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Filosofia da ciência – "Regras para a direção do espírito" de Descartes -

2020

Segunda análise

Barbara Inácio da Silva


Isabela de Paiva Locatelli
Rafaela Campos

Regra 1
René Descartes coloca como subtítulo da primeira regra para direção do
espírito a seguinte frase: “A finalidade dos estudos deve ser a orientação do espírito
para emitir juízos sólidos e verdadeiros sobre tudo o que se lhe depara.” Ele
começa a primeira regra dizendo que os homens, a partir do que conhecem como
verdadeiro, ao se depararem com coisas semelhantes tendem a compará-las,
mesmo que em alguns aspectos essas coisas sejam diferentes. Dessa forma,
realizam falsas aproximações entre as ciências e as artes e deduzem que nem
todas as artes devem ser aprendidas ao mesmo tempo por um único homem e que
aquele que se dedica a apenas uma arte é mais facilmente consumado na
profissão. Como exemplo disso, um homem que se dedica a vários ofícios não se
sai tão bem quanto se ele se dedicasse a apenas um. Nesse raciocínio, os homens
julgaram que o mesmo acontece com as ciências e decidiram por dividi-la e
estudá-la separadamente sem se ater ao todo. Segundo Descartes, isso seria um
engano, já que as ciências, mesmo aplicadas a objetos diferentes, são uma união
que caracterizam a sabedoria humana, logo, não sendo necessário colocar limites
ao espírito. Para ele, o conhecimento de uma verdade nos leva a outra.
O filósofo critica alguns indagamentos da época, como costumes,
propriedade das plantas, astros e objetos semelhantes, e não se convence de que
esses indagamentos sejam mais frequentes do que aqueles sobre o bom senso ou
a sabedoria universal, sendo assim, pensa que quando refletimos sobre assuntos
particulares ficamos mais longe do caminho reto da verdade e o ideal seria
pensarmos nesse fim de forma geral. Essa reflexão complementa a ideia que a
segunda parte do Discurso do Método traz, onde Descartes defende que mais vale
uma só pessoa construindo algo bem feito do que várias pessoas envolvidas em
uma obra, remendando partes ou não usando a razão para planejar.
Descartes continua a primeira regra excluindo os fins particulares maus e
condenáveis e focando nos fins honestos e louváveis, pelos quais, segundo ele,
somos sutilmente enganados muitas vezes dando o exemplo de quando
procuramos adquirir as ciências úteis para o bem-estar da existência ou para o
prazer na contemplação da verdade. O filósofo prossegue refletindo que esses
frutos legítimos das ciências podem fazer com que as pessoas omitam meios
necessários para o conhecimento de outras coisas, porque parecem pouco úteis ou
pouco interessantes de início, então é preciso acreditar que é melhor ter todas as
ciências conectadas e estudá-las conjuntamente do que separadas. Portanto, ele
conclui, que se alguém deseja investigar a verdade das coisas não deve escolher
uma ciência particular e sim pensar em aumentar a luz natural da razão, não para
resolver problemas particulares, mas para que nas circunstâncias da vida o intelecto
se sobressaia à vontade nas escolhas. Ao final, garante que o investigador ficará
surpreso porque seu progresso será superior e mais elevado pensando nas coisas
de forma ampla do que quando se dedicava a estudos particulares.

Regra 2
A segunda regra de Descartes, expõe a importância do método de
conhecimento. As escolhas dos objetos de estudos por muitas vezes, podem
ser mais importantes do que o resultado procurado. O homem está à procura
da verdade, é inerente à espécie duvidar e questionar sobre as relações no
mundo. No entanto, quando o espírito inicia o questionamento e procura
pelas respostas, ao descobrir uma solução, pode ocorrer que o encontrado
não seja algo verdadeiro, seja apenas uma resolução do que se pressupõe
ser a verdade. Descartes afirma que em casos de dúvidas e soluções, aquele
que desconhece a verdade, pode saber muito mais, do que o indivíduo que a
procurou e achou um falso verdadeiro, porque, esse adota o erro como
realidade, e descarta quaisquer novas dúvidas. Por isso, a segunda regra do
filósofo demonstra que somente pode-se acreditar nas coisas que não podem
ser questionadas, que são verdades absolutas, caso contrário, não se pode
ter certeza da veracidade dos fatos encontrados.
Segundo Descartes, o homem precisa antes de tudo, entender que em
uma ciência existem diferentes opiniões e visões, pois, como dito
anteriormente, está na natureza humana duvidar sobre tudo e todos, então, a
discordância em várias vertentes é totalmente normal e aceitável, afinal, são
esses questionamentos que nos diferem de outros animais; não aceitar tudo
como verdade, e preocupar-se com os motivos da existência, torna o espírito
racional. Por tais razões, dificilmente, em uma ciência humana (como é
classificado nos dias atuais), haverá consenso sobre algum conceito, sempre
surgirão controvérsias. Todavia, apesar das contestações, o homem não
consegue afirmar qual ideologia é a verdadeira, porque, pelo menos entre
dois indivíduos, alguém está enganado, mas, como ambos acreditam
compreenderem a verdade, não conseguem se desprender desse juízo, e
assim, não atingem um consenso.
Assim, é notório que somente as ciências exatas, como aritmética e
geometria, conseguem reduzir a verdade em sua forma inquestionável, afinal,
a exatidão dos números e seus resultados, demonstram que não há dúvida
sobre sua veracidade. Sendo assim, as contradições encontradas nas outras
ciências, como filosofia, tornam-se mais relevantes, pois, essas permitem a
dúvida, gerando mais conhecimento, porque, para duvidar de algo e
comprovar a dualidade da informação, é necessário estudar, pesquisar e
conhecer a forma inversa do proposto, chegando a novas conclusões que
também podem ser incertas, mas que formará novas dúvidas, transformando
o ciclo do conhecimento, um sistema vicioso de novas descobertas. Essa
relação entre aritmética e filosofia, por exemplo, comprova como é mais
relevante e estimulante duvidar de algo, e ir atrás da verdade, do que
simplesmente acreditar em resultados, mesmo que essa opção seja mais
fácil, a procura pelas autenticidades e respostas sobre as dúvidas, tornam a
construção do conhecimento mais agradável e extraordinária.
Portanto, em sua formulação da segunda regra, o filósofo Descartes insere no
espírito a importância de não aceitar fatos das ciências humanas, sem
questioná-las, pois, as diferentes formas de pensamentos pressupõem que
sempre podem haver novas dúvidas. Destarte, assim como outros objetos de
estudos, a filosofia foi ornamentada dessa forma, em que cada pensador
questionou o anterior, formulando novas ideologias, por conseguinte, foram
questionados pelos seus sucessores, e assim sucessivamente, tornando essa
ciência que persiste até os dias atuais, baseada no espírito primitivo do ser
humano, questionar.

Regra 3
Na terceira regra, Descartes começa por mostrar a importância de ter os
livros e o conhecimento deixado por escritores e pessoas que estudaram
vários assuntos durante o passar do tempo. Isso ajuda no conhecimento das
pessoas que hoje podem usufruir desses escritos. Dessa forma, conhecer o
que foi escrito e desenvolvido no passado, ajuda a ter melhor conhecimento
do que ainda pode se descobrir e dessa forma nortear os novos escritores.
Entretanto, muitas vezes quando lidos os livros que possuem um
conhecimento antigo, muitos desses escritores esquecem de passar
informações positivas e acabam por enrolar ou até evitam falar sobre o tema,
devido a inveja ou por não quererem dar o espaço necessário a quem
escreveu.
Descartes também nota que mesmo que um escritor afirme que há algo
de errado no que o outro escreveu, e tal pessoa que afirma esse erro esteja
agindo com boa vontade e verdade, cria uma dificuldade em todos que estão
realizando a leitura por não saber em qual dos dois realmente acreditar. E
mesmo que várias pessoas acreditem que tal autor seja verdadeiro ou não,
isso não o torna realmente uma verdade.
Outro ponto importante que Descartes diz, é que não se deve misturar os
sentimentos em leituras, deve apenas analisar utilizando a razão. Pois assim
como ele cita no texto “a melhor razão pela qual não se encontra ainda na
filosofia vulgar nada de tão evidente e tão certo que não possa questionar-se,
é que primeiramente os estudiosos, não contentes com reconhecer as coisas
claras c certes, ousaram defender coisas obscuras e desconhecidas”. Após
realizarem tal feito, muitos se dão os créditos de terem acertado algo, ao
mesmo tempo que também se corrigem por ter errado alguma das afirmações
que consideravam verdadeiras naquele momento.
Para evitar que as pessoas caiam na mesma contradição como a
apresentada no parágrafo anterior, ele passa alguns pontos para ser
analisados antes de qualquer afirmação de verdade sobre alguma leitura ou
assunto:
Intuição: Isso não se aplica ao sentimento que muitas vezes é chamado
de intuição, que quer mostrar algo para quem está sentindo, mas sim o
conceito de mente pura e atenta, onde nenhuma dúvida consegue
permanecer. Essa mente pura nasce apenas da razão. Tal intuição é o que
leva a afirmar que ao realizar a soma de dois mais dois, o resultado final será
quatro.
Dedução: Dela surgem algumas certezas, pois a maioria das coisas que
são deduzidas são provenientes de algumas ideias que eram consideradas
certas. Para realizar a dedução, deve se pensar nos elos que ligam um início
e um final e são conectados um pelo outro por uma linha que é a dedução.
Desse modo, os primeiros passos são feitos pela intuição e as conclusões
realizadas através da dedução.
Para Descartes, essas duas vias são as mais seguras para chegar à
ciência de fato, pois as outras são todas passíveis de erro, principalmente
quando se trata de algo pautado na fé. Entretanto, nada impede que um dia,
tais convicções que se sustentam pela fé, também passem por esse método
e sejam consideradas verdadeiras de fato.

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