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DESCARTES SEGUNDO A ORDEM DAS RAZÕES

Guerolt

PRIMEIRA PARTE: A ALMA E DEUS


Capítulo Primeiro: Metafísica Cartesiana e Ordem das Razões
Parte I - 2 Elementos centrais da filosofia Cartesiana:
§§1-2: Regulaes
§1: Há uma ideia produtiva na filosofia cartesiana: O saber tem limites. Disso nasce
uma dupla exigência: por um lado filosófica, que é determinar os limites do saber,
e por outro metodológica, não se pode duvidar de nossa inteligência, pois ela é a
condição de todo conhecimento, inclusive do conhecimento de analisar a si própria
e conhecer seus limites.
Por isso, a dúvida metódica, elemento central da filosofia de Descartes, exclui a
dúvida da própria inteligência, pois ela é necessária ao próprio método.
A segunda verdade cartesiana,“O espírito é mais fácil de se conhecer que o
corpo”, abre as portas do idealismo ao inverter o ponto de vista escolástico,
trazendo o sujeito ao cerne do conhecimento.
§2: Mas essa indubitabilidade da inteligência será também posta à prova pelo
questionamento da validade do entendimento, usando-se o artifício do gênio
maligno. Uma vez que isso esteja satisfeito, a metafísica poderá servir de base à
matemática e à física.
§§3-4: Universalidade do método
§3: Para Descartes, sem o conhecimento de Deus não é possível validar a física-
matemática.
Será também através da ideia de Deus cartesiana (onipotente e bondoso) será
resolvido os problemas do limite do conhecimento, pois há uma relação entre as
regulae e a ideia da incompreensibilidade de Deus.
§4: Havendo assim uma relação da ideia de Deus e os limites do saber, o
sistema de saber cartesiano busca ser um bloco único metafísico-científico.
§§5-8: A verdade é então algo indivisível e, sendo assim, através de um método, é
possível chegar a um saber absolutamente certo.
Parte II - A ordem das razões
§9: Sendo então as verdades cartesianas um bloco único e inseparável, ela se
explicita como a matemática, sendo apresentada de forma encadeada, a chamada
ordem das razões, de forma que o conhecimento que primeiro aparece não
depende dos seguintes pra se validar, mas muitas vezes dá base aos seus
sucessores. Tal sistema se contrapõe a ordem das matérias.
§10: Por tal ordem, nenhuma verdade cartesiana deve ser analisada sem se levar
em conta que ordem da cadeia das razões ela ocupa.
§11: Assim, é essencial analisar a ordem que as coisas são dispostas (como porque
o problema do erro vem posteriormente a prova de Deus e antes da prova
ontológica), pois, numa geometria, “compreender a razão da ordem é pura e
simplesmente compreender”.
§12: Tal filosofia tira sua certeza de sua própria ordem interna
Nota³²: Rejeição da experiência vulgar frente a razão. Descartes só admitirá a
validade de uma experiência orientada por um princípio racional, ou seja, desvelada
pelo encadeamento das razões.
Toda experiência, portanto, longe das leis estabelecidas a priori são falsas.
Dessa forma, ele se opõe tanto a ciência experimental ao não tirar da experiência
os princípios para se orientar, quanto da escolástica que se usa da experiência
vulgar.

Parte III
§§13-14: Ordem sintética x ordem analítica:

- Ordem sintética: Útil para dar uma melhor compreensão do conjunto de


resultados alcançados, mas falha em apresentar a forma que foram alcançados.
Possui uma exposição geométrica. Está presente nas Segundas Respostas e nos
Princípios.
- Ordem analítica: Ensina o método pelo qual a coisa foi inventada e
comportam as justificativas profundas do texto, além de permitir uma melhor
compreensão dos conceitos mais abstratos ao guiar o leitor por um desligamento
dos sentidos, atendendo, assim, às exigências psicológicas que uma leitura
metafísica exige. Está presente no Discurso e nas Meditações

Parte IV
§§15-18: As meditações são por excelência a obra metafísica de Descartes
§15: Assim, toda leitura da metafísica cartesiana deve se voltar às Meditações, uma
vez que ela comporta os elementos essenciais desta.
§16: Isso traz 3 consequências:
1. As Objeções e As Respostas são livros de complemento às Meditações, não
tirando ou acrescentando nada a ela.
2. Todas as considerações metafísicas para fora dela são prolongamentos e
não elementos essenciais.
3. Sendo as Meditações apresentadas pela via analítica, é imprescindível
compreender essa ordem.
§§19-21: Das diferenças e riscos de confusão entre as ordens analíticas e
sintéticas:
§19: É preciso então ter claro o que a difere uma ordem da outra. Na analítica, as
coisas se mostram segundo as exigências de nossas certezas, enquanto na
sintética, segundo sua dependência real. “O encadeamento dos meus
conhecimentos não é o encadeamento das realidades”.
§20: Assim, enquanto na ordem analítica a condição primeira de todo mais existente
é o cógito, para a ordem sintética há a causa primeira, que é Deus.
§21: “Dado que a ordem analítica reenvia à sintética, tal como o conhecimento
reenvia a seu objeto, é muito fácil confundir as duas!. Pg21

§§22-24:Objetivo da filosofia cartesiana:


§23:Descartes orienta a não se entrar demasiado na metafísica, uma vez que ela é
uma introdução a outras coisas (a moral e o conhecimento da natureza), evitando
assim se esquecer dessas.
§24: Tal alerta serve para lembrar que Descartes queria com sua obra não fazer
meras especulações, mas um meio de tornar a vida melhor e mais feliz.

Capítulo Segundo: A Dúvida e o Gênio Maligno.

Parte I –
§§1-2: A validação do método

§1: Há um problema cíclico: As conclusões das Meditações serão válidas na medida


que o Método, que as precede, for válido. Todavia, tal validade do método se dá
pelas próprias Meditações, formando uma necessidade recíproca de validação. Para
escapar desse ciclo, é preciso que as Meditações revelem um fundamento que
possa ser válido independente do meio pelo qual foi alcançado.
§2: Por isso, as Meditações fundam e validam método simultaneamente.
§§3-7: A quem cabe a fundamentação das certezas
§3: O método aparece nas Regulae, mas nela a validade do método aparece
fundada não na metafísica, mas nas matemáticas (“a certeza iminente à razão
humana”).
§4: Tal concepção daria uma nova teoria do conhecimento, onde a ciência
repousaria na faculdade humana do conhecer (a inteligência), aproximando
Descartes de Kant.
§5: Porém, as Regulae s preocupam apenas em estabelecer o método, mas os
problemas oriundos de tal método só aparecerão conforme colocado em prática o
princípio de “não aceitar como verdadeiro nada que não seja absolutamente
evidente”, o que colocará em xeque as verdades matemáticas (a princípio evidentes
por si) e consequentemente nossa fé na veracidade das ideias claras e distintas.
§6: Disso, surgirão duas grades questões que serão respondidas nas Meditações:
1) As exigências internas do conhecimento são válidas para o mundo
exterior? O que vale às primeiras, vale para as últimas? As coisas que percebo
exteriormente correspondem às verdades que percebo nas essências?
2) As ideias que são reais para minha razão são univerais ou limitadas a minha
subjetividade? As minhas ideias que afirmo como claras e distintas são fruto de
uma razão universal objetiva ou de necessidades da minha própria subjetividade?
Esta questão pode desdobrar-se de duas maneiras:
A. Posso estar enganado no que considero ser a intuição das ideias?
B. As ideias (claras e distintas) conhecidas pela intuição permanecem
imutáveis ainda que eu não pense sobre elas por meio da intuição? A ideia que
guardo na memória permanecerá imutável também fora de mim?

§7 - A reposta disso se dará na Metafísica, onde ficará demonstrado que Descartes


não acredita que a natureza humana dê conta de sozinha, validar o conhecimento,
precisando de um algo maior.
§§8-11: A Dúvida Cartesiana como ferramenta na obtenção das certezas
§8 - Assim, a Metafísica surge como uma consequência, uma necessidade de
fundamentar as certezas de forma inabalável.
§9 - Para alcançar tal certeza, é necessário na investigação que não seja admitido
nada que não seja absolutamente certo, dando assim origem a uma tríplice
necessidade:
1. Necessidade da dúvida prévia;
2. Necessidade de nada executar da dúvida.
3. Necessidade de tratar como falso (provisoriamente) tudo que pode ser posto
em dúvida.
§10 - Essas tríplice necessidades nos revelam três características da dúvida
cartesiana: metódica, radica e universal;
§11 - O caráter metódico nos revela outra característica da dúvida cartesiana, pois
ela, sendo só um instrumento para se alcançar a certeza do saber, é então
provisória.

§§12-15: Aplicação da dúvida e os elementos simples


§12: A Meditação Primeira coloca em prática a dúvida.
§13: Tal dúvida rejeita tudo o que por pouco não é certo, e não ataca as diversas
opiniões, mas o princípio delas, a saber, o de que o conhecimento advém dos
sentidos e daí em diante.
§14 - A imaginação cria elementos compostos, logo, tudo que é formado por mais
de um elemento entrará em dúvida pois pode ser mero produtos da imaginação.
Assim, coloca-se em dúvida a veracidade dos sentidos e os sonhos.
Resta com isso os elementos mais simples e gerais (e não compostos), os
números e as cores, nos aproximando assim (no caso os números) do elemento
central da certeza presente nas Regulae.
§15 - Daqui é possivel caracterizar duas categorias de ideias, as ideias compostas
(produzidas, artificiais) e as ideias simples, sendo elas as sensíveis (sentimento)
(indecomponíveis) e as intelectuais (números, inteligência). Essas últimas (as
simples) não podem serem dividias em outros componentes, são noções primeiras
ou imediatas, e podem ser chamadas de inatas.
§§16-23
§16 - Neste percurso da ordem das razões, cessa-se provisoriamente a busca da
verdade de ume realidade exterior que corresponda a nossa subjetividade, e passa-
se a busca de uma validade das ideias fechadas em seu próprio domínio. Será
verdade então que o quadrado tem quatro lados, ainda que ele não exista na
natureza.
§17 - A decomposição do complexo no simples nos leva às noções fundamentais da
matemática, que escapam da razão natural de duvidar no momento que se tornam
indecomponíveis. Ou seja,há uma correlação entre o simples e geral com aquilo
que é, a princípio, indubitável. Ao contrário, as ciências que versam sobre as
coisas compostas (física, astronomia, medicina), são duvidosas e incertas.
§18 - Assim, as ideias simples escapam tanto da dúvida dos sentidos, quanto da
dúvida dos sonhos (pois as noções matemáticas são verdade mesmo no sonho).
§19 - Todavia, mesmo tais noções isentas de composição podem ser postas em
dúvida se abandonarmos as dúvidas naturais para a metafísica, que duvidará da
validade de nosso espírito.
§20 - Existe, nessa dúvida, a inserção de um poder superior, infinito, capaz de
atacar a natureza do nosso próprio entendimento finito, que podemos chama-lo de
vontade.
§21 - É então esse duplo aspecto do infinito (divino e humano) que possibilita a
passagem da dúvida fundada sobre as razões naturais para a dúvida fundada
sobre a metafísica.
Donde surge o problema: O que me permite fundamentar, metafisicamente, a
validade do meu entendimento?

§22 - Surge então o artifício do Gênio Malígno, uma ficção da vontade, permitindo a
dúvida da validade do próprio espírito (e, consequentemente, das ideias simples).
Além de um instrumento resolutório, tal artifício é também um instrumento
psicológico, por se sobrepor aos hábitos e a noção do provável. Ela é uma dúvida
radical, exercício metafísico abstrato e não intuitivo que exige um desprendimento
dos sentidos. Uma suposição metodológica (como a linha do Equador) para poder
clarificar um determinado tema.
§23 - E de toda essa radicalidade origina-se a primeira certeza absoluta: “Eu sou,
eu existo”. Pois não é possível duvidar da existência do próprio pensamento, que
não pode ser questionada metafisicamente.
A dúvida natural encontra seu limite na natureza dos objetos simples, que é quem
responde a objeção. Por outro lado, a dúvida metafísica é respondida não por um
objeto, mas pelo próprio sujeito, detentor da dúvida que não pode ser questionada.
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Dúvidas:
Pg 10: Lembrar o que é a inversão do ponto de vista escolástico e como a segunda
verdade faz isso
Pg16: O que seria a experiência vulgar que Descartes rejeita em prol da razão? R: a
não orientada por princípios racionais.
Pg 17: Diz-se que a ordem sintética é a geométrica, mas as meditações não são
geométricas?
Pg21: Sobre a ordem analítica e sintética: Dado que a ordem analítica reenvia à
sintética, tal como o conhecimento reenvia a seu objeto, é muito fácil confundir as
duas!. pg21
Pg 28: parágrafo 14, não entendi porque os sonhos são compostos de elementos
compostos e porque isso os caracteriza como possíveis frutos da imaginação.
Há uma relação entre ser verdadeiro (escapar da dúvida) e não ser arbitrário (não
ser composto, ser simples e geral) que não entendi.

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