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Adquirido por Gustavo Ferreira Santos , gustavo.ferreirasantos@yahoo.com.

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Linhas Jurídicas do Triângulo II

Apoio Alexandre Walmott Borges


Moacir Henrique Júnior
Ricardo Padovini Pleti Ferreira

Concepção, Gustavo Ferreira Santos


revisão e organização Jonatan de Jesus Oliveira Alves
Capa Equipe LAECC
Projeto gráfico e diagramação Equipe LAECC

Laboratório Americano de Estudos Constitucionais Comparados


CNPJ/MF nº 33.097.820/0001-00
Rua Johen Carneiro, 377, Uberlândia – MG
CEP 38.400-070
www.laecc.org.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


________________________________________________________________________________
L755 Linhas Jurídicas do Triângulo II / Alves, Jonatan de Jesus Oliveira; Santos,
2021 Gustavo Ferreira (Organizadores). Uberlândia: LAECC, 2021.
280 p.

Obra Coletiva.
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-88563-30-4.

1. Direito. 2. Ciência Jurídica. 3. Ensino de Direito. I. Alves, Jonatan de Je-


sus Oliveira. II. Santos, Gustavo Ferreira.
CDD: 340 / CDU: 34
________________________________________________________________________________
Catalogação na fonte
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A INTERPRETAÇÃO SISTÊMICA: A BUSCA


POR UMA HARMONIA DAS NORMAS
PROCESSUAIS PENAIS CONFORME A
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

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Jonatan de Jesus Oliveira Alves
Diego Nunes

1. Introdução
O presente artigo discute a interpretação sistêmica a partir da análise da
legislação processual penal, com o objetivo de demonstrar a possibilidade
de sua transição para um Processo Penal mais democrático, nos moldes da
Constituição de 1988, assim como demonstrar, por meio de uma análise
perfunctória do Processo Penal Brasileiro, a possibilidade de utilização
desse método interpretativo na perspectiva da teoria de Claus Canaris
(2018) no campo da legislação processual penal.
Ao se refletir sobre a possibilidade de o ordenamento jurídico ser um
sistema, formado por princípios que lhe são basilares, pensa-se que a análi-
se desse ordenamento como um todo unitário, baseando-se nos conceitos
do pensador alemão Claus Canaris (1998), pode ser uma possibilidade
hermenêutica valiosa.
Nesse espeque, se é possível a existência de um sistema jurídico que in-
fluencie o modo de interpretação, a aplicação e até mesmo a elaboração
das normas, pode-se, então, atrever-se a falar em uma interpretação sistê-
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mica do Direito. Dessa forma, o problema desse estudo consiste em verifi-
car a possibilidade da influência da interpretação sistêmica em relação à
legislação processual penal, no campo de sua efetivação.
O marco teórico desse estudo tem como fundamento o pensamento de-
senvolvido por Claus Canaris, segundo o qual o ordenamento jurídico
organizado pressupõe harmonia e não contradição entre as normas regu-
ladoras. O ordenamento jurídico deve ser pensado, então, como um siste-
ma, analisado no todo não em parte.
Como hipóteses da presente pesquisa se assume como pressupostos: a)
que a hermenêutica jurídica se configura como um método de conheci-
mento clássico no Direito; b) o conceito de sistema jurídico de Claus Ca-
naris/método de interpretação; c) o princípio da supremacia da constitui-
ção, que indica a Constituição ocupando o vértice do ordenamento jurídi-
co, como fundamento último de validade do direito positivo pensado co-
mo um sistema, sendo que suas normas e princípios devem prevalecer
sobre todas as partes do ordenamento, incluindo-se a legislação processual
penal.
O método de abordagem utilizado foi o dedutivo, partindo de proposi-
ções gerais na busca de análises específicas sobre o modo de interpretação
sistêmico, assim como foi utilizado o método de procedimento bibliográfi-
co, buscando obras que se entendem como fundamentais para o desenvol-
vimento do tema.
Num primeiro momento discute-se a hermenêutica como método no
sentido de demonstrar que o processo de interpretação exige um pensa-
mento metodológico, na sequência faz-se uma análise da interpretação
sistêmica de Claus Canaris, na qual se pressupõe uma metodologia baseada
na ordem e na unidade, em seguida, apresenta-se o sistema jurídico Brasi-
leiro com a Constituição de 1988 no vértice desse ordenamento jurídico e
por fim, discorre-se sobre a interpretação sistêmica no processo penal.

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A interpretação sistêmica
2. A HERMENÊUTICA COMO MÉTODO: contra a falácia de que
interpretar não exige um pensamento metodológico
A Hermenêutica consiste em um método de abstrair, por meio da in-
terpretação, as informações que estão no mundo, é um fio condutor, para
resposta a problemas que são postos, em nosso caso, na ciência jurídica.
A Hermenêutica pode ser compreendida como a maneira pela qual inter-
pretamos algo no movimento que interessa e constitui o ser humano, de
formar-se e educar-se. A interpretação decorre de um texto, um gesto,
uma atitude, uma palavra de abertura e relação com o outro, que é capaz
de se comunicar, de interagir (CONTE; SIDI, 2017, p. 1944).
A Hermenêutica, na concepção do presente trabalho, não é o caminho
para a busca de encontrar o “verdadeiro desejo” do legislador, mas, sim,
tentar pensar a realidade, para que haja uma reconstrução do texto, a partir
das bases que são oferecidas no momento em que se interpreta, pensando
que todas as produções humanas podem ser pensadas como textos, dota-
dos de significados (CONTE; SIDI, 2017, p.1945). Pensar o texto para além
de buscar significados, permite verificá-lo, questioná-lo, pensar incoerên-
cias, que podem afetar nos caminhos da pesquisa.
A atitude Hermenêutica traz a possibilidade de revisão de preconceitos
e outras questões que outrora foram pensadas e que agora, no olhar do
hermeneuta, possam ser ressignificadas, não por um pensar definitivo,
mas por um sentido que se faz a partir de quem interpreta, sobre o que
interpreta e que pode ganhar, no futuro, um novo horizonte.
Interessante é pensar que, metodologicamente, uma pesquisa contem-
ple, ao menos: tema, problema, objetivos, marco teórico, entre outros
componentes que formam um traçado, no sentido de responder ou não ao
problema proposto. Todavia, além de todos os tradicionais elementos,
temos a busca pela superação, por um novo olhar sobre o tema, e isso faz
com que todos os elementos perpassem a interpretação. Como pensar o
problema sem que ocorra sua compreensão, observa-se:

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O método hermenêutico pode ser os “óculos” necessários para a pesquisa
na área das Ciências Humanas, porém, com isso não queremos dizer que
ele é o único método de pesquisa que pode ser utilizada na área das huma-
nidades, mas a Hermenêutica pode ser significativa e a única a ser aplicada
em determinadas pesquisas. Como exposto acima, a escolha do método é o
primeiro passo para a organização de toda a investigação científica, diante
disso, entende-se a Hermenêutica como o método e não uma mera técni-
ca. Método que pode expor de forma profunda a realidade (DUARTE;
FARIAS; OLIVEIRA, 2017).
Guilherme Augusto de Vargas Soares e Thiago Fontanive (2018) apre-
sentaram importante texto, que se preocupa com a qualidade dos estudos
sobre metodologia, que, por vezes, reduzem-se a estudos sobre regras da
Associação Brasileira de Normas Técnicas, não apresentando com profun-
didade as possibilidades de método de pesquisa, nesse sentido:
Assim, o método hermenêutico é a autêntica experiência. Porque conside-
ra a finitude do homem, percebe que ele está inserido na tradição, e que
tradição não é somente os acontecimentos passados, mas também, e prin-
cipalmente, linguagem. Portanto, a experiência Hermenêutica vem antes
de qualquer método. Pois, além de deixar o objeto expressar-se natural-
mente, reconhece todo o passado que constitui o sujeito investigador, ou
seja, toda a influência que a história tem sobre ele revela ao sujeito investi-
gador seus pré-conceitos (SOARES; FONTANIVE; 2018).
Para os autores anteriormente citados, o mundo não começa conosco,
não existe um grau zero de compreensão, não há um preconceito autêntico
ou inautêntico e, ao pensar assim, não se deve carregar o temor de que a
Hermenêutica não seja um método digno ou válido e, sim, que a Herme-
nêutica, dadas as suas possibilidades, constitui método importante para a
ciência jurídica.
Para tanto, sem negligenciar outros pensadores que versam sobre o te-
ma Hermenêutica e seu fundamento metodológico, elege-se no presente
artigo Claus Canaris e sua teoria da intepretação sistêmica, que será apre-

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A interpretação sistêmica
sentada sumariamente no próximo tópico.

3. A INTERPRETAÇÃO SISTÊMICA DE CLAUS CANARIS: uma


metodologia baseada na ordem e na unidade
Para Claus Wilhelm Canaris, em seu clássico “Pensamento Sistemático
e o Conceito de Sistema no Direito”, quando se fala em sistema, há dois
elementos que parecem comuns à maioria dos autores — a ideia de ordem
e de unidade. A ordem procuraria levar a que as coisas se tornassem apre-
ensíveis, mais próximas da realidade. De outro lado, a unidade buscaria
evitar uma série de singularidades desconexas (CANARIS, 1998, p.12).
Pensar o ordenamento jurídico como sistema é importante, no sentido
de analisar a possiblidade de sua efetivação alicerçada no princípio da
igualdade e na segurança jurídica. O Direito que não é ordenado em siste-
ma, pode gerar uma série de contradições internas, que podem ser terríveis
para o jurisdicionados (CANARIS, 1998, p. 22).
Um ordenamento pensado como um sistema permite maior segurança
jurídica e uma relação de maior estabilidade, inclusive possibilita uma
direção semelhante, tanto para as decisões judiciais, como para a elabora-
ção da legislação, que fazem com que exista um sentido no todo, pois as
partes passam a ser um todo bastante complexo e interligado, dificultando
o espaço para contradições que podem advir do próprio ordenamento
jurídico.
Imagine-se que, ao analisar um artigo do Código Penal, todos possam
abstrair dali o que bem entenderem, sem que haja qualquer relação com o
restante do sistema jurídico, no qual está inserido. Isso geraria uma sensa-
ção de incerteza, de insegurança, que colocaria todos os jurisdicionados
em estado de alerta, inclusive tal atitude aproximaria o cidadão de um
modelo de Justiça muito próxima ao autoritarismo, à medida que nunca se
saberia o que realmente esperar do Estado.
Deslocar a legislação de modo a possibilitar uma Hermenêutica de
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qualquer coisa sobre qualquer coisa, é dar espaço para discricionaridades
absurdas e ofensas terríveis aos direitos pré-estabelecidos de uma socieda-
de. Admitir a existência de um sistema é condição de possibilidade para a
ideia de efetivação do que entende por sendo direito, em determinada épo-
ca.
Claus Canaris (1998, p. 23) informa que “[...] o conceito de sistema é,
no entanto, o traduzir e realizar, a adequação valorativa e a unidade interi-
or da ordem jurídica”. Desse modo, um sistema jurídico teria que ter uma
“espinha dorsal” que permitisse que os passos dados sob o seu espectro
fossem dotados de uma essência comum.
No mesmo diapasão, essa essência comum teria como caminho os
princípios gerais do Direito (embora não só eles); não que os princípios
não entrassem em contradição entre si, ou não comportassem exceções ou,
por vezes, tenham que ser efetivados em normas, mas parecem ser o cami-
nho mais seguro, leciona o autor alemão:
Com a definição do sistema como uma ordem teleológica de princípios ge-
rais de Direito, ficou determinado, nas suas características mais importan-
tes, o conceito de sistema; no entanto, são necessárias, ainda, precisões
nalguns pontos. Duas qualidades do sistema desempenham, na discussão
jurídica atual, um papel largo que ainda não foi abordado, no decurso, já
efetuado, da investigação e que se vai examinar de seguida: a «abertura» e a
«mobilidade» do sistema (CANARIS, 1998, p.103).
Um ordenamento jurídico não é estático, mas dinâmico, assume a es-
trutura de historicidade, mas essa abertura não pode ser tamanha ao ponto
de se permitir a inserção de qualquer coisa sobre qualquer coisa, pois pode
colocar em risco a ordem e a unidade estabelecidas.
Nesse sentido, a interpretação sistêmica pode, inclusive, ser usada na
solução de lacunas que surjam no ordenamento. Essa análise não parte de
algo externo, mas da essência do ordenamento, de seus valores constituti-
vos, que são capazes de sanar casos interpretativos, esse ethós interno são

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A interpretação sistêmica
os princípios gerais, eles são a espinha dorsal que estrutura o sistema
(CANARIS, 1998, p. 170-171).
O ordenamento jurídico como sistema, alicerçado em seus princípios
gerais, previne a contradição, de modo a incluí-la no todo pré-existente da
ordem jurídica, se ela não se enquadra, ela não se constitui (CANARIS,
1998, p.173). Se uma norma for totalmente contrária ao sistema jurídico
em que ela nasce, o que se resolverá é a interpretação sistemática e então
preenchimento da lacuna (CANARIS, 1998, p.285).
Para Edihermes Coelho (1995, p. 18), Claus Canaris parte da caracteri-
zação de Kant, na ideia de que “sistema seria unidade, sob uma ideia de
conhecimentos variados, um conjunto de conhecimentos ordenados se-
gundo princípios”. Na mesma esteira, afirma o autor que “[...] o sistema
jurídico com estrutura (não estanque) tende a realização da ideia de justi-
ça,” o sistema há de representar, juridicamente, um dimensionamento
axiológico e teleológico do Direito (COELHO, 1995, p. 36)
Dessa forma, Coelho (1995, p. 38), com base em Canaris, afirma que o
Direito é um subsistema social, sendo a Constituição a sede fundamental
das diretrizes do conteúdo do Direito. Tem-se que o subsistema constitu-
cional é o grande eixo de ligação dos subsistemas jurídicos, na formação
do ordenamento como um todo.
Nesse sentido, por estar a Constituição no eixo de todo o ordenamento,
não existe outro caminho senão aceitar que dela emana uma série de valo-
res, que formam o entendimento do intérprete.

4. O SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO: a Constituição de 1988 no


vértice do ordenamento jurídico
De fato, os “valores superiores” do ordenamento jurídico Brasileiro não
podem ser pensados fora da Constituição. A Carta Magna é a positivação
de uma série de lutas históricas, e buscar consagrar seu conjunto de prin-
cípios é, sem dúvida, dar sentido à busca pela democracia e pela efetivação
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do Direito à sua luz.
Traz-se como exemplo o Direito à liberdade, regulamentado pelos inci-
sos XVI1 e LIV2 do artigo 5º da Constituição, onde, de maneira expressa,
são regulamentados, e ainda pode ser encontrado de maneira esparsa,
quando se fala da questão da liberdade de culto, por exemplo. Não resta
dúvida de que o Direito à liberdade tem valor indiscutível em nosso orde-
namento jurídico, irradia por todo sistema e faz com que a legislação lhe
faça reverência.
Pensa-se também no Direito à vida, que está no caput do artigo 5º3 da
Constituição e que, por muitas vezes foi violado, até mesmo pelo próprio
Estado, como no caso do Nazismo na Alemanha. Esse Direito é materiali-
zado na Constituição de Federal de 1988, demonstrando ao hermeneuta a
importância de levá-lo em consideração quando da abstração do conteúdo
na norma ou de outro princípio a ser observado dentro da legislação con-
vivente com a Constituição de 1988. Nessa toada, informa Edhermes Coe-
lho (1995, p. 49):
Tais fatos por si só exaltam a importância da consagração do Direito à vida
(art. 5°, 'caput’). Trata-se de uma proteção (imutável, par força do disposto
no § 4° do artigo 60, C.F./88) de duas faces: a vida contraposta à possibili-
dade de arbítrio estatal e a vida contraposta à própria atuação civil. Mais:
importa já uma realização parcial do Direito à dignidade humana.
Não se deve esquecer da igualdade, também estampada no artigo 5º
(CF/88), conforme já citado alhures, que contempla uma teia de sentidos,
mas é indubitável que a Constituição de 1988 determina a potencialidade

1 XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fun-
damentais;
2 LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;
3 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantin-
do-se aos Brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
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do Estado Democrático de Direito intercruzando-se com a própria liber-
dade, principalmente quando se fala em igualdade de todos perante a lei.
Da mesma forma, não se deve negligenciar a dignidade humana, que é
elementar à Constituição de 1988, pois não basta ter vida, se não há uma
vida digna, com alimentação, educação, vestuário e todo o mínimo neces-
sário ao cidadão. Nesse sentido, questiona-se: de que adiantam liberdade,
igualdade, se não há dignidade para seu desenvolvimento?
Podemos pensar esses quatro princípios (vida, liberdade, igualdade e
dignidade) como basilares da Constituição, assim sendo, todo o ordena-
mento jurídico deve-lhes respeito, de forma que, embora, o texto Consti-
tucional tenha sido elaborado em um contexto de disputas sociais, políti-
cas e jurídicas, tais princípios, por serem direitos fundamentais do cida-
dão, não podem ser negados ou contrariados por atos de autoridade públi-
ca ou mesmo por outros cidadãos em sua esfera privada4.
Todavia, o respeito aos princípios da Constituição não é tema levado a
sério por muitos na interpretação da norma, melhor dizendo, o modo de
interpretação finda por gerar uma série de debates. Lênio Streck (2014) faz
uma crítica interessante à questão, apontando que o “modus interpretati-
vo” atualmente utilizado praticamente não se alterou nas últimas décadas.
Assim leciona:
Como o saber “operacional”, domina no âmbito do campo jurídico o mo-
delo assentado na ideia de que o processo interpretativo possibilita que o
sujeito (a partir da certeza-de-si-do-pensamento-pensante, enfim, da sub-
jetividade instauradora do mundo) alcance a “interpretação correta”, o
“exato sentido da lei”, “o verdadeiro significado do vocábulo”, “o real sen-

4 Claus Wilhelm Canaris é autor do clássico Direitos Fundamentais e Direito Privado,


em que defende a teoria de que os direitos fundamentais se constituem em deveres de
proteção dos direitos fundamentais pelos cidadãos, inclusive no âmbito de sua atua-
ção privada. Não se aprofundou mais na questão, pois foge bastante do escopo do
presente artigo, que está muito mais preocupado com o método de interpretação sis-
temático.
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tido da regra jurídica” etc. Pode-se dizer que o pensamento dogmático do
Direito acredita na possibilidade de que o intérprete extrai o sentido da
norma, como se estivesse contido na própria norma, enfim, como se fosse
possível extrair o sentido-em-si-mesmo (STRECK, 2014, p. 69).
Acentua ainda Streck, (2014, p. 71) que a interpretação do Direito, no
Brasil, assume uma postura totalmente sincrética, busca soluções ad hoc, e
a produção jurídica então seria um pronto-socorro jurídico para solucio-
nar casos. O referido autor destaca ainda que todos os textos jurídicos-
normativos somente podem ser considerados válidos, se interpretados
conforme a Constituição, e a sua compreensão é condição de possibilidade
para a interpretação, alertando que, se isso não ocorreu, é porque não há
compreensão (STRECK, 2014, p. 69).
Para Lenio Streck (2014, p. 113) as Constituições democráticas do sécu-
lo XX assumem um lugar de destaque, pois são normas diretivas funda-
mentais, dirigem o poder público e condicionam os particulares assegu-
rando, inclusive, a realização de direitos sociais. Assim leciona:
No paradigma instituído pelo Estado Democrático de Direito, não parece
restar dúvida de que houve uma alteração substancial no papel a ser de-
sempenhado pelas Constituições. Seus textos possuem determinações de
agir; suas normas possuem eficácia, já não sendo mais lícito desclassificar
os sentidos exsurgentes desse plus normativo representado pela ideia de
que a Constituição constitui-a-ação do Estado (STRECK, 2014, p. 69).
Assim sendo, Streck (2014, p. 69) informa que o legislador inclusive es-
tá vinculado a um DNA do Direito, que faz com que seja obrigado a obe-
decer à coerência e à integridade do Direito. Ou seja, as liberdades encon-
tram limites no próprio texto Constitucional, pois estamos diante de uma
Constituição compromissária e de grande força normativa.
Dessa forma, considerando o texto constitucional no ápice do ordena-
mento jurídico, não existe outro modo de pensar o restante do ordena-
mento, sem pensar no crivo dos princípios que dela emanam, o que não é
diferente com o Processo Penal Brasileiro.
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5. A INTERPRETAÇÃO SISTÊMICA NO PROCESSO PENAL: aplicação


da Constituição
Quando se fala acerca do Processo Penal Brasileiro, logo vem à mente a
ideia de suas raízes, de modo que temos o chamado processo inquisitório e
o processo acusatório, sendo ambos frutos de situações distintas, mas tive-
ram grande influência na construção da legislação processual penal Brasi-
leira.
O sistema inquisitório é incompatível com o Estado Democrático de
Direito, eis algo que é inconteste quando se aborda o Processo Penal. Tal
postura, que ainda é usada de um ponto de vista prático no Brasil, revela
uma falta de interpretação voltada para um sistema jurídico, que tem por
estrutura os princípios que devem obediência à Constituição.
Tal denominação deriva-se da inquisição na Europa, teve sua possível
origem a partir de 1229, com o Tratado de Paris. Teria surgido para com-
bater as heresias, que eram considerados pecados cometidos em desfavor
dos dogmas da Igreja Católica. Inclusive surgiu codificação de regras para
combater os interesses e ideologias da Igreja (BITTAR, 2017, p. 240).
O Tribunal do Santo Ofício, ou Tribunal de Inquisição, deixou terríveis
marcas na Europa, inclusive, demonstrou total destempero, à medida que
era um tribunal de natureza ideológica, que não permitia o contraditório e
a ampla defesa, como se verá em sequência.
No Brasil, o Tribunal de Inquisição desembarcou nessas terras no sécu-
lo XVI, com o objetivo de cuidar dos novos possíveis fiéis em colônia tão
próspera, assim se observa:
Tendo de atentar para a existência de todo tipo de corrupção, desvio de
conduta e desvalor religioso, a Inquisição não descurou nem um pouco do
foco mantido sobre os cristãos-novos, que se tornaram alvo principal das
perseguições. Essa ampla perseguição contra a blasfêmia e a heresia con-

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verteu-se quase num movimento silencioso e disfarçado de dizimação ét-
nico-religiosa no que tange à população de cristãos-novos radicada em ter-
ras Brasileiras (BITTAR, 2017, p.240).
O procedimento empregado para perseguição à heresia, à blasfêmia, à
bruxaria e a outros males que preocupavam a Igreja e o Santo Ofício era o
inquisitivo, que atribuía liberdade de investigação, de acusação e de prova
pelo próprio juiz da causa (BITTAR, 2017, p.248).
Não se utilizava o princípio da verdade real, mas o processo estava liga-
do à falácia real, pois todo o processo era instruído no sentido de ver com
que o acusado fizesse a confissão, reconhecesse sua falta perante Deus. A
ampla oportunidade de provas era apenas para a acusação, a defesa era
praticamente tolhida, inclusive aqueles que se aventurassem poderiam ser
condenados, por apoiar hereges (BITTAR, 2017, p.253).
Assim, denomina-se sistema inquisitório aquele que não permite a
existência do contraditório e da ampla defesa, e que tenha por finalidade,
por meio do processo, a condenação do réu, a qualquer preço e a qualquer
custo.
Em sentido contrário, o sistema acusatório, no qual se asseguram as ga-
rantias de um devido processo legal, nasceu na Inglaterra no final do Sécu-
lo XII e início do XIII, a partir das chamadas forms of action. Nelas, sobre-
tudo pelos writs, estrutura-se um modelo de processo de partes, sobretudo
após a criação do Trial by Juri.(COUTINHO, 2018, p. 112). No mesmo
sentido:
O Processo Penal acusatório caracteriza-se, portanto, pela clara separação
entre juiz e partes, que assim deve se manter ao longo de todo o processo
(por isso de nada serve a separação inicial das funções se depois permite-se
que o juiz atue de ofício na gestão da prova, determine a prisão de ofício
etc.) para garantia da imparcialidade (juiz que vai atrás da prova está con-
taminado, prejuízo que decorre dos pré-juízos, como veremos no próximo
capítulo) e efetivação do contraditório (LOPEZ JUNIOR, 2000, p.59).

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A interpretação sistêmica
No Brasil, como já dito anteriormente, o sistema processual inquisitori-
al é incompatível como Estado Democrático de Direito, pois este tem co-
mo elemento a possibilidade de o cidadão defender-se de algo que é acusa-
do, pois pode estar sendo submetido à algum tipo de injustiça. Essa afir-
mativa pode ser dada sem que ocorra um grande esforço, se partirmos do
princípio de que o contraditório e a ampla defesa estão previstos expres-
samente no texto constitucional.
Porém, mesmo diante da ideia de constituição, informa-se que o mode-
lo de Código Processual Penal Brasileiro nasceu no Estado Novo, perma-
neceu de pé com sua derrocada e continuou firme na ditadura civil-militar
Brasileira, e também em relação à Constituição que se apresentava total-
mente incompatível com seu viés autoritário.
A redação do Código Penal de 1941, foi capitaneada por Francisco
Campos, um dos grandes teóricos do autoritarismo do Brasil, Ministro da
Justiça do Governo Vargas, conhecido como “Chico Ciência” (LOPES
JUNIOR; OLIVEIRA, 2018, p. 344), e já sabendo das críticas que a ele po-
deriam ser tecidas em seu preâmbulo informou:
XVIII – Do que vem de ser ressaltado, e de vários outros critérios adotados
pelo projeto, se evidencia que este se norteou no sentido de obter equilí-
brio entre o interesse social e o da defesa individual, entre o direito do Es-
tado à punição dos criminosos e o direito do indivíduo às garantias e segu-
ranças de sua liberdade. Se ele não transige com as sistemáticas restrições
ao poder público, não o inspira, entretanto, o espírito de um incondicional
autoritarismo do Estado ou de uma sistemática prevenção contra os direi-
tos e garantias individuais (BRASIL, 1941).
Da leitura acima, resta evidente o nascimento de um processo penal
com ranço inquisitivo, que, no entanto, ainda persiste na mentalidade
jurídica dos diversos atores do sistema jurídico-penal, e em grande parte
na própria legislação, visto que, seu principal instrumento normativo, o
Código de Processo Penal, está em vigor até os dias atuais, apesar de recor-
rentes alterações pontuais.
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Para uma reflexão, a título de exemplo, o artigo 156 do Código de Pro-
cesso Penal é prova disso, tanto na redação original como na atual5, pois
permitia – e permite – ao magistrado procurar pela prova de ofício, e não
primar para que as partes a levem até seu conhecimento em audiência,
fazendo que o mesmo juiz que julga, é aquele de certo modo procurou pela
prova.
Tendo em consideração que estamos diante um sistema penal com
princípios processuais que estabelecem um modelo acusatório, e as partes
são capazes de litigar, não haveria a necessidade de o juiz buscar provas.
Dessa forma, se é o Ministério Público que acusa, por exemplo, a tal órgão
cabe arrimar suas alegações, e não ao magistrado cabe buscar provas das
alegações de tal órgão, e muito menos é tarefa da defesa provar que não
ocorreu, pois alegar e não provar é o mesmo que não alegar, ao menos é
assim que ensinam.
No mesmo diapasão, existe um duplo viés na sociedade Brasileira,
quando se fala em Processo Penal: de um lado, os meios de comunicação e
a sociedade influenciada por eles, que afirmam que não se pune no Brasil;
de outro, boa parcela dos juristas critica o caráter extremamente autoritá-
rio e punitivista do Processo Penal Brasileiro (LOPES JUNIOR; OLIVEI-
RA, 2018, p. 344).
Infelizmente, o Processo Penal, para muitos, serve como um meio de
“desinfecção social”, como a eliminação dos indesejados, instrumento de
defesa social, que finda por representar o Estado no qual está inserido. Por
isso, muito importante é pensar que Processo Penal é pretendido a partir

5 Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao
juiz de ofício:
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporci-
onalidade da medida;
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de
diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. (BRASIL, 1941)
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A interpretação sistêmica
do modelo de Estado desejado (LOPES JUNIOR; OLIVEIRA, 2018, p.
344).
Por vezes, essa visão midiática, explica a visão atual que se tem do Pro-
cesso Penal, como um instrumento punitivo:
Ao se valer do processo como ferramenta punitiva ou pretender as solu-
ções para os problemas da segurança pública através dele, este resta desvir-
tualizado de sua função precípua (...) Nesta lógica, comumente se realiza a,
muitas vezes falsa, associação de justiça com condenação, o que faz com
que um desfecho absolutório em uma decisão seja sempre creditado de fa-
tores espúrios que não permitam a realização do justo, criando expectati-
vas de que a justiça só advém com uma condenação, o que influencia a
postura do magistrado (LOPES JUNIOR; OLIVEIRA, 2018, p. 348).
Basta uma análise da quantidade de prisões preventivas no Brasil, a di-
ficuldade que se tem de conseguir a liberdade em uma série de crimes,
mesmo como todos os requisitos presentes no Código de Processo Penal
sendo favoráveis para tal, por vezes se esquece de que a liberdade é regra
conforme a Constituição de 1988, e a prisão é exceção a tal regra.
Como dito em oportunidade outra, neste texto, existem princípios que
são o cerne da Constituição de 1988, e ela é o cerne do ordenamento jurí-
dico, como se pode atrever a pensar, então, uma interpretação do Código
de Processo Penal sem uma filtragem constitucional.
A filtragem constitucional ocorre por meio da chamada interpretação
sistêmica, que, nos moldes de Claus Wilhelm Canaris, é a interpretação
com base nos princípios do Direito, o que permite que se tenha mais or-
dem e unidade no sistema jurídico e se evite a insegurança jurídica.
Em havendo uma interpretação sistêmica e em se pensando a Consti-
tuição como o vértice de nosso ordenamento jurídico, mesmo sendo o
Processo Penal anterior à Constituição, não existe possibilidade de exis-
tência de um processo que não privilegie os princípios que permeiam o
Estado Democrático, sobretudo o da dignidade da pessoa humana.

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O Processo Penal é apenas uma parte do todo, a leitura da norma pro-
cessual penal sempre deve ser feita com atenção à Constituição Federal.
Todavia, mesmo com a aprovação do texto constitucional, sempre foi fla-
grante o desrespeito à Constituição e aos princípios do ordenamento jurí-
dico, de modo que a Lei n.º 13.964/2019, consagrou expressamente no
Código de Processo Penal que: “Art. 3º-A. O Processo Penal terá estrutura
acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substitui-
ção da atuação probatória do órgão de acusação”.
A alteração legislativa é uma confissão de que a interpretação sistêmica
não é utilizada em nosso ordenamento jurídico, pois se tal interpretação
fosse levada a sério, não haveria necessidade de alteração legislativa para
dizer o óbvio, que ao juiz não cabe acusar, que as provas devem ser produ-
zidas em audiência para sua convicção mediante o contraditório e a ampla
defesa.
A alteração legislativa ora exposta (artigo 3º-A) não consegue contem-
plar um desmonte de todo o autoritarismo presente no Código de Proces-
so Penal. É necessário aceitar que existe uma Constituição e que seus prin-
cípios são os guias de um sistema jurídico, e que devem ser levados em
conta no momento da atividade tanto do legislativo como do judiciário.

6. Conclusão
Em primeiro momento, conclui-se que a interpretação sistêmica é um
método, de como se interpretar o Direito, pensando o ordenamento de
uma forma integrada e unitária, de modo que através de tal método, pode-
se buscar uma maior segurança jurídica para os jurisdicionados, bem co-
mo uma coerência nas decisões judiciais, bem como nas elaborações do
legislativo.
O hermeneuta, com base em sua interpretação, pode desconstruir ou
reconstruir o texto, de modo a buscar o caminho para resposta de sua pes-
quisa, seja tal resposta negativa ou positiva, para chegar em seu objetivo, é
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A interpretação sistêmica
necessária a interpretação.
Nesse sentido, ficou claro que, para Claus Wilhelm Canaris, a Herme-
nêutica jurídica pode se valer do método da interpretação sistemática, no
qual se pensa o ordenamento jurídico como um todo, com a ideia de or-
dem e unidade, capaz de evitar a insegurança jurídica, pois tudo de alguma
forma estaria interligado por princípios basilares.
Neste espeque, pensando que as constituições modernas são o ápice dos
ordenamentos jurídicos, a Constituição de 1988, que dirige todos os seus
esforços em direção ao Estado Democrático de Direito, é dotada de princí-
pios, tais como a liberdade, a igualdade, a vida e a dignidade da pessoa
humana, que são a essência dos valores que um sistema jurídico deve irra-
diar pelo restante do ordenamento.
Quanto ao Processo Penal, embora em sua exposição de motivos Fran-
cisco Campos tente evidenciar que se trata de algo alheio ao período em
que foi criado – Estado Novo Varguista – o Código de Processo Penal (De-
creto-Lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941) trouxe consigo um forte
ranço inquisitivo, que vem sendo combatido pela luta constante dos juris-
tas em lhes apresentar uma filtragem constitucional, somado às mudanças
introduzidas pelas mãos do legislador, e dessa forma, buscando garantir
alterações importantes rumo ao que se entende como sistema acusatório.
Dessa forma, ainda que as alterações legislativas sejam importantes, o
método de interpretação sistêmico é condição de possibilidade para um
Processo Penal muito mais democrático, aproximando-se muito mais dos
princípios estruturantes de Constituição de 1988, de onde se extrai clara-
mente um modelo acusatório e garantista de Processo Penal. Porém, de
nada adianta nova legislação, se os velhos vícios de um processo penal
autoritário continuarem a existir no pensamento e atitudes dos atores jurí-
dicos do sistema processual penal.
É inaceitável que cada juiz ou tribunal produza de maneira arbitrária e
discricionária seu próprio Processo Penal, sendo imprescindível o reco-

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nhecimento de que deve haver uma linha mestra orientada pelos princí-
pios constitucionais, para que não se manifeste na população a increduli-
dade no sistema jurídico vigente.
Por fim, afasta-se então, a falácia de que o modo de interpretar não faz
parte da metodologia jurídica, em especial daquela lastreada em valores e
expressa em princípios constitucionais que devem informar a todos os
aplicadores do Direito positivo, a ser pensado sempre como um sistema
jurídico.

Referências
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