ou materiais.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 47 de 61


Os danos patrimoniais são aqueles que consubstanciam a lesão de interesses avaliáveis em
dinheiro. Temos assim: danos imergentes e lucros cessantes. Os danos imergentes são a
diminuição no património de alguém em consequência de um ato ilícito e culposo de outro. Os
lucros cessantes existem quando em consequência de um ato que gera responsabilidade civil a
pessoa deixa de auferir qualquer coisa que normalmente teria obtido se não fosse o ato que
constitui o agente em responsabilidade.

Existem além dos danos patrimoniais os chamados danos não patrimoniais ou morais, que são
aqueles que se traduzem na lesão de direitos ou interesses insuscetíveis de avaliação pecuniária.
A gravidade do dano é medida por um padrão objetivo e não à luz de fatores subjetivos. Há
situações em que poderá ocorrer a reparação do dano, sendo nesses casos aplicável um juízo de
equidade nos termos do ART. 496/3 e 496/4.

5 – Nexo causalidade entre o facto e o dano


Para que o dano seja indemnizável é necessário que ele seja uma consequência do facto ilícito
e culposo, bem como danoso donde daí decorre um nexo de causalidade. Se estivermos a falar
da responsabilidade objetiva, temos que o facto poderá não ser culposo e poder ser
inclusivamente um facto lícito. Em qualquer caso é obrigatório que exista uma ligação causal
entre o facto e o dano para que o autor do facto seja obrigado a indemnizar pelo prejuízo por si
causado.

Titularidade do direito à indemnização


Tem direito à indemnização o titular do direito violado o do interesse imediatamente lesado.
Nos termos do ART. 496 CC temos que:

1. Quando a vítima morre o direito à indemnização por danos não patrimoniais cabe ao
cônjuge, esteja separado de pessoas e bens e aos filhos ou outros descendeste (no caso
da morte dos filhos os netos têm direito de representação).
2. Não havendo cônjuges e filhos ou outros descendentes, o direito à indemnização passa
a pertencer aos pais ou outros ascendentes.
3. Não havendo, cônjuges, filhos ou descendentes ou pais ou outros ascendentes, o direito
à indemnização pertencerá aos irmãos ou sobrinhos que os representam.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 48 de 61


Sem prejuízo do prazo correspondente à prescrição ordinária (20 anos) que se conta sobre
a data do facto ilícito nos termos dos ART. 498 e 309 CC, o direito à indemnização fundada
na responsabilidade civil extracontratual está sujeita a um prazo curto de prescrição (3
anos). Devido à dificuldade de fazer prova testemunhal no âmbito da responsabilidade civil
extracontratual através de testemunhas o Código de Processo Civil sofreu uma alteração e
passou a permitir as chamadas declarações de parte.

Responsabilidade extracontratual pelo risco ou objetiva


A responsabilidade pelo risco ou objetiva caracteriza-se por não depender da culpa do agente.
A obrigação de indemnizar nasce assim pelo risco próprio de certas atividades e integra-se nelas
independentemente de dolo ou mera culpa. Por força da remissão feita no ART. 499 CC deve
aplicar-se à responsabilidade pelo risco o disposto no ART. 494 CC, assim o facto da
responsabilidade objetiva não depender de culpa do agente, não impede que a indemnização
seja fixada em montante inferior ao dano quando a situação económica do responsável pelo
risco e do lesado e de mais circunstâncias o justifiquem.

Caracter objetivo da responsabilidade


A lei civil assinala o caráter objetivo da responsabilidade do comitente afirmando que ele
responde independentemente de culpa e que a sua responsabilidade não termina pelo facto de
o comissário ter agido contra as instruções recebidas ART. 500/1 e 500/2 CC. A lei não trata
desta questão como sendo uma simples presunção de culpa, pois é indiferente que o comitente
tenha agido sem culpa.

Requisitos: Para que exista a responsabilidade prevista no ART. 500 CC é necessário que se
verifiquem cumulativamente os seguintes requisitos:

1. Que exista entre dois sujeitos jurídicos uma relação de comissão, sendo a comissão uma
relação em que um dos sujeitos realiza um ato isolado ou uma atividade duradoura por
conta e sob as instruções de outrem.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 49 de 61


2. Que o comissário tenha praticado um ato constitutiva para ele de responsabilidade civil,
ou seja, para haver obrigação de indemnizar é indispensável que o ato do comissário
constitua para ele uma obrigação de indemnizar pois só assim haverá a obrigação de
indemnizar para o comitente.

3. Para que haja obrigação de indemnizar pelo comitente nos termos do ART. 500 CC é
necessário que o comissário pratique o facto danoso e constitutivo da responsabilidade
civil no exercício das suas funções.

O exemplo típico da relação comitente e comissário ocorre no âmbito dos contratos de trabalho,
por exemplo caso o motorista tenha um acidente de viação.

Responsabilidade do estado e pessoas coletivas


É aplicável ao estado e às demais pessoas coletivas públicas os termos dos ART. 501 CC quanto
aos danos causados pelos seus órgãos ou seus representantes no exercício de atividades de
gestão privada o regime fixado para o comitente. Assim o Estado e demais entidades coletivas
publicas respondem perante o terceiro lesado, independentemente de culpa, desde que os seus
órgãos, agentes ou representantes tenham incorrido em responsabilidade e gozam do direito
de regresso contra os autores dos danos para exigirem o reembolso de tudo quanto tiverem
pago, exceto se também houver culpa da sua parte.

Responsabilidade por factos lícitos


Poderá ser praticado um ato lícito e ainda assim ser o agente obrigado a reparar o prejuízo que
a sua prática porventura cause a terceiro. A licitude do ato não afasta necessariamente o dever
de indemnizar o prejuízo que o dono da coisa usada, destruída ou danificada sofreu. É por este
motivo que se impõe nuns casos e se admite noutros a fixação da indemnização a cargo do
agente ou daqueles que tiraram proveito do ato ou contribuíram para uma situação de estado
de necessidade ART. 339/2 CC.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 50 de 61


No âmbito da responsabilidade pelo risco, temos ainda que incluir os danos causados pelos
animais ART. 502 CC e os acidentes causados por veículos ART. 503 CC. É importante verificar a
diferença entre o ART. 504 CC e o ART. 496 CC quanto aos beneficiários da responsabilidade.
Assim a responsabilidade pelos danos que são causados por veículos aproveita não só a terceiros
como também às pessoas transportadas. Se se tratar de um transporte gratuito a
responsabilidade abrange apenas os danos pessoais da pessoa transportada. Se o transporte for
efetuado em virtude de um contrato, ou seja, tiver um cunho oneroso a responsabilidade vai
abranger os danos que atingem a própria pessoa e as coisas por elas transportadas.

???????Na responsabilidade por danos causados por animais ou veículos temos ainda que se
enquadra no âmbito da responsabilidade pelo risco os danos causados por instalações de
energia elétrica ou gás ART. 509 CC.

Cumprimento das Obrigações


O cumprimento das obrigações consiste na realização voluntária da prestação de vitória
conforme está estabelecido no ART. 762 CC. Habitualmente o cumprimento é tratado como um
dos modos de extinção das obrigações, no entanto o cumprimento das obrigações e a atuação
dos intervenientes no âmbito da relação obrigacional, estão sujeitos ao respeito por princípios,
nomeadamente ao princípio da boa-fé.

Nos termos do ART. 762 CC temos que da boa-fé podem decorrer deveres principais como o
pagamento e deveres secundários que podem ser acessórios ou laterais da prestação de vida,
deveres instrumentais da realização pontual da prestação ou deveres de lealdade, de conduta
que ele tem que observar. A vinculação à boa-fé do credor no exercício do seu direito resulta
que o direito de crédito tem de ser exercido em conformidade com a boa-fé, isto é, não pode
ser exercido abusivamente sob pena de ineficácia ou até de responsabilidade do credor pelos
danos causados ao devedor no exercício abusivo do direito.

A boa-fé consiste assim em atuar com correção e lisura e circunscreve-se não só ao devedor
como também ao credor. O princípio da boa-fé é assim essencial no âmbito do cumprimento
das obrigações, sendo igualmente relevantes os princípios da pontualidade e da integridade do
cumprimento. O princípio da pontualidade estabelece que a prestação tem de ser cumprida nos
termos exatos em que foi configurada. Como consequência da pontualidade no cumprimento

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 51 de 61


das obrigações temos por um lado a proibição de o devedor estar coisa diversa da devida ainda
que de montante superior à coisa devida salvo se houver acordo do credor ART. 837 CC.

O princípio da pontualidade implica que sem acordo do credor o obrigado não fica desonerado
sem o sem consentimento caso preste coisa diversa o que implica que mesmo que haja uma
dação em cumprimento esta fica dependente do acordo do credor. De igual forma o devedor
não pode exigir a redução da prestação estabelecida entre as partes com fundamento na sua
precária situação económica caso cumprisse a obrigação. Nem ao tribunal será lícito ou
admissível facilitar as condições de cumprimento da prestação. Por fim a prestação de vitória
deve ser realizada integralmente e não por partes, não podendo o credor ser forçado a aceitar
o cumprimento parcial ART. 763 e ART. 837 CC.

Temos ainda o princípio da integridade do cumprimento do ART. 763 CC que diz que mesmo
que o devedor pretenda efetuar uma parte apenas da prestação e caso o credor se recuse a
recebê-la, não há mora do credor mas sim do devedor quanto a toda a prestação de vitória e
não apenas quanto à parte que não se propunha a realizar. Nada impede, no entanto, que o
credor receba apenas, caso queira, uma parte da prestação e nada impede que exija só uma
parte do crédito nos termos do ART. 763/2 CC. A aceitação do credor não evita que o devedor
fica em mora quanto à parte restante da prestação, salvo se houver prorrogação do prazo
relativamente ao cumprimento dessa parte.

Garantias Geral das Obrigações


O cumprimento da obrigação é assegurado pelos bens que integram o património do devedor,
ou seja, será o património do devedor a garantir o pagamento da dívida. O património do
devedor é assim a garantia geral das obrigações. O ART. 601 CC estabelece que os bens do
devedor respondem pelo cumprimento da obrigação e que os mesmos serão objeto da ação
executiva. Temos também que existem bens que são absoluta ou totalmente impenhoráveis e
os que são relativa ou parcialmente penhoráveis.

A lei no ART. 602 CC estabelece uma ressalva ao nível da limitação convencional do objeto da
garantia patrimonial das obrigações. Por sua vez o ART. 601 CC ao dizer que o património do
devedor é a garantia geral das obrigações quer significar que é o património do devedor que
assegura a realização coativa da prestação ou da indemnização, caso a obrigação não seja
voluntariamente cumprida, ou seja, o património é também a garantia comum das obrigações.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 52 de 61


Quer isto dizer, que os credores que não gozem de qualquer direito de preferência sobre os
demais são pagos em pé de igualdade uns dos outros.

O ART. 604 CC distingue quanto à garantia do cumprimento duas grandes categorias de créditos:
aqueles que têm qualquer direito de garantia/preferência e os créditos comuns. Se o devedor
não cumprir voluntariamente no momento próprio e dois ou mais credores recorrerem ao
direito de agressão do património do obrigado, das duas uma: ou os bens do devedor chega
para a integral satisfação dos seus débitos e não se coloca nenhum problema de prioridade
quanto aos credores ou os bens do devedor não chegam para pagar a todos e, nesse caso, o
ART. 604 CC manda dividir o preço dos bens do devedor por todos, de forma proporcional ao
valor dos créditos e sem efetuar nenhuma distinção, ou seja, de forma rateada.

Requisitos dos cumprimentos das Obrigações


1. Capacidade do devedor
Em primeiro lugar a capacidade do devedor não é exigida para a validade do
cumprimento. A capacidade só é exigida no caso de o cumprimento constituir um ato
dispositivo, ou seja, um ato de alienação ou oneração do direito do devedor. Se a
prestação for efetuada por um incapaz a mesma não será válida caso seja um ato de
disposição.

2. Capacidade do Credor
Exige-se que o credor seja capaz de receber a prestação perante quem a obrigação
tenha sido cumprida ART. 764/2 CC.

3. Legitimidade do devedor para dispor do objeto da prestação:


O cumprimento para ser plenamente válido necessita que o devedor possa dispor da
coisa que prestou. A falta de poder de disposição do devedor pode advir de uma de três
coisas:
1. ser alheia a coisa prestada;

2. não ter o devedor capacidade para alienar a coisa;

3. carecer de legitimidade para o fazer, sendo certo que, o devedor quer tenha
agido de boa-fé quer tenha agido de má-fé não pode impugnar o
cumprimento salvo se ao mesmo tempo oferecer uma nova prestação ART.
765/2. Quando o cumprimento for declarado nulo ou for anulado por causa

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 53 de 61


imputável ao credor, não renascem as garantias prestadas por terceiro, salvo
se o terceiro conhecia o vício na data em que soube do cumprimento da
obrigação.

Quem pode cumprir ou quem tem legitimidade para o cumprimento


A regra geral é de que tem legitimidade para o cumprimento tanto o devedor como qualquer
terceiro – isto é o que acontece quando a obrigação é fungível. Se a obrigação for infungível,
natural ou convencional, só pode cumprir o devedor não sendo possível a qualquer terceiro
substituir o devedor no cumprimento. Em todos os casos o terceiro tem legitimidade para o
cumprimento e o credor não tem fundamento para recusar o cumprimento por terceiro (exceto
em caso de infungibilidade da obrigação). O terceiro pode ser interessado no cumprimento por
ser um garante da obrigação: por ser fiador, por ser proprietário de um bem hipotecado ou
penhorado. Se tivermos um caso de um terceiro que não é devedor, mas que cumpre a
obrigação, temos que considerar que ele poderá estar a assumir uma obrigação dele próprio
para com o devedor por ser mandatário desse devedor, ou seja, o terceiro pode ter celebrado
um contrato de mandato com o devedor, nos termos do qual se obrigou a cumprir a obrigação
do devedor.

Lugar de Cumprimento (ART. 772 CC)


No que respeita ao lugar do cumprimento a regra é de que a prestação deve ser realizada no
lugar que as partes tiverem estipulado, ou naquele em que a lei determinar que o cumprimento
deverá ser feito. Não havendo convenção nem estipulação especial na lei, o princípio geral
supletivo é o de que a obrigação cumpre-se no domicílio do devedor.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 54 de 61


Não Cumprimento das Obrigações
O não cumprimento da obrigação significa que a prestação de vitória não foi realizada nem pelo
devedor nem pelo terceiro e que além disso a obrigação não se extinguiu por nenhuma das
outras causas de satisfação além do cumprimento, nos termos do ART. 837 CC. O não
cumprimento é assim a situação objetiva de não realizar a prestação de vitória havendo a
insatisfação do interesse do credor independentemente da causa de onde provém a falta.

Requisitos do cumprimento art. 764 (08.01.2021)


Para que se verifique o cumprimento, temos que apurar se o devedor tem capacidade quer para
os atos de alienação, quer para os atos de oneração. No que respeita à capacidade do devedor,
temos que apurar se a prestação é efetuada pelo devedor capaz ou pelo representante do
incapaz. Além da capacidade do devedor temos também que apurar da capacidade do credor
em receber a prestação ART. 764/2. Por fim, temos que apurar se existe legitimidade do devedor
para dispor do objeto da prestação. O cumprimento para ser plenamente válido implica que o
devedor possa dispor da coisa que prestou. A falta do poder de disposição do devedor pode
derivar de uma de três circunstâncias:

− ser alheia a coisa prestada;


− dnão ter o devedor capacidade para alienar a coisa;
− o devedor carecer de legitimidade para o fazer;

O devedor mesmo que tenha agido de boa fé ou má fé, não pode impugnar o cumprimento,
salvo se ao mesmo tempo oferecer uma nova prestação ART. 765/2.

Quem pode cumprir ou quem tem legitimidade para o cumprimento


A regra geral é a de que tem a legitimidade para o cumprimento tanto o devedor como qualquer
terceiro que poderá ter interesse ou não no cumprimento. Esta é a regra geral que corresponde
aos casos em que a obrigação é fungível. Quando a obrigação é infungível só pode cumprir o
devedor. Portanto se pela própria natureza da prestação ou até por convenção das partes, é o
próprio devedor que tem de realizar o cumprimento, não podendo o terceiro substituí-lo no
cumprimento.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 55 de 61


Casos em que o terceiro, que não é devedor, cumpre a obrigação
O terceiro que cumpre, pode estar a cumprir a obrigação do devedor, cumprindo
simultaneamente uma obrigação dele para com o devedor, nomeadamente por ser mandatário
do devedor. No caso em que o terceiro é mandatário e cumpre a obrigação perante o credor,
temos duas consequências:

− A obrigação extingue-se perante o devedor, ou seja, o devedor fica desonerado;


− O terceiro extingue a sua própria obrigação, ou seja, libera-se da sua própria obrigação;

Por Exemplo: se o Paulo constitui como mandatário a Maria para que esta efetue um pagamento
em seu nome ao Manuel, temos aqui duas obrigações: a obrigação de Paulo pagar ao Manuel
que fica feita com a entrega do dinheiro de Maria ao Manuel e a obrigação de Maria perante o
Paulo que é cumprida quando ela, como sua mandatária entrega o dinheiro ao Manuel.

Lugar do cumprimento art. 772


Nesta matéria a regra é a de que a prestação deve ser realizada no lugar que as partes tiverem
estipulado, ou naquele que a lei determinar que o cumprimento haja de ser feito, ou seja, se
houver convenção das partes, é no lugar convencionado que a prestação deve ser feita (ex: num
contrato de arrendamento que fica estabelecido que o inquilino liquidará a renda na casa do
senhorio até ao dia 8 de cada mês). Se houver disposição legal supletiva e não houver convenção
diversa, é esse o lugar em que a prestação deve ser feita. Não havendo convenção nem
disposição especial da lei, o princípio geral supletivo é de que o cumprimento deve ser realizado
no domicílio do devedor.

Não cumprimento das obrigações


Ocorre quando há uma situação objetiva de não realização da prestação debitória e da
insatisfação do interesse do credor, independentemente da sua causa. Na maioria dos casos o
não cumprimento assenta na falta de ação (prestação positiva) que se exige ao devedor. Pode
também consistir da prática do ato que o obrigado não deveria realizar, são os casos das
prestações negativas ex: as partes convencionam que o devedor se obriga a não aceder a um
imóvel e sem prejuízo do convencionado, ou seja, da prestação negativa assumida, o devedor

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 56 de 61


pode incumprir. O não cumprimento pode definir-se como a não realização da prestação
debitória sem que, entretanto, se tenham verificado quaisquer das causas extintivas da relação
obrigacional. Temos dois tipos de incumprimento que assumem várias subdivisões. O
incumprimento pode ser total, ou seja, vencida a obrigação esta não foi cumprida. O
cumprimento quando é parcial, temos que o devedor cumpriu uma parte da prestação e omitiu
o cumprimento da outra parte da prestação, por ex: António tinha até ao dia 8 de Janeiro de
2021 para liquidar a quantia de 5.000€ à sociedade LL e chegado ao dia 8 apenas liquidou a
quantia de 2.500€, temos então um cumprimento parcial da obrigação, pois continuam em
dívida 2.500€.

Quando estamos perante um incumprimento não qualificado por impossibilidade, podemos


estar perante uma de duas situações:

− Incumprimento temporário, sendo que, nesta situação ainda é possível cumprir e o


devedor não cumpriu encontrando-se numa situação de mora.
− Incumprimento definitivo: o cumprimento não está impossibilitado, mas o credor, fruto
do não cumprimento pontual pelo devedor, perdeu o interesse no cumprimento, por
ex: o Manuel devia pagar a prestação ao António no dia 01 de Janeiro de 2021 e não o
fez nem no dias nem nos 8 dias seguintes. O credor pode assim resolver o contrato por
quanto perdeu o interesse no cumprimento

Modalidades de não cumprimento quanto à causa


Só nos casos de não cumprimento imputável ao obrigado é que se pode falar em rigor técnico
jurídico em falta de cumprimento. Neste particular temos que verificar que existam situações
em que o não cumprimento não é imputável ao devedor e temos ainda que analisar os casos
em que a falta de cumprimento procede de causa imputável ao credor. O ART. 813 estabelece
o regime próprio para os casos de mora do credor. Por outro lado, também o art. 795/2 é
importante pois fixa um desvio ao estabelecido no ART. 795/1 para o caso de a prestação se
tornar impossível por causa imputável ao credor. Não esquecer ART. 813 trata da mora, ou seja,
incumprimento temporário. O ART 795 trata do incumprimento definitivo.

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Modalidade do não cumprimento quanto ao efeito
Há casos em que a prestação, não tendo sido efetuada, já não é realizável no contexto da
obrigação ou porque se tornou impossível ou porque o credor perdeu o direito à sua realização
ou porque sendo ainda materialmente possível perdeu o seu interesse para o credor por se ter
tornado praticamente inútil para ele. O não cumprimento definitivo da obrigação pode, com
efeito provir da impossibilidade da prestação ou da falta irreversível de cumprimento, em alguns
casos equiparada por lei à impossibilidade ART. 808/1. Ao lado destas situações temos ainda os
casos de retardamento ou dilação no cumprimento da prestação. Neste caso a prestação não é
executada no momento próprio, mas ainda é possível continuar a cumprir se continuar a
corresponder ao interesse do credor, ou seja, são as situações de mora do devedor
(incumprimento temporário) que não será convertido em incumprimento definitivo por quanto
o credor continua a ter interesse no cumprimento da obrigação.

Incumprimento imputável ao devedor


Em regra, quando o não cumprimento é imputável ao devedor este incorre em responsabilidade
civil. O ART. 798 é uma disposição paralela à disposição do ART. 483/1 e contém o princípio
geral da responsabilidade obrigacional ou contratual. Para que exista responsabilidade
obrigacional, tem que se verificar os mesmos pressupostos da responsabilidade extracontratual
diferindo apenas de que a responsabilidade contratual tem na sua génese um contrato que
vincula as partes. São pressupostos da responsabilidade civil contratual:

− Facto voluntário do devedor


− Ilicitude
− Culpa
− Dano
− Nexo causal entre o facto e o dano.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 58 de 61


Principais diferenças no regime da responsabilidade civil contratual e extra contratual
1. Quanto à ilicitude
Na responsabilidade civil extracontratual a ilicitude traduz-se na violação de um direito
subjetivo absoluto que em qualquer caso não é um direito de crédito. Por sua vez na
responsabilidade contratual a ilicitude ocorre por violação de um direito de crédito. No
entanto a ilicitude obrigacional pode estar excluída nomeadamente por se verificarem
situações de justificação do incumprimento, por ex: a invocação pelo devedor da
exceção de não cumprimento. Neste caso sendo um contrato sinalagmático e não
havendo prazos diversos para o cumprimento, um dos contraentes pode recusar
licitamente o cumprimento da sua obrigação enquanto outro não se dispuser a cumprir
a dele. Outra causa é a invocação do direito de retenção ART 754 que consiste na
faculdade que o devedor tem de entregar um bem ou de o reter com fundamento no
não cumprimento da obrigação por parte do credor, por ex: no caso em que o inquilino
não entrega o imóvel ao senhorio porque o senhorio é devedor de despesas que o
inquilino suportou e que eram essenciais no imóvel.

2. Culpa
A principal diferença entre o regime da responsabilidade obrigacional/contratual ou o
da responsabilidade extracontratual resulta da presunção de culpa que está consagrada
no ART. 799/1. Na responsabilidade civil extracontratual o ónus da prova da culpa cabe
ao lesado ART. 487/1. Por sua vez na responsabilidade civil contratual a lei presume a
culpa do devedor, assim é ao devedor que incumbe provar que não teve culpa por forma
a afastar a sua responsabilidade. Neste caso temos que o credor para exercer o seu
direito à indemnização não necessita de provar a culpa do devedor uma vez que a culpa
do devedor está presumida. Quanto à forma de apreciação da culpa o ART. 799/2
remete para o art. 487/2, ou seja, a culpa é apreciada na responsabilidade civil
obrigacional tal como na responsabilidade civil extra-obrigacional em abstrato.

3. Quanto aos danos indemnizáveis


Não há uma diferença essencial, no entanto existe uma querela doutrinal quanto a saber
se os danos não patrimoniais são indemnizáveis com fundamento na responsabilidade
contratual.

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 59 de 61


4. Quanto ao nexo de causalidade entre o facto e o dano
No âmbito da responsabilidade contratual segue-se o mesmo critério da
responsabilidade extracontratual, aplicando-se em ambos a regra do ART. 563, a qual é
comum a ambas as formas de responsabilidade

5. Prazo de prescrição
Na responsabilidade extracontratual o prazo de prescrição é o que resulta do ART. 498
que consigna um prazo especial de três anos. Na responsabilidade civil contratual a
obrigação de indemnização prescreve no prazo ordinário de 20 anos

Resolução exercício (V1)

No caso em concreto temos que a responsabilidade civil por danos causados por veículos é
independente da culpa do autor da lesão. Trata-se assim da responsabilidade pelo risco inerente
à circulação dos veículos prevista como exceção à regra geral segundo a qual só existe obrigação
de indemnizar quando concorra a culpa do autor da lesão ART. 483/1. A responsabilidade
independente da culpa só existe nos casos especificados na lei ART. 483/2, o que ocorre no
presente caso. O ART. 503/1 em sede de responsabilidade pelo risco prevê que aquele que tiver
a direção efetiva de qualquer veículo de circulação terreste e o utilizar no seu próprio interesse,
ainda que por intermédio de comissário, responde pelos danos provenientes dos riscos próprios
do veículo, mesmo que este não se encontre em circulação. Portanto, a lei estabelece dois
pressupostos da responsabilidade: que o responsável tenha a direção efetiva do veículo e que o
utilize no seu próprio interesse ou benefício. Apesar de Aníbal não ter culpa no acidente, tal não
releva para a imputação da responsabilidade objetiva porque esta prescinde da culpa. O ART.
503 prevê, no entanto, a exclusão da responsabilidade civil objetiva nos casos em que há culpa
do lesado, e, no caso concreto não é irrelevante o facto de a Belinha ter atravessado
inadvertidamente à frente da viatura do Aníbal. A Belinha é inimputável nos termos do ART.
488/2 o que faz com que não responda pelos danos que pratica nos termos do art 488/1, no
entanto temos que verificar se se aplica o ART. 505. Se o Aníbal conduzia com cautela, de forma
atenta e sem excesso de velocidade nos termos do ART. 505 deverá ser excluída a
responsabilidade de Aníbal porque o acidente é imputável ao próprio lesado ou a terceiro.
Quanto aos danos na sua viatura e verificando os pressupostos da responsabilidade civil
extracontratual, apesar de haver um facto ilícito, causador de danos e haver nexo de causalidade

Paulo Soares - Aulas de Direito das Obrigações 60 de 61


entre o facto e o dano, temos que a Belinha é inimputável e como tal não é passível de
responsabilidade civil extracontratual subjetiva, no entanto a lei estabelece no ART. 489/1 que
o inimputável poderá ser condenado por motivos de equidade a reparar os danos que causa se
não for possível obter a reparação dos mesmos pela pessoa obrigada à vigilância. O ART. 491
consagra expressamente a responsabilidade dos obrigados à vigilância de outrem, assim os
danos são indemnizáveis nos termos dos ART. 564, 496 e 566.

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