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Filosofia pré-socrática

Contextualização

Os pré socráticos foram os primeiros a se preocupar em explicar e descrever os fenô-


menos naturais sem o apelo a divindades ou forças sobrenaturais. Surge nesse contexto
a filosofia ocidental. É nesse sentido que se diz que esses filósofos romperam a tradição
mítica. Por se dedicarem a explicar a natureza, são também conhecidos com naturalistas.
Essencialmente a questão que define o surgimento da filosofia é: qual o princípio fun-
damental do cosmos ou da natureza? Qual é a Arché da Physis?

Tales de Mileto - 625 a 458 a.C.

Considerado o primeiro filósofo, entendia ser a água o elemento vital e que todas as
coisas vivas parecem depender dela para sobreviver. É notável o fato de que a vida surge
em superfícies úmidas. Por fim, reconhece-se que o que morre acaba por secar. Tales foi
também um matemático. Embora não tenha escrito livros ou estes tenham se perdido,
através da doxografia é possível reconhecer suas perspectivas em relação a realidade.
Na crítica moderna de Hegel e Nietzsche são reconhecidos em Tales alguns aspectos
fundamentais para o desfecho do pensamento ocidental, como o fato de propor um enun-
ciado para a origem do cosmos sem imagens ou fabulações, fixando-se na matéria. Além
disso, outro aspecto anunciado por Tales que é fundamental está na ideia, embora embri-
onária, de que tudo é UM.

Anaximandro de Mileto - 610 a 547 a.C.

Discípulo e sucessor de Tales, Anaximandro discordava de o princípio das coisas são


os elementos já conhecidos. Ele acreditava existir uma outra substância desconhecida que
fosse geradora dos céus e da natureza do mundo, ou seja, de onde parte todo o cosmos.
Ápeiron é a substância infinita e imperecível que compõe tudo que existe. Não tem
princípio, mas é o princípio de tudo. Ele teria escrito uma obra entitulada "Da Natureza",
que infelizmente se perdeu ao longo do tempo. Seus pensamento estão registrados na
doxografia e em alguns fragmentos:
1. SIMPLÍCIO, Física, 24, 13. (Em discurso direto:) ... Princípio dos seres ... ele
disse (que era) o ilimitado ... Pois donde a geração é para os seres, é para onde também
a corrupção se gera segundo o necessário; pois concedem eles mesmos justiça e deferência
uns aos outros pela injustiça, segundo a ordenação do tempo.
2. HIPÓLITO, Refutação, I, 6, 1. Esta (a natureza do ilimitado, ele diz que) é sem
idade e sem velhice.
3. ARISTÓTELES, Física, III, 4. 203 b. Imortal ... e imperecível (o enquanto o
divino).
Na crítica moderna de Nietzsche, o ápeiron não deve ser pensado como algo ilimitado
e indestrutível, mas sim como destituido de qualidades determinadas, por isso pode ser
lido como o indeterminado.

Anaxímenes de Mileto - 585 a 528 a.C.

Discípulo de Anaximandro, foi o primeiro a afirmar que a lua recebe a luz do sol. Afir-
mava que era um só o princípio da natureza, também ilimitado, mas não indeterminado.
Para Anaxímenes, o ar forma todo o cosmos através de um movimento que o transforma
nos demais elementos.
1. PLUTARCO, De Prim. Frig., 7, 947 F. O contraído e condensado da matéria ele
diz que é frio, e o ralo e o frouxo (é assim que ele se expressa) é quente.
2. AÉCIO, L 3. 4. Como nossa alma, que é ar, soberanamente nos mantém unidos,
assim também todo o cosmo sopro e ar o mantém.
2a. IDEM, II, 22. O sol largo como uma folha.
Hegel chama a atenção para o retorno da idéia de um elemento natural como o princí-
pio uno do cosmos, uma representação do sensível junto a liberdade observada no ar mais
que nos demais elementos.

Pitágoras de Samos - 580 a 497 a.C.

Pitágoras ocupa um espaço místico destro da filosofia, pois nunca escreveu, assim
como seus discípulos. Na escola pitagórica os debates e ensinamento eram guardados
em segredo, por isso pouco pode se afirmar com propriedade. Sabe-se, no entanto, que
eles fundavam suas teorias física e religiosas com base na matemática, justificando que a
origem do todo é o número. Os pitagóricos defendiam que a alma se liberta pelo desen-
volvimento da intelectualidade.

Heráclito de Éfeso - 540 a 470 a.C.

Para Heráclito, que não teve tutores, o princípio que rege o cosmos é o conflito,
através de um embate constante dos opostos, que se reorganizam em um fluxo ordenado
pela necessidade e pelo próprio confronto. Tudo é movimento e tudo se move. O nome
desse vir-a-ser é logos.
49a. HERÁCLITO, Alegorias, 24. Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos
e não somos.
80. IDEM, ibidem, VI, 42. É preciso saber que o combate é o-que-é-com, 1 8 e justiça
(é) discórdia, e que todas (as coisas) vêm a ser segundo discórdia e necessidade.
Na crítica moderna de Hegel e Nietzsche o apelo pelo vir-a-ser de Heráclito é funda-
mental para compreender sua idéia de movimento. O processo de produção da realidade
pelo movimento contínuo do todo. O processo dialético do conflito.

Parmenides de Eléia - 530 a 470 a.C.

Defendendo que a realidade é imutável e homogênea, diz que o movimento e a mudança


ou diverdidade são enganosas. Para Parmênides, o princípio é o ser. O que não existe na
realidade é impensável. O ser é imutável, imóvel, eterno e fim em si mesmo.
Na crítica moderna, relaciona-se o vir-a-ser proposto anteriormente por outros filósofos
como o ser e sua negação. Parmênides parece iniciar um processo de racionalização mais
abstrato na descrição do real, acessível unicamente pela razão, e influencia a construção
do pensamento de Platão e Aristóteles.

Empódocles de Agrigento - 490 a 435 a.C.

Em uma tentativa de assimilar os modelos anteriormente propostos, Empédocles diz


que são os quatro elementos - terra, fogo, água e ar que formam todas as coisas através
da união ou separação deles por meio do movimento antagônico causado por duas forças
- amor (philia) e ódio (neikos).

Demócrito de Abdera - 460 a 370 a.C.

Contemporâneo de Sócrates, porém pre-socrático devido a teoria central acerca da ar-


ché, Demócrito é o mais proeminente defensor da teoria atômica. Acredita que a realidade
é fundamentalmente constituída de duas estruturas: os átomos e o vazio. O átomo seria
a menor parte da matéria, o elemento fundamental de tudo constituído. As coisas seriam
criadas com base em dois movimentos necessários: o choque e o impulso. A organização
dos átomos determina o que é sólido, líquido ou gasoso.

Questões de vestibulares

Questão 1. (UEL 2003)


“Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a existência
de um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que
esse princípio é a água. Essa proposta é importantíssima. . . podendo com boa dose de
razão ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que se costuma chamar
civilização ocidental.” (REALE, Giovanni. História da filosofia: Antigüidade e Idade Mé-
dia. São Paulo: Paulus, 1990. p. 29.)
A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filósofos foram os chamados
pré-socráticos. De acordo com o texto, assinale a alternativa que expressa o principal
problema por eles investigado.
a) A ética, enquanto investigação racional do agir humano.
b) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte.
c) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos científicos.
d) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo.
e) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação.

Questão 2. (Uncisal 2012)


O período pré-socrático é o ponto inicial das reflexões filosóficas. Suas discussões se
prendem a Cosmologia, sendo a determinação da physis (princípio eterno e imutável que
se encontra na origem da natureza e de suas transformações) ponto crucial de toda for-
mulação filosófica. Em tal contexto, Demócrito afirma ser a realidade percebida pelos
sentidos ilusória. Ele defende que os sentidos apenas capturam uma realidade superficial,
mutável e transitória que acreditamos ser verdadeira. Mesmo que os sentidos apreendam
“as mutações das coisas, no fundo, os elementos primordiais que constituem essa realidade
jamais se alteram.” Assim, a realidade é uma coisa e o real outra.
Para Demócrito a physis é composta:
a) pelas quatro raízes: o úmido, o seco, o quente e o frio.
b) pela água.
c) pelo fogo.
d) pelo ilimitado.
e) pelos átomos.

Questão 3. (Uff 2010)


Como uma onda “Nada do que foi será/ De novo do jeito que já foi um dia/ Tudo
passa/ Tudo sempre passará/ A vida vem em ondas/ Como um mar/ Num indo e vindo
infinito Tudo que se vê não é/ Igual ao que a gente/ Viu há um segundo/ Tudo muda o
tempo todo/ No mundo Não adianta fugir/ Nem mentir/ Pra si mesmo agora/ Há tanta
vida lá fora/ Aqui dentro sempre/ Como uma onda no mar/ Como uma onda no mar/
Como uma onda no mar”

(Lulu Santos e Nelson Motta)

A letra dessa canção de Lulu Santos lembra ideias do filósofo grego Heráclito, que vi-
veu no século VI a.C. e que usava uma linguagem poética para exprimir seu pensamento.
Ele é o autor de uma frase famosa: “Não se entra duas vezes no mesmo rio”. Dentre as
sentenças de Heráclito a seguir citadas, marque aquela em que o sentido da canção de
Lulu Santos mais se aproxima
a) Morte é tudo que vemos despertos, e tudo que vemos dormindo é sono.
b) O homem tolo gosta de se empolgar a cada palavra.
c) Ao se entrar num mesmo rio, as águas que fluem são outras.
d) Muita instrução não ensina a ter inteligência.
e) O povo deve lutar pela lei como defende as muralhas da sua cidade.

REFERÊNCIAS

PENSADORES, Coleção Os. Os pré-socráticos. 1ª edição. Editora: Abril Cultural, São


Paulo, 1973.

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