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DESCARTES, René. Discurso do método.

Disponível em:
http://ateus.net/artigos/filosofia/discurso-do-metodo. Acesso em: 07 abr. 2021.

PRIMEIRA PARTE

[…] quanto à razão ou ao senso, posto que é a única coisa que nos torna homens e nos diferencia
dos animais, acredito que existe totalmente em cada um, acompanhando nisso a opinião geral dos
filósofos, que afirmam não existir mais nem menos senão entre os acidentes, e não entre as formas
ou naturezas dos indivíduos de uma mesma espécie. (p. 1)

meu propósito não é ensinar aqui o método que cada qual deve seguir para bem conduzir sua razão,
mas somente mostrar de que modo me esforcei por conduzir a minha […]. (p. 2)

[…] eu julgava já ter gasto bastante tempo com as línguas, e também com a leitura dos livros
antigos, com suas histórias e suas fábulas. […]. (p. 2).

SEGUNDA PARTE

[…] após dedicar-me por alguns anos em estudar assim no livro do mundo, e em procurar adquirir
alguma experiência, tomei um dia a decisão de estudar também a mim próprio e de empregar todas
as forças de meu espírito na escolha dos caminhos que iria seguir. Isso, a meu ver, trouxe-me muito
melhor resultado do que se nunca tivesse me distanciado de meu país e de meus livros. (p. 4).

Não quis de maneira alguma começar rejeitando inteiramente qualquer uma das opiniões que por
acaso haviam se insinuado outrora em minha confiança, sem que aí fossem introduzidas pela razão,
antes de gastar bastante tempo em elaborar o projeto da obra que iria empreender, e em procurar o
verdadeiro método para chegar ao conhecimento de todas as coisas de que meu espírito fosse capaz.
(p. 6).

em lugar desse grande número de preceitos de que se compõe a lógica, achei que me seriam
suficientes os quatro seguintes, uma vez que tornasse a firme e inalterável resolução de não deixar
uma só vez de observá-los. (p. 6).

O primeiro era o de nunca aceitar algo como verdadeiro que eu não conhecesse claramente como
tal; ou seja, de evitar cuidadosamente a pressa e a prevenção, e de nada fazer constar de meus juízos
que não se apresentasse tão clara e distintamente a meu espírito que eu não tivesse motivo algum de
duvidar dele. (p. 6).

O segundo, o de repartir cada uma das dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas quantas
fossem possíveis e necessárias a fim de melhor solucioná-las. (p. 6).

O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, iniciando pelos objetos mais simples e mais
fáceis de conhecer, para elevar-me, pouco a pouco, como galgando degraus, até o conhecimento dos
mais compostos, e presumindo até mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente
uns aos outros. (p. 6).

E o último, o de efetuar em toda parte relações metódicas tão completas e revisões tão gerais nas
quais eu tivesse a certeza de nada omitir. (p. 6).

TERCEIRA PARTE
[…] concebi para mim mesmo uma moral provisória, que consistia apenas em três ou quatro
máximas que eu quero vos anunciar. (p. 8).

A primeira era obedecer às leis e aos costumes de meu país, mantendo-me na religião na qual Deus
me concedera a graça de ser instruído a partir da infância, e conduzindo-me, em tudo o mais, de
acordo com as opiniões mais moderadas e as mais distantes do excesso, que fossem comumente
aceitas pelos mais sensatos daqueles com os quais teria de conviver. […]. (p. 8).

Minha segunda máxima consistia em ser o mais firme e decidido possível em minhas ações, e em
não seguir menos constantemente do que se fossem muito seguras as opiniões mais duvidosas,
sempre que eu me tivesse decidido a tanto. […]. (p. 8).

Minha terceira máxima era a de procurar sempre antes vencer a mim próprio do que ao destino, e de
antes modificar os meus desejos do que a ordem do mundo; e, em geral, a de habituar-me a
acreditar que nada existe que esteja completamente em nosso poder, salvo os nossos pensamentos,
de maneira que, após termos feito o melhor possível no que se refere às coisas que nos são
exteriores, tudo em que deixamos de nos sair bem é, em relação a nós, absolutamente impossível.
(p. 9).

QUARTA PARTE

[…] ao notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão sólida e tão correta que as mais
extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de lhe causar abalo, julguei que podia
considerá-la, sem escrúpulo algum, o primeiro princípio da filosofia que eu procurava. (p. 11).

[…] ao perceber que nada há no eu penso, logo existo, que me dê a certeza de que digo a verdade,
salvo que vejo muito claramente que, para pensar, é preciso existir, concluí que poderia tomar por
regra geral que as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras,
havendo somente alguma dificuldade em notar bem quais são as que concebemos distintamente. (p.
11).

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