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SEMINÁRIO MAIOR DOM JOSÉ ANDRÉ COIMBRA

CURSO DE FILOSOFIA

CRISTIANO DA PAIXÃO NUNES RIBEIRO

DESCARTES: as paixões na perspectiva cartesiana

PATOS DE MINAS
2023
CRISTIANO DA PAIXÃO NUNES RIBEIRO

DESCARTES: as paixões na perspectiva cartesiana

Projeto de pesquisa apresentado ao


Seminário Maior Dom José André
Coimbra como requisito parcial para a
conclusão do Curso de Graduação em
Filosofia

Orientador: Prof. Me. Francisco Sérgio.

PATOS DE MINAS
2023
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................5
O MÉTODO CARTESIANO..................................................................................6
A VERDADE ATRAVÉS DO CÓGITO.................................................................7
AS PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS.........................................................11
CONCLUSÃO.....................................................................................................13
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INTRODUÇÃO

O filósofo René Descartes (1596 – 1650) é um dos nomes mais


representativos do período da Idade Moderna. Em meio às dificuldades e
desconfianças do século XVII, ele faz uma interessante reflexão sobre as
provas da existência de Deus que, segundo ele, é a garantia das duas realidades
constitutivas do homem: cógito e extensão. Partindo dessa ideia, o objetivo do
trabalho é fazer uma pesquisa para analisar as provas da existência de Deus,
formulada por Descartes.
Para chegar a esse objetivo, o trabalho será organizado da seguinte
forma: no primeiro tópico, será desenvolvido um breve estudo sobre o método
cartesiano, de modo a entender a importância deste, para chegar a existência
de Deus que, para Descartes, é um ser perfeito, imutável, benevolente e
infinito.
No segundo momento, será delimitado a questão do cogito, verdade,
clara e indubitável. Ainda neste, mostrará que as duas substâncias já citadas
anteriormente são realidades distintas, mas se unem através da glândula
pineal, localizada na parte interior do cérebro humano. De acordo com René
Descartes, pelo fato de Deus possuir a perfeição, não participa dessas duas
naturezas.
Após discorrer a respeito dessas duas questões, o terceiro tópico
abordará os três argumentos cartesianos que provarão a existência de Deus.
Para isso, Descartes recorre à questão da ideia de perfeição, ideias inatas e a
questão da existência, prova denominada ontológica.
Para esta pesquisa, serão tomadas como base algumas duas obras de
René Descartes: o discurso sobre o método, 1637; e as meditações
metafísicas, além disso, o trabalho contará com as ponderações de alguns
comentadores do pensamento cartesiano como: Franklin Leopoldo e Silva,
Lívio Teixeira, Raul Landim filho, Realle e Antisseri também George Pascal.
6

O MÉTODO CARTESIANO

Antes de estudar as provas da existência de Deus, é necessário fazer


uma retomada do pensamento cartesiano, a fim de compreender quais foram
os caminhos que Descartes percorreu para afirmar a existência de um ser
infinito, belo e bondoso. Para isso é importante conhecer quem foi esse
filósofo.
René Descartes nasceu em 31 de março de 1596 na Touraine, em La
Haye. Desde jovem, mostrava ser um garoto muito esperto e dedicado,
percebendo isso o seu pai coloca-o no colégio dos jesuítas de La Fleche, que
acabava de ser aberto. Fez ali estudos brilhantes segundo o currículo daquela
época, chegou até cursar direito, mas nunca exerceu a função. Serviu ao
exército na guerra dos trintas anos e formou-se em diversas áreas.
Enquanto estudava, tinha uma grande expectativa de alcançar as
verdades, mas, ao longo do tempo, foi percebendo que quanto mais se
dedicava (????) tão grande era o abismo e os erros em sua mente a tal ponto
de fazê-lo duvidar de tudo e mudar totalmente de opinião, assim como retrata o
douto filósofo: “eu me vi enlaçado por tantas dúvidas e erros que assemelhava
não ter tido outro proveito senão o de descobrir mais a minha ignorância”.
(DESCARTES, 1975, p.12).
Com tudo isso ele se decepciona, pois “o que Descartes esperava de
seus estudos era um conhecimento claro e seguro, de tudo o que é útil a vida e
nem as aulas de seus professores ou leituras pessoais, numerosas e variadas,
o satisfizera”. (PASCAL, 1990, p. 2).
Após criticar a formação por falta de uma metodologia e dizer que só a
matemática nos traz verdades claras, Descartes cria um método, que até
então, era usado pelos céticos, mas agora com uma nova utilidade, chegar ao
conhecimento das verdades através da dúvida. Entretanto, é necessário um
ponto fixo e seguro que lhe permita levantar o mundo. Conforme defende Silva
(1996, p. 43) que:
7

A dúvida é a procura desse ponto fixo. Existe um projeto anterior ao


exercício da dúvida, que é o projeto de reconstrução do saber; a
dúvida está a serviço desse projeto, e o seu sentido deriva da
realidade que ela deve cumprir. Descartes distingue dos céticos
acadêmicos na medida em que não julga que a certeza seja
impossível de atingir.

Ademais, o método cartesiano é dividido em quatro partes, evidência,


análise, síntese e controle. O primeiro consiste em jamais aceitar como
verdadeiro as ideias que não sejam possíveis provar racionalmente a sua
veracidade, por tanto, devo duvidar de tudo 1. Neste segundo passo, o indivíduo
deve fazer uma quebra, ou seja, dividir as dúvidas em tantas necessárias, para
se chegar a uma verdade clara e distinta. Em terceiro lugar, devo classificar as
dificuldades das mais simples para as compostas, desse modo, fica
compreensível o estudo de cada uma e, por último, consiste em enumerar e
fazer revisões afim de identificar se algo foi omitido. Silva (1996, p. 31)

A VERDADE ATRAVÉS DO CÓGITO

Estabelecida as regras do método, o filosofo passa para um segundo


momento da busca pelas verdades, em que a questão da dúvida já citada vem
à tona, pois ela “é um instrumento metodológico com que Descartes procurou
chegar à prova da existência de verdades, logicamente necessárias e de
reconhecimento universal2.” (LIMA, 2006)
Além disso, essa metodologia é baseada em questionar tudo aquilo que
não pareça verossímil para o indivíduo, de forma a encontrar algo em relação
ao qual não se pode mais ter dúvidas. Como bem argumenta Silva (1998,
p.32):

É como se tudo aquilo que parecia como verdadeiro antes da


aplicação do método não pudesse responder pela origem de sua
verdade é, portanto, metodicamente necessário colocar tudo em
dúvida. Mas não serão colocados em dúvida apenas os conheci-
mentos efetivamente adquiridos no passado e no presente; é preciso
ir mais longe, no sentido de invalidar a própria esfera do
conhecimento sensível.

1
Por que duvidar. Silva p. 36
2
https://www.dicionarioinformal.com.br/usuario/id/131103/
8

Toda via, é importante recordar o que já fora dito anteriormente, que


Descartes duvida de tudo com um único objetivo, provar para os céticos que
existe uma verdade incontestável, e a maneira mais fácil de chegar até ela é
duvidando, mas, para isso, existem alguns passos a serem seguidos, os quais
serão de suma importância para sua busca das verdades e posteriormente
para provar a existência de Deus.
O primeiro argumento é o do erro dos sentidos: por meio da dúvida
metódica, Descartes questionou até mesmo a eles, uma vez que esses não
são confiáveis e podem enganar as pessoas, fazendo-as equivocarem-se
quanto à verdade.
Para entender melhor essa questão é necessário observar as palavras
do próprio filósofo. Descartes (2018, p.32):

Tudo o que aceitei até o presente como o mais verdadeiro e certo,


aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora, algumas vezes
experimentei serem esses sentidos enganadores, e é prudente nunca
se fiar inteiramente naqueles que uma vez nos enganaram.

Se os sentidos podem enganar, logo, eles não fornecem uma verdade


clara sobre as coisas, e se todos sabem disso, por que confiam neles então?
Se o método cartesiano é pautado na dúvida, então Descartes tem motivos
para duvidar dos sentidos e chamá-los de falsos, entretanto,
nem tudo o que vem dele é falso, [...] só o faria se me comparasse a
esses loucos. (Descartes, 2018)
O segundo Descartes chama de Argumento do sonho. Para o doutor
filósofo, o conhecimento do mundo que chega até nós por meio dos sentidos
não possui a capacidade de fazer uma distinção entre o estado de vigília ou de
sono. Por esse motivo, é bem provável que todos os seres humanos estejam
sonhando nesse momento e daqui a pouco irá acordar e perceber que tudo
isso que está presenciado não passa de um sonho. Por essa ser uma questão
complexa para ser expressa por palavras leigas, é necessário recorrer aos
escritos do filósofo. Descartes (2018, p. 33)

Todavia, tenho aqui que considerar que sou humano e, portanto,


costumo dormir e representar-me em meus sonhos as mesmas
coisas (ou por vezes coisas menos verossímeis) que esses loucos ao
acordarem. Quantas vezes sucedeu-me de sonhar à noite que estava
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neste lugar, que estava vestido, que estava junto ao fogo, ainda que
estivesse totalmente nu em meu leito? Parece-me positivamente no
presente que não é com olhos adormecidos que contemplo este
papel; que está cabeça que movo não está semiadormecida; que é
com intenção e propósito deliberado que estendo esta mão e que a
sinto: o que ocorre no sono não parece tão claro nem tão distinto do
que tudo isso.

Esse é um passo muito importante dado por Descartes, uma vez que
analisando a citação anterior, fica claro que Descartes não diz com todas as
letras que todos estão sonhando, mas o que ele está tentando fazer é
perguntar se realmente temos certeza que isso tudo aqui não passa de um
sonho.
O terceiro passo da dúvida é justamente a questão do deus enganador,
que está fazendo as pessoas de marionetes, para que elas acreditem que tudo
isso aqui é real quando, na verdade, estamos sendo manipulados. Como bem
argumenta Descartes (2018,p.35)

Todavia, faz muito tempo que tenho em meu espírito certa opinião,
nomeadamente que há um Deus onipotente e pelo qual fui criado e
produzido tal como sou. Ora, quem pode assegurar-me que esse
Deus não tenha feito de modo a não haver nenhuma terra, nenhum
céu, nenhum corpo extenso, nenhuma figura, nenhuma grandeza,
nenhum lugar e que, entretanto, tenha eu as sensações de todas
essas coisas e que tudo isso não me pareça existir diferentemente
daquilo que vejo?

Depois do terceiro argumento, Descartes percebe que Deus é


benevolente e perfeito, e pelo fato de possuir essas características jamais
enganaria alguém. Entretanto, existe um gênio maligno, o qual empregou a sua
astúcia para lhe enganar e lhe privar das verdades, conforme defende
Descartes (2018, p. 38).

Suporei, então, que há não um verdadeiro Deus, que é a fonte


soberana de verdade, mas certo gênio maligno, tão astucioso e
enganador quanto poderoso, que empregou toda sua engenhosidade
para me enganar. Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as
figuras, os sons e todas as coisas externas que vemos são apenas
ilusões e enganos dos quais ele se serve para surpreender minha
credulidade.

Descartes fica surpreso com o que acabara de descobrir, mas se


realmente tiver um ser poderoso lhe enganando, ele está perdido, pois não
será mais possível chegar às verdades. Entretanto, para não deixar os seus
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argumentos anteriores se perderem, ele diz que existe uma verdade indubitável
que nem mesmo os céticos possam refutá-la.
Essa verdade é a do cogito 3, ou seja, Descartes chega à conclusão de
que, para ser enganado, necessariamente ele tem que existir, e já que ele está
duvidando significa que está pensando, e se está pensando, automaticamente
está existindo, por tanto, conclui, penso, logo existo, cógito ergo sum. Reale,
Antiseri (1990).
Tudo isso pode ser melhor entendido com as sábias palavras do proprio
filósofo, Descartes (2018, p.41):

Mas há um enganador muito poderoso e muito astucioso que


desconheço e que emprega toda sua engenhosidade para enganar-
me sempre. Não há dúvida, portanto, de que eu sou, se ele me
engana; e que ele me engane tanto quanto quiser: nunca poderá
fazer com que eu não seja nada enquanto eu pensar ser algo.
Resulta que, após ter pensado bem sobre isso e ter examinado
cuidadosamente todas as coisas e necessário, enfim, concluir e
sustentar, invariavelmente, que essa proposição, nomeadamente: eu
sou, eu existo, é necessariamente verdadeira sempre que a
pronuncio, ou que a concebo em meu espírito.

Após ter percorrido um caminho metódico para chegar ao conhecimento,


Descartes conclui que é uma coisa que pensa e, por esta razão, existe. A
certeza é assegurada pelo método da clareza e distinção. Para este método,
“tudo o que é claro e distinto é considerado verdadeiro. Assim, isso pode ser
estabelecido como uma regra geral”. ( DESCARTES,2018, p.54).
Após ter provado a existência Divina, Descartes argumenta que desde
jovem aceitou como verdadeira várias coisas que se apresentavam a ele como
certas, entretanto reconheceu que todas eram duvidosas como: o céu, o sol, a
lua, os astros e entre outras, as quais eram apresentadas pelos sentidos.
Descartes (2018, p. 54)
Isso fez com que Descartes enxergasse uma possibilidade de existência
de coisas matérias fora da sua mente, que eram derivadas não do
pensamento, mas de algo superior, algo superior ao homem, uma substância
que não depende de nada, pois existe por si mesmo, este algo só pode ser
Deus, o qual garante a existência de todas as coisas.

3
Palavra latina que significa pensamento.
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AS PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS.

Todos esses passos que o filosofo percorreu até aqui foram de suma
importância para chegar à conclusão da existência de Deus. Nos parágrafos a
seguir, será feito uma investigação, a fim de analisar minunciosamente as três
provas formuladas pelo filósofo, que parte da ideia inata de existência e
perfeição para fundamentar os seus argumentos acerca de algo que contém
toda a plenitude em seu ser.

Esses passos fizeram Descartes refletir que, a busca por uma verdade
clara e distinta levou-o a duvidar de tudo o que existe e este ato (de duvidar)
fez com que o homem se tornasse imperfeito. Caso fosse o contrário, ele tinha
todas as respostas e não precisaria duvidar, uma vez que o conhecimento é a
maior perfeição em relação à dúvida. Como bem argumenta Descartes (2018,
p.71):

Ora, se eu fosse independente de qualquer outro, e fosse eu mesmo


o autor de meu ser, decerto não duvida- ria de coisa alguma, não
conceberia mais desejos e, enfim, a mim não faltaria nenhuma
perfeição; com efeito, teria concedido a mim mesmo todas as
perfeições das quais tenho em mim alguma ideia, e assim eu seria
Deus.

Ademais, se os seres humanos são imperfeitos, logo, a ideia de


perfeição só pode ter sido colocada em sua mente por algo perfeito e esse algo
se resume em quatro letras: “Deus”; portanto, Deus existe.
Como bem argumrnta Descartes (2001, p.40):

Após isso, meditando sobre o fato de que eu estava duvidando e, por


consequência, o meu ser não era inteiramente perfeito, pois era para
mim claro que perfeição maior do que duvidar era conhecer, veio-me
à mente a ideia de descobrir de onde aprendera a pensar em alguma
coisa mais perfeita do que eu, e encontrei a evidência de que devia
existir algo de natureza mais perfeita.

É sabido, portanto, que Deus existe, e existindo assegura a existência


de todas as coisas, sejam elas materiais ou não. Além disso, Deus é um ser
perfeito e o homem tem a obrigação de reconhecer isso. Pois ele está além do
pensamento, é como se fosse uma ideia perfeita que deixou a sua marca em
nós, seres humanos, no processo de criação e, portanto, Ele existe como uma
ideia mais perfeita.
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Tudo isso levou Descartes a reconhecer que o homem se divide em


duas substâncias, res cogintas4 e a res extensa 5, as quais são realidades
distintas, pois se encontram separadas, mas se unem através da glândula pineal,
localizada na parte interior do cérebro humano. Em outras palavras, essa glândula é a
principal responsável pelo encontro dessas duas substâncias, mas Descartes deixa
claro que Deus não faz parte de nenhuma dessas naturezas, se assim fosse
não poderia ser tido como perfeito, Descartes (2001, p. 49).
Outro argumento, que assegura a existência de Deus é a questão das
ideias, vejamos: Descartes ainda argumenta que existe nos seres humanos
alguns tipos de ideias. A adventícia, que vem de fora; as factícias, construídas
pelo próprio ser humano; e as ideias inatas, as quais serão estudadas nesse
trabalho.
Para ele, em meio a tantas ideias, algumas já nasceram com os seres
humanos, como, a ideia de infinito. Essas ideias são estranhas, não foram
inventadas pelo próprio sujeito, uma vez que ele é finito e, como foi visto, algo
finito não pode produzir coisas infinitas. Portanto, essa ideia só pode ter sido
criada por Deus, sendo concebida na mente humana, possuindo todos os
predicados da infinitude.
Ora, a ideia que em mim representa o infinito é a ideia de Deus, na
medida em que a infinitude é o predicado de todos os predicados de
Deus. Tenho na mente a noção de Deus como um ser que possui
todo os predicados em grau infinito, e o responsável por existir em
mim, tal ideia só pode ser o próprio Deus, que teria, segundo
Descartes, deixa- do impressa em mim a infinito- de como a marca do
artífice em sua obra. (Silva, 1996, p. 66, apud Descartes)

Mais uma vez é possivel assegurar que Deus existe e é uma ideia
inata, ou seja, sempre esteve dentro de nós. Além disso, “com a sua existência
acontece uma passagem da evidência imediata do cogito para a partir da prova
da existência de Deus prova-se a existência do mundo, Deus é a fonte criadora
e o fundamento de toda a verdade”. (ZILLES, 1991, p.29)
Após essa conquista da existência de Deus, fica claro que Ele é o
principal responsável por garantir a existencia do mundo extenso. Mas, ainda
resta um problema, e se o gênio maligno está fazendo com que tudo isso não
passa de ilusões da mente humana, uma vez que Descartes argumentou a
possibilidade da existência de um ser malvado. Mas é importante notar que
4
Alma, pensamento.
5
Tudo aquilo que ocupa uma extensão no espaço.
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para Descartes “Deus é uma substância infinita, eterna, imutável,


independente, onisciente, onipotente e pela qual eu mesmo, e todas as outras
coisas que são (se é verdade que há coisas que existem) foram criadas e
produzidas”. (DESCARTES, 2018, p.67)
Toda via, se Deus possui todas essas qualidades, ele é bom, e sendo
assim nunca permitiria que os seres humanos fossem engados por um Gênio
maligno, logo o argumento do ser malvado cai por terra.
Em terceiro e último lugar, Descartes formula outro argumento
denominado, prova ontológica, para mais uma vez mostrar que é possível
assegurar que Deus existe, esse argurmento se divide em dois momentos,
como bem argumenta, Filho (2000, p. 118)

Ela se divide em duas partes, a primeira consiste em inferir da ideia


clara e distinta de Deus como um ente sumamente perfeito a
essência verdadeira de Deus. A Segunda prova tem como premissa
a essência de Deus considerada como conjunto de todas as perfeição
e prova que a partir desse conjunto é derivado a existência de Deus,
isto é, a existência faz pertence ao conjunto das perfeições de Deus.

Passemos agora para a análise de cada uma delas. As etapas do


método cartesiano foram ímpar na filosofia cartesiana, pois, depois de ter
percorrido todas as etapas do método, Descartes conclui que em sua mente
possuía uma ideia clara e distinta de um ser sumamente perfeito, ora, tudo o
que é claro e distinto é verdadeiro, e sendo assim, a essência desse ser é algo
totalmente perfeito, completo e não falta nada. Ademais, a existência faz parte
da perfeição, por tanto, um ser perfeitíssimo tem como um dos seus atributos o
existir, ora, um atributo de um ser perfeito só pode pertencer a ele, logo, o que
é perfeito existe. Filho (2000, p.118)
Num segundo momento, a prova se fundamenta na essência de Deus,
que é um conjunto de todas as perfeições. Portanto, é assegurado que a
existência deriva desse conjunto de perfeição e por isso é correto afirmar que a
existência faz parte desse conjunto das perfeições divinas. Ora, a qualidade da
essência de algo é a qualidade dela mesmo, portanto, se a existência é
aplicada segundo a essência de Deus, Ele existe e, dessa forma, fica
assegurada por três argumentos: perfeição, infinito e ontológico que Deus
existe e é um ser perfeito, benevolente infinito, etc.
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CONCLUSÃO.
Em virtude dos fatos mencionados, conclui-se que a partir desse
trabalho foi possível fazer uma análise das provas existenciais de Deus no
pensamento racionalista de René Descartes e mostrar que Deus existe e a sua
existência pode ser demonstrada por duas vias: lógica e antológica. 
Ademais, conclui-se também que a busca por verdades claras e óbvias
levou Descartes a duvidar de tudo o que existe e esse ato (cético) torna o
homem imperfeito. Por este motivo, a ideia inata de perfeição que todos têm
em seu intelecto só pode ter sido criada por Deus, uma vez que é um ser
perfeito e infinito.
Além disso, foi constatado que a ideia existencial de um ser divino pode
ser comprovada a partir da existência, ou seja, se Deus é um ser perfeito,
como fora argumentado anteriormente, necessariamente Ele tem que existir,
pois a existência faz parte da perfeição.
Por fim, conclui-se que Deus em Descartes é a segurança de tudo o que
existe, tanto da parte pensante como da extensa de um indivíduo e, por assim
dizer, jamais pode ser negada, pois ele é o fundamento de todas as coisas,
como afirma o doutor filósofo, René Descartes.
Se, fosse resumir em poucas palavras quem é Deus para Descartes, a
partir do fato apresentado, pode constatar que Ele é um ser benevolente,
perfeito infinito e o criador de todas as coisas que existe.
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REFERÊNCIAS

DESCARTES, René. Discurso sobre o método. São Paulo: Hemus, 1975.


100 p. Tradução de: Torrieri Guimarães.

DESCARTES, René. Discurso do Método. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes,


2001.

DESCARTES, René. Meditações Metafísica. São Paulo: Edipro, 2018. 127 p.


Tradução: Edison Bini.

LANDIM FILHO, Raul. Argumento Ontológico: a prova apriori da existência


de deus na filosofia primeira de descartes. 2000. 155 p.

PASCAL, Georges. Descartes. Tradução de Maria Ermantina Galvão Gomes


Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1990. p. 121

REALE, Gionvanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: do humanismo a


Kant. Tradução de Ivo Storniolo. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1990. v. 2, p. 183-
305.

SILVA, Franklin Leopoldo e. Descartes: a metafísica da modernidade. 4. ed.


São Paulo: Moderna, 1996. 151 p

Dicionário informal, Milena Lima. Duvida metódica, Disponivel em:


https://www.dicionarioinformal.com.br/usuario/id/131103/
Acesso em: 14/ de março de 2023.

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