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Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí,
a Coordenação do Curso de Mestrado em Ciência Jurídica, a Banca Examinadora e
o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Mestrando
PÁGINA DE APROVAÇÃO
1
PAULA, Rodney Pereira de. O Direito de Propriedade e a Devida Proteção às Áreas de
Preservação Permanente Urbana – Conflito e Controvérsias. Dissertação de Mestrado. Itajaí:
Universidade do Vale do Itajaí, 2019, p. 70.
2 PROVIN, Alan Felipe. O Outro Lado da Cidade: A Regularização Fundiária como Instrumento à
Sustentabilidade. Dissertação de Mestrado. Itajaí: Universidade Vale do Itajaí, 2017, p. 32.
3 MOTA, Mauricio Jorge Pereira e MOURA, Emerson Affonso da Costa. O Direito à Moradia e a
Regularização Fundiária. In: MOTA, Mauricio Jorge Pereira et al (org.). Direito a `moradia e
regularização fundiária. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018, p. 13.
da Constituição Federal Brasileira de 1988, não é absoluto e deve estar de acordo
com sua função social.4
RESUMO ............................................................................................................................................. 13
ABSTRACT ......................................................................................................................................... 14
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 15
1 DIREITO FUNDAMENTAL À MORADIA E À CIDADE SUSTENTÁVEL ............................... 19
1.1 O DIREITO FUNDAMENTAL À MORADIA ......................................................................... 21
1.2 CONTEXTO INTERNACIONAL DO DIREITO À MORADIA ............................................. 30
1.3 ANÁLISE HISTÓRICA E EVOLUÇÃO LEGISLATIVA ....................................................... 31
1.4 CONCEITO DE DIREITO À MORADIA ................................................................................ 36
1.5 CONCEITO DE DIREITO À CIDADE SUSTENTÁVEI ...................................................... 37
1.7 OCUPAÇÃO EXCLUDENTE DO SOLO URBANO: A CIDADE FORMAL E A CIDADE
REAL ................................................................................................................................................ 41
1.8 A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE FRENTE AO DIREITO À PROPRIEDADE 46
1.9 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL URBANO ............................................................ 49
1.10 ESTATUTO DAS CIDADES – ATUAÇÃO DO PODER ESTATAL EAS POLÍTICAS
PÚBLICAS ....................................................................................................................................... 53
2 O MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO E ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE ................................................................................................................................... 58
2.1 DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO ......................... 58
2.2 DEFINIÇÃO DE UM MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO ............. 62
2.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E LEGISLATIVA DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO ........... 65
2.4 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DE ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE
........................................................................................................................................................... 72
2.5 MODALIDADE OU ESPÉCIES DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTES ... 75
2.6 ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE URBANA ..................................................... 79
2.7 ÁREAS CONSOLIDADAS E CONSEQUENCIAS JURÍDICAS ........................................ 86
2.8 INTERVENÇÃO E SUPRESSÃO EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE
URBANAS ....................................................................................................................................... 89
3 REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA COMO INSTRUMENTO PARA DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL .................................................................................................................................. 97
3.1 PANORAMA LEGISLATIVO DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA .................................. 97
3.2 CONCEITO DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA ............................................. 98
3.3 OBETIVOS DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA ............................................................... 99
3.4 MODALIDADES E REQUISITOS DA LEI 13.465/17 ....................................................... 101
3.5 INSTRUMENTOS DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA ................................ 104
3.6 ANÁLISE ECONÔMICA DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA ..................... 105
3.7 REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E O
DANO AMBIENTAL ..................................................................................................................... 108
3.8 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS: UM CONFLITO APARENTE ................................. 114
3.9 PONDERAÇÃO ENTRE O DIREITO À MORADIA E AO MEIO AMBIENTE
ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO ....................................................................................... 117
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 124
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................. 127
13
RESUMO
A presente Dissertação está inserida na linha de pesquisa Direito,
Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente. A regularização fundiária de invasões ou
ocupação de áreas de preservação permanente urbanas é a essência da pesquisa. O
direito à moradia digna e ao meio ambiente são pressupostos de uma qualidade de
vida sadia que se incorporam aos elementos da dignidade da pessoa humana,
princípio previsto na Carta Magna brasileira. O direito social de possuir um lugar para
ser chamado de lar é um direito de todos, pois atende às necessidades primárias da
população. Da mesma forma, a natureza deve ser preservada e sua estabilidade
conservada e, se possível, restaurada quando prejudicada, visto que a vida de todas
as espécies depende de um meio ambiente equilibrado no presente e no futuro.
Apesar dos direitos à moradia, meio ambiente e propriedade estarem no degrau dos
direitos fundamentais, nenhum possui a caraterística de ser absoluto, não
prevalecendo um sobre o outro de forma abstrata. Na aplicação dos instrumentos
trazidos pela legislação recém introduzida ao ordenamento jurídico, como o Novo
Código Florestal, Estatuto da Cidade e, por último, a Lei de Regularização Fundiária,
os conflitos de direitos fundamentais serão uma constante. O choque desses direitos
de tamanha importância se mostra mais agudo quando se envolve áreas ambientais
sensíveis nos centros urbanos, uma vez que envolvem consequências sociais,
econômicas e, principalmente, ambientais. Ademais, não obstante os avanços
científicos da sociedade atual, a avaliação no caso em concreto não pode deixar de
avaliar os danos futuros e desconhecidos. Assim, no caso concreto, analisar qual a
melhor técnica para alcançar o melhor resultado em qualquer das situações que se
apresente que, por consequência, pode comprovar se a regularização fundiária veio
como uma ferramenta jurídica inovadora ao Poder Público ou não no objetivo de
possibilitar a implantação do desenvolvimento sustentável, como a prosperidade
social, econômica e ambiental. O estudo foi realizado por meio dedutivo e pesquisa
bibliográfica.
ABSTRACT
This Dissertation is part of the line of research Law, Urban Development
and Environment. It’s focus is the land regularization of invasions or occupation of
urban permanent preservation areas. The right to decent housing and to the
environment are basic premises for a healthy quality of life that are incorporated into
the elements of human dignity, a principle provided for in the Brazilian Magna Carta.
The social right to own a place that can be called home is the right of all, as it meets
the primary needs of the population. Likewise, nature, and its stability, must be
preserved and, if possible, restored when damaged, as the life of all species depends
on a balanced environment in the present and in the future. But although the rights to
housing, the environment and property are all fundamental rights, none of them has
the characteristic of being absolute, not prevailing over the other in an abstract way. In
the application of the instruments brought by the legislation recently introduced to the
legal system, such as the New Forest Code, City Statute and, finally, the Land
Regularization Law, conflicts of fundamental rights will be a constant. The clash
between these rights of such importance is more acute when it comes to
environmentally sensitive areas that border on urban centers, as this often involves
social, economic and, particularly environmental consequences. Furthermore, despite
the scientific advances of today's society, the assessment in the concrete case must
include an assessment of future and unknown damage. Thus, in the concrete case, to
analyze the best technique for achieving the best result in any of the situations that
arise that, as a consequence, can prove whether or not land regularization came as
an innovative legal tool to the Public Power in order to enable the implementation of
sustainable development, such as social, economic and environmental prosperity. The
study was carried out through deductive and bibliographic research.
INTRODUÇÃO
A questão do déficit habitacional é evidente e um dos mais desafiadores
para os gestores de cidades e para o poder público, de maneira geral e em uma
perspectiva mais reduzida, mas se ampliarmos o foco sobre as consequências
possíveis e concretas, esse desafio diz respeito à toda humanidade.
A primeira questão trata sobre a moradia digna, que remota aos tempos em
que a humanidade começou a se aglomerar em centros urbanos e, com a aumento
16
Por fim, a última hipótese levantada trata sobre a Intervenção em uma área
de preservação permanente para regulamentar a moradia, a uma primeira vista, vai
contra o corolário produzido pelos princípios ambientais da proibição do retrocesso
em proteção ambiental, o princípio da prevenção e da precaução, tendo em vista a
gestão de riscos ambientais conhecidos e o que ainda estão por ser dimensionados.
A lei de Regularização Fundiária inova o ordenamento jurídico, trazendo instrumentos
eficazes ao administrador público em implantar uma regulamentação da moradia e
das áreas ambientais que devem ser protegidas. Perante dessa colisão de direitos, a
17
Uma contribuição à gestão urbana sustentável. Brasília: Universidade de Brasilia, 2007, p. 11.
20
100000000
80000000
60000000
40000000
20000000
0
1960 1970 1980 1991 2000 2010
ANOS
URBANA RURAL
Tabela 1 – Crescimento da população urbana e rural. Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1960, 1970,
1980, 1991, 2000 e 2010.10
10
O levantamento de dados é feito a cada 10 anos, conforme metodologia adotada pelo IBGE que, até
a finalização deste trabalho, ainda não estava disponível.
11 NEVES, Edson Alvisi, SANTOS, Fábio Roberto Oliveira e SEPULVEDA, Fernanda de Mattos.
12BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Zahat, 1999, p.42-
43.
13 NEVES, Edson Alvisi, SANTOS, Fábio Roberto Oliveira e SEPULVEDA, Fernanda de Mattos.
14 TAVARES, Ademario Andrade. Dos Direitos Humanos à Cidadania Jurídica Global: Uma história
inacabada. In: MELO, Vanessa Alexsandra de, et al. (org.) Direitos Fundamentais: Desafios à sua
concretização. Recife: Editora Universitária UFPE, 2015, p. 19-20.
15 TAVARES, Ademario Andrade. Dos Direitos Humanos à Cidadania Jurídica Global: Uma história
inacabada. p. 20.
16 TAVARES, Ademario Andrade. Dos Direitos Humanos à Cidadania Jurídica Global: Uma história
inacabada. p. 20.
23
Constituições Francesas de 1793 e 1848 e a Carta Magna do Brasil de 1848 17, mas
as duas constituições que positivaram os direitos humanos como fundamentais foram
a Constituição Mexicana em 1917 e a Constituição Alemã de 1919, o Brasil seguiu o
movimento na Constituição de 1934.18
17 SANTOS, Leonardo Moreira, e GOUVEIA, Lúcio Grassi de. O Direito Fundamental à Tutela Executiva
Efetiva no Processo Civil. In: MELO, Vanessa Alexsandra de, et al. (org.) Direitos Fundamentais:
Desafios à sua concretização. Recife: Editora Universitária UFPE, 2015, p. 120.
18 TAVARES, Ademario Andrade. Dos Direitos Humanos à Cidadania Jurídica Global: Uma história
inacabada. p. 21.
19 ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos.
inacabada. p. 22.
21 BARROS, Felipe Maciel Pinheiro. Regularização Fundiária e Direito à Moradia: instrumentos
direitos humanos surgiram como defesa dos mais fracos contra os mais fortes, força
essa interpretada de maneira ampla, como na relação do Estado contra o indivíduo.
30 Para alguns, os direitos humanos são uma constante histórica cujas raízes remontam às instituições
e ao pensamento do mundo clássico. Outros, pelo contrário, sustentam que a idéia de direitos
humanos nasce com a afirmação cristã da dignidade moral do homem como pessoa. [...] Às vezes,
os direitos humanos são considerados frutos da afirmação dos ideais jusnaturalistas; enquanto em
outros os termos “direitos naturais” e “direitos humanos” são considerados categorias que não estão
necessariamente implícitas, ou mesmo entre as quais, antes de uma continuidade, existe uma
alternativa. Por outro lado, é muito comum afirmar que os direitos humanos são o produto da
progressiva afirmação da individualidade. Traduzido livremente pelo autor. (LUÑO, Antonio Enrique
Pérez. Derechos Humanos, Estado de Derecho u Constituicion. 5ª edición. Madrid: Tecnos,
1995. p. 23.)
31 LUÑO, Antonio Enrique Pérez. Derechos Humanos, Estado de Derecho u Constituicion. p. 30.
26
32 SANTOS, Leonardo Moreira, e GOUVEIA, Lúcio Grassi de. O Direito Fundamental à Tutela Executiva
Efetiva no Processo Civil. p. 122.
33 [...] são "direitos fundamentais" todos os direitos subjetivos que correspondem universalmente a
"todos" os seres humanos, à medida que são dotados do "status" de pessoas, cidadãos ou pessoas
com capacidade de agir; entender por "direito subjetivo" qualquer expectativa positiva (de
benefícios) ou negativa (de não sofrer ferimentos) associada a um sujeito, por norma legal; e por
"status" a condição de um sujeito, também prevista por uma norma legal positiva, como pressuposto
de sua aptidão para ser titular de situações jurídicas e/ou autor dos atos que exercem. Tradução
livre pelo autor. (FERRAJOLI, Luigi. Los fundamentos de los derechos fundamentales. p. 19.)
34 [...] uma definição "dogmática", isto é, formulada com referência às normas de uma ordem jurídica
específica, como, por exemplo, a Constituição italiana ou a espanhola. De acordo com isso, diremos
que são fundamentais os direitos atribuídos por um ordenamento jurídico as todas as pessoas
físicas enquanto tais, enquanto cidadão e forem capazes de agir. Tradução livre pelo autor.
(FERRAJOLI, Luigi. Los fundamentos de los derechos fundamentales. p. 20.)
35 LUÑO, Antonio Enrique Pérez. Derechos Humanos, Estado de Derecho u Constituicion. p. 30.
27
36 LUÑO, Antonio Enrique Pérez. Derechos Humanos, Estado de Derecho u Constituicion. p. 30-
31.
37 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2007. p. 40.
38 LUÑO, Antonio Enrique Pérez. Derechos Humanos, Estado de Derecho u Constituicion. p. 31.
39 BRASIL, Senado Federal. Direitos Humanos, atos internacionais e normas correlatas. 4ª ed.
Da mesma forma, o Brasil ratificou tantos outros que tratavam sobre direitos
humanos, pois desde o fim da Segunda Grande Guerra, o Brasil começou a observar
tais direitos como condição a ser seguida na política interna e externa do país. 41
40 TAVARES, Ademario Andrade. Dos Direitos Humanos à Cidadania Jurídica Global: Uma história
inacabada. p. 25.
41 BRASIL, Senado Federal. Direitos Humanos, atos internacionais e normas correlatas. p. 6-9.
42 ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos.
43 ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. Pacto Internacional sobre Direitos
efetivação do direito no campo das retóricas políticas, como pode se extrair de parte
da justificativa da proposta à emenda.
p. 93.
51 TRINDADE, Thiago Aparecido. DIREITO E CIDADANIA: REFLEXÕES SOBRE O DIREITO À
CIDADE. Lua Nova [online]. 2012, n.87, pp. 139-165. ISSN 0102-6445. Disponível em
<http://dx.doi.org/10.1590/S0102-64452012000300007>. Acessado em 03/10/2019. p. 141.
32
52 Friedrich Engels (1820 – 1895) foi um filósofo social e político alemão e colaborou junto com seu
amigo Karl Marx na elaboração dos volumes II e III da obra “O Capital”. Disponível em
<https://www.ebiografia.com/friedrich_engels/>. Acessado em 23/01/2020.
53 ENGELS, Friedrich. Sobre a questão da moradia. Boitempo Editorial. Edição do Kindle, posição.
1125 de 3478.
54 ENGELS, Friedrich. Sobre a questão da moradia. posição 1206.
55 TRINDADE, Thiago Aparecido. DIREITO E CIDADANIA: REFLEXÕES SOBRE O DIREITO À
CIDADE. p. 143-144.
33
56 MOTA, Mauricio Jorge Pereira e MOURA, Emerson Affonso da Costa. O Direito à Moradia e a
Regularização Fundiária. In: MOTA, Mauricio Jorge Pereira et al (org.). Direito a `moradia e
regularização fundiária. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018, p. 3.
57 MOTA, Mauricio Jorge Pereira e MOURA, Emerson Affonso da Costa. O Direito à Moradia e a
Regularização Fundiária. p. 7.
58 CHAER, Tatiana Mamede Salum. Regularização Fundiária em Área de Preservação Permanente:
<http://esamcuberlandia.com.br/revistaidea/index.php/idea/article/view/112>. Acessado em
05/03/2020.
64 BARROS, Felipe Maciel Pinheiro. Regularização Fundiária e Direito à Moradia: instrumentos
p. 45-46.
37
busca de qualidade de vida, sob pena de haver desordem, como apresenta as grandes
cidades, com altos índices de favelização e pessoas sem terem onde morar”. 66
Nesse sentido, Thiago Trindade diz que ter direito à cidade significa “poder
usufruir das vantagens, dos serviços e oportunidades oferecidas pelas boas
localidades do sistema urbano. O direito à cidade, portanto, não é equivalente ao
direito à moradia; o primeiro é muito mais amplo e complexo [...].”69
CIDADE. p. 149.
38
2018, p. 24-25.
72 HENRIQUE, Wendel. O direito à natureza na cidade. SciELO - EDUFBA. Edição do Kindle. Posição
176.
39
2.500.000
Número de Residncias
2.000.000
1.500.000
1.000.000
500.000
0
2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
REGIÃO NORTE REGIÃO NORDESTE REGIÃO SUDESTE REGIÃO SUL REGIÃO CENTRO-OESTE
Tabela 2 – Déficit Habitacional por Regiões - 2007 a 2009/2011, 2012/2013 e 2014. - Fonte: Dados
básicos: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) -IBGE, v.28, 2007; v.29, 2008; v.30,
Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI)
6.400.000
6.200.000
6.000.000
5.800.000
5.600.000
5.400.000
5.200.000
5.000.000
4.800.000
2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015
BRASIL
Tabela 3 – Déficit Habitacional no Brasil - 2007 a 2009/2011, 2012/2013 e 2014/2015. - Fonte: Dados
básicos: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) -IBGE, v.28, 2007; v.29, 2008; v.30,
Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI)
Nos grandes centros urbanos fica cada vez mais evidente a divisão entre
as classes sociais onde, analisando esse panorama, a professora Regina Bienenstein
defende a existência de duas cidades: a cidade real, onde estão localizadas as faixas
da população de baixa renda, sendo estes os marginalizados pela administração
pública, e a cidade oficial, locais onde recebe atenção e os holofotes públicos
concentram a sua atuação81.
82MARICATO, Ermina. O impasse da política urbana no Brasil. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 2014, p. 31;
83 MARICATO, Ermina. O impasse da política urbana no Brasil. p. 32-34;
84 TRINDADE, Thiago Aparecido. DIREITO E CIDADANIA: REFLEXÕES SOBRE O DIREITO À
CIDADE. p. 147.
44
Paulo/SP. Uma semana depois, o que se sabe sobre o desabamento do prédio no Centro de
SP? Disponível em <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/uma-semana-depois-o-que-se-sabe-
sobre-o-desabamento-do-predio-no-centro-de-sp.ghtml>. Acessado em 20/01/2020.
88 Em 12/04/2019 – Desabamento no Rio: o que se sabe sobre o desastre na Muzema, zona oeste
89 ALMEIDA, Paulo Santos de, e SILVA, Iohana Cristina Nogueira. Regularização fundiária em áreas
de conservação: análise da legislação ambiental e seus reflexos nas populações locais
vulneráveis e no meio ambiente entre 2000-2010 no reservatório Billings impacto na saúde
humana. Revista Direito Ambiental e sociedade, v. 7, n. 2, 2017 (p. 239-264). p. 245.
90 TRINDADE, Thiago Aparecido. DIREITO E CIDADANIA: REFLEXÕES SOBRE O DIREITO À
CIDADE. p. 148-149.
91 CHAER, Tatiana Mamede Salum. Regularização Fundiária em Área de Preservação Permanente:
92 ALMEIDA, Paulo Santos de, e SILVA, Iohana Cristina Nogueira. Regularização fundiária em áreas
de conservação: análise da legislação ambiental e seus reflexos nas populações locais
vulneráveis e no meio ambiente entre 2000-2010 no reservatório Billings impacto na saúde
humana. p. 246.
47
93 NEVES, Edson Alvis et al. Direito à Moradia: O papel da jurisdição na redistribuição do solo
urbano. p. 53-54.
94 NEVES, Edson Alvis et al. Direito à Moradia: O papel da jurisdição na redistribuição do solo
urbano. p. 53-54.
95 JELINEK, Rochelle. O Princípio da Função Social da Propriedade e sua Repercussão sobre o
sistema do Código Civil. p. 17.
48
de 1916 vigorou até 2002 e, que no período em que esteve vigorando, utilizava-se da
referência jurídica do liberalismo clássico pela defesa do direito individual de
propriedade, limitando-se, desse modo, a atuação do Poder Público no
desenvolvimento urbano.96
Desta forma, esse princípio constitucional prega que o Estado deve exercer
o papel provedor e implementador de políticas públicas que respeitem o direito da
coletividade em benefício de toda a comunidade, fazendo a ordenação adequada das
cidades para chegar, se não à situação ideal ou utópica, a mais próxima possível em
cumprir a função social da propriedade e, por consequência, da cidade 99.
solo urbano. p. 5.
49
100 FERNANDES, Carlos. Pagamento por Serviços Ambientais – PSA e Agronegócio. In: DANTAS,
Marcelo Buzaglo (Coord..). Estudos de Direito Ambiental e Urbanísticos. Itajaí: UNIVALI, 2018.
p. 525.
101 PACHECO, Juliana Muniz. Área de Preservação Permanente em Zona Urbana e Regularização
da Moradia. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2013. p. 68.
102 ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. Declaração da Conferência da ONU sobre o
103 Relatório da Comissão Brundtland, criada em 1983 com o nome original de “World Commission on
Environment and Development”;
104 ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. Relatório Bruntland. Disponível em
da Moradia. p. 68.
51
106 ALTMANN, Alexandre; RECH, Adir Ubaldo. Pagamento por Serviços Ambientais – Imperativos
jurídicos e ecológicos para a preservação e a restauração das matas ciliares. Caxias do Sul:
Educs, 2009, p. 58-59.
107 SCHERER, Marcos D’Avila. Regularização Fundiária: Propriedade, Moradia e Desenvolvimento
108 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 14 ed. São Paulo:
Saraiva, 2013, p.72
109 CHAER, Tatiana Mamede Salum. Regularização Fundiária em Área de Preservação
Permanente: Uma contribuição à gestão urbana sustentável. p. 24.
53
110 NEVES, Edson Alvisi, et al. DIREITO À MORADIA: O papel da jurisdição na redistribuição do
solo urbano. p. 5.
54
que surgiu a Lei de Parcelamento do Solo Urbano – Lei 6.766/79, editada com o
objetivo de reverter a proliferação de loteamentos irregulares, trazendo o Município
para o papel de regular os parcelamentos de lotes urbanos.111
111 BARROS, Felipe Maciel Pinheiro. Regularização Fundiária e Direito à Moradia: instrumentos
jurídicos e o papel dos Municípios. p. 90.
112 MARICATO, Erminia. O impasse da política urbana no Brasil. Petrópolis: Vozes,2014. p. 36.
113 Lei 10.257/2001 – Estatuto da Cidade.
55
114 BARROS, Felipe Maciel Pinheiro. Regularização Fundiária e Direito à Moradia: instrumentos
jurídicos e o papel dos Municípios. p. 90.
115 MARICATO, Ermina. O impasse da política urbana no Brasil. p. 37;
116 Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; [...] VIII - promover,
os princípios desta Constituição. [...] § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir
56
entes federados para uma efetivação de políticas públicas que vão ao encontro do
objetivo comum de combater os problemas urbanos da cidade, em especial a falta de
moradia digna.118
na Lei 11.977 instituiu o Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV, E.M. Interministerial n.º
33/2009/MF/MJ/MP/MMA/MCidades, Brasília, 27/03/2009. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Exm/EMI-33-MF-MJ-MP-MMA-
Mcidades-09-Mpv-459.htm>. Acessado em 28/01/2020.
120 BRASIL. Exposições de Motivos do projeto de Medida Provisória n.º 759/16 e foi convertida
121 ALMEIDA, Paulo Santos de, e SILVA, Iohana Cristina Nogueira. Regularização fundiária em áreas
de conservação: análise da legislação ambiental e seus reflexos nas populações locais
vulneráveis e no meio ambiente entre 2000-2010 no reservatório Billings impacto na saúde
humana. p. 249.
122 SCHERER, Marcos D’Avila. Regularização Fundiária: Propriedade, Moradia e Desenvolvimento
Sustentável. p. 44.
58
124 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil: de acordo com o novo Código Civil. 8ª
ed.,São Paulo: Saraiva, 2003, p. 86.
125 Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das
propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de
matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a
saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais.
126 COELHO, Ariadne Elloise, e RIBEIRO, Luiz Gustavo Gonçalves. A tutela do ambiente e o
127 COELHO, Ariadne Elloise, e RIBEIRO, Luiz Gustavo Gonçalves. A tutela do ambiente e o
problema do controle jurisdicional de políticas públicas: entre o ativismo e o passivismo. p.
43.
128 O constitucionalismo ambiental que promove o direito à natureza é emergente e insistente, mas
ainda incomum. [...] A constitucionalização dos direitos da natureza faz parte de um crescente
61
movimento global, destacando a importância do ambiente natural para o seu próprio bem e como
um todo, e não como uma agregação de recursos a serem aproveitados pelos seres humanos para
diversos fins. . Filósofos morais, incluindo Stone, há muito que propõem que a natureza deve ter um
direito legalmente protegido à autoproteção. As Nações Unidas afirmaram a importância de tais
direitos na Declaração Universal dos Direitos da Natureza. Os direitos da natureza também foram
considerados pelos tribunais constitucionais e outros ápices, [...]. Tradução livre pelo autor. (MAY,
James R.. Global Environmental Constitutionalism. Cambridge University Press. Edição do
Kindle, 2015. Posição 255-256.)
129 SOUZA, Maria Cláudia da Silva Antunes de, e SOARES, Josemar. Ética, sustentabilidade e
Sustentável. p 75.
62
132 O termo “geração” sofre críticas por dar a ideia errônea de sucessão de direitos antigos pelos mais
novos. Narrativa defendida por Ariadne Coelho e Luiz Gustavo Ribeiro em sua obra.
133 COELHO, Ariadne Elloise, e RIBEIRO, Luiz Gustavo Gonçalves. A tutela do ambiente e o
Portugal e Itália, como também em países de idiomas francês para milieu, alemão
para unwelt e inglês para environment.134
editores, 2010.
64
consiste em bens “que afetam a vida planetária, como preservação da água e dos
ecossistemas” 139.
Seguindo nesta esteira, para Celso Fiorillo, citado por Eriton Vieira e
Othoniel Júnior, “trata-se de uma definição jurídica indeterminada, assim colocada de
forma proposital pelo legislador com visas a criar espaço positivo de incidências da
norma”, ou seja, se fosse exaurido a definição de forma específica e delimitada, o
conceito não poderia abranger outros cenários ou situações que viessem a surgir com
o decorrer do tempo.
139 SOUZA, Maria Cláudia da Silva Antunes de, e SOARES, Josemar. Ética, sustentabilidade e
desenvolvimento empresarial, p. 257.
140 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. p. 611.
141 VIEIRA, Eriton Geraldo, e JÚNIOR, Othoniel Ceneceu Ramos. A Regularização Fundiária Urbana
87.
65
CF/88. O direito à vida é pressuposto para a fruição dos outros direitos fundamentais,
mas este está fortemente atrelado ao meio ambiente. 143
143 COELHO, Ariadne Elloise, e RIBEIRO, Luiz Gustavo Gonçalves. A tutela do ambiente e o
problema do controle jurisdicional de políticas públicas: entre o ativismo e o passivismo. p.
46-47.
144 COELHO, Ariadne Elloise, e RIBEIRO, Luiz Gustavo Gonçalves. A tutela do ambiente e o
146 SILVA, Américo Luis Martins da. Direito do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais - Volume 2:
Proteção Legal da Flora, das Águas e da Fauna - Unidades de Conservação da Natureza –
Agrotóxicos. Edição do Kindle, 2015. Posição 1606-1607.
147 “Este período começou quando o governo português enviou ao Brasil a primeira expedição
Preservação Permanente: paradoxo do progresso nômade. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019.
p. 63.
67
visto que os proprietários não conservavam porque ficavam temerosos de ter suas
propriedades requisitadas pela Coroa para a exploração.150
A Carta Régia de 1827, por sua vez, incumbia aos juízes de paz das
províncias o dever de fiscalizar e proteger as matas dos cortes para a exploração de
madeiras com valor econômico, época em que surgiu classificou tais madeira com a
nomenclatura “madeiras de lei”. A proteção dos recursos naturais com valor
econômico nesta época foi uma tendência mundial a qual as normas ambientais
nacionais seguiram, culminando no Código Penal do Império de 1830, o qual
classificou como crime o corte ilegal de madeira.153
150 SILVA, Américo Luis Martins da. Direito do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais - Volume 2:
Proteção Legal da Flora, das Aguas e da Fauna - Unidades de Conservação da Natureza –
Agrotóxicos. Posição 1627 de 35819.
151 Brasil Império – “D. Pedro I (1798-1834) foi aclamado Imperador no dia 12 de outubro de 1822”.
155 DEMANGE, Lia Helena Monteiro de Lima. Desastres, Responsabilidade Civil e Áreas de
Preservação Permanente: paradoxo do progresso nômade. p. 64.
156 JÚNIOR, Zedequias de Oliveira. Áreas de Preservação Permanente Urbana dos cursos d’água:
Conforme se retira das normas citadas, estes textos serviram de base para
elaboração futura do conceito jurídico da APP. Desde aquela época, as florestas eram
consideradas bem de interesse comum e os institutos já preconizavam
categoricamente a importância de se proteger de forma duradoura, em especial as
“florestas protectoras”, uma vez que estas possuem grande função ambiental, que
mais tarde seriam denominadas de APP. 157
O Código Florestal de 1965 teve sua vigência por quase cinquenta anos e
no que diz respeito ao tema, salienta-se que estipulou a criação de 2 espécies de APP,
sendo que uma criada por Lei e a outra por ato do Poder Executivo de forma
administrativa, segundo os seus artigos 2º e 3º.
A lei editada em 1965 sobre a flora vigorou sem alterações por mais de
vinte anos, até que a partir de 1978 começou a edição de leis158, que alteraram o
Código Florestal vigente à época, e buscavam também o aprimoramento da forma
como eram tradas as APP’s, inclusive no âmbito urbano e metropolitano, como a
largura mínima da área e qual seria o marco de onde iniciaria a medição, por exemplo.
159
Por fim, a redação final dos artigos 2º e 3º da Lei 4.771/65 ficou nos
seguintes termos:
157 DEMANGE, Lia Helena Monteiro de Lima. Desastres, Responsabilidade Civil e Áreas de
Preservação Permanente: paradoxo do progresso nômade. p. 71.
158 Lei 6.535 de 15/06/1978; Lei 7.511 de 07/07/1986; Lei 7.803 de 18/07/1989; Lei 9.9985 de
Desta forma, a APP teve seu conceito legal determinado no art. 3º, inciso
II e adiante foram tratadas no Capítulo II, delimitada na Seção I, dos artigos 4º ao 6º
e seu regime de proteção constante na Seção II, dos artigos 7º ao 9º.
160 Resoluções n.º 302 de 20/03/2002, n.º 303 de 13/05/2002 e n.º 369 de 28/03/2006 dentre as mais
relevantes.
161 DEMANGE, Lia Helena Monteiro de Lima. Desastres, Responsabilidade Civil e Áreas de
Preservação Permanente: paradoxo do progresso nômade. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019.
p. 63.
162 A título de informação, o chefe do executivo era a presidente Dilma Roussef.
163 Relevante indicar a manifestação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Pesquisa - SBPC
em conjunto com a Associação Brasileira de Ciências – ABC por meio de uma carta endereçada ao
Congresso Nacional. Texto disponível em <http://portal.sbpcnet.org.br/noticias/cartaquebrasbpc-e-
abc-enviam-carta-aos-congressistas-em-defesa-dos-vetos-ao-novo-codigo-florestal/>. Acessado
em 25/01/2020.
164 ALMEIDA, Paulo Santos de, e SILVA, Iohana Cristina Nogueira. Regularização fundiária em áreas
lâmina d’água seja inferior a um hectare, sendo muito criticadas essas modificações,
mas incluiu a previsão de APP para os manguezais e as veredas.165
165 JÚNIOR, Zedequias de Oliveira. Áreas de Preservação Permanente Urbana dos cursos d’água:
responsabilidade do poder público e ocupação antrópica à luz do novo código Florestal e
seus reflexos jurídicos. p. 49.
166 PACHECO, Juliana Muniz. Área de Preservação Permanente em Zona Urbana e Regularização
da Moradia. p. 15.
167 SILVA, Americo Luis Martins da. Direito do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais - Volume 2:
(a) É uma área, e não mais uma floresta [...]. A área pode ou não estar
coberta por vegetação nativa, podendo ser coberta por vegetação
exótica.
168 BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Áreas de Preservação Permanente Urbanas. Disponível
em <https://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/areas-verdes-urbanas/item/8050.html>.
Acessado em 05/02/2020.
169 NIEBUHR, Pedro de Menezes. Manual da Áreas de Preservação Permanente. Belo Horizonte:
(b) A APP não é uma área qualquer, mas uma ‘área protegida’. A
junção destes dois termos tem alicerce na Constituição da República,
[...] (art. 225, § 1º, III).
(c) A área de proteção de forma ‘permanente’, isto é, não episódica,
descontínua, temporária ou com interrupções. O termo ‘permanente’
deve levar a um comportamento individual do proprietário, de toda a
sociedade e dos integrantes dos órgãos públicos ambientais no
sentido de criar, manter e/ou recuperar a APP.
(d) A APP é uma área com funções ambientais específicas e
diferenciadas, apontadas na Lei 12.651/2012: função ambiental de
preservação, função de facilitação, função de proteção e função de
asseguramento. [...]
(e) A supressão indevida da vegetação na APP obriga o proprietário
da área, o possuidor ou o ocupante, a qualquer título, a recompor a
vegetação; e essa obrigação tem natureza real. Essa obrigação
tramite-se ao sucessor em caso de transferência de domínio ou de
posse do imóvel [...]172
autorizando o Poder executivo a proteger qualquer área, mas com uma condicionante:
a área deve conter uma ou mais finalidades que são enumeradas nos respectivos
incisos.
185 PACHECO, Juliana Muniz. Área de Preservação Permanente em Zona Urbana e Regularização
da Moradia. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2013. p. 46.
186 BERNDSEN, Guilherme Rigo. A Operação Urbana Consorciada como Instrumento do
da Moradia. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2013. p. 74.
81
Art. 2º. Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até
que outra a modifique ou revogue.
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,
quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a
matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par
das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
188 Os artigos da Lei 13.089/16 que referendam a Lei 10.257/01 são: art. 1º, § 2º; art. 6º, inciso V; art.
7º; art. 9º, caput e inciso V; art. 10, § 2º; e art. 24, que acresce o art. 34-A no Estatuto da Cidade;
82
Desta forma, como o tema sobre áreas urbanas é tratada pelo Estatuto das
Cidades e pela Lei de Parcelamento do Solo Urbano, sendo consideradas estas
normas como posteriores determinando o encerramento do antigo Código Florestal
pelo critério temporal, mesmo que a entrada em vigor da alteração proposta pela Lei
7.803/89 que o alterou.
E ainda, no caso do novo Diploma Florestal, Paulo Bessa Antunes diz que:
Por fim, em uma breve síntese, a descrita corrente interpretativa reputa que
o antigo e, agora, o novo Código Florestal disciplinava a proteção somente sobre
ecossistemas naturais localizados em zonas rurais, argumentando que é impossível
de trazer as proteções especiais em virtude da consolidação da urbanização das
áreas e pelo critério da especialidade da Lei de Parcelamento do Solo Urbano e
Estatuto das Cidades.
Na defesa de se ter uma proteção maior para o meio ambiente nas cidades,
em especial as APP’s urbanas, Zedequias Júnior tece os seguintes comentários:
194 NIEBUHR, Pedro de Menezes. Manual da Áreas de Preservação Permanente. Belo Horizonte:
Fórum Conhecimento Jurídico, 2018, p. 63.
195 Mensagem de Veto n.º 212/12.
196 NIEBUHR, Pedro de Menezes. Manual da Áreas de Preservação Permanente. Belo Horizonte:
199 JÚNIOR, Zedequias de Oliveira. Áreas de Preservação Permanente Urbana dos cursos d’água:
responsabilidade do poder público e ocupação antrópica à luz do novo código Florestal e
seus reflexos jurídicos. p. 36 e p. 52.
200 Serviços Ambientais, segundo Robert Constanza e Ralph d’Arge, citados por Ana Maria Nusdeo,
“são definidos como fluxo de materiais, energia e informação que provém dos estoques de capital
natural e são combinados ao capital de serviços humanos para produzir bem estar ao seres
humanos”. NUSDEO, Ana Maria de Oliveira, Pagamento por Serviços Ambientais –
Sustentabilidade e disciplina jurídica. São Paulo: Atlas, 2012, pag.16.
201 PACHECO, Juliana Muniz. Área de Preservação Permanente em Zona Urbana e Regularização
da Moradia. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2013. p. 56 e p. 58.
86
202 JÚNIOR, Zedequias de Oliveira. Áreas de Preservação Permanente Urbana dos cursos d’água:
responsabilidade do poder público e ocupação antrópica à luz do novo código Florestal e
seus reflexos jurídicos. p. 152.
203 SCHERER, Marcos D’Avila. Regularização Fundiária: Propriedade, Moradia e Desenvolvimento
Sustentável. p. 46.
204 ALVARES, Camila Morais. O Direito Fundamental à Moradia e as Construções em Áreas de
205 JÚNIOR, Zedequias de Oliveira. Áreas de Preservação Permanente Urbana dos cursos d’água:
responsabilidade do poder público e ocupação antrópica à luz do novo código Florestal e
seus reflexos jurídicos. p. 152-153.
206 FERNANDES, Edésio. A nova ordem jurídico-urbanística no Brasil. p. 16-17.
207 JÚNIOR, Zedequias de Oliveira. Áreas de Preservação Permanente Urbana dos cursos d’água:
da Moradia. p. 50.
211 Art. 3º, § 1º da Lei 4.771/65;
90
212 JÚNIOR, Zedequias de Oliveira. Áreas de Preservação Permanente Urbana dos cursos d’água:
responsabilidade do poder público e ocupação antrópica à luz do novo código Florestal e
seus reflexos jurídicos. p. 57.
213 SILVA, Americo Luis Martins da. Direito do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais - Volume 2:
da Moradia. p. 63.
91
ambiental é numerus clausus215, uma lista fechada, sendo dessa maneira considerada
peremptória e exaustivas, visto que no § 4º estabelece:
Art. 8º [...]
§ 4º Não haverá, em qualquer hipótese, direito à regularização de
futuras intervenções ou supressões de vegetação nativa, além das
previstas nesta Lei.
consolidadas ocupadas por população de baixa renda”, tudo de acordo como o art. 8º,
§§ 1º e 2º da atual norma da flora.
Por fim, a última hipótese é a intervenção por interesse social foi introduzida
pela Medida Provisória 2.166-67/01, que no art. 1º, inciso V, alíneas “a” e “c”, e previa
o interesse social aplicável na APP urbana quando as atividades tivessem o intuito de
“proteção da integridade da vegetação nativa” e para demais obras, atividades ou
projetos, mas todos os casos seriam definidos em resoluções emitida pelo CONAMA.
As resoluções, não obstante, em repetir a letra da lei, acrescentou, dentre outras, a
possibilidade de se efetuar a regularização fundiária sustentável de área urbana, com
o destaque para a palavra sustentável, termo que não se repetiu na Lei 13.465/17, Lei
da Regularização Fundiária.217
217 JÚNIOR, Zedequias de Oliveira. Áreas de Preservação Permanente Urbana dos cursos d’água:
responsabilidade do poder público e ocupação antrópica à luz do novo código Florestal e
seus reflexos jurídicos. p. 62.
93
PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.903
PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. LUIZ FUX
REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
218 JÚNIOR, Zedequias de Oliveira. Áreas de Preservação Permanente Urbana dos cursos d’água:
responsabilidade do poder público e ocupação antrópica à luz do novo código Florestal e
seus reflexos jurídicos. p. 63.
219 Destaque para as Ações Direitas de Inconstitucionalidades n.º 4901, n.º 4902, n.º 4903 e 3540/DF
sobre as APP. Em suma, não alterando substancialmente a lei que criou o Novo
Código Florestal.
97
A Lei 13.465/17, no seu art. 109, inciso IV, revoga expressamente todo o
Capítulo III da Lei 11.977/09 em sua totalidade e no art. 82 altera a redação dos artigos
64 e 65 do Novo Código Florestal.
222 NUNES, Cicília Araújo. Regularização fundiária e o direito à moradia adequada: construção
social da regularização fundiária urbana. Edição do Kindle, 2019. posição 1289 de 2230.
223 PEDROSO, Alberto Gentil de Almeida. Regularização Fundiária – Lei 13.465/2017. São Paulo:
Thomsin Reuters, 2018, p. 22.
224 Lei 5.868/72 trata sobre o sistema nacional de cadastro rural que, para esclarecer o sentido para
este trabalho, delimita a fração mínima de parcelamento – FMP.
225 BRASIL. Lei 13.465/17 - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13465.htm,
acessado em 20/12/2019.
100
Vale destacar, também, um dos objetivos da lei, expresso no inciso “X” que
é “prevenir e desestimular a formação de novos núcleos urbanos informais”, para não
fomentar futuras leis com o mesmo objetivo.
226 BARROS, Felipe Maciel Pinheiro. Regularização Fundiária e Direito à Moradia: instrumentos
jurídicos e o papel dos Municípios. Curitiba: Juruá, 2014. p. 104-105.
101
227 PEDROSO, Alberto Gentil de Almeida. Regularização Fundiária – Lei 13.465/2017. São Paulo:
Thomsin Reuters, 2018, p. 24.
102
Art. 65. Na Reurb-E dos núcleos urbanos informais que ocupam Áreas
de Preservação Permanente não identificadas como áreas de risco, a
regularização fundiária será admitida por meio da aprovação do
Assim, nos termos dos §1º e §2º do já citado art. 64, para a regularização
de interesse social exige-se um projeto de regularização fundiária que contenha
estudo técnico que demonstre a melhoria das condições ambientais em relação à
situação anterior com a adoção das medidas nele preconizadas e deve conter, no
mínimo, os seguintes elementos:
229 FERREIRA FILHO, Paulo Sérgio. Ministério Público e a Regularização Fundiária Urbana em
Áreas de Preservação Permanente – Análise econômica e comportamental. p. 114-115;
105
Brasília 21/12/2016.
107
Por outro lado, não pode a natureza ser utilizada e apropriada como objeto
ou mercadoria com a finalidade exclusiva de valorização imobiliária. 235 A ideia de
“produção” da propriedade pelo homem, através da regulamentação jurídica, não
pode ser vista somente com o intuito a acumulação de capital.236
233 Ministro das Cidades na pessoa do senhor Bruno Cavalcanti de Araújo, Ministro do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão do Brasil na pessoa do senhor Dyogo Henrique de Oliveira e Ministro
Chefe da Casa Civil na pessoa do senhor Eliseu Padilha.
234 MOTA, Mauricio Jorge Pereira e MOURA, Emerson Affonso da Costa. O Direito à Moradia e a
De acordo com o novo tratamento dado pelo Código da Flora Nacional, não
há mais limites para as exceções para as intervenções ou supressões em APP’s,
principalmente nas cidades, uma vez que as peculiaridades da área urbana estimulam
as ocupações irregulares em margens de rios, córregos, encostas ou outras áreas
sensíveis para o meio ambiente ou para desastres.
237 ALMEIDA, Paulo Santos de, e SILVA, Iohana Cristina Nogueira. Regularização fundiária em áreas
de conservação: análise da legislação ambiental e seus reflexos nas populações locais
vulneráveis e no meio ambiente entre 2000-2010 no reservatório Billings impacto na saúde
humana. p. 241 e 246.
109
238 Art. 64, parágrafos 1º e 2º, inciso V da Lei 12.651/12 – Código Florestal e Art. 11, § 2º da Lei
13.465/17 – Lei da Regularização Fundiária.
239 CHAER, Tatiana Mamede Salum. Regularização Fundiária em Área de Preservação
Permanente: Uma contribuição à gestão urbana sustentável. p. 89 e p. 103-104.
110
240 BECK, Ulrich. Sociedade de Risco Mundial - Em Busca da Segurança Perdida. Edições 70.
Edição do Kindle, 2015. Posição 310 de 1339.
241 MIGUEZ, Marcelo Gomes; et al. Riscos e Desastres Hidrológicos. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2018. p. 7.
242 BRASIL. Ministério do Planejamento e Orçamento. Glossário de Defesa Civil, Estudos de Riscos
suficiente para lidar com a complexidade que permeiam a atual realidade do direito
ambiental243.
Portanto, esse novo modelo de sociedade produz esse tipo de riscos que
se materializam em perigos incertos e fora do controle, com consequências
desconhecidas e que atingirão a todos, sem a certeza de qual é a proteção adequada,
uma vez que a ciência, por mais avançada que esteja, não consegue ter essas
respostas. No atual cenário da evolução científica, segundo Fernando de Marchi 247,
“não temos nenhuma certeza do que pode ocorrer no futuro, não sabemos das
243 LEITE, José Rubens Morato; BLECHIOR, Germana Parente Neiva. Dano Ambiental na Sociedade
de Risco: uma visão introdutória. In: LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental na sociedade
de risco. São Paulo: Saraiva, 2012. Edição do Kindle. posição 282.
244 CARVALHO, Délton Winter de. Dano ambiental futuro: a responsabilização civil pelo risco
531 de 1984.
112
consequências futuras, uma vez que as atitudes são avaliadas e, muitas vezes,
avalizadas pelo conhecimento científico de hoje”. Conhecimento este que não
consegue explicar o porquê da cebola, um vegetal, possuir um código genético, seu
DNA, mais complexo do que um ser humano248.
A aflição sobre os resultados que, até então, são obscuros desta geração
de riscos, “não podem ser pura e simplesmente ignoradas”249 tanto a curto, quanto a
longo prazo.
248 O DNA humano possui em torno de três bilhões de bases nitrogenadas, que são as tais letras do
livro da vida, enquanto o da cebola gira em torno de quinze bilhões. Fonte: De Marchi, Fernando H..
Teoria do antitudo. Edição do Kindle, posição 525-531 de 1984.
249 BECK, Ulrich. Sociedade de Risco Mundial - Em Busca da Segurança Perdida. Posição 121 de
1339.
250 JÚNIOR, Zedequias de Oliveira. Áreas de Preservação Permanente Urbana dos cursos d’água:
Encostas: Guia para Elaboração de Políticas Municipais. Brasília: Ministério das Cidades, 2006,
p. 12.
114
normativo em vigor. O que não se pode omitir é o balanço das consequências positivas
e negativas que essa intervenção pode gerar.
254 RAMOS, Ana Luisa Schimdt e ZANINI, Jeferson. Princípios do Direito Ambiental. In DANTAS,
Marcelo Buzaglo (org.). E-Book – Estudos de Direito Ambiental e Urbanístico. Itajaí: Univali, 2018,
p. 185.
115
Passando para o “princípio precaução” 256, por sua vez, não se confunde
com o princípio da prevenção, pois não há uma certeza científica do dano que poderá
ser causado. Por força deste princípio, o Poder Público está autorizado a adotar
providências para proteger o ambiente quando a periculosidade de uma intervenção
apresentar somente indicar que há a possibilidade de risco.
255 ANJOS, Gilberto Kilian dos e MOURÃO, Rodrigo Fagundes. Princípios Jurídicos de Direito
Ambiental. In DANTAS, Marcelo Buzaglo (org.). E-Book – Estudos de Direito Ambiental e
Urbanístico. Itajaí: Univali, 2018, p. 213.
256 RAMOS, Ana Luisa Schimdt e ZANINI, Jeferson. Princípios do Direito Ambiental. p. 188-189.
257 RAMOS, Ana Luisa Schimdt e ZANINI, Jeferson. Princípios do Direito Ambiental. p. 191-192.
116
258 BRANDÃO, Luiz Carlos Kopes e SOUZA, Carmo Antônio de. O princípio da equidade
intergeracional. Disponível em <https://periodicos.unifap.br/index.php/planeta/article/viewFile/
348/328>. Acessado em 01/03/2020.
259 CHAER, Tatiana Mamede Salum. Regularização Fundiária em Área de Preservação
Permanente: Uma contribuição à gestão urbana sustentável. p. 31.
117
O conflito entre direitos não é uma questão nova, ainda mais nesta hipótese
de direitos fundamentais, sendo esta colisão objeto de estudos pela doutrina. Na
questão apresentada no final do tópico anterior, para alguns autores se configura em
um falso dilema, pois é possível realizar a compatibilização entres os valores dos
direitos, supostamente, em conflito.
No tocante aos termos “conflito” e “colisão” 260, apesar de haver uma divisão
conceitual entre as duas expressões, o presente trabalho não observará essa divisão
e serão adotadas como sinônimas, uma vez que a definição individual não obedece a
qualquer critério lógico ou científico.
260 DANTAS, Marcelo Buzaglo. Direito Ambiental de Conflitos: o Direito ao Meio Ambiente
Ecologicamente Equilibrado e os Casos de Colisão com Outros Direitos Fundamentais. Teste
Doutorado. São Paulo: PUC/SP, 2012, p. 159.
261 DANTAS, Marcelo Buzaglo. Direito Ambiental de Conflitos: o Direito ao Meio Ambiente
Ecologicamente Equilibrado e os Casos de Colisão com Outros Direitos Fundamentais. p.
157.
118
Sem ela não pode haver nem uma teoria adequada sobre as restrições
a direitos fundamentais, nem uma doutrina satisfatória sobre colisões,
nem uma teoria suficiente sobre o papel dos direitos fundamentais no
sistema jurídico. Essa distinção constitui um elemento fundamental
não somente da dogmática dos direitos de liberdade e de igualdade,
mas também dos direitos a proteção, a organização e procedimento e
a prestações em sentido estrito. [...] A distinção entre regras e
princípios constitui, além disso, a estrutura de uma teoria normativo
material dos direitos fundamentais e, com isso, um ponto de partida
para a resposta à pergunta acerca da possibilidade e dos limites da
racionalidade no âmbito dos direitos fundamentais. Nesse sentido, a
distinção entre regras e princípios é uma das colunas-mestras do
edifício da teoria dos direitos fundamentais.262
O clássico autor Ronald Dworkin citado por Marcelo Dantas, em uma breve
resenha, entende que “regras” são aplicadas às situações fáticas, ou seja, as
circunstâncias do caso em concreto estão presentes e a regra é válida ou em nada
contribui para a decisão no caso de ausentes tais circunstâncias. Enquanto os
princípios possuem a dimensão do peso ou importância, podendo uma situação fática
se enquadrar no conflito de dois ou mais princípios, mas sendo escolhido a aplicação
daquele que possuir maior importância em desvantagem do outro, mas o princípio
preterido não perde sua validade com isso. 263
262ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução Virgílio Afonso da Silva. 2ª Ed. São
Paulo: Malheiros, 2015, p. 86.
263 DANTAS, Marcelo Buzaglo. Direito Ambiental de Conflitos: o Direito ao Meio Ambiente
Partindo das premissas apresentadas por Dworkin, Robert Alexy cita três
teses e conclui que a correte é aquela que entende que os princípios são
“mandamentos de otimização”, normas “que ordenam que algo seja realizado na
maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes”264, mas,
por outro lado, as regras são normas que contêm determinações, sendo totalmente
cumpridas ou não. No seu trabalho de diferenciação discorre:
Vale aqui ressalvar que a conceituação sobre o conflito de regras foi feita
com o objetivo de realçar o conceito de colisão de princípios, visto que não faz parte
do objetivo desta pesquisa.
268 DANTAS, Marcelo Buzaglo. Direito Ambiental de Conflitos: o Direito ao Meio Ambiente
Ecologicamente Equilibrado e os Casos de Colisão com Outros Direitos Fundamentais. p.
160.
269 ALMEIDA, Paulo Santos de, e SILVA, Iohana Cristina Nogueira. Regularização fundiária em áreas
Neste toar, fica claro que apresentada uma colisão, a primeira tentativa é
de se harmonizar a aplicação dos princípios em conflito, porém, não sendo isto
possível, somente nesta hipótese, é que se adota a prevalência de um sobre o outro,
através da aplicação da ponderação.
270 DANTAS, Marcelo Buzaglo. Direito Ambiental de Conflitos: o Direito ao Meio Ambiente
Ecologicamente Equilibrado e os Casos de Colisão com Outros Direitos Fundamentais. p.
185.
271 FERNANDES, Edésio. PRESERVAÇÃO AMBIENTAL OU MORADIA? UM FALSO CONFLITO.
Disponível em <https://www.irib.org.br/obras/preservacao-ambiental-ou-moradia-um-falso-conflito>.
Acessado em 06/03/2020.
272 DANTAS, Marcelo Buzaglo. Direito Ambiental de Conflitos: o Direito ao Meio Ambiente
Ecologicamente Equilibrado e os Casos de Colisão com Outros Direitos Fundamentais. p.
188-189.
122
273 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 5 ed. SãoPaulo: Saraiva,
2003, p. 330.
274 NEVES, Edson Alvisi, SANTOS, Fábio Roberto Oliveira e SEPULVEDA, Fernanda de Mattos.
DIREITO À MORADIA: O papel da jurisdição na redistribuição do solo urbano. p. 22.
123
Ocorre que a ocupação humana, com vistas a garantir uma vida digna,
muitas vezes se dá com sacrifício ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado. É o que historicamente aconteceu no Brasil com a
ocupação de áreas de preservação permanente como encostas, topos
de morro, entorno de reservatórios de água naturais e artificiais, entre
outros. 276
Sustentável. p 82-83.
124
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo, sem a pretensão de esgotar seu
vasto campo teórico, de demonstrar a importância dos direitos fundamentais, a sua
evolução histórica e a posição de destaque que os direitos à moradia, ao meio
ambiente e propriedade ocupam no ordenamento jurídico contemporâneo.
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