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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI

HISTÓRIA DA FÍSICA E
CONTEXTUALIZAÇÃO DA PRÁTICA
DOCENTE

ESPÍRITO SANTO
HISTÓRIA DA FÍSICA

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A Física é a ciência das propriedades da matéria e das forças naturais.


Suas formulações são em geral compactantes expressas em linguagem
matemática.
A introdução da investigação experimental e a aplicação do método
matemático contribuíram para a distinção entre Física, filosofia e religião, que,
originalmente, tinham como objetivo comum compreender a origem e a
constituição do Universo.
A Física estuda a matéria nos níveis molecular, atômico, nuclear e
subnuclear. Estuda os níveis de organização, ou seja, os estados sólido, líquido,
gasoso e plasmático da matéria. Pesquisa também as quatro forças
fundamentais: a da gravidade (força de atração exercida por todas as partículas
do Universo), a eletromagnética (que liga os elétrons aos núcleos), a interação
forte (que mantêm a coesão do núcleo e a interação fraca - responsável pela
desintegração de certas partículas - a da radiatividade).
Física teórica e experimental - A Física experimental investiga as
propriedades da matéria e de suas transformações, por meio de transformações
e medidas, geralmente realizadas em condições laboratoriais universalmente
repetíveis. A Física teórica sistematiza os resultados experimentais, estabelece
relações entre conceitos e grandezas Físicas e permite prever fenômenos
inéditos.
FATOS HISTÓRICOS

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A Física se desenvolve em função da necessidade do homem de


conhecer o mundo natural e controlar e reproduzir as forças da natureza em seu
benefício.

Física na Antiguidade
É na Grécia Antiga que são feitos os primeiros estudos "científicos" sobre
os fenômenos da natureza. Surgem os "filósofos naturais" interessados em
racionalizar o mundo sem recorrer à intervenção divina.

Atomistas Gregos
A primeira teoria atômica começa na Grécia, no século V A.C. Leucipo, de
Mileto, e seu aluno Demócrito, de Abdera (460 A.C. - 370 A.C.), formulam as
primeiras hipóteses sobre os componentes essenciais da matéria. Segundo eles,
o Universo é formado de átomos e vácuo. Os átomos são infinitos e não podem
ser cortados ou divididos. São sólidos, mas de tamanho tão reduzido que não
podem ser vistos. Estão sempre se movimentando no vácuo.
Física Aristotélica
É com Aristóteles que a Física e as demais ciências ganham o maior
impulso na Antiguidade. Suas principais contribuições para a Física são as ideias
sobre o movimento, queda de corpos pesados (chamados "graves", daí a origem
da palavra "gravidade") e o geocentrismo. A lógica aristotélica irá dominar os
estudos da Física até o final da Idade Média.
Aristóteles - (384 A.C. - 322 A.C.) Nasce em Estagira, antiga Macedônia
(hoje, Província da Grécia). Aos 17 anos muda-se para Atenas e passa a estudar
na Academia de Platão, onde fica por 20 anos. Em 343 A.C. torna-se tutor de
Alexandre, o grande, na Macedônia. Quando Alexandre assume o trono, em 335
A.C., volta a Atenas e começa a organizar sua própria escola, localizada em um
bosque dedicado a Apolo Liceu - por isso, chamada de Liceu. Até hoje, se
conhece apenas um trabalho original de Aristóteles (sobre a Constituição de
Atenas). Mas as obras divulgadas por meio de discípulos tratam de praticamente
todas as áreas do conhecimento: lógica, ética, política, teologia, metafísica,
poética, retórica, Física, psicologia, antropologia, biologia. Seus estudos mais
importantes foram reunidos no livro Órganom.

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Geocentrismo - Aristóteles descreve o cosmo como um enorme (porém
finito) círculo onde existem nove esferas concêntricas girando em torno da Terra,
que se mantêm imóvel no centro delas.
Gravidade - Aristóteles considera que os corpos caem para chegar ao seu
lugar natural. Na antiguidade, consideram-se elementos primários a terra, a
água, ar e fogo. Quanto mais pesado um corpo (mais terra) mais rápido cai no
chão. A água se espalha pelo chão porque seu lugar natural é a superfície da
Terra. O lugar natural do ar é uma espécie de capa em torno da Terra. O fogo
fica em uma esfera acima de nossas cabeças e por isso as chamas queimam
para cima.

Primórdios da Hidrostática
A hidrostática, estudo do equilíbrio dos líquidos, é inaugurada por
Arquimedes. Diz à lenda que Hierão, rei de Siracusa, desafia Arquimedes a
encontrar uma maneira de verificar sem danificar o objeto, se era de ouro maciço
uma coroa que havia encomendado. Arquimedes soluciona o problema durante
o banho. Percebe que a quantidade de água deslocada quando entra na
banheira é igual ao volume de seu corpo. Ao descobrir esta relação sai gritando
pelas ruas "Eureka, eureka!" (Achei, achei!). No palácio, mede então a
quantidade de água que transborda de um recipiente cheio quando nele
mergulha sucessivamente o volume de um peso de ouro igual ao da coroa, o
volume de um peso de prata igual ao da coroa e a própria coroa. Este, sendo
intermediário aos outros dois, permite determinar a proporção de prata que fora
misturada ao ouro.
Princípio de Arquimedes - A partir dessas experiências Arquimedes
formula o princípio que leva o seu nome: todo corpo mergulhado em um fluído
recebe um impulso de baixo para cima (empuxo) igual ao peso do volume do
fluído deslocado. Por isso os corpos mais densos do que a água afundam e os
mais leves flutuam. Um navio, por exemplo, recebe um empuxo igual ao peso do
volume de água que ele desloca. Se o empuxo é superior ao peso do navio ele
flutua.
Arquimedes - (287 A.C. - 212 A.C.) - nasce em Siracusa, na Sicília.
Frequenta a Biblioteca de Alexandria e lá começa seus estudos de matemática.
Torna-se conhecido pelos estudos de hidrostática e por suas invenções, como o
parafuso sem ponta para elevar água. Também ganha fama ao salvar Siracusa
do ataque dos romanos com engenhosos artefatos bélicos. Constrói um espelho
gigante que refletia os raios solares e queimava a distância os navios inimigos.
É também atribuído a Arquimedes o princípio da alavanca. Com base neste
princípio, foram construídas catapultas que também ajudaram a resistir aos
romanos. Depois de mais de três anos, a cidade é invadida é Arquimedes e
assassinado por um soldado romano.

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Yin e Yang
Os chineses também iniciaram na Antiguidade estudos relacionados à
Física. Não se ocupam de teorias atômicas ou estrutura da matéria. Procuram
explicar o Universo como resultado do equilíbrio das forças opostas Yin e Yang.
Estas palavras significam o lado sombreado e ensolarado de uma montanha e
simbolizam forças opostas que se manifestam em todos os fenômenos naturais
e aspectos da vida. Quando Yin diminui, Yang aumenta e vice-versa.
A noção de simetria dinâmica de opostos inaugurada pela noção de Yin e
Yang será retomada no inicio do século XX com a teoria quântica.
REVOLUÇÃO COPERNICANA

Em 1510 Nicolau Copérnico rompe com mais de dez séculos de domínio


do geocentrismo. No livro Commentariolus diz pela primeira vez que a Terra não
é o centro do Universo e sim um entre outros tantos planetas que giram em torno
do Sol. Enfrenta a oposição da Igreja Católica, que adotara o sistema aristotélico
como dogma e faz da Física um campo de estudo específico.

http://www.ahistoria.com.br/biografia-nicolau-copernico/

Para muitos historiadores, a revolução copernicana se consolida apenas um


século depois com as descobertas telescópicas e a mecânica de Galileu Galilei
(1564-1642) e as leis de movimentos dos planetas dos planetas de Joannes
Kepler (1571- 1630).
Heliocentrismo - "O centro da Terra não é o centro do mundo (Universo)
e sim o Sol”. Este é o princípio do heliocentrismo (que tem o Sol do grego hélio
- como centro), formulado por Nicolau Copérnico e marco da concepção
moderna de Universo. Segundo o heliocentrismo, todos os planetas, entre eles
a Terra, giram em torno do Sol descrevendo órbitas circulares.
Nicolau Copérnico - (1473 - 1543) nasce em Torum, na Polônia. Estuda
matemática, os clássicos gregos, direito canônico (em Bolonha, na Itália) e
medicina (em Pádua, Itália) e só depois se dedica exclusivamente à área que
realmente lhe interessava: a astronomia. Em 1513 constrói um observatório e
começa a estudar o movimento dos corpos celestes. A partir dessas
observações, escreve Das revoluções dos corpos celestes com os princípios do
heliocentrismo. Copérnico revoluciona a ideia que o homem tinha de si mesmo
(visto como imagem de Deus e por isso centro de tudo) e dá novo impulso a
todas as ciências ao colocar a observação e a experiência acima da autoridade
e dos dogmas.

FÍSICA CLÁSSICA

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O século XVII lança as bases para a Física da era industrial. Simon Stevin
desenvolve a hidrostática, ciência fundamental para seu País, a Holanda,
protegida do mar por comportas e diques. Na óptica, contribuição equivalente é
dada por Christiaan Huygens, também holandês, que constrói lunetas e
desenvolve teorias sobre a propagação da luz. Huygens é o primeiro a descrever
a luz como onda. Mas é Isaac Newton (1642-1727), cientista inglês, o grande
nome dessa época: são dele a teoria geral da mecânica e da gravitação universal
e o cálculo infinitesimal.
Isaac Newton - (1642- 1727) nasce em Woolsthorpe, Inglaterra, no
mesmo ano da morte de Galileu. Começa a estudar na Universidade de
Cambridge com 18 anos e aos 26 já se torna catedrático. Em 1687 publica
Princípios matemáticos da filosofia natural. Dois anos depois é eleito membro do
Parlamento como representante da Universidade de Cambridge. Já em sua
época é reconhecido como grande cientista que revoluciona a Física e a
matemática. Preside a Royal Society (academia de ciência) por 24 anos. Nos
últimos anos de vida dedica-se exclusivamente a estudos teológicos.
Cálculo diferencial - por volta de 1664, quando a universidade é fechada
por causa da peste bubônica, Newton volta à sua cidade natal. Em casa,
desenvolve o teorema do binômio e o método matemático das fluxões. Newton
considera cada grandeza finita resultado de um fluxo contínuo, o que torna
possível calcular áreas limitadas por curvas e o volume de figuras sólidas. Este
método dá origem ao cálculo diferencial e integral.
Decomposição da luz - Newton pesquisa também a natureza da luz.
Demonstra que, ao passar por um prisma, a luz branca se decompõe nas cores
básicas do espectro luminoso: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta.
Leis da mecânica - A mecânica clássica se baseia em três leis.
 Primeira lei - É a da inércia. Diz que um objeto parado e um objeto em
movimento tendem a se manter como estão a não ser que uma força
externa atue sobre eles.
 Segunda lei - Diz que a força é proporcional à massa do objeto e sua
aceleração. A mesma força irá mover um objeto com massa duas
vezes maior com metade da aceleração.
 Terceira lei - Diz que para toda ação há uma reação equivalente e
contrária. Este é o princípio da propulsão de foguetes: quando os
gases "queimados” (resultantes da combustão do motor) escapam
pela parte final do foguete, fazem pressão em direção oposta,
impulsionando-o para frente.
Gravitação universal - observando uma maçã que cai de uma árvore do
jardim de sua casa, ocorre a Newton a ideia de explicar o movimento dos
planetas como uma queda. A força de atração exercida pelo solo sobre a maçã
poderia ser a mesma que faz a Lua "cair" continuamente sobre a Terra.
Principio - Durante os 20 anos seguintes, Newton desenvolve os cálculos
que demonstram a hipótese da gravitação universal e detalha estudos sobre a
luz, a mecânica e o teorema do binômio. Em 1687 publica Princípios
matemáticos da filosofia natural, conhecida como Principia, obra-prima científica
que consolida com grande precisão matemática suas principais descobertas.
Newton prova que a Física pode explicar tanto fenômenos terrestres quanto
celestes e por isso é universal.

FÍSICA APLICADA

http://www.cursos-universitarios.com/Cursos/F%C3%ADsica/F%C3%ADsica-Aplicada/

No século XVIII, embora haja universidades e academias nos grandes


centros, mais uma vez é por motivos práticos que a Física se desenvolve. A
revolução industrial marca nova fase da Física. As áreas de estudos se
especializam e a ligação com o modo de produção torna-se cada vez mais
estreita.
TERMODINÂMICA

Estuda as relações entre calor e trabalho. Baseia-se em dois princípios: o


da conservação de energia e o de entropia. Estes princípios são à base de
máquinas a vapor, turbinas, motores de combustão interna, motores a jato e
máquinas frigoríficas.
A partir de uma máquina concebida para retirar a água que inundava as
minas de carvão, o inglês Thomas Newcomen cria em 1698 a máquina a vapor,
mais tarde aperfeiçoada pelo escocês James Watt. É em torno do desempenho
dessas máquinas que o engenheiro francês Sadi Carnot estabelece uma das
mais importantes sistematizações da termodinâmica, delimitando a
transformação de energia térmica (calor) em energia mecânica (trabalho).
Primeiro princípio - É o da conservação da energia. Diz que a soma das
trocas de energia em um sistema isolado é nula. Se, por exemplo, uma bateria
é usada para aquecer água, a energia da bateria é convertida em calor, mas a
energia total do sistema, antes e depois de o processo começar, é a mesma.
Segundo princípio - Em qualquer transformação que se produza em um
sistema isolado, a entropia do sistema aumenta ou permanece constante. Não
há, portanto qualquer sistema térmico perfeito no qual todo o calor é
transformado em trabalho. Existe sempre uma determinada perda de energia.

http://www.estudopratico.com.br/leis-da-termodinamica-calor-energia-exemplos-e-conceitos/
Entropia - tendência natural da energia se dispersar e da ordem evoluir
invariavelmente para a desordem. O conceito foi sistematizado pelo austríaco
Ludwig Boltzmann (1844-1906) e explica o desequilíbrio natural entre trabalho e
calor.
Zero absoluto - 0 Kelvin (equivalente a -273,15º C ou -459,6º F) ou "zero
absoluto" não existe em estado natural. A esta temperatura a atividade molecular
(atômica) é nula.
Lord Kelvin - (1824- 1907) é como ficou conhecido o físico irlandês William
Thomson, barão Kelvin of Largs. Filho de matemático forma-se em Cambridge e
depois se dedica à ciência experimental. Em 1832 descobre que a
descompressão dos gases provoca esfriamento e cria uma escala de
temperaturas absolutas.

ELETROMAGNETISMO

Em 1820, o dinamarquês Hans Oersted relaciona fenômenos elétricos aos


magnéticos ao observar como a corrente elétrica alterava o movimento da agulha
de uma bússola. Michel Faraday inverte a experiência de Oersted e verifica que
os magnetos exercem ação mecânica sobre os condutores percorridos pela
corrente elétrica e descobre a indução eletromagnética, que terá grande
aplicação nas novas redes de distribuição de energia.

http://educacao.globo.com/fisica/assunto/eletromagnetismo/inducao.html
Indução eletromagnética - Um campo magnético (variável) gerado por
uma corrente elétrica (também variável) pode induzir uma corrente elétrica em
um circuito. A energia elétrica também pode ser obtida a partir de uma ação
mecânica: girando em torno de um eixo, um enrolamento de fio colocado entre
dois imãs provoca uma diferença de potencial (princípio do dínamo).
Michael Faraday - (1791-1867) é um caso raro entre os grandes nomes
da ciência. Nasce em Newington, Inglaterra. Começa a trabalhar aos 14 anos
como aprendiz de encadernador. Aproxima-se das ciências como autodidata e
depois torna-se assistente do químico Humphy Davy. Apesar de poucos
conhecimentos teóricos, o espírito de experimentação de Faraday o leva a
importantes descobertas para a química e Física. Consegue liquefazer
praticamente todos os gases conhecidos. Isola o benzeno. Elabora a teoria da
eletrólise, a indução eletromagnética e esclarece a noção de energia
eletrostática.
Raios catódicos - São feixes de partículas produzidos por um eletrodo
negativo (cátodo) de um tubo contendo gás comprimido. São resultado da
ionização do gás e provocam luminosidade. Os raios catódicos são identificados
no final do século passado por Willian Crookes. O tubo de raios catódicos é
usado em osciloscópios e televisões.
Raios X - Em 1895 Wilhelm Konrad von Röntgen descobre acidentalmente
os raios X quando estudava válvulas de raios catódicos. Verificou que algo
acontecia fora da válvula e fazia brilhar no escuro focos fluorescentes. Eram
raios capazes de impressionar chapas fotográficas através de papel preto.
Produziam fotografias que revelavam moedas nos bolsos e os ossos das mãos.
Estes raios desconhecidos são chamadas simplesmente de "x"“x”.
Wilhelm Konrad von Röntgen - (1845-1923) nasce em Lennep, Alemanha,
e estuda Física na Holanda e na Suíça. Realiza estudos sobre elasticidade,
capilaridade, calores específicos de gases, condução de calor em cristais e
absorção do calor por diferentes gases. Pela descoberta dos raios X recebe em
1901 o primeiro prêmio Nobel de Física da História.
Radiatividade - É a desintegração espontânea do núcleo atômico de
alguns elementos (urânio, polônio e rádio), resultando em emissão de radiação.
Descoberta pelo francês Henri Becquerel ( 1852 - 1909) poucos meses depois
da descoberta dos raios X. Becquerel verifica que, além de luminosidade, as
radiações emitidas pelo urânio são capazes de penetrar a matéria.
Dois anos depois, Pierre Curie e sua mulher, a polonesa Marie Curie,
encontram fontes radiativas muito mais fortes que o urânio. Isolam o rádio e o
polônio e verificam que o rádio era tão potente que podia provocar ferimentos
sérios e até fatais nas pessoas que dele se aproximavam.
Tipos de radiação - Existem três tipos de radiação; alfa, beta e gama. Á
radiação alfa é uma partícula formada por um átomo de hélio com carga positiva.
Radiação beta é também uma partícula, de carga negativa, o elétron. A radiação
gama é uma onda eletromagnética. As substâncias radiativas emitem
continuamente calor e têm a capacidade de ionizar o ar e torná-lo condutor de
corrente elétrica. São penetrantes e ao atravessarem uma substância chocam-
se com suas moléculas.

ESTRUTURA DO ÁTOMO

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Em 1803, John Dalton começa a apresentar sua teoria de que a cada
elemento químico corresponde um tipo de átomo. Mas é só em 1897, com a
descoberta do elétron, que o átomo deixa de ser uma unidade indivisível como
se acreditava desde a Antiguidade.
Descoberta do elétron - Em 1897 Joseph John Thomson, ao estudar os
raios X e raios catódicos, identifica partículas de massa muito pequena, cerca de
1.800 vezes menores que a do átomo mais leve. Conclui que o átomo não é
indivisível, mas composto por partículas menores.
Modelo pudim - Thomson diz que os átomos são formados por uma nuvem
de eletricidade positiva na qual flutuam, como ameixas em volta de um pudim,
partículas de carga negativa - os elétrons.
Modelo planetário - Em 1911 Ernest Rutherford bombardeia uma lâmina
de ouro com partículas em alta velocidade. Observa que algumas partículas
atravessam o anteparo e outras ricocheteiam. Descobre que existem espaços
vazios no átomo, por isso algumas partículas passaram pela lâmina. Verifica
também que há algo consistente contra o que outras partículas se chocaram e
refletiram. Conclui que o átomo possui um núcleo (de carga positiva) em volta do
qual orbitam elétrons, como planetas girando em torno do Sol. O modelo
planetário é aperfeiçoado por Niels Bohr com fundamentos da Física quântica.
Prótons - 1919 Rutherford desintegra o núcleo de nitrogênio e detecta
partículas nucleares de carga positiva. Elas seriam chamadas de prótons.
Segundo Rutherford, o núcleo é responsável pela maior massa do átomo.
Anuncia a hipótese de existência do nêutron, confirmada apenas 13 anos depois.
Nêutrons - 1932 James Chadwick membro da equipe, de Rutherford,
descobre os nêutrons, partículas nucleares com a mesma massa do próton, mas
com carga elétrica neutra.
Ernest Rutherford - (1871 - 1937) nasce em Nelson, na Nova Zelândia,
onde começa a estudar Física. Suas maiores contribuições foram às pesquisas
sobre radiatividade e teoria nuclear. Em 1908 cria um método para calcular a
energia liberada nas transformações radiativas e recebe o prêmio Nobel de
química. Em 1919 realiza a primeira transmutação induzida e transforma um
núcleo de nitrogênio em oxigênio através do bombardeamento com partículas
alfa. A partir daí dedica-se a realizar transmutações de vários tipos de elementos.
Em 1931 torna-se o primeiro barão Rutherford de Nelson

ERA QUÂNTICA

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A grande revolução que leva a Física à modernidade é a teoria quântica,


que começa a se definir no fim do século XIX. É a inauguração de uma nova
"lógica" resultante das várias pesquisas sobre a estrutura do átomo, radiatividade
e ondulatória.
Max Planck é quem define o conceito fundamental da nova teoria - o
quanta. Mas a teoria geral é de autoria de um grupo internacional de físicos,
entre os quais: Niels Bohr (Dinamarca), Louis De Broglie (França), Erwin,
Schroedinger e Wolfgang, Pauli (Áustria), Werner Heisenberg (Alemanha), e
Paul Dirac (Inglaterra).
Quanta - Em 1900 o físico alemão Max Planck afirma que as trocas de
energia não acontecem de forma continua e sim em doses, ou pacotes de
energia, que ele chama de quanta. A introdução do conceito de descontinuidade
subverte o princípio do filósofo alemão Wilhelm Leibniz (1646-1716), "natura non
facit saltus"( a natureza não dá saltos), que dominava todos os ramos da ciência
na época.
Max Planck - (1858-1947) nasce em Kiel, Alemanha. Filho de juristas,
chega a oscilar entre a carreira musical e os estudos científicos. Decide-se pela
Física e se dedica à carreira acadêmica até o fim da vida. Em 14 de dezembro
de 1900, durante uma reunião da Sociedade Alemã de Física, apresenta a noção
de "quanta elementar de ação". Em sua autobiografia Planck diz que na época
não previa os efeitos revolucionários dos quanta. Em 1918 recebe o prêmio
Nobel de Física.
Modelo quântico do átomo - Surge em 1913, elaborado por Niels Bohr
(1885-1962). Segundo ele, os elétrons estão distribuídos em níveis de energia
característicos de cada átomo. Ao absorver um quanta de energia, um elétron
pode pular para outro nível e depois voltar a seu nível original, emitindo um
quanta idêntico.

Dualidade Quântica

A grande marca da mecânica quântica é a introdução do conceito de


dualidade e depois, com Werner Heisenberg, do princípio de incerteza. Para a
mecânica quântica, o universo é essencialmente não-deterministico. O que a
teoria oferece é um conjunto de prováveis respostas. No lugar do modelo
planetário de átomo, com elétrons orbitando em volta de um núcleo, a quântica
propõe um gráfico que indica zonas onde eles têm maior ou menor probabilidade
de existir. Toda matéria passa a ser entendida segundo uma ótica dual: pode se
comportar como onda ou como partícula. É o rompimento definitivo com a
mecânica clássica, que previa um universo determinístico.
Princípio da incerteza - Em 1927 Werner Heisenberg formula um método
para interpretar a dualidade da quântica, o princípio da incerteza. Segundo ele,
pares de variáveis interdependentes como tempo e energia, velocidade e
posição, não podem ser medidos com precisão absoluta. Quanto mais precisa
for à medida de uma variável, mais imprecisa será a segunda. "Deus não joga
dados", dizia Albert Einstein, negando os princípios na nova mecânica.
RELATIVIDADE

A teoria da relatividade surge em duas etapas e altera profundamente as


noções de espaço e tempo. Enquanto a mecânica quântica é resultado do
trabalho de vários físicos e matemáticos, a relatividade é fruto exclusivo das
pesquisas de Albert Einstein.
Relatividade Restrita - Em 1905 ele formula a Teoria da Relatividade
Restrita (ou especial), segundo a qual a distância e o tempo podem ter diferentes
medidas segundo diferentes observadores. Não existe portanto tempo e espaço
absolutos como afirmara Newton no Principia, mas grandezas relativas ao
sistema de referência segundo o qual elas são descritas.
Raios simultâneos - Einstein dá o exemplo dos raios e o trem. Dois
indivíduos observam dois raios que atingem simultaneamente as extremidades
de um trem (que anda em velocidade constante em linha reta) e chamuscam o
chão. Um homem está dentro do trem, exatamente na metade dele. O segundo
indivíduo está fora, bem no meio do trecho entre as marcas do raio. Para o
observador que está no chão, os raios caem simultaneamente. Mas o homem no
trem dirá que os raios caíram em momentos sucessivos, porque ele, ao mesmo
tempo em que se desloca em direção ao relâmpago da frente, se afasta do
relâmpago que cai na parte traseira. Este último relâmpago deve percorrer uma
distância maior do que o primeiro para chegar até o observador. Como a
velocidade da luz é constante, o relâmpago da frente "chega" antes que o de
trás.

Relatividade Geral

Dez anos depois, Einstein estende a noção de tempo-espaço à força da


gravidade. A Teoria Geral da Relatividade (1916), classificada pelo próprio
Einstein como "bonita esteticamente", é também uma teoria da gravidade capaz
de explicar a força de atração pela geometria tempo-espaço.
A fórmula relativa - A "revolução" de Einstein Torna popular a fórmula
Física E= mc2 (energia é igual à massa vezes o quadrado da velocidade da luz).
A equivalência entre massa e energia (uma pequena quantidade de massa pode
ser transformada em uma grande quantidade de energia) permite explicar a
combustão das estrelas e dar ao homem maior conhecimento sobre a matéria.
É a expressão teórica das enormes reservas de energia armazenadas no átomo
na qual se baseiam os artefatos nucleares.
Bomba atômica - Artefato nuclear explosivo que atinge seu efeito
destrutivo através da energia liberada na quebra de átomos pesados (urânio 235
ou plutônio 239). Armas atômicas foram superadas pelas bombas
termonucleares, que têm maior poder destrutivo. As bombas termonucleares
(bomba H e bomba de nêutrons) agem por meio de ondas de pressão ou ondas
térmicas. Produzem essencialmente radiação, mortal para os seres vivos, sem
destruir bens materiais. São bombas de fusão detonadas por uma bomba
atômica e podem ter o tamanho de um paralelepípedo.
Velocidade relativa - A relatividade também revoluciona a noção de
velocidade. Ao demostrar que todas as velocidades são relativas, explica que,
apesar do movimento, nenhuma partícula poderia se deslocar a uma velocidade
superior à da luz (299.792.458 metros por segundo). À medida que se
aproximasse dessa velocidade, a energia e a massa da partícula também
aumentariam, tomando cada vez mais difícil a aceleração.
Geometria espaço-tempo - Enquanto Newton descrevera a gravitação
como uma queda, para Einstein é uma questão espacial. Quando um corpo está
livre, isto é, sem influência de qualquer força, seus movimentos apenas
exprimem a qualidade de espaço-tempo. A presença de um corpo em
determinado local causa uma distorção no espaço próximo.
Espaço curvo - Um raio de luz proveniente de uma estrela distante parece
sofrer uma alteração de trajetória ao passar perto do Sol. Isto não é causado por
qualquer força de atração, diz Einstein. Em função da enorme massa do Sol, o
espaço a sua volta está deformado. É como se ele estivesse " afundado". O raio
apenas acompanha esta curvatura, mas segue sua rota natural. E se a matéria
encurva o espaço, é possível admitir que todo o Universo é curvo. A confirmação
experimental do espaço curvo só acontece em 1987, com a observação de
galáxias muito distantes.
Albert Einstein (1879-1955) nasce um Ulm, Alemanha, em 1879. Chega a
ser considerado deficiente mental porque até 4 anos não fala fluentemente.
Durante o secundário, é considerado pelos professores um estudante medíocre.
Mas, fora da escola, Einstein mostra desde jovem interesse pela matemática.
Começa seus estudos de matemática e Física na Alemanha e depois assume
nacionalidade suíça. Em 1921 recebe o prêmio Nobel. No apogeu do nazismo
vai para os EUA e se naturaliza norte-americano. Depois da 2a guerra, passa a
defender o controle internacional de armas nucleares. Morre em Princeton, EUA.

PARTÍCULAS SUBATÔMICAS

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A história das partículas que compõem o átomo é bastante recente. Só


em 1932 confirma-se que os átomos são formados por nêutrons, prótons e
elétrons. Em seguida são encontradas partículas ainda menores como o
pósitron, o neutrino e o méson - uma partícula internuclear de vida curtíssima
(um décimo milésimo milionésimo de segundo).
Quarks e léptons - Hoje já se conhecem 12 tipos de partículas
elementares. Elas são classificadas em duas famílias: quarks e léptons. Estes
são os tijolos da matéria. Há seis gerações de partículas quark e seis de léptons.
A primeira geração de quarks é a dos upe down (alto e baixo), que formam, por
exemplo, os nêutrons e os prótons.
Os quarks de segunda e terceira geração, os charm e strange (charme e
estranho) e os bottom e top (base e topo), existiram em abundância no início do
Universo. Hoje, são partículas muito raras e só recentemente foram
identificadas. O quark top foi detectado pela primeira vez em abril do ano
passado. Os mésons também são formados por quarks. A família dos léptons
reúne gerações de partículas mais leves. Entre eles, os mais conhecidos são o
elétron e o neutrino.
O tamanho do átomo - O diâmetro de um átomo é de aproximadamente
10-10 m, ou um centésimo milionésimo de centímetro. Se uma laranja fosse
ampliada até ter o tamanho da Terra, seus átomos teriam o tamanho de cerejas.
Uma proporção semelhante é a que existe entre o átomo e o núcleo dele. Se um
átomo pudesse ser ampliado e ter o tamanho de uma sala de aula, ainda assim
o núcleo não seria visível a olho nu.
Estudo do núcleo - Apesar de todo avanço tecnológico, nunca foi possível
ver o interior do átomo. Para descobrir características e propriedades das
partículas, os físicos usam métodos indiretos de observação. Bombardeiam
núcleos atômicos e depois verificam os "estragos". Registram as ocorrências e
fazem curvas de comportamento. Depois fazem abstrações matemáticas
(modelos) que serão testados para confirmação.
Aceleradores de partículas - Os aceleradores são os aparelhos
desenvolvidos para "olhar " o núcleo atômico. São eles que fornecem altas doses
de energia para que partículas possam romper o campo de força que envolve o
núcleo e atingi-lo. Essas partículas podem ser elétrons, prótons, antiprótons. Em
grandes anéis circulares ou túneis, as partículas são aceleradas em direção
oposta e produzem milhares de colisões por segundo. Um detector registra o
rastro das partículas que resultam de cada choque e um computador seleciona
as colisões a serem analisadas.
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TENDÊNCIAS ATUAIS

A fusão nuclear controlada e a Física dos primeiros instantes do Universo


são atualmente os campos mais desafiantes da física.
Fusão Nuclear Controlada - A fusão nuclear é um processo de produção
de energia a partir do núcleo do átomo. Este fenômeno ocorre naturalmente no
interior do Sol e da estrelas. Núcleos leves como o do hidrogênio e seus isótopos
- o deutério e o trítio -se fundem e criam elementos de um núcleo mais pesado,
como o hélio. Neste processo, há uma enorme liberação de energia. Até hoje,
só foi possível produzir energia nuclear pela fissão (quebra) do núcleo dos
átomos. Esta "quebra" resulta em energia, mas libera resíduos radiativos e por
isso não pode ser considerada uma fonte segura.
Combustível nuclear - Um dos desafios da Física atual é reproduzir o
processo de fusão de maneira controlada e obter combustível nuclear. Será uma
alternativa mais econômica e limpa. Pode ser obtida a partir de matéria-prima
abundante (água) e sem efeitos poluidores (como o monóxido de carbono,
resultante da queima de combustíveis, ou a radiação).
Deutério - O combustível para a fusão, o deutério, é um isótopo de
hidrogênio abundante na água. Na fusão nuclear, uma única gota de deutério
(obtida a partir de 4 litros de água comum) produziria energia equivalente à
queima de 1.200 litros de petróleo.
Teoria do Campo Unificado - Neste campo, as teorias sobre a evolução
do Universo a partir do seu momento inicial, o Big Bang (Grande Explosão), se
encontra com as teorias das partículas elementares. A hipótese aceita hoje em
dia é que, logo após o Big Bag, teria se formado uma espécie de "sopa"
superquente de partículas básicas das quais se constitui toda a matéria e que,
ao se resfriarem, teriam dado origem à matéria em seu estado atual. O grande
desafio é estabelecer uma teoria do campo unificado que descreva a ação das
forças fundamentais (gravitacionais, eletromagnéticas e nucleares) num único
conjunto de equações ou a partir de um princípio geral, que seria a "força"
presente no início dos tempos.

ESPECIALIZAÇÕES DA FÍSICA

Cosmologia e astrofísica - Tratam da natureza do universo físico, sua


origem, evolução e possíveis extensões espaço-temporais.
Física atômica, molecular e de polímeros - Dedicam-se à descrição da
estrutura e das propriedades de sistemas de muitos elétrons, como os átomos
complexos, ou como moléculas e compostos orgânicos.
Física da matéria condensada e do estado sólido - Ocupa-se das
propriedades gerais dos materiais, como cristais, vidros ou cerâmicas. Tem
como subespecializações a Física de semicondutores e a Física de superfícies.
Física nuclear - Estuda a estrutura nuclear e os mecanismos de reação,
emissão de radiatividade natural, de fissão e fusão nuclear.
Física dos plasmas - Estuda a matéria a centenas de milhares de graus
ou mesmo a milhões de graus de temperatura, estado em que a estrutura
atômica regular é desfeita em íons e elétrons ou em que ocorrem fusões
nucleares, como no Sol e nas demais estrelas.
Física das partículas elementares - Trata dos constituintes fundamentais
da matéria.
Física das radiações - Estuda os efeitos produzidos pela absorção da
energia da radiação eletromagnética em geral ou da radiação ionizante em
particular.
Gravitação e relatividade geral - Tratam das propriedades geométricas do
espaço/tempo, como decorrentes das concentrações de massa no Universo.
Mecânica dos fluídos - Estuda as propriedades gerais e as leis de
movimento dos gases e dos líquidos.
Óptica - Estuda propriedades e efeitos de fontes de luz (como os raios
laser), de transmissores de luz (como as fibras ópticas) e de fenômenos e
instrumentos ópticos (como o arco-íris e os microscópios).

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A IMPORTÂNCIA DA FÍSICA PARA O ESCLARECIMENTO DO
UNIVERSO E PARA O DESENVOLVIMENTO DAS FORÇAS
PRODUTIVAS DA SOCIEDADE

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Texto de: G. Miakichev & B. Bukhovtsev


Traduzido do Russo por Ana Manteigas Pedro e Anatoli Kutchúmov
Adaptado por Alberto Ricardo Präss (www.fisica.net)

Panorama Físico do Universo

A Física permite-nos conhecer as leis gerais da Natureza que regulam o


desenvolvimento dos processos que se verificam, tanto no Universo circundante
como no Universo em geral.
O objetivo da Física consiste em descobrir as leis gerais da Natureza e
esclarecer, com base nelas, processos concretos. Os cientistas, à medida que
se aproximavam desse objetivo, iam compreendendo melhor o panorama
grandioso a complexo da unidade universal da Natureza. O Universo não é um
conjunto simples de acontecimentos independentes, mas todos eles constituem
manifestações evidentes do Universo considerado como um todo.
Panorama mecânico do Universo.

O panorama grandioso da unidade do Universo idealizado por Newton,


com base na Mecânica, causou sempre e continua a causar admiração. De
acordo com o modelo de Newton, todo o Universo consta “de partículas duras,
pesadas, impenetráveis e animadas de movimento”. São “partículas elementares
absolutamente duras: a sua dureza é infinitamente superior à dos corpos
constituídos por elas, tão duras que nunca sofrem desgaste nem ruptura”.
As partículas diferem umas das outras apenas quantitativamente, isto é,
pelas suas massas. Toda a riqueza, toda a diversidade qualitativa do Universo
resulta das diferenças no movimento das partículas. A natureza, a essência
interna das partículas como que estavam em segundo plano.
As leis que regulam o movimento dos corpos, descobertas por Newton, e
o seu caráter universal serviram de base para a idealização deste panorama
geral do Universo. À leis de Newton obedecem com exatidão tanto os grandes
astros como as pequeníssimas partículas de areia agitadas pelos ventos. O
próprio vento obedece às mesmas leis, pois que consta de partículas de ar
invisíveis a olho nu.
Durante muito tempo os cientistas consideraram que as leis da Mecânica
de Newton são as únicas leis fundamentais da Natureza. Assim, por exemplo, o
físico francês LAGRANGE considerava que “não há nenhum homem mais feliz
do que Newton: somente uma vez cabe a um só homem a glória de idealizar o
panorama do Universo”. No entanto, o panorama mecânico simples do Universo
revelou-se inconsistente. Durante o estudo dos processos eletromagnéticos
soube-se que os mesmos não obedecem às leis mecânicas de Newton. Maxwell
descobriu um novo tipo de leis fundamentais que não se limitam apenas à
mecânica de Newton. Trata-se das leis que regulam o comportamento do campo
eletromagnético.

Panorama eletromagnético do Universo


Na Mecânica de Newton admite-se que os corpos interagem, diretamente
através do vazio, uns sobre os outros, interação esta que se realiza
instantaneamente (teoria da interação a grandes distâncias). O conceito de
forças, depois de criada a eletrodinâmica, sofreu alterações substanciais. Cada
um dos corpos que entram em interação cria um campo eletromagnético que se
propaga no espaço com uma velocidade finita. As interações realizam-se através
desse campo (teoria da interação a pequenas distâncias).
As forças eletromagnéticas são muito frequentes na Natureza. As forças
eletromagnéticas atuam no seio do núcleo atômico, nos átomos, nas moléculas,
assim como entre as moléculas nos corpos macroscópicos. Isto ocorre devido a
que a composição de todos os átomos entram partículas carregadas de
eletricidade. A ação das forças eletromagnéticas põe-se em evidência tanto a
distâncias muito pequenas (dentro de um núcleo atômico) como muito grandes,
cósmicas (radiação eletromagnética dos astros).
O desenvolvimento da eletrodinâmica deu origem a várias tentativas de
idealizar um panorama eletromagnético do Universo. Todos os acontecimentos
que se verificam no Universo, segundo tal panorama, obedecem às leis que
regulam as interações eletromagnéticas.
O panorama eletromagnético do Universo atingiu o ponto culminante do
seu desenvolvimento após a criação da teoria da relatividade especial. Foi nessa
altura que se tornou possível compreender a importância fundamental do valor
finito da velocidade de propagação das interações eletromagnéticas, assim
como criar os novos conceitos de espaço e de tempo, escrever a nova equação
relativista do movimento que substituiu as equações de Newton nos casos de se
tratar de grandes velocidades.
Repare-se que, enquanto na época de existência única do panorama
mecânico do Universo os cientistas tentavam reduzir os fenômenos
eletromagnéticos aos processos mecânicos num meio especial hipotético (éter
universal), nesta nova etapa, pelo contrário, os físicos tinham tendência para
deduzir as leis que regulam o movimento das partículas com base na teoria
eletromagnética. As partículas constituintes da matéria eram consideradas como
porções concentradas de um campo eletromagnético.
Porém, foi impossível reduzir todos os fenômenos da Natureza apenas
aos processos eletromagnéticos. A equação do movimento das partículas e a lei
da interação gravitacional não podem deduzir-se da teoria do campo
eletromagnético.
Além disto, foram descobertas as partículas eletricamente neutrais, assim
como as interações de novos tipos. A Natureza revelou-se mais complexa do
que os cientistas supunham antes: não há nenhuma lei geral do movimento nem
força universal alguma que possam abranger a enorme diversidade dos
processos a fenômenos no Universo.

Unidade da composição geral da matéria

A diversidade do Universo é tão grande que todos os corpos, sem dúvida,


não podem ser constituídos por partículas de uma só espécie. No entanto, a
matéria de que são compostos astros, por mais surpreendente que isto seja, é a
mesma que entra na constituição da Terra.
Os átomos de que constam todos os corpos do Universo são iguais. Os
organismos vivos são constituídos pelos mesmos átomos que os mortos.
Todos os átomos têm a mesma estrutura a constam de partículas
elementares de três espécies.
Os átomos possuem núcleos constituídos por prótons a nêutrons
rodeados por elétrons.
A interação que se verifica entre os núcleos a os elétrons é realizada
através do campo eletromagnético, cujos quantos são fótons.
A interação entre prótons a nêutrons no seio dos núcleos realiza-se
geralmente através dos mésons pi, que constituem os quantos do campo
nuclear. A desintegração dos nêutrons dá origem à formação de neutrinos. Além
disto, foram descobertas muitas outras partículas elementares cuja interação só
se reveste de importância considerável quando possuem energias
extraordinariamente grandes.
Durante a primeira metade do século XX foi estabelecido o seguinte fato
fundamental: todas as partículas elementares são susceptíveis de se
transformarem reciprocamente umas nas outras.
Depois da descoberta das partículas elementares a das suas
transmutações, tornou-se evidente o caráter universal da composição a da
estrutura da matéria, assente na materialidade de todas as partículas
elementares. As partículas elementares, por muito diferentes que sejam, não são
mais do que diversas formas concretas de existência da matéria.

Panorama físico atual do Universo

No entanto, a unidade do Universo não se limita ao caráter universal da


estrutura da matéria, mas sim se manifesta também nas leis que regulam o
movimento das partículas e a interação delas entre si. Apesar da surpreendente
diversidade das interações dos corpos entre si, na Natureza, de acordo com os
conhecimentos atuais, existem apenas quatro tipos de forças, a saber: forças
gravitacionais, eletromagnéticas, nucleares a as chamadas interações facas.
Estas últimas manifestam-se somente durante as transmutações das partículas.
Estes quatro tipos de forças podem observar-se tanto nos espaços ilimitados do
Universo, como em quaisquer corpos a objetos na Terra (entre eles, nos
organismos vivos), nos átomos a núcleos atômicos, e, mesmo, durante todas as
transmutações das partículas elementares.
Este câmbio radical, revolucionário dos conceitos clássicos acerca do
panorama físico do Universo foi possível depois da descoberta das propriedades
quânticas da matéria. Após o aparecimento da Física Quântica, que descreve o
movimento das partículas elementares, tornou-se possível o esclarecimento de
novos aspectos e elementos do panorama físico universal do Universo.
A divisão da matéria em substância, com uma estrutura descontínua, e
em campo contínuo, perdeu hoje o seu sentido absoluto. A cada campo dado
correspondem os respectivos quantos: os fótons, quando se trata do campo
eletromagnético, os mésons no caso do campo nuclear, a assim
sucessivamente. Todas as partículas, por sua vez, possuem propriedades
ondulatórias. O dualismo onda-partícula é próprio de todas as formas da
matéria. O esclarecimento das propriedades corpusculares a ondulatórias,
aparentemente incompatíveis, por intermédio de uma teoria universal, foi
possível devido ao fato de que as leis do movimento de todas as micropartículas,
sem exceção, têm caráter estatístico (provável). Isto torna impossível o
prognóstico inequívoco do comportamento dos objetos microscópicos.
Os princípios da Teoria Quântica são absolutamente universais, podendo
aplicá-los tanto para a descrição do movimento de todas as partículas e a
interação delas entre si, como para a análise das suas transmutações. Pois bem,
a Física moderna põe em evidência a unidade universal da Natureza. No entanto,
são muitos os problemas, incluindo própria essência física da unidade universal
do Universo, que não estão ainda definitivamente esclarecidos. Não sabemos
por que é que as partículas elementares são tão numerosas, nem por que razão
possuem massas e cargas diferentes e uma série de outras características
específicas. Até hoje, todas estas grandezas foram avaliadas
experimentalmente. Contudo, torna-se cada vez mais clara a relação entre
diversos tipos de interações. As interações eletromagnéticas a as fracas são
abrangidas já dentro dos limites de uma teoria comum. Os físicos conhecem já
a estrutura da maior parte das partículas elementares. Torna-se evidente que a
Física das partículas elementares está em vésperas de realizar descobertas
grandiosas.
“Aqui estão encobertos segredos tão grandes a pensamentos tão
elevados que, apesar das tentativas de centenas de sábios dos mais
perspicazes, que durante milênios trabalharam para desvendá-los, ainda não
foram revelados, de forma que ainda é possível gozar o prazer e o regozijo
proporcionado pelo trabalho criativo a pelas descobertas”. Estas palavras de
Galileu Galilei, ditas há mais de três séculos, são ainda muito atuais.

Concepção científica do Universo

As leis fundamentais estabelecidas pela Física, quanto ao seu caráter


complexo e universal, vão muito para além dos fatos que dão origem ao estudo
dos respectivos fenômenos. No entanto, as leis físicas são tão certas e objetivas
como os nossos conhecimentos dos fenômenos simples observados a olho nu.
Tais leis nunca podem ser violadas, seja em que circunstâncias for.
É cada vez maior o número de pessoas que se dão conta de que as leis
objetivas da Natureza excluem milagres e o conhecimento perfeito destas leis
aumenta o poder do homem sobre a Natureza.
Nos séculos passados a Humanidade depositou as suas melhores
esperanças na crença no sobrenatural, em Deus. A religião contém ideias sobre
o caráter limitado das possibilidades do homem, da existência da vontade divina
que orienta os homens a um determinado objetivo hipotético. Não há dúvida que
o progresso da ciência no domínio do esclarecimento da Natureza tem destruído
a pouco a pouco esse sistema filosófico.

Física a Revolução Técnico-Científica

Presentemente assistimos a uma grandiosa revolução técnico-científica


que começou aproximadamente há um meio de século. Esta revolução causou
alterações profundas e qualitativas em numerosos domínios da ciência e técnica.
A Astronomia, uma das ciências mais antigas, está a sofrer mudanças radicais,
devidas às grandes realizações alcançadas pela Humanidade na conquista do
espaço.
O aparecimento da Biologia Molecular a da Genética deu origem a uma
revolução na Biologia, ao passo que a instituição da chamada grande Química
tornou-se possível graças a mudanças radicais na ciência Química. Os
processos análogos desenvolvem-se também na Geologia, Meteorologia,
Oceanologia a muitos outros domínios da ciência moderna.
São profundas as modificações qualitativas que se verificam hoje em dia
em todos os setores industriais. A revolução na produção de energia, por
exemplo, devesse à passagem do emprego das centrais termelétricas, cujo
funcionamento assenta na utilização de combustíveis de origem orgânica, para
o uso das centrais elétricas atômicas.
Crescem as aplicações de materiais sintéticos com propriedades novas e
muito valiosas. A mecanização e automatização complexas tornam inevitável
uma revolução nos setores industrial a agrícola. Os transportes, a construção e
as comunicações vão se transformando em setores realmente novos a eficazes
da técnica moderna.
A revolução técnico-científica modificou radicalmente o papel que a
ciência desempenha na vida da sociedade. A ciência constitui já uma força
produtiva. De agora para o futuro, a produção dos bens materiais necessários
para a Humanidade dependerá do progresso da ciência.
A revolução técnico-científica conduz necessariamente a Humanidade a
uma grandiosa reorganização a ao aperfeiçoamento de todos os domínios da
produção. A revolução técnico-científica, além disso, torna muito atual o
problema da proteção do meio ambiente.
A Física é uma das ciências fundamentais. A Física influi
consideravelmente sobre os mais variados ramos a setores da ciência, técnica
a produção. Analisemos, então, alguns fatos elucidativos da importância que a
Física tem para os outros domínios da ciência a técnica modernas.
No decurso de vários milênios toda a informação de que os astrônomos
dispunham sobre os fenômenos astronômicos era-lhes dada pela luz visível.
Pode-se dizer que os astrônomos observavam a estudavam esses fenômenos
através de uma pequena fenda no amplo espetro das radiações
eletromagnéticas. Há trinta anos, graças ao desenvolvimento da Radiofísica,
surgiu a Radioastronomia que permitiu ampliar os nossos conhecimentos sobre
o Universo. A radioastronomia revelou-nos a existência de muitos novos corpos
cósmicos. A faixa da escala eletromagnética que corresponde à banda de ondas
de rádio tornou-se uma fonte adicional de conhecimentos astronômicos.
É grande a quantidade de informação que nos trazem do espaço cósmico
as outras espécies de radiações eletromagnéticas que, antes de atingirem a
superfície terrestre, são absorvidas pela atmosfera da Terra. A ofensiva do
Homem no espaço cósmico deu origem a novos domínios da astronomia: a
astronomia ultravioleta, infravermelha, dos raios X, dos raios gama. Tornou-se
muito grande a possibilidade de estudo dos raios cósmicos originais fora da
atmosfera. No decurso do desenvolvimento da revolução técnico-científica os
astrônomos obtiveram pela primeira vez a possibilidade de analisarem todas as
espécies de partículas a radiações oriundas do espaço cósmico. A quantidade
de informação científica obtida pelos astrônomos durante as últimas décadas é
muito superior à obtida no decurso de toda a história do desenvolvimento da
astronomia até hoje. Os métodos de investigação e a aparelhagem de registro
utilizada pelos astrônomos são análogos aos que se empregam na Física; a
astronomia antiga vai-se transformando em astrofísica, uma nova ciência que se
desenvolve rapidamente.
Hoje em dia estão a ser lançados os fundamentos da chamada
Astronomia dos Neutrinos, capaz de oferecer aos cientistas informação acerca
dos processos que se verificam no seio dos corpos cósmicos, por exemplo, no
interior do Sol. A criação da astronomia dos neutrinos tornou-se possível apenas
devido aos êxitos alcançados pela Física dos núcleos atômicos a das partículas
elementares.
A revolução técnico-científica na Biologia tem muito a ver com o
aparecimento da biologia molecular a da genética, ciências biológicas que
estudam os processos vitais ao nível molecular. Os meios a métodos
fundamentais que se empregam na biologia molecular para identificar e analisar
os objetos microscópicos em estudo (microscópios eletrônicos e protônicos,
análise estrutural com raios X, análise neutrônica de átomos marcados,
ultracentrífugas, etc.) são os mesmos que se usam na Física.
Os biólogos, sem esses aparelhos a métodos nascidos nos laboratórios
de Física, não poderiam ter alcançado tão grandes realizações no estudo dos
processos que se desenvolvem nos organismos vivos. Deste modo, a aplicação
dos métodos de pesquisas próprios da Física teve grande importância para a
instituição e o desenvolvimento da biologia molecular e a genética. A Física
moderna também desempenha um papel importante na reforma revolucionária
da química, geologia, Oceanologia a outras ciências naturais.
A Física deu origem também a modificações radicais em todos os
domínios da técnica. As grandes realizações da Física serviram de base para a
reconstrução da energética, comunicações, transportes, construção, setores
industrial e agrícola.
A revolução na energética deve-se à fundação da energética atômica. Os
recursos de energia contidos no combustível atômico são consideravelmente
superiores aos de combustíveis de origem orgânica.
A hulha, o petróleo e o gás natural constituem, hoje em dia, matéria-prima
exclusiva para a chamada grande química. Queimá-los em grandes quantidades
significa causar dano irreparável a este setor industrial moderno de grande
importância.
Portanto, torna-se indispensável o use do combustível atômico urânio,
tório) para o fornecimento de energia, sendo estas as vantagens fundamentais
da energética atômica em relação aos outros ramos da energética.
As centrais elétricas termonucleares vão resolver, no futuro, todos os
problemas que afetam a Humanidade no domínio da energética. Como já foi
salientado, os fundamentos científicos da energética atômica e termonuclear
assentam totalmente nas realizações alcançadas pela Física dos núcleos
atômicos.
A técnica do futuro deixará de utilizar os materiais naturais para passar a
usar materiais sintéticos com as propriedades desejadas que garanta trabalho
seguro a longa duração. Na obtenção de tais materiais desempenharão um papel
cada vez mais importante os métodos físicos de modificação da matéria (feixes
de elétrons, íons a de laser; campos magnéticos de intensidades
extraordinariamente grandes; pressões e temperaturas elevadíssimas;
ultrassom, etc.). Os métodos físicos de modificação da matéria tornaram possível
a obtenção de materiais com características limites e a criação de novos
métodos de trabalho das substâncias, modificando radicalmente a tecnologia da
produção moderna.
O setor industrial e a agricultura vão-se transformando em sistemas de
produção complexa a automatizada. A automatização complexa assenta no
emprego da aparelhagem eletrônica de controlo a medição indispensável.
Os fundamentos científicos dessa aparelhagem e a sua realização prática
estão organicamente ligadas à radio eletrônica, a Física dos sólidos, a Física do
núcleo atômico e a outros domínios da Física Moderna.
A Física Moderna tem importância radical para o desenvolvimento dos
computadores. Todas as séries de computadores (tanto assentes no emprego
de válvulas eletrônicas, como as que usam semicondutores a circuitos
integrados) existentes até hoje nasceram em laboratórios de física.
A Física Moderna permite o desenvolvimento consequente da
miniaturização, alcançar uma grande rapidez e o trabalho seguro dos
computadores eletrônicos. O use dos lasers a da holografia permitirá aperfeiçoar
ainda mais os computadores.
Não podemos citar aqui todos os aspetos da influência revolucionária que
tem a Física Moderna no desenvolvimento de diversos domínios das ciências e
técnicas. No entanto, os exemplos citados são suficientes para nos certificarmos
da enorme contribuição da Física Moderna para a realização da revolução
técnico-científica.
BIBLIOGRAFIA

Abrahan, P.; Sutil é o Senhor – A Ciência e a Vida de Albert Einstein, Ed. Nova
Fronteira, São Paulo (2005).

BIEZUNSKI, M.; História da Física Moderna, Coleção história e biografias,


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BRODY D. E. , BRODY A. R., "As Sete Maiores Descobertas Científicas da


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HALLIDAY, RESNICK, WALKER; Fundamentos da Física, Vol. 1, 7ª Edição,


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KOYRË, ALEXANDRE. "Estudos de História do Pensamento Científico". Ed.


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Orear, Jay; “Fundamentos da Física”. Vol. 1, 2 e 3. Ed. LTC, Rio de Janeiro.


1982.

SERWAY, JEWEET, Princípios de Física, 1ª Edição, Vol 1, Thonson,2006.


ARTIGO PARA REFLEXÃO
AS CONCEPÇÕES DE ENSINO DE FÍSICA E A CONSTRUÇÃO DA
CIDADANIA

Autor: Gabriel Dias de Carvalho Júnior

Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/view/9294

Acesso: 10 de junho de 2016

Publicado no Caderno Brasileiro de Ensino de


Física v.19, N0.1: p. 53-66, Abr. 2002

Resumo

O ensino de Física nos anos 60 e 70 possuía um cunho altamente matematizado. No entanto,


sabemos que a mera aplicação de equações não abre espaço para questionamentos da estrutura
social estabelecida. Recentemente, temos uma crescente discussão a respeito da função social
do ensino de Física, o que tem permitido que a prática docente se dê a nível conceitual e
articulada com a realidade do aluno. Assim, a aula de Física passa a ser considerada, também,
um momento de construção de valores éticos a respeito da utilização de recursos naturais e das
tecnologias decorrentes. A concepção de ensino de Física que certo professor ou uma instituição
possui, sua ideologia, sua política e seus valores, podem ser explicitados através da análise de
sua prática pedagógica.

Palavras-chave: Física, ensino, conceito, transgressão, avaliação, professor,


diálogo.

I. Introdução

As ciências da natureza fornecem elementos para que se possa entender


melhor o mundo à nossa volta, sendo importantes para a construção de uma
sociedade mais crítica e comprometida com o destino de todos os seres. Nessa
área do conhecimento, os métodos que os cientistas utilizam para a obtenção e
o tratamento de resultados são rigorosos e os mecanismos de controle de
experiências permitem uma reprodução das mesmas em qualquer parte do
mundo.
Pelo fato de possuírem uma característica experimental, as ciências
naturais podem investigar os fenômenos através de observações minuciosas,
criar modelos teóricos que expliquem tais fenômenos e validá-los nos
laboratórios e nas pesquisas de campo. Uma dada experiência que puder ser
reproduzida em várias partes do mundo será ou não confirmada através da
análise dos resultados encontrados. O conhecimento científico assim
estabelecido deve ser socializado para que os saberes produzidos possam ser
utilizados a serviço de reais melhorias para a população mundial. É de se
lamentar que os interesses de grandes grupos econômicos se sobreponham ao
bem-estar das pessoas, à medida que a produção de conhecimento científico é
utilizada como instrumento de dominação. Percebe-se, neste contexto, que o
objetivo da educação científica é, meramente, capacitar tecnicamente os futuros
cientistas e não propiciar a construção de valores. A lógica parece ser: perde-se
em humanidade, mas ganha-se em produtividade.
Enquanto ato político, a educação escolar deve se opor a essa lógica da
produtividade, primando pela construção de valores éticos, que são
imprescindíveis à obtenção de uma sociedade igualitária. Os educadores têm a
função de ressignificar a ética social e aplicá-la em sua área de conhecimento.
O ensino das Ciências Naturais deve ser feito em plena conexão com toda essa
dimensão sócio-política, pois a capacitação técnica é indissociável do
desenvolvimento da sensibilidade de se aplicar ou não uma determinada
tecnologia que, de alguma forma, pode ser nociva à natureza.

Há concordância de que grandes momentos de progresso


científico e tecnológico estão associados ao esforço de guerra.
E quem são os estrategistas militares, os especialistas em
criptografia responsáveis pela inteligência. os criadores de
bombas e de bombardeiros? São os nossos ex-alunos em
modelagem, em teoria dos jogos e probabilidades, em teorias
dos números e em lógica, em física matemática. Em essência,
são indivíduos que de nós aprenderam Ciências e Matemática,
mas ao que parece, de nós não aprenderam nada de ética, de
moral, de humanidade e de fraternidade (D' AMBROSIO, 1994,
p.12).

Vive-se em uma sociedade "light", onde tudo é relativizado; o homem é


hedonista e seus anseios são guiados pela mídia. Nesse contexto, a Escola
desempenha um papel fundamental, o de ser um local onde se desenvolve a
formação humanista e integral das pessoas. Dessa forma, a linha de conduta de
um verdadeiro educador deve ser calcada no estreitamento de relações com o
aluno, criando um "pacto" de mútua cooperação. A maneira através da qual o
aluno vê (em todas as suas dimensões) o professor é consequência direta da
maneira como o processo educativo é conduzido. Uma conduta ética do
professor desperta a confiança do aluno. E, como nos ensina o educador Paulo
Freire:

Não há pensar certo fora de uma prática testemunhal que o rediz


em lugar de desdizê-lo Não é possível ao professor pensar que
pensa certo, mas ao mesmo tempo perguntar ao aluno se sabe
com quem está falando (FRElRE, 2000, p.38).

O ensino de Física, em particular, deve permitir que os alunos, através de


atividades propostas durante as aulas, tenham acesso a conceitos, leis, modelos
e teorias que expliquem satisfatoriamente o mundo em que vivem, permitindo-
lhes entender questões fundamentais como a disponibilidade de recursos
naturais e os riscos de se utilizar uma determinada tecnologia que poderia ser
nociva a algum ecossistema. O trabalho crítico do professor deve auxiliar ao
aluno a construir uma mentalidade também crítica, questionadora,
transgressora. Em uma palavra: libertária Além de crer na importância de seu
trabalho como educador, o professor deve pautar toda a sua prática em uma
discussão consistente a respeito da realidade, ser ético nas relações mantidas
com todos os envolvidos no processo educativo e coerente em suas atitudes.
Há várias concepções de ensino de física nos níveis fundamental e médio.
No entanto, pode-se dicotomizá-las em conceitual e matematizada. Apesar de
tal polarização representar uma simplificação da realidade, não se perde em
precisão quanto aos objetivos básicos dos projetos de ensino de Física. A linha
conceitual quer trabalhar, fundamentalmente, a compreensão de fenômenos
físicos através da discussão, do debate e do enfrentamento de posições.
Acredita-se que a utilização de fórmulas matemáticas pode auxiliar a
quantificação dos fenômenos, mas que só deve ser utilizada a partir do momento
em que os alunos compreenderem os conceitos envolvidos. Já a concepção
matematizada dá grande ênfase às equações que permeiam a Física. Assim, o
mais importante, nessa concepção, é a memorização de leis e fórmulas para a
posterior aplicação na resolução de problemas. Imagina-se a Física como um
conhecimento pronto que deve ser transmitido aos alunos.

II. A supremacia das equações

A utilização de um ensino de Física matematizado, em que as equações


têm supremacia sobre os conceitos, desempenhou o seu papel em escolas
pautadas pela repetição mecânica de conhecimentos, onde o professor era tido
como o retentor das verdades científicas, e o aluno era concebido como mero
receptor do conhecimento Físico estabelecido.
Ao longo dos anos 60 e 70, por exemplo, as competências maiores de um
aluno no campo da Física estavam relacionadas à resolução de problemas
numéricos em que a dificuldade não estava centrada no conceito Físico e, sim,
nas relações matemáticas exigi das, nas operações efetuadas e na criatividade
(?) em desenvolver expressões algébricas para atingir resultados. Estas
competências, ao serem desenvolvidas, propiciavam a criação de uma
mentalidade pragmática em relação à Ciência que, até hoje, percebemos ser
muito forte por parte de alguns alunos e de suas famílias.
Além disso, a simples manipulação de equações sem o
questionar/dialogar com a teoria Física associada não abre espaço para
discussões mais elaboradas, não oportuniza o exercício da argumentação. Pelo
contrário,

Em nome de uma suposta essencialidade de se


aprender certas coisas, que na maioria servem apenas
para brutalizar o aluno e, se possível, imbecilizar o futuro
adulto, não abrem espaço para o essencial na educação
(D' AMBRÓSIO, 1994, p.14).

Toma explicável que esta forma de ensino de Física predominou nos anos
dos governos militares e ainda está presente em escolas que não pretendem ser
libertárias. o que produz uma falsa ideia do que realmente seja a Física.

Transformar a experiência educativa em puro


treinamento técnico é amesquinhar o que há de
fundamentalmente humano no exercício educativo: o
seu caráter formador (FREIRE, 2000, p.37).

Diante desta prática docente, resta ao aluno obedecer aos desígnios das
fórmulas, calcular o que foi pedido (ordenado?) e apresentar resultados, em
muito, desconectados da sua realidade.
Quando o saudoso físico americano Richard Feynman visitou o Brasil, ele
teve um contato com estudantes do ensino médio da cidade do Rio de Janeiro.
Feynman ficou impressionado com a excelente capacidade que os alunos tinham
de resolver problemas numéricos de Física. No entanto, ao serem indagados a
respeito de fenômenos físicos cotidianos, os mesmos alunos não conseguiram
estabelecer conexões entre as fórmulas matemáticas que sabiam de cor e o seu
dia-a-dia. Havia, sem dúvida alguma, algo errado.

III. Os conceitos é que mandam

A concepção conceitual, por sua vez, se pauta em habilidades cognitivas


que vão além da mera aplicação. Não se trata de negar a importância da
Matemática ao desenvolvimento da Física. Ao contrário, quer-se ressignificar o
seu raio de ação. Ou, como nos dizia o professor Pierre Lucie:

Fujo, tanto quanto possível, do formalismo matemático... Cada


dia mais. Não por teimosia idiota. Por convicção. Esclareço: não
sou contra a matemática na Física. Seria tão imbecil como ser
contra o tear mecânico na tecelagem. Conheço bastante a
Física para saber que o formalismo matemático é uma
linguagem, uma ferramenta indispensável. Mas cujo domínio
deve suceder, e não anteceder, a percepção (LUCIE, 2000).

No campo da análise de conceitos, leis, hipóteses e de todas as relações


decorrentes, a construção dos conhecimentos deve ser feita mediante um
diálogo constante entre todos os atores da prática educativa. Essa concepção
de ensino entende o professor como mediador entre os vários saberes
estabelecidos, cada qual com suas particularidades, fundamentações e campos
de validade. São eles: saber do aluno (conceitos prévios), científico, escolar e
social. Ao se estabelecer um diálogo permanente e dinâmico, o ensino de Física
se faz, também, libertador e transgressor, porque questionador. A sala de aula
passa a assumir uma conotação de fórum de debates, onde o choque entre os
saberes citados não produz sobreposições ou superposições, mas, sim,
desequilibrações, assimilações e acomodações. A aprendizagem pode assim,
ser significativa e contextualizada.
O trabalho de construção de conceitos valoriza os conhecimentos prévios
dos alunos e parte deles para a construção de saberes mais sistematizados.
Dessa forma, toma-se necessário um rigoroso diagnóstico para que o professor
saiba de que ponto deve partir para conduzir a sua prática educativa em uma
determinada turma. Pelo fato de se valer da realidade dos alunos, é impossível
se estabelecer, nessa concepção, um roteiro padronizado para a aquisição de
conhecimento pelos alunos. No entanto, é perfeitamente possível que todos os
alunos, mesmo que através de caminhos diferentes, consigam construções dos
mesmos conceitos, desenvolvendo, portanto, as mesmas competências e
habilidades1. Trilhando caminhos específicos que propiciem transposições
conceituais nos alunos, o professor estará liderando uma revolução conceitual.

Muitos pesquisadores em Ensino de Ciências acreditam que a


aprendizagem consistente de novos conteúdos requer

1
"Competências são as modalidades estruturais da inteligência. ou melhor, ações e operações que
utilizamos para estabelecer relações com e entre objetos. situações. fenômenos e pessoas que desejamos
conhecer. As habilidades decorrem das competências adquiridas e referem-se ao plano imediato do 'saber
fazer' " (INEP. 2000, p.4).
mudanças conceituais similares àquelas observadas nas
revoluções científicas. Tais mudanças conceituais
corresponderiam a um processo em que o indivíduo abandona
concepções inadequadas do ponto de vista científico e as
substitui por concepções cientificamente aceitáveis (BASTOS,
1998,p. 13).

Saber Física passa a significar ter instrumentos conceituais para dialogar


com o mundo em vários níveis, que vão desde um melhor entendimento de
notícias científicas veiculadas pela média, até a capacidade de prever resultados
de situações experimentais complexas, passando pela emissão de juízos de
valor a respeito da utilização de uma dada tecnologia que pode agredir o meio
ambiente e causar danos à humanidade. Nota-se, assim, que esta maneira de
trabalhar a Física representa uma contribuição para a construção da cidadania,
ajudando a formar pessoas críticas, reflexivas, com embasamento técnico para
se posicionar e questionar posicionamentos diversos. Mais uma vez, bebemos
na fonte de Paulo Freire:

O educador democrático não pode negar-se o dever de. na sua


prática docente. reforçar a capacidade crítica do educando. sua
curiosidade. sua insubmissão. Uma de suas tarefas primordiais
é I trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com
que devem se "aproximar" dos objetos cognoscíveis. E esta
rigorosidade metódica não tem nada que ver com o discurso
"bancário, meramente transferidor do perfil do objeto ou do
conteúdo. É exatamente neste sentido que ensinar não se
esgota no "tratamento, do objeto ou do conteúdo,
superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições
em que aprender criticamente é possível (FREIRE, 2000, p. 28-
29).

O professor que pretende trabalhar nesta perspectiva deve estar


preparado para transgredir, questionar e contrapor vários mitos a respeito do
ensino de Física. É possível que enfrente questionamentos por parte dos pais
dos alunos que foram formados à luz (?) da concepção matematizada e,
portanto, acham que a Física se resume a um -grande -grupo de equações. Se
assim fosse, qualquer computador de capacidade mediana conseguiria produzir
mais do que vários Einsteins juntos. Os próprios currículos e vários livros
didáticos ainda não estão em perfeita sintonia com essa nova concepção de
ensino, enfatizando, em vários momentos, aspectos por demais matematizados
em detrimento de uma discussão mais aprofundada da base conceitual da
Física. Vamos analisar o trecho retirado de um artigo de Manoel Robilotta e
Cezar Babichak.

...não somente o que falamos. mas também o que não falamos


possui um significado. As lacunas, os não ditos, também
exprimem ideias. E existem muitas lacunas na sala de aula. Se
tomarmos os livros didáticos de física, que estão muito
presentes na nossa atividade, e os analisarmos, veremos que
há muitas coisas que eles não discutem. Isso faz com que nós,
professores, não demos maior atenção aos mesmos assuntos.
Por exemplo, no estudo da mecânica clássica, temos as três leis
de Newton da dinâmica. Na sala de aula nós falamos um
pouquinho da1a lei, a lei da inércia, e bastante das outras leis,
principalmente da 2a lei. Por quê? Porque com a 2 a lei nós
podemos fazer contas. Com a 1a lei isso não é possível. Então
nós banalizamos a 1a lei. Mas com certeza Newton não a
colocou em primeiro lugar por ingenuidade. Há uma razão para
que ele tenha feito isso. E, se pararmos para analisar o
significado das três leis de Newton, veremos que a 1a lei é muito
mais importante que as outras, pois é nessa lei que está o
conteúdo metafísico da teoria. É lá que diz com qual universo
ele trabalha. As ideias de que existem espaço e tempo
uniformes e suas propriedades estão todas contidas na 1 a lei.
Lá, Newton explicita o que é natural no mundo, o que não é
explicado, o ponto de partida para desen1volver suas ideias. Na
2a lei ele fala de coisas forçadas, coisas que não são naturais
ou espontâneas. (ROBILOTA e BABICHAK, 1997, p. 42-43).

Podemos notar, ao ler o texto, como o ensino de Física pode ser


conduzido para validar, de maneira muito sutil, estruturas de poder que nos são
tão comuns. Dar ênfase à 28 lei de Newton significa mostrar que as situações
forçadas são mais importantes do que as naturais, espontâneas. Os alunos
acabam internalizando essa concepção e reproduzindo-a em várias esferas. Nas
entrelinhas dessa prática docente, grita a voz da dominação que tenta
ensurdecer nossos corações. Educadores de verdade devem se colocar em
posição de alerta para sinalizar aos seus educandos todas essas sutilezas que
permeiam o currículo escolar. Além disso, é de fundamental importância saber
lidar com a transposição de poder para o aluno, o que irá acontecer em vários
momentos. Se quisermos formar cidadãos é imprescindível que saibamos agir
como cidadãos. Com a construção de uma discussão permanente em sala de
aula, é possível evitar a repetição dessas estratégias de preservação e validação
da estrutura social que produz dominados, escravos, fracassados e dasamados.

IV. Diga-me como avalias...

Há muitas variáveis envolvidas no processo educativo que podem


influenciar a prática de um certo professor. Existem educadores que acreditam
que o ensino de Física deve ser feito fundamentalmente no campo conceitual,
mas que fazem parte de um sistema que exige um ensino tecnicista. Mesmo
crendo na linha conceitual, eles são levados, em alguns momentos, a ter uma
postura puramente matematizada para atender a pressões dos alunos (e suas
famílias) que querem prestar exames de admissão em certas universidades,
cujas provas são por demais matematizadas. Afinal, uma das funções da
educação é a preparação para a vida e o vestibular faz parte dela. Temos outros
professores que acreditam na concepção matematizada e, no entanto, posam
de libertários. Utilizam o discurso para obscurecer urna postura que não seria
bem aceita em certos meios.
Toma-se importante a identificação de quem, de fato, acredita que a
educação é libertadora daqueles que se valem do discurso para esconder o que
realmente são. Ou, como nos diz o compositor Humberto Gessinger na canção
intitulada “A verdade a ver navios”: “é muito engraçado que estejam do mesmo
lado os que querem iluminar e os que querem iludir” (GESSINGER, 1988).
Talvez não seja engraçado, mas, sem dúvida, é curioso.
Temos várias maneiras de perceber a concepção de ensino de Física
adotada por um professor ou por uma instituição de ensino como, por exemplo,
através da análise dos planos de curso, dos planejamentos de aula, do livro
didático adotado e, principalmente, das provas elaboradas.
Enquanto que os planos de curso e os planejamentos de aula elaborados
podem ser fictícios, não revelando a realidade da sala de aula, as provas serão,
em qualquer instância, um espelho de toda a linha de ação de um professor. A
elaboração de um item é feita com base nas concepções de ensino que o
professor possui. Dessa forma, irão constar em uma prova os aspectos da Física
que o professor julgar mais importantes.
Uma instituição de ensino superior, por exemplo, revela a sua posição
quanto ao ensino de Física através das questões propostas aos candidatos em
seu processo seletivo. Para que se possa verificar o que está sendo dito, serão
utilizados itens propostos em exames vestibulares, ao invés daqueles
elaborados para avaliações em colégios, pelo fato dos primeiros serem
conhecidos pelos professores e estarem disponíveis para consulta pública, por
exemplo, na internet.
Os itens analisados versam a respeito do mesmo tema: Indução
Eletromagnética. Este tópico do programa da Física explica o mecanismo
através do qual a corrente elétrica é gerada em usinas hidrelétricas, termelétricas
e nucleares. O primeiro item foi retirado do exame vestibular da Universidade
Federal A2 de 1998. O segundo item fez parte do vestibular da Universidade
Federal B3 de 2000. Ambos os itens foram propostos na segunda fase do
vestibular, o que significa que somente alunos da área de exatas tiveram que
respondê-los. Com essa análise, está-se constatando o tipo de concepção de
ensino de Física que está permeando a elaboração dos itens e, portanto, o tipo
de aluno que a universidade pretende receber.

Item da Universidade A de 1998


Uma espira condutora, quadrada, cujo lado mede 0,5m, é colocada
perpendicularmente a um campo magnético uniforme de indução B .O módulo
de B varia com o tempo t de acordo com o ,gráfico abaixo.

2
Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
3
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Sabendo que Bo = 8 x 10-3 T determine a força eletromotriz média induzida na
espira no intervalo de tempo de t = 0 a t = 0,5 s.

Resolução
Lei de Faraday: a força eletromotriz induzida num circuito é igual, em
módulo, à razão entre a variação de fluxo magnético através do circuito e o
intervalo de tempo gasto em tal variação.
Assim, podemos calcular a força eletromotriz média com sendo:

Item da Universidade B de 2000


A figura mostra um tipo de "gato", prática ilegal e extremamente perigosa usada
para roubar energia elétrica. Esse "gato" consiste em algumas espiras de fio
colocadas próximas a uma linha de corrente elétrica alternada de alta voltagem.
Nas extremidades do fio que forma as espiras, podem ser ligadas, por exemplo,
lâmpadas, que se acendem.
EXPLIQUE o princípio físico de funcionamento desse "gato ".

Resolução
A corrente alternada nos cabos da rede elétrica gera um campo magnético
variável que atravessa as espiras do "gato" e produz, nelas, um fluxo magnético
variável. De acordo com a Lei de Faraday, a variação de fluxo magnético
provoca, em um circuito fechado como o do "gato", uma corrente elétrica
induzida. Que faz as lâmpadas acenderem, conforme descrito no texto.

V. ... que dir-te-ei quem és!

Apesar de versarem sobre o mesmo assunto e possuírem a mesma


natureza de processo seletivo, os itens mostrados são radicalmente diferentes
em sua concepção básica. Os pressupostos que levaram à construção dos itens
são distintos e, por isso, pode-se concluir que o tipo de aluno que as
universidades estão procurando são diferentes.

Vejamos:
O item da Universidade A se mostra totalmente desconectado da realidade,
sendo um mero exercício de substituição em uma fórmula matemática dos dados
fornecidos diretamente ou através de um gráfico. É muito pequena a contribuição
que o item pode dar para que sejam construídos conceitos contextualizados a
respeito da Indução Eletromagnética. Além disso, a possibilidade de discussão
em torno da problemática apresentada é restrita. Deve-se seguir a sequência de
passos apresentados na resolução para ser alcançada a resposta correta.
Já o item da Universidade B apresenta uma situação concreta e que se coloca
conectada a um contexto ambiental e social. A questão energética é um
problema atual que desperta discussões acaloradas a respeito da utilização
racional dos recursos naturais disponíveis. Além disso, o item revela em seu
enunciado que a prática do "gato" é ilegal e perigosa explicitando certos juízos
de valor. Um professor de Física pode se valer desse item em suas aulas para,
além de discutir o que é a Lei de Faraday e quais as suas principais aplicações,
conduzir uma discussão com os alunos em relação aos motivos
socioeconômicos que levam uma pessoa a fazer o 'gato' e se são somente as
pessoas de baixa renda que fazem o "gato". A questão ainda pode servir como,
elemento detonador de trabalhos interdisciplinares (englobando a Biologia, a
Filosofia e a Sociologia, por exemplo). Podem ser visitados os locais em que a
prática do gato é explícita (nas favelas, por exemplo) e pode-se problematizar as
condições de vida, o tipo de alimentação, as necessidades e as contradições
presentes no cotidiano das pessoas que lá residem.

Não se está defendendo a maior relevância do item da Universidade B


pelo simples fato de que não foi necessária a utilização de uma fórmula
matemática para resolvê-la. O mais importante é identificar o tipo e o nível da
cobrança que está sendo feita. O candidato que tenha conseguido resolver
corretamente o item da Universidade A não terá construído, necessariamente, o
conceito de indução eletromagnética. Nem é necessário que ele tenha, pelo
menos, uma noção do que significa gerar uma força eletromotriz de -1,6 x 10-2
volts. O que se está questionando é, exatamente, essa falta de articulação entre
as formulações matemáticas, os conceitos, as grandezas físicas e a realidade.
A verdade é que, na concepção conceitual, o aluno é colocado diante de
situações vivenciais e concretas sobre a Física, o que, sem dúvida, representa
um grande avanço em direção a uma prática pedagógica situada e repleta de
significados.
Toda a mudança de paradigma que se está sendo indicada atinge,
também, o conceito de excelência acadêmica. De uma opressão pelos desígnios
das fórmulas passa-se a uma libertação pela análise dos conceitos. Objetiva-se
um nível diferente de compreensão dos fenômenos naturais, o que permite o
desenvolvimento das habilidades cognitivas que permitem discutir a Física em
uma perspectiva de mudança da realidade que maltrata aqueles que nos são
iguais.
O teólogo Leonardo Boff (1999) e toda a sua discussão a respeito dos
arquétipos do ser humano -águia e galinha -apresenta a ideia de que o homem
carrega em seu ser duas dimensões de diferentes origens e que possuem
anseios distintos. Enquanto que a dimensão galinha vive ciscando o chão, em
busca das migalhas que são jogadas, a dimensão águia busca o alto, quer o Sol
brilhando nos olhos, anseia por algo mais. Galinha e águia coexistem em cada
ser! É essencial que seja lembrado que aquilo que impele cada um para o alto é
o ser-águia. Cada professor, ao se permitir ser águia, possibilita, com a sua
prática pedagógica, que os seus alunos possam se descobrir águias e se libertar
das migalhas que são jogadas pelos que querem iludir.
VI. Considerações Finais

É verdade que se vive em um mundo cheio de contradições que está


sendo guiado pelos interesses daqueles que detêm o poder econômico. A mídia
empurra uma infinidade de meias-verdades com uma falsa inocência que
assusta. A miséria de milhões de seres humanos alimenta a opulência de alguns
poucos "escolhidos". O homem moderno só pensa em ter mais para consumir
mais, custe o que custar. É a busca do ter e não do ser.
É verdade que diversas chances de um relacionamento de forma racional
com a Terra são desperdiçadas. A cada dia é emitida uma carga tóxica em nosso
planeta, que vai morrendo aos poucos. Derrubam-se árvores, secam-se rios,
matam-se peixes. O mundo que, na verdade, pertence à próxima geração é
envenenado. Tudo isso em nome do "progresso".
É também verdade que as relações interpessoais são negligenciadas em
nome de interesses mesquinhos. As melhores oportunidades de felicidade são
perdidas pela descrença no homem. Não há amor, não há emoção.
Mas é inegável que toda essa situação pode começar a ser revertida com
o auxílio da prática de uma Educação libertadora, que não se restrinja aos limites
da sala de aula, superando assim, o tempo escolar. Uma Educação dialógica em
que os professores se livrem do estigma de "senhores do saber" e possam
exercer a sua vocação de construtores de homens e mulheres. Uma Educação
que seja questionadora e crie vozes nos corações. Uma Educação que não seja
calada pelos "nãos" que, certamente, ouvirá.
Inserido nesse contexto de libertação, o ensino de Física não pode se
contentar em simplesmente solicitar ao aluno que memorize equações e as
utilize em problemas elaborados fora de qualquer contexto. Deve-se lutar por um
ensino de Física que seja pautado por discussões amplas, com um constante
diálogo com o mundo, com a sociedade e com os atores do processo educativo.
Essa Educação Libertadora deve permitir que os alunos superem toda a
ordem social pré-estabelecida e construam conhecimentos significativos que
possam ser revertidos em ações sociais eficazes para se opor a essa realidade
neoliberal, dizendo um sonoro NÃO às estruturas de dominação concebidas
pelos setores da sociedade que ganham com aquilo que está posto à nossa
volta.
Agindo assim, os professores de Física poderão ser elementos
multiplicadores dos ideais que revelam a dimensão transcendente do magistério,
se aproximando daquilo que os verdadeiros educadores de todos os tempos
sempre perseguiram: despertar consciências. Esta é a nossa missão! Este é o
nosso dever!

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