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Rev. do Museu de A rqueologia e Etnologia, São Paulo, 12: 25-41, 2002.

METODOLOGIA DE PROSPECÇÕES
GEOARQUEOLÓGICAS DENTRO DE UMA BACIA
(EXEMPLO DA BACIA DO RIO PERUAÇU, MINAS GERAIS, BRASIL)

M aria Jacqueline Rodet*


Joèl R odet**
Sueli A. N ascim ento***
Daniel F. M ariano****
Yveline Huguet*****
Joana R. Silva******

RODET, M.J.; RODET, J.; NASCIMENTO, S.A.; MARIANO, D.F.; HUGUET, Y.; SILVA, J.R.
Metodologia de prospec£Òes geoarqueológicas dentro de urna bacia (exemplo da bacia
do rio Perua^u, Minas Gerais, Brasil). Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, Sào
Paulo, 12: 25-41,2002.

RESUMO: O conhecimento da ocupação pré-histórica de uma região depende


dos métodos de aquisição de dados que devem se apoiar sobre uma metodologia
sistemática. A introdução de uma abordagem interdisciplinar para as pesquisas
modernas permite a elaboração de uma metodologia sistêmica de localização de sítios
arqueológicos, a partir de uma unidade geomorfológica básica, a saber, a bacia
hidrográfica. A metodologia elaborada e desenvolvida na bacia do rio Peruaçu, região
norte do estado de Minas Gerais, estudada desde o início dos anos 1980, é fundada
na análise morfogenética da paisagem. Ela tem por objetivo facilitar a compreensão da
ocupação humana dentro de uma unidade geomorfológica definida.

UNITERMOS: Metodologia - Prospecção - Paisagem - B acia-G eom orfologia,


Arqueologia, Geoarqueologia- Peruaçu.

Introdução (Morais 1979; Prous 1997). A grande maioria


destes trabalhos, realizados em setores com um
substrato rochoso, teve como objetivo a busca de
A realização de prospecções sempre foi uma sítios arqueológicos sob abrigo (Guidon 1982;
preocupação da pesquisa arqueológica brasileira Schmitz e Barbosa 1994; Solá 2000), algumas

(*) Université de Paris X, França. Doutoranda e bolsista


CNPq, UMR 7055 “Préhistorie et Technologie Lithique” Geologia.
(**) Laboratoire de G éologie de l’Université de Rouen, (*****) Université de Paris I, França. Mestranda em
França. UMR 6143 CNRS. conservação de objetos arqueológicos.
(***) Faculdade de Januária, MG. Graduanda em História. (******) Pontifícia Universidade Católica, MG. Graduada
(****) Instituto de G eociências - UFMG. Graduando em em Geografia.

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gia e Etnologia, São Paulo, 12: 25-41, 2002.

vezes a procura de sítios a céu aberto. Mais raramente características do meio físico podem ser definidas
houve investimento no sentido de buscar as possíveis como valores específicos;
jazidas líticas utilizadas pelos pré-históricos (Prous - a tipologia de sítios de jazidas de matérias
et al. 1984; Gaspar 2000; Guapindaia e Machado minerais: esses sítios são o resultado da evolução
2000). Sendo a indústria lítica o principal elemento da geomorfológica local que define suas localizações e
cronologia estabelecida para o norte de Minas Gerais seus conteúdos. Esse conteúdo pode ter sido utilizado
(Fogaça 2001; Prous et al. 1984, 1994a, 1994b; como fonte de matéria-prima pelos pré-históricos;
Rodet et al. 2000), acreditamos importante dar um - a relação meio natural/grupos humanos:
valor sistemático a este tipo de abordagem (Rodet mostrando como esses últimos puderam aproveitar
1999). Para tanto é preciso a aplicação de uma os valores específicos dos diferentes elementos
metodologia específica (Morais 1979,1983,1985). geomorfológicos, particularmente as jazidas de
A elaboração desta metodologia é o primeiro matéria-prima, para desenvolver suas atividades.
passo para a compreensão da lógica de ocupação Esses sítios podem tomar, então, o valor de
de uma bacia, para futuramente criar o modelo da marcadores territoriais.
ocupação. Três anos de trabalho (campo e
laboratório), de 1998 a 2001, aliados a uma equipe Num primeiro momento, é preciso compreender
pluridisciplinar (geólogo, geomorfólogo e arqueólo­ o quadro geomorfológico e seu funcionamento (os
gos), permitiram a elaboração de uma metodologia obstáculos naturais e as possibilidades de passa­
de prospecção desses tipos de sítios (Rodet e gens naturais, como os rios, os vales etc.), para,
Rodet 2001). numa segunda etapa, buscar entender como os
Neste artigo apresentaremos a primeira fase da grupos humanos se adaptaram às condições deste
pesquisa, ou seja, a metodologia desenvolvida e os meio ambiente (noção de território, o qual se divide
resultados obtidos a partir da aplicação da mesma. em vários espaços de vida: atividades domésticas,
Em seguida, descreveremos a tipologia de sítios de produção, caça, lugares de passagem etc.).
matéria-prima que decorreu da análise dos resultados As principais questões que guiaram nosso
e, finalmente, as primeiras reflexões obtidas. estudo são: como os grupos ocuparam a bacia;
Destacamos que nossa metodologia tem caráter estariam explorando os compartimentos de maneira
geral, no entanto, ela foi testada na bacia do rio complementar? Se sim, essa ocupação estaria
Peruaçu - afluente da margem esquerda do rio São ligada às estações, ou a fontes de matéria-prima, ou
Francisco (Fig. 1). dependentes de um eixo maior de ocupação humana,
como por exemplo o São Francisco, ou outro?

1- M etodologia Procedimentos metodológicos

Visando entender como as populações pré- Os procedimentos gerais de campo são


históricas teriam utilizado as matérias-primas líticas iniciados no compartimento das nascentes (região
de uma bacia, ou ainda, como elas ocuparam esta morfológica mais uniforme) e aplicados em todos
região, o primeiro passo de nossa metodologia os outros. No entanto, as variações metodológicas,
repousa sobre a análise minuciosa do sistema ligadas a problemas específicos a cada setor
hidrodinámico definido. Ela se desenvolve em trabalhado, serão apresentadas quando necessário.
quatro fase s:
Durante os trabalhos de campo, três objetivos
- a definição do sistema hidrodinámico: onde são fixados:
serão definidos seus limites, seu tamanho, sua
geometria, sua dinâmica climática, seu funciona­ - realização de um corte litoestratigráfico da
mento hidrológico, sua evolução geomorfológica bacia - das cimeiras até a desembocadura;
etc.; - definição de uma tipologia de sítios
- a compartimentação do sistema (Fig. 1): a geomorfológicos da bacia (a partir de prospecções);
partir da identificação de sub-sistemas (nascentes, - mapeamentos - por GPS - de sítios arqueo­
confluências importantes, maciço carbonático, lógicos e geomorfológicos, dentro de cada com par­
embasamento etc.), dentro dos quais certas timento definido.

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geoarqueológicas dentro de u ma bacia (exem plo da bacia do rio Peruaçu, Minas Gerais, Brasil). Re v. do Museu de A rqueo­
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Fig. 1 - Localização da bacia do rio Peruaçu, norte de Minas Gerais, com seus compartimentos geomorfológicos.

Procedimentos gerais para amostragem de faixa intermediária do cerrado e as direções C e D


sítios nos diferentes compartimentos de uma bacia à área marginal de transição (Fig. 2).
- Os pontos são referenciados por quilom etra­
A partir de um ponto 0 (zero), escolhido em gem (4 em 4 e/ou 8 em 8 km); porém, alguns
uma linha de referência, no caso o caminho que pontos são escolhidos por suas potencialidades,
contoma o rio, definimos quatro linhas direcionais por exemplo, ilhas (ocupação histórica), lugares
de 200 m cada, sendo que a direção A corresponde mais elevados protegidos das cheias, grandes
à faixa intermediária das vered as; a direção B à extensões planas.

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Fig. 2 - Prospecções em região sem relevo ou com relevo suave, fa ze r amostragem à


dimensão quilométrica.

- Para as lagoas, a equipe é dividida em dois detalhada, presença ou ausência de vestígios arqueo­
grupos e estas são circundadas: margem de 200 lógicos, informações sobre coleta de amostragem
metros de prospecção em todo seu entorno. e/ou de material arqueológico, perfis topográficos e
- Os pontos plotados por GPS são acompa­ croquis (quando necessário), fotografia.
nhados de uma ficha descritiva com dois níveis de
informações: Ao longo das prospecções, realiza-se levanta­
1) nome do lugar, histórico (por exemplo: mento oral, no intuito de buscar junto à população,
utilização do setor por colonos no princípio do informações sobre a presença de vestígios arqueo­
século, utilização por carvoeiros, por caçadores lógicos (“panela de barro” “curisco”) e presença
etc.), pontos de referência (que podem ajudar a de afloramentos rochosos na região.
retornar ao local), possíveis dificuldades de acesso, Como procedimento final é preciso, a partir da
presença de água, nome de córregos, informações an álise do m apa de p ro sp ecçõ es (m apa
sobre períodos de seca, nível da água etc., geomorfológico contendo todos os pontos
construções atuais (barragens, casas, etc.), prospectados) e das observações de campo,
descrição da vegetação em torno; apontar os pontos potencialmente interessantes para
2) informações detalhadas sobre a natureza da serem sondados. Por exemplo, o entorno de lagoas,
rocha presente, posição (primária, secundária), os velhos terraços, as partes planas etc., são locais
estado de degradação (alteração), descrição que podem ter sido utilizados pelos grupos pré-

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históricos, pelas facilidades de se aproximar da água específica, constituída principalmente de palmeiras


ou da caça etc. Este passo contribuirá, mais tarde, contornadas por grandes extensões de gramíneas.
para a criação do modelo de ocupação. A zona de transição é o setor onde o rio
passa da planície arenosa ao começo da incisão de
Procedimentos específicos para levantamento de um vale, que ao contato dos calcários vai desenvol­
sítios de jazidas de m atérias-primas líticas ver uma grande garganta. Neste setor a vegetação
constitui-se de cerrado e caatinga.
A partir da divisão geomorfológica, iniciamos O compartimento cárstico é constituído de
as prospecções que deverão observar dois casos depósitos calcários nos quais se desenvolve o
possíveis: espetacular carste do Peruaçu. A vegetação que
1) regiões sem relevo ou com relevo discreto: acompanha o rio é a mata ciliar. Sobre o platô
onde não existam pontos de referência do tipo observa-se uma densa vegetação xerófila do tipo
relevo, uma amostragem à dimensão quilométrica é caatinga, além de inúmeras depressões do tipo dolina.
necessária: a cada 5 ou 10 km, traçar eixos A essas três unidades pode-se juntar uma
referenciais (norte/sul e leste/oeste) de 1 km cada e quarta, que se desenvolve em tomo da confluência
prospectar. Para facilitar o trabalho, tomar as do Peruaçu, quando este encontra o vale formado
estradas ou trilhas como eixos referenciais iniciais. pelo São Francisco. Nesta região, de acumulação
sedimentar, a proximidade do lençol freático
2) regiões com relevo: dentro de zonas onde favorece o desenvolvimento da vegetação.
existam mudanças no relevo, amostragem a cada Destacamos que a bacia foi tomada como um
mudança geomorfológica ou litológica: sistema, no qual as divisões geomorfológicas
serviram de base para a criação de sub-sistemas.
- primeiro passo: seguir um relevo (por Apresentamos, a seguir, uma síntese dos resultados
exemplo, maciço calcário), fazer um ponto de obtidos em cada um dos compartimentos visitados.
prospecção a cada 2/4 km com linhas referenciais
norte/sul e leste/oeste; Alto vale ou Cimeiras
segundo passo: no momento que houver
uma modificação, ou do relevo ou da litologia
(mudança calcário/arenito, ou arenito/granito etc.), Iniciamos o trabalho a partir do compartimento
do alto vale, região das nascentes do Peruaçu,
iniciar novos pontos de prospecção. O contato
prospectando às margens esquerda e direita do rio.
entre dois tipos de relevo e/ou rochas deve ser
prospectado minuciosamente. O contato entre dois Este compartimento (830 a 750 m de altitude)
elementos diferentes revela-se lugar privilegiado de caracteriza-se por uma grande extensão de areia,
proveniente de matriz arenítica (arenitos Urucuia),
frequentação (ex. abrigo ao pé de falésia).
com cobertura vegetal do tipo cerrado, entrecortada
por leves declives que formam vales rasos úmidos
de veredas, onde se observa uma grande abundân­
2- Aplicação a uma bacia específica: o rio Peruaçu
cia de coqueiros Buritizeiros e Buritizinhos. Estes
tipos de coqueiros são utilizados pelos grupos
A região do rio Peruaçu situa-se no extremo atuais e pré-históricos da região (presença de fibras
norte de Minas Gerais, aproximadamente 700 km nas escavações e desenhos nas paredes do canion).
de Belo Horizonte, dentro dos municípios de Três zonas foram definidas em tom o do rio:
Januária e Itacarambi (Fig. 1). 1 - o rio Peruaçu segue calmo por águas pantanosas
O rio nasce numa região de veredas e corre e/ou sob grandes filtros de húmus, em meio a grandes
até o São Francisco, de oeste a leste. A bacia, de quantidades de Buritis, Pindaíbas e Buritizinhos; 2 -
aproximadamente 100 km2, cobre três grandes essa zona é cercada por uma faixa intermediária
unidades geomorfológicas, que se sucedem de sazonalmente úmida, onde predominam as quaresmeiras
montante a jusante (Fig. 1): o alto vale é constituído do lado úmido e gramíneas rasteiras do lado seco; 3
de uma grande superfície plana sobre a qual - área seca tipo cerrado. A esta área podemos
observam-se colinas residuais. Onde existe a associar os cupinzeiros que ocorrem em abundância
presença de água, desenvolve-se uma vegetação nesta paisagem (Foto 1).

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Foto 1 - Três zonas definidas em torno do rio no alto vale (cerrado, fa ixa intermediária, veredas).

É importante lembrar os limites da prospecção encontrado, salvo por um pequeno afloramento de


neste compartimento: se por um lado a vegetação de arenito amarelado bastante alterado e por afloramentos
cerrado não se deixa penetrar facilmente, seja por de crosta ferruginosa; além disto, nenhum vestígio
suas árvores pequenas, tortuosas, espinhosas, ou pela arqueológico foi observado; nenhuma informação
presençá de areia em forma de bolsões (armadilhas foi obtida junto à população neste sentido.
dificilmente transponíveis para um carro), por outro No entanto, é preciso lembrar que o grande
lado, o pântano que circunda o rio por quilômetros, limite desta primeira fase de prospecções é a falta
tom a impossível o acesso às suas margens (as de sondagens. Essas não puderam ser feitas pelas
veredas), tanto pela vegetação, como pelos filtros questões clássicas de tempo e autorizações junto aos
de húmus e pela água, como pela presença de órgãos competentes, mas também porque precisáva­
animais, do tipo cobras, sucuris e jacarés. mos ter uma visão global da região, buscando indica­
Assim sendo, os trabalhos de prospecção ções sobre pontos estratégicos, para depois escolher­
ficaram restritos, num primeiro momento, a uma mos os locais de sondagens (esta etapa será feita
faixa intermediária entre as veredas e o cerrado, no no próximo trabalho de campo previsto para 2002).
limite da área de inundação do rio; num segundo Com efeito, não foram encontrados vestígios
momento, prospectamos as lagoas que se encon­ de populações pré-históricas mais recentes, mas é
tram no setor, não só pelas riquezas de peixes e preciso certificar-se sobre as mais antigas. Não
pássaros que elas contêm e que podem ter sido obstante, é necessário lembrar que o setor se
utilizadas pelos grupos humanos, mas também pela caracteriza por recursos naturais frágeis, tais como
proximidade destas com a zona cárstica do rio madeira, fibras, frutos etc., e principalmente pela
Cochá (em torno de 20 km em linha direta). ausência quase total de rochas sólidas. Enfim, a
Apesar da extensão da área prospectada, areia (rocha em desagregação) pode ter servido de
nenhum afloramento importante de rocha foi armadilha deglutindo os vestígios arqueológicos.

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Zona de transição outras)’ ‘velhos buracos às margens do rio’


‘ravinas’, e pesquisa oral junto à população,
Este compartimento é definido como uma zona inclusive na reserva indígena Xacriabá.
de transição entre o alto vale e o canion, iniciándo­ Os primeiros vestígios, a saber cerâmicos,
se nas cotas 715/720 m e term inando a 657 m. foram encontrados neste compartimento (leito seco
Parte da área encontra-se dentro do Parque e em seus velhos terraços, de um afluente, que
Cavernas do Peruaçu e da Reserva Indígena provavelmente funciona durante o período de
Xacriabá (Figs. 1 e 5). chuvas). O material estava acompanhado de rocha
A vegetação do compartimento é um mosaico silicificada não lascada: quartzito rosa, seixos em
entre os tipos caatinga, cerrado (nas partes mais forma de clastos angulosos, feldspato e grãos de
altas, areníticas) e veredas (nas margens do rio), quartzo pouco rolados, que são produtos da
sendo que em tom o das formações calcárias alteração do granito, além de quartzo em blocos
observa-se a presença de bromélias e árvores com (leitoso, hialino fumê e amarelado), evidenciando,
raízes profundas, entrando nas descontinuidades da assim, a presença próxima do embasamento.
rocha. Neste ponto, foram encontrados também
Alguns elementos geológicos e geomorfológicos fragmentos de calcita em forma de travertino,
caracterizam e particularizam este setor; esses se demonstrando setor de precipitação de calcita. De
mostram importantes, pois podem indicar a fato, observamos que o leito tem tanques naturais
presença de jazidas de matéria-prima utilizadas de decantação, os quais podem ter sido utilizados
pelos pré-históricos; são eles: pelos grupos pré-históricos para coleta de argila.
Todavia, os primeiros vestígios arqueológicos
- o rio muda de direção, de SN para WE, in situ, encontram-se um pouco mais a jusante
onde se encontram as primeiras formações (Arraial do Onça): em tom o de afloramentos de
calcárias; “sílex” de boa qualidade (camadas estratificadas de
no mesmo setor, primeiros afloramentos de grãos grossos ejaspóides), de cor amarela e cinza/
silcrete (concentração de sílica substituindo os marrón escuro, resíduos da crosta laterítica, seixos
minerais não silicificados); vale ressaltar que o que rolados, quartzo hialino e arenito silicifícado,
muitas vezes nomeamos na região como sílex é, na encontra-se uma enorme quantidade de material
verdade, o silcrete; lascado. Tanto os blocos de sílex, quanto os de
indicações sobre ocorrência do embasamento arenito e os de quartzo hialino foram utilizados para
pela freqüência de quartzo hialino, proveniente de lascamento (sítio denominado Olha Aqui).
alterações do embasamento (janela geológica); Além desses, quatro outros sítios foram
afloramentos de arenito (vermelho ferruginoso, mapeados: sítio tupiguarani Virgulino, sítio tupiguarani
dentro da reserva indígena), provável contato da Fazenda Arassá (Município de Olhos d ’Água),
Bambui/Urucuia (não parecem ter sido utilizados sítio da Uma (Vargem Grande) e sítio Novinha.
pelos pré-históricos); Destacamos que, se no alto vale não foram
- ocorrência de calcário do tipo cripto carste encontrados vestígios arqueológicos da presença
(forma de bacias demonstrando um paleo-leito do humana, a partir deste setor o quadro é com pleta­
rio, com feições indicando estabilidade do nível da mente diferente, com a presença de vestígios ao
água - nível silicifícado de clastros (reserva longo da zona prospectada: sítio de jazida de
indígena); matéria-prima e de produção lítica, sítio cerâmico,
- primeiras drenagens cársticas (ressurgência sítio de habitação (?).
de águas); A complexidade geológica deste compartimen­
- últimas lagoas temporárias, estas com to deve ter influenciado a ocupação do setor, pois
perdas de água dentro do carste. certos tipos de “sílex” e minerais aí encontrados
não foram ainda observados em outros pontos do
A metodologia de prospecções foi basicamen­ vale, ou seja, a possível janela geológica que
te a mesma utilizada nas cimeiras, ou seja, referên­ permite o afloramento do embasamento, possibilita
cia por quilometragem, por feições geomorfológicas. a ocorrência de quartzo, este utilizado pelos grupos
Neste com partimento as feições são do tipo passados, mesmo que de maneira discreta. Além
‘riacho’ ‘afloramento de rochas (calcário ou disto, o sílex jaspóide amarelado, de boa qualidade

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para lascamento, presente no sítio Olha Aqui, não é constante, desenvolve-se uma mata ciliar (folhas
foi ainda localizado em outros setores. perenes ou parcialmente caducas); nas partes mais
Esta zona de contato entre o alto vale e o altas do carste encontra-se uma mata subcaducifolia,
grande carste, seja pela sua posição estratégica de que se caracteriza por um mosaico de elementos da
proximidade do canion, seja pela riqueza de suas caatinga e do cerrado (árvores, arbustos, ervas e
jazidas de matéria-prima lítica, ou ainda pela sua cipós).
capacidade de conservação de elementos arqueo­ No que se refere ao carste, além da utilização
lógicos, mostrou-se rica em vestígios pré-históricos. de metodologia específica (região com relevo), ou
Os sítios encontrados e/ou visitados foram mapeados seja, seguir as paredes calcárias particularmente
pelo sistema GPS. guiando-se pela presença de abrigos sob rocha,
lugares privilegiados de freqüentação humana,
Compartimento do canion prospectar os setores planos, o que permitirá
localizar os sítios a céu aberto do setor.
Esta metodologia permite evidenciar elementos
O setor, definido a partir do início do interessantes dentro deste compartimento. A título
canion, situa-se entre as cotas 674 e 569/602 m de exem plo, apresentarem os 3 das áreas
e caracteriza-se não só por seu im portante relevo prospectadas.
cárstico (abrigos sob rocha, grutas, grande canion
- 17 km de extensão), mas tam bém pela Área 1: entorno imediato do Sítio Terra Brava
ocupação hum ana constante (mais de 70 sítios (sudoeste): foram definidos os limites das zonas A,
arqueológicos) (Piló 1989, 1997a, b). A B e C, de acordo com suas peculiaridades
freqüentação do com partim ento parece direta­ geomorfológicas, sendo que a zona A refere-se ao
m ente ligada ao carste: os abrigos e entradas morro mais próximo ao rio; a zona B à baixada
de grutas foram sistematicam ente utilizados intermediaria entre as zonas A e C; a zona C
pelos grupos (Prous 1997). corresponde à encosta do morro da casa da
Outro elemento importante na caracterização fazenda (Fig. 3);
do compartimento é a presença de uma cobertura Zona A: solo não compactado, coberto por
de siltito (Nhandituba) e de arenito (Urucuia) sobre uma camada de folhas secas, apresenta algumas
o calcário. áreas de pisoteio de gado. Ocorrência de afloramento
A vegetação deste compartimento pode ser de calcário e blocos de sílex. A face do morro
assim resumida: nas margens do rio onde a umidade voltada para o rio, apresenta declive abrupto com

Fig. 3 - Tres zonas definidas e prospectadas em torno do sitio Terra Brava.

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afloramento de grandes blocos de calcário. No que mesmas características, a saber, afloramento


se refere aos vestígios arqueológicos, observa-se calcário com mesmo tipo de material silicificado,
ocorrência de material cerâmico (cacos cerâmicos utilizado como jazida de matéria-prima. No
sem pintura) e lítico lascado (brecha silicificada). entanto, por uma questão de tempo, esta zona não
Os blocos silicificados encontram-se presos ao foi sistematicamente prospectada.
calcário e apresentam negativos de lascamento,
indicando claramente que o material foi explorado Área 2: pequeno platô com afloramento
como jazida de matéria-prima (um grande número calcário, situado no caminho da gruta do Janelão
de blocos e lascas deste fa ciès de rocha foi (ao sul do Terra Brava): para o setor, foram
encontrado entre os vestígios exumados do Terra definidas duas linhas de referência leste/oeste e
Brava). norte/sul. Foram trabalhados esses alinhamentos,
Zona B: solo arenoso, com pouca vegetação, abrindo a área de prospecção por quadrantes
possível paleo canal de um afluente do rio Peruaçu. sudeste, sudoeste, nordeste e noroeste, abrangen­
Não há indícios de material arqueológico. do, assim, todo o platô.
Zona C: apresenta as mesmas características Sobre a área prospectada, observaram-se
da Zona A, ou seja, encosta de morro com vestígios históricos (vidros, tijolos, amianto,
afloramento calcário, no entanto, não foi encontra­ borracha etc.). Por outro lado, somente nos
do material arqueológico. quadrantes SE (e em sua área periférica) e NE,
Não obstante, a oeste deste setor (em frente à foram encontrados vestígios arqueológicos (frag­
sede da fazenda), existe outra pequena elevação, mentos cerâmicos e líricos, esparsos e um machado
próxima ao paleo leito de um afluente, com as polido) (Fig. 4).

Fig. 4 - Prospecção seguindo linhas referências norte/sul e leste/oeste.

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Área 3: o setor do Boqueirão. Apresenta duas paleoterraço, na margem côncava da curva do rio.
especificidades: a primeira, a proximidade com o sítio Esta margem está exposta à erosão dinâmica do rio
do Abrigo do Malhador (algumas centenas de metros); que vem bater diretamente contra a parede da falésia
a segunda, a presença de sílex de boa qualidade. constituída de elementos finos do terraço aluvial.
A “passagem”, provavelmente ruínas de uma Estes elementos são levados pela água e, como
antiga caverna, foi aberta para construção da resultado, temos uma evolução de abatimentos
estrada atual. A oeste da passagem, subindo morro entrando cada vez mais no terraço e deixando a falésia
abrupto, encontra-se jazida importante de blocos cada vez mais abrupta. Em conseqüência, grande
de sílex de boa qualidade para lascamento. parte dos vestígios arqueológicos desapareceu.
Outro ponto digno de nota neste setor, são os
blocos achatados (tamanho médio, aproximadamente
15 cm) de sílex preto homogêneo com granulometria
fina, aptos para o lascamento, incrustados dentro do 3- Tratamento dos dados : tipologia de sítios
maciço calcário. Este fenômeno é observado também de matéria-prima
nas paredes calcárias de outros setores (Arco do
André, Vale dos Sonhos). Esses blocos podem ter
servido como suporte para a indústria lítica. Para dar continuidade ao objetivo de entender
a dinâmica da ocupação antrópica de uma bacia,
faz-se necessário definir os elementos que ilustram
Compartimento da planície aluvial a condição geomorfológica da paisagem estudada.
O conjunto destas análises permitiu-nos estabelecer
uma tipologia de sítios de matéria-prima que foram
Entre as cotas 500-440 m, quando o Peruaçu indiscutivelmente utilizados, ou que, potencialmente,
entra no grande vale carstificado do São Francisco (em podem ter sido utilizados pelos grupos passados.
tomo de 30 km de largura), observa-se um relevo de
topografia suave com presença de dolinas que podem Elaboração de uma tipologia
transformar-se em lagos sazonais (Piló e Kohler 1992).
Em alguns pontos observam-se relíquias do maciço
calcário (morro de Belo Monte, morro de Itacarambi). Esta tipologia não é somente geomorfológica,
A mata ciliar, atualmente bastante devastada mas tem uma significação especifica à medida que
no setor, constituiu-se, provavelmente, de árvores indica a qualidade das jazidas de matéria-prima.
de porte médio a grande, favorecidas pela proximi­ Foram definidos os seguintes elem entos:
dade do lençol freático.
No que diz respeito à metodologia, alguns Terraços do rio Peruaçu: o rio Peruaçu é o
procedimentos específicos devem ser adotados; eixo maior de drenagem da área de estudo. Em
prospectar: função de sua capacidade hidrodinámica, ele
transportou importantes quantidades de material
1) os morros residuais (região com relevo); recolhido em seu percurso, especificamente na
2) as depressões (dolinas); forma de seixos. A evolução geomorfológica
3) os velhos terraços (cascalheiras); permitiu a instalação de terraços de idades varia­
4) às margens dos rios (em barco, observando das, mais ou menos suspensos acima do curso
o corte) - erosão atual. atual, o qual tem também seu próprio terraço.
Esses terraços são importantes fontes de matéria-
Os sítios conhecidos e descobertos (sítio prima. Como exemplo, podem os citar os
Abrigo do Santana) foram plotados por GPS. paleoterraços que se encontram na margem direita
A título de ilustração, ressaltamos que, de acordo do rio (compartimento do canion), a aproximada­
com observações feitas sobre o terreno, o sítio mente 1 km da sede antiga da fazenda Terra Brava,
cerâmico ‘Russinhos’ (Koole e Prous 2000), que se no lugar denominado ‘Sítio Porquinhos’. Neste
encontra atualmente na borda da falésia do rio São local, encontram-se blocos de sílex de grãos
Francisco (em torno de 10 m de altura), esteve em grossos a médios, brechas silicificadas em grandes
uma outra paisagem. O sítio desenvolve-se no blocos, assim como pequenos seixos de arenito.

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RODET, M.J.; RODET, J.; NASCIMENTO, S.A.; MARIANO, D.F.; HUGUET, Y.; SILVA, J.R. Metodologia de prospecções
geoarqueológicas dentro de u ma bacia (exem plo da bacia do rio Peruaçu, Minas Gerais, Brasil). Rev. do Museu de A rqueo­
logia e Etnologia, São Paulo, 12: 25-41, 2002.

Outro exemplo, as cascalheiras do Fabião II e utilizados pelos pré-históricos. De acordo com nossas
Fabião I (planície aluvial). Como exemplo atual, observações, blocos de sílex de granulometria variada
podemos citar as cascalheiras aluviais do rio, que fazem parte desses preenchimentos e foram utilizados
formam pequenas ilhas temporárias. Nesses locais pelos grupos. O ‘Abrigo do Pim po’ (em frente ao
encontra-se um a infinidade de rochas aptas ao ‘Abrigo do Boquete’) ilustra bem nosso exemplo: dentro
lascamento. Hoje podemos observar uma ilustração dos velhos preenchimentos do abrigo encontram-se
deste tipo, dentro do rio Peruaçu, próximo à blocos de sílex a grãos finos, médios e grossos.
bomba de água da antiga sede da fazenda Terra Remarca-se não somente o buraco de onde foram
Brava (sudeste da escavação do Sítio Terra Brava). extraídos os blocos dentro do preenchimento, mas
também alguns blocos no chão, sobre os quais existem
A brigos sob rocha e pés de falésia: a base negativos de lascamento. Um segundo exemplo são
das falésias cársticas e, em particular, os abrigos os preenchimentos do Abrigo do Malhador (sudeste do
sob rochas, são sítios onde se acumulam os abrigo), onde podem ainda ser observados pequenos
materiais que caem do maciço calcário ou de sua blocos de süex a grãos finos a médios dentro dos velhos
cobertura. As vezes, esses depósitos são antigos e depósitos. Sua presença, mesmo que discreta, indica
cimentados. A variedade mineral depende, uma possibilidade de fonte de matéria-prima dentro
fundamentalmente, da qualidade mineralógica do de um local utilizado pelos grupos.
meio ambiente. Como exemplo, citamos os blocos
de matéria silicosa a grãos médios encontrados em Terraços fluvio-cársticos das galerias túneis:
torno do abrigo do ‘Pim po’ (pés de falésia e os mega-condutos, atualmente percorridos pela água,
abrigos), que são aptos ao lascamento. oferecem preenchimentos parciais, de idades variadas,
com elementos minerais interessantes, dentro da
Vales secundários e ravinas: são os entalhes perspectiva arqueológica. Observamos, particular­
que ligam as superfícies residuais dos platôs mente, os terraços de grandes seixos, parcialmente
calcários ao vale atual do rio Peruaçu. São os eixos retomados pela erosão atual. Exemplo, a entrada
superficiais preferenciais de drenagem dos platôs e da gruta do janelão, na margem esquerda do rio.
em conseqüência zonas de concentração de
materiais provenientes da cobertura. Para ilustrar, Superfície cárstica dos platôs: a superfície
podemos citar alguns exemplos de blocos que se carstificada dos platôs calcários, ou seja o exocarste,
encontram em posição secundária, graças aos vales oferece uma multidão de pequenas armadilhas
e ravinamentos: sobre a estrada que leva ao Judas, (como os lapiés), que conservam os elementos das
nota-se a presença de calcário dolomítico; em coberturas com, particularmente, elementos
baixo do desfiladeiro do ‘Boqueirão’ encontram-se grosseiros (grandes blocos) que podem ter sido
blocos de sílex de boa qualidade para lascamento. utilizados como fonte de matéria-prima. No
Podemos citar, ainda, as ravinas em tomo do ‘Sítio caminho do sítio do Judas, o lugar denominado
Desenhos’, onde existe a variedade de sílex cinza ‘Sítio Guarapari 2 ’, um sílex de cor preta, grão fino,
(granulometria fina, homogêneo), incrustado sob em forma de lentes, é visível entre as camadas
forma de lâminas dentro dos blocos abatidos de calcárias. Este süex, a granulometria muito fina, é
calcário, que caíram dentro da ravina. Ou ainda, as de qualidade medíocre para o lascamento pois é
ravinas presentes na margem esquerda do Peruaçu, recortado de diáclases. No entanto, encontra-se
próximo ao ‘Sítio Porquinhos’ onde se encontram süex deste tipo entre os vestígios antrópicos
grandes blocos (decimétricos) de brecha silicificada. exumados do Terra Brava. A particularidade deste
exemplo é indicar uma jazida de matéria-prima in
A ntigos preenchim entos de cavernas: as situ (a grande maioria das rochas silicosas do
cavernas, e mais especificamente os paleocoletores, Peruaçu encontra-se em posição secundária).
conheceram fases diferentes de preenchimento parcial,
às vezes total, de suas galerias. Esses preenchimentos Dolinas e depressões: dentro das superfícies
conheceram fases de litificação, permitindo sua carstificadas dos platôs, podem-se observar acidentes
conservação, mesmo quando a erosão destruiu de grande dimensão: as depressões e dolinas de
parcialmente a galeria. Nesses preenchimentos, diversas origens. Estes acidentes são grandes
encontram-se vários elementos minerais, às vezes armadilhas para a cobertura.

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geoarqueológicas dentro de urna bacia (exemplo da bacia do rio Peruaçu, Minas Gerais, Brasil). Rev. do Museu de Arqueolo­
gia e Etnologia, São Paulo, 12: 25-41, 2002.

Resíduos da antiga cobertura dos calcários: há pedras neste compartimento, pelo menos não há
nas partes mais tabulares dos platôs calcários, abundância de pedras. As cimeiras têm uma riqueza
observam-se resíduos, às vezes importantes, da de material orgânico, seja do tipo madeira, fibras,
antiga cobertura (Nhandituba e Urucuia). Estes sítios ossos, dentes e chifres de animais etc., mas as
foram freqüentados pelos grupos, como comprovam rochas são raríssimas na região. Feita esta
os testemunhos encontrados na região do Judas. constatação, podemos discorrer sobre nossas
Estes setores estão em curso de erosão ativa, em hipóteses.
função de sua posição topográfica no cimo dos A primeira questão colocada diz respeito à
maciços. São particularmente ameaçados pela erosão possibilidade ou não da região ter sido freqüentada:
atual. Estes foram lugares de grande exploração de acreditamos que a região tenha sido freqüentada,
matéria-prima no vale do rio Peruaçu. Vários tipos de pois não há nenhum limite físico, do tipo geológico
minerais lascados, tais como, arenito, süex a grão fino, por exemplo, que impeça os grupos de chegarem à
calcedonia, quartzo e brechas a banho de sílica, área. Além disto, os pré-históricos deixaram
podem ser observados. Também, subindo em direção marcas de suas presenças em todo o entorno desta
à sede nova da fazenda Terra Brava, observam-se região, lá onde os vestígios puderam ser conserva­
sobre a estrada, blocos de arenito silicificado, dos (seja nas partes jusantes do rio, ou nos
encastrado dentro de terrenos arenosos avermelhados. maciços calcários da Serra dos Tropeiros - norte
Zonas dissecadas dentro das alterações do desta zona), o que comprova uma certa liberdade
embasamento: a paisagem constitui-se por um da ocupação humana no vale do rio Peruaçu e nas
relevo de colinas entrecortadas por ravinas. Esse áreas vizinhas.
relevo residual desenvolve-se dentro das alterações Lembramos ainda que, no compartimento do
superficiais do embasamento granítico-gnaissico. canion, existem pinturas rupestres que são interpre­
Estas formas são resultantes da ação das águas de tadas como sendo coqueiros Buritizeiros (portanto
chuva. Como esta região desenvolve-se dentro da vegetação de veredas), além da presença, mesmo
alteração do embasamento, evidentemente encon- que rara, de plumas de grandes papagaios que
tram-se no setor, minerais de constituição do fazem seus ninhos nesses coqueiros; estes elemen­
embasamento (quartzo em forma de geodos, por tos vêm reforçar nossa idéia. Não obstante, é
exemplo). Como exemplo, citamos a região em tomo preciso lembrar que as ’veredas’ não se encontram
do arraial do Onça, onde se situa o sítio Olha Aqui. somente nas cimeiras, mas ocupam toda a zona de
transição, chegando até quase a entrada do grande
Esta abordagem tipológica perm ite melhor canion.
entender a evolução geom orfológica da região Um último ponto pode ser levantado para
cárstica e assim suas incidências sobre a apoiar nossa hipótese, ou seja, que o meio ambien­
possível repartição da m atéria-prim a na área de te do setor é particularmente belo com possibilida­
estudo. Em particular, ela sublinha a relativa des de recursos importantes, do tipo água, peixes,
liberdade de im plantação hum ana entre a zona mamíferos de porte médio, conchas, madeiras,
de transição e a planície aluvial, em função da ervas, entre outros, o que poderia ter levado os
distribuição potencial de m atéria-prim a indis­ grupos pré-históricos a freqüentarem a área.
pensável (Fig. 5). Podemos ir um pouco mais longe nas nossas
reflexões. Então, dois pontos são importantes para
Recursos naturais e ocupação humana: discussão serem discutidos: o primeiro, se o material utilizado
for orgânico, dificilmente teremos conservação; o
segundo, se a ocupação não for sistemática,
Terminada a fase dos trabalhos de campo e dificilmente poderemos localizar os sítios.
das análises dos dados obtidos, algumas reflexões E possível imaginar que os grupos, que por aí
parecem-nos incontomáveis. Uma delas refere-se passaram, tenham utilizado muito mais utensílios de
ao compartimento do 'Alto Vale’, um grande vazio madeiras, ossos, fibras etc., que estes não foram
arqueológico. conservados por uma questão de biodegradação
Algumas idéias podem ser consideradas. Antes do material (acidez do solo), e, portanto, não
de examiná-las, é preciso fazer uma constatação, podemos encontrar tais vestígios, pois eles não
que pode parecer evidente, mas fundamental: não existem mais.

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geoarqueológicas dentro de u ma bacia (exem plo da bacia do rio Peruaçu, Minas Gerais, Brasil). Re v. do Museu de A rqueo­
logia e Etnologia, São Paulo, 12: 25-41, 2002.

Pontos de prospecção (GPS-LMK): 1-Margem do rio Peruaçu (527949e/8346778n), 2-Nascente do Peruaçu (531934e/83399487n),
3-Confluência (535471 e/8350485n), 4-Lagoa dos Patos (528800e/8353187n), 5-Ilha do Bião (536647e/8350674n), 6-Limite do
parque (538667e/8332183n), 7-Afloramento arenito (547352e/8335397n), 8-Cripto carste (551907e/8346068n), 9-Afloramento silcrete
(551708e/8346224n), 10-Alfloramento calcário (551702e/8346317n), 11-Arenito (561495e/8344723n), 12- Silcrete (560021e/8344541n),
13-Silexito vermelho (562473e/8341969n), 14- Sítio Olha Aqui (565776e/8342936n),15-Exurgência (57271 le/8336102n), 16-Sítio
Novinha (575735e/8333664n), 17-Sítio Terra Brava, 18-Sítio Bichos (581157e/6326508n), 19-Sítio Malhador (581163e/8326909n).

Fig. 5 - Exemplo de pontos plotados em prospecção (software Maplnfo), com limites dos parques da
bacia do rio Peruaçu (APA Cavernas do Peruaçu).

Outra possibilidade é que a região tenha sido freqüentaram o vale - as quais teriam deixado
visitada como terreno de caça. Neste caso, é possível vestígios superficiais - , mas sim por grupos mais
que as visitas tenham sido discretas, não havendo antigos e neste caso encontraremos vestígios em
assim uma ocupação sistemática, o que corresponde estratigrafia, daí a necessidade de sondagens. De
bem à ausência de vestígios arqueológicos. acordo com nossas análises, alguns pontos seriam
Enfim, é possível que simplesmente não tenhamos potencialmente privilegiados e merecem sondagens
encontrado os vestígios, pois nossas prospecções teste: as lagoas e as zonas planas em seu entomo.
não abrangeram o terreno de maneira suficiente. Estes setores são importantes não só pela riqueza
Durante nossos trabalhos acreditamos que as de peixes e moluscos que elas contêm, mas
ocupações deste compartimento teriam a mesma também pela facilidade de se aproximar da água.
lógica dos outros compartimentos, ou seja, uma Vale lembrar que ainda hoje mamíferos de porte
ocupação ligada à água (rio e lagoas). Porém, é médio vêm beber água nestes setores (haja vista as
possível que a lógica da ocupação neste setor seja dificuldades já citadas de acessar ao rio Peruaçu).
diferente, infelizmente não a compreendemos ainda. Vale ressaltar aqui que, num período mais úmido, o
Abordamos uma vez mais o problema da falta diâmetro das lagoas pode ter sido maior, daí o
de sondagens. E possível que o terreno não tenha interesse de prospecções e sondagens nos arredo­
sido utilizado pelas últimas populações que res planos às margens atuais.

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geoarqueológicas dentro de urna bacia (exemplo da bacia do rio Peruaçu, Minas Gerais, Brasil). Rev. do Museu de Arqueolo­
gia e Etnologia, São Paulo, 12: 25-41, 2002.

Este primeiro trabalho de prospecção sistemá­ presença de certas matérias-primas encontradas nas
tica ao longo de uma bacia, mesmo se ainda escavações do compartimento do canion, tais como
restrito, permite o início de uma visão de conjunto. quartzo hialino ou sílex jaspóide amarelo, provavel­
Acreditamos que um dos méritos desta análise mente provenientes de outros compartimentos.
provém de sua equipe pluridisciplinar, que discutiu Enfim, o conjunto destes elementos deixa
os dados obtidos nas perspectivas geológicas, supor que os grupos não foram limitados pelo
geomorfológicas e arqueológicas, buscando sistema geomorfológico, ao contrário eles podem
sempre cruzar estes três domínios da ciência. ter passado por todo o vale. Como a areia presente
Esta experiência permite reforçar algumas nas cimeiras pode ser um limite para a observação
reflexões: colocando de lado todos os limites deste dos vestígios de superfície, a realização de sonda­
trabalho e dando importância aos dados obtidos, gens na região é um ponto fundamental para o
podemos pensar que a ocupação humana sistemáti­ avanço da compreensão da ocupação da região
ca do vale do rio Peruaçu está ligada à água, como pelas populações pré-históricas.
já sabíamos, mas também ao calcário e à presença
de matéria silicosa, ou seja uma ligação “grupos
humanos x rocha”
Esta hipótese pode ser emitida graças à Conclusão
observação da presença sistemática de vestígios
arqueológicos estar sempre ligada à presença de
afloramentos de rochas silicificadas, assim como à Ressaltamos os principais pontos de nossa
proximidade de relevo cárstico. pesquisa: desenvolvimento de uma metodologia
Estariam os grupos ocupando por longos baseada em uma análise morfogenética da paisa­
períodos regiões onde poderiam se abastecer gem, que permite prospecções e localização de
facilmente de lítico? ou estariam os vestígios ligados sítios arqueológicos situados em ‘campo aberto’ e
a um problema de conservação? ou em 'região com relevo’
De fato, parece-nos ainda cedo para fazermos Esta análise, baseada na compreensão da
afirmações sobre o alto vale (é preciso um trabalho evolução geomorfológica de uma dada bacia,
de sondagens), no entanto, sua proximidade com o permite não só a criação de uma tipologia de sítios
maciço da Serra dos Tropeiros faz pensar que a de jazidas de matérias-primas líticas, potencialmen­
freqüentação na região poderia estar ligada não só te utilizadas por grupos pré-históricos, mas também
às populações do rio Peruaçu, mas também às o conhecimento dos limites da ocupação pré-
populações do rio Cocha (distante de 20 km), histórica do setor (limites geomorfológicos da
outra região cárstica rica em vestígios arqueológi­ ocupação), assim como áreas mais utilizadas.
cos (ainda mal conhecidos). Estariam os grupos Após esta primeira etapa, é preciso, num
utilizando o setor como território de caça? Caso segundo momento, fazer sondagens nos comparti­
estas incursões tenham sido periódicas, dificilmente mentos, para verificar se existiu ocupação nos
encontraremos os vestígios. níveis mais profundos. A partir dessas sondagens e
Na verdade, os grupos que ocuparam a da análise da localização dos sítios ao longo da
região, tinham um amplo conhecimento de seu bacia (recursos líticos e biológicos), criar um
território, pelo menos é o que parece demonstrar a modelo da ocupação humana para a região.

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RODET, M.J.; RODET, J.; NASCIMENTO, S.A.; MARIANO, D.F.; HUGUET, Y.; SILVA, J.R. Metodologia de prospecções
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ABSTRACT: Knowledge about the prehistoric occupancy of a region depends


obviously on the method of data acquisition based on a systematic methodology. The
recent introduction of the multidisciplinary approach in modem studies allows the
elaboration of a systemic methodology of location of the archeological sites, based on
the basic geomorphological unit, the hydrographical basin. The methodology elaborated
and developed in the Rio Perua§u basin, in northern Minas Gerais, area studied since
1980, is founded on the morphogenesis and evolution of the landscape. Its goal is to
help the understanding of the human colonization of a definite geomorphological unity.

UNITERMS : Methodology - Prospection - Landscape - Basin - Geomorphology -


Archaeology - Geoarchaeology - Multidisciplinary approach.

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