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Rio de Janeiro
2016
PAULO RENATO CAVALCANTI DE OLIVEIRA
Rio de Janeiro
2016
DEDICATÓRIA
This dissertation aims to evaluate the relevance of habeas corpus action to the Brazilian
legal system throughout the history of Brazil, and its interrelation with the political events
that followed. To that end, we look at the thought of lawyers such as Rui Barbosa, Pedro
Lessa, Miranda Bridges, Hélio Tornaghi, Magalhaes Noronha, Heleno Claudio Fragoso,
among others who have dedicated themselves to legal letters in the course of the twentieth
century, the way in the institute was understood in the classical doctrine. Later work sought
to make a deep incursion into habeas corpus Institute today, in order to understand its
technical contours, for, through the diversity of the classical thought, try to understand their
real applicability and practical effectiveness. Finally, the dissertation penetrates the
jurisprudence of the Supreme Court, by a statistical, quantitative and qualitative analysis of
the decisions published in the jurisprudence of informational compilations of the years
2012, 2013 and 2014, in order to assess through one semiolinguistics discourse analysis,
refractory defensive jurisprudence compatibility to habeas corpus substitute feature, with
the principle of effective access to justice and the democratic rule of law. Without losing
sight of the libertarian tradition of the Brazilian judicial function, the dissertation sought to
develop a critical analysis of the decision by Minister Marco Aurélio Mello in HC 109,956
on August 07, 2012. The compilation of statistical data was based on the years 2012, 2013
and 2014, precisely because the decision of Minister Marco Aurélio Mello was a
watershed, with respect habeas corpus substitute.
Keywords: Habeas corpus. Classical thought. Modern thought. Decisions by the Supreme
Court. Principle of access to justice. Democratic state.
SUMÁRIO
2 – O paciente --------------------------------------------------------------------------------- 46
O HABEAS CORPUS
Capítulo I – INTRODUÇÃO
ideias são desenvolvidas, buscou-se fazer uma análise detalhada do instituto do habeas
corpus no Brasil, por meio de um método dedutivo e comparativo, onde o instituto foi
observado não só pelo ponto de vista histórico, mas também pelo ponto de vista técnico
jurídico, não deixando, no entanto, de fazer uma análise jurisprudencial das decisões acerca
do habeas corpus substitutivo, especialmente no âmbito do Supremo Tribunal Federal,
tendo sido utilizado também, como instrumento, o método estatístico quantitativo.
O capítulo dois buscou desenvolver um estudo histórico do instituto do habeas
corpus para tentar compreender a variação que a ação sofreu ao longo da história política
brasileira, objetivando constatar como o instituto evoluiu, verificando também as eventuais
alterações ocorridas por conta das crises políticas que se desenvolveram no cenário
nacional. A importância desse capítulo, que dialoga com a obra clássica de Pontes de
Miranda – História e Prática do Habeas Corpus, é possibilitar uma visão ampla da ação de
habeas corpus, bem como o pensamento clássico dos juristas brasileiros. Permite observar,
também, como era o tratamento dado ao habeas corpus ante as diversas correntes
ideológicas que estiveram no comando do Poder Executivo, e como a liberdade de
locomoção foi tratada ao longo da história do Brasil. O próprio conceito de liberdade sofreu
alterações ao longo da história, em razão das peculiaridades sociais de cada época, assim
como o direito de liberdade, igualmente a ação de habeas corpus, seu principal recurso de
defesa, experimentou variações ao longo do tempo.
O habeas corpus, em sendo uma ação ou um recurso, conforme o pensamento
de alguns doutrinadores, possibilita, por meio do seu estudo histórico, observar toda a
evolução teórica doutrinária que permeou o estudo jurídico clássico no Brasil, passando,
desde uma legitimidade ativa restrita, por questões ligadas à cidadania, pela discussão
relativa à amplitude do direito de liberdade possível de ser resguardado pela via do habeas
corpus, até chegar aos contornos que o instituto apresenta nos dias de hoje.
O capítulo três faz uma análise do pensamento moderno a respeito da ação de
habeas corpus, com suas peculiaridades técnicas após a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988. O trabalho buscou na doutrina moderna, explorar as
divergências doutrinárias a respeito do instituto, a fim de melhor poder compreende-lo na
atualidade, bem como observar os pensamentos predominantes, para delinear o atual
3
conceito do direito de liberdade, as possibilidades da sua proteção pela via judicial, bem
como a forma pela qual a ação de habeas corpus se insere nesse contexto.
A compreensão do pensamento moderno a respeito do habeas corpus permite
fazer uma comparação com o pensamento clássico, possibilitando, dessa maneira, um
melhor entendimento do instituto. Observando-se os seus contornos atuais, em confronto
com a sua sistemática do passado, é possível, não por meio da similaridade, mas pela
diferença, entender a real finalidade, amplitude e eficácia que o habeas corpus efetivamente
tem ou deveria ter nos dias de hoje. Além disso, por meio do estudo comparado, é possível
também compreender mais profundamente as mudanças ocorridas no seio da sociedade,
suas peculiaridades e evolução, bem como os seus reflexos no pensamento jurídico
brasileiro. Não há meio melhor para se compreender o presente, que não seja o de se
conhecer o passado.
No quarto capítulo do trabalho foi realizada uma análise estatística
jurisprudencial das decisões proferidas em ações de habeas corpus no Supremo Tribunal
Federal nos anos de 2012, 2013 e 2014. Os dados foram extraídos da compilação de
informativos do site do Supremo Tribunal Federal. Cumpre ressaltar que nessas
compilações de informativos não estão descritos todos os habeas corpus decididos no ano
pela Corte Constitucional brasileira, mas eles trazem uma amostragem considerável, que
permite uma observação geral das ações decidida Supremo Tribunal Federal, em
determinado período de tempo, possibilitando a obtenção de dados interessantes, que
viabilizam uma observação ampla, para se chegar a conclusões quantitativas e qualitativas
quanto às decisões proferidas no Supremo Tribunal Federal, pelo menos no que diz respeito
ao período de tempo relativo à coleta de dados.
O capítulo quatro do trabalho dialoga, principalmente, com parte da obra de
Patrick Charaudeau, com o livro de Eugeniusz Cruz e com o pensamento de Lênio Streck.
O primeiro autor foi utilizado na análise semiolinguística da decisão de 2012, proferida
pelo Ministro Marco Aurélio Mello no paradigmático HC 109956, marco inaugural da
mudança de posicionamento jurisprudencial no Supremo Tribunal Federal, onde procurou-
se observar o dito e o não dito na decisão, para fazer uma análise do conteúdo do discurso
utilizado na fundamentação em comparação com o sistema adotado no estado democrático
de direito. O segundo autor trouxe como contribuição à ideia da existência de resquícios
4
1 BREVE HISTÓRICO
1
AMARAL. Thiago Botino. Revista Brasileira de Ciências Criminais. Editora Revista dos Tribunais. 2001
2
CRETELLA JUNIOR. José. Curso de Direito Romano, 20ª edição, Editora Forense. 1996
6
Roma, mas por volta de 1.215, na Magna Carta Libertatum, imposta pelo clero e pelos
barões à João I, Rei da Inglaterra.
Na Inglaterra, no período da idade média, o rei João I, denominado
João Sem Terra, em razão de não ter sido contemplado com terras, deixadas por seu pai, o
rei Henrique II. acostumado com as facilidades da vida na corte, passou a adotar um
comportamento extremamente despótico, cobrando impostos escorchantes e efetuando uma
série de prisões arbitrárias. Os barões 3, proprietários de terra à época, e o Clero impuseram
à João Sem Terra a chamada Magna Carta Libertatum para coibir os abusos praticados.
Nela fizeram inserir uma ação para garantir o direito de liberdade. Os efeitos da Magna
Carta Libertatum, no entanto, tiveram pouca duração, tendo em vista que foi revogada pelo
rei João I, em agosto de 1.215. É bem verdade que, em 1216, subiu ao trono, o rei Henrique
III, filho de João Sem Terra, fazendo restabelecer a Maga Carta Libertatum, porém as
violações arbitrárias ao direito de liberdade continuaram.
No Século XVII a ambição de liberdade do povo inglês 4 retoma força, no
reinado de Carlos I, tendo inicio com a Petiton of Rigths. No ano de 1679, já no reinado de
Carlos II, fez-se inserir o interdictum de homine libero exhibendo, para garantir o direito de
liberdade das pessoas acusadas de crime. No ano de 1816, o Habeas Corpus Act foi
ampliado, para garantir o direito de liberdade das pessoas, também, contra prisões ilegais
por parte do Estado, e, inclusive, contra atos de particulares
Da Inglaterra a ação de habeas corpus foi levada pelos colonos para os Estados
Unidos da América. É verdade que na Constituição americana, bem como em suas
emendas, não há menção expressa ao writ, o texto tutela, de forma aberta, o direito de
3
Os barões, ao contrário do que se pode imaginar, não representavam a nobreza da época, mas eram os
cavaleiros, que acompanharam o rei Ricardo I, mais conhecido, como Ricardo Coração de Leão, irmão mais
velho do rei João I, às Cruzadas na Terra Santa. Eles receberam, como recompensa, terras isentas de
impostos, chamadas Baronias, daí decorre o nome barão.
4
Os ingleses sempre foram muito ciosos da liberdade física. Pensam mesmo que os atentados à vida, e à
propriedade são menos perigosos e prejudiciais ao bem geral do que a menor violência ou coação à liberdade
física do indivíduo. Matar um cidadão, confiscar seus bens ou destruí-los, sem acusação, sem processo,
sempre seria ato de insigne despotismo; mas a notoriedade do delito levaria ao seio de todo o povo o grito de
alarma contra a tirania iminente. Dir-se-á que o mesmo acontece nos constrangimentos no ir e vir?
Absolutamente não. A encarceração de uma pessoa, argumentam eles, é arma menos pública. É violência,
secreta, ignorada, invisível, portanto, mais grave e mais perigosa do que qualquer outra.
7
liberdade na 5ª emenda5 ao utilizar a palavra liberty, porém, na prática, ele sempre foi
utilizado em terras americanas, com base no direito costumeiro trazido da Inglaterra.
O habeas corpus a partir de suas origens remotas difundiu-se para quase todas
as legislações ocidentais, devido à importância essencial que o direito de ir e vir tem para as
pessoas, que segundo a concepção clássica seria um direito natural do homem, inerente à
sua condição, ou seja, ser livre para ir e vir por toda a parte.
Apesar de não haver acordo quanto à origem do habeas corpus 6, o certo é que a
luta do homem pelo direito de livre locomoção perde-se retroativamente na linha da história
da humanidade.
horas, contadas da entrada na prisão, sendo em cidades, vilas ou outras povoações próximas
aos lugares da residência do juiz, e nos lugares remotos dentro de um prazo razoável que a
lei marcará atenta a extensão do território, o juiz por uma nota por ele assinada fará constar
ao réu o motivo da prisão, o nome do seu acusador e o das testemunhas, havendo-as.7”
O deputado José de Alencar, em 1870, no entanto, dizia: “...alguns pensam que
o habeas-corpus data do Código do Processo (1832); minha opinião é contrária. Entendo
que, embora caiba aos autores do Código do Processo a glória de terem compreendido e
tratado de desenvolver o pensamento constitucional, o habeas-corpus está incluído, está
implícito na Constituição, quando ela decretou a independência dos poderes e quando deu
ao Poder Judiciário o direito exclusivo de conhecer de tudo quanto entende a
inviolabilidade penal”8
Pontes de Miranda analisando o direito de liberdade em terras brasileiras, vê no
Decreto nº 23 de maio de 1821, referendado pelo Conde dos Arcos, logo após a partida de
Don João VI para Portugal, o primeiro marco histórico das liberdades no Brasil, sendo por
ele denominada de “nossa Magna Carta”. Nessa época havia a ação de desconstrangimento,
aplicável como meio para se formular o pedido de soltura, das pessoas presas de forma
ilegal.
O habeas corpus que, no entanto, recebeu a sua primeira regulamentação legal
na Lei 29 de 29 de novembro de 1832, representou uma reação liberal, ainda no tempo da
Regência9. A necessidade da sua regulamentação tem crucial importância, em que pese os
argumentos do deputado José de Alencar 10 e da existência da ação de desconstrangimento,
7
O texto do art. 189, inciso 8º da constituição do império que data de 1824, atualmente, mantém-se quase
intacto no Código de Processo Penal. O art. 306, com redação dada pela lei 11.449 de 15 de janeiro de 2007
que, curiosamente, foi apontada como uma evolução legislativa, inseriu, no parágrafo primeiro, o prazo de
vinte e quatro horas para a comunicação da prisão ao juiz, e no parágrafo segundo a entrega, no mesmo prazo,
da nota de culpa informando ao preso os motivos da prisão, o nome do condutor e das testemunhas. Haja vista
que, no texto original do Código de Processo Penal de 1941, não havia prazo para a comunicação da prisão
8
De MIRANDA. Pontes. História e Prática do Habeas Corpus (Direito Constitucional e processual
comparado). Tomo I. 7ª edição Editor Borsoi, 1972
9
Período de Regência, ou Regencial compreende o decênio entre 1831 e 1841, ele se inicia com a abdicação
de Dom Pedro I, imperador até então, em favor de seu filho Pedro de Alcantara, que contava 6 anos de idade,
esse período se encerra com o golpe da maioridade, quando Dom Pedro II, ainda com 15 anos, assume o
trono. Diz-se golpe da maioridade, porque a Constituição estabelecia que a assunção ao trono só poderia se
dar ao príncipe com 18 anos completos. O período Regencial é composto por quatro regência: Provisória
Trina, Permanente trina, Uma do Padre Feijó, Uma de Araújo Lima.
10
José Martinano de Alencar nasceu em 1º de maio de 1829, no município de Messejana, no Estado do Ceará,
a família transferiu-se para o Rio de Janeiro, que à época era a capital do Império do Brasil. Formou-se na
Faculdade de Direito do Estado de São Paulo, Foi Deputado Estadual no Estado do Ceará, no ano de 1860,
9
porque, onde não há uma regulamentação do procedimento de habeas corpus, não tem
como haver garantia segura e eficaz para a liberdade de ir e vir.
No entender de Pontes de Miranda11 a fonte do habeas corpus, conforme foi
concebido no Código de Processo Criminal do Império, é o “ Habeas Corpus Acts” de 1679
e 1816. Representava para o ordenamento jurídico brasileiro, uma evolução enorme, no
sentido de garantir o direito de permanecer, de andar, de ir de um lado a outro 12 conforme
se referia Pontes de Miranda13, entretanto, a utilização do habeas corpus estava limitada aos
brasileiro, homens, não abrangia os estrangeiros, nem as mulheres, porque o texto legal
conferia legitimidade ativa aos cidadão, ou seja, pessoa no exercício dos direitos políticos,
conforme pode-se observar do artigo 340 da Lei nº 29 de 1932
“ Art. 340. Todo o cidadão que entender, que elle ou outrem soffre uma prisão
ou constrangimento illegal, em sua liberdade, tem direito de pedir uma ordem de - Habeas-
Corpus - em seu favor”
tornou-se Ministro da Justiça no ano de 1868, tendo permanecido no cargo até 1870. Escritor profícuo, foi
autor de diversos livros, tais como: Cinco Minutos, O Guarani, Lucíola, Iracema, O Tronco do Ipê, etc.
Morreu no Rio de Janeiro em 12 de dezembro de 1877.
11
Idem item 8. Página 133
12
Ius manendi, ambulandi, eundi, ultro citroque
13
Helio Tornaghi, no seu livro Curso de Processo Penal, critica a expressão normalmente utilizada por Pontes
de Miranda. Afirma o autor: “Há quem fale em liberdade de ir, ficar e vir, mas quem é livre de ir, é livre de
não ir, isto é, de ficar. Ser livre é poder fazer ou não fazer. Não há pois, necessidade de referência expressa ao
ficar.
10
É bem verdade que havia exceções, mulheres que se dedicavam ao trabalho fora
do lar, como por exemplo as escravas, as amas de leite, as empregadas domésticas, e
também no comércio e na indústria, via de regra na condição de serviçais, havia, ainda,
mulheres cultas, com formação liberal, que lutavam por seus direitos 15, porém, essa
condição não representava a regra geral da sociedade brasileira do século XIX.
Não é objeto, nem pretensão deste trabalho esgotar a análise da condição das
mulheres no Brasil ao tempo da Constituição de 1824 e do Código de Processo Criminal de
1832, entretanto, torna-se importante fazer uma breve exposição, para permitir entender a
legitimidade das mulheres nos casos do habeas corpus, e, até porque não, para permitir
uma reflexão atual do que representava ser mulher naquele tempo.
14
Apud.Consultado em 20/09/1015, disponível em: http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/cidadania-das-
mulheres-imigrantes-e-os-direitos-dos-escravos-no-s%C3%A9culo-xix
15
A luta das mulheres pelo direito à cidadania, cumpre ressaltar, tem inicio na Inglaterra, no ano de 1897 com
a União Nacional pelo Sulfrágio Feminino fundada por Millicent Fawcett. A Nova Zelandia foi o primeiro
país a garantir o direito de votos à mulheres no ano de 1893. No Brasil a luta feminina pelo direito ao voto
tem precedentes em 1927, com Celina Guimarães Viana e com Mietta Santiago, que no ano de 1928
conquistou o direito de votar, por meio de uma Mandado de Segurança
11
16
A Cosntituição de 1824 estabelecia a capacidade política nos artigos 92, 93 e 94.Art. 92. São excluidos de
votar nas Assembléas Parochiaes I. Os menores de vinte e cinco annos, nos quaes se não comprehendem os
casados, e Officiaes Militares, que forem maiores de vinte e um annos, os Bachares Formados, e Clerigos de
Ordens Sacras.II. Os filhos familias, que estiverem na companhia de seus pais, salvo se servirem Officios
publicos.III. Os criados de servir, em cuja classe não entram os Guarda livros, e primeiros caixeiros das casas
de commercio, os Criados da Casa Imperial, que não forem de galão branco, e os administradores das
fazendas ruraes, e fabricas IV. Os Religiosos, e quaesquer, que vivam em Communidade claustral. V. Os que
não tiverem de renda liquida annual cem mil réis por bens de raiz, industria, commercio, ou Empregos. Art.
94. Podem ser Eleitores, e votar na eleição dos Deputados, Senadores, e Membros dos Conselhos de Provincia
todos, os que podem votar na Assembléa Parochial. Exceptuam-se. Os que não tiverem de renda liquida
annual duzentos mil réis por bens de raiz, industria, commercio, ou emprego.II. Os Libertos.III. Os
criminosos pronunciados em queréla, ou devassa.
17
Art 69 –“ São cidadãos brasileiros:1º) os nascidos no Brasil, ainda que de pai estrangeiro, não, residindo
este a serviço de sua nação ;2º) os filhos de pai brasileiro e os ilegítimos de mãe brasileira, nascidos em país
estrangeiro, se estabelecerem domicílio na República; 3º) os filhos de pai brasileiro, que estiver em outro país
ao serviço da República, embora nela não venham domiciliar-se; 4º) os estrangeiros, que achando-se no
Brasil aos 15 de novembro de 1889, não declararem, dentro em seis meses depois de entrar em vigor a
Constituição, o ânimo de conservar a nacionalidade de origem; 5º) os estrangeiros que possuírem bens
imóveis no Brasil e forem casados com brasileiros ou tiverem filhos brasileiros contanto que residam no
Brasil, salvo se manifestarem a intenção de não mudar de nacionalidade; 6º) os estrangeiros por outro modo
naturalizados. Art 70 - São eleitores os cidadãos maiores de 21 anos que se alistarem na forma da lei. § 1º -
Não podem alistar-se eleitores para as eleições federais ou para as dos Estados: 1º) os mendigos; 2º) os
analfabetos; 3º) as praças de pré, excetuados os alunos das escolas militares de ensino superior;”
12
18
Manuel Deodoro da Fonseca Nasceu em 5 de agosto de 1827 na Vila de Alagoas da Lagoa do Sul No ano
de 1843 matriculou-se no Colégio Militar do Rio de Janeiro, e ingressou na carreira militar, como tenente no
ano de 1848. Tendo participado de diversas campanhas, inclusive da Guerra do Paraguai. Em 15 de novembro
de 1889 proclamou a República no Brasil, tendo se tornado o primeiro presidente a exercer o cargo. Morreu
no município de Barra Mansa no ano de 1892.
19
Aristides Lobo, no dia 15 de novembro de 1889, publicou no Diário Popular uma matéria, intitulada Cartas
do Rio, e ao se referir à proclamação da República, escreveu: “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito,
surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada. Era um
fenômeno digno de ver-se. O entusiasmo veio depois, veio mesmo lentamente, quebrando o enleio dos
espíritos.” Consulta feita em 17/09/2015, disponível em:
http://www.franklinmartins.com.br/estacao_historia_artigo.php?titulo=o-povo-assistiu-aquilo-bestializado-
artigo-de-aristides-lobo-1889
14
Dar-se-á o Habeas Corpus sempre que o indivíduo sofrer ou se achar em eminente perigo de
sofrer violência, ou coação por ilegalidade, ou abuso de poder.
20
Pedro Augusto Lessa nasceu em 25 de setembro de 1859 na cidade do Serro, província de Minas Gerais, e
faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 25 de julho de 1921. Recebeu o Grau de Bacharel pela Faculdade de
Direito do Estado de São Paulo no ano de 1883. Iniciou a vida pública nomeado para o cargo de secretário da
Relação em São Paulo, no ano de 1885. No ano de 1888 prestou concurso e foi aprovado, com a melhor
classificação, tendo sido nomeado como Lente Substituto da Faculdade de Direito do Estado de São Paulo no
ano de 1891, no mesmo ano foi nomeado chefe da polícia do Estado de São Paulo e, posteriormente, eleito
Deputado para o Congresso Constituinte do Estado de São Paulo. Abandonou a vida política e passou a
dedicar-se à advocacia e ao Magistério, tendo dado nova orientação para o estudo de Filosofia do Direito no
Brasil. Em 20 de novembro de 1907 foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal federal, pelo presidente
Afonso Pena. Foi também, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia Brasileira
de Letras. Consulta feita em 01/10/2015, disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/ministro/verMinistro.asp?periodo=stf&id=113
21
Rui Barbosa nasceu na cidade de Salvador, Bahia, em 5 de novembro de 1849 e faleceu na cidade de
Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro em 1º março de 1923. Iniciou o curso de Direito na Faculdade de
Direito da cidade de Recife, no ano de 1866, tendo se graduado Bacharel em Direito do Largo de São
Francisco na cidade de São Paulo. A transferência deu-se porque Rui Barbosa, enquanto estudante na
Faculdade de Direito de Recife participou da associação acadêmica abolicionista, ato que gerou sério
desentendimento com um professor. Ingressou no Parlamento do império no ano de 1878, não tendo
conseguido se reeleger, passou a escrever em jornais, tornando-se redator chefe do Diário de Notícias.
Durante o primeiro governo republicano do marechal Deodoro da Fonseca, Rui Barbosa foi Ministro da
Fazenda, tendo prestado importante auxílio na elaboração da Constituição de 1891, foi, também, o principal
responsável pela crise do encilhamento, estopim para grave crise econômica na Primeira República. O
principal motivo desta foi a emissão descontrolada de moeda pelo governo e ações sem lastro pelas empresas
criadas nesse período, que provocou alta inflação e especulação financeira . Em 1893 assumiu a direção do
Jornal do Brasil, onde fazia forte oposição ao governo do Marechal Floriano Peixoto, No ano de 1985 foi
eleito para o Senado, porém, em razão do Movimento Revolta da Armada, mesmo não tendo ele participação
direta, foi obrigado a exilar-se na Inglaterra. Volta do exílio, ainda no ano de 1985 e luta pela anistia do
punidos pelo Presidente Floriano Peixoto. No ano de 1907, durante o governo de Afonso Pena, Rui Barbosa
foi nomeado para representar o Brasil da Conferência de Haia, tendo recebido o epíteto de “A Agia de Haia”.
Candidatou-se à Presidência da República no ano de 1909, tendo sido derrotado pelo Marechal Hermes da
Fonseca. Foi membro e presidente da Academia Brasileira de Letras.
15
Dessa maneira, para Rui Barbosa, o habeas corpus teria cabimento para tutelar
todo e qualquer direito de liberdade, e não só a liberdade de locomoção. Ao poder
judiciário cabia proteger qualquer direito de liberdade, sempre que demandado via ação de
habeas corpus, analisando o mérito de forma ampla, como seria feito em toda e qualquer
ação, não se exigindo a pretérita liquidez e certeza do direito.
Pedro Lessa, enquanto Ministro do STF, discordava em parte da posição
adotada por Rui Barbosa. Ele fazia uma distinção entre o Habeas Corpus destinado a coibir
prisões ilegais de natureza penal, daquele destinado a tutelar outros direitos, neste último
caso o direito deveria ser juridicamente indiscutível, ou seja, líquido e certo, além de estar
de alguma forma interligado com o direito de locomoção. Nesse sentido manifestou-se da
seguinte forma:
Ainda que não haja prisão nem ameaça de prisão, autoriza o uso do
habeas-corpus. Sempre que o indivíduo precise da liberdade física para exercer
qualquer direito, devemos garantir essa liberdade contra as violências já feitas
ou apenas receadas, mas envolver no processo do habeas-corpus questão acêrca
de um direito qualquer que se pretende exercer, mas que é contestado com
razões que devam ser apreciadas com as garantias processuais, ou um direito
qualquer que só pode ser examinado e garantido por outro tribunal, ou por outra
autoridade, ou por outra corporação, é ofender princípios inconcussos e
correntes de direito pátrio. Não está confia à discrição, ao arbítrio dos juízes, a
aplicação dos recursos judiciais, ao ponto de poder aplica-los a hipóteses
completamente diversas para que foram criados e consagrados pelas leis
Direito líquido pode ser definido como aquele que pode ser demonstrado de
plano, ou seja, de forma imediata, mediante prova pré-constituída, sem a necessidade de
dilação probatória. Trata-se de direito manifesto na sua existência, delimitado na sua
extensão e apto a ser exercitado no momento da impetração 23, ou seja, a prova da existência
do direito deve acompanhar a petição, sob pena de indeferimento pelo juiz.
O termo direito líquido e certo causa certa polemica entre os doutrinadores, pois
há o entendimento de que o direito sempre seria líquido e certo, os fatos é que poderiam ter
ou não essa característica, tendo em vista que o direito está previsto na lei, não havendo
dúvidas sobre ele, salvo discussões relativas a eventual inconstitucionalidade da lei, porém,
23
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 15ª Edição. São Paulo: Ed. Saraiva, 2011
18
ao entrar em vigor, em princípio, o direito é válido, o que faz dele líquido e certo. Os fatos
por vezes podem apresentar-se claramente protegidos pela lei, outras vezes necessitam uma
certa dilação de provas para demonstrar o perfeito amparo legal.
Rui Barbosa, tendo como base o entendimento amplo do alcance do habeas
corpus, defendia que ele sempre seria a via adequada para proteger toda e qualquer espécie
de liberdade, que de algum modo estivesse ameaçada ou violada, e que o Poder Judiciário
não poderia se furtar a apreciar qualquer provocação que envolvesse os direitos de
liberdade, em razão da especial relevância desse bem para toda a sociedade, ainda que fosse
necessária uma análise mais aprofundada de provas, para que o juiz pudesse julgar o mérito
Pedro Lessa e Pontes de Miranda divergiam do pensamento de Rui Barbosa.
Eles entendiam que o habeas corpus, pela sua própria natureza consistia em um remédio
que objetivava proteger liberdades em que o direito de ir e vir estivesse de alguma forma
ameaçado ou violado, sendo, portanto, imprescindível com a celeridade. A produção de
provas no curso do processo de habeas corpus seria, por conseguinte, incompatível com a
celeridade necessária, razão pela qual as provas deveriam, obrigatoriamente, acompanhar a
petição inicial. Para que o juiz pudesse decidir de plano sobre o mérito do habeas corpus.
Rui Barbosa, não via nenhum óbice na ocorrência de dilação probatória em
sede de habeas corpus, pois as liberdades sempre seriam meritórias da análise do Poder
Judiciário. Pedro Lessa e Pontes de Miranda sustentavam que as liberdades, especialmente
a de ir e vir, poderiam, em determinadas situações, exigir uma dilação probatória para
serem demonstradas adequadamente, porém, nesses casos, ela deveria ser protegida pela via
das ações ordinárias, em que o juiz iria poder dispor de tempo para formar a sua convicção.
O habeas corpus teria cabimento exclusivamente para situações urgentes, em que a tutela
jurisdicional necessitasse ser célere, sob pena de pleno perecimento do direito de livre
locomoção, para tanto, a prova pré-constituída se faz condição essencial à petição inicial da
ação de habeas corpus a qual necessita trazer consigo os elementos de prova capazes de não
só demonstrar que o direito tem aplicação à situação fática apresentada, mas também a
urgência da intervenção judicial, para proteger a liberdade ambulatorial.
Pontes de Miranda entendia que a liquidez, ao invés de ser fim, seria o ponto de
partida do habeas corpus, uma controvérsia que não poderia por ele ser dirimida. Esta
necessariamente deveria ser objeto de procedimento comum, porque o habeas corpus não se
19
presta para tutelar um direito, mas sim assegurar o possuidor de um direito, livrando-o de
coação ou violência à liberdade de ir, ficar e vir, praticados com ilegalidade ou abuso de
poder. A posição defendida por Pedro Lessa e Pontes de Miranda foi seguidas pelo
entendimento de diversos outros autores de Direito Processual Penal, que ao filiarem-se a
corrente restritiva, aproximam o pensamento da posição adotada pelos ingleses, acabando
por refutar o pensamento de Rui Barbosa, mais próximo do entendimento adotado pelos
franceses.
Magalhães Noronha,24 ao tratar do habeas corpus no seu livro Curso de Direito
Processual Penal, faz citação direta a Pontes de Miranda, se filiando ao seu posicionamento
quanto à amplitude do “Remédio Heróico”. A respeito escreveu 25: “Em nosso próprio
país, procurou ampliar-se a extensão do habeas corpus, levando-a a tutelar direitos
outros que não o jus libertatis, mas o Código não se filiou a essa corrente, como se vê
do art. 64726.”
O professor Magalhães Noronha, apesar de mencionar expressamente filiação à
posição de Pontes de Miranda, ele escreveu o seu livro em um momento muito posterior ao
da discussão que ensejou a chamada Teoria Brasileira do Habeas Corpus, a fundamentação
dada pelo autor cita o artigo 647 do Código de Processo Penal, cuja elaboração data de
1941, portanto, com uma diferença aproximadamente de trinta anos. À época dos debates
travados entre Rui Barbosa e Pedro Lessa ainda estava em vigor o Código de Processo
Criminal de 1832, cuja regulamentação do habeas corpus encontrava-se nos artigos 340 a
355. Em que pese o irretocável saber jurídico do professor Magalhães Noronha, não há
como fazer uma fundamentação confiável de questões pretéritas, com argumentos de
legislação futura, pelo simples fato de não refletir com exatidão a situação jurídica da
24
Edgar Magalhães Noronha nasceu em Batatais, em 10 de janeiro de 1906, tendo falecido no ano de 1982.
Formou-se pela Faculdade de Direito do Estado de São Paulo no ano de 1931. Ingressou no Ministério
Público do Estado de São Paulo em 23 de setembro de 1931, onde exerceu o cargo de Procurador Geral de
Justiça do Estado de são Paulo, em substituição. Aposentou-se do Ministério Público no ano de 1961. Foi
professor de Direito Penal Militar no Curso de Formação e Aperfeiçoamento de Oficiais da Força Pública e
professor de Direito Penal nas Faculdades de Direito da Universidade Mackenzie e de Sorocaba, é autor de
manuais de direito penal e de processo penal. Há notícias de que suas obras completas encontram-se, também,
na biblioteca da Universidade de Harvard. Consulta feita em 01/10/2015. Disponível em:
http://www.revistajustitia.com.br/revistas/z0x2xw.pdf
25
NORONHA. E. Magalhães, 1906-1982. Curso de direito processual penal. 27ª edição. Atualizada por
Adalberto José Q. T. de Camargo Aranha – São Paulo. Saraiva, 1999
26
Artigo 647 do CPP. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer
violência ou coação ilegal, na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar
20
Esse texto foi interpretado de maneira amplíssima e, talvez por faltar um remédio
como o mandado de segurança, os tribunais repararam por meio de habeas corpus os atentados
atuais e iminentes contra a liberdade em qualquer de suas formas. A corrente que sustentava ser
o habeas corpus remédio apenas contra a violação da liberdade de ir e vir, ficou vencida por
aquela outra, que arrimando-se no caráter evolutivo do Direito designava o habeas corpus das
peias de sua contextura original. E invocando os dizeres da Constituição, sustentava ser ele
remédio contra qualquer” violência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder”.
O entendimento correto acabaria por triunfar: o habeas corpus é remédio contra
qualquer violência, ilegalidade ou abuso de poder que fira algum direito desde que atinja o de
locomoção29....
27
Pontes de Miranda no seu livro História e Prática do Habeas Corpus, Tomo I, página 233 esclarece a
situação: “Devido à corrente interpretativa que Rui Barbosa e outros juristas pretendiam fazer vitoriosa, com
habeas-corpus políticos, travou-se a luta entre os que abstraiam de qualquer fim que se ligasse ao direito de ir,
ficar e vir, acentuando que qualquer exame de direito-fim, excluiria o habeas-corpus, e os que entendiam que
a justiça não podia deixar de examinar o caso que se lhe submetesse. A tese reacionária e a antítese liberal
fizeram explodir a mais memorável contenda jurídica constitucional do Brasil. Mais: da América Latina.
Muito devemos nós, Brasileiros, em nossa cultura jurídica, a esse choque do primeiro quartel do século. Foi
experiência in vivo, em torno de simples conceitos: liberdades no plural; liberdade pessoal, liberdade física,
direito-condição, direito-fim. Sem aquelas discussões não teríamos, mais tarde, a técnica legislativa
constitucional de que se valeram os constituintes de 1934 e de 1946. Não teríamos resistido à rasoura
mediocrizante, libertícia , de outros momentos.” – grifo nosso.
28
Helio Tornaghi nasceu em 1915 e faleceu na cidade do Rio de janeiro em 2004. Foi professor catedrático da
Faculdade Nacional de Direito, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo conquistado a cátedra no
ano de 1945, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Faculdade Brasileira de Ciências
Jurídicas. Foi autor do anteprojeto do Código de Processo Penal, encomendado pelo governo brasileiro em
1962. Cumpre ressaltar que o referido código nunca entrou em vigor, e autor de diversos livros de Processo
Penal e Direito Penal.
29
TORNAGHI. Hélio, 1915 – 2004. Curso de processo penal, 9ª edição. São Paulo Editora Saraiva 1995
21
30
O Artigo 72 caput da Constituição de 1891 estabelecia: “A Constituição assegura a brasileiros e a
estrangeiros residentes no paiz a inviolabilidade dos direitos concernentes á liberdade, á segurança individual
e á propriedade, nos termos seguintes”. O parágrafo 22 tratava especificamente do habeas corpus, da seguinte
forma “Dar-se-ha o habeas-corpus sempre que o individuo soffrer ou se achar em imminente perigo de sofrer
violencia, ou coacção, por illegalidade, ou abuso de poder.”. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1824-1899/constituicao-35081-24-fevereiro-1891-532699-
publicacaooriginal-15017-pl.html. Consulta feita em 29/11/2015
31
Para uma maior compreensão da utilização do habeas corpus no Brasil, é interessante a consulta da página
do Supremo Tribunal Federal, relativa aos julgamentos históricos. Nem todos foram utilizados neste trabalho,
porque fugiria por demasiado ao seu objeto. A página dos julgamentos históricos do Supremo Tribunal
Federal está disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?
servico=sobreStfConhecaStfJulgamentoHistorico&pagina=principal
32
Idem item 8
33
Inteiro teor da decisão proferida no HC 3.137 disponível em :
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/sobreStfConhecaStfJulgamentoHistorico/anexo/HC3137.pdf. Consulta feita
em 08/10/2015
22
Assembleia Geral que deveria se reunir na cidade de Jequié, porque não havia condições de
segurança na capital. Uma parte dos congressistas insurge-se contra o decreto e obtém
ordem do juiz federal para reunirem-se em local próprio. A partir desse momento uma forte
dissidência se inicia entre dois grupos de congressistas. O Juiz Federal requisita, ao então
Presidente da República Marechal Hermes da Fonseca, o envio de tropas federais, no que
foi atendido. O Governador em exercício, se recusou a retirar as forças locais, fato que
provocou intenso bombardeio na cidade, provocando a destruição de alguns prédios
públicos. O Governador, sob coação, renuncia e refugia-se em um consulado. 34 O Supremo
Tribunal Federal, por maioria, decidiu por declarar prejudicado o habeas corpus35
O Marechal Hermes da Fonseca termina o seu mandado no ano de 1914,
política do café com leite continua sustentando a República Velha, tendo como presidentes
Venceslau Brás, Rodrigues Alves, que veio a falecer antes de tomar posse, assumindo o
cargo Delfim Moreira que era o vice-presidente eleito. Epitácio Pessoa sucede Delfim
Moreira, e no ano de 1922 é eleito Artur Bernardes como presidente do Brasil.
Nos anos de 1922 a 1924 ocorreram uma série de rebeliões e conspirações
armadas, elas ocorreram em diversos Estados e refletiam o descontentamento de jovens
oficiais das forças armadas. Na verdade, o descontentamento dos jovens oficiais das Forças
Armadas com a política das oligarquias que dominavam o governo no Brasil teve inicio no
ano de 1920, eles defendiam reformas na estrutura do poder, tais como: o voto secreto e o
fim do voto de cabresto36. Foi o denominado movimento tenentista que refletia o
enfraquecimento da política desenvolvida pela República Velha. O movimento eclode com
maior força no ano de 1922, na cidade do Rio de Janeiro, com a chamada Revolta dos 18 do
Forte, cujo objetivo era depor o então presidente eleito, Artur Bernardes. Depois desta
outras rebeliões ocorreram em São Paulo e no Rio Grande do Sul. No ano de 1925 percorria
o interior do Brasil a Coluna de Luiz Carlos Prestes. Essa atmosfera de revolta teve uma
consequência direta sobre o habeas corpus, que até então era utilizado de forma ampla,
34
Consulta feita em 08/10/2015, disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?
servico=sobreStfConhecaStfJulgamentoHistorico&pagina=hc3137
35
Decidiram por não conhecer do HC 3.137 os Ministros H. do Espírito Santo, P. Epitácio Pessoa, relator
Godofredo Cunha Oliveira Figueiredo M. Espínola Leoni Ramos, votam vencidos pela concessão da ordem
os Ministros Pedro Lessa, Canuto Saraiva, Amaro Cavalcanti, Manuel Murtinho e Oliveira Ribeiro
36
Voto de cabresto era um sistema de controle político. No Brasil, no inicio do século XX, o voto era aberto e
os eleitores eram pressionados, pelos “coronéis”, oligarquia agrária, a votarem nos candidatos apoiados por
eles. Os “coronéis” faziam a fiscalização dos votos por meio de seus “jagunços”, ou seja, pessoas armadas
que prestam serviço paramilitar, intimidando e coagindo as pessoas, nesse caso, a votar.
23
para assegurar todos os direitos, que de alguma forma envolvessem o direito de locomoção,
como direitos políticos, a posse em cargos públicos etc.
O debate a respeito da amplitude do habeas corpus perdurou até a revisão
constitucional de 1925 e 1926. A Emenda Constitucional nº 3 de setembro de 1926 alterou
o texto do artigo 72, § 22 da Carta Constitucional de 1891 37, especificando que o habeas
corpus só teria cabimento para proteger o direito de locomoção. Porém, nem mesmo a
alteração feita no artigo 72,§ 22 da carta constitucional de 1891 foi capaz de afastar a
utilização do habeas corpus para questões políticas. Somente com a inserção do parágrafo
5º no artigo 60 da Constituição de 1891,38 por Emenda Constitucional, em 3 de setembro de
1926, ficou afastado qualquer recurso ao Poder Judiciário das questões políticas.
Prevaleceu o triunfo dos antiliberais cuja inspiração vinha das ditaduras europeias, que
causou imensa angústia no cenário político brasileiro, parecia que todas as portas
encontravam-se fechadas, inviabilizando a defesa contra os arbítrios do Poder Executivo.
O Presidente da República, Artur Bernardes39, como forma de manter as
prerrogativas do governo e da oligarquia agrária do Brasil, para enfrentar as rebeliões que
eclodiam por toda parte no território nacional, decretou estado de sítio, que perdurou por
todo o seu mandato, essa foi a razão da necessidade de restringir os recursos judiciais,
inclusive a ação de habeas corpus, a fim de fazer prevalecer os atos do Poder Executivo,
excluindo qualquer forma de controle por parte do Poder Judiciário. Não havia remédio
capaz de evitar as arbitrariedades e as ilegalidades. Toda sorte de abuso do poder se
legitimou.
No ano de 1926, ainda em pleno estado de sitio, como um resto de luz no meio
das trevas, surge o projeto de Gudesteu Pires criando o Mandado de Segurança 40, para
37
Artigo 72, § 22 da Constituição de 1891, com alteração da emenda constitucional nº 3. Dar-se-ha o habeas-
corpus sempre que alguém soffrer ou se achar em imminente perigo de soffrer violencia por meio de prisão
ou constrangimento illegal em sua liberdade de locomoção
38
Artigo 60, §5º da Constituição de 1891. Nenhum recurso judiciario é permittido, para a justiça federal ou
local, contra a intervenção nos Estados, a declaração do estado de sitio e a verificação de poderes, o
reconhecimento, a posse, a legitimidade e a perda de mandato dos membros do Poder Legislativo ou
Executivo, federal ou estadual; assim como, na vigencia do estado de sitio, não poderão os tribunaes conhecer
dos actos praticados em virtude delle pelo Poder Legislativo ou Executivo. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao91.htm. Consulta deita em 12/10/2015
39
Artur da Silva Bernardes nasceu em viçosa em 8 de agosto de 1875, formou-se na Faculdade Livre de
Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Iniciou a carreira política como vereador, no ano de 1906,
foi deputado eleito pelo Estado de Minas Gerais por duas vezes 1909 a 1910 e 1915 a 1917. Foi presidente do
Estado de Minas gerais nos anos de 1918 a 1922, e veio a tornar-se o 12º Presidente da República do Brasil,
eleito em 1º março de 1922 com 466.877 votos
40
Idem item 8
24
permitir a defesa de liberdades outras distintas das de locomoção, que, em razão das
alterações na Carta Constitucional, ficaram desprotegidas por completo. O projeto por
razões óbvias não logrou êxito, diante do recrudecimento das práticas antiliberais.
O ano de 1930 encerra a chamada República Velha. O mundo nessa época
passou por uma séria crise econômica, em grande parte impulsionada pela quebra da Bolsa
de Nova Iorque. O Brasil, que neste período tinha uma economia basicamente agrária,
fundada, eminentemente, na exportação do café, era o sustentáculo da denominada política
do café com leite, base da então República Velha; esta alternava o centro do poder
executivo federal entre Minas e São Paulo, mas, no entanto, já se encontrava bastante
desgastada.
Washington Luís41 foi eleito presidente do Brasil, em 1º de março de 1926 e, no
inicio de 1929, quando do fim do seu mandato, indicou para concorrer às eleições, como
seu sucessor, Júlio Prestes42 que recebeu o apoio de 17 estados da federação, porém, os
Estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba negaram apoio ao candidato
indicado pela presidência da república. Realizadas as eleições, Júlio Prestes foi eleito tendo
perdido as eleições o então candidato Getúlio Vargas. A oposição indignada com a vitória
do candidato governista, alega fraude nas eleições. No dia 03 de outubro de 1930 tem inicio
a revolução no Rio Grande do Sul, recebendo adesões de militares nos Estado do Paraná,
Minas Gerais e Paraíba. Em 24 de novembro de 1930, o presidente Washington Luís é
deposto e Júlio Prestes impedido de tomar posse, tendo sido exilado para a Europa, até
1934.
No dia 24 de novembro de 1930, assume o poder uma junta militar composta
pelo General Augusto Tasso Fragoso, pelo Almirante José Isaías de Noronha e pelo
41
Washington Luís Pereira de Sousa nasceu em 26 de outubro de 1869, no município de Macaé, no Estado do
Rio de Janeiro. Estudou como aluno interno no Colégio Pedro II, e formou-se pela Faculdade de Direito do
Estado de São Paulo, no ano de 1891. Foi nomeado Promotor Público no município de Barra Mansa, tendo
renunciado para seguir a carreira da advocacia, na cidade de Batatais. Iniciou a carreira política como
vereador no 1897, elegendo-se posteriormente Deputado Estadual, nos anos de 1904 a 1905 e 1912 a 1913.
Foi eleito Prefeito da cidade de São Paulo 1914 a 1919, tendo chegado a presidência do estado, onde
permaneceu de 1920 a 1924. No ano de 1926 tornou-se o 13º Presidente da República eleito. Morreu na
cidade de São Paulo em 4 de agosto de 1957.
42
Júlio Prestes de Albuquerque nasceu a cidade de Itapetininga em 15 de março de 1882. Formou-se pela
Faculdade de Direito do Estado de São Paulo no ano de 1906. Foi Deputado Federal por duas vezes, 1924 a
1926 e 1927 a 1929. No Ano de 1927 deixa a Câmara dos deputados, para assumir a Presidência do Estado de
São Paulo. Foi eleito Presidente da República no ano de 1929 com 1.091.709 votos, porém, não pode tomar
posse em razão do Golpe Militar de 1930, ficou exilado na Europa até 1934, quando então retornou ao Brasil.
Faleceu na cidade de São Paulo em 9 de fevereiro de 1946.
25
General João de Deus Mena Barreto. A junta militar governou por 10 dias e, no dia 03 de
novembro de 1930, passou o poder para o chefe do Governo Provisório, Getúlio Vargas 43,
que governava por meio de decretos, todos com força de lei.
Os anos de 1930 a 1932 foram caracterizados pela prática de uma série de atos
autoritários, perpetrados por comissões secretas. A liberdade desaparecera e o habeas
corpus apesar de possuir previsão legal, na prática só era utilizado para casos em que não se
fazia necessário, garantia somente os restos de liberdade que restavam, diante da crise
política e jurídica que se instalara. As comissões secretas, formadas, em grande parte por
advogados, que se auto intitulavam liberais, na prática baixavam decretos caracterizados
como antiliberais e antidemocráticos, colocando por terra todos os princípios e direitos, que
asseguravam as liberdades democráticas existentes até então. O povo do Estado de São
Paulo, no ano de 1932, se revolta contra os atos autoritários e impulsionado pela
insatisfação da derrota do candidato paulista à presidência da república, bem como com a
restrição imposta pelo governo provisório, que impediu a posse do presidente do \estado,
atualmente chamado governador, promove a revolução constitucionalista. Apesar da
derrota das tropas de São Paulo, como consequência direta desse movimento, instala-se
uma assembleia nacional constituinte, e elabora a Constituição da República dos Estados
Unidos do Brasil de 1934, de contorno mais democrático.
O habeas corpus, com a Constituição de 1934, retoma a sua eficácia natural,
para proteger a liberdade de locomoção das pessoas. Há, no entanto, uma alteração com a
carta constitucional de 1934, a Justiça Eleitoral foi criada e passa ter a competência para
conhecer e julgar todas as demandas relacionadas a questões políticas, tirando da Justiça
Federal a competência para julgar os habeas corpus relacionados com posse e manutenção
de cargos eletivos.
A Teoria Brasileira do Habeas Corpus teve razão de ser até o advento da
Constituição de 1934, quando surgiu o Mandado de Segurança com a finalidade de tutelar
todos os direitos líquidos e certos que não estivessem relacionados ao direito de ir e vir. O
habeas corpus foi mantido para tutelar o direito de liberdade contra prisões ilegais, situação
43
Getúlio Dornelles Vargas nasceu na cidade de São Borja em 19 de abril de 1882. Ingressou nas Forças
Armadas como soldado no ano de 1898, permanecendo nas forças armadas até 1902, tendo dado baixa com o
posto de Sargento. Formou-se Pela faculdade Livre de Direito de Porto Alegre em 1907. Foi Deputado
Estadual nos anos de 1909, 1913 e 1917, e Deputado Federal nos anos de 1924 a 1926. No ano de 1930 torna-
se Chefe do Governo Provisório, permanecendo como chefe do Poder Executivo até 1945. Em 31 de janeiro
de 1951 foi eleito Presidente da República, permanecendo no cargo até a sua morte em 24 de agosto de 1954.
26
que, de certa forma, perdura até os dias atuais. Prevaleceu a corrente de pensamento
liderada por Pedro Lessa e defendida também por Pontes de Miranda. Restaram vencidos os
pensamentos mais autoritários, que afastavam por completo a eficácia prática do habeas
corpus, bem como o entendimento da eficácia ampla do “Remédio Heróico” defendido por
Rui Barbosa e outros. É o fim da chamada Teoria Brasileira de Habeas Corpus, as correntes
de pensamento existentes no Brasil do inicio do século XX se digladiaram, prevalecendo a
posição adotada pelo Supremo Tribunal Federal. A discussão a respeito do habeas corpus
travada por Pedro Lessa e Rui Barbosa, porém, não foi estéril, deixou, como saldo, a
criação de mais uma ação constitucional para a tutela de liberdades no território brasileiro.
O mandado de segurança adquiriu existência constitucional no artigo 113, item
33 da Constituição de 1934,44 tinha a finalidade de assegurar direitos diversos, distintos do
direito ambulatorial, desde que possuísse, como características, a certeza e a
incontestabilidade. O mandado de segurança surge em 1934 sem possuir um procedimento
próprio, ele deveria observar as regras previstas para o procedimento do habeas corpus.
Somente no ano de 1951 a Lei 1533 regulamenta e estabelece um procedimento específico
para o mandado de segurança. A previsão constitucional de duas ações para tutelar as
liberdades em muito aprimorou o ordenamento jurídico brasileiro, demonstrando de modo
inequívoco a relevância que o direito de liberdade de um forma ampla representa para o
povo brasileiro.
O habeas corpus para questões políticas continuou a existir, porém, sob a égide
da Constituição de 1934, a competência passou da justiça federal para a então criada justiça
eleitoral, e o mandado de segurança passou a ser a ação adequada para proteger todos os
demais direitos líquidos e certos, que não fossem amparados pelo habeas corpus, ou seja,
que não envolvessem o direito de ir e vir de forma restrita.
As liberdades democráticas, bem como a Constituição de 1934, tiveram vida
curta. A carta constitucional de 1934 estabelecia em seu artigo 52 que o mandato do
Presidente da República seria de quatro anos, ficando vedada a reeleição, somente permitia
44
Artigo 113 da Constituição dos Estados Unidos do Brasil: “ A Constituição assegura a brasileiros e a
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à
segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: item 33; Dar-se-á mandado de segurança para
defesa do direito, certo e incontestável, ameaçado ou violado por ato manifestamente inconstitucional ou
ilegal de qualquer autoridade. O processo será o mesmo do habeas corpus, devendo ser sempre ouvida a
pessoa de direito público interessada. O mandado não prejudica as ações petitórias competentes.” Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm. Consulta feita em: 08/11/2015
27
nova candidatura ao cargo após decorridos, no mínimo, quatro anos, após o término de
exercício da função.
No ano de 1937 os movimentos antidemocráticos, insatisfeitos com a virada
que a Constituição de 1934 dera no país, passaram a utilizar como forma de argumento o
alarma de uma possível revolução comunista no Brasil, impulsionada por uma série de
levantes que ocorreram no ano de 1935 no Rio de Janeiro e em Natal. No dia 30 de
setembro de 1937 foi divulgado o chamado Plano Cohen 45, cujo objetivo era forjar uma
ação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas para apoiar a tomada do poder pelos
comunistas da Aliança Nacional Libertadora – ANL.
Getúlio Vargas, que não intencionava deixar a presidência da república, se
valeu da situação de instabilidade criada e deu um golpe, instalando a ditadura do Estado
Novo, e outorgando a Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1937, denominada
Constituição Polaca, porque elaborada por Francisco Campos, que teve como inspiração a
Constituição Polonesa de 1935.
A Carta Constitucional de 1937 estava longe de proteger a liberdade física e as
demais liberdades em geral. O artigo 122, inciso 16, previa a ação de habeas corpus como
meio adequado para proteger o direito de ir e vir das pessoas, quando violado, ou ameaçado
por violência ou ilegalidade, salvo em casos de transgressões disciplinares. Aparentemente,
ao tempo da ditadura do Estado Novo, pelo menos a liberdade física parecia protegida e
resguardada, podendo qualquer pessoa recorrer ao poder judiciário para salvaguardar o seu
direito de ir e vir, porém, a ação de habeas corpus, era, nesse tempo, apenas um texto
vazio, destituído de eficácia prática, um engodo, uma falácia. Porque essa mesma Carta
Constitucional, no artigo 170, excluía da apreciação do Poder Judiciário todos os atos
praticados pelo Estado durante o Estado de Guerra e o estado de emergência. O artigo 186
da Constituição de 1937 declara instalado o estado de emergência. Dessa maneira a
previsão do artigo 122, inciso 16 tornou-se letra morta, pois apesar de haver previsão
expressa do cabimento do habeas corpus, o Poder Judiciário não podia deles apreciar, em
razão do Estado de Emergência, conforme foi o entendimento de dois Ministros do
45
Plano Cohen era um suposto plano para transformar o Brasil em uma República Socialista. Ele foi
divulgado em 30 de setembro de 1937, pelo então chefe do Estado Maior das Forças Armadas, General Gois
Monteiro. Posteriormente descobriu-se que o chamado Plano Cohen, era uma farsa, houvera sido redigido
pelo então Capitão do Exército Olímpio Morão Filho.
28
46
Os Ministros Bento de Faria e Barros Barreto no habeas corpus 28.313 do Estado da Bahia defenderam a
exclusão geral da apreciação de habeas corpus em razão da decretação do Estado de Emergência.
47
Artigo 531 do Código de Processo Penal, antes da alteração realizada pela Lei 11.719/08: “ O processo das
contravenções terá forma sumária, iniciando-se pelo auto de prisão em flagrante ou mediante portaria
expedida pela autoridade policial ou pelo juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público.”
48
Lei nacional é aquela que se aplica para todos em todo o território brasileiro, difere de Lei Federal, que é a
utilizada para regulamentar entidades, bens e serviços da União.
29
49
Breves considerações sobre a história do processo penal e habeas corpus. Gisele Leite. Fonte: Artigo
publicado em 18 de outubro de 2015 na revista Âmbito Jurídico. Disponível em: http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7816, consulta feita em 18/10/2015
30
50
Inúmeros são os casos relatados na literatura de barbáries praticadas no Brasil durante o período
compreendido entre 1937 e 1945, como, por exemplo, os descritos no livro Memórias do Cárcere do autor
Graciliano Ramos.
51
No ano de 1943 a União Nacional dos Estudantes promoveu uma serie de passeatas contra o nazi-fascismo.
Em Minas Gerais movimentos civis também se manifestaram contra o regime ditatorial brasileiro, no
chamado “Manifesto dos Mineiros”.
31
57
Desterro e banimento ou exílio são situações distintas. A pena de banimento, que consiste em obrigar uma
pessoa a sair do pais, estava vedada no artigo 141, § 31 da Constituição dos Estados Unidos do Brasil de
1946. O desterro consistia no envio de uma pessoa para um determinado local no território nacional, diverso
do local de seu domicílio, contudo, a localidade para onde a pessoa seria levada em desterro, deveria ser
povoada e salubre.
33
Café Filho. Permaneceu como chefe do executivo federal até 31 de janeiro de 1956, vindo a falecer em São
José dos Pinhais em 16 de junho de 1958.
60
João Augusto Fernandes Café Filho Nasceu na cidade de Natal, Estado do Rio Grande no Norte, em 3 de
fevereiro de 1899. Formou-se em Direito, mas atuou, principalmente, como jornalista. Ingressou na vida
política como Deputado Federal no ano de 1935, e compôs a chapa de Getúlio Vargas, como vice-presidente.
Por imposição do então Governador do Estado de São Paulo Ademar de Barros. Assumiu a presidência da
República, após o suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954, tendo se afastado da presidência em 8
de novembro de 1955, por motivos de saúde. Faleceu no Rio de Janeiro em 20 de fevereiro de 1970.
35
mandato até 1961, quando foi sucedido pelo presidente eleito Jânio da Silva Quadros. Jânio
Quadros63, como presidente, tomou uma série de medidas controvertidas, dentre elas
algumas que desagradaram profundamente os militares e determinados segmentos
conservadores da sociedade brasileira.64Não há ao certo um consenso sobre os reais motivos
que levaram a renúncia do então presidente Jânio Quadros no dia 25 de agosto de 1961. Há
quem entenda ter sido uma tentativa de golpe, outros afirmam ter sido a pressão dos
militares e dos setores conservadores da sociedade, 65fato é que, com a renúncia do
Presidente da República, a situação política brasileira, tornou-se tensa e conflituosa, pois
quem deveria assumir o cargo era o então vice-presidente João Belchior Marques Goulart66.
No dia 8 de setembro de 1961 João Goulart toma posse como Presidente da
República, mas não antes de uma manobra política para retirar-lhe uma série de poderes.
definitivamente para o Brasil, unindo-se a Carlos Lacerda e João Goulart em uma frente ampla de oposição ao
governo militar. Faleceu em 22 de agosto de 1976, no município de Resende, em decorrência de um acidente
automobilístico.
63
Jânio da Silva Quadros nasceu no município de Campo Grande Estado do Mato Grosso, em 25 de janeiro de
1917. Formou-se pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo no ano de 1939, atuando como
advogado e professor de Direito Processual Penal na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana
Mackenzie. No ano de 1947 ingressa para a vida política elegendo-se suplente de Vereador no município de
São Paulo. Assumiu o mandato tendo exercido entre 1948 a 1950. Em 1951 tornou-se Deputado Estadual
permanecendo o cargo até 1953. Elegeu-se Prefeito do município de São Paulo no ano de 1953 e
posteriormente, Governador do estado de São Paulo no ano de 1955. Em 1958 elegeu-se Deputado federal
pelo Estado do Paraná, viajou para o exterior e não participou de nenhuma sessão do Congresso. Ao retornar
inicia os preparativos para a campanha presidencial, tendo sido eleito Presidente da República em 3 de
outubro de 1960. Tomou posse em 31 de janeiro de 1961, vindo a renunciar em 25 de agosto de 1961, teve os
direitos políticos cassado pelo regime militar em 10 de abril de 1964 e foi preso em julho de 1968 por fazer
uma série de declarações na imprensa. Recuperou os direitos políticos em 1974. No ano de 1986, com apoio
dos segmentos mais conservadores da sociedade Paulista elegeu-se Prefeito do Município de São Paulo, tendo
exercido o cargo até 1988. Jânio Quadros faleceu em São Paulo no dia 16 de fevereiro de 1992.
64
O Presidente Jânio Quadros reestabelecera relações diplomáticas com a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas e com a China, Logo em seguida, condenou a invasão da Baia dos Porcos pelos Estados Unidos da
América, e causou ainda mais constrangimento quando decidiu condecorar Ernesto Che Guevara com a
Ordem do Cruzeiro do Sul.
65
Não foi de autoria de Jânio Quadros, mas a imprensa brasileira da época publicou; “Forças ocultas levaram
à renúncia do Presidente.”
66
João Belchior Marques Goulart nasceu no município de São Borja, Estado do Rio Grande do Sul em 1º de
março de 1919. Formou-se na Faculdade de Direito de Porto Alegre no ano de 1939, porém, não exerceu a
advocacia. Retornou para sua cidade dedicando-se à pecuária, que era a fonte e sustento da sua família. Ele
ingressa na carreira política ingressando no PTB, em razão de um convite feito por Getúlio Vargas. Foi eleito
para Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul em 1946. No ano de 1941 tornou-se Deputado Federal
eleito pelo Rio Grande do Sul. Em 1953 Getúlio Vargas nomeia Joao Goulart Ministro do Trabalho, e no ano
de 1960 foi eleito vice-presidente na chapa liderada por Jânio Quadros, com a renúncia do presidente ele era o
sucessor imediato, nos termos da Constituição de 1946. No dia 8 de setembro de 18961 João Goulart assume
a presidência da república a despeito da forte resistência oposta pelos setores mais conservadores da
sociedade, porém, com os poderes reduzidos, pois no dias antes, em 2 de setembro de 1961 o Congresso
Nacional havia implantado o sistema parlamentarista de governo. Em março de 1964 foi deposto e teve os
seus direitos políticos cassado no dia 10 de abril. Faleceu no exílio no dia 6 de dezembro de 1976, no
município Mercedes Corrientes, na Argentina.
37
João Goulart sofria uma forte rejeição por parte das camadas mais conservadoras da
sociedade. No próprio Congresso Nacional alguns Deputados eram abertamente contra a
posse de João Goulart, para contemporizar a crise política que se instalara no Brasil, o
Congresso propôs a instalação de um sistema parlamentarista, por meio da Emenda
Constitucional nº 4 de 1961 que foi aprovada dias antes de João Goulart poder tomar posse,
no dia 2 de setembro de 1961. O Primeiro Ministro nomeado foi Tancredo Neves, 67 além
dele, mais duas pessoas exerceram o cargo de primeiro ministro entre setembro de 1961 e
1962, Francisco de Paula Brochado da Rocha68 e Hermes Lima69. A emenda constitucional
nº 4 de 196170, também chamada de Ato Institucional, por força do seu artigo 20,
estabelecia no artigo 25 a realização de um plebiscito que deveria ser realizado nove meses
antes do término do período presidencial, para, por meio de uma consulta popular, decidir
67
Tancredo Neves nasceu em São João Del Rei, Estado de Minas Gerais em 4 de março de 1910, formou-se
em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Ingressou na política em
1935 eleito vereador na cidade de São João Del Rei. No ano de 1937 foi preso, após o advento do Estado
novo, e teve seu mandado de vereador cassado. Voltou à advocacia, atuando como Promotor Público. Em
1947 foi eleito Deputado Estadual e em 1950 foi eleito Deputado Federal. Exerceu o cargo de Ministro da
Fazenda e Ministro da Justiça e Negócios Interiores, no governo de Getúlio Vargas, a partir de 1953. No ano
de 1954 foi eleito Deputado Federal, por mais uma vez. No ano de 1961 assumiu como Primeiro Ministro, na
solução dada para permitir a posse de João Goulart como Presidente da República. Foi deputado Federal entre
1963 a 1979. Governador de Minas Gerais entre 1983 e 1984. No segundo semestre de 1984 candidatou-se a
Presidente da República, vindo a ser eleito de forma indireta no ano de 1985. Faleceu em 21 de abril d 1985
sem exercer o cargo de Presidente da República
68
Francisco de Paula Brochado da Rocha nasceu na cidade de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul em
8 de agosto de 1910, ainda como estudante participou da Revolução d 1930. Formou-se na Faculdade de
Direito de Porto Alegre no ano de 1932, local onde mais tarde veio a lecionar Direito Constitucional, como
Professor Catedrático. Foi Procurador do município de Porto Alegre, e Deputado Estadual nos anos de 1947 a
1951. Exerceu o cargo de secretário de Estado no Governo de Leonel Brizola, no Rio Grande do Sul e
participou ativamente da Campanha da Legalidade, cuja finalidade era garantir a ordem constitucional e a
posse de João Goulart. Exerceu o cargo de Primeiro Ministro entre 12 de julho de 1962 e 18 de setembro de
1962. Faleceu na cidade de Porto Alegre, poucos dias após deixar de ser Primeiro Ministro, em 26 de
setembro de 1962.
69
Hermes Lima nasceu no município de Livramento do Brumado, no Estado da Bahia. Formou-se em Direito
no ano de 1924 pela Faculdade de Direito da Bahia, no mesmo ano elegeu-se Deputado Estadual. No ano de
1926 mudou-se para São Paulo tendo lecionado a disciplina de Direito Constitucional, como Livre Docente,
na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. No ano de 1935 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde
exerceu o cargo de Diretor da Faculdade de Direto do Distrito Federal, atual UFRJ e professor da disciplina
de Introdução à Ciência do Direito. Participou da Fundação da UDN – União Democrática Nacional, tendo se
elegido por essa legenda Deputado Federal Constituinte no ano de 1947. Participou ainda da fundação do
Partido Socialista Brasileiro em 1947, mas no ano de 1950 passou a integrar o Partido Trabalhista Brasileiro.
Com a crise provocada pela renúncia do Presidente Jânio Quadros, tornou-se Primeiro Ministro no período
compreendido entre 18 de setembro de 1962 e 24 de janeiro de 1963. Após o plebiscito pela volta do regime
presidencialista Hermes Lima tornou-se Ministro das Relações Exteriores no Governo do Presidente João
Goulart. Em 11 de julho de 1963 foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, em 16 de janeiro de
1969 foi aposentado com base no Ato Institucional nº 5. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 10 de
outubro de 1978.
70
Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/emecon/1960-1969/emendaconstitucional-4-2-
setembro-1961-349692-publicacaooriginal-1-pl.html. Consulta feita em 29/11/2015
38
Recurso Ordinário, conforme se observa do artigo 114, II, a, cuja redação limitava a
competência do Supremo Tribunal Federal76.
Durante o período compreendido entre os anos de 1964 a 1978, os militares
procuraram afastar de toda forma o princípio da reserva da jurisdição, pelo qual nenhuma
lesão ou ameaça de lesão pode ser afastada da apreciação do Poder Judiciário.
Invariavelmente eles faziam inserir nas normas que editavam, para conferir aspecto de
legalidade ao Regime Militar, um artigo afastando os seus atos da apreciação do Poder
Judiciário, é o que se observa nos Atos Institucionais nº 1, artigo 4º; nº 2, artigo 19; nº 3,
artigo 6º; nº 5, artigo 11, nº 6, artigo 4º; nº 7, artigo 9º, nº 11, artigo 7º; nº 12, artigo 5º; nº
13, artigo 2º, nº 14, artigo 3º, nº 15, artigo 4º; nº 16, artigo 8º, e nº 17, artigo 4º. 77 Durante o
tempo que durou o Regime Militar, uma série de prisões ocorreram. A pena de banimento
tinha previsão constitucional, por no do Ato Institucional nº 13, e nenhum desses atos
poderiam ser objeto de julgamento pelo Poder Judiciário, nem pela via da ação ordinária,
nem por meio do habeas corpus, cujo cabimento estava afastado expressamente. O Poder
Judiciário existia, assim como o Poder Legislativo, mas apenas figurativamente, pois o
poder estava concentrado nas mãos do Poder Executivo, que governava com mão de ferro,
impune e sem nenhuma, ou quase nenhuma forma de controle. O Brasil, segundo a
Constituição vigente, a de 1967, era uma República Federativa, porém, os princípios
basilares nos quais as Repúblicas se fundamentam, como, por exemplo, divisão harmônica
dos Poderes, existiam somente no papel. 78 Qualquer análise, mesmo que superficial dos
Atos Institucionais baixados pelos governos militares, deixa óbvio que não havia uma
divisão harmônica e mutuo controle dos atos praticados pelas Funções do Estado. A
democracia também só existia no papel, o artigo 1º, § 1º da Constituição de 1967
estabelecia: “Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido”. As eleições, porém,
76
"Art. 114 - Compete ao Supremo Tribunal Federal: II - julgar, em recurso ordinário: a) os habeas corpus
decididos, em única ou última instância, pelos Tribunais locais ou federais, quando denegatória a decisão, não
podendo o recurso ser substituído por pedido originário. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br//CCIVIL_03/AIT/ait-06-69.htm. Consulta feita em 02/11/2015
77
Fonte: http://www4.planalto.gov.br/legislacao/legislacao-historica/atos-institucionais, consulta feita em
02/11/2015
78
Artigo 6º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1967. São Poderes da União, independentes
e harmônicos, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Fonte:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao67.htm. Consulta feita em: 02/11/2015
41
não eram tão livres assim, a oposição estava presa ou encontrava-se no exílio. Foram anos
complicados para a democracia e para o Brasil, já então denominado não mais Estados
Unidos, mas República Federativa.
Heleno Cláudio Fragoso79 esclarece que, embora, a utilização do habeas corpus
contra atos praticados pelo Estado estivesse suspensa, por força do Ato Institucional nº 5,
os advogados insistiram na utilização do “Remédio Heroico”. Sabiam de antemão que a
ordem seria negada no mérito, porém, no entanto, ele consistia em um remédio eficaz para
poder se identificar o local onde uma pessoa encontrava-se detida. Nos obscuros anos do
Regime Militar, as pessoas eram presas sem ordem judicial e em estabelecimentos militares
ou similares. Os amigos e familiares nem sempre sabiam ao certo o paradeiro da pessoa
detida. Os advogados, nesses casos, impetravam um habeas corpus, porque o juiz ao
requisitar informações às autoridades do Estado, conseguia identifica o local da prisão80.
Os Atos Institucionais foram revogados com a promulgação da Emenda
Constitucional nº 11, que entrou em vigor em 31 de dezembro de 1978, elabora no governo
do então Presidente o General Ernesto Beckmann Geisel.81 Dentre outras medidas,
restaurou o habeas corpus. Os rigores do regime antidemocrático começavam a se esmaecer
e as portas para a abertura democrática começavam a se abrir. No ano de 1979, já no
79
Heleno Cláudio Fragoso nasceu no município de Nova Iguaçu, Estado do Rio de Janeiro, em 5 de fevereiro
de 1926. Formou-se pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro no ano de
1951. Foi advogado criminalista, tendo realizado a defesa de diversos presos políticos durante o Regime
Militar e professor de Direito Penal na Universidade Federal do Rio de Janeiro, durante a década de 1960, até
ser afastado do cargo por ordem da Ditadura Militar. Posteriormente foi professor de Direito Penal na
Universidade Candido Mendes e na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Faleceu na cidade do Rio de
Janeiro em 18 de maio de 1985.
80
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Advocacia da liberdade: a defesa nos processos políticos. Rio de Janeiro
Editora Forense, 1984.
81
Ernesto Beckmann Geisel nasceu no município de Bento Gonçalves, no Estado do Rio Grande do Sul no
dia 03 de agosto de 1907. Iniciou a carreira militar em 1921 ao ingressar para o Colégio Militar de Porto
Alegre, formou-se na Escola Militar de Realengo em 1928. Participou de ações militares na Revolução de
1930 e 1932 tendo combatido a tropa de São Paulo. No ano de 1964 foi nomeado Chefe da Casa Militar pelo
presidente Castelo Branco, tendo sido nomeado em 1967 Ministro do Superior Tribunal Militar. Em 18 de
abril de 1978 foi lançado candidato à presidência da república pela ARENA – Aliança Renovadora Nacional,
vencendo em eleição indireta o outro candidato Ulysses Guimarães do MDB – Movimento Democrático
Brasileiro. No dia 15 de março de 1974 tomou posse como Presidente da República permanecendo no cargo
até 15 de março de 1979. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 12 de setembro de 1996.
42
Governo do General João Figueiredo82 Foi sancionada a Lei de Anistia, Lei 6.683/79 e
aprovada a reforma política restabelecendo o pluralismo partidário.
As décadas de 60 de 70 do século XX foram anos de luta, em que parte da
sociedade brasileira mais uma vez resistiu aos avanços dos ideais antidemocráticas, muito
foram presos, outros foram exilados e até mortos. No ano de 1984 eclodiu o chamado
Movimento das “Diretas Já”, que defendia eleições diretas para Presidente da República. A
Emenda Constitucional do então Deputado Dante de Oliveira, 83 que propunha a realização
de eleições diretas para Presidente da República não obteve aprovação no Congresso,
Tendo se inicio, então, a campanha para eleição indireta à presidência da república. As
eleições foram vencias por Tancredo Neves, tendo como vice-presidente José Sarney84, este
com a morte de Tancredo Neves em 21 de abril de 1985, assume a presidência da república.
82
João Baptista de Oliveira Figueiredo nasceu no município do Rio de Janeiro em 15 de janeiro de 1918, no
estão Distrito Federal, Iniciou a carreira militar no Colégio Militar de Porto Alegre, tendo se transferido
posteriormente para o Colégio Militar do Rio de Janeiro. Formou-se em 1937 na Escola Militar de Realengo.
Em 1961 trabalhou no Governo Jânio Quadros Integrando o Conselho de Segurança Nacional. Participou
ativamente do movimento que apoiou o Golpe de 1964. Venceu as eleições indiretas para presidência da
república pela ARENA, no dia 15 de outubro de 1978, vencendo o candidato do MDB, General Euler Bentes
Monteiro. Tomou posse no dia 15 de março de 1979, tendo permanecido no cargo até 15 de março de 1985.
Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 24 de dezembro de 1999.
83
Dante Martins de Oliveira nasceu no município de Cuiabá, Estado do Mato Grosso no dia 6 de fevereiro de
1952. Formou-se em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro no ano de 1976. Ele
integrou o MR-8 Movimento Revolucionário 8 de outubro, assim denominado para homenagear a morte de
Ernesto Che Guervara, morto nesse dia pelo exército boliviano no ano de 1967. Dante de Oliveira ingressou
na carreira política como Deputado Estadual pelo PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro, no
ano de 1978, quando apresentou em 1982 Emenda à Constituição propondo eleições diretas para a presidência
da república. Em 15 de novembro de 1985 foi eleito Prefeito de Cuiabá, em 1986 assumiu o Ministério da
Reforma e Desenvolvimento Agrário, no governo do Presidente José Sarney, exerceu, posteriormente os
cargos de Prefeito de Cuiabá, pela segunda vez, e Governador do Estado do Mato Grosso. Faleceu na cidade
de Cuiabá no dia 6 de julho de 2006.
84
José Sarney Nasceu em 24 de abril de 1930, no município de Pinheiro no Estado do Maranhão e foi
batizado com o nome José de Ribamar Ferreira de Araújo Costa. Formou-se em Direito pela Universidade
Federal do Maranhão no ano de 1953, tendo ingressado, como escritor para a Academia Maranhense de
Letras. Iniciou a carreira política filiando-se ao PSD, mas somente conseguiu a primeira eleição em 1955
como Deputado Estadual, transferiu-se para a UDN tendo conseguido se eleger Deputado Federal em 1958 e
em 1962. Foi Governador do Maranhão no ano de 1965. Com a extinção dos partidos políticos pelo Ato
Institucional nº 2, onde permaneceu por 20 anos, nesse período elegeu-se por duas vezes Senador. No ano de
1984 passou a integrar os quadros do PMDB e integrou a chapa com Tancredo Neves, com Vice-Presidente,
logrando se eleger de forma indireta. Assumiu interinamente a presidência da república em 15 de março de
1985 tendo em vista a impossibilidade do Presidente tomar posse por questões de saúde. Com a morte do
Presidente Tancredo Neves, José Sarney assume em 21 de abril de 1985 definitivamente a presidência da
república permanecendo no cargo até 15 de março de 1990, Após deixar a presidência da república foi eleito
Senador pelo PMDB do estado do Amapá nos anos de 1990, 1998 e 2006.
43
85
CATHARINA,Alexandre de Castro. Movimentos Sociais: e a construção dos precedentes judiciais.
Curitiba. Editora Juruá, 2015
86
FALCÃO, Alcino Pinto. Comentários à Constituição. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 1990.
44
87
"O preço da liberdade é a vigilância eterna." The price of freedom is eternal vigilance. The Jefferson
Bible - Página 12, Thomas Jefferson, Percival L. Everett. Akashic Books, 2004, ISBN 1888451629,
9781888451627 - 120 páginas
45
1 Legitimidade ativa
88
A personalidade jurídica e a capacidade ordinária, para ser parte em uma ação em Juízo surge com o
nascimento com vida, conforme artigo 2º do Código Civil, porém, a lei protege os interesses daqueles que
estão em gestação.
46
89
A natureza jurídica das pessoas jurídicas gera um certo conflito, existindo três posicionamentos básicos: o
da ficção jurídica na qual a pessoa jurídica consiste em uma criação artificial, produto da técnica jurídica, sem
uma existência social, possuindo somente existência ideal; A teoria orgânica ou da realidade objetiva confere
uma existência social às pessoas jurídicas, que possuiriam, um corpus cuja finalidade é administra e manter a
sociedade em contato com o mundo social e um animus consistente na vontade dos sócios em manterem-se
associados; e a teoria da realidade técnica que reconhece a realidade social das pessoas jurídicas, porém, a sua
personalidade decorre da técnica jurídica.
90
Dois critérios básicos são utilizados para determinar a nacionalidade de uma pessoa natural. O ius sanguinis
que leva em consideração a hereditariedade transmitida ao indivíduo por seus ancestrais, e o is soli no qual a
nacionalidade é atribuída em razão do lugar, ou seja, do território do pais onde a pessoa nasceu.
91
A capacidade postulatória é uma condição inerente à alguns profissionais do Direito, e consiste na aptidão
para peticionar ao poder judiciário, na defesa de direito próprio ou alheio, para tanto, via de regra, torna-se
necessário, além de formação específica, graduação na faculdade de Direito, a regular inscrição na Ordem dos
Advogados do Brasil.
47
2 O Paciente
92
Artigo 133 da Constituição da República Federativa do Brasil. O advogado é indispensável à administração
da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.
93
Ver item 7
94
As sociedades não podem dar errado, ou seja delinquir.
48
doloso exige o preenchimento de dois elementos: o cognitivo, ou seja, saber o que se está
fazendo, e o volitivo,que é ter vontade de praticar a conduta.
Do outro lado há os partidários da teoria da realidade ou organicista de Otto
Gierke, onde as pessoas jurídicas, apesar de surgirem da affecio societatis, que representa a
livre manifestação dos sócios em constituí-la, possuem uma personalidade real e, com isso,
são capazes de ter vontade própria diversa da dos sócios que a constituíram, razão pela qual
admite-se que as pessoas jurídicas possam vir a praticar condutas consideradas crime,
enquanto tipificadas em lei penal.
O entendimento majoritário, tanto na dogmática, como na jurisprudência dos
Tribunais, é de que não há nenhum óbice para a aplicação do art. 225,§3º da Constituição
de 1988 e do artigo 3º da lei 9.605/98, e as pessoas jurídicas podem sim praticar crimes
ambientais.
A posição mais aceita é a de que as pessoas jurídicas poderão passar a integrar
o pólo passivo em processos penais. Diante dessa situação surge a questão, é possível se
utilizar da ação de Habeas Corpus para trancar um processo em que figure um pessoa
jurídica no pólo passivo da ação penal?
O Ministro Ricardo Lewandowski foi relator do HC 92.921-4/BA de 19 de
agosto de 2008, onde figurou, como impetrante e paciente, a sociedade empresária Cortume
Campelo S/A. Tratava-se de um Habeas Corpus substitutivo, de outro impetrado e
denegado pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça.
O Ministro Relator se manifestou da seguinte forma:
II - Writ que deve ser havido como instrumento hábil para proteger pessoa jurídica contra
ilegalidades ou abuso de poder quando figurar como co-ré em ação penal que apura a prática de
delitos ambientais, para os quais é cominada pena privativa de liberdade.
III - Em crimes societários, a denúncia deve pormenorizar a ação dos denunciados no quanto
possível. Não impede a ampla defesa, entretanto, quando se evidencia o vínculo dos
denunciados com a ação da empresa denunciada.
IV - Ministério Público Estadual que também é competente para desencadear ação penal por
crime ambiental, mesmo no caso de curso d'água transfronteiriços.
V - Em crimes ambientais, o cumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta, com
conseqüente extinção de punibilidade, não pode servir de salvo-conduto para que o agente volte
a poluir.
VI - O trancamento de ação penal, por via de habeas corpus, é medida excepcional, que
somente pode ser concretizada quando o fato narrado evidentemente não constituir crime,
estiver extinta a punibilidade, for manifesta a ilegitimidade de parte ou faltar condição exigida
pela lei para o exercício da ação penal.
VII - Ordem denegada.
3 Autoridade coatora
95
CAPPELLETTI Mauro e GARTH Bryant. Acesso à Justiça. Sergio Antonio Fabris Editor. Porto Alegre.
Reimpressão 2002. “ A expressão acesso à justiça serve para determinar duas finalidades básicas do sistema
jurídico. Primeiro o sistema deve ser igualmente acessível a todos; segundo ele deve produzir resultados que
seja individual e socialmente justos.”
96
CAMARA Alexandre de Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 6ª edição Editora Lumen Juiris, 2001
52
condenatória, na qual o provimento jurisdicional irá impor ao réu uma obrigação de dar,
fazer ou não fazer.
Autores, como Olvídio Baptista da Silva 97 e Pontes de Miranda98, tendo como
base as lições do jurista alemão Küttner, defendem uma classificação quinaria dos
provimentos jurisdicionais e, por conseguinte, das ações. A classificação quinaria, além das
já mencionadas ações declaratórias, constitutivas e condenatórias, insere, ainda, outras
duas: ações mandamentais, onde o juiz expede uma ordem a ser cumprida pelo demandado,
e as ações executivas lato senso, cuja sentença pode ser executada de plano, não exigindo
nenhum outro tipo de procedimento.
A doutrina processual penal utiliza mais comumente a classificação subjetiva
das ações penais, em que a diferenciação ocorre, basicamente, em função da legitimidade
ativa, havendo uma divisão em ações penais públicas e privadas.
Fernando da Costa Tourinho Filho99 menciona que no seu livro, citando José
Frederico Marques, que alguns autores, no Brasil, influenciados pela classificação adotada
no processo civil, a utilizam também para classificar as ações penais.
Não há um posicionamento único quanto à natureza do provimento
jurisdicional nas ações de Habeas Corpus. Dependendo da espécie de decisão, a natureza
jurídica pode ser declaratória ou constitutiva. 100, bem como há o entendimento de que se
trata de um provimento mandameltal.
O provimento terá natureza declaratória, quando a concessão da ordem em
Habeas Corpus for para excluir o indiciamento, ou trancar uma ação penal, reconhecendo
falta de justa causa, ou seja, falta de indícios de autoria, ou da prática de uma infração
penal, por outro lado, nas hipóteses em que ocorre a desconstituição de uma sentença
condenatória com transito em julgado, a natureza do provimento será constitutivo negativo,
ou desconstitutivo.
Cumpre ressaltar, no entanto, as ponderações feitas por Daniel Guimarães
Zveibil em seu artigo Considerações sober a “nova” vedação do habeas corpus substitutivo
97
DA SILVA,. Olvídio Baptista. Curso de Processo Civil, Vol I, 6ª edição. Também adotam a classificação
quinaria Ada Pellegrini Grinover, no livroTutela Jurisdicional nas Obrigações de fazer e Não fazer, e Kazuo
Watanabe no livro Código de Defesa do Consumidor Comentado pelos Autores do Anteprojeto.
98
MIRANDA Pontes. Comentários ao Código de Processo Civil de 1939. Rio de Janeiro. Editora Forense, 1958
99
FILHO Fernando da Costa Tourinho Processo Penal 18ª edição, Vol. I. Editora Saraiva, 1997
100
RANGEL Paulo. Direito Processual Penal. 12ª edição. Editora Lumen Iuris, 2007
53
de recursos101. O autor aponta o que ele denomina de “Anomalias”, que estariam a dificultar
a harmonização do instituto do habeas corpus ao sistema das ações. Tais “anomalias
seriam: a possibilidade da utilização de um habeas corpus concomitantemente à via
recursal, recurso de apelação; a possibilidade do habeas corpus vencer a coisa julgada,
permitindo a interposição de mais de um habeas corpus pelo mesmo fundamento; a ampla
legitimidade ativa para a utilização do habeas corpus, etc.
Daniel Guimarães Zveibil meciona Helio Tornaghi como não se sentindo
totalmente à vontade para dar ao habeas corpus uma natureza de ação, e Pontes de Miranda,
que mesmo considerando o habeas corpus uma ação mandamental, deixa transparecer uma
certa ambivalência no seu posicionamento, porque, por vezes classifica o habeas corpus,
como tendo natureza de “remédio (processual) mandamental”102
O autor do artigo menciona o estudo do Professor José Ignácio Botelho de
Mesquista, sobre a natureza jurídica do mandado de segurança, e ajusta a natureza jurídica
do habeas corpus à tese desenvolvida para o mandado de segurança, conferindo-lhe
natureza político-administrativa afim de garantir-lhe a mais ampla eficácia, evitando com
que ele venha a se tornar inútil à defesa das liberdades, pela aplicação do sistema das ações,
que fatalmente poderá acarretar a redução do seu âmbito de atuação, conforme tem
ocorrido, pela vedação do habeas corpus substitutivo de recursos ordinário, bem como pela
aplicação da súmula 691 do Supremo Tribunal Federal103.
Daniel Guimarães Zveibil conclui seu pensamento destacando a necessidade de
retirar o habeas corpus do sistema das ações.
101
ZVEIBIL. Daniel Guimarães. Considerações sobre a “nova”vedação do habeas corpus substitutivo de
recurso. Tribuna Virtual. Ibccrim. Ano 1, 3ª edição, abril de 2013. Consultado em 17/07/2015. Disponível em:
http://www.tribunavirtualibccrim.org.br/artigo/15-Consideracoes-sobre-a-%E2%80%9Cnova%E2%80%9D-
vedacao-do-habeas-corpus-substitutivo-de-recurso
102
Idem item 16
103
Súmula 691 do STF. Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado
contra decisão do relator, que em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar.
54
104
Idem item 16. Página 44
105
CAPEZ Fernando. Curso de Processo Penal. 19ª edição Editora Saraiva, 2012
55
112
Turma Recursal, é um órgão colegiado de segundo grau que analisa os recursos das decisões proferidas no
primeiro grau de jurisdição, conforme o artigo 82 da Lei 9.099/95. Ela é composta por três juízes de Juizados
Especiais Criminais, curiosamente, apesar da Turma Recursal exercer o segundo grau de jurisdição, ela
pertence a primeira instância do Tribunal.
58
como sendo o órgão com competência, tendo em vista que, em princípio, os Juizados
especiais, não estariam subordinados diretamente ao tribunal de Justiça.
Nesse sentido era o entendimento do Supremo Tribunal Federal, que fez editar
o verbete da súmula 690 : “Compete ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de habeas
corpus contra decisão de turma recursal dos juizados especiais criminais.”
No ano de 2006, no entanto, houve uma mudança no entendimento no Supremo
Tribunal, tendo sido cancelada a súmula 690, conforme é possível se observar, em diversos
julgamentos.
7 Cabimento da ação
HC 90905 AgR/SP. Ministro Relator Sepúlveda Pertence, primeira turma, 10/04/2007. Provimento negado
113
policial, seja instaurado, ou uma ação penal seja proposta. É fundamental a existência de
justa causa. Sem ela o procedimento, seja administrativo investigatório, ou judicial
configura coação ilegal.
A falta de justa causa ensejará o pedido de arquivamento de um inquérito
policial114, na medida em que a referida ausência provocará a rejeição da petição inicial da
ação penal, Denúncia, nos casos de ação penal pública, Queixa-Crime, nos casos de ação
penal privada, conforme se observa do art. 395, III do Código de Processo Penal. Ora, se a
ausência de justa causa irá acarretar o não recebimento da petição inicial, não há porque o
Ministério Público oferecer a Denúncia, devendo, portanto, requer o arquivamento do
procedimento pré-processual, isto é, do Inquérito Policial.
A natureza jurídica da justa causa é uma questão um tanto tormentosa na
dogmática brasileira, não havendo um consenso entre os doutrinadores.
Inicialmente, à guisa de esclarecimento, para facilitar a compreensão, cumpre
elucidar o que representam as chamadas condições da ação, ou melhor as condições para o
legítimo exercício do direito de ação.
Ação é, antes de mais nada, um direito. O direito de invocar, do Estado, a
prestação jurisdicional. Diversas são as teorias sobre o direito de ação, porém, atualmente,
tende a prevalecer o entendimento da ação como um direito subjetivo público,abstrato e
autônomo. Em razão disso, como um direito em si não apresenta condições, o mais
adequado é denominar as condições como sendo para o exercício legítimo do direito de
ação ou requisitos do provimento final115
As condições para o legítimo exercício do direito de ação, segundo o
entendimento majoritário, trazido do Direito Processo Civil, dividem-se em condições
genéricas e específicas, estas no processo penal recebem a denominação de condição de
procedibilidade.
Genéricas são consideradas, como condição, a legitimidade, o interesse de agir,
e a possibilidade jurídica do pedido, segundo as lições de Enrico Tullio Liebman
114
LIMA Marcellus Polastri. Manual de Processo Penal. 4ª edição Editora Lumen Iuris, 2009
115
Idem item 5
60
No anteprojeto do novo código de processo penal, não haverá mais a legitimidade extraordinária das ações
117
penais exclusivamente privada e personalíssima, subsistindo somente na ação penal privada subsidiária da
pública
61
sancionar a violação de um bem juridicamente tutelado pelo direito penal, que não seja por
meio da intervenção da função jurisdicional do estado. Qualquer tentativa de autotutela,
fora das hipóteses permitidas em lei, importará na prática de outro delito.
Utilidade, do ponto de vista técnico processual consiste na vantagem que o
provimento jurisdicional terá para legitimado.
A possibilidade jurídica do pedido no processo civil, é verificada quando a
pretensão exarada em juízo não encontra vedação expressa em lei. No processo penal, no
entanto, o pedido será juridicamente possível, quando atender à previsão em abstrato da
prática de uma conduta delituosa, tendo em vista que, consoante ao estabelecido no art 5º,
XXIX da CRFB/88: não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal.
Toda e qualquer ação, seja ela da jurisdição penal ou civil, deve observar as
condições genéricas para o legítimo exercício do direito de ação, ou requisitos do
provimento final.118 Algumas ações, além destas condições necessitam observar algumas
outras condições, chamadas específicas, que, no processo penal, são denominadas
condições de procedibilidade, como por exemplo a representação e a requisição do Ministro
da Justiça, nos crimes de ação penal pública condicionada.
Feitos esses esclarecimentos, torna-se possível retomar a questão da natureza
jurídica da justa causa, que, conforme já foi mencionado, provoca muita divergência entre
os doutrinadores do processo penal.
Frederico Marques119 e Vicente Greco Filho120 defendem que a justa causa
importa em uma condição genérica para o legítimo exercício do direito da ação penal,
estando incluída no interesse de agir, porque estaria dentro do chamado fumus boni iuris, ou
seja fumaça do bom direito, ou plausibilidade das alegações. Havendo ausência de suporte
probatório mínimo, a atuação da função jurisdicional do Estado seria desnecessária, pois o
provimento jurisdicional, dela decorrente, iria se configurar totalmente inútil. A
necessidade e a utilidade integram o binômio fundamental do interesse de agir, em assim
sendo, se a falta de suporte probatório mínimo torna inútil o provimento jurisdicional, não
há que se falar em interesse na provocação da função jurisdicional, por parte do legitimado.
118
Idem item 5
119
MARQUES José Frederico. Estudos de Direito Processual Penal. Editora Forense, 1960
120
Idem item 12
62
Para Afrânio Silva Jardim se faz necessário demonstrar, antes de mais nada, que
a propositura da ação penal não é temerária, já que o simples fato de responder a uma ação
penal, traz uma série de constrangimentos para o legitimado passivo 123, atingindo sua
dignidade. Em razão disso, faz-se necessária a demonstração clara da existência de um
suporte mínimo probatório, consistente em indícios suficientes de autoria e provas da
existência de uma infração penal, para que uma ação possa ser proposta.
A grande maioria dos autores em processo penal aceita a utilização das
condições para o legítimo exercício do direito de ação, conforme preconizado no direito
processual civil, no entanto, essa aceitação não se apresenta de forma unânime, porque
Aury Lopes Junior124 entende ser inadequada para ser utilizada no processo, devendo este
121
GRINOVER Ada Pellegrini. As condições da ação penal: uma tentativa de revisão. Editora José
Bushatsky, 1977
122
JARDIM Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 11ª edição Editora Forense, 2007
123
O simples fato de uma pessoa responder a uma ação penal, faz com que apareçam anotações tanto na sua
folha de antecedentes criminais, como no cartório de distribuição, apesar de, em princípio não configurar a
reincidência, que importa na prática de um novo crime, após o trânsito em julgado de uma sentença
condenatória por outro crime, nem maus antecedentes, porque estes exigem no mínimo que a pessoa tenha
sido condenada, ainda que antes do trânsito em julgado, a anotação da propositura da ação pode acarretar a
impossibilidade da pessoa participar de certames públicos, ou até interferir negativamente na realização de um
negócio jurídico.
124
JUNIOR Aury Lopes. Direito Processual Penal. 9ª edição. Editora Saraiva, 2012
63
125
Idem item 19
126
Denúncia, tecnicamente é a denominação dada para a petição inicial que deflagra a ação pena pública
127
Queixa-Crime é o nome da petição inicial que inicia a ação penal privada
64
alegação da prática de uma conduta típica, ilícita e culpável, enquanto que aquela recai
sobre a existência de elementos probatórios da autoria e da materialidade.
O outro fator que integraria a justa causa, proporcionando o controle do caráter
fragmentário da intervenção penal, está inter-relacionado com o princípio da
fragmentariedade que norteia o Direito Penal.
Cezar Roberto Bitencourt128 sustenta que: “a fragmentariedade do Direito Penal
é um corolário do princípio da intervenção mínima e da reserva legal.” Nesse sentido, o
Direito Penal deve tutelar somente os valores mais relevantes e imprescindíveis para a
sociedade, daí o caráter fragmentário do Direito Penal. Ele não deve tutelar todos os bens
existentes na sociedade, mas somente os de maior relevância. É exatamente desse
entendimento que emerge o princípio da insignificância ou bagatela, considerando atípicas
as condutas que lesionam bens disponíveis de pequeno valor.
Para Aury Lopes Junior, a justa causa vai além do suporte probatório mínimo
necessário para a propositura de uma ação penal, conforme defende a maior parte dos
autores que escrevem sobre direito processual penal, ela deve propiciar, também, a
filtragem do controle jurisdicional, para não permitir o dispêndio do grande custo que o
processo penal representa, quando a conduta praticada não observar o caráter fragmentário
do Direito Penal.
O inciso II do artigo 648 do Código de Processo Penal considera ilegal a coação
quando alguém ficar preso mais tempo do que a lei estabelece. No Brasil, a regra é a
liberdade, trata-se do bem maior que qualquer pessoa possui depois da própria vida. A
Constituição de 1988, no caput do artigo 5º, garante a todos esse direito, por esse motivo o
encarceramento das pessoas deve ocorrer apenas por exceção.
Dois são os gêneros de prisão. A prisão pena, que ocorre após o trânsito em
julgado da sentença penal condenatória, consistindo na sanção penal, e a prisão cautelar ou
provisória, cujo cabimento ocorre antes do trânsito em julgado da sentença penal
condenatória e tem a finalidade básica de garantir a eficácia de um procedimento penal.
A prisão pena, por consistir na sanção penal, deve observar o princípio da
reserva legal, estabelecido no artigo 5º, XXXIX da CRFB/88 e no artigo 1
128
BITENCORT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 17ª edição Editora Saraiva, 2012
65
º do Código Penal: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena, sem
prévia cominação legal.”. O juiz, ao fixar a sanção penal, deve, dentre outros princípios,
observar, estritamente, os limites estabelecidos em abstrato, na lei penal.
Diante disso, a manutenção da prisão pena, além do tempo fixado na sentença,
consiste, sem dúvida, em constrangimento ilegal, tanto que provoca a responsabilização
civil do estado conforme prescrito no artigo 5º, LXXV da CRFB/88. “O Estado
indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do
tempo fixado na sentença.”
Três são os sistemas prisionais básicos. O sistema pensilvânico ou da Filadélfia,
também denominado de sistema celular, que data de 1790, no qual o condenado fica
recolhido em uma cela, não podendo trabalhar, nem ter contato com as demais pessoas,
esse sistema objetiva estimular o arrependimento do preso, pela leitura da Bíblia e pelo
isolamento para reflexão. As críticas a esse sistema foram grandes, porque além de ser
extremamente severo, impossibilitava a readaptação social do condenado. As críticas
efetuadas ao sistema da Filadélfia, fizeram surgir, por volta de 1818, o sistema Auburn, no
Estado de Nova York, menos rigoroso, do que o anterior, porque permitia o trabalho do
preso, durante o dia, inicialmente de forma individual, dentro da cela, e posteriormente, em
grupo, com um período de isolamento noturno. O terceiro, sistema, chamado de
progressivo, surgiu na Inglaterra, por volta do século XIX, ele estabelecia uma forma
progressiva de cumprimento da pena em três etapas, na primeira o condenado ficava
completamente isolado dos demais presos, cumprindo a reprimenda no interior de uma cela,
no segundo, permitia-se que o condenado já pudesse trabalhar, em conjunto com os demais
presos, iniciando a sua ressocialização, mas ainda havendo um período de recolhimento
noturno à cela, e por fim, na terceira etapa, era concedido ao condenado o livramento
condicional, para que ele pudesse se reinserir no seio da sociedade.
O procedimento adotado no Brasil, para a execução das prisões pena, tem
previsão na Lei 7.210/84, a chamada Lei de Execuções Penais - LEP. Trata-se de um
sistema progressivo e regressivo, não completamente idêntico ao sistema progressivo inglês
porque, apesar de prever três espécies de regime de cumprimento de pena, progredindo o
condenado de um regime mais gravoso, para regimes menos gravosos, estabelece, também,
a possibilidade de regressão de regime, nos casos de falta grave, além desse fato, o
66
132
A palavra circunstância, deriva do termo em latim circunstare cujo significado era estar em volta. Assim,
circunstâncias agravantes e atenuantes, são fatos que também compões a conduta delituosa, mas não encontra
previsão no tipo que descreve a conduta, elas se caracterizam na lei, por não haver uma previsão expressa da
quantidade de pena que será aumentada ou diminuída. Uma parte da doutrina menciona um quantum de 1/6
da pena, por analogia à regra da progressão de regime, outros mencionam o prudente arbítreo do juiz como
critério para aumentar ou diminuir a pena pelas circunstâncias.
133
Causas de aumento e diminuição de pena, são situações previstas na lei, que fazem aumentar ou diminuir a
pena atribuída para uma pessoa que pratica um delito, elas são caracterizadas por haver previsão expressa, na
lei, do percentual de aumento ou de diminuição.
134
O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30 (trinta) anos.
68
condenado vier a praticar algum delito após a unificação, pois o tempo de pena cumprido é
desconsiderado, fazendo-se uma nova unificação, assim sendo, é possível o condenado ficar
mais de 30 anos preso, conforme se observa do artigo 75,§ 2º do CP135
A Lei 7.210/84 estabelece os procedimentos que deverão ser utilizados, em
Juízo, para que o condenado tenha o direito à progressão de regime: livramento
condicional, e fim do cumprimento da pena reconhecido. Para tanto, o condenado, por meio
de um advogado, deverá fazer requerimento ao juiz da Vara de Execuções Penais. Nas
hipóteses de indeferimento do pedido, adequada seria a via recursal, por meio do recurso de
agravo, ou recursos para os tribunais superiores.
Há uma discussão com relação ao cabimento do Habeas Corpus, nessas
situações, em que tendo o condenado direito aos benefícios da Lei 7.210/84, o juiz indefere,
tendo em vista haver cerceamento do direito de ir e vir.
Atualmente, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal não
têm admitido a utilização do Remédio Heróico, em substituição de recurso, admitindo,
somente, em casos de decisão teratológica a concessão da ordem de ofício.
135
Sobrevindo condenação por fato posterior ao inicio do cumprimento da pena, far-se-á nova unificação,
desprezando-se, para esse fim o período de pena já cumprido.
136
Habeas Corpus 132422/SP. Ministro Relator Rogério Schietti Cruz. Sexta Turma, julgamento 18/06/2016.
Habeas Corpus não conhecido por unanimidade. http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?
tipo_visualizacao=null&livre=habeas+corpus+na+execu%E7%E3o+penal&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO
69
Artigo 142, § 2º da CRFB/88. “Não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares.”
137
objetivos fundamentais da república, no inciso I prevê a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
71
da pessoa humana, art. 1º III da CRFB/ 88 e o direito de liberdade das pessoas, arts. 3º , I e
5º , caput, ambos da carta constitucional de 1988, por outro lado, deixaram a sorte dos
militares ao arbítrio dos seus superiores hierárquicos, no art. 142, § 2º da CRFB/88
A solução do conflito axiológico referente à prisões disciplinares seria
facilmente solucionado se no Brasil, se tivesse adotado a Teoria das Normas
Constitucionais Inconstitucionais, do professor Otto Bachof139.
O professor Otto Bachof sustentava, na sua teoria, a possibilidade de haver uma
norma elaborada pelo legislador constituinte originário que fosse tida como
inconstitucional. Para o professor Bachof, haveria uma hierarquia entre as normas
constitucionais, sendo os direitos e as garantias hierarquicamente superiores às demais
normas constitucionais.
Dessa maneira, se fosse possível adotar a Teoria das Normas Constitucionais
Inconstitucionais, a questão da vedação da utilização da ação de Habeas Corpus em caso de
prisão disciplinar seria simples, como o direito de liberdade, está no art. 5º da CRFB/88 e a
referida vedação no art. 142 do mesmo diploma constitucional, em sendo o primeiro um
direito e garantia constitucional, e o segundo não, bastaria que a Corte guardiã da
constituição declarasse, com efeitos erga omnes a inconstitucionalidade do art. 142, § 2º da
CRFB/88.
O Brasil adotou o princípio da cedência recíproca em que todas as normas
constitucionais, emanadas do poder constituinte originário possuem a mesma hierarquia,
não havendo norma constitucional inconstitucional.
Dessa maneira, a solução é harmonizar as normas, princípios e regras que
garantem a dignidade da pessoa humana e o direito de liberdade, com a vedação da
utilização do Habeas Corpus nas hipóteses de prisão disciplinar, a fim de evitar o arbítrio
despótico de alguns superiores hierárquicos.
A solução adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro para o conflito de
normas constitucionais é a utilização do chamado princípio da proporcionalidade ou, como
querem alguns autores, princípio da razoabilidade140.
139
BACHOF. Otto. Normas Constitucionais Inconstitucionais? Coimbra: Almedina, 1994.
140
O princípio da proporcionalidade, no direito alemão, decorre do princípio do estado democrático de direito,
e exige a observância de três requisitos, ou sub-princípios: necessidade, adequação e ponderação.
72
JUNIOR Aury Lopes. Direiro Processial Penal. 9ª edição Editora Saraiva, 2012, no mesmo sentido Paulo
141
Rangel
75
verdadeira medida cautelar142, cujo objetivo é permitir que o preso em flagrante, possa
responder ao processo em liberdade.
Atualmente, o artigo 310 do CPP, com redação dada pela lei 12.403/11, o juiz,
ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá: relaxar a prisão, se ela for ilegal; converter
a prisão em flagrante em prisão preventiva, se não forem suficientes as medidas cautelares
diversas da prisão; ou conceder liberdade provisória, com ou sem fiança, nos casos de
legalidade da prisão em flagrante.
A liberdade provisória sem fiança conforme o artigo 321 do CPP, tem
cabimento nas hipóteses em que não estão presentes os pressupostos que autorizam a prisão
preventiva, ou seja o fumus boni iuris, ou fumus comissi delicti, consistente em indícios
suficientes de autoria e provas da existência de uma infração, penal, conforme o artig0 312
do CPP, parte final, e o periculim in mora ou periculum libertatis, que são a garantia da
ordem pública, a garantia da ordem econômica, a conveniência da instrução criminal, e para
assegurar a aplicação da lei pena, conforme artigo 312 do CPP primeira parte. Cabe
também a liberdade provisória sem fiança quando o juiz verificar que existem indícios de
ter o acusado agido acobertado por uma das excludentes da ilicitude, tendo em vista que,
nessas situações, a decretação da prisão preventiva encontra-se vedada por força do artigo
314 do CPP.
A fiança, para alguns autores, tem natureza jurídica de caução real 143, pois seria
uma garantia dada em espécie, além do que, essa é a denominação dada no artigo 330, §2º
do CPP. Porém, há o entendimento de que a sua natureza jurídica é de garantia real 144,
tendo em vista a possibilidade de se utilizar, além de dinheiro, pedras e metais preciosos,
títulos da dívida pública, bem como hipoteca inscrita em primeiro lugar, e imóveis,
conforme estabelece o artigo 330 do CPP
O cabimento da liberdade provisória com fiança, inicialmente se dá em sede de
Delegacia de Policia. A autoridade policial, ou seja, o delegado de polícia, pode arbitrar
fiança nos crimes com pena máxima em abstrato que não seja superior a quatro anos, de
142
OLIVEIRA, Eugenio Pacelli. Curso de Direito Processual Penal. 16ª edição Editora Atlas, 2012, no mesmo
sentido. Fernado Capez, Marcellus Polastri Lima
143
RANGEL. Paulo. Direito Processual Penal. 12ª edição Editora Lumen Iuris, 2007, no mesmo sentido Aury
Lopes Junior e Fernando capez
144
FILHO. Fernando da Costa Tourinho. Manual de Processo Penal. 13ª edição Editora Saraiva, 2009
76
acordo com o artigo 322, caput, do CPP. Nas demais hipótese, a fiança somente pode ser
concedida por autoridade judiciária.
O Juiz de direito para arbitrar a fiança, deverá observar, a contrario senso, os
artigos 323 e 324 do CPP, na medida em que eles estabelecem as situações, em que a fiança
não poderá ser concedida.
No que diz respeito ao valor a ser dado em garantia, tanto o juiz como o
delegado de polícia, deverão observar o artigo 325 do CPP, se bem que o fator
preponderante será a condição econômica do preso, pois o valor arbitrado poderá ser
reduzido em até dois terços, aumentado em até mil vezes, cabendo, inclusive a isenção do
pagamento do valor arbitrado, nas hipóteses de hipossuficiência material, conforme o artigo
350 do CPP.
Assim sendo, todas as vezes que uma pessoa for presa, e a lei permitir o
arbitramento da fiança, esta deverá ser concedida. Caso não o seja, a prisão será tida como
coação ilegal, hábil a ser combatida pela via do remédio heróico.
No inciso VI do artigo 648 do CPP, está prevista a possibilidade da utilização
da ação de habeas Corpus, quando o processo for manifestamente nulo.
Nulidade é a sanção de ineficácia de um ato processual em razão da sua
atipicidade, isto representa dizer que, a realização de uma ato processual, com
inobservância do que está estabelecido em lei, poderá gerar a ausência de produção de
efeitos.
Os atos jurídicos, normalmente são analisados em três esferas, a da existência, a
da validade e da eficácia.
A existência está ligada a presença de elementos constitutivos mínimos, os
denominados pressupostos de existência do processo, que são: órgão jurisdicional, partes
que possam figurar no processo, e demanda.
A validade está relacionada com os pressupostos de desenvolvimento válido do
processo, consistente na competência e imparcialidade do órgão jurisdicional, capacidade
para ser parte, para estar em juízo, e capacidade postulatória, e por fim a regularidade e o
ineditismo da demanda.
A eficácia, por sua vez, está relacionada com a aptidão de um ato processual,
para produzir seu regulares feitos
77
A doutrina no terreno das nulidades, costuma fazer uma divisão entre nulidade
absoluta e nulidade relativa. A identificação, dessas duas espécies de nulidade, é questão
bastante espinhosa, que por vezes, provoca, uma série de divergências entre os autores.
Absoluta seria a nulidade em que o vício do ato processual recaísse sobre
norma de interesse público, violando norma de caráter constitucional.
Na nulidade relativa a atipicidade do ato processual, recai sobre normas
dispositivas de interesse da parte.
No processo penal vigora o princípio do “pás de nullitè sans grief”, porque via
de regra um ato não será declarado nulo, se não houver prejuízo. Na nulidade absoluta,
como a violação recai sobre norma de interesse público, normalmente de natureza
constitucional, o prejuízo pode ser presumido, por outro lado, nas nulidades relativas, como
prepondera o interesse das partes, o prejuízo necessita ser provado.
Cabe ao juiz reconhecer de ofício as nulidades absolutas, devendo as partes
alegarem tempestivamente as nulidades relativas. Provada ou presumida um procedimento
não pode prosseguir de forma válida, quando eivado de nulidade, caso isso ocorra o
ordenamento jurídico brasileiro, admite a utilização do Habeas Corpus, como remédio
eficaz, para fazer corrigir essas eventuais atipicidades dos atos processuais.
Por fim, O Código de Processo Penal, no artigo 648, inciso VII, admite o
cabimento da utilização do Habeas Corpus, quando a punibilidade estiver extinta. O artigos
107 do Código Penal, com redação dada pela Lei 7209/84, descreve exemplificativamente,
as causas extintivas da punibilidade. O rol não é taxativo, porque outras causas há na parte
geral do Código Penal, como por exemplo o perdão judicial nos crimes de homicídio e
lesões corporais culposas.
Na contingência da ocorrência de uma conduta voluntária, típica, ilícita e
culpável, surge para o Estado o direito de punir, ou seja, o is puniendi, após o cumprimento
do devido processo legal, provada a prática da infração penal, e sua autoria, têm-se como
conseqüência a aplicação de uma sanção penal, a pena. Contudo, ocorrendo uma das
situações, que ensejam a extinção da punibilidade, o que acaba, não é o direito de ação
propriamente dito, mas sim o direito do Estado em exercer o seu direito de punir.
Tal entendimento é possível de se observar da manifestação do Ministro
Francisco Campos, ao ser referir às causas extintivas da punibilidade, estabelecidas no
78
artigo 108, da antiga parte geral do Código Penal 145 “ O que se extingue, antes de tudo, nos
casos enumerados no artigo 108 do projeto, é o próprio direito de punir por parte do
Estado.”
Não mais existindo o direito de punir do estado, não há porque haver
persecução penal, nem tão pouco sanção penal, portanto, a manutenção de um processo
penal, a coação configurar-se-á ilegal, admitindo Habeas Corpus preventivo.
8 Procedimento em Juízo
Nesta quarta-feira (21), o STJ (Superior Tribunal de Justiça) recebeu seu primeiro
habeas corpus escrito em um lençol. Redigido por um detento do Ceará, o documento foi
encaminhado à Corte pela ouvidora da OAB-CE, Wanha Rocha. Segundo o STJ, as peças
foram digitalizadas e passaram a tramitar como qualquer outro processo. 146
145
Exposição de motivos do Código Penal de 1940.
146
Noticia veiculada no site http://jornal.jurid.com.br/materias/noticias/stj-recebe-pedido-habeas-corpus-
redigido-em-lencol
79
Uma das mais belas criações da nossa jurisprudência foi a da liminar em pedido
de Habeas Corpus, assegurando de maneira eficaz o direito de liberdade. No habeas corpus, que
recebeu o n. 41.296, em favor do Governador de Goiás, Mauro Borges, o relator, Sua
Excelência o Ministro Gonçalves de Oliveira, então Presidente do STF, como naquele dia não
havia sessão no Tribunal, concedeu liminar aduzindo: “Se no mandado de segurança pode o
Relator conceder liminar, até em casos de interessas patrimoniais, não se compreenderia que,
em casos em que está em jogo a liberdade individual, ou as liberdades públicas, a liminar no
habeas corpus preventivo, não pudesse ser concedida. Este é um dos primeiros, senão o
primeiro caso de liminar em habeas corpus.
Nada mais há, a não ser concordar plenamente com a magistral explicação do
professor Tourinho Filho.
Distribuída a ação, ela passa a tramitar com prioridade para julgamento,
conforme o artigo 664 do CPP.
147
FILHO. Fernando da Costa Tourinho. Manual de Processo Penal. 9ª edição Editora Saraiva, 1997
80
148
Idem item 25
81
10 Competência Recursal
151
Agravo Regimental no Habeas Corpus, nº 2012/0035286-2. Ministra Relatora Regina Helena Costa.
Quinta Turma. Julgamento 18/06/2014. http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?
tipo_visualizacao=null&livre=revis%E3o+criminal+e+habeas+corpus&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO
152
Embargos de Declaração no Agravo Regimental No Habeas Corpus. Ministro Relator Roberto Barroso.
Primeira Turma. Julgamento 29/04/2014 http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?
s1=%28revis%E3o+criminal+e+habeas+corpus%29&pagina=2&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl
83
por sentença, a interpor recurso, nas ações penais públicas, quando o Ministério Público
não o faça no prazo legal. O artigo do CPP menciona, “ ainda que não tenham se habilitado,
como assistente da acusação”, afirmação, que parece ser dispensável ou paradoxal, porque
se o réu tiver se habilitado como assistente da acusação, ele teria integrado a relação
jurídica de direito processual, e estaria, automaticamente legitimado para interpor o recurso.
O interesse recursal tem relação direta com a sucumbência, entendendo- se esta
como sendo a não obtenção no todo ou em parte da pretensão deduzida em juízo, ou seja,
tem interesse em recorrer todo aquele que, sendo legitimado, pode, por meio do recurso
obter uma situação jurídica mais vantajosa.
Os pressupostos objetivos apresentam relação, com o próprio recurso em si,
consistindo, em cabimento, adequação, tempestividade, regularidade formal, e inexistência
de fatos impeditivos ou extintivos.
O juiz que concede a ordem de habeas corpus, ainda que esteja integrando a
relação jurídica de direito processual, carece de interesse de agir, na medida, em que não há
que se falar em sucumbência para o juiz, dessa maneira, tratar o reexame necessário, como
sendo a interposição de um recurso de ofício, tecnicamente, representa um verdadeiro
absurdo.
O duplo grau de jurisdição ou reexame necessário, na verdade consiste em uma
condição de eficácia de uma decisão154, ao ser proferida, se adequadamente, observado os
pressupostos de existência de desenvolvimento válido do processo, a decisão tem existência
e validade, porém, necessita do reexame por um outro órgão jurisdicional, para que possa
ganhar efetividade prática, ou seja, eficácia.
Assim, sendo, os recursos de uma perspectiva técnica, serão sempre atos
voluntários, devendo a parte observar o órgão com competência para rever a decisão
proferida.
Quando o órgão que julgou a ação de habeas corpus, integrar a primeira
instância, seja a decisão concessiva ou denegatória, o recurso adequado, de acordo com o
artigo 581, X do CPP é o recurso em sentido estrito.
No caso de ser negado provimento no recurso em sentido estrito, se for por
maioria, ainda é cabível os embargos infringentes e de nulidade, conforme o artigo 609 do
154
FILHO Fernando da Costa. Processo Penal, 9ª edição, Volume 4. Editora Saraiva, 1997
85
CPP, não sendo essa a hipótese, resta, como única via processual os recursos especial para
o Superior Tribunal de Justiça ou o Recurso Extraordinário para o supremo Tribunal
Federal, porém, nos recursos para os tribunais superiores, há uma limitação, quanto a
matéria, que pode ser objeto de impugnação, pois não cabe mais a discussão de fato, sendo
possível somente discutir matéria de direito, violação do ordenamento jurídico, ou seja,
normas infraconstitucionais, no caso do recurso especial, e violação de normas
constitucionais, no recursos extraordinário.
Os chamados recursos extraordinários lato senso, que apresentam como
espécies o recurso especial e o recurso extraordinário, limitam enormemente o âmbito de
discussão da matéria, cuja origem era um habeas corpus, porque não mais será possível
haver apreciação de provas, e de fatos, além disso, os referidos recursos não apresentam
efeito suspensivo, que permitiria suspender a eficácia da decisão combatida na ação de
habeas corpus.
O recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal, além da limitação
com relação à matéria objeto de impugnação, que restringe-se a violação da carta
constitucional, exige, também, como pressuposto de admissibilidade, a existência de
repercussão geral, ou seja, um interesse amplo da matéria apreciada.
A Constituição de 1988 prevê a possibilidade da utilização dos recursos
ordinários constitucionais, para impugnar decisões que negam a concessão de ordem em
habeas corpus, porém, o cabimento desses recursos também mostra-se restrito, porque o
recurso ordinário constitucional para o Superior Tribunal de Justiça, requer denegação da
ordem, eu única ou última instância proferida nos Tribunais de Justiça, ou nos Tribunais
Regionais Federais, conforme se observa do artigo 105, II, a da CRFB/88.
O recurso ordinário constitucional para o Supremo Tribunal Federal é mais
limitado ainda, tendo em vista, que só terá cabimento, quando a denegação da ordem em
ação de habeas corpus ocorrer em única instância no Superior Tribunal de Justiça,
conforme artigo 102,II, a da CRFB/88, deixando, portanto, de reexaminar, todas as
decisões denegatórias, proveniente de instâncias inferiores.
A via recursal, embora hábil para se fazer o reexame de decisões judiciais, ela
exige a observância de algumas formalidades, como por exemplo a necessidade de
86
VOTO
sofrer violência ou coação à liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder, cabe
manusear o instrumental, fazendo-o no tocante à competência originária de órgão julgador.
Em época na qual não havia a sobrecarga de processos hoje notada – praticamente
inviabilizando, em tempo hábil, a jurisdição –, passou-se a admitir o denominado habeas
substitutivo do recurso ordinário constitucional previsto contra decisão judicial a implicar o
indeferimento da ordem. Com isso, atualmente, tanto o Supremo quanto o Superior Tribunal de
Justiça estão às voltas com um grande número de habeas corpus – este Tribunal recebeu, no
primeiro semestre de 2012, 2.181 habeas e 108 recursos ordinários e aquele, 16.372 habeas e
1.475 recursos ordinários. Raras exceções, não se trata de impetrações passíveis de serem
enquadradas como originárias, mas de medidas intentadas a partir de construção
jurisprudencial.
O Direito é orgânico e dinâmico e contém princípios, expressões e vocábulos com sentido
próprio. A definição do alcance da Carta da Republica há de fazer-se de forma integrativa, mas
também considerada a regra de hermenêutica e aplicação do Direito que é a sistemática. O
habeas corpus substitutivo do recurso ordinário, além de não estar abrangido pela garantia
constante do inciso LXVIII do artigo 5º do Diploma Maior, não existindo sequer previsão legal,
enfraquece este último documento, tornando o desnecessário no que, nos artigos 102, inciso II,
alínea a, e Supremo Tribunal Federal Voto-MIN.MARCOAURÉLIO155 (grifo nosso)
qualquer ato praticado pela administração pública, que estivessem em consonância com o
referido Ato.
Art. 10 - Fica suspensa a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes políticos,
contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular.
Art. 11 - Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de
acordo com este Ato institucional e seus Atos Complementares, bem como os respectivos
efeitos.
Art. 12 - O presente Ato Institucional entra em vigor nesta data, revogadas as
disposições em contrário.
"Art. 113 - O Supremo Tribunal Federal, com sede na Capital da União e jurisdição em todo o
território nacional, compõe-se de 11 (onze) Ministros.
a) os habeas corpus decididos, em única ou última instância, pelos Tribunais locais ou federais,
quando denegatória a decisão, não podendo o recurso ser substituído por pedido
originário;159(grifo nosso)
160
Dados obtidos no site do Supremo Tribunal Federal. Consulta feita em 18/12/2015. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=publicacaoInformativoTema
92
99
64
A observação dos dados estatísticos permite concluir, pelo menos com base nos
informativos de jurisprudência do Supremo Tribunal Federal analisados que, do ano de
2012 para o ano de 2013 ocorreu uma redução de 21,42% nas decisões em ações de habeas
corpus no Supremo Tribunal Federal, e em 2014 constata-se uma redução de 35,35% em
relação ao ano de 2013 e de 49,21% em relação ao ano de 2012. Os dados estatísticos
demonstram, claramente, a queda vertiginosa do número de ações de habeas corpus
julgados no Supremo Tribunal Federal, nos anos de 2013 e 2014.
extinta, sem resolução de mérito, ação penal em que o réu seria processado pela suposta prática
do crime de deserção. O pleito da Defensoria Pública da União — de que fosse intimada da data
da apreciação da correição parcial com a finalidade de proferir sustentação oral — fora
indeferido pelo tribunal a quo, mediante a justificativa de que o procedimento não teria sido
suscitado por nenhuma das partes do processo, mas sim pelo juiz-auditor corregedor. A
impetração sustentava ofensa ao contraditório e à ampla defesa e requeria que fosse: a)
concedida vista dos autos à instituição para apresentação de razões escritas, porquanto o feito
teria o intuito de desconstituir sentença favorável ao paciente; b) deferida a oportunidade de
defender oralmente suas razões quando do julgamento da correição em tela; e c) assegurado a
membro da DPU o exercício de sua prerrogativa legal de sentar-se no mesmo plano do
Ministério Público (Lei Complementar 80/94, art. 4º,§ 7º). Verificou-se que o direito de
sustentar oralmente nas correições parciais adviria do próprio regimento interno do órgão em
questão, pelo que deveria ter sido franqueado à defesa. Citou-se jurisprudência do STF segundo
a qual deveria ser atendido o pedido explícito da instituição de defender oralmente suas razões.
Com relação ao requerimento de sentar-se no mesmo plano do parquet, denegou-se a ordem.
Explicou-se que a matéria não poderia ser apreciada, porque não relativa ao risco aparente à
liberdade de locomoção, de modo a justificar sua arguição pela via estreita do writ. Precedente
citado: HC 112839/RJ (DJe de 17.9.2012). HC 112516/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski,
11.9.2012. (HC-112516)161
Ação penal pública e preparo. A deserção por falta de pagamento do valor devido
pelas fotocópias para formação do traslado, quando se trate de ação penal pública, traduz rigor
formal excessivo, por impossibilitar o exercício da ampla defesa. Com base nessa orientação, a
1ª Turma concedeu habeas corpus para afastar a deserção por ausência de preparo e determinar
que o Tribunal Superior Eleitoral julgue o recurso do paciente. No caso, o Tribunal Regional
Eleitoral o condenara pela prática do crime de transporte irregular de eleitores no dia eleição
(Lei 6.091/74, artigos 10 e 11, c/c o art. 302 do Código Eleitoral). A defesa interpusera recurso
especial e, ante a inadmissão, agravo de instrumento o qual fora desprovido por falta de
pagamento do valor devido a título de fotocópias para formação do traslado (Código Eleitoral,
art. 279, § 7º). Asseverou-se que haveria previsão legal no sentido de que a deserção se
configuraria apenas quando se tratasse de ação penal privada (CPP: “Art. 806 ... § 2º A falta do
pagamento das custas, nos prazos fixados em lei, ou marcados pelo juiz, importará renúncia à
diligência requerida ou deserção do recurso interposto”), e não de ação penal pública, como na
espécie. HC 116840/MT, rel. Min. Luiz Fux, 15.10.2013. (HC-116840)162
161
Dados obtidos no site do Supremo Tribunal Federal. Consulta feita em 18/12/2015. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/publicacaoInformativoTema/anexo/
Compilacao_Informativo_mensal_2012_2.pdf
162
Dados obtidos no site do Supremo Tribunal Federal. Consulta feita em 18/12/2015. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/publicacaoInformativoTema/anexo/
94
No ano de 2014, último ano em que foi feita a coleta de dados para este
trabalho, foi possível observar que de um total de 64 habeas corpus impetrados, 51 foram
na competência penal e processual penal, 8 na competência da justiça militar, 4 tratando de
matéria relativa à infância e juventude e 1 na competência do processo civil, onde foi
discutido questão de tempestividade em Agravo Regimental no âmbito do Superior
Tribunal de Justiça:
Compilacao_Informativo_mensal_2013.pdf
163
Dados obtidos no site do Supremo Tribunal Federal. Consulta feita em 18/12/2015. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/publicacaoInformativoTema/anexo/
Compilacao_Informativo_mensal_2014.pdf
95
108
87
51
15
10 8
2 1 0 0 4
2012 1 0 1 0
2013 0 0 1
2014 Categoria 4
A análise dos dados estatísticos permite ainda perceber que a maior parte da
demanda de ações de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal se concentram na
matéria penal e processual penal. No ano de 2012 representou 87,71% dos habeas corpus
impetrados, tendo restado para a competência da justiça militar 11,90%, 1,58% para
questões relativas à infância e juventude e 0,79% para questão de direito constitucional. No
ano de 2013 a matéria penal e processual penal representou um 87,88% dos habeas corpus
decididos, tendo a competência da justiça militar ficado com 10,10% dos habeas corpus
decididos, a infância e juventude e a competência da justiça eleitoral, com 1,01% das
demandas. No ano de 2014, a análise observa que: 79,69% dos habeas corpus decididos no
Supremo Tribunal Federal trataram da matéria de direito penal e de direito processual
penal; a justiça militar foi responsável por 12,5% das demandas, a infância e juventude
96
6,25%, e o processo civil 1,56% do total de ações de habeas corpus decididos no Supremo
Tribunal Federal.
Argumento de autoridade (ab autoritatem) - é o argumento que se vale da lição de uma pessoa conhecida,
164
um especialista em determinada área, ele serve para dar credibilidade a uma afirmação feita. As citações de
doutrina e jurisprudência são os exemplos claros de argumento de autoridade, elas tem a finalidade de
convencer o interlocutor de que a colocação feita é verdadeira.
97
Rafael Mario Iorio Filho faz um estudo das decisões do Supremo Tribunal
Federal com relação à intervenção federal, utilizando como base a Teoria da Análise
Semiolinguística do Discurso de Patrick Charaudeau 166, que sustenta, resumidamente, para
o discurso político, a existência de um “contrato de comunicação” em que um indivíduo
ocupa a posição de locutor e o outro de receptor do discurso, ocorrendo uma interrelação
entre os agentes, que de certa forma esperam um determinado comportamento e
conhecimentos preexistentes, uns dos outros.
165
IORIO FILHO. Rafael Mario. Uma questão da cidadania: O papel do Supremo Tribunal Federal na
intervenção federal. Editora CRV, Curitiba, 2014.
166
CHARAUDEAU. Patrick. O Discurso Político 2ª edição. tradução Fabiana Komesu e Dilson Ferreira da
Cruz. Editora Contexto, 1ª reimpressão. São Paulo. 2013.
167
DUARTE. Fernanda e IORIO FILHO. Rafael Mario. Artigo Supremo Tribunal Federal: uma proposta de
análise jurisprudencial- a igualdade jurídica e a imunidade parlamentar. Disponível em:
http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/bh/fernanda_duarte.pdf. Consulta feita em
21/12/2015
98
O governo da palavra não é tudo na política, mas a política não pode agir sem a
palavra: a palavra intervém no espaço de discussão para que seja definido o ideal dos fins e os
meios da ação política; a palavra intervém no espaço de ação para que sejam organizadas e
coordenadas a distribuição das tarefas e a promulgação das leis, regras e decisões de todas as
ordens; a palavra intervém no espaço de persuasão para que a instância política possa convencer
a instância cidadã dos fundamentos de seu programa.168
Logo diz, de um lado Weber (para quem o poder político está diretamente ligado
à dominação e à violência, por meio do Estado que, tendo força de dominação, impõe sua
autoridade sob aparência de legalidade e obriga os homens a saberem-se dominados, portanto, a
submeterem-se.169
168
Idem item 160
169
Idem item 160
99
STRECK, Lenio Luiz. O que é isto – as garantias processuais penais?. 4ª edição. Editora Livraria do
170
172
Art. 5o da Lei 12016/09: Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: I - de ato do qual caiba
recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução; II - de decisão judicial da qual
caiba recurso com efeito suspensivo; III - de decisão judicial transitada em julgado.
173
ALEXY,Robert. Teoria da Argumentação Jurídica. 3ª edição. Editora Forense, Rio de Janeiro, 2013
174
A Jurisprudência dos valores surgiu na Alemanha, com a finalidade de equalizar a constituição outorgada
pelos aliados, no pós-guerra, 1949, com os valores do povo alemão. Decorre dessa situação a afirmação de
que, na Alemanha daquela época, a justiça poderia ser distinta da lei. Assim a jurisprudência dos valores seria
um mecanismo de abertura de uma legalidade extremamente fechada. (Lenio Streck: O que é isso – decido
conforme a minha consciência? Editora livraria do advogado. 2013 Páginas 20 e 21)
175
STRECK, Lenio Luiz. O que é isto - decido conforme a minha consciência?. 4ª edição. Editora Livraria do
Advogado. Porto Alegre. 2013, páginas 53 e 54
102
179
Idem item 160
105
180
Idem item 153
181
Idem item 153
182
Idem Item 157
106
183
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 7ª edição. Editora Saraiva. São
Paulo. 2009
184
Decisão: Após o voto do Ministro Dias Toffoli (Relator), conhecendo e denegando a ordem, e o voto do
Ministro Roberto Barroso, que não conhecia do habeas corpus, pediu vista dos autos o Ministro Teori
Zavascki. Ausentes, justificadamente, o Ministro Celso de Mello e, neste julgamento, o Ministro Marco
Aurélio. Falaram, pela Defensoria Pública da União, o Dr. João Alberto Simões Pires Franco, Defensor
Público, e, pelo Ministério Público Federal, o Dr. Rodrigo Janot Monteiro de Barros, Procurador-Geral da
República. Presidência do Ministro Joaquim Barbosa. Plenário. HC. 113.198. Ministro Relator Dias Toffoli.
19.12.2013. Consulta realizada em 22/01/2016. Disponíve:
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?
numero=113198&classe=HC&origem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=M
107
corpus em todas as instâncias, tendo em vista não existir expressa vedação legal. Além
disso, a regra interpretativa básica do processo penal, estabelece sempre a interpretação
mais benéfica para aquele que tem sua liberdade de ir e vir posta em risco pela ação do
estado, dessa maneira, diante do silêncio eloquente do legislador constituinte originário, no
que diz respeito ao habeas corpus substitutivo, a única intepretação cabível e coerente com
os valores democráticos estabelecidos pós Regime Militar seria pelo seu cabimento em toda
e qualquer instância.
liberdade de ir e vir. Os Ministros, a exceção do Ministro Dias Toffoli, optaram por criar
uma jurisprudência com o intuito de apenas reduzir a carga de trabalho, que além de trazer
de volta uma restrição existente em período de exceção, possibilita, eventualmente, a
manutenção de prisão irregular no pais. Na defesa de uma redução do volume de trabalho,
os Ministros deram as costas para o direito constitucional de ir e vir, estabelecido na Carta
Constitucional de 1988, sem maiores cuidados com os fundamentos alegados, na medida
em que fazem reviver, em pleno estado democrático de direito, regra existente no período
da Ditadura Militar. A situação mostra-se extremamente grave, pois não representa o
simples afastamento do princípio do acesso à justiça, envolve, também, um fundamento que
revive norma existente em um período autoritário da história do Brasil.
A questão não poderia ter sido tratada de forma mais adequada. Na verdade, um
grande número de ações penais surgem todos os dias, já fadadas ao insucesso, sequer
deveriam ter sido iniciadas, se uma análise mais criteriosa tivesse sido realizada, dessa
maneira, a máquina do judiciário não teria sido movimentada, evitando-se, por conseguinte,
um acumulo de trabalho em todas as instâncias judiciárias.
189
Art. 395 do Código de Processo Penal. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: I - for
manifestamente inepta; II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou III -
faltar justa causa para o exercício da ação penal.
190
STRECK Lenio Luiz. Jurisdição Constitucional e Decisão Jurídica. 4ª edição. Editora Revista dos
Tribunais. São Paulo. 2014, página 937.
111
Além destes, no mês de fevereiro de 2015, o Conselho Nacional de Justiça, junto com o
Supremo Tribunal Federal, iniciou um programa no Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo para colocar em prática a chamada Audiência de Custódia, cuja finalidade é
possibilitar a apresentação de uma pessoa presa em flagrante, dentro do prazo de vinte
quatro horas, a juiz, para que este possa decidir sobre a manutenção ou não da prisão.
Não há dúvida de que um tratado ou convecção internacional, uma vez referendado pelo
Congresso, passa a integrar o ordenamento jurídico brasileiro, como norma de observância
obrigatória em todo território nacional.
Capitulo V – CONCLUSÃO
ano de 1832, por meio do Código de Processo Penal do Império, o Brasil passou a utilizar o
habeas corpus como meio para tutelar a liberdade, galgando status de norma constitucional
expressa, somente com o advento da Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1891,
desde de então, até os dias de hoje, a ação de habeas corpus sempre passou a ter previsão
constitucional, ressalva seja feita ao período compreendido entre 1942 e 1946, em que por
força do Decreto 10.358 houve revogação da previsão constitucional, ficando a sua
regulamentação somente por conta o Código de Processo Penal
O habeas corpus teve o seu âmbito de incidência estabelecido ainda sob a égide
da Constituição de 1891 com a reforma de 1926, por meio da emenda nº 3, quando o
legislador constituinte derivado fixou a incidência da ação de habeas corpus somente para
proteger a liberdade de locomoção, a sua eficácia prática, contudo, estava longe de se
114
da ação de habeas corpus não pode, nem deve ser, o único meio hábil para tutelar a
liberdade de locomoção sob pena de, por existir um único caminho, tornar inviável uma
tutela eficaz do direito de liberdade. Outros mecanismos necessitam e devem ser
disponibilizados para que as pessoas possam buscar no Poder Judiciário um resguardo
efetivo contra eventuais arbitrariedades do Estado. O incremento de outras vias, como a
audiência de custódia, por exemplo, sem a menor sombra de dúvida, permite um controle
mais eficaz e célere das prisões em flagrante, garantindo o direito de ir e vir, ainda no
nascedouro, preservando-o de eventuais ilegalidades. As demais vias recursais fazem-se
necessária também, porque, quanto maiores forem as possibilidades de as pessoas buscarem
o resguardo da função jurisdicional do Estado, mais eficaz será a prestação jurisdicional. O
caminho para o verdadeiro e eficaz acesso à justiça está na ampliação dos meios que levam
à função jurisdicional. A mim me parece inadequada a obstrução de uma via, por meio de
uma jurisprudência defensiva, no âmbito do Supremo Tribunal Federal, fazendo reviver
uma regra existente em um regime autoritário, com a finalidade única de promover
desobstrução das pautas e a redução do trabalho.
hesitam em tentar submeter toda uma população aos seus caprichos frívolos. As instituições
democráticas, e o Poder Judiciário, em particular e especialmente, precisam e devem estar
atentos aos desmandos e a toda e qualquer manobra que tente, de alguma forma mitigar ou
subtrair as liberdades democráticas. Nenhuma forma de ditadura pode ou deve ser aceita,
porque, quando se instala, seja pelo argumento que for, o primeiro bem a deixar de existir é
a liberdade das pessoas comuns do povo. O grupo detentor do poder utiliza da retórica, da
força, ou de qualquer meio disponível para manter o seu poder e os seus privilégios. É
dever das pessoas de bom senso se oporem à possibilidade de um retorno de ideais
autoritários. A função jurisdicional do Estado sempre teve um papel de protagonismo e
relevância na luta pela manutenção das liberdades democráticas no Brasil; cabe aos
profissionais do Direito se empenharem para preservar todas as conquistas alcançadas, lutar
pela manutenção do acesso efetivo e célere à justiça, pois não há motivo algum que deva
restringir, seja por que razão for, qualquer via que possa permitir, ao comum do povo, levar
a sua questão ao conhecimento da função jurisdicional. A obstrução de qualquer via judicial
pode causar sérios problemas, na medida em que uma eventual lesão à direito pode ficar
escondida. É por essa razão que os ingleses sempre se preocuparam com a liberdade de
locomoção; diziam eles, que a lesão à integridade física, ou à vida, não se mostrava tão
grave, porque sempre, de alguma forma, ela seria exposta ao público, já a lesão ao direito
de ir e vir poderia ficar oculto indefinidamente. A manutenção das vias judiciais é crucial
para evitar o obscurantismo de lesões praticadas ao direito. Nesse sentido, a jurisprudência
defensiva do Tribunais Superiores, com a finalidade exclusiva de reduzir carga de trabalho,
torna-se um instrumento perigoso, capaz de manter às ocultas uma eventual lesão a direitos,
especialmente a liberdade de ir e vir que é mais vulnerável, pois uma pessoa pode ficar
oculta por anos, presa ilegalmente, sem que haja justo motivo. Não é crível que os senhores
Magistrados queiram se furtar ao trabalho e, para tanto, deixem ao desamparo indivíduos
que estejam sofrendo arbitrariedades por conta do Estado. É dever, e não faculdade. Cabe,
constitucionalmente, à função jurisdicional, o controle de legalidade dos atos praticados no
território brasileiro, por conta disso, todos os mecanismos precisam estar à disposição das
pessoas para que possam levar ao judiciário as suas questões, não devendo encontrar, para
tanto, nenhuma espécie de entrave de ordem processual, seja burocrático, seja
jurisprudencial. O entrave a que me refiro não se trata de questão de mérito, mas
117
Referências Bibliográficas
CAPEZ Fernando. Curso de Processo Penal. 19ª edição Editora Saraiva, 2012
CRUZ, Eugeniusz Costa Lopes da. Justiça de transição no Brasil: análise crítica
da persecução penal dos agentes do regime militar. Editora Juruá. Curitiba. 2015
FILHO Fernando da Costa Tourinho Processo Penal 18ª edição. Vol. I Editora
Saraiva, 1997
JARDIM Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 11ª edição Editora Forense,
2007
JUNIOR Aury Lopes. Direito Processual Penal. 9ª edição Editora Saraiva, 2012
RANGEL Paulo. Direito Processual Penal. Editora Lumen Iuris, 12ª edição.
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http://portuguese.brazil.usembassy.gov/
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121
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http://www.stj.jus.br/portal/site/STJ
http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao
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