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“Seguramente agora quase todos vêem que os bolcheviques não teriam se mantido no
poder, não digo dois anos e meio, mas nem sequer dois meses e meio, sem a disciplina
rigorosíssima, verdadeiramente férrea, no nosso partido, sem o apoio mais completo e
abnegado a ele por toda a massa da classe operária, isto é, por tudo o que ela possui de
consciente, honrado, influente, capaz de atrair as camadas atrasadas. (…) Mas como se
mantém essa disciplina no partido revolucionário do proletariado? Primeiro, pela consciência
da vanguarda proletária e pela sua dedicação à revolução, pela sua firmeza, pelo seu espírito
de sacrifício, pelo seu heroísmo.” (Lênin, O esquerdismo, doença infantil do comunismo).
Portanto, sem uma disciplina rigorosíssima do partido e sem o apoio incondicional de toda a
massa, não é possível a vitória da revolução.
Um dos obstáculos para alcançar essa disciplina férrea no partido é, sem dúvida, o
individualismo. Afinal, o Partido Comunista precisa ser construído no interior de uma
sociedade burguesa cujo princípio moral é “Primeiro cuida de ti, para depois pensar nos
outros”.
Variadas são as formas, tais como filmes, novelas, canções, revistas e jornais, escolas e
universidades, que a burguesia utiliza para propagandear essa sua moral. Por isso, é comum
vermos reportagens na TV destacando pessoas que colocaram seus projetos pessoais
acima de qualquer coisa e que “venceram na vida e hoje vivem felizes”. Não importa quantos
ficaram infelizes para que isso acontecesse ou quantos trabalhadores ficaram
desempregados, o que interessa é que aquela pessoa conseguiu seu objetivo: ficou rica! Ser
feliz é sinônimo de ter muito dinheiro e de poder comprar o que quiser, inclusive, o amor.
O culto ao individualismo
Também, para melhor cooptar para sua ideologia, a burguesia e seus porta-vozes promovem
a exaltação do individualismo com afirmações como “o projeto pessoal é a coisa mais
importante da vida de uma pessoa” e “os desejos e a vontade individual são sempre mais
importantes que qualquer anseio coletivo”.
Mas seria possível alguém existir no mundo, se a sociedade não existisse? Como seria a
vida desse ser humano se a humanidade não tivesse trabalhado coletivamente e milhões e
milhões de pessoas não tivessem lutado e muitas doado suas vidas para que esse “eu”, ou
seja, essa pessoa, continuasse existindo?
Que tipo de felicidade é possível quando se sabe que a cada três segundos uma criança
morre de fome no mundo, bilhões de indivíduos vivem privados de água e de trabalho e os
“donos do mundo” diariamente promovem guerras e assassinam centenas de pessoas?
A essas perguntas, a burguesia responde com os versos da canção Epitáfio de Sérgio Brito,
gravada pela banda Titãs: “Queria ter aceitado / A vida como ela é/ A cada um cabe alegrias/
E a tristeza que vier… O acaso vai me proteger/ Enquanto eu andar distraído/ O acaso vai
me proteger/ Enquanto eu andar…”.
Em outras palavras, as tristezas virão de todo jeito, não importa se o homem luta ou não.
Então, posso só pensar em mim, ser egoísta, e dormir tranquilo.
Levantam, assim, a bandeira da “liberdade”, mas não a da liberdade dos explorados, e sim
a liberdade dos ricos explorarem os pobres e dos poderosos massacrarem os trabalhadores.
A nova moral
Outra importante revolução socialista vitoriosa foi a revolução vietnamita, dirigida por Ho Chi
Minh e pelo Partido Comunista do Vietnam.
Tio Ho, como era carinhosamente chamado pelo povo vietnamita, morreu no dia 3 de
setembro de 1969, portanto, há quarenta anos, mas deixou vários artigos escritos sobre a
necessidade de se imprimir um duro combate ao individualismo para o triunfo da revolução.
Vejamos o que Ho Chi Minh escreveu em seu artigo A Nova Moralidade:
Não é raro vermos companheiros dominados por esse individualismo. De repente, passam
a se considerar tão bons que teorizam que o mais importante não é o partido, mas eles
próprios. Quando criticados, lançam um ultimatum ao partido ou ao coletivo de que
participam. Não importa se cometeram erros graves ou não, têm a certeza de que qualquer
outro erraria mais, assim, merecem elogios.
Vaidosos, querem ser aplaudidos a todo instante e são contaminados por uma preguiça que
os impede de estudar e de se perguntar o que podem aprender com os demais
companheiros.
Muitas vezes se apresentam maravilhados de si mesmo e superiores a todos os camaradas.
Uma vez ou outra dizem que ainda têm muito que aprender, mas o que pensam mesmo é
que sabem mais que todos os membros do partido juntos.
Alguns desses camaradas chegam ao ponto de recusarem ir às reuniões, pois sabem que o
coletivo irá discutir seus erros e criticar suas atitudes. Querem logo passar uma borracha e
seguir adiante como se nada tivesse acontecido. Dizem para si próprios que na hora que
quiserem não errarão mais, portanto, não é com eles que o coletivo deve-se ocupar.
É claro que, pouco a pouco, esse comportamento vai afastando esses companheiros do
partido, uma vez que eles não se sentem mais obrigados a cumprir as decisões do coletivo
e crêem que sozinhos podem encontrar soluções melhores que as adotadas coletivamente
Esse comportamento individualista trabalha silenciosamente para debilitar a unidade do
partido e é incompatível com a moral revolucionária.
Na verdade, a luta contra o individualismo é uma das principais lutas ideológicas que o
partido necessita travar no seu interior. Nesse embate, ele se desenvolve, aprofunda sua
coesão e avança sua consciência revolucionária. Por isso mesmo, o partido não pode abrir
mão de exigir dos seus membros a disciplina, a honestidade e a dedicação sem vacilação à
causa revolucionária.
Porém, como adverte Ho Chi Minh, vivendo numa sociedade burguesa ninguém tem
completa imunidade e “o individualismo espera a ocasião propícia para desenvolver-se”;
logo, é indispensável que todos os militantes se mantenham vigilantes e dispostos a
combater em si e em qualquer companheiro, o individualismo. Pois, só trilhando esse
caminho revolucionário, construiremos um partido capaz de derrotar a ideologia burguesa e
seus fundamentos econômicos e construir uma sociedade fraterna e verdadeiramente feliz.
Dito de outro modo, sem vencer o individualismo e a moral burguesa, o partido não é capaz
de comandar o projeto coletivo de transformação social, isto é, realizar a revolução socialista.