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voltada para a compreensão dos diversos lançaria os pilares de sua obra e da própria
fenômenos relativos à disciplina (urbanos e geografia cultural. Ali seriam delimitados três
rurais, físicos e biológicos, etc.), para a com- campos distintos para a geografia: o estudo
preensão dos processos históricos e para as da terra como meio de processos físicos; o
técnicas que instrumentalizavam a disciplina. estudo das formas de vida como sujeito de
Sua obrigação fundamental seria a de com- seu ambiente físico; e o estudo da diferen-
preender os pontos, linhas e áreas dos mapas. ciação de áreas ou de hábitats da terra. Este
Esse retrato nos revela um geógrafo ainda último campo, do estudo da diferenciação de
voltado para os padrões clássicos da disci- áreas, seria o mais valorizado pelos geógra-
plina, apesar dos trabalhos precursores de fos norte-americanos.
Christaller, Lõsch e Werber. Mikesell (1986) Para efeito deste artigo, a questão da dife-
comenta ainda que somente com a publi- renciação de áreas tem interesse limitado, en-
cação de "Location and Space Economy" de quanto que a questão da fenomenologia da
lsard (1956), e do manifesto de Kuhn (1962) paisagem e do método proposto peloautorpara
acerca do desenvolvimento das ciências a captar o significado e a riqueza dessa dife-
partir de paradigmas, os novos geógrafos se renciação são de grande importância. Os
sentiram como integrantes de um novo para- próprios humanistas destacariam essas ca-
digma que revolucionaria a disciplina - a geo- racterísticas dos trabalhos de Sauer. Buttimer
grafia analítica. (1976) citaria a proposta do autor para a des-
Apesar do clima de euforia inicial, provo- crição da paisagem como um exemplo da re-
cado pela geografia analítica nos meios geo- flexão sobre o significado experiencial da
gráficos norte-americanos, a esperada revo- ocupação da terra pelo homem.
lução da disciplina não se confirmou em mui- Essa valorização seria, em outras pa-
tos aspectos. Mikesell (1986) faria uma con- lavras, a do mundo vivido, e pode ser
sideração fundamental a esse respeito: a de atribuída à importância dada por Sauer, em
que a nova geografia se instalara em alguns seu "The Morphology of Landscape", à visão
subcampos importantes e acabara com o pro- fenomenológica da ciência. Para o autor, toda
jeto hartshorniano de uma geografia regional a ciência poderia ser considerada como feno-
autóctone, mas não fora capaz de ocupar os menologia. A geografia teria, neste contexto:
campos já tradicionais da geografia histórica
"O papel concebido como sendo o esta-
e da geografia cultural. Seria nesses campos
belecimento de um sistema crítico que inclua
que se gestaria a geografia humanista.
a fenomenologia da paisagém, de modo a cap-
tar todos os significados e cores do variado
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cenário terrestre" (Sauer, 1983 A, p. 320).
AS ORIGENS DA GEOGRAFIA O resultado dessa concepção seria o de
HUMANISTA uma geografia não-positivista, que observa-
va os objetos contidos na paisagem em suas
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inter-relações, e que propunha uma visão
integral (ao mesmo tempo individual e genéri-
Carl Sauer e sua contribuição na ca, física e humana) dos fatos do lugar.
formação da geografia humanista O termo paisagem, segundo o autor (Sauer,
1983 A), fora escolhido justamente porque
Não podemos nos referir à geografia cultu- definia a área moldada pela associação de
ral sem citar a obra de Carl Sauer. Por sua vez, formas distintas, tanto físicas quanto cul-
é difícil falarmos na geografia humanista sem turais. A paisagem era assim utilizada como
nos reportarmos, em algum momento, à geo- uma unidade dialética da expressão cultural,
grafia cultural. Os temas favoritos de ambos que se prestava à integração de todos os
os campos têm muitos aspectos em comum. fenômenos abordados pela geografia a par-
Estão entrelaçados. Razão que nos leva a in- tir da valorização da hábitat do homem.
vestigar a importância de Carl Sauer para o Muitas das questões abordadas por Sauer
surgimento de uma geografia humanista. em ''The Morphology of Landscape" foram fun-
Seria em "The Morphology of Landscape", damentais para a geografia cultural norte-
publicado em 1925 (Sauer, 1983 A), que Squer americana, entre as quais destacamos: a
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valorização da relação do homem com a paisa- tensão,das percepções e das vivências. Esse
gem, que é por ele formatada e transtornada aspecto seria especialmente criticado por Du-
em hábitat, e avisão integral da paisagem como can (1980) ao estudar o caráter superorgânico
característica que individualiza a disciplina. atribuído à cultura pelos geógrafos culturais.
A geografia humanista também se apóia Apesar disso, como já observaram auto-
nesses temas, diferenciando-se da primeira res como Mikesell (1978), Lévy (1981) e Ley
por enfatizar o mundo vivido e a intenciona- (1981) a geografia humanista é herdeira di-
lidade humana como fator de modificação e reta da geografia cultural, e particularmente
de ligação com o hábitat. das idéias de Sauer. Alguns de seus prin-
A questão que mais aproxima as duas cipais expoentes tiveram formação cultu-
tradições geográficas é, com certeza, a sua ralista, como Relph e Tuan. Além disso, a
insistência em afirmar que a geografia está geografia cultural manteve vivos, durante
"além da ciência". Para Sauer, ainda em "The amaréanalíticanageografia,oculturalismo,
Morphology of Landscape": o antropocentrismo e, principalmente, ores-
peito pela diversidade de temas, o que per-
"A melhor geografia nunca deixou de con- mitiu aos geógrafos incursões por campos
templar as qualidades estéticas da paisagem mais amplos que os oferecidos tanto pela
para a qual não conhecemos outro método que geografia tradicional quanto pela geografia
não seja subjetivo" (Sauer, 1983 A, p. 344). analítica.
Sobre o mesmo assunto o autor seria mais
afirmativo em "The Education of a Geogra- John Kirtland Wright e a
pher": imaginação geográfica
"Além de tudo o que pode ser transmitido
pela instrução e que pode ser dominado me- Diversamente de Sauer, que teve influência
diante técnicas, se encontra o domínio da per- difusa sobre os geógrafos que proporiam a
cepção e da interpretação individual, a arte da geografia humanista, Wright teve uma influên-
geografia. A geografia regional verdadeira- cia direta. Como veremos adiante, seu seu
mente boa é arte refinadamente figurativa, e discurso presidencial pronunciado por oca-
a arte criativa não está circunscrita a padrões sião da 43ª Reunião Anual da "Association of
ou a métodos" (Sauer, "1983 B, p. 403). American Geographers", em 30 de dezembro
de 1946 (Wright, 1947), seria recuperado
Junte-se a isso sua recusa em aceitar os quinze anos mais tarde por Lowenthal (1961 ),
ditames da geografia quantitativa, que foi mani- que procuraria dar continuidade e aprofundar
festada com a publicação de "The Education as questões ali levantadas.
of a Geographer" em 1956, e mantido até em
seus últimos artigos como "On the Background Wright foi incansável divulgador da geo-
of Geography in the United States", de 1967, grafia. Seu trabalho de graduação (1913) ver-
onde alertaria: sava sobre a história européia, enquanto que
sua tese de doudorado, defendida em Cam-
"Uma humanidade massificada está para bridge (1922), discorria sobre a geografia
ser submetida a símbolos matemáticos e a muçulmana medieval. Foi, também, durante
funções de relações espaciais. Eu não acredi- quase 20 anos (1920-1937) editor da "Ameri-
to que esta sofisticação seja um conceito váli- can Geographic Society''. Sua preocupação
do, nem que isso dê graça e verdade à imagi- com a história da geografia pode ser eviden-
nação geográfica" (Sauer, 1981, p.244). · ciada, por exemplo, em seu "AtlasofHistorical
Outra questão levantada por Sauer desde Geography in the United States" publicado
1925 era a da dimensão temporal envolvida em 1923, que está entre as muitas obras do
nos fenômenos espaciais abordados pelos autor dedicada ao tema.
geógrafos, esuapreocupação "ecológica" para Compreendemos, então, que o citado dis-
com o destino das culturas e da humanidade. curso, publicado no "Annals of AAG" em 1947,
No entanto, uma diferença fundamental en- com o título de "Terrae lncognitae: the place
tre as duas geografias deve ser destacada. of imagination in geography" (Wright, 1947),
Trata-se da ênfase, dada pela geografia cul- sintetiza preocupações que o autor demons-
tural, ao caráter coletivo da cultura e, por ex- trava ter desde a década de 20, como, por
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O autor dizia que a geografia é a ciência pelo grande número de artigos e livros pu-
que mais incorpora elementos da vida co- blicados, inclusive traduzidos para o portu-
tidiana, o que não impedia de distinguir entre guês (Tuan, 1980 e 1983). Vamos dedicar-nos
um núcleo formal (científico) e um núcleo in- agora aos seus primeiros artigos, publicados
formal mais amplo. Segundo ele, existiria uma no periódico "Landscape" no início da década
dualidade entre a concordância básica sobre de 60, quando o jovem professor lecionava
o caráter do mundo, baseada em nossas ca- na Universidade do Novo México. Esses tra-
racterísticas fisiológicas, e uma visão mais balhos já contêm os traços do humanismo
pessoal, que só é compartilhável parcial- que marcaram sua produção nas décadas
mente e transitoriamente. subseqüentes.
Essa experiência pessoal está calcada em O primeiro artigo de Tuan, intitulado "Topo-
uma visão antropocêntrica, segundo a qual: philia or Sudden Encounter with Natura"
"Mundos pessoais separados, de experiên- (Tuan, 1961 ), já prenunciava o estilo pes-
cia, de aprendizagem e de imaginação fun- soal do autor, onde as idéias centrais estão
damentam qualquer universo de discurso" apoiadas em muitos exemplos retirados da
(Lowenthal, 1961, p. 248). literatura, das artes e de outras ciências pró-
ximas à geografia. Não se tratava de um
De qualquer modo, o autor considerava texto eminentemente técnico,. mas sim de
que tanto a visão geral do mundo como uma obra aberta, marcada pela erudição.
os ambientes pessoais transcederiam, de
alguma maneira, a realidade consensual ob- ''Topophilia" procurava mostrar como ex-
jetiva, ou seja, o que as pessoas percebem periências banais, vividas por pessoas sen-
compartilhadamente pertenceria ao mundo síveis (poetas, no caso), podem transcender
"real", gerando um ajuste imperfeito entre o domínio do racional. Para Tuan essas ex-
o mundo exterior e as visões pessoais que periências ocorrem principalmente com pes-
são tidas sobre ele. soas relacionadas com a Terra, como geó-
As visões pessoais seriam, então, únicas grafos, geólogos, naturalistas e fazendeiro.
por vários motivos: porque cada pessoa tem No entanto, as evidências dessas experiên-
seu ajuste pessoal e porque seleciona o seu cias são incrivelmente escassas quando se
meio e reage aos estímulos de maneira di- trata de registros escritos.
ferente. Apesar dos limites colocados pelas
necessidades lógicas, pela filosofia e pelos Na geografia, observaria o autor, esta des-
padrões de grupo, a pessoa estrutura o mun- crição vivida da paisagem podia ser en-
do a partir de sua vivência pessoal, e sua contrada facilmente nas obras dos natu-
ralistas do Século XIX, mas foi cedendo
linguagem se ajusta às visões pessoais que
tem do mundo. Isso acontece porque: lugar ao texto impessoal dos cientistas con-
temporâneos. Para Tuan:
"... toda informação é inspirada, editada e
distorcida pelo sentimento" (Lowenthal, 1961, "... parte do trabalho dos geógrafos é re-
p. 257). tratar todos os aspectos das cenas (paisa-
gens ou regiões) pelas quais têm uma afei-
Estavam aí os fundamentos de uma nova
ção especial. Afinal de contas, muitos de
epistemologia para a geografia, ~ue orien-
nós devem ter tido o primeiro romance com
tariam posteriormente a geografia humanis-
o seu objeto de estudo através de alguns
ta. Suas considerações básicas estavam na ·
encontros reais com a cor, o odor- o tempera-
crença de que:
mento - de um lugar" (Tuan, 1961, p. 30).
"A geografia do mundo é unificada somente
pela lógica e ótica humana, por luz e cor Esta afeição foi denominada por Tuan
do artifício, por arranjo decorativo e por de "topophilia" definida como o amor pela
idéias do bom, do verdadeiro e do belo" natureza. Para ele, as obras "poéticas" de
(Lowenthal, 1961, p. 260). Bachelard - "La Terre et les Revêries de
la Volonté", "La Poétique de !'Espace" e
"L'Eau et les Rêves"- são exemplos para
Vi-Fu Tuan e a topofilia o estudo da topofolia. O autor sugeriria que
os geógrafos deveriam se unir aos poetas
Tuan é hoje um dos principais protagonistas no desfrute do esplendor de seu objeto de
da geografia humanista, como se pode ver estudo, ou seja, da Terra.
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Lloyd Wright, tendo cursado também psicolo- dológica, enquanto que a de Lowenthal
gia e antropologia. Pertencia à tradição nor- dirigia-se para uma reflexão epistemológica
teamericanadoantiurbanismo(Choay, 1965), e para a renovação de sua discíplina.
originada em pensadores como Jefferson, As observações de Lynch e de Lowenthal
Emerson e Thoreau. Esses ofereciam, como não estavam isoladas de um contexto, ao con-
alternativa ao modelo urbano centralizado, trário, eram a vanguarda dos estudos sobre
odeumasociedadebaseadanoindivíduo,com b comportamento humano no ambiente, que
moradia e produção descentralizadas. Por suscintavam interesse desde a década de 40,
outro lado, Lynch herdara de seus mestres a partir da psicologia da Gestalt e de estru-
arquitetos elevado grau de pragmatismo filo- turalistas como Piaget e lnhelder. A ênfase,
sófico, devido à tradição organicista. no início dos anos 60, era para a abordagem
Em "The lmage of the City", que era resulta- metodológica, como podemos depreender do
do de um trabalho de campo realizado em ci- panorama aleatório que traçamos a seguir.
dades norte-americanas, Lynch explicitaria di- Os psiquiatras Fried e Gleicher (1961 ), por
daticamente a metodologia utilizada. Suas exemplo, estavam dedicados ao tema da "per-
premissas básicas eram: que a cidade é um cepção e saúde mental", tendo como objeto
produto de indivíduos construtores, que a mo- de estudo os moradores de um slum. Eles con-
dificam em pormenores sem afetar sua estru- siderariam que as relações de vizinhança ba-
tura; que a percepção individual da cidade é seavam-se numa estruturação espacial subje-
parcial e fragmentária; que a imagem urbana tiva, que resultava na produção de uma ima-
possui legibilidade, que é construída indivi- gem espacial (spatial imagery).
dualmente; e, finalmente, que a cidade possui
uma imaginabilidade, que é a atribuição, a um Jonge (1962) aplicaria os métodos e cate-
objeto físico, de um caráter simbólico (Lynch, gorias propostos por Lynch em cidades ho-
1960, p.1-13). landesas, obtendo resultados idênticos e
concluindo que era possível sua generaliza-
Essas premissas levariam o autor a con- ção para as sociedades ocidentais.
cluir que a imagem pública é uma sobre-
O antropólogo urbano Gulick (1963), apli-
posição de imagens individuais, e que a
cando a metodologia de Lynch no Líbano, con-
análise dos objetos percebidos poderia ser
cluiria que lá eram mais valorizadas as áreas
reduzida a cinco categorias: vias (paths),
do que edifícios isolados, recusando-se a acei-
limites (edges), bairros (districts), cruzamen-
tar a ligação da imaginabilidade apenas com
tos(nodes)emarcos(landmarks)(Lynch, 1960,
a percepção da forma visível e enfatizando
p. 47 e 48). Ele se deteria, propositalmente,
o seu significado social.
nesses aspectos físicos, deixando de lado sig-
nificados sociais e históricos (Lynch, 1960, p. 46). Thompson (1963), um professor de admi-
nistração, dizia que as distâncias e outros pa-
Alguns dos resultados do trabalho de Lynch drões geográficos subjetivos podem afetar o
devem ser enumerados: a importância dada comportamento dos consumidores, o que
à literatura e aos estudos antropológicos e psi- exigiria que as áreas comerciais fossem pro-
cológicos como fontes de referência para a jetadas considerando os mapas dessas re-
pesquisa da imagem ambiental e a valorização presentações.
da imagem ambiental como componente fun-
damental de nosso equipamento de sobrevivên- Um trabalho do psicólogo experimental
cia, permitindo a mobilidade intencional e redu- Terence Lee (1964), que influenciou geógra-
zindo nosso medo em relação ao ambiente. fos comportamentais como Downs, é a visão
acabada dessa corrente metodológica. Para
Muitas da observações de Lynch se asse- o autor o único modo científico de se aproximar
melham às feitas por Lowenthal na mesma do comportamento humano no espaço seria
época. Entre elas a da valorização da per- a observação sistemática, objetiva, destacada
cepção individual e da imagem ambiental e controlada (Lee, 1964, p. 13). Isso, apesar
como fator de sobrevivência e estabilização do reconhecimento da ligação entre o espaço
da relação homem/meio. Mas existia uma di- social e o espaço físico na mente, mas que
ferença fundamental: a pesquisa de Lynch deveriam ser separados para fins da análise
estava voltada para uma aplicação meto- científica.
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os ocidentais existe uma tendência de espa- corava desvendar os valores ocultos sob a
cialização em termos temporais, enquanto prática acadêmica cotidiana, especialmente
em outras sociedades existe um vocabulário na prática da geografia. O livro discutia crité-
autônomo para denominar esses termos. rios filosóficos para o estudo dos valores,
Isso porque a experiência de apreensão do ressaltando a contribuição que poderia vir
espaço é semelhante, independentemente do existencialismo. O existencialismo, se-
da linguagem, ou seja, ela é mais básica gundo a autora, aborda os valores que per-
do que a experiência do tempo. meiam todos os aspectos de nossa vivência
O espaço, diz Tuan, é orientado e estrutu- e pensamento, chegando até nós como co-
rado a partir do corpo humano, resultando nhecimento adquirido através de nossa ex-
em uma experiência primitiva de espaço, liga- periência pessoal.
da ao ego; uma experiência pessoal de espa- Apesar do destaque dado ao indivíduo, ou-
ço; e uma experiência grupal de espaço, que tro ponto é sublinhado por Buttimer, o de
é intersubjetiva. que os valores que influenciam nossa vida
Nesse contexto se destaca o conceito de derivam da civilização, da educação formal,
lugar, construído a partir da proximidade de da socialização e do meio, podendo ser
contato ou de uma longa associação com moldados ou modificados sob contextos ins-
o ambiente. O autor distinguia a cena (scene) titucionais ou acadêmicos. ·
da paisagem do lugar: a primeira seria, por A partir desta constatação, a autora discuti-
natureza, alterável a cada mudança de pers- ria a perspectiva sociológica dos valores da
pectiva, enquanto que o lugar teria uma exis- geografia norte-americana a partir dos con-
tência estável, independente do indivíduo que textos que influenciaram os estilos pessoais.
percebe. Sua conclusão seria que os modelos atuais
Estas investigações de Tuan acerca do refletem, mais do que uma ideologia, uma
lugar, como conceito espacial mais adequado matriz tecnológica que valoriza a eficiência
para a geografia humanista, continuariam nos funcional e espacial utilizando-se dos siste-
anos seguintes, culminando com a p~blicação mas espaciais, das estruturas e do dinamis-
em 1977 do livro "Space and Place: the pers- mo tecnológico.
pectiva of experience" (Tuan, 1983 A). Este Segundo esse ponto de vista, a geografia
livro era dedicado às mesmas questões que se debatia naquele momento entre uma de-
haviam sido abordadas em "Piace an ex- finição sistêmica, que vê a disciplina como
perential perspectiva" (Tuan, 1975 A), onde uma empresa produtiva ligada à instituição
o lugar era caracterizado a partir da expe- sociopolítica, e uma definição vocacional, vol-
riência e das várias escalas dessa relação. tada para os projetos de vida dos indivíduos
Em "Space and Place" a questão básica a partir de seus interesses intelectuais.
era: o que são o espaço e o lugar em termos Haveria três tipos de valores na geografia
de experiência humana? Aqui a base filosófica norte-americana: o do "homem cultural", das
fenomenológica estava implícita,· as atenções escolas da paisagem; o homo economicus,
se voltavam para assuntos relativos ao corpo da tradição espacial; do decision marker, da
e aos valores espaciais, a sensação de api- escola comportamentalista. Buttimer criticaria
nhamento como experiência intersubjetiva, a especialmente esses últimos por submeterem
variabilidade das habilidades espaciais em o homem a modelos cognitivos e afetivos.
função da experiência, o espaço mítico ex- Estes seriam contrapostos à fenomenologia,
trapolando a visão pessoal do mundo, a inter- que permitia uma mudança do enfoque dos
relação entre tempo e lugar e para o espaço sistemas espaciais para a experiência do
arquitetônico como síntese da criação do homem, principalmente no tocante a seus
espaço humanizado. significados e a sua intencionalidade.
A geografia do futuro, dizia a autora, deve-
Os valores da geografia ria se dedicar à exploração do mundo eetidia-
humanista no, engajando-se nos problemas sociais e
explorando a vocação erudita e as questões
Em 1974 seria publicado o livro "Values éticas, em suma, revolucionando o pensa-
in Geography"(Buttimer, 1974), que pro- mento geográfico.
A delimitação de um novo O reconhecimento da geografia
campo da geografia humanista.
Podemos concluir, a partir do que foi colo- O ano de 1976 marca o reconhecimento
cado anteriormente, que no início dos anos dageografiahumanistacomocampoautônomo
70 havia um grupo de geógrafos culturais pela mídia especializada norte-americana.
e históricos empenhados na renovação de Os artigos de Tuan- "Humanistic Geography"
sua disciplina a partir de um enfoque centrado (Tuan, 1976 A} - e de Buttimer - "Grasping the
na subjetividade das ações humanas. Para Dynamism of Lifeworld" (Buttimer, 1976} - fo-
atingirem seus objetivos, adotaram uma base ram publicados no Annals of AAG üulho de
filosófica fenomenológico-existencialista ·e o 1976}. O livro de Relph (1976}, intitulado "Piace
conceito espacial de lugar, configurando um and Placelessness", era a publicação revisada
campo próximo que denominaram de "geo- de sua tese de doutorado (''The Phenomenon
grafia humanista". of Place", 1973}.
Nesse processo, alguns, como Tuan, es- Buttimer (1976) dedicava-se à humaniza-
forçaram-se para distinguir este novo campo ção da Terra, apropriando-se do termo dwelling
da geografia cultural tradicional, enquanto que criado por Heidegger para sintetizar a in-
outros, como Lowenthal, não se preocuparam vestigação das ciências humanas sobre a
em delimitar um novo campo. Apesar disso, natureza, o espaço e o tempo. Os fenomeno-
ambas as atitudes contribuíram para o es- logistas, dizia a autora, têm sido investigado-
tabelecimento da geografia humanista, mas res mais sistemáticos deste tema, partindo
derivaram de concepções diferentes: uns viam da experiência vivida como alternativa à ciên-
no humanismo o caminho para viabilizar no- cia objetiva.
vas abordagens da questão ambiental e da Como já fizera em "Values in Geography"
conscientização do indivíduo; outros volta- (Buttimer, 1974}, a autora selecionaria· alguns
vam-se a antigas questões da disciplina, pro- conceitos provenientes da fenomenologia
curando resolvê-las a partir do humanismo e do existencialismo, adequando-os à geo-
e, principalmente, das humanidades. grafia. Destes os mais importantes seriam
os da intencionalidade e do mundo vivido,
Nunca existiu uma "geografia fenomeno- que obrigam a apreensão do mundo cotidia-
lógica", a não ser em racionalizações a poste- no como unidade dinâmica, experenciada
riori (Neil Smith, 1979; Relph, 1981}. Não hou-
holisticamente.
ve, portanto, um desvirtuamento desta em uma
geografia humanista, mais eclética. A geografia Para a autora, o aporte fenomenológico
humanista foi resultado de um longo processo a ser utilizado pelos geógrafos partia de dois
de revisão e de renovação da geografia cultural pontos fundamentais: um conceitual, referente
e histórica norte-americana. Assim como a geo- à diferenciação entre espaço vivido e espaço
grafia radical foi uma síntese de idéias anar- representacional; outro metodológico, refe-
quistas, estruturalistas e marxistas, a geografia rente à experiência subjetiva e à experiência
humanista foi umasíntesede i.déias provenien- objetiva.
tes da fenomenologia, do existencialismo, com
pinceladas estruturalistas e idealistas. A partir de uma confrontação crítica dos
pensamentos predominantes na ciência oci-
Esta base filosófica foi sintetizada e reela- dental - o empírico e o idealista - Buttimer
boi"ada pelos geógrafos, ou seja, extraíram-se concluía pela existência de três caminhos
postulados filosóficos que interessavam mais para a pesquisa na geografia: a construção
diretamente à geografia. As questões básicas de espaço como mosaico de lugares que
referiam-se à valorização do mundo vivido refletem as vontades, os valores e a memória
(Lebenswelt}, da experiência e da intenciona- humanos; o estudo do espaço social, que
lidade humana, do autoconhecimento, da in- filtra os sistemas sociais e as redes de in-
terdisciplinaridade e do intercâmbio com as teração; e o estudo do espaço em termos
humanidades. Restava apenas que o campo de processos ecológicos e de sua organi-
fosse reconhecido pela mídia oficial. zação funcional.
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A experiência do lugar seria objeto de con- Como Tuan (1980 A} já fizera, Relph distin-
clusões comuns da geografia e da fenomeno- guia as experiências de espaço das de lugar,
. logia, em níveis diferentes, no entanto, pois identificando seis tipos de espaço: o prag-
a fenomenologia tenderia a universalizar os mático ou primitivo, ligado à ação inconscien-
dados, enquanto os cientistas sociais não te; o perceptivo, ligado à experiência imedia-
poderiam aceitar este princípio. O modo de ta; o existencial ou vivido, resultado de ex-
suplantar estas diferenças estaria em estudar periências intersubjetivas; o arquitetônico
o mundo vivido como experiência pré-cons- ou do planejamento, que envolve a vontade
ciente, e investigar o papel do espaço social, deliberada de construir espaço; o cognitivo,
considerado como a sociedade em seu ter- que é um constructo teórico; e o abstrato,
ritório, a partir da intersubjetividade. sobre o qual ocorrem as relações espaciais
Tuan, por sua vez, procurava definir uma lógicas.
"orientação humanista" em seu artigo de 1976. Os lugares, dizia o autor, são um modo
O autor d.iscutia os diversos significados do particular de relacionar as diversas experiên-
humanismo ao 1ongo do tempo, concluindo
1
cias do espaçp, sendo singulares porque
por uma definição ampla do que é a pessoa · atraem e concretizam nossas intenções. Por
humana e do que ela pode fazer. A crítica isso, o lugar não é uma categoria definida,
humanista à religião na Renascença seria mas relacionada com a experiência continua-
comparável à crítica humanista à ciência na da no mesmo espaço.
atualidade. Para ele: Este é o motivo pelo qual o lar é o centro
"O humanista hoje não nega as experiên- mais profundo da intenção, centro primitivo
cias científicas sobre o homem; ele constrói da ação ligada à essência do. ser. Os lugares
sobre elas" (Tuan, 1976 A, p. 267). se compõem de três elementos inter-rela-
cionados: os traços físicos, as atividades ou
Seriam utilizados cinco temas de interesse funções observáveis e os significados.
Jos geógrafos - ó conhecimento geográfico,
territorial e de lugar, aglomeração e privacida- Para Relph, só a compreensão dos lugares
de, modo de vida e economia e religião para a partir da experiência cotidiana poderia deter
demonstrar que a geografia humanista não a marcha da geografia do não-lugar, ligada
está ligada a um único assunto, mas sim à inautenticidade das experiências refletidas
à leitura de todos os temas geográficos. O nas atitudes ou ações de massa, referentes
humanista, dizia ele, tem que ter em mente ao domínio do outro, e que são típicas das
que 9 conhecimento é sempre parcial, existin- sociedades industrializadas. A geografia hu-
do como uma unidade integrada que funciona manista seria a geografia dos lugares.
em sua totalidade.
As críticas à geografia humanista
Tuan concluía que a geografia humanista
é construída sobre o conhecimento científico A consolidação da geografia humanista,
de modo crítico, procurando na filosofia um como conseqüência de seu reconhecimento
ponto de vista unificador que permita uma pela mídia, coincidiu com o aparecimento das
avaliação da extensa gama de fenômenos primeiras críticas e discordância sobre sua
humanos, que devem ser analisados sistema- base filosófica e seus objetivos.
ticamente, mas que estão além da metodolo- Um ensaio intitulado "Contemporary Hu-
gia científica. manism in Geography" (Entrikin, 1976) seria
O livro de Relph (1976) emitia opiniões o primeiro a discutir sobre a metodologia
semelhantes. A maneira como eram discuti- e a base filosófica da geografia humanista,
das as questões ambientais era considerada considerando-a como uma alternativa in-
insatisfatória e inquietante, pois partia de aná- viável para a geografia científica.
lises mecanicistas e simplificadoras, dissimu- Para Entrikin, as proposições humanistas
ladas de objetividade científica, às quais se procuravam adequar velhos argumentos a um
oporiam análises feitas a partir de um fenô- novo vocabulário, baseado na fenomenolo-
meno do mundo vivido - o lugar, palco de gia e no idealismo. No entanto, o núcleo de
uma diversidade de experiências que não se sua interpretação estava nos enunciados de
prestam ao estudo científico. Husserl - a redução aidética, a redução fe-
nomenológica, a teoria da intencionalidade, qualquer um que conduza sua vida humanis-
entre outros -, que seriam desconsiderados ticamente.
em relação à interpretação existencialista da- O autor criticaria Buttimer por tomar a feno-
da a esses temas, calcada no "homem no menologia como preâmbulo para procedimen-
mundo" e no "mundo vivido". tos científicos e por sua ênfase na criação
Para o autor, se o objetivo do humanismo de uma nova linguagem. Segundo ele, a crítica
estava estabelecido, tratando de descrever fenomenológica se dirige a uma distorção da
as experiências do homem tal como são vivi- linguagem pelos significados científicos, não
das, a forma de se alcançarem essas metas se dispondo a criar uma nova linguagem.
era obscura, devido às dificuldades no em- Essas discordâncias de Relph (1977), ou
prego do próprio método fenomenológico. pontos de vista diferenciados do que seria
a geografia humanista, tiveram seu lado po-
Ao fazer a distinção entre a abordagem
sitivo: o estímulo às pesquisas mais apro-
científica e a abordagem humanista, Entrikin
fundadas sobre o humanismo (Relph, 1981)
partia da suposição de que a separação entre
e sobre a relação da fenomenologia com as
a conceituação da experiência e o desejo
ciências naturais (Pickles, 1985).
de descrevê-la implica a experiência precon-
ceitual. Porém, dizia o autor, a linguagem,
A ampliação do campo humanista
que também é utilizada pelos humanista~.
não pode descrever este tipo de experiência. A discussão das propostas humanistas nos
Por esse motivo, o humanismo, ·inspirado meados da década de 70 delinearia três abor-
na fenomenologia, exigia bases isentas de dagens. A primeira se referia à crítica e/ou
pressupostos e, como não existe linguagem reconhecimento dos humanistas pelos geó-
sem pressupostos, ele não passava de uma grafos culturais e históricos. A segunda inau-
crítica. gurava uma série de levantamentos críticos
que comparavam "paradigmas" filosóficos da
Esse artigo de Entrikin serviu para levantar geografia contemporânea. A terceira procu-
algumas dificuldades metodológicas que po- rava solucionar problemas relativos à base
deriam surgir da aproximação da geografia fenomenológico-existencialista.
com a fenomenologia. No entanto, ao privi-
legiar a fenomenologia husserliana e ao en- Mikessel (1978) inaugurou o reconheci-
fatizar uma investigação isenta de pres- mento da importância dos humanistas para
supostos, criou uma imagem parcial do que a renovação da geografia cultural. O autor
era pretendido pelos humanistas, minimi- discutia as origens comuns do comportamen-
zando os conceitos fenomenológicos que talismo e do humanismo na década de 60
haviam sido apropriados pelo coletivo e re- e a crescente separação entre pesquisas ex-
duzindo seus estudos a uma simples crítica perimentais e interpretativas, entre raciona-
ao positivismo. Estes aspectos se vulga- lidade científica e racionalidade humanista.
rizaram em críticas posteriores à geografia leslie King (1976) via os paradigmas liga-
humanista, contribuindo para uma divulgação dos à fenomenologia e ao marxismo como
errônea de seus objetivos. alternativas à análise positivista, pois ambos
recusavam a separação entre fato e valor.
A discussão sobre a geografia humanista O autor preconizava uma aproximação crítica
e sobre a utilização da fenomenologia criaria 'Cios valores, um meio-termo entre a fenome-
polêmicas no próprio cÇ~Ietivo humanista nologia e o marxismo. como alternativa para
Relph criticaria os artigos de Tuan(1976 A)e a geografia.
de Buttimer (1976), atribuindo ao primeiro
uma visão limitada e ao segundo uma visão Cosgrove (1978) observava que nas hu-
programática e conservadora. manidades e nas ciências sociais sempre hou-
ve uma tensão entre conhecimento e existên-
Para Relph, existem muitos tipos de hu- cia, e que esta dialética está implícita na geo-
manismo, razão pela qual ele transcende as grafia humanista. Mas os humanistas substi-
divisões por disciplinas. O geógrafo humanista tuíram o tempo e a força das mudanças, refe-
não seria, portanto, um investigador de am- rindo-se às experiências coletivas de uma
bigüidade nas relações homem-natureza, mas maneira idealista. Os falhavam na análise
dialética entre mente e mundo porque con- poderia ajudar na resposta a essas questões,
sideravam o segundo termo abstrato. Os mar- principalmente no estudo do folclore.
xistas, apesar de falharem também ao vê-lo No início da década de 80, as discussões
como mero reflexo das forças e relações de sobre a base filosófica ficaram em segundo
produção, poderiam ajudar na resolução da plano, suplantadas por uma procura de an-
questão, que estaria na aplicação do método tecessores representativos de determinada
dialético materialista na análise da importân- postura filosófica. Cosgrove (1979) se dedica-
cia simbólica do lugar. va ao estudo da imaginação geográfica como
estava colocada na obra de Ruskin, que
Também Sayer (1979) dizia que a geografia
originara uma proposta de geografia cultural
humanista falhou no esclarecimento de pon-
calcada na morfologia e em uma teoria da
tos importantes levantados pela fenomenolo-
paisagem próxima à fenomenologia, ao discu-
gia, tais como uma concepção- inadequada
tir a inautenticidade na produção dos lugares
da função e da natureza da intersubjetividade
quando está alheia a seus aspectos morais.
e uma visão distorcida e parcial da natureza.
Estes ponto$ poderiam ser corrigidos com Entrikin (1980) discutia a adequação da
a ligação dos significados intersu.bjetivos às ecologia humana, proposta por Robert Park,
normas sociais e com a análise das implica- como uma possibilidade de aproximação do
ções do trabalho sobre a natureza. aporte humanista com a geografia social. Ele
concluía que muitos dos temas debatidos por
Jonhston (1986 C, 1980) propunha a dife- cientistas humanos e por filósofos na virada
renciação entre o humanismo e o compor- do Século XX eram similares aos da geografia
tamentalismo a partir dos modernos para- contemporânea, podendo servir no esclare-
digmas da geografia. Para ele, a geografia cimento de questões atuais.
comportamental discordava da teoria, mas
não dos métodos positivistas, enquanto que Os aportes críticos que acabamos de co-
a geografia humanista era herdeira direta da mentar direcionariam algumas das discussões
geografia cultural, a partir de uma abordagem dageografiahumanistanadécadade80.Estas
alternativa ao positivismo. discussões referenciam-se à herança huma-
nista proveniente da geografia cultural e his-
Para o autor, a geografia comportamental tórica, ocupando-se, também, de antecesso-
e também a humanista resolveram proble- res que poderiam esclarecer pontos obscuros
. mas no nível dos indivíduos tomadores de da proposta humanista, ou ainda de aportes
decisões, mas a fenomenologia não servira correlatos capazes de auxiliar na consolidação
para resolver os problemas no nível das gene- daquele campo da geografia.
ralizações. Por outro lado, a aproximação es- Essa tentativa de resolução de questões
truturalista dera conta da macroescala, mas pendentes se refletiria na discussão acirra-
tinha problemas com a microescala. da do "paradigma" humanista ante outros para-
digmas da geografia, gerando uma crítica do
Robert David Sack (1976) também pro-
coletivo humanista ao próprio conceito de para-
curava aproximações intermediárias entre po-
digma e um aprofundamento nas questões
sitivismo e a fenomenologia a partir de uma
filosóficas da fenomenologia e nas possibili-
oposição entre uma estrutura "subjetiva-
dades de aproximação com o estruturalismo.
afetiva-experimental" e outra "objetiva-ana-
lítica". Para o autor, ambos os enfoques obri-
gam uma relação dialética entre observador Os humanistas· e as humanidades
e observado, dependendo dos valores sociais Já falamos da produção "geosófica" ligada
e da linguagem compartilhada por ambos. à geografia humanista. Durante a década de
Assim, as artes e a magia, por serem mani- 70, o número de autores dedicados à relação
festações observáveis da harmonia universal, da geografia com as humanidades cresceu.
poderiam servir de ponte entre os enfoques O próprio Lowenthal continuava sua discus-
subjetivo e objetivo. são sobre as ligações entre as paisagens
do presente e as paisagens do passado, e
Bunkse {1978) propunha a aferição na
sua fonte de pesquisa era a literatura e as
medida em que o estudo das atitudes para
artes (Lowenthal, 1977 e 1978).
com a natureza pode representar a realidade
sociocultural. Para ele, o estudo da experiên- Rees (1978) se apoiaria em Ruskin para
cia vivida, proposto pela geografia humanista, distinguir o domínio da arte do domínio da
130
ciência. A concepção deste humanista do Sua ponderação era de que existem mui-
Século XIX era comparada à "geografia in- tos tipos de humanismo que por vezes che-
formal" proposta por Wright (1947), que tam- gam a se opor. O humanismo contemporâneo
bém se referia a fontes não científicas de teria similaridades com o humanismo renas-
informação, como a pintura de paisagens. centista, ambos enfatizando a importância da
ação humana, o primeiro colocando-se con-
A visão do artista, dizia Rees, como a da
criança, é unitária e holística. Ela não separa tra o humanismo científico e o segundo, con-
o ambiente percebido pelos sentidos, ou am- tra o humanismo cristão.
biente perceptivo, do que aprende sobre este O livro dividia os problemas do humanismo
ambiente, ou ambiente conceitual. Esta é a contemporâneo em três classes: a que procu-
síntese que a geografia humanista propõe, ra uma epistemologia apropriada; a do conjun-
e que no caso da pintura está ligada ao lugar to de princípios epistemológicos e ontológicos
e à identidade. Os pintores diferenciam o am- que exigem o desenvolvimento de métodos
biente, que é o espaço físico, do lugar com particulares deles derivados; e a da neces-
o qual se identificam espiritualmente. A arte,
sidade de contribuição substantiva a partir
então, ajuda a todos a satisfazerem suas ne-
desses métodos derivados.
cessidades de conforto e de segurança repre-
sentadas pelo lugar. No que se refere à primeira classe de pro-
Pocock (1981 A) ligaria a geografia à blemas, Samuels (1978) discutia a relação
literatura ao publicar uma coletânea inti- entre o existencialismo e a geografia. Para
tulada "Humanistic Geography and Literatura: ele, a relevância do "neo-humanismo" na geo-
essays on the experience of place", que reunia grafia devia ser esclarecida, e a chave desse
trabalhos de vários componentes do coletivo esclarecimento estava no existencialismo.
humanista. Nesse livro, Cosgrove, em parce- Isso porque tanto o humanismo marxista co-
ria com Thorne, retomaria a questão da ordem mo a geografia humana e a fenomenologia
moral na obra de Ruskin. Lloyd propunha existencial tinham sua ligação na curiosidade
uma análise da geografia social a partir da acerca dos laços entre a natureza e a so-
literatura.Prince dedicava-se às paisagens de ciedade, com destaque para a espacializa-
Suffolk, narradas por George Crabba. Salter c;ão dessa relação. ·
utilizava-se de "Vinhas da Ira" de Steimbeck
para fazer geografia cultural. Seamon tra- O autor rebatia as críticas de Entrikin
balhava a dialética da visão do nativo e do (1976) que dizia que a fenomenologia e
estrangeiro nos romances de Dóris Lessing. o existencialismo não fornecem estrutura
filosófica para uma perspectiva espacial. Pa-
ra Samuels, o existencialismo provê uma
A consolidação do coletivo ontologia espacial do homem baseada em
humanista dois componentes da espacialidade: a dis-
Se até meados da década de 70 havia tância subjetiva que enfatiza a mudança de
esforços isolados para o estabelecimento lugar; e a relação objetiva, que enfatiza a
de uma epistemologia e de uma métodologia situação de mudança.
próprias para a geografia humanista, o ano A geografia existencial, dizia Samuels, não
de 1978 marca o início de uma procura de se refere somente à realidade, impacto ou
definições, consolidada no livro "Humanistic valor do espaço subjetivo; ela está próxima
Geography: prospects and problems" (ley do idealismo geosófico de Wright, que diz
e Samuels, 1978 A). ser o homem, por definição, alienado (ou es-
tranho) ao mundo devido à distância. Desse
Na introdução deste livro, os autores con-
modo, fazer uma geografia existencial é fa-
textualizavam o surgimento da geografia hu-
zer uma geografia da alienação, definida
manista, colocando-a como integrante de um
como a história da procura das raízes e,
movimento que questionava os paradigmas
por extensão, dos lugares com os quais elas
e as prioridades da tradição analítica. Eles
se relacionam.
observavam que esse movimento começou
com uma crítica ao desenvolvimento tec- O capítulo escrito por David Ley (1978)
nológico que ameaça levar o planeta à des- preocupava-se com o vácuo epistemológico
truição. da geografia social desde os anos 60, que,
segundo o autor, seria preenchido ou pelo complexa do que a que o cientista normalmen-
marxismo estrutural, com ênfase nas relações te conhece. A literatura pode fornecer a evi-
econômico-funcionais, ou pelo humanismo, que dência de como Çts pessoas, no passado e em
incorpora os valores humanos e a percepção. · outras culturas, percebem a realidade resol-
O autor pensava em humanismo desvincu- vendo um problema fundamental do cientista
lado do idealismo transcendental de Husserl social, que é o de combinar aspectos subjeti-
e mais ligado à fenomenologia de Marleau- vos com aspectos objetivos.
Ponty e Schutz, que contextualiza as per- Na terceira classe de problemas referentes
cepções no mundo concreto da vida cotidiana. a propostas de pesquisas, destacamos os
O marxismo era considerado atrativo porque capítulos de Seamon (1978) e de Duncan
incorporava, como tema central, as relações (1978). Seamon se dedicava a uma aproxi-
materiais e estruturais, assim como a dis- mação bastante particular, proposta por
tribuição do poder, reduzindo, no entanto, va- Goethe, para uma compreensão mais com-
lores e ideais a epifenômenos derivados da pleta dos fenômenos. Essa aproximação de-
subestrutura.
nominada, pelo próprio Goethe, de "alta
Ley propunha a reconstrução da geografia contemplação" (Hoere Anschauung) ou de
social a partir de três "blocos construtores": "empirismo delicado "{Zarte Empirie) recusa-
o antropocentrismo autoconsciente e o mun- va a separação do ser e das coisas, procuran-
do da vida cotidiana; a natureza social ineren- do penetrar no seu íntimo através da percep-
te ao ser humano; e a intersubjetividade, iden- ção que se tem delas. O tempo e a prática
tificada com as influências contextuais sobre deveriam levar à descoberta do padrão es-
o indivíduo, como o intercâmbio entre o sujeito sencial, ou processo da coisa {Ür-Phãnomen).
e um ambiente multidimensional. Assim, fa- Seamon observava que, diferentemente de
zendo-se a união de posições divergentes, se Husserl, que se aproximava da coisa através
sintetizariam os laços entre homem e ambiente da epoche, Goethe enfatizava o processo
e intencionalidade humana e fatores estru- pensando sobre a coisa e intelectualizando
turais, vistos a partir de uma relação dialética o mínimo possível sobre ela.
entre as realidades estruturais e a construção
humana da realidade. Duncan (1978) trazia a contribuição do in-
teracionismo simbólico para a geografia hu-
Na segunda classe de problemas relativos manista. O interacionismo seria uma tradi-
ao desenvolvimento de métodos próprios ao ção filosófica genuinamente americana que
humanismo, podemos destacar o capítulo es- recusava a visão individualista do homem,
crito por Tuan (1978 A), dedicado às relações colocando-se contra a separação entre in-
da geografia com a literatura. Para o autor, divíduo e sociedade, e considerando que o
a geografia acadêmica se afastara muito das · eu é em grande parte produto das opiniões
humanidades ao se dedicar ao estudo dos pro- e das ações dos outros.
cessos naturais e dos aspectos "externos" dos
fenômenos humanos. A essa noção tradicional do interacionis-
mo, o autor sugeria a adição de dois concei-
Para Tuan, a principal função da fala é a tos marxistas: o de reificação e o dé aliena-
reconstituição da experiência, sendo a litera- ção, que permitiriam a constatação de dis-
tura um meio formal de articular esta neces- . crepâncias entre significados, consciência,
sidade humana. Para ele, tanto a arte como a razões e definições de situação, e a "reali-
ciência se abstraem do fluxo total da experiên- dade objetiva".
cia humana, segmentando a realidade e crian-
do quadros do mundo. No entanto, a primeira O livro de Ley e Samuels {1978) marca
procura a completude e a segunda, o esclare- a unificação de uma série de abordagens
cimento, sendo este o motivo pelo qual as com- humanistas, possibilitando que algumas críti-
posições literárias e não-literárias têm graus cas fossem absorvidas e outras rebatidas.
de explicitação diferentes. O coletivo humanista passava a ter posi-
ções epistemológicas bastante claras, orien-
A literatura não está preocupada com de- tadas pela fenomenologia existencialista, e
talhes factuais; apesar disso, a realidade hu- cada vez mais próximas do estruturalismo
mana apresentada pelo novelista é muito mais e do marxismo. No campo metodológico,
132
havia um grande ecletismo que perduraria até mente, conseguiram espaço na mídia espe-
meados dos anos 80. cializada. As críticas subseqüentes, que pro-
curavam incorporar o movimento a outras
O final dos anos 70 marcou o auge da
correntes ou campos, como o comportamen-
criação e da produção humanista. Se "Hu-
tal, o idealista, o neokantista ou o marxista,
manistic Geography" (Ley e Samuels, 1978)
obrigaram os humanistas a unirem seus es-
marcou o reconhecimento da existência do
forços (1978) rebatendo os autores que os
coletivo humanista, "Making Sense of Ti-
colocavam como meros críticos da geografia
me" (Carlstein, Parkes e Thrift, 1978) mar-
positivista, ou colocando as questões no
caria o reconhecimento da importância da
plano metodológico.
questão temporal para a geografia. Dos di-
versos capítulos desse livro, vamos· nos O final da década seria dedicado, pelos prin-
deter no de Tuan (1978 8), intitulado cipais nomes do coletivo, às questões e-
"Space, Time, Place: a humanistic trame". pistemológicas e à investigação metodológica
que abriam novas perspectivas de pesquisa.
O autor observava que espaço, tempo e Não podemos deixar de ressaltar que contex-
lugar estão indissoluvelmente ligados pela tualmente esse momento se assemelhava ao
experiência vivida, só podendo ser separa- que ocorrera no final dos anos 60 (1965). O
dos pela imaginação. Existiria um espaço mundo passava pela crise do petróleo, que
mítico onde o tempo é visto de três maneiras: modificou as relações mundiais aguçando as
o tempo cosmogônico, relacionado com as preocupações com as alterações ambientais,
origens do homem; o tempo humano, relativo provocadas por uma tecnologia forjada nos
ao curso da vida humana; e o tempo as- moldes positivistas. Os geógrafos humanistas
tronômico, relativo aos ciclos naturais. Os já estavam dedicados a essa questão há mais
dois primeiros são lineares e unidirecionais, de uma década, o que serviu para aumentar
o último é cíclico e repetitivo·. O pensamento seus quadros, imprimindo uma característica
ocidental, originado na fusão dos ideais gre- de certo ecletismo e de diversidade.
gos e hebraicos, se debate entre uma visão
temporal cíclica, devido aos primeiros,e uma
visão temporal seqüencial e unidirecional,
devido aos outros. A GEOGRAFIA HUMANISTA
NOSANOS80
Outro conceito espacial utilizado pelos
:•:···.<·>··:·:•:.' ·.·.··,·.·.·.·.·.·.·.·.·,····· .,.•....·.·.·.·.·.·.·-.·;·.·.·.·.·:·.·.•.·.·
humanistas foi o de paisagem, como pode-
mos ver em "The lnterpretation of Ordinary A ampliação do campo filosófico
Landscapes" (Meinig, 1979), principalmente
nos capítu'los escritos por Samuels e Tuan.
humanista
Samuels (1979) examinava a possibilidade A expansão do coletivo humanista no início
de se traçar uma biografia da paisagem. Essa da década de 80 propiciou a abertura de novas
possibilidade, dizia ele, dependia da escolha frentes de pesquisa, com a adesão de geógra-
entre a tradição grega, que enfatiza a ex- fos sociais norte--americanos e uma influên-
plicação concentrando-se em forças e ações cia crescente dos geógrafos culturais e histó-
impessoais, e a tradição hebraica, queenfatiza ricos ingleses, que imprimiram novas carac-
a atribuição, concentrando-se na ação dos terísticas ao coletivo humanista, deslocando
indivíduos. A tradição humanista estaria o debate filosófico extrageografia para um
próxima da hebraica ao focalizar o papel dos debate epistemológico intrageografia.
indivíduos na construção da paisagem. Tuan
(1979) se dedicava à diversidade de imagens Um livro publicado em 1980, ''The Human
que as paisagens evocam para diferentes Experience of Space and Place" (Buttimer e
tipos de pessoas. Sua conclusão era que Seamon, 1980), marca o início sutil dessa
a paisagem é uma composição de elementos mudança. Diversamente das coletâneas do fi-
funcionais e utilitários com os valores. nal da década passada, onde a discussão
filosófica constituía o tema central, agora era
Feitos esses comentários, concluímos que enfatizada a teorização das experiências
a década de 70 foi muito rica _na produção geográficas vividas, filtradas pela conceitua-
humanista. Seus autores de início isolada- ção humanista de· espaço e lugar. No livro
eram abordadas experiências vividas de al- geografia humanista. Ele selecionaria quatro
coólicos, idosos e dos anarquistas durante concepções distintas: uma crítica dos signi-
a guerra civil espanhola. Havia também uma ficados e dos valores a partir da fenomenolo-
vertente teórica, representada por Bobby gia {Entrikin); uma busca dos laços entre a
Wilson, que se dedicava ao interacionismo geografia e seus métodos a partir das hu-
simbólico, e por Courtice Rose, que via a manidades {Tuan); uma aproximação constru-
geografia como uma atividade de interpre- tiva que reconciliaria a geografia com as ciê.n-
tação de textos. cias sociais {Ley e Samuels); e uma derivação
O capítulo de Seamon {1980) analisava da tradição da geografia histórica e cultural
as relações espaciais que são construídas {Ciark). Para o autor, a geografia humanista
a partir do corpo humano como referencial, se opunha apenas superficialmente à geogra-
enquanto que Buttimer {1980) se dedicava fia científica devido às deficiências do conceito
a pesquisar a intensidade e a qualidade da de humanismo.
relação das pessoas com o lugar a partir Harvey e Holly {1981) diziam que o con-
da dialética entre o lar e os horizontes ceito de paradigma seria aceitável se as
a serem alcançados (horizons of reach). proposições iniciais de Kuhn e de Popper
fossem recolocadas não como revoluções,
O questionamento dos mas como extensão e reorientação de
paradigmas da geografia posições. O ecletismo "caótico" seria recu-
sado pelos autores que procuravam na
O ecletismo na utilização de aportes di- adoçãO de novas aproximações filosóficas
versos pela geografia levou a um questiona- a origem de novos paradigmas.
mento da aplicabilidade de paradigmas pela
disciplina, confluindo para uma demolição Já Johnston {i 986 B) colocaria três bases
desse referencial/conceitual. O livro "Ge- filosóficas - o positivismo, o estruturalismo
ography, ldeology and Social Concern" {Stto- e o humanismo -como as grandes referências
dart, 1981 A) reunia vários autores que ques- paradigmáticas do pensamento geográfico
tionavam o conceito de paradigma. Já na contemporâneo. Seria, no entanto, o próprio
introdução o próprio Sttodart {1981 B) ques- Johnston {1981) que acenaria com possi-
tionava a existência de uma geografia calca- bilidades concretas de uma leitura alternativa
da em uma série cronológica de eventos para o desenvolvimento da geografia, ao re-
a partir de escolas nacionais. cusar a ruptura a partir das revoluções como
No mesmo livro, Sttodart {1981 C) ques- fora proposta por Kuhn e Popper, oferecendo
tionava a relevância dos modelos criados a alternativa da análise da aparente anarquia
para explicar o desenvolvimento e as mu- na transmis~ão das idéias na disciplina.
danças nas ciências sociais, observando que Esse debate em torno do conceito de
o conceito de paradigma, como fora enuncia- paradigma daria o tom dos debates humanis-
do por Kuhn, não se adequava às mudan- tas nos dois primeiros anos da década de
ças que acontecem na geografia. 80. Com o distanciamento de dez anos, po-
Buttimer {1981) iria mais longe, ques- demos afirmar que a adoção deste conceito
tionando a aplicablilidade do conceito de poderia ter inviabilizado o desenvolvimento
paradigma na geografia. Oferecia como da geografia humanista, que se debatia entre
opção aproximações autobiográficas com- muitos temas e aportes e com a instabilidade
binadas com aproximações paradigmáticas. do coletivo que centraHzava os debates.
Berdoulay {1981 ), por sua vez, propunha
uma aproximação contextual como alternati- O ecletismo nas pesquisas
va à análise paradigmática. dos anos 80
Relph {1981) procurava demolir as.bases
que permitiriam a existência da geografia hu- No início dos anos 80, o coletivo humanista
manista enquanto paradigma. Para o autor, assistiria a uma evasão de alguns de seus
a diversidade de significados da palavra "hu- componentes, como Relph, por exemplo, e
manista", segundo o contexto, se refletia na se debateria com a multiplicação de temas,
própria concepção dos geógrafos acerca da que iam dos trabalhos mais conservadores
dos "geosóficos" até as propostas de fusão geografia da paisagem calcada na idéia de
do humanismo com o marxismo. mito. Mugerauer (1981) discutia a geografia
Levantamentos feitos na época, por exem- regional como uma disciplina hermenêutica.
plo, por Ley {1981 e 1983), mostram à di- Outro debate seria suscitado por Agnew
versidade de aproximações adotadas pelos e Duncan (1981) ao discutirem a difusão das
geógrafos humanistas. Ley via a "corrente" idéias na geografia anglo-americana. Segundo
humanista como uma perspectiva teórica os autores, os levantamentos e colocações
que objetivava ligar a geografia às humani- programáticas davam pouca importância
dades e às ciências sociais a partir de uma para a compatibilização entre as idéias filo-
orientação filosófica e teórica mais crítica. sóficas e as implicações políticas agregadas
a essas filosofias.
O grupo humanista que mantinha a linha
mais estável era o dos geosóficos, com tra- Para Agnew e Duncan, as idéias deveriam
balhos voltados para a literatura (Pocock, ser avaliadas durante o seu processo de apro-
1981; Aiken, 1981; Hudson, 1982) e para as priação pelos geógrafos a partir de três an-
artes plásticas (Rees, 1981 e Bunkse, 1981). tinomias estreitamente relacionadas entre si;
a do holismo/individualismo, a da estrutu-
Outro grupo procuraria nos filósofos e na fi-
ra/ação e a do determinismo/liberdade.
losofia o auxílio para uma abordagem interdis-
ciplinar para a geografia. Mills (1982) estudava
a obra do pensador Vico, do Século XVIII. A aproximação de humanistas
Livingstone e Harrison (1981 A), interpretavam
a "Crítica da Razão Pura" de Kant. Curry
e marxistas
(1982) recorria às idéias de Wittgenstein. Destes debates, um dos mais interessantes
O papel da imaginação na filosofia e na teo- é o que visava a aproximar os conceitos hu-
ria geográfica seria discutido por Livingstone manistas dos conceitos da geografia radical.
e Harrison (1981 B), que fazia um estudo Van Der Laan e Piersma (1982) oferecem uma
comparativo do uso coloquial das metáforas perspectiva por eles denominada de "movi-
e mitos e o uso científico dos modelos. Pa- mento metacrítico" (Goa/-critical movemen~.
ra os autores, o debate filosófico da década A geografia humanista, diziam os autores,
anterior contemplava muito pouco a estrutura estava voltada para o ser humano completo,
interna da explicação e do próprio processo cujas funções biológicas e mentais estão di-
de reconstrução racional que culmina com recionadas para fontes de informação e de
a criação de teorias. criação do conhecimento. As orientações
A importância das metáforas para a análi- metacríticas, por sua vez, estariam ligadas
se dessa estrutura e desse processo era às aproximações que criticam os objetivos
ressaltada pelos autores. As metáforas se da ciência, podendo ser identificadas com
refeririam à criação de novas categorias de as aproximações radicais, que têm uma visão
significados, da mesma forma que o mito social do homem. Para a orientação metacríti-
impõe uma ordem cósmica manifesta. Por ca, o homem não pode ser visto como indiví-
outro lado, a ciência possuiria quatro modos duo, pois ele é determinado pela sociedade,
teóricos - experimentais, lógicos, matemáti- o que implicaria uma, análise onde as rela-
cos e teóricos -, que exigem a incorpora- ções de poder são o centro das atenções.
ção de uma epistemologia que inclua suas Gregory (1981) discutia a importância do
características metafóricas e mitológicas. conceito de estrutura a partir da geographie
Era, então, proposto um modelo "metafó- humaine vidalina, fortemente influenciada
rico-mítico-modelar" ( "methaphor-mith-model" por Durkhein e Ratzel (neokantianos). Pa-
mode~ que permitiria a análise das imagens
ra o autor, a geografia vidalina tinha uma
fronteiriças entre o mito e a ciência. lição para dar à geografia humanista: a de
Outros humanistas discutiram, também, o que a transposição da linguagem para a ação
papel das metáforas na criação de teorias tem a contingência e a vida cotidiana como
pela geografia. Buttimer (1982) falava do pa- essenciais, e que essa "limitação" é admiti-
pel das metáforas na criação de conceitos da a partir da concepção de "estrutura", que
geográficos. Cosgrove (1982) propunha uma determina uma matriz de contingência.
O autor procurava as ligações entre esta esse era um período de hiperconsciência
concepção de "estrutura" da geografia vidalina teórica. Os neopositivistas, preocupados
com o conceito de estrutura proposto por Ray- com a fragmentação da estrutura episte-
mond Willians, Bordieu, Touraine, Habermas mológica da geografia, voltaram-se contra
e, principalmente, Giddens. Esse último, que os humanistas, que segundo eles prejudi-
elaborara a ''teoria da estruturação", se pro- cavam o progresso da geografia.
punha a fazer uma análise da dualidade das
Dessas críticas a mais polêmica foi "Some
formas de determinação histórica, conside-
Thoughts about Theory in Social Sciences"
rando as propriedades estruturais dos siste- (Papageorgiou, 1982), publicada no periódi-
mas sociais como meio e conseqüência das co "Geographical Analysis". Esse artigo pro-
práticas que constituem esses sistemas. ·
piciou a resposta de doze geógrafos que dis-
Gregory concluía que o marxismo e o cutiam a ''teoria das ciências sociais", que
humanismo supõem que as diferentes for- ocuparam um número inteiro (Janeiro 1983)
mas de conhecimento são constituídas das desse periódico de linha editorial neopositi-
práticas sociais da relação dialética do ho- vista. Nessa discussão se envolveram vários
mem com a natureza, explicitadas pelo tra- humanistas, entre os quais Buttimer, Ley e
balho. Assim, uma possível ponte entre o Tuan, que destacaremos aq~i.
marxismo e o humanismo exigia a retoma- Para Buttimer (1983 A) as questões colo-
da e reconstrução (via teoria da estrutura- cadas por Papageorgiou permitiam enquadrá-
ção) do debate possibilismo/determinismo, lo na linhagem dos geógrafos que tomam a
tendo como matéria-prima a vida cotidiana, geografia como síntese de distribuições com-
como é explicada pelo genre de vie e pelo parativas, o que resulta numa visão de mundo
"modo de produção". em mosaico de padrões que devem ser ex-
Cullen e Knox (1982) faziam uma análise plicados em termos funcionais/sistemáticos.
da contribuição positivista, marxista e neo- No entanto, a geografia feita exclusivamen~
marxista para a geografia urbana, procurando te em termos locacionais malogrou, dizia a
integrá-las com os princípios da filosofia e- autora, exigindo o reconhecimento de aspec-
xistencial. Para eles, a questão do ser, co- tos extra-epistemológicos, a partir do conhe-
mo fora colocada por· Heidegger, fornecia cimento crítico do "conjunto filosófico" de
uma base suplementar para a compreensão onde se baseiam os dados utilizados pela
da estrutura das cidades e de como os in- disciplina.
divíduos se vêem no interior desse sistema.
Ley e Pratt (1983) consideravam a visão
Para os autores, sua proposta metodológi- de Papageorgiou uma abstração conserva-
ca era diversa da marxista ou neomarxista dora dedicada a descrições generalizantes,
por recusar uma interpretação puramente ma- ligadas à procura de um método matemático
terialista da dialética, introduzindo três níveis qualitativo para o exame da linguagem. No
de análise das condições estruturais gera- entanto, segundo eles, uma epistemologia a-
das pela organização econômica e social: o propriada para as ciências sociais requer
principio da progressão da transformação mais versatilidade do que é possível para
dialética; o princípio de regras flexíveis e de uma linguagem de observação.
estruturas fixas; e o princípio da universalida- Para os autores, essas divergências teóri-
de, que considera as ações individuais como cas partem de uma mistificação da base
sendo interpretadas em relação aos impera- epistemológica que distingue as perspectivas
tivos existenciais fundamentais. teóricas, que na verdade se originam em dis-
cordâncias ontológicas e epistemológicas. A
O acirramento do debate teórico conseqüência dessa mistificação seria uma
visão instrumentalista, que se utiliza de mode-
entre humanistas e positivistas los preditivos para relacionar superficialmen-
Os meados dos anos 80 marcam a con- te os status ontológicos das entidades que
tinuação, mais exacerbada, do debate teórico são colocadas nos modelos.
entre os humanistas, que recusavam as ex- ParaTuan(1983),aidéiadequeasociedade
plicações paradigmáticas para a disciplina, está perigosamente fragmentada força seus
e os neopositivistas. Segundo Glick (1985), membros a uma atitude de alerta. Porém:
136
"O problema deles tem duas característi- de fontes literárias. O autor distinguia quatro
cas distintas: uma é de que ele pode ser aproximações para~ cultura nas sociedades
claramente formulado; outra mais notável avançadas: a cultura como um valor em si
é a de que, uma vez formulado, sua impor- e como força moral; a cultura vista como
tância é imediatamente evidente ... relação entre o modo de produção e as for-
Nosso problema, ao contrário, raramente mas culturais, ligada a uma estética marxista
pode ser formulado claramente; e, quando devido a Lukacs e à "Escola de Frankfurt";
pode, seu valor intelectual (em contraposição a sociologia empírica da cultura, centrada no
ao seu valor prático} raramente é óbvio" (Tuan, papel das instituições; e a antropologia social,
1983, p. 70}. que considera as práticas e produtos culturais
não somente a partir das condições materiais,
Podemos ver que o artigo de Papageorgiou mas também como representações pro-
propiciou um balanço de perspectivas teóricas dutoras de significado.
humanistas delineadas na década de 70, além
de demonstrar o pouco interesse dos huma- Para o autor, as duas primeiras, ligadas ao
nistas em conciliar suas idéias com as dos neo- humanismo e ao marxismo, poderiam ser enri-
positivistas, mesmo quando essas vinham quecidas com as idéias de Edward Thompson
travestidas de pós-empirismo ou em uma e de Raymond Willians. Esse último, por ex-
geografia comportamental voltada para méto- emplo, ressaltava que a compreensão da
dos qualitativos. hegemonia exigia uma investigação dos ele-
mentos culturais dominantes e também uma
Pontes teóricas entre sensibilização com relação às experiências
sociais, por ele denominadas de "estruturas
humanistas e marxistas do sentimento". Baseado nessas idéias, Thrift
Se não havia interesse dos humanistas procurava dar explicação para os múltiplos
em se aproximarem dos positivistas, cresciam significados atribuídos ao lugar e ao "sentido
as relações entre humanistas e marxistas. de lugar".
No mesmo ano em que o coletivo humanista"
rebatia as críticas neopositivistas, eram in- A aproximação dos geógrafos
tentadas aproximações com o marxismo. sociais com o humanismo
Cosgrove (1983) propunha uma "geogra-
fia cultural radical", visto que a geografia Outra aproximação que rendeu frutos nos
humanista toma a cultura como objeto cen- meados dos anos 80 foi a da geografia social
tral, via mundo vivido; e que o marxismo com a geografia humanista, devido principal-
necessita reconhecer que o mundo vivido mente a Peter Jackson e Susan Smith, que
é material, pois se trata do encontro coletivo discutiam a aplicação de conceitos humanis-
do sujeito com o objeto, da consciência com tas pela geografia social.
o mundo material.
Em artigo intitulado "Social Geography:
Segundo o autor, construir uma geografia convergence and compromise", Peter Jack-
marxista é sustentar a dialética da cultura son (1983) discutia a aproximação recente
e da natureza, sem deslizar para o idealismo da geografia social marxista com a geografia
ou para o materialismo reducionista. Cos- social burguesa, concluindo haver uma con-
grove via na obra do antropólogo Marshal vergência epistemológica entre os autores
Sahlins, de interpretação simbólica da cultura, que propunham um "debate construtivo". En-
abaseparaumaaproximaçãodohumanismo tre esses eram citados Ley e Gregory, que
com o marxismo. Para isso seria necessária
fundamentavam teoricamente as relações
a utilização de um materialismo histórico
entre a ação humana e a estrutura social,
que recor.hecesse o vínculo das formações
econômicas e sociais com a produção e . a partir das obras de Habermas e Giddens.
a reprodução de espaços específicos {ou Em seguida, o autor levantava a importância
paisagens), e que os modos de produção das contribuições marxista e weberiana para
são simbolícamente constituídos, implicando a geografia social, destacando os trabalhos
a dotação imediata de significados à paisa- de Althusser Castells, Thompson e Willians
gem e ao lugar. como uma alternativa "humanista marxista".
Nigel Thrift {1983) propunha uma análise No livro "Exploring Social Geography"
materialista da cultura e do lugar a partir {Jackson e Smith, 1984}, eram levantadas
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Robert Sack (1986) propunha a elaboração em versos. Xiao-Lun Wang (1990) analisava
de uma teoria para a geografia a partir das o conflito entre sentimento de lugar e senti-
diversas concepções da territorialidade hu- mento de pátria na literatura popular chine-
mana em diferentes períodos de tempo. Para sa. McGreevy (1990) falava da construção
ele, a territorialidade era um fenômeno da dos conceitos de família, de infância e de
experiência humana que pode ser espaciali- lar a partir das festas natalinas.
zado e temporalizado, mostrando o esforço
O intercâmbio entre humanistas e marxis-
da construção social de formas ligadas às
tas continuava, principalmente, através da
relações espaciais. Sua proposição era a de
geografia social. Kobayashi e Mackenzie,
utilizar a teoria da territorialidade como uma em "Remaking Human Geography" (1989),
teoria adicional à já consagrada teoria social viam possibilidades de convergência do ma-
da divisão de classes, adequando suas terialismo histórico, a partir da adoção do
análises aos diversos contextos econômi- conceito de história centrado na "ação hu-
cos ou de escala. mana", com o humanismo voltado para o
conceito de humanidades baseado na
Os diversos caminhos da "imaginação geográfica".
geografia humanista no final
Neste livro temos a contribuição de vários
dosanos80 autores como Relph (1989), que contraporia
O final dos anos 80 marca uma crescente aos métodos sistemáticos de estudo da pai-
absorção de temas humanistas pela geografia sagem e do lugar os responsive methods,
onde as categorias espaciais são contextu-
cultural. Para muitos, o que estava em jogo
alizadas a partir da vida cotidiana.
não era mais a garantia de sobrevivência da
geografia humanista, mas a retomada de Outra linha de estudos interessante é a
uma geografia cultural renovada e reno- seguida por Porteous, que se dedicava a
vadora. Sob este aspecto, chamam a atenção noções de paisagens que não estão ligadas
os numerosos estudos sobre a ·vida e a a nossa percepção visual: paisagens olfativas
obra de Sauer, a chamada "sauerologia" (smel/scape) (Porteous, 1985); o uso meta-
(Rowntree, 1988 e Glick, 1988). fórico da imagem do corpo em relação à
paisagem (bodyscape) (Porteous, 1986 A);
Diante desse ímpeto renovador que se e as paisagens interiores (inscape) e sua
impunha até nos meios mais tradicionais ocorrência na literatura (Porteous, 1986 B).
da geografia cultural, muitos temas huma-
nistas perderam o sabor de novidade, en- Finalmente, vamos nos deter na produção
fraquecidos pelo formidável debate epis- recente de Tuan e Buttimer. Tuan (1989) se·
temológico do início dos anos 80 (Cosgrove, ocupava com a relação da geografia com a
1989). Deste cenário podemos destacar os arte, colocando a apreciação estética da su-
vários caminhos trilhados pela geografia hu- perfície terrestre como um dado fundamental
manista na virada dos anos 90. para a geografia humanista-cultural (cultural-
humanist geography). Mais recentemente,
Os temas clássicos continuaram a motivar Tuan (1990) escolheria como melhor definição
trabalhos como o de Hugill (1988), dedicado da disciplina aquela utilizada na década de
à anglicização da paisagem norte-america- 40 - "a geografia é o estudo da Terra como
na; o de Pocock (1988), sobre a geografia lar das pessoas". Para ele os elementos que
e literatura, tomando categorias literárias definem a geografia são' "Terra", "seres hu-
que contêm elementos geográficos; o de manos" e "lar", recuperando e rearticulando
Bunkse (1990), que procurava na obra de humanisticamente os valores mais caros à
Saint-Exupéry a base para um humanismo geografia cultural.
artístico-literário, que teria como domínio
paralelo os valores humanos referentes ao Buttimer (1990) consideraria o humanismo
ambiente. como o grito de libertação da humanidade,
a visão da Terra como Gaia, a emancipação
Novos autores também se dedicaram aos da humanidade a partir de uma visão global
temas humanistas. Quinney (1986) discutia dos problemas ambientais. Nesse contexto
o sentido da paisagem existencial da paisa- a geografia humanista seria o fermento para
gem rural captada pela fotografia ou cantada o surgimento de uma nova civilização.
•••.• •,•,·,•.·,•:•:•.·:-,-.'.-.:·:·:·.·í ;.;.;.:•:·:·:···:-:·:-:·:-:.:-:·.'·.~···-:~<-:·:····-'·'·"•'·';• ..•:• ·.•.·.·-·······'····>:.-:·.·:·.·.•.·.·····"':
A construção desta nova epistemologia
CONCLUSÃO ocorrià em um contexto onde era pregada
• .-,."·········.·.•·'•'•'•'•"h'•'·'·'·'•'·"·'·'•'•'-'•'-"•'·';,,,_,._ •••• •.v,•.•:•:•:•l+:•:•:•:•:•:•:•:-. :-:·:•.·:·:.;.;,;.;.;.:-:.:.:•:•:•:•:-:·:-:·:•:•:•:•:•>t•:~.;.;.;.;.;.
a construção de um novo mundo. Propunha-
se a liberdade sexual, a igualdade entre
O acompanhamento da trajetória da beo- brancos e negros, o pacifismo, a conscien-
grafia humanista anglo-saxônica contem- tização ambiental, em suma, era um mo-
porânea nos permite concluir, antes de tudo, vimento pela mudança ética e moral dos
que este campo da geografia é herdeiro direto costumes. Os humanistas viram,· corre-
da geografia cultural saueriana e da geografia tamente, a necessidade de a geografia ade-
histórica. Seriam essas geografias que iriam quar-se a essa mudança, e sob esse ponto
fornecer os parâmetros para a construção de vista constituíram a vanguarda que pre-
da geografia humanista, tais como o incon- gava um novo status no relacionamento
formismo com a geografia cartesiana e po- dos homens entre si e dos homens com
sitivista, levando a colocar a geografia "além o planeta.
da ciência"; a ênfase no estudo da relação A introdução de uma base filosófica exis-
do homem com o ambiente, com a valorização tencialista propiciou uma fundamentação
da transformação da paisagem pelo homem epistemológica e ontológica necessária para
e a compreensão de que os fenômenos geo- que a geografia humanista, gerando um ques-
gráficos são tanto espaciais como temporais. tionamento extrametodológico, estivesse a-
lém do cotidiano profissional e acadêmico das
Por outro lado, podemos afirmar que a décadas de 70 e 80.
geografia comportamental teve um papel
limitado para o desenvolvimento da geografia Hoje, a contribuição da geografia humanista
humanista. Desde o princípio, ainda na se consolidou, fazendo parte da história da
geografia contemporânea. Senão, como tra-
década de 60, comportamentalistas e hu-
trar da espacialidade do indivíduo, consubs-
manistas tiveram concepções diversas da
tanciada na paisagem e no lugar? Como falar
disciplina: os primeiros visavam à incorpo-
de uma nova ética, de uma nova ontologia
ração de aspectos subjetivos à geografia ambiental? Como estudar nossa sociedade
analítica, buscando maior consistência me- homogeneizada e voltada para um processo
todológica para uma geografia aplicada; os acumulativo no nível do consumo sem con-
humanistas propunham uma nova epis- siderar os indivíduos e sua intersubjetividade?
temologia para a disciplina, com a incor- Como poderíamos enfrentar a infalibilidade
poração de questões levantadas pela filo- da ciência cartesiana e positivista? O pen-
sofia, antropologia, psicologia, entre outras samento humanista é uma ponte entre a mo-
disciplinas. dernidade e a pós-modernidade na geografia.
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RESUMO
Este trabalho acompanha a trajetória da geografia humanista nos países ·anglo-saxônicos, desde o
aparecimento das primeiras idéias humanistas, nos anos 50, até os dias de i'loje.
São analisados artigos de pioneiros como Sauer, Wright, Lowenthal e Tuan, e o livro esquecido de
Dardel.
Acompanha-se o interesse pela percepção ambiental e pela imaginação geográfica, que uniu, no
início dos anos 60, os protocomportamentalistas e os prato-humanistas.
Detivemo-nos na tentativa de individualização de um campo humanista, nos anos 70, com a escolha
de uma base fenomenológico-existencialista.
Comentamos a abordagem do mundo cotidiano e a eleição de lugar como conceito privilegiado que
levaria a geografia humanista a ser reconhecida pela mídia em meados da década de 70.
Analisamos as críticas e os dilemas por que passou esta corrente durante os anos 80, bem como sua
relação com a geografia social, cultural e marxista.
Em suma, é na análise do processo de surgimento, afirmação, consolidação, reconhecimento e di-
fusão da geografia humanista, assim como na avaliação de sua contribuição com novas perspectivas
epistemológicas e ontológicas para a geografia contemporânea, a que se dedicam as páginas desse artigo.
ABSTRACT
This work tries to follow tre trajectory of the humanistic geography in the anglo-saxons countries, from
the appearance of the first humanistic ideas in the fifties to the present days.
The articles by pioners as Sauer, Wright, Tuan and Lowenthal are analysed in detail, and the forgotten
book by Dardel.
We follow the interest in the environmental perception and in the geographical imagination that joined
in the early sixties the proto-behaviourists and the proto-humanists.
We try to set the individualization of a humanistc field in the seventies, with the choice of a pheno-
menological-existentialist basis.
We comment on the approach of the everyday world and the election of place as a privileged concept
which would take the humanistic geography to become acknowledged in the middle seventies.
We analyse the critiques and the dilemmas by which passed this trend during the eighties, as well as
their relations with the social, cultural and marxists geographers.
In summary, this word dedicates its pages to the analysis of the process of the appearance, state-
ment, consolidation, acknowledgement and expansion of the humanistic geography, as well as in the
evaluation of its contribution with new epistemologic and ontologic perspectivas for the contemporary ge-
ography.