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Filosofia da Ciência - “Investigações sobre o entendimento humano e

sobre os princípios da moral” de David Hume - 2021

Terceira análise

Barbara Inácio da Silva


Isabela de Paiva Locatelli
Rafaela Campos

Seção 1

David Hume inicia a primeira seção, “Das diferentes espécies de filosofia”,


dizendo que a filosofia moral, ou ciência da natureza humana, pode ser tratada de
duas maneiras diferentes. A primeira considera que o homem é nascido para a ação
e suas atitudes são influenciadas por seus gostos e sentimentos, perseguindo
objetos de acordo com o valor que parecem ter. Esses filósofos admitem a virtude
como o objeto mais valioso, sendo assim, tentam de diversas formas atrair os
demais para a trilha da virtude.
Já os filósofos da segunda espécie vêem o homem como um ser dotado de
razão e se esforçam mais para formar seu entendimento. Consideram a natureza
humana como um objeto de especulação e buscam discernir o que nos leva a
aprovar ou condenar um objeto, ação ou conduta. Para eles é vergonhoso para a
literatura que a filosofia trate de objetos dos sentimentos antes de discutir os
fundamentos da moral, do raciocínio e da crítica. Não se dissuadem pelas
dificuldades, e partem de casos particulares em direção a princípios cada vez mais
gerais até chegarem nos princípios originais das ciências, que impõem limites à
curiosidade humana. Almejam a aprovação dos instruídos e dos sábios e se sentem
recompensados se forem capazes de descobrir verdades ocultas que possam
contribuir posteriormente.
Em seguida, Hume compara a filosofia simples, que segundo ele, é a mais
agradável e útil para as pessoas, pois participa do cotidiano e molda os princípios e
condutas dos homens aproximando, assim, ao modelo de perfeição descrito por ela,
com a filosofia exata e abstrusa, que por estar baseada em uma predisposição que
não participa da vida dos negócios e da ação tem suas influências dissipadas
facilmente.
O filósofo prossegue confessando a fama mais duradoura e justa da filosofia
simples, e em contrapartida que os raciocinadores abstratos só desfrutaram de uma
reputação momentânea por não serem bem compreendidos em sua época. Aponta
que é fácil para um filósofo profundo cometer enganos em seus raciocínios, mas
que continuam até o fim, assumindo as consequências e não se preocupando em
entrar em conflito com a opinião popular. Já os filósofos que pretendem apenas
representar o senso comum, se incorrem em algum erro, logo mudam de direção e
voltam para o caminho correto, se prevenindo de ilusões perigosas.
O filósofo puro em geral não é muito bem-aceito pelo mundo, pois
aparentemente não contribui com a sociedade e suas ideias ficam longe da
compreensão desta. Por outro lado, o ignorante é ainda mais desprezado; em uma
época em que florescem as ciências, é mais seguro sentir-se atraído por esses
afazeres. De acordo com David Hume, o caráter mais perfeito está entre esses
extremos, exibindo gosto tanto pelos livros como pela convivência social e pelos
negócios. Logo, para cultivar um caráter excelente, as obras em gênero e estilo
acessíveis seriam as mais adequadas, por meio delas, a virtude e a ciência ficariam
agradáveis, a companhia, instrutiva e a solidão, aprazível. Nesse sentido, o homem
é um ser racional, mas também sociável, ativo e além disso, sua mente exige
descanso. Sendo assim, Hume reflete que aparentemente a natureza estipulou uma
espécie mista de vida aos seres humanos como a mais adequada, e os advertiu a
não permitir excessos por nenhuma das inclinações a ponto de incapacitá-los para
outras. “Sê um filósofo, mas, em meio a toda tua filosofia, não deixes de ser um
homem." diria a natureza, segundo ele.
A seção continua abordando questões relacionadas à metafísica. De início, a
filosofia exata e abstrata oferece auxílio à filosofia simples e humana. Como
exemplo, as belas-letras são retratos da vida humana em várias situações, e
inspiram diversos sentimentos. Dessa maneira, o artista qualificado deve ter um
gosto refinado, rápida compreensão e conhecimento da constituição interna do
funcionamento das paixões e dos sentimentos. Da mesma maneira, a anatomia é
útil para o pintor que usa as estruturas internas do corpo humano para compor suas
obras. Percebe-se, então, que a exatidão é proveitosa para a beleza e o raciocínio
correto o é para a delicadeza do sentimento, não sendo apropriado exaltar um e
depreciar o outro. Além disso, é possível observar que todos os ofícios e ocupações
possuem um espírito de exatidão, aproximando-se assim da perfeição e sendo mais
úteis à sociedade.
Hume continua suas considerações dizendo que o caminho mais agradável
e pacífico na vida é o que segue pela ciência e instrução, aquele que promove mais
perspectivas para esse caminho deve ser considerado benfeitor da humanidade.
Conclui, em seguida, que mesmo as pesquisas demandando muito esforço, é válido
o sofrimento para obter luz da escuridão. Em contraste a isso, a objeção aos estudo
metafísicos é que são fontes inevitáveis de erro e incerteza, que não são
propriamente uma ciência, mas provêm ou dos esforços frustrados da vaidade
humana, para penetrar em assuntos inacessíveis ao entendimento, ou da astúcia
das superstições populares. O filósofo questiona, então, se o mais apropriado seria
não desistir de tais pesquisas para não deixar a superstição com essa posse. Ele
espera que, com o passar das gerações, mais descobertas sejam realizadas. O
único método de livrar a instrução dessas questões seria investigar seriamente a
natureza do entendimento humano e mostrar que ele não está apto a tratar de
assuntos tão remotos e abstrusos. Por conseguinte, é preciso dar atenção a esses
trabalhos o quanto antes, focando na verdadeira metafísica a fim de destruir a falsa
e adulterada.
Além dessa parte, há vantagens positivas, de acordo com Hume, que
resultam do exame das faculdades e poderes da natureza humana. É necessário
reconhecer as diferentes operações da mente, distingui-las, classificá-las e corrigir
toda a aparente desordem na qual mergulham quando tomadas como objetos de
pesquisa e reflexão. Essa tarefa de ordenar e distinguir cresce em valor quando
dirigida para as operações do entendimento, mas também requer esforço para sua
realização. Mesmo assim, se não for possível ir além dessa geografia mental, Hume
considera que chegar até lá já terá sido satisfatório e complementa dizendo que
quanto mais óbvia essa ciência começar a parecer, mais censurável ainda se
deverá julgar seu desconhecimento por parte daqueles que aspiram ao saber e à
filosofia.
Ao término da primeira seção, David Hume declara que a compreensão
humana está subentendida no âmbito da própria mente, ao perceber que está
cercada de vestígios de aprendizado e intelecto. O estudioso afirma que a
investigação filosófica tem como princípio, estudar maneiras de explicar o
entendimento e a compreensão humana, mesmo que em diversos momentos não
se encontre respostas satisfatórias, o mais importante é tentar entender o
funcionamento do ser, e não se contentar com repertórios rasos e escassos, pelo
contrário, deve-se esperar profundidade do estudo em cada empreendimento
realizado.
Hume normaliza as dificuldades sobre os estudos filosóficos, afinal, trata-se
de uma ciência inexata cercada de fatores de alteração, sendo assim, pode não
haver entendimento no primeiro momento, sendo abstrata, mas com o
aprofundamento e a dedicação dessas investigações, é possível chegar a
resultados que até o momento pareciam distantes e imperceptíveis. Gozar dessa
experiência, é perceber que o processo de conhecimento se torna mais vantajoso e
satisfatório, do que a resposta encontrada ao final.
Portanto, Hume concluiu que o processo de estudo é importante para o
conhecimento e formação de uma filosofia humanizada, que pretende ajudar a
compreender o mundo de forma simples, e expor ao público que se pretende atingir.
Dessa forma, pode-se desviar de uma filosofia abstrusa que converte as incertezas
e os erros, provocados por investigações tendenciosas e absurdas, ao ponto de
obscuridade e ignorância.

Seção 2

A segunda seção, denominada “Da origem das ideias”, admite que a


imaginação pode criar uma ideia semelhante à realidade, que provoca euforia por
causa da autenticidade que tende a provocar. No entanto, por mais que a
experiência remeta a realidade, a imaginação não pode ocupar o mesmo lugar,
sendo assim, a realidade e a imaginação pertencem a locais diferentes. A mente
humana é capaz de criar objetos e sensações extraordinárias, que em certos graus
de sentido, podem assumir o lugar da própria realidade, através da vivacidade que
ela concede ao seu hospedeiro. Por isso, pessoas que nos dias atuais são
diagnosticadas com esquizofrenia, por exemplo, não conseguem distinguir onde
começa os pensamentos e a imaginação, e em que momento se inicia o mundo
real.
Tendo em vista essa percepção, o ser humano está sempre à procura de relatar
como se sente, quais experiências a imaginação pode provocar, ou o gosto de cada
sentimento vivenciado, porém, segundo o filósofo, relatar os sentidos humanos, as
sensações e emoções, não ocorre de maneira clara e precisa. Nenhum literário
consegue detalhar no papel a exatidão dessas perspectivas, pois, não podem ser
descritas por completo, são sensações presentes em cada pessoa, e não são
materializadas, afinal, estão no âmbito da imaginação, periféricos da realidade.
Os pensamentos e a ideias, segundo Hume, são percepções mais fracas,
sendo representações mentais e as impressões refletem os sentimentos e os
sentidos humanos. Destarte, o pensamento é formado pelos fatos ocorridos e
sentidos na vivência diária, podendo ser ampliado para diversas dimensões
criativas. O poder que a imaginação pode oferecer, se torna ilimitado no sentido do
espaço; por exemplo, ao ler um livro, o leitor cria na mente o espaço relatado pelo
autor, e “emerge” naquela realidade, no entanto, mesmo esse mundo criado no livro
e a imaginação suspendendo sobre a mente esse momento único, toda a criação é
reflexo do que existe no mundo real, composto pelas experiências e sentidos já
predispostos, apenas sendo adaptado para a mente criativa de cada leitor, a
realidade é a moldura da imaginação. Por conseguinte, pode- se perceber que os
pensamentos criados são consequências das impressões empíricas.
Quando David Hume apresenta na seção dois, o autor provoca indagações no
leitor acerca do poder da mente, até que momento pode-se dizer que não existe
mais uma preexistência da realidade no pensamento proposto? Sendo assim, o
exemplo de pessoas daltônicas, reflete de maneira simples o pensamento exposto
do autor. Quando um homem tem daltonismo, há dificuldade de enxergar cores
como o vermelho ou o verde, nesse caso, as cores que não são enxergadas não
existem no pensamento dessa pessoa, mesmo que sua mente tente criar cores que
se assemelham a descrições de tonalidades, seu cérebro não é capaz de criar a
mesma visão, porque nunca foi mostrado um molde. No entanto, quando essa
pessoa recebe um tratamento por óculos, por exemplo, as novas concepções
apresentadas são assimiladas pela mente e percebe-se que nada criado até aquele
momento de escuridão, pode ser assemelhado da realidade.
Portanto, o filósofo inspirado nas correntes do empirismo e ceticismo afirma
que a experiência e os hábitos formam a imaginação, sendo que o limite das
criações posteriores é ilimitado, porém, deve-se sempre entender que não importa a
magnitude de criação, mesmo que seja um sentimento quase tangível aos sentidos,
e mesmo que a descrição se assemelha a cada espaço autêntico, o princípio dessa
formação é baseado na vivacidade e realidade existente no mundo.
Seção 3

Na terceira seção, há um princípio que a associação de ideias causa um fluxo


nos pensamentos, o que dá a imaginação e a memória sentido. Isso mostra que
quando há uma pausa no fluxo dito de ideias, a pessoa do qual estava falando tem
ao menos em sua mente algum ponto que daria ligação em seus pensamentos.
Para David Hume existem três formas de entender as conexões entre as
ideias: a primeira é a semelhança, a segunda contiguidade no tempo e espaço e a
terceira seria a causa e efeito.
O Homem sempre irá agir de acordo com suas vontades e desejos, devido
sua racionalidade e dessa forma busca por uma felicidade ou algo que o traga bem
estar e conforto. Por esse motivo, todos seus pensamentos serão voltados para um
final onde ele tenha êxito.
Por esse motivo, tudo que um escritor escreve estará ligado através de ideias
e com isso formará uma unidade, que tornará possível o escritor entender o objetivo
ou o final que ele quer que aquela situação tenha. Tal princípio de conexão acaba
por dar ao escritor seu objetivo e consequentemente a ideia original de seu trabalho.
A forma mais comum de conexão de ideias é a de causa e consequência, ou
seja, o autor traça a consequência de ações de acordo com sua ordem natural,
remonta os acontecimentos que o geraram e tudo o que moldou aquela situação em
tal período de tempo e por fim traça suas consequências. Essa forma pode ser vista
em histórias da humanidade, onde o historiador pega certo período histórico,
debruça para contar seus acontecimentos e por fim o que levou a tais eventos.
Desse modo gera uma cadeia de ideias, que quanto mais coesa, melhor é a
apresentação de seu trabalho.
Para Hume, durante toda a vida do ser humano as ações que ele realiza
dependem umas das outras. Esse fato se aplica em todas as narrativas, sejam elas
historiográficas e bibliográficas ou também nas poesias, o que altera é apenas a
forma como são discutidas e o grau com que aparecem.
A conexão entre eventos e as ideias facilita a passagem de pensamentos e
imaginações, e dessa forma, acentua a paixão em tais textos. Em poemas, ao
introduzir novos personagens essa cadeia é quebrada, e o autor deve escrever de
forma a incluir esse personagem na história e consequentemente criar ao leitor a
paixão novamente. Para evitar esse tipo de problema, há em poesias como a
Odisseia e Ilíada, que apresentam o herói logo no início e seus desígnios vão se
revelando aos poucos, causando interesse pelo leitor.
Desse modo, para se prender a atenção dos leitores não deve haver no meio
de uma narrativa ideias separadas demais, pois isso causaria uma interrupção no
fluxo de paixões que o escritor está tentando passar a quem está lendo e dessa
forma impede a comunicação de diferentes emoções. Por cada lacuna encontrada,
o leitor deveria criar uma nova paixão por aquela história e personagem, e com isso,
poderia haver problemas em sua narrativa.
Assim, quando se junta várias paixões em uma história, o autor pode ir mais
fundo do que realmente achava que iria, como exemplo citado pelo autor, foi Milton
que fez uma junção entre a rebelião de anjos, a criação do mundo e a queda do
homem.
Dessa forma, para o autor, a mente humana depende das conexões e
associações de ideias, e consequentemente, da paixão que tais ideias irão gerar ao
leitor. Assim, um objeto anterior estará conectado ao seguinte devido a sensação
que aquelas ideias causam, sejam por meio de sentimentos ou sensações e
portanto, irão tornar a história algo interessante e que estimule o leitor a entrar em
contato com a obra.

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