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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 9

18/11/2016 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 696.770 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


AGTE.(S) : NILSON SCHMIDT
ADV.(A/S) : MANOEL DEODORO DA SILVEIRA
AGDO.(A/S) : ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. INTERPOSIÇÃO EM 08.8.2014.
ATIVIDADE NOTARIAL E DE REGISTRO. ESTABILIDADE. ART. 19 DO
ADCT. IMPOSSIBILIDADE. JURISPRUDÊNCIA DO STF.
1. Os auxiliares de cartório, os escreventes juramentados e os oficiais
substitutos não fazem jus à concessão da estabilidade prevista no art. 19,
ADCT, uma vez que não se caracterizam como servidores públicos em
sentido estrito. Precedente.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da


Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, em sessão virtual, de 11 a
17 de novembro de 2016, sob a Presidência do Senhor Ministro Luís
Roberto Barroso, na conformidade da ata de julgamento e das notas
taquigráficas, por unanimidade de votos, em negar provimento ao agravo
regimental, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 18 de novembro de 2016.

Ministro EDSON FACHIN


Relator

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
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AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 696.770 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


AGTE.(S) : NILSON SCHMIDT
ADV.(A/S) : MANOEL DEODORO DA SILVEIRA
AGDO.(A/S) : ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR): Trata-se de agravo


regimental, interposto em 08.08.2014, em face de decisão em que o Min.
Ricardo Lewandowski, então relator, negou seguimento ao agravo, nos
seguintes termos (eDOC 20):

“Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão


assim ementado:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. CARTÓRIO
JUDICIAL. ESTABILIDADE. ARTIGO 19 DO ADCT DA
CF/88. Violação do artigo 19 do ADCT da Constituição Federal
aparentemente demonstrada. Agravo de instrumento provido,
para determinar o processamento do recurso de revista.
RECURSO DE REVISTA. CARTÓRIO JUDICIAL.
ESTABILIDADE. ARTIGO 19 DO ADCT DA CF/88. ‘In
casu’, o reclamante foi admitido no cartório judicial em
17/01/1978. Em 30/12/1986 houve a estatização do citado
cartório. Investigando-se a normatização da época, verifica-se
que a própria Constituição de 1967 dispunha de normas
estatutárias aplicáveis aos serviços cartorários. Assim, mesmo
que as serventias fossem regidas pelo direito privado (CLT), elas

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se submetiam a algumas normas de cunho publicista,


demonstrando o caráter híbrido adotado em tal período. Em
essência, o artigo 236 da Constituição não altera a natureza da
função cartorária (personalidade jurídica de direito público),
posto que modifiquem, ou se estendam ao serventuário, apenas
as regras de cunho privatístico aplicadas especificamente ao
empregado. Precedentes do STF e do TST sinalizam que não
importa, enfim, qual o regime de trabalho, se celetista ou
estatutário, para a aquisição da estabilidade prevista no artigo
19 do ADCT. Interessam, para esse efeito, de serviço
essencialmente público e o caráter público do órgão em cujo
âmbito se o realiza. Portanto, considerando-se o ordenamento
jurídico do referido período contratual e a natureza jurídica do
cartório (personalidade jurídica de direito público), amparasse o
direito do reclamante à estabilidade prevista no artigo 19 do
ADCT da Constituição Federal. Recurso de revista conhecido e
provido” (páginas 1-2 do documento eletrônico 8).
Neste RE, fundado no art. 102, III, a, da Constituição, alega-se
contrariedade ao art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias – ADCT.
Argumenta que “os empregados de Cartório admitidos por
vínculo celetista em período anterior à Constituição da República, que
nunca receberam remuneração dos cofres públicos, não fazem jus à
estabilidade prevista na norma do art. 19 do ADCT” (página 10 do
documento eletrônico 10).
A pretensão recursal merece acolhida.
Consta do voto do Ministro Relator do acórdão recorrido:
“O Tribunal Regional afastou a aplicação do artigo 19 do
ADCT a partir do esboço fático da maneira que segue: a) o
reclamante foi admitido no cartório judicial em 17/01/1978; b)
em 30/12/1986 o cartório judicial passou a pertencer ao Estado,
não mais possuindo natureza privada.
Em realidade, o caso vertente exige uma análise
sistemática da normatização vigente ao período de prestação de
serviços conjugada com as normas atuais.
O artigo 19 do ADCT da Constituição Federal de 1998

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dispõe que: (...).


À época da contratação do empregado no cartório até a
mudança de regime vigorava a Constituição Federal de 1967
(com alterações das Emendas Constitucionais nº 1/69 e
posteriores).
A Emenda Constitucional 22, de 22/06/1982, acrescentou
novos comandos nas suas Disposições Gerais e Transitórias, a
exemplo do regramento inserto no artigo 207. Eis os seus
termos: (...).
Ademais, o artigo 236 da atual Constituição Federal veio
corroborar as regras adotadas antes da sua promulgação da
forma como segue: (...).
Infere-se que qualquer atividade prestada por delegação,
em cartório extrajudicial, era pública.
No entanto, ressalte-se que, em essência, a natureza da
função cartorária fica inalterada (personalidade jurídica de
direito público); porém, modificam-se apenas as normas
alimentares de cunho privatístico aplicadas especificamente ao
empregado público. Assim, muito embora se adote o regime
jurídico de direito privado (CLT), não desnatura a natureza
pública do cartório. Nesse sentido, já se posicionou a Suprema
Corte Federal: (...).
Os serventuários se submetiam às normas estatutárias,
mesmo que a contraprestação pelos serviços prestados não fosse
advinda do Estado e as estipulações normativas relacionadas aos
direitos e obrigações do empregado tivessem amparo no direito
privado (CLT), como se mostra o presente caso. Isso porque,
além da forma de provimento de serventia extrajudicial obedecer
à regra do concurso público, diversas normas
infraconstitucionais criaram vantagens híbridas aos
serventuários de cartórios não oficializados, as quais vigoraram
até a promulgação da atual Constituição Federal.
Dessa forma, os direitos inerentes ao servidor público do
Poder Judiciário foram estendidos aos serventuários de cartórios
não oficializados, a exemplo da estabilidade prevista no artigo 19
do ADCT da atual Constituição Federal.

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Entretanto, hoje, aplica-se integralmente a legislação


trabalhista aos servidores de cartórios notariais, ressalvada a
hipótese daqueles que adquiriram a estabilidade no emprego e as
vantagens incorporadas ao seu patrimônio (artigos 32 do ADCT
da Constituição Federal; 48 e 51 da 8.935/94).
(…)
Assim sendo, mesmo que esteja consignado no acórdão
regional que desde a sua contratação em 17/01/1978 até 1986 o
empregado estava submetido ao comando celetista, isso, por si
só, não afasta o seu direito à obtenção da estabilidade adquirida
com os cinco anos de serviços prestados ao cartório, pois este
possui natureza pública.
Não importa, enfim, qual o regime de trabalho, se celetista
ou estatutário, para a aquisição da estabilidade prevista no
artigo 19 do ADCT. Interessam, para esse efeito, somente a
realização de serviço essencialmente público e o caráter público
do órgão em cujo âmbito se o realiza.
Em conclusão, considerando-se que o reclamante, quando
editada a Constituição, já trabalhava há mais de cinco anos
prestando serviços notariais, houve o implemento do requisito
temporal, o que possibilita o deferimento do direito à estabilidade
sob exame. Portanto, restou violada a disposição contida no
artigo 19 do ADCT da Constituição Federal de 1988” (páginas
5-9 do documento eletrônico 8).
O acórdão recorrido destoa da jurisprudência deste Supremo
Tribunal, que assentou não possuir direito à estabilidade do art. 19 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT os
escreventes juramentados e demais serventuários de cartórios
extrajudiciais contratados pelo regime celetista, como se dá na espécie,
pois não se enquadram na categoria de servidores públicos
estatutários. Nesse sentido, destaco o seguinte precedente:
“Agravo regimental no recurso extraordinário.
Prequestionamento. Ausência. Escrevente juramentado.
Cartório extrajudicial. Regime celetista. Não enquadramento na
categoria de servidores públicos estatutários. Estabilidade. Não
ocorrência. Precedentes. 1. Não se admite o recurso

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extraordinário quando os dispositivos constitucionais que nele


se alega violados não estão devidamente prequestionados.
Incidência das Súmulas nºs 282 e 356 desta Corte. 2. A
jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal firmou
entendimento no sentido de que os escreventes juramentados e
demais serventuários de cartórios extrajudiciais, contratados
pelo regime da CLT, não se enquadram na categoria de
servidores públicos estatutários, razão pela qual não possuem
estabilidade. 3. Agravo regimental não provido” (RE 558.127-
AgR/SC, Rel. Min. Dias Toffoli – grifei).
Isso posto, dou provimento ao recurso (art. 21, § 2º do RISTF)
para cassar o acórdão recorrido. Honorários, se houver, a serem
fixados pelo juízo de origem, nos termos da legislação processual.”

Nas razões recursais, sustenta-se, em síntese, que o Agravante faz jus


à estabilidade prevista no art. 19, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, uma vez que “servidores admitidos sem concurso público podem
ser regidos por normas estatutárias e por outras normas, entre as quais, as
celetistas” (eDOC 25, p. 5).
Em contrarrazões, alega-se que a decisão impugnada deve ser
mantida, porquanto está em conformidade com a atual jurisprudência do
STF.
É o relatório.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR): O agravo não


merece prosperar.
Conforme ressaltado na decisão agravada, a jurisprudência desta
Corte se firmou no sentido da impossibilidade de concessão da
estabilidade prevista no art. 19, ADCT, aos auxiliares de cartório, aos
escreventes juramentados e aos oficiais substitutos, uma vez que estes
não se caracterizam como servidores públicos em sentido estrito.
Confira-se, a propósito, o seguinte precedente:

“DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.


ATIVIDADE NOTARIAL E DE REGISTRO. SERVIDOR. ART. 19
DO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS
TRANSITÓRIAS - ADCT. REQUISITOS. ESTABILIDADE NÃO
CONFIGURADA. CONSONÂNCIA DA DECISÃO RECORRIDA
COM A JURISPRUDÊNCIA CRISTALIZADA NO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO QUE
NÃO MERECE TRÂNSITO. REELABORAÇÃO DA MOLDURA
FÁTICA. PROCEDIMENTO VEDADO NA INSTÂNCIA
EXTRAORDINÁRIA. ACÓRDÃO RECORRIDO PUBLICADO
EM 28.7.2014. 1. O entendimento adotado pela Corte de origem, nos
moldes do assinalado na decisão agravada, não diverge da
jurisprudência firmada no âmbito deste Supremo Tribunal Federal, no
sentido de que o auxiliar de cartório, o escrevente juramentado e o
oficial substituto, ainda que estejam no exercício das funções há muito
tempo, não são considerados servidores públicos em sentido estrito,
razão pela qual não se aplica o instituto da estabilidade previsto no
art. 19 do ADCT da Constituição Federal. 2. Entender de modo

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

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diverso demandaria a reelaboração da moldura fática delineada no


acórdão de origem, o que torna oblíqua e reflexa eventual ofensa,
insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso
extraordinário. 3. As razões do agravo regimental não se mostram
aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada. 4.
Agravo regimental conhecido e não provido.”
(ARE 859804 AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira
Turma, julgado em 15/03/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-
072 DIVULG 15-04-2016 PUBLIC 18-04-2016)

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.


É como voto.

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Extrato de Ata - 18/11/2016

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EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 696.770


PROCED. : RIO GRANDE DO SUL
RELATOR : MIN. EDSON FACHIN
AGTE.(S) : NILSON SCHMIDT
ADV.(A/S) : MANOEL DEODORO DA SILVEIRA (9560/RS)
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Decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo


regimental, nos termos do voto do Relator. 1ª Turma, Sessão
Virtual de 11 a 17.11.2016.

Composição: Ministros Luís Roberto Barroso (Presidente), Marco


Aurélio, Luiz Fux, Rosa Weber e Edson Fachin.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Secretária da Primeira Turma

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