Você está na página 1de 65

REALIZAÇÃO:

IBDP
INSTITUTO BRASILEIRO DE
DIREITO PROCESSUAL
2

1. O CASO
2. ÍNTEGRA DO
PROCESSO JUDICIAL

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
3

CASO

O Buffet Bela Mesa é um dos principais buffets do Estado de São Paulo. Fundado em
2010, consagrou-se por seu serviço de qualidade e diversificado. Desde sua fundação, o
Buffet Bela Mesa atende a todo tipo de evento, casamentos, festas infantis, aniversários,
bodas, eventos acadêmicos, eventos corporativos, e atua em todo o Estado de São Paulo.

Há uma única exceção na política da empresa: o Bela Mesa não presta serviços em
eventos religiosos ou que a religião – seja ela qual for – tenha ligação com o motivo ou a
finalidade da reunião de trabalho ou festiva, pois seus sócios fundadores, Bernardo Rosa
e Bianca Beija-Flor, são ateus e acreditam que as diferentes religiões são nocivas para a
sociedade. Inclusive, Bernardo e Bianca são fundadores também de uma associação que
promove o ateísmo e combate todo tipo de religião. Tal associação tem uma atuação
bastante ativa e constantemente promove passeatas e manifestações contrárias às crenças
religiosas, com fundamentos no culto à ciência e na impossibilidade lógica da existência
de divindades.

Assim, ao longo dos mais de dez anos em que o Bela Mesa está no mercado, ele se recusou
a prestar seus serviços a dezenas de eventos com motivação religiosa. Todavia, a política
da empresa contrária à realização de eventos religiosos não é ostensiva. Bernardo e
Bianca costumam dar respostas evasivas para os clientes que pedem eventos com essas
características, ocultando a real motivação da negativa de prestação dos serviços.

Oswaldo Cruz foi uma das pessoas que procurou o Bela Mesa para realização de festa
beneficente para arrecadação de recursos para as obras sociais do templo religioso que
frequenta. Todavia, sequer recebeu um orçamento, pois Bernardo e Bianca, de forma
educada e cortês, negaram a realização do serviço, alegando indisponibilidade de agenda.

Todavia, Oswaldo desconfiou que a motivação da recusa fosse diversa, pois é presidente
da Associação Viva a Liberdade Religiosa e, desse modo, já havia tido embates com
Bernardo, Bianca e a associação por eles fundada e administrada.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
4

A Associação Viva a Liberdade Religiosa foi constituída no ano 2004 e tem entre seus
fins institucionais a defesa da liberdade religiosa, da liberdade de culto, a promoção da
igualdade entre os fiéis das diversas religiões, o combate à discriminação religiosa nos
mais diversos ambientes e situações e a assistência a associados que se vejam envolvidos
em situações discriminatórias por motivos de crença religiosa.

Nesse contexto, Oswaldo, sentindo-se discriminado pela recusa do Bela Mesa em prestar
serviços ao templo religioso que frequenta, resolveu tomar medidas contra o referido
buffet.

Assim, com base em assembleia realizada em 3 de abril de 2018, em que foi proposta e
aprovada, pela maioria dos presentes, a propositura de medida judicial contra o Buffet
Bela Mesa, a Associação Viva a Liberdade Religiosa requereu, em 15 de fevereiro de
2019, perante a comarca de São Paulo, estado de São Paulo, onde tem sede, produção
antecipada de provas, voltada a documentar todas as situações em que o Bela Mesa se
recusou a prestar serviços considerando as características religiosas do evento. Para tanto,
requereu a exibição de todos os e-mails trocados pelo Bela Mesa com clientes e potenciais
clientes desde sua fundação, bem como a busca e apreensão do assistente de voz Alexa,
instalado no escritório do Buffet, para que fossem obtidas as gravações das conversas
mantidas com clientes que foram atendidos no local.

O Bela Mesa objetou veementemente a produção da prova, considerando o sigilo das


correspondências e a violação ao seu direito à intimidade, diante do caráter clandestino
da gravação de voz feita pela Alexa. Sem embargo, os argumentos de defesa foram
rejeitados.

Mesmo após a decisão, a recusa do Bela Mesa em produzir as provas persistia. Assim, foi
realizada a busca e apreensão dos computadores do Bernardo e da Bianca e da assistente
de voz Alexa instalada no escritório. Após perícia nos equipamentos eletrônicos, foram
juntados aos autos e-mails e gravações que documentaram 28 casos de recusa de
realização de eventos ligados a algum tipo de manifestação religiosa entre o período de

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
5

junho de 2012 a maio de 2020. Ao final do processo, a prova foi homologada pelo
magistrado em decisão proferida em outubro de 20201.

Pouco tempo depois, três pessoas tomaram conhecimento da produção antecipada de


provas e resolveram propor demanda contra o Buffet Bela Mesa.

A primeira delas, Bertha Piffer Canabrava, é católica e havia procurado o Bela Mesa para
a realização de um pequeno evento familiar por ocasião da Páscoa de 2020 e teve seu
pedido de orçamento negado.

A segunda pessoa é Carlos Chagas, espírita, associado à Viva Liberdade Religiosa. Carlos
não conseguiu contratar o Buffet Bela Mesa para um evento de confraternização do centro
espírita que frequenta, realizado em 31 de março de 2016.

A terceira é Maria Jatene, praticante de candomblé e associada à Viva Liberdade


Religiosa. Ela procurou o Buffet Bela Mesa para uma confraternização em homenagem
a Iemanjá em 2 de fevereiro de 2018 e tampouco foi atendida pelo prestador de serviços.

Assim, Bertha Piffer Canabrava, Carlos Chagas e Maria Jatene ajuizaram, em 15 de


fevereiro de 2021, perante o Foro Central da Comarca de São Paulo-SP, demanda contra
o Buffet Bela Mesa e anexaram à petição inicial as principais peças dos autos da produção
antecipada de provas requerida pela Associação Viva a Liberdade Religiosa2. Pediram,
ao final, com base nessa prova, a condenação do réu ao pagamento de indenização por
danos morais por discriminação religiosa, violação ao art. 5º, VIII, da Constituição
Federal e ao art. 39, II e IX, do Código de Defesa do Consumidor no valor de R$

1
Nota às Equipes. A Comissão do Caso elaborou peças, documentos e decisões que permitem a
compreensão do caso, reputando desnecessário preparar todos os 28 casos de recusa aludidos no Caso.
Para fins da Competição, devem ser consideradas apenas as informações disponibilizadas e os
documentos produzidos.

2
Nota às Equipes. A Comissão do Caso elaborou peças, documentos e decisões que permitem a
compreensão do caso, reputando desnecessário preparar uma versão integral dos autos da Produção
Antecipada de Provas. Para fins da Competição, devem ser consideradas apenas as informações
disponibilizadas e os documentos produzidos.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
6

50.000,00 (cinquenta mil reais) para cada um, com correção monetária e juros de 1% ao
mês.

Citado, o Buffet contestou a demanda, com as seguintes alegações principais: (a)


impossibilidade de manejo da produção antecipada de prova por meio de processo
coletivo, e sua utilização posterior em processo individual; (b) ilegalidade da prova
produzida no processo coletivo; (c) razões diversas pelas quais não atendeu a cada um
dos autores (ausência de agenda, restrições impostas pela Covid-19 e dificuldade de
contratação de mão de obra no litoral de São Paulo); e (d) a não obrigatoriedade de o Bela
Mesa atender a todo e qualquer consumidor, considerando o princípio da livre iniciativa,
previsto nos arts. 1º, IV, e 170 da Constituição Federal. Subsidiariamente, (v) pediu que,
caso fosse acolhido o pedido, sobre o valor indenizatório deve incidir a taxa SELIC, nos
termos do artigo 406 do Código Civil.

Em julgamento antecipado, a juíza julgou procedente a demanda para condenar o Bela


Mesa ao pagamento de indenização de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) para cada um
dos autores, acrescidos de correção monetária pelo índice do Tribunal de Justiça de São
Paulo desde a publicação da sentença e de juros de mora de 1% ao mês desde a citação.
A sentença se baseou integralmente nos elementos obtidos na produção antecipada de
provas. A juíza não apreciou os argumentos do Buffet relacionados à legalidade das
provas, ao fundamento de que essa matéria já teria sido apreciada nos autos da produção
antecipada de provas e estaria preclusa. Aplicou ainda ao caso, por analogia, o
entendimento consagrado pelo Supremo Tribunal Federal acerca da constitucionalidade
de se impor limitações à livre iniciativa (MC nº 1.657 RJ).

Nesse contexto, o réu deve interpor o recurso cabível e os autores devem respondê-lo.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
7

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL


DA COMARCA DE SÃO PAULO-SP.

BERTHA PIFFER CANABRAVA, brasileira, solteira, titular da carteira de identidade


nº 123.456, expedida pelo DETRAN, inscrita no CPF/MF n.º 738.301.847-49 (doc. 1),
domiciliada na Rua Cuca, n. 34 Bairro Rabicó, São Paulo/SP, CARLOS CHAGAS,
brasileiro, casado, titular da carteira de identidade nº 567.8910, expedida pelo DETRAN,
inscrito no CPF/MF n.º 738.301.848-56 (doc. 2), domiciliado na Praça Maciel Pinheiro,
Rio de Janeiro – RJ, e MARIA JATENE, brasileira, divorciada, titular da carteira de
identidade nº 1112.1314, expedida pelo DETRAN, inscrita no CPF/MF n.º 738.301.789-
69 (doc. 3), domiciliada na rua do Chacon, 328, Recife- SP (doc. 3), por sua advogada
(doc. 4), que possui o correio eletrônico benta@nastaciabarnabeadvogados.com e tem
domicílio profissional nesta cidade, propõem, perante V.Exa., a presente

AÇÃO INDENIZATÓRIA

em face de BUFFET BELA MESA LTDA., pessoa jurídica de direito privado, com sede
na Rua Pedro Narizinho, n. 12, São Paulo – SP, São Paulo – SP, nesta ação representado
conjuntamente pelos cotistas BERNARDO ROSA e BIANCA BEIJA-FLOR, cujo
cadastro eletrônico é desconhecido pelos autores, pelos fundamentos de fato e de direito
abaixo aduzidos.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
8

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

I. DOS FATOS.

1. A autora Bertha Piffer Canabrava é católica e procurou o réu, um dos principais e


mais famosos buffets do Estado de São Paulo, consolidado há mais de dez anos no
mercado por seu serviço diversificado e de qualidade, para a realização de um pequeno
evento familiar por ocasião da Páscoa de 2020 e teve seu pedido de orçamento negado
(Doc. 5).

2. O segundo autor, o sr. Carlos Chagas, é espírita, associado da Viva Liberdade


Religiosa, conhecida por defender a livre e desembaraçada expressão religiosa, por meio
da realização de cultos e manifestos públicos em prol de cada crença. Dito autor não
conseguiu contratar o Buffet Bela Mesa para um evento de confraternização do centro
espírita que frequenta, realizado em 31 de março de 2016 (Doc. 6).

3. A terceira autora, a sra. Maria Jatene, é praticante de candomblé e igualmente


associada da Viva Liberdade Religiosa. Ela procurou o Buffet Bela Mesa para uma
confraternização em homenagem a Iemanjá em 2 de fevereiro de 2018 e tampouco foi
atendida pelo prestador de serviços (Doc. 7).

4. Desde sua fundação, o Buffet Bela Mesa atende a todo tipo de evento, tais como
casamentos, festas infantis, aniversários, bodas, eventos acadêmicos, eventos
corporativos, e atua em todo o Estado de São Paulo. Não há nenhuma vedação de objeto
comemorativo para a celebração do contrato de prestação de serviços, de acordo com os
dados divulgados publicamente pelo próprio réu. A informação é extraída com facilidade
do seu próprio sítio e das suas redes sociais.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
9

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

5. Como dito, os autores tiveram a sua pretensão de realização dos eventos de cunho
religioso frustrada. A recusa foi individual e os autores não tinham, até há pouco,
conhecimento da grave e inaceitável motivação por parte do réu: a agora evidente
discriminação religiosa. É o que será tratado a seguir.

III. DA REAL (E INTOLERÁVEL) MOTIVAÇÃO DA RECUSA DA PRESTAÇÃO


DOS SERVIÇOS: O PRECONCEITO ÀS RELIGIÕES DESCOBERTO NO ÂMBITO DO
PROCESSO N.º 018041882-00.2019.8.26.0100

6. O que antes causou apenas estranheza aos autores veio à tona como uma evidente
e inescusável recusa preconceituosa no processo de produção antecipada de provas n.º
018041882-00.2019.8.26.0100, movido pela Associação Viva a Liberdade Religiosa, que
tramitou na 4ª. vara cível do Foro Central da Comarca de São Paulo deste e. Tribunal
(docs. 9 a 12).

7. Por meio das provas ali produzidas, ora transportadas para este processo, se
comprova o motivo inconstitucional por detrás da recusa (doc. 8). Os quotistas são
manifestamente preconceituosos e professam o ateísmo como única opção tolerável.

8. As mensagens eletrônicas trocadas entre eles não deixam dúvidas: o réu se nega a
produzir qualquer evento religioso porque faz pilhéria, pouco caso, debocha e inferioriza
as pessoas devotas a suas respectivas crenças. Apenas o ateísmo é considerado e
valorizado, as religiões não têm vez, na visão preconceituosa e inaceitável de acordo com
o nosso ordenamento jurídico, ao arrepio do direito fundamental apontado no inciso VI
do art. 5º da CRFB. Os e-mails apreendidos e a degravação da captura da ferramenta
Alexa confirmam o exposto (doc. 8).

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
10

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

IV. DO CABIMENTO DO EMPRÉSTIMO DAS PROVAS


PRODUZIDAS NO PROCESSO N.º 018041882-00.2019.8.26.0100 (PRODUÇÃO
ANTECIPADA DE PROVAS) EM BENEFÍCIO DOS AUTORES.

9. Não há nenhum empecilho para que as provas extraídas produzidas no processo


n.º 018041882-00.2019.8.26.0100, que se prestou à antecipação da sua produção, sejam
exportadas e emprestadas para este processo, em benefício dos autores.

10. Isso porque o réu desta demanda individual também foi parte naquele processo e
pôde se defender e se valer de todas as garantias processuais na produção das provas.

11. Assim, não há de se falar em violação ao contraditório, em razão de não haver a


identidade total entre as partes desta demanda e as daquela. O réu participou da produção
antecipada de provas e a ele foram conferidas todas as oportunidades de contrapô-las e
infirmá-las.

12. Ademais, os autores deste processo são, em sua maioria, associados da autora do
processo pretérito, que atua, portanto, em seu benefício, em seu nome, por meio de ações
coletivas. Se lhes é favorável a prova produzida, podem dela se valer em ações futuras,
individuais ou coletivas, para demonstrar e defender seus interesses.

13. Finalmente, conforme se depreende da decisão proferida naquele processo


pretérito, as provas ora exportadas foram admitidas e apreciadas pelo juízo competente,
após a abertura e o pleno exercício do contraditório (doc. 9).

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
11

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

14. Aplica-se, portanto, ao caso em comento o disposto no art. 103, III, do Código de
Defesa do Consumidor, na medida em que a sentença que homologou as provas
produzidas faz coisa julgada, beneficiando os titulares dos direitos individuais
homogêneos substituídos pela Associação Viva a Liberdade Religiosa.

V. DO DANO MORAL.

15. Como se não fosse suficiente negar a prestação de serviços aos autores, o réu o
faz de forma disfarçada, sem transparência e sem clareza de informação, em clara afronta
ao CDC, fazendo-os de bobos, surpreendendo-os com a abusiva motivação demonstrada
no processo n.º 018041882-00.2019.8.26.0100. A descoberta posterior se somou à
profunda tristeza e decepção de os autores não conseguirem realizar o tão desejado evento
apresentado ao réu.

16. Destaque-se ainda que o art. 39, IX, do Código de Defesa do Consumidor proíbe
a negativa de prestação de serviços se o fornecedor tem condições de atender a demanda.
Assim, também sob essa ótica, a recusa do réu em contratar com os autores deve ser
considerada ilícita

17. O dano moral causado configura uma lesão ao direito extrapatrimonial, sendo a
dor, vexame, constrangimento e a humilhação consequências que se extraem daquela
violação.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
12

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

18. A CRFB, em seu artigo 5º, inciso X, consagra a tutela ao direito à indenização por
dano material e à compensação pelo dano moral. O montante a ser fixado pelo juízo deve
provocar no réu o desestimulo à reincidência de tal comportamento, devendo ser
observadas a capacidade econômica do causador do dano e a intensidade dos
constrangimentos suportados.

VII. DA CONCLUSÃO. DOS REQUERIMENTOS E PEDIDOS.

19. Os autores pedem a condenação do réu ao pagamento de R$ 50.000,00 (cinquenta


mil reais) para cada um, sobre os quais deve incidir a correção monetária e os juros de
1% ao mês, para compensar os danos morais por eles suportados, em razão da
discriminação religiosa, por afronta ao art. 5º, VI, da Constituição Federal e ao art. 39, II
e IX, do Código de Defesa do Consumidor.

20. Para provar os fatos, os autores protestam por todos os meios de prova admitidos.

21. Os autores requerem, ainda, o arbitramento de honorários advocatícios de 20%


em favor da advogada infra-assinada, a serem fixados sobre o valor atualizado da causa,
e o direcionamento de todas as intimações deste feito na imprensa oficial em nome dela.

22. Atribui-se à causa o valor estimado de R$ 150.000,00.

Nesses termos, pedem deferimento.


São Paulo, 12 de fevereiro de 2021.
Benta Barnabé
OAB n.º 73.377

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
13

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Docs. 1 a 3

Documentos de identificação dos Autores

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
14

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

PROCURAÇÃO (doc. 4)

Por este instrumento particular de procuração, BERTHA PIFFER CANABRAVA,


brasileira, solteira, titular da carteira de identidade nº 123.456, expedida pelo DETRAN,
inscrita no CPF/MF n.º 738.301.847-49, domiciliada na Rua Cuca, n. 34 Bairro Rabicó,
São Paulo/SP, CARLOS CHAGAS, brasileiro, casado, titular da carteira de identidade
nº 567.8910, expedida pelo DETRAN, inscrito no CPF/MF n.º 738.301.848-56,
domiciliado na Praça Maciel Pinheiro, Rio de Janeiro – RJ, e MARIA JATENE, brasileira,
divorciada, titular da carteira de identidade nº 1112.1314, expedida pelo DETRAN,
inscrita no CPF/MF n.º 738.301.789-69, domiciliada na rua do Chacon, 328, Recife- SP,
nomeiam e constituem sua procuradora, Dra. Benta Barnabé, inscrita na OAB/SP n.º
73.377, com escritório profissional situado na Rua Pedro Encerrabodes de Oliveira, n.
2021, Jardim Marques de Rabicó, São Paulo – SP, a quem outorgam poderes amplos e
gerais ad judicia, para proceder a defesa dos seus direitos e interesses, bem como poderes
especiais ad judicia et extra, para receber, dar quitação, firmar compromisso, fazer
acordos e deliberar na fase conciliatória, comparecer em quaisquer processos judiciais e
administrativos do interesse dos outorgantes, podendo ainda desistir, substabelecer, e
tudo o mais o que for necessário, visando o cabal e fiel cumprimento deste mandato, em
especial para atuar no interesse dos outorgante em ações judicias de qualquer natureza.

São Paulo, 10 de fevereiro de 2021.

_______________________________

BERTHA PIFFER CANABRAVA

________________________

CARLOS CHAGAS

________________________

MARIA JATENE

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
15

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Doc. 5

RECUSA NA REALIZACAO DE EVENTO SOLICITADO PELA AUTORA


BERTHA PFIFFER CANABRAVA

Qua, 01/04/2020 13:41


De: Bertha Piffer Canabrava <berthinha17@ig.com.br>
Para: Bianca Beija-Flor <bibi_beijaflor@belamesa.com.br>

Bibi querida,

Essa história de Covid-19 está me deixando louca. Já estamos há quase 15 dias em


confinamento. Será que vai demorar muito ainda? Deus nos livre e guarde! Não sei o que
aconteceria comigo se essa tal de pandemia durar mais um mês. Ainda bem que para nós
vai ser uma gripezinha, pois não temos comorbidade. Mas vem cá, quero fazer uma
comemoração da Páscoa com minha família. Nada melhor que celebrar o renascimento
de Jesus para apagar essas más notícias.

Vai ser uma festinha religiosa com música no Sábado de Aleluia, dia 11. Você reserva
pra mim? Pago antes ou pode ser no dia? Não esqueça da nossa amizade.

Beijos de luz,
Berthinha

***

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
16

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Sex, 03/04/2020 07:10


De: Bianca Beija-Flor <bibi_beijaflor@belamesa.com.br>; Buffet Bela Mesa
<contatos&reservas@belamesa.com.br>
Para: Bertha Piffer Canabrava <berthinha17@ig.com.br>

Bertha,

Oi querida, que saudades! Como vai minha amiga que nos tempos do colégio era nossa
Capitu, oblíqua e dissimulada? Lembra que era assim que o professor Bento Santiago te
chamava no colegial? Hihihi

Infelizmente, não vamos poder abrigar sua festa de Páscoa. Sabe o que é? Bernardo andou
lendo umas notícias na mídia estrangeira e parece que esse tal Covid-19 é fogo! Meu
marido diz que deve ir até junho essa pandemia, imagine... Eu mesma não acredito, mas
não posso contrariá-lo, você sabe que ele quando insiste, não tem quem o faça mudar de
ideia.

Vamos ver se combinamos algo. Passa lá em casa. Beijos,

Bianca

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
17

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Doc. 6

RECUSA NA REALIZACAO DE EVENTO SOLICITADO PELA AUTOR


CARLOS CHAGAS

Qua, 09/02/2016 12:12


De: Carlos Chagas <trypanosoma@gmail.com>
Para: Buffet Bela Mesa <contatos&reservas@belamesa.com.br>

Prezados Senhores,

Meu nome é Carlos Chagas, sou presidente da Associação Espírita Quincas Borba e
estamos planejando uma confraternização para o dia 31/03, uma quinta feira. Nosso
gerente Pedro Rubião de Alvarenga recomendou efusivamente a casa de vocês. Qual o
procedimento? Vocês podem ligar aqui para associação no telefone que segue na
assinatura dessa missiva para combinarmos os detalhes.

Desde já, obrigado.

Carlos Chagas

***

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
18

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Qui, 20/02/2016 08:00


De: Buffet Bela Mesa <contatos&reservas@belamesa.com.br>
Para: Carlos Chagas <trypanosoma@gmail.com>

Prezado Sr. Carlos Chagas,

Antecipadamente, agradeço por terem procurado nosso buffet. Estamos, desde 2010,
servindo bem para servir sempre, na região do Itaim Bibi, de fácil localização para
qualquer pessoa.

Seria um prazer receber o Sr. e os associados para a confraternização. O problema é que,


na data indicada, nosso salão já está reservado para um evento e, infelizmente, não
comportamos ainda dois eventos simultâneos.

Tenho certeza que encontrará um local aprazível para sua festa.

Sem mais para o momento, despeço-me,

Bernardo

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
19

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Doc. 7

RECUSA NA REALIZACAO DE EVENTO SOLICITADO PELA AUTORA


MARIA JATENE

Qua, 10/01/2018 17:16


De: Maria Jatene <maria_de_oxumare@uol.com.br>
Para: Buffet Bela Mesa <contatos&reservas@belamesa.com.br>
Cc: Oswaldo Cruz <vacina_ja@hotmail.com>

Saravá!

Escrevo em nome do Terreiro Enseada das Pitangueiras, no Guarujá. Dia 2 de Fevereiro,


na sexta-feira, vamos fazer uma grande festa para comemorar o Dia de Iemanjá. Será na
praia das Astúrias, próximo de nossa sede. Estamos escrevendo com a devida
antecedência para que vocês possam se organizar e trazer todos os preparativos aqui para
o litoral. Queremos fogos, muitos comes e bebes e o enxoval da festa inteiro branco.

Temos ciência que vocês fazem festas em outras cidades, de modo que não será problema,
certo? Aguardo contato.

Que Xangô os proteja,


Maria Jatene

***

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
20

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Sex, 12/01/2018 09:00


De: Buffet Bela Mesa <contatos&reservas@belamesa.com.br>
Para: Maria Jatene <maria_de_oxumare@uol.com.br>

Prezada Sra. Maria Jatene,

O Buffet Bela Mesa agradece sua atenção.

Nessa época de férias de verão, temos muitos pedidos de eventos, de modo que
precisamos dar prioridade à nossa sede, em São Paulo. Assim, não há condições de
logística para organizarmos sua festa no Guarujá.

Se me permite, a data também é comemorada lá no meu estado de origem, sou gaúcho de


Erechim, terra do goleiro Gilmar Rinaldi, que por anos jogou no meu querido São Paulo
Futebol Clube. Lá, conhecemos 2 de fevereiro como dia de Nossa Senhora dos
Navegantes. Aqui, respeitamos todas as religiões, como a Sra. pode ver. Para nós, todo
mundo é igual, Maria, Oswaldo, Aires, tanto faz.

Oxalá façam uma bela festança!

Brás J. Cubas
gerente

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
21

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Doc. 8.

9 – Documento do caso – e-mails e transcrição das gravações

E-mail 01

Seg, 10/05/2019 19:11


De: Associação dos Advogados do Jaçanã <eventos@aajacana.org.br>
Para: Buffet Bela Mesa <contatos&reservas@belamesa.com.br>

Prezados, boa tarde! Tudo bem?

Como vocês devem saber, 19 de maio é Dia de Santo Ivo, o padroeiro dos advogados.
Esse ano, adicionalmente à tradicional missa dessa que é a profissão mais nobre e está até
prevista em nossa abençoada Carta Magna, a Constituição Cidadã de 1988, queremos
também realizar um pequeno evento no horário do almoço, apenas para a diretoria da
entidade, algo em torno de 30 pessoas.

Podem nos enviar o orçamento o mais rápido possível?

Atenciosamente,
Iaiá Garcia Cruz dos Reis
Secretária-Geral

Ter, 11/05/2020 9:05


De: Buffet Bela Mesa <contatos&reservas@belamesa.com.br>
Para: Associação dos Advogados do Jaçanã <eventos@aajacana.org.br>
Cc: Bianca <bibi_beijaflor@belamesa.com.br>

Prezada Dra. Iaiá,

Que boas recordações seu nome me traz. Lembrei-me com carinho dos tempos de ensino
fundamental, quando adquiri o gosto pelas obras de Machado de Assis. Seria muito bom
fazer o evento de vocês. Infelizmente, estamos com a agenda comprometida dia 19,
quando teremos um evento corporativo da Turma de 1982 da Faculdade de Física da USP.
Tentamos convencê-los a mudar, mas eles se recusaram, pois nesse dia é comemorado o
Dia do Físico.

Quiçá poderemos realizar um evento com vocês numa próxima oportunidade. At,

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
22

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Bianca Beija-Flor

E-mail 02

Qui, 02/04/2015 13:41


De: Esaú Salomão Heinz <esau_filho_de_isaque@terra.com.br>
Para: Buffet Bela Mesa <contatos&reservas@belamesa.com.br>

Caro Sr. Bernardo Rosa,

Meu irmão gêmeo Jacó, seu vizinho de condomínio, sempre me falou muito bem do Sr.,
de seu cônjuge virago e do estabelecimento Bela Mesa. Neste ano, meu primogênito fará
13 anos e estamos organizando um bar mitzvah que queremos fique mais conhecido que
daquele garoto que fez o vídeo da Praia da Baleia e cuja música, paródia do grupo One
Direction, foi sucesso no YouTube. A festa poderá ser no último sábado do mês ou no
primeiro sábado de maio.

Atenciosamente,
Esaú Heinz

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
23

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Seg, 06/04/2015 14:10


De: Buffet Bela Mesa <contatos&reservas@belamesa.com.br>
Para: Esaú Salomão Heinz <esau_filho_de_isaque@terra.com.br>

Caro. Sr. Esaú,

Vejo que o Sr. e sua família são muito tradicionais. Já tive a oportunidade de conversar
com seu irmão e ele inclusive presenteou minha esposa com o penúltimo livro do mestre
Machado, justamente o que leva o mesmo nome dos senhores. Seria um prazer atendê-
los, mas iniciamos algumas reformas de ampliação do espaço, pois temos certeza que o
país continuará crescendo nos próximos anos.

Nossos efusivos parabéns a seu garoto, com os votos que a festa seja linda.
Atenciosamente,

Bernardo Rosa

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
24

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

E-mail 03

Qua, 01/04/2020 13:41


De: Bertha Piffer Canabrava <berthinha17@ig.com.br>
Para: Bianca Beija-Flor <bibi_beijaflor@belamesa.com.br>

Bibi querida,

Essa história de Covid-19 está me deixando louca. Já estamos há quase 15 dias em


confinamento. Será que vai demorar muito ainda? Deus nos livre e guarde! Não sei o que
aconteceria comigo se essa tal de pandemia durar mais um mês. Ainda bem que para nós
vai ser uma gripezinha, pois não temos comorbidade. Mas vem cá, quero fazer uma
comemoração da Páscoa com minha família. Nada melhor que celebrar o renascimento
de Jesus para apagar essas más notícias.

Vai ser uma festinha religiosa com música no Sábado de Aleluia, dia 11. Você reserva
pra mim? Pago antes ou pode ser no dia? Não esqueça da nossa amizade.

Beijos de luz,
Berthinha

Qui, 02/04/2020 19:00


De: Bianca Beija-Flor <bibi_beijaflor@belamesa.com.br>
Para: Bernardo Rosa <nardo@belamesa.com.br>

Paixão,

Aquela falsa da Bertha me escreveu pedindo pra realizar uma festa de Páscoa lá no buffet.
Aff, como não gosto daquela mulher! Ela diz que quer comemorar o renascimento de
Jesus, mas sabemos bem que tipo de festa ela frequenta. Se o pessoal da igreja dela
soubesse, seria expulsa como os fariseus do templo! Ainda vem com essas besteiras de
Páscoa... É cada uma que ouvimos, é Terra plana, renascimento de Jesus, esse povo
acredita em cada coisa, comemora o que não se vê, o que não se prova, para uma desculpa
esfarrapada para uma festa.

Vou inventar uma desculpa qualquer para ela, falar que essa doença vai longe e que
estamos inseguros. Ah, vou atrasar para o jantar, mas você pode esquentar a lasagna no
micro-ondas.

Beijos,
Bianca

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
25

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Sex, 03/04/2020 07:10


De: Bianca Beija-Flor <bibi_beijaflor@belamesa.com.br>; Buffet Bela Mesa
<contatos&reservas@belamesa.com.br>

Para: Bertha Piffer Canabrava <berthinha17@ig.com.br>

Bertha,

Oi querida, que saudades! Como vai minha amiga que nos tempos do colégio era nossa
Capitu, oblíqua e dissimulada? Lembra que era assim que o professor Bento Santiago te
chamava no colegial? Hihihi

Infelizmente, não vamos poder abrigar sua festa de Páscoa. Sabe o que é? Bernardo andou
lendo umas notícias na mídia estrangeira e parece que esse tal Covid-19 é fogo! Meu
marido diz que deve ir até junho essa pandemia, imagine... Eu mesma não acredito, mas
não posso contrariá-lo, você sabe que ele quando insiste, não tem quem o faça mudar de
ideia.

Vamos ver se combinamos algo. Passa lá em casa. Beijos,

Bianca

E-mail 04

Qua, 09/03/2016 12:12


De: Carlos Chagas <trypanosoma@gmail.com>
Para: Buffet Bela Mesa <contatos&reservas@belamesa.com.br>

Prezados Senhores,

Meu nome é Carlos Chagas, sou presidente da Associação Espírita Quincas Borba e
estamos planejando uma confraternização para o dia 31/03, uma quinta feira. Nosso
gerente Pedro Rubião de Alvarenga recomendou efusivamente a casa de vocês. Qual o
procedimento? Vocês podem ligar aqui para associação no telefone que segue na
assinatura dessa missiva para combinarmos os detalhes.

Desde já, obrigado.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
26

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Carlos Chagas

Qua, 09/03/2016 12:15


De: Bernardo Rosa <nardo@belamesa.com.br>
Para: Bianca Beija-Flor <bibi_beijaflor@belamesa.com.br>

Amor,

Acabo de receber um pedido de festa para o dia 31/03. Mas não é exatamente nesse dia
que o Sr. Cristiano de Almeida e Palha e sua esposa Sofia farão a festa da mentira com
os amigos, na véspera do dia 1º de abril? Posso ver se o Carlos pode trocar a data. É
cliente novo, acho que devemos prestigiá-lo e ajustar eventual conflito na agenda para
atendê-lo.

Beijos, Bernardo

Qua, 09/03/2016 12:18


De: Bianca Beija-Flor <bibi_beijaflor@belamesa.com.br>
Para: Bernardo Rosa <nardo@belamesa.com.br>

Paixão,

Sim, é dia 31 mesmo. Eles até já pagaram. Deixa para lá, soa como uma boa razão para
negar a organização e produção do evento que ele pediu.

Beijos, Bianca

Qui, 10/03/2016 08:00


De: Buffet Bela Mesa <contatos&reservas@belamesa.com.br>
Para: Carlos Chagas <trypanosoma@gmail.com>

Prezado Sr. Carlos Chagas,

Antecipadamente, agradeço por terem procurado nosso buffet. Estamos, desde 2010,
servindo bem para servir sempre, na região do Itaim Bibi, de fácil localização para
qualquer pessoa.

Seria um prazer receber o Sr. e os associados para a confraternização. O problema é que,


na data indicada, nosso salão já está reservado para um evento e, infelizmente, não
comportamos ainda dois eventos simultâneos.

Tenho certeza que encontrará um local aprazível para sua festa.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
27

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Sem mais para o momento, despeço-me,


Bernardo

E-mail 05
Qua, 10/01/2018 17:16
De: Maria Jatene <maria_de_oxumare@uol.com.br>
Para: Buffet Bela Mesa <contatos&reservas@belamesa.com.br>
Cc: Oswaldo Cruz <vacina_ja@hotmail.com>

Saravá!

Escrevo em nome do Terreiro Enseada das Pitangueiras, no Guarujá. Dia 2 de Fevereiro, na


sexta-feira, vamos fazer uma grande festa para comemorar o Dia de Iemanjá. Será na praia das
Astúrias, próximo de nossa sede. Estamos escrevendo com a devida antecedência para que vocês
possam se organizar e trazer todos os preparativos aqui para o litoral. Queremos fogos, muitos
comes e bebes e o enxoval da festa inteiro branco.

Temos ciência que vocês fazem festas em outras cidades, de modo que não será problema, certo?
Aguardo contato.

Que Xangô os proteja,


Maria Jatene

Qui, 11/01/2018 09:00


De: Buffet Bela Mesa <contatos&reservas@belamesa.com.br>
Para: Bernardo Rosa <nardo@belamesa.com.br>; Bianca Beija-Flor
<bibi_beijaflor@belamesa.com.br>

Prezados Sr. Bernardo e Sra. Bianca

Segue anexo email que eu recebi de um terreiro lá do Guarujá. Tenho quase certeza de que eles
são ligados àquela Associação Viva Liberdade Religiosa, presidida pelo Oswaldo Cruz. Aliás, o
seu Oswaldo está em cópia do email!!! O que devo fazer? Ela disse que sabe que a gente faz festas
fora da capital. Aguardo informações de como proceder.
Atenciosamente,

Brás J. Cubas
gerente

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
28

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Sex, 12/01/2018 09:00


De: Buffet Bela Mesa <contatos&reservas@belamesa.com.br>
Para: Maria Jatene <maria_de_oxumare@uol.com.br>

Prezada Sra. Maria Jatene,

O Buffet Bela Mesa agradece sua atenção.

Nessa época de férias de verão, temos muitos pedidos de eventos, de modo que
precisamos dar prioridade à nossa sede, em São Paulo. Assim, não há condições de
logística para organizarmos sua festa no Guarujá.

Se me permite, a data também é comemorada lá no meu estado de origem, sou gaúcho de


Erechim, terra do goleiro Gilmar Rinaldi, que por anos jogou no meu querido São Paulo
Futebol Clube. Lá, conhecemos 2 de fevereiro como dia de Nossa Senhora dos
Navegantes. Aqui, respeitamos todas as religiões, como a Sra. pode ver. Para nós, todo
mundo é igual, Maria, Oswaldo, Aires, tanto faz.

Oxalá façam uma bela festança!

Brás J. Cubas
gerente

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
29

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Sobre as gravações da Alexa, a perícia constatou que o Buffet Bela Mesa possuía o
equipamento da Amazon desde janeiro de 2017. Entretanto, a qualidade das gravações é
muito ruim, por conta do nível de ruído externo, de modo que só foi possível a transcrição
de três únicas conversas.

Gravação 01

Qui, 11/01/2018 10:00


Vozes: Sr. Bernardo Rosa e outra voz masculina, não identificada, com forte sotaque
gaúcho

- Fala gaúcho!
- Bah!
- Tudo bem? Que história é essa? Você recebeu e-mail do Oswaldo?
- Bah! Mas tu não lês as mensagens, criatura? Não foi do Oswaldo, mas o guri lá, o
Oswaldo tava em cópia.
- Tá, tá. Mas eles querem fazer festa em um terreiro?
- Isso, no Guarujá, tchê!
- Não vamos fazer isso não. Escreve pra eles e diz que a logística é muito complicada.
Mas não deixe transparecer que é por causa de religião, hein. Disfarce.
- Tá bem, Bernardo. Vou tomar um mate e depois escrevo pra ela.

Gravação 02

Qui, 02/04/2020 20:00


Vozes: Sr. Bernardo Rosa e Sra. Bianca Beija-Flor

- Oi amor.
- Tudo bem, paixão?
- Tudo. Sua amiga quer fazer festa religiosa então?
- Pois é, santinha do pau oco.
- Você faz bem em inventar algo, assim a gente não se indispõe com a turma da nossa
associação. Eles não iam entender a gente recebendo grana dos devotos.
- Vou escrever pra ela. Mas agora estou ocupada, eu e as meninas da aula de yôga vamos
tomar uma cervejinha, não temos hora pra voltar. Você já jantou?
- Ainda não. Quantos minutos eu coloco no micro-ondas? Nunca sei...
- Coloca 2, na potência alta. Até mais tarde...
- Até. Beijos, vou te esperar daquele jeito que você gosta, amor...

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
30

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

Gravação 03

Seg, 15/03/2020 16:22


Vozes: Sra. Bianca Beija-Flor e voz feminina não reconhecida

- Buffet Bela Mesa.


- Oi, é a dona Bianca?
- Eu mesma. Não é oferta da OI, é? Eu estou satisfeita com meu plano já...
- Não, não. Estou interessada em realizar um evento no buffet.
- Ah, me desculpe. É que você sabe né, esses telemarketing (sic)...
- Sim, eu sei. Vocês têm agenda para sábado à tarde?
- Sábado à tarde está livre. O que é seu evento?
- Vamos fazer uma festa para comemorar que nosso presidente disse que o próximo
ministro do Supremo será terrivelmente evangélico. Aleluia! Vamos aproveitar e
arrecadar doações para as obras da igreja.
- Qual o dia mesmo que voce precisa?
- Sábado agora, dia 21.
- Ahh, me enganei, achei que era no outro. Nesse agora, estamos com a casa reservada.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
31

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/N, SÃO PAULO-SP, CEP 01501-000
Horário de atendimento ao público: das 12h30 às 19h00

Doc. 9.

Decisão homologatória das provas produzidas antecipadamente no


Processo 018041882-00.2019.8.26.0100

SENTENÇA

Autos digitais nº 018041882-00.2019.8.26.0100


4ª Vara Cível
Classe – Assunto: Produção antecipada de provas
Autora: Associação Viva a Liberdade Religiosa
Réu: Buffet Bela Mesa Ltda.
Juiz de Direito Pedro Lessa

Vistos.

Trata-se de produção antecipada de prova, sem o requisito de urgência


(CPC, art. 383, III) proposta em 15/02/2019 por Associação Viva a Liberdade Religiosa
em face de Buffet Bela Mesa Ltda.

Alega a Associação autora que obteve em autorização de seus


associados para o ajuizamento desta demanda, conforme AGE realizada em 3 de abril de
2018, e que o motivo que enseja esta medida é a suspeita de que o Requerido estaria
negando a realização de eventos de cunho religioso, em atitude discriminatória.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
32

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/N, SÃO PAULO-SP, CEP 01501-000
Horário de atendimento ao público: das 12h30 às 19h00

Alega a autora que alguns associados seus tentaram, sem sucesso,


realizar eventos de natureza religiosa junto ao Buffet réu, mas tiveram suas solicitações
negadas. Não obstante o motivo informado da recusa ter sido outro, alude a Autora que a
verdadeira razão é o comportamento consistentemente discriminatório do Requerido em
relação aos eventos religiosos, fruto de convicções pessoais de seus sócios, que inclusive
são fundadores e ativos participantes de outra associação, que prega o ateísmo. Pretende,
assim, documentar situações em que o Requerido se recusou a prestar serviços para
eventos religiosos do evento. Para tanto, requereu a exibição de todos os e-mails trocados
pelo Bela Mesa com clientes e potenciais clientes desde sua fundação. Em momento
subsequente, requereu a busca e apreensão dos servidores internos e do assistente de voz
Alexa, instalado no escritório do Buffet, para que fossem obtidas as gravações das
conversas mantidas com clientes que foram atendidos no local.

Comparece o Requerido, alegando ter sido constituído em 2010, desde


quando vem prestando serviços diversificados e de qualidade, para todo e qualquer tipo
de evento, tais como casamentos, aniversários, bodas, eventos acadêmicos, eventos
corporativos e até festas infantis. Nega qualquer preconceito ou atitude discriminatória,
bem como aduz o argumento de que em muitas ocasiões não consegue atender à clientela,
por problemas de agenda ou falta de condições operacionais para a prestação dos serviços.
Que nunca atuou de forma discriminatória e que a medida proposta é uma aventura, uma
tentativa de violação da sua privacidade e do segredo industrial de sua atividade. Afirma,
outrossim, que a produção antecipada de provas não se coaduna com processos de índole
coletiva, que nunca manteve qualquer contato com a autora, que nunca lhe recusou algum
evento, porque afinal ela nunca tentou realizar qualquer tipo de evento junto ao Buffet.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
33

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/N, SÃO PAULO-SP, CEP 01501-000
Horário de atendimento ao público: das 12h30 às 19h00

Diante da recusa do Réu em apresentar e-mails trocados com clientes,


foi requerida a busca e apreensão do servidor de e-mails do Requerido. Da mesma forma,
diante da resistência do Requerido ao cumprimento da ordem judicial – amparada em
alegação de ilicitude da prova e violação à intimidade e ao sigilo das comunicações – foi
requerida a busca e apreensão do dispositivo “Alexa” instalado na sede da empresa.

Em decisão interlocutória de fls., este juízo deferiu as medidas


pleiteadas. Foram apreendidos os servidores e o dispositivo Alexa, que foram submetidos
a perícia, daí resultando que as respectivas provas foram juntadas aos autos.
Adicionalmente, foram oficiados o servidor de email e a Amazon Brasil, para
apresentação dos correios eletrônicos e das gravações ambientais porventura registradas,
seja das conversas havidas na empresa, seja de eventuais conversações com clientes
externos. Os dados obtidos corroboraram as informações apuradas via perícia.

Após a instrução, as Partes se manifestaram em alegações finais. A


Requerente requereu a homologação das provas produzidas. O Requerido reafirmou a
ilegalidade das provas, pois produzidas a partir de gravação clandestina e em violação ao
sigilo de correspondência, pleiteando a eliminação e desentranhamento de todas as provas
obtidas. Por fim, aduziu que nenhuma decisão deveria ser tomada, que a homologação
não pode produzir efeito algum, porque a decisão proferida na produção antecipada de
provas não faz coisa julgada material, impondo-se o exame da sua admissibilidade e
valoração apenas no futuro processo, no qual se deduzirá pretensão principal, amparada
nas provas antecipadas.

É o relatório. Passo a decidir.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
34

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/N, SÃO PAULO-SP, CEP 01501-000
Horário de atendimento ao público: das 12h30 às 19h00

A demanda de produção antecipada de provas recebeu nova roupagem


e significação no CPC/15, ampliando-se sobremaneira suas hipóteses de cabimento. O
Requerido aduz que esta medida não pode ser feita por meio de processo coletivo e que
uma Associação que defende liberdade religiosa não tem legitimidade para obter provas
sobre a forma de atuação da empresa, porque as partes nunca tiveram qualquer relação, e
a Associação nunca tentou fazer qualquer evento no Buffet Bela Mesa. Assim, não
obstante a ampliação da ideia de interesse de agir, não há como justificar a medida
pretendida pela Requerente, que equivale a uma verdadeira invasão e devassa sobre o
modo de funcionamento e sobre a autonomia privada do Requerido.

Não prosperam as alegações do Requerido. A amplitude da figura da


produção antecipada de prova e os benefícios que podem ser obtidos a partir deste
procedimento preparatório autorizam o seu manejo em toda e qualquer situação, inclusive
por meio de processo coletivo. É indiferente que a Associação autora não tenha recebido
alguma recusa do Buffet, porque pode defender interesses próprios, e também de seus
associados. Afinal, cuida-se de Associação constituída em 2004, que tem entre seus fins
institucionais a defesa da liberdade religiosa, da liberdade de culto, a promoção da
igualdade entre os fiéis das diversas religiões, o combate à discriminação religiosa nos
mais diversos ambientes e situações e a assistência a associados que se vejam envolvidos
em situações discriminatórias por motivos de crença religiosa. Rejeita-se, portanto, a
alegação de inadequação da via eleita, ratificando-se decisão anteriormente proferida.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
35

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/N, SÃO PAULO-SP, CEP 01501-000
Horário de atendimento ao público: das 12h30 às 19h00

Em decisão interlocutória de fls., este juízo deferiu as medidas


pleiteadas, por não vislumbrar as ilegalidades suscitadas. Dada a natureza da acusação,
apenas mediante a interceptação de comunicações internas é que se pode aferir a
ocorrência do ilícito. Ademais, aportadas as provas aos autos, constatou-se que a conduta
do Requerido se pautou em motivos de natureza religiosa, como suscitado pela
Requerente. A constatação do ilícito elimina, assim, o problema antecedente, relacionado
à licitude da prova.

A finalidade da prova obtida não é relevante para fins da sua


homologação, nem socorre ao Requerido a alegação de que não cabe atividade cognitiva
nesta sede preparatória. A prova deve ser homologada, para produzir seus regulares
efeitos em processos futuros, propostos pela própria Associação ou por seus associados,
“substituídos processuais” nesta demanda. Neste processo, o contraditório foi
adequadamente assegurado, daí porque é o caso de homologar as provas produzidas.

Dada a natureza preparatória desta medida, deixo de condenar qualquer


das partes em custas ou honorários.

São Paulo, 15 de outubro de 2020.

Publique-se. Registre-se. Intime-se

Pedro Lessa

Juiz de Direito

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
36

Doc. 10.

Estatuto da Associação Viva a Liberdade Religiosa, que instruiu a Medida Antecipada


de Provas, Processo 018041882-00.2019.8.26.0100
(doc. 10)

ESTATUTO SOCIAL
ASSOCIAÇÃO VIVA A LIBERDADE RELIGIOSA

CAPÍTULO I
DENOMINAÇÃO, SEDE, ÁREA DE ATUAÇÃO E FORO

Art. 1º - A ASSOCIAÇÃO VIVA A LIBERDADE RELIGIOSA, fundada em


assembleia geral realizada em 18/08/2004, inscrita no CNPJ/MF sob o nº
98.765.432/0001-22, é uma associação sem fins lucrativos, de interesse público e
religioso, regida pelo presente Estatuto Social e pelas demais disposições legais
aplicáveis.

Art. 2º - A Associação Viva a Liberdade Religiosa tem sede administrativa na Rua


Atlântida, nº 28, Centro, São Paulo, CEP 19890-007 e foro na Comarca de São Paulo –
SP.
CAPÍTULO II
OBJETIVOS E FINALIDADE SOCIAL

Art. 3º - A Associação Viva a Liberdade Religiosa tem por finalidade social a defesa da
liberdade religiosa e da liberdade de culto, a promoção da igualdade entre os fiéis das
diversas religiões, o combate à discriminação religiosa nos mais diversos ambientes e
situações e a assistência aos associados que se vejam envolvidos em situações
discriminatórias por motivos de crença religiosa.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
37

CAPÍTULO III
ÓRGÃOS DE ADMINISTRAÇÃO

SEÇÃO I
ORGANIZAÇÃO

Art. 4º - A Associação Viva a Liberdade Religiosa será administrada pelos seguintes


Órgãos colegiados:
(i) Assembleia Geral; e
(ii) Diretoria.

Art. 5º - A Diretoria é composta por um(a) Presidente, um(a) Vice-Presidente, um(a)


Diretor(a) Administrativo(a) e um(a) Diretor(a) Financeiro(a).

Art. 6º- O mandato dos membros da Diretoria será de 03 (três) anos, sendo vedada mais
de uma reeleição consecutiva para o mesmo cargo, salvo nos casos em que não houver
disponibilidade de concorrentes, quando será permitida a candidatura de membros que já
tenham ocupado cargos por mais de 2 (dois) mandatos consecutivos.

Art. 7º- A eleição, por voto aberto ou voto secreto, dependendo da decisão da Assembleia
Geral, se dará por chapa completa para a Diretoria.

Art. 8º - São votantes todos os Associados e Associadas com seus direitos sociais em dia
que comparecerem no dia e no local da votação, no período que for estabelecido no edital
convocatório, devendo assinar o livro de presença.

Parágrafo único. Considerar-se-á eleita a chapa que obtiver a maioria simples dos votos.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
38

Art. 9º - Os órgãos de governança da Associação Viva a Liberdade Religiosa adotarão as


práticas necessárias e suficientes a coibir a obtenção, por qualquer um, de forma
individual ou coletiva, de benefícios ou vantagens pessoais, em decorrência da
participação em processos decisórios.

SEÇÃO II
ASSEMBLEIA GERAL

Art. 10 – A Assembleia Geral é órgão soberano de deliberação da Associação Viva a


Liberdade Religiosa, sendo composta pelos Associados e Associadas em pleno gozo de
seus direitos estatutários.

Art. 11 – A Assembleia Geral se reunirá:


(i) Ordinariamente, uma vez por ano, para apreciar e aprovar relatórios anuais
financeiros e de atividade, e de três em três anos para eleição dos membros
da Diretoria; e
(ii) Extraordinariamente, sempre que necessário, quando convocada pela
Diretoria ou por 1/5 (um quinto) dos Associados e Associadas quites com
suas obrigações sociais.

Art. 12 – A Assembleia Geral será convocada, através de edital de convocação, afixado


na sede da Associação e amplamente divulgado, ou por meio de circulares, e-mail ou
outras formas convenientes, contendo local, hora, dia, horário e pauta.

Art. 13 – Na convocação da Assembleia Geral deverá ser observado o prazo de 10 (dez)


dias e deverá ser informado, expressamente, se a Assembleia Geral será realizada de
forma presencial, virtual ou híbrida, bem como indicadas as ferramentas ou plataformas
a serem utilizadas nessas duas últimas hipóteses.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
39

Art. 14- Compete à Assembleia Geral Extraordinária, entre outras questões relacionadas
aos objetivos da Associação:

(i) Eleger e dar posse aos membros da Diretoria;


(ii) Destituir em parte ou integralmente, em qualquer época, membros da
Diretoria, quando se tornarem indignos do cargo, podendo ser excluídos da
Associação;
(iii) Deliberar sobre a reforma e as alterações do Estatuto Social;
(iv) Decidir sobre a dissolução, extinção ou liquidação da Associação Viva a
Liberdade Religiosa;
(v) Referendar decisões sobre assuntos omissos no presente Estatuto Social;
(vi) Examinar e aprovar as contas da Diretoria e aprovar o orçamento anual;
(vii) Apreciar o relatório anual de atividades da Diretoria; e
(viii) Apreciar recursos contra decisões da Diretoria.

Parágrafo único. Para a alteração do estatuto, destituição de membro da Diretoria e


dissolução da associação, será exigido o voto concorde de 2/3 (dois terços) dos presentes
à Assembleia especialmente convocada para esse fim, não podendo ela deliberar, em
primeira convocação, sem a maioria absoluta dos Associados e Associadas, ou com
menos de 1/3 (um terço) nas convocações seguintes.

SEÇÃO III
DIRETORIA

Art. 15 – A Diretoria é o órgão de administração da Associação Viva a Liberdade


Religiosa composto por um(a) Presidente, um(a) Vice-Presidente, um(a) Diretor(a)
Administrativo(a) e um(a) Diretor(a) Financeiro(a).

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
40

Art. 16- Compete à Diretoria:

(i) Administrar supervisionar e coordenar as atividades técnicas, administrativas


e financeira da Associação Viva a Liberdade Religiosa, zelar pelos seus bens,
respeitadas as diretrizes aprovadas em Assembleia Geral, e garantir que os
recursos sejam aplicados no cumprimento das metas e objetivos
organizacionais da associação;
(ii) Elaborar o Regimento Interno da Associação Viva a Liberdade e Resolução
acerca dos procedimentos eleitorais;
(iii) Cumprir e fazer cumprir o Estatuto Social e outros regulamentos que forem
aprovados;
(iv) Convocar a Assembleia Geral; e
(v) Resolver, logo que possível, os casos omissos neste Estatuto.

Art. 17- Compete ao Diretor Presidente:

(i) Representar a Associação ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente;


(ii) Cumprir e fazer cumprir o Estatuto Social e o Regimento Interno;
(iii) Convocar e presidir as reuniões da Diretoria;
(iv) Assinar contratos, procurações, convênios, compromissos e termos de
responsabilidade em nome da associação após consulta e aprovação dos
demais membros da Diretoria;
(v) Convocar e presidir a Assembleia Geral, com exceção das Assembleias
convocadas para eleição da Diretoria, que deverão ser presididas por
Associado(a) que tenha sido membro da Diretoria anteriormente; e
(vi) Assinar, com o Diretor Administrativo, toda correspondência da Associação.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
41

Art. 18 – Compete ao Diretor Financeiro:

(i) Manter a contabilidade em ordem, escriturando os livros e documentos


contábeis;
(ii) Elaborar o balanço anual da Associação;
(iii) Prestar, de modo geral, sua colaboração ao Diretor Presidente; e
(iv) Outras atribuições que lhe forem designadas pelo Diretor Presidente.

Art. 19- Compete ao Diretor Administrativo:

(i) Secretariar as reuniões da Diretoria e Assembleia Geral;


(ii) Lavrar as atas e conservar atualizados os livros e registros da Entidade;
(iii) Expedir e controlar toda correspondência da Associação;
(iv) Manter atualizado o cadastro de Associados e Associadas;
(v) Prestar, de modo geral, sua colaboração ao Diretor Presidente; e
(vi) Outras atribuições que lhe forem designadas pelo Diretor Presidente.

Art. 20 – A Associação Viva a Liberdade Religiosa considerar-se-á obrigada, em juízo


ou fora dele, quando representada:

(i) Pelo Diretor Presidente; ou


(ii) Por um procurador, desde que investido de poderes especiais e expressos.

§1º - As procurações outorgadas pela Associação Viva a Liberdade Religiosa deverão ser
assinadas pelo Diretor Presidente e estabelecerão expressamente a limitação dos poderes,
devendo ser outorgadas por prazo determinado não superior a 02 (dois) anos, exceto os
instrumentos de mandato outorgados para fins judiciais, arbitrais e/ou administrativos em
que seja da essência do mandato o seu exercício até o encerramento da questão ou
processo.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
42

Art. 21 – Este Estatuto, aprovado em Assembleia Geral, confere à Diretoria competência


para resolver os casos considerados omissos, cujas decisões serão posteriormente
referendadas pelos Associados e Associadas em Assembleia Geral.

Art. 22 – O presente Estatuto Social poderá ser reformado em qualquer tempo em


Assembleia Geral, especialmente convocada para este fim.

Art. 23 – O exercício fiscal da Associação Viva a Liberdade Religiosa terá início em 1º


de janeiro e encerrar-se-á no dia 31 de dezembro de cada ano.

Art. 24 – A Associação Viva a Liberdade Religiosa, em todos os seus atos, obedecerá aos
princípios constitucionais da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da
publicidade, da economicidade e da eficácia.

Art. 25 – Este Estatuto entrará em vigor na data de seu registro em Cartório.

São Paulo /SP, 18 de agosto de 2004.

_______________________
Ariel Salgado
Diretora Presidente

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
43

Doc. 11.

Ata da Assembleia Geral Extraordinária da Associação Viva a Liberdade


Religiosa, que autorizou a propositura da Medida Antecipada de Provas, Processo
018041882-00.2019.8.26.0100

ASSOCIAÇÃO VIVA A LIBERDADE RELIGIOSA


CNPJ 98.765.432/0001-22

ATA DE ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA


REALIZADA EM 03 DE ABRIL DE 2018

1. DATA, HORA E LOCAL: Realizada no dia 03 do mês de abril de 2018, às 11


horas, na sede da ASSOCIAÇÃO VIVA A LIBERDADE RELIGIOSA, localizada na
cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, na Rua Atlântida, nº 28, Centro, CEP 19890-
007 (“Associação”).

2. CONVOCAÇÃO E PRESENÇA: Edital de convocação publicado nos termos


do Art. 12 do Estatuto Social da Associação, afixado na sede da Associação. Verificada
a presença de mais de 2/3 (dois terços) dos Associados e Associadas.

3. MESA: A Assembleia foi presidida pelo Sr. Oswaldo Cruz e secretariada pela
Sra. Diadorim Guimarães Rosa.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
44

4. ORDEM DO DIA: Deliberar sobre a adoção de medidas judiciais cabíveis em


face das condutas discriminatórias adotadas pelo Buffet Bela Mesa, que ferem
frontalmente os direitos religiosos defendidos pela Associação.

5. DELIBERAÇÃO: Após a leitura da ordem do dia, foram abertos os trabalhos em


face da Assembleia, tendo os Associados deliberado, por 4/5 de votos proferidos, que a
ata a que se refere esta Reunião fosse lavrada na forma de sumário, facultando o direito
de apresentação de manifestações e dissidências.

ADOÇÃO DE MEDIDAS JUDICIAIS CABÍVEIS EM FACE DAS CONDUTAS


DISCRIMINATÓRIAS ADOTADAS PELO BUFFET BELA MESA: Instalada a
Assembleia, os Associados decidiram, por 4/5 dos votos proferidos, adotar providências
judiciais necessárias contra as condutas discriminatórias praticadas pelo Buffet Bela
Mesa. Após primeira deliberação, o Presidente da Associação, Sr. Oswaldo Cruz, sugeriu
fosse ajuizada Ação de Produção Antecipada de Provas, nos termos do artigo 381 e
seguintes do Código de Processo Civil, para que fossem produzidas provas contra o
Buffet Bela Mesa que poderiam ser utilizadas em processos judiciais futuros. A sugestão
do Sr. Presidente foi aprovada por 2/3 dos votos proferidos.

6. ENCERRAMENTO: Nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente ata, que
conferida e validada foi encaminhada ao devido arquivamento na sede da Associação.

São Paulo, 03 de abril de 2018.

Mesa

_______________________ _______________________
Oswaldo Cruz Diadorim Guimarães Rosa
Presidente Secretária

Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
45

Doc. 12.

Ata da Assembleia Geral Ordinária de eleição de Diretoria da Associação


Viva a Liberdade Religiosa, que instruiu a Medida Antecipada de Provas, Processo
018041882-00.2019.8.26.0100

ASSOCIAÇÃO VIVA A LIBERDADE RELIGIOSA


CNPJ 98.765.432/0001-22

ATA DE ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA


REALIZADA EM 18 DE abril DE 2020

7. DATA, HORA E LOCAL: Realizada no dia 18 do mês de abril de 2020, às 11:00


horas, na sede da ASSOCIAÇÃO VIVA A LIBERDADE RELIGIOSA, localizada na
cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, na Rua Atlântida, nº 28, Centro, CEP 19890-
007 (“Associação”).

8. CONVOCAÇÃO E PRESENÇA: Edital de convocação publicado nos termos


do Art. 12 do Estatuto Social da Associação, afixado na sede da Associação. Verificada
a presença de mais de 2/3 (dois terços) dos Associados e Associadas.

9. MESA: A Assembleia foi presidida pelo Associada Sra. Ariel Salgado, ex-
Presidente da Associação, e secretariada pelo Associado Sr. Pedro Pan.

10. ORDEM DO DIA: Deliberar sobre (i) contas da administração e exame,


discussão e aprovação das demonstrações financeiras da Associação; e (ii) reeleição dos
membros da Diretoria.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
46

11. DELIBERAÇÃO: Após a leitura da ordem do dia, foram abertos os trabalhos em


face da Assembleia, tendo os Associados deliberado e aprovado:

5.1 DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS DA COMPANHIA RELATIVAS AO


EXERCÍCIO FINDO EM 31 DE DEZEMBRO DE 2019: Os Associados e as
Associadas, por mais de 4/5 dos votos e sem qualquer restrição, aprovaram as
demonstrações financeiras da Associação relativas ao exercício findo em 31 de dezembro
de 2019.

5.2 REELEIÇÃO DOS MEMBROS DA DIRETORIA: Os Associados e as Associadas


decidiram, por 4/5 dos votos proferidos, pela reeleição de todos os membros da Diretoria:

(a) Sr. Oswaldo Cruz, brasileiro, médico, portador da cédula de identidade RG nº


12.123.123-1, inscrito no CPF sob o nº 222.333.444-55, com endereço comercial
na Praça do Centenário, 137 - Centro, São Paulo/SP, como Presidente da
Associação Viva a Liberdade Religiosa;

(b) Sra. Ana Terra, brasileira, pedagoga, portadora da cédula de identidade RG nº


22.223.224-4, inscrita no CPF sob o nº 111.222.333-44, com endereço comercial
na Rua do Smith de Vasconcelos, 30 Bairro Cosme Velho, São Paulo/SP, como
Vice-Presidente da Associação Viva a Liberdade Religiosa;

(c) Sra. Diadorim Guimarães Rosa, brasileira, empresária no ramo da tecelagem,


portadora da cédula de identidade RG nº 18.835.312-4, inscrita no CPF sob o nº
222.444.666-55, com endereço comercial na Travessa Luís Neri, S/N - Centro,
São Paulo/SP, como Diretora Administrativa da Associação Viva a Liberdade
Religiosa;

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
47

(d) Sr. Rodrigo Cambará, brasileiro, veterinário, portador da cédula de identidade


RG nº 33.444.555.6, inscrito no CPF sob o nº 555.666.777.88, com endereço
comercial na Rua Marechal Deodoro, 497 - 13 andar, Centro, Curitiba/PR, como
Diretor Financeiro da Associação Viva a Liberdade Religiosa;
Nastácia & Barnabé Sociedade de Advogados

5.2.1 A Diretoria da Associação Viva a Liberdade Religiosa manteve os membros


anteriormente eleitos, mantendo sua composição:

Sr. Oswaldo Cruz Presidente

Sra. Ana Terra Vice-Presidente

Sra. Diadorim Guimarães Rosa Diretora Administrativa

Sr. Rodrigo Cambará Diretor Financeiro

12. ENCERRAMENTO: Nada mais havendo a tratar, foi lavrada a presente ata, que
conferida e validada foi encaminhada ao devido arquivamento na sede da Associação.

São Paulo, 18 de abril de 2020.

Mesa

_______________________ _______________________
Ariel Salgado Pedro Pan
Presidente de mesa Secretário

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
48

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUIZ DE DIREITO DA 18ª VARA


CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DE SÃO PAULO

Autos n. 4071948-00.2021.8.26.0100

BUFFET BELA MESA LTDA., pessoa jurídica de direito privado inscrita no CNPJ/MF
n.º 12.345.678/0001-90, com sede na Rua Pedro Narizinho, n. 12, São Paulo – SP,
representado na forma do seu Contrato Social, por seus procuradores (doc. 1), apresenta
sua CONTESTAÇÃO (art. 335 e seguintes do CPC), aos pedidos iniciais formulados
por BERTHA PIFFER CANABRAVA, CARLOS CHAGAS e MARIA JATENE,
nos termos que seguem:

1. DOS FATOS

Trata-se de demanda ajuizada por Bertha Piffer Canabrava, Carlos Chagas e


Maria Jatene, que tiveram a realização de seus eventos negada pelo Réu, e que agora
pretendem indenização por danos morais, por suposto tratamento discriminatório
recebido. O valor almejado por cada um é de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais),
acrescidos de correção monetária e juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês.

Como se verá a seguir, não assiste razão aos autores, razão pela qual os pedidos
devem ser julgados improcedentes.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
49

2. PRELIMINARMENTE

2.1.DA PRESCRIÇÃO.

A pretensão indenizatória dos autores Carlos Chagas e Maria Jatene não poderá
ser apreciada, pois está fulminada pela prescrição.

Como narrado na própria petição inicial, a suposta negativa de realização dos


eventos solicitados por Carlos e Maria teria ocorrido mais de 3 (três) anos antes da
propositura da demanda.

O autor Carlos se comunicou com o Réu em 09/03/2016 e teve a resposta


negativa em 10/03/2016. Já a autora Maria Jatene recebeu a resposta negativa em
12/01/2018. Como esta demanda foi proposta em 15 de fevereiro de 2021, a pretensão de
ambos está prescrita.

Com efeito, o fundamento desta demanda é ilícito extracontratual. Assim, aplica-


se ao caso o disposto no art. 206, §3º, V, do Código Civil. É o que basta para a extinção
deste processo com relação à Carlos Chagas e Maria Jatene, com base no art. 487, II, do
Código de Processo Civil

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
50

3. NO MÉRITO.
3.1.DO NÃO CABIMENTO DE PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS
EM PROCESSO COLETIVO

A demanda é inteiramente baseada em prova que foi produzida em demanda


preparatória, da qual NÃO participaram os Autores. Com efeito, a produção antecipada
de provas n. 018041882-00.2019.8.26.0100, na qual foram produzidas as provas que
respaldam o pedido autoral, foi ajuizada pela Associação Viva a Liberdade Religiosa,
constituída em 2004. Tratou-se, portanto, de uma ação coletiva cujo objeto foi a produção
antecipada de provas de futura ação coletiva e não de demanda individual e por terceiros.

Não se pode admitir provas produzidas antecipadamente em um processo


coletivo por três razões fundamentais.

Primeiro, processos coletivos não se prestam à produção antecipada de provas.


A natureza da ação coletiva é incompatível com a produção antecipada de provas. Seu
procedimento e as exigências formais do processo coletivo não se encaixam com o
procedimento descrito nos artigos 381 e seguintes do CPC. E mais ainda quando estas
provas produzidas pretendem subsidiar demandas individuais.

Segundo, no caso concreto, a aprovação de propositura de medida judicial contra


o Buffet Bela Mesa, pela assembleia da Associação Viva a Liberdade Religiosa, se deu
em 03 de abril de 2018, mais de um ano antes do ajuizamento daquela demanda. A
Associação, portanto, não mais possuía legitimidade ou autorização para propositura da
ação, de forma que seu manejo foi inadequado e deveria ter redundado na extinção
daquela demanda preparatória.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
51

Terceiro, o procedimento ligado à Produção Antecipada de Provas não pode ser


utilizado para subsidiar eventual direito de terceiros alheios à relação processual em
questão. Os sistemas do processo coletivo e individual são muito diversos, não se pode
importar institutos de um para o outro, sem as necessárias adaptações. A produção
antecipada de provas é exemplo eloquente. É discutível se caberia tal medida como
procedimento preparatório de futura ação coletiva e, ainda que se admitisse, a ação
proposta pela Associação Viva a Liberdade Religiosa pretendia reunir provas de uma
(inexistente) discriminação, com vistas a pedidos de abstenção e de mudança nas políticas
da empresa, pedidos que em nada se confundem com a indenização pretendida nesta
demanda. Afinal, fruto daquela medida ajuizada por uma Associação, os autores
propuseram demanda individual, em litisconsórcio ativo facultativo, na qual pretendem
utilizar como prova aquilo que foi produzido em demanda de terceiro.

Assim, se quisessem se utilizar de procedimento prévio, deveriam os autores


produzir as suas provas antecipadamente, ou na presente ação, e não se utilizar de prova
produzida por terceiro em procedimento em que sequer atuaram como assistentes ou
litisconsortes. Aliás, o STJ já entendeu que é “admissível a intervenção de terceiro em
ação cautelar de produção antecipada de prova, na forma de assistência provocada, pois
visa garantir a efetividade do princípio do contraditório, de modo a assegurar a eficácia
da prova produzida perante aquele que será denunciado à lide, posteriormente, no
processo principal” (REsp 213556 / RJ – Rel. Min. Nancy Andrighi 3ª Turma – J. em
20/08/2001 - DJDJ 17/09/2001 p. 161 - JBCC vol. 194 p. 340).

Portanto, deveriam os autores participar da produção de prova anterior, no


mínimo como assistentes ou litisconsortes, para que pudessem as utilizar na demanda ora
contestada, pelo que, assim não fazendo, deve ser extinto o processo sem resolução de
mérito.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
52

3.2. DA HOMOLOGAÇÃO DA PROVA NO PROCEDIMENTO ANTERIOR


QUE É ILEGAL. VALORAÇÃO PELO JUÍZO AD QUEM.

A legislação vigente consagra a produção antecipada de prova, sem o requisito


de urgência, mas lhe confere cognição restrita, sem previsão de defesa, recurso ou coisa
julgada. É no processo principal que todos os fundamentos de defesa do demandado serão
deduzidos (CPC, art. 382)

Também o STJ caminha no mesmo sentido, como se pode observar nos itens 2 a
4 do AgInt nos EDcl no RMS 61128 / GO (Rel. Min. Raul Araújo – 4ª Turma – J.
06/10/2020 – DJe 16/10/2020).

Disso se extrai que o resultado da demanda preparatória não se reveste de


qualquer concretude. A decisão lá proferida, dando as provas como válidas e
homologando-as, simplesmente deve ser ignorada, pois este exame compete apenas e tão
somente a este Juízo.

A decisão que homologa a produção antecipada de provas não produz coisa


julgada, de modo que as provas nela produzidas não poderão ser aqui utilizadas porque
os autores não participaram daquela ação e porque, em qualquer caso, as provas são
inadmissíveis.

Ademais, mesmo que se tente tratar o instituto como prova emprestada (CPC,
art. 372), esta solução é incabível. Sem a observância adequada do contraditório e da
ampla defesa no processo de origem, a produção autônoma da prova é imprestável e deve
ser não só desprezada, como desentranhada dos autos.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
53

3.3. DA ILEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS.

Além de todos os aspectos anteriormente aduzidos, importante destacar que as


provas produzidas no âmbito da produção antecipada não poderão ser utilizadas na
presente demanda, uma vez que apresentam grave vício de legalidade.

Em síntese, as provas produzidas e homologadas pelo d. juízo decorreram da


revelação de e-mails trocados entre o Buffet Bela Mesa e os clientes ou potenciais
clientes, desde a sua fundação, e das gravações obtidas do assistente de voz Alexa
instalado no escritório do estabelecimento empresarial. Essas provas foram fruto de
abusiva apreensão dos servidores e dispositivos da Ré, além de informações prestadas
pelos provedores que armazenam tais conteúdos.

Por óbvio, a exibição forçada dos e-mails do Buffet Bela Mesa viola o sigilo das
correspondências, direito fundamental garantido pelo artigo 5º, inciso XII da Constituição
Federal.

Além disso, as gravações obtidas da assistente de voz Alexa são clandestinas,


considerando que não é possível afirmar que todos os indivíduos gravados pela Alexa
tinham conhecimento do ato.

As garantias constitucionais fundamentais do Réu foram violadas naquele


procedimento preparatório, com medidas de inequívoco autoritarismo e em franca
violação ao seu devido processo legal. Tais provas devem ser excluídas deste processo,
desconsideradas para todos os fins, o que certamente redundará na rejeição dos pedidos
iniciais.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
54

3.4.- DA INEXISTÊNCIA DE QUALQUER ATO DISCRIMINÓRIO – DA


LEGALIDADE DA CONDURTA DO RÉU – DA INEXISTÊNCIA DE
DANO

Em qualquer caso, os pedidos improcedem porque não houve qualquer conduta


discriminatória e nem recusa injustificada que possa fundamentar os alegados danos.
Estes, aliás, sequer foram indicados e demonstrados na petição de ingresso e não podem
ser reconhecidos.

O Buffet Bela Mesa deixou de atender os serviços solicitados pelos autores em


razão de motivos alheios à religião.

No tocante ao pedido de Bertha Piffer Canabrava, o evento familiar para o qual


a autora pretendia a contratação do Buffet se deu no período de pandemia da Covid-19
que assolou o Brasil e o mundo. À época, medidas restritivas de combate à pandemia
foram impostas pelo Poder Público, impedindo o Buffet Bela Mesa de exercer suas
atividades.

O pedido de Carlos Chagas, por sua vez, seria destinado a evento realizado no
dia 31 de março de 2016, data para a qual o Buffet Bela Mesa possuía outro evento
programado.

Por fim, o pedido de Maria Jatene seria executado no litoral paulista, local onde
foi realizada a homenagem a Iemanjá. Contudo, a mão de obra para execução dos serviços
de buffet no litoral é escassa, o que impediu que o Buffet Bela Mesa atendesse ao pedido
da autora.

Nesse contexto, por mais esse motivo, não merecem prosperar os pedidos dos
autores.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
55

3.5.DA GARANTIA CONSTITUCIONAL DA LIVRE INICIATIVA

Além dos fundamentos anteriores, o pedido deve ser julgado improcedente em


razão da legítima conduta do Réu, da sua atuação estritamente nos termos garantidos pela
garantia constitucional da livre iniciativa (CF/88, arts 1º, inciso IV e 170).

Trata-se do princípio que possibilita a participação do cidadão no mercado sem


necessidade de autorização do Estado. O mesmo princípio garante que os serviços
prestados pelo estabelecimento empresarial se deem de acordo com a vontade do
prestador de serviço.

Significa dizer que o Buffet Bela Mesa, com base no princípio da livre iniciativa,
não é obrigado a atender a todo e qualquer consumidor que demande sua prestação de
serviços. A aceitação da contratação demanda conduta interna na qual se analisa a data,
os serviços contratados, o prazo para a sua realização, a necessidade de contratação de
pessoal, serviços, decoração, alimentação, autorização das autoridades competentes etc. .

Isso tudo gerou a comunicação apresentada aos autores, com a antecedência


necessária de que não seria possível a realização dos eventos. Tal conduta não provoca
qualquer dever de indenização.

Ademais, é mister aduzir que o Bela Mesa é pessoa jurídica de direito privado e,
com fundamento na livre iniciativa, tem direito de escolher seus clientes, de prestar
serviços aos eventos que lhe interessarem, quando houver condições de estrutura e
qualidade, para que não depreciada a sua marca neste ramo de atividade. Ainda que a
recusa se justificasse por aspectos quanto ao objeto das celebrações, essa recusa não
poderia ser tida como discriminatória.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
56

Registre-se ainda que o serviço de buffet não é essencial e nem exclusivo,


existindo diversas opções no mercado que poderiam atender ao interesse dos autores.
Logo, inexiste dano moral, considerando os fundamentos aqui apresentados.

Em razão dos fundamentos aqui apresentados, portanto, os pedidos autorais


devem ser julgados improcedentes.

4. DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, requer o réu:

- Seja acolhida a preliminar de prescrição, com a extinção do processo com


resolução de mérito.

- Seja reconhecida a ilegalidade das provas colhidas, com o seu


desentranhamento dos autos ou, subsidiariamente, que elas deixem de ser
consideradas como elementos instrutórios;

- Sejam julgados improcedentes os pedidos, considerando a inexistência de


fundamentos que amparem a pretensão, por legalidade da conduta adotada,
baseada na garantia da livre iniciativa, e pela inexistência de danos.

- Na remota hipótese de procedência dos pedidos autorais, seja reduzido o valor


da indenização por danos morais, aos quais devem ser acrescidos juros
moratórios calculados com base na taxa SELIC, nos termos do artigo 406 do
Código Civil.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
57

Termos em que

pede deferimento.

São Paulo, 01 de abril de 2021.

_________________________ _____________________________

EMÍLIA AMARELO VISCONDE AMARELO

OAB/SP n. 98.765 OAB/SP n. 95.431

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
58

PROCURAÇÃO

Por este instrumento particular de procuração, o BUFFET BELA MESA LTDA, pessoa
jurídica de direito privado inscrita no CNPJ/MF n.º 12.345.678/0001-90, com sede na
Rua Pedro Narizinho, n. 12, São Paulo – SP, representado pelo sócio-administrador
BERNARDO ROSA, brasileiro, solteiro, domiciliado na Rua Tia Anastácia, n. 34 Bairro
Rabicó, São Paulo/SP, nomeia e constitui seus procuradores EMÍLIA AMARELO,
advogada inscrita na OAB/SP n. 98.765 e VISCONDE AMARELO, advogado inscrito
na OAB/SP n. 95.431, ambos com escritório profissional situado na Rua Saci, n. 78,
Bairro Barnabé, Taubaté - SP, a quem outorga poderes amplos e gerais ad judicia, para
proceder à defesa dos seus direitos e interesses, bem como poderes especiais ad judicia
et extra, para receber, dar quitação, firmar compromisso, fazer acordos e deliberar na fase
conciliatória, comparecer em quaisquer processos judiciais e administrativos do interesse
do outorgante, podendo ainda desistir, substabelecer, e tudo o mais o que for necessário,
visando o cabal e fiel cumprimento deste mandato, em especial para atuar no interesse da
outorgante em ações judicias de qualquer natureza.

São Paulo, 01 de março de 2021.

________________________
BERNARDO ROSA
Sócio-administrador do Buffet Bela Mesa

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
59

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/N, SÃO PAULO-SP, CEP 01501-000
Horário de atendimento ao público: das 12h30 às 19h00

SENTENÇA

Autos digitais nº 4071948-00.2021.8.26.0100


18ª. Vara Cível
Classe – Assunto: Ação ordinária – demanda indenizatória
Autores: Bertha Piffer Canabrava, Carlos Chagas e Maria Jatene
Réu: Buffet Bela Mesa Ltda.

Juíza de Direito Lilian Sobel

Vistos.

Bertha Piffer Canabrava, Carlos Chagas e Maria Jatene ajuizaram


ação indenizatória contra o Buffet Bela Mesa Ltda., requerendo compensação por
danos morais por alegada discriminação religiosa praticada pelo Buffet Bela Mesa,
que teria se recusado injustificadamente a prestar serviços em eventos realizados
por cada um dos autores e ligados a motivos religiosos. A inicial foi instruída com
cópia das principais peças dos autos da produção antecipada de provas nº
018041882-00.2019.8.26.0100, movida pela Associação Viva Liberdade Religiosa
contra o réu.

Citado, o Buffet apresentou contestação em que negou os fatos


afirmados na petição inicial. Disse ter deixado de atender a autora Bertha, em razão
das medidas de isolamento social decretadas em combate à pandemia da Covid-
19. Quanto ao autor Carlos, alegou que já havia se comprometido a realizar outro
evento na mesma data desejada. Afirmou ainda que não foi possível realizar o
evento da autora Maria em razão do local da festividade, o litoral de São Paulo,

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
60

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/N, SÃO PAULO-SP, CEP 01501-000
Horário de atendimento ao público: das 12h30 às 19h00

onde o Buffet não prestaria seus serviços. Assim, diz não ter havido discriminação
ligada a motivos religiosos.

Sustentou que as pretensões indenizatórias de Carlos Chagas e


Maria Jatene estariam prescritas, com base no art. 206, §3º, V, do Código Civil.

O réu impugnou também o pedido de utilização da prova


produzida nos autos nº 018041882-00.2019.8.26.0100, ao argumento de que os
autores não participaram do referido processo e, portanto, não estariam presentes
os requisitos do art. 372 do Código de Processo Civil. Alega que a decisão
proferida na produção antecipada de provas não faz coisa julgada material,
impondo-se o exame da sua admissibilidade e valoração neste processo. Sustenta,
a propósito, que a referida prova seria ilegal, pois produzida a partir de gravação
clandestina e em violação ao sigilo de correspondência.

Em caráter subsidiário, diz que não teria ficado comprovada


discriminação com base em religião e que, como prestador de serviços privados e
facultativos, não está obrigado a atender a todo e qualquer consumidor,
considerando o princípio da livre iniciativa, previsto nos arts. 1º, IV, e 170 da
Constituição Federal.

Em segundo grau de subsidiariedade, pediu que, caso fosse


acolhido o pedido inicial, os juros de mora se orientem pela taxa Selic.

É o relatório. Decido.

Considerando que todas as provas necessárias para o julgamento


da causa foram produzidas nos autos nº 018041882-00.2019.8.26.0100, o processo
pode ser imediatamente sentenciado nos termos do art. 355, I, do Código de

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
61

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/N, SÃO PAULO-SP, CEP 01501-000
Horário de atendimento ao público: das 12h30 às 19h00

Processo Civil. É despicienda inclusive a apresentação de réplica,


considerando o conteúdo desta sentença.

A primeira questão a ser apreciada é alegação de prescrição da


pretensão indenizatória dos autores Carlos Chagas e Maria Jatene.

Não há que se falar em prescrição pois o prazo aplicável in casu é


de 10 (dez) anos nos termos do art. 205 do Código Civil. Com efeito, a pretensão
indenizatória dos autores é de natureza contratual, na medida em que procuraram
o réu para celebrar contrato de prestação de serviços, o qual foi frustrado por
motivo de discriminação religiosa. Assim, como o caso situa-se no âmbito da
responsabilidade pré-contratual, aplica-se o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça nos embargos de divergência nº 1.280.825/RJ, julgados pela Segunda
Seção em 27.6.2018.

Ademais, a citação do Buffet Bela Mesa na medida de produção


antecipada de provas interrompeu o prazo prescricional, de acordo com o art. 240
do Código de Processo Civil.

Portanto, rejeito a prejudicial de mérito para todos os autores.

Passando ao mérito, a responsabilidade civil tem como


pressupostos o ato ilícito, o dano e o nexo de causalidade eles.

A prova do ato ilícito praticado pelo Buffet Bela Mesa foi colhida
nos autos do processo nº 018041882-00.2019.8.26.0100, a qual pode ser transportada
para o caso em comento.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
62

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/N, SÃO PAULO-SP, CEP 01501-000
Horário de atendimento ao público: das 12h30 às 19h00

O aproveitamento da prova de outro processo é autorizado diante


da identidade de partes, do respeito ao contraditório no processo de origem e da
identidade do fato probandum, que é justamente a discriminação praticada pelo
réu quanto a clientes e eventos ligados às religiões em geral (CPC, art. 372). A
identidade de partes, por sua vez, está presente, pois a Associação Viva Liberdade

Religiosa estava nos autos da produção antecipada de provas,


substituindo os autores, de modo que eles podem se valer da prova colhida
naqueles outros.

Quanto às supostas ilegalidades da prova, por violação ao sigilo


de correspondência e gravação clandestina, embora este Juízo concorde que os
limites constitucionais foram desrespeitados no processo nº 018041882-
00.2019.8.26.0100, como a prova foi homologada, entende que a coisa julgada e o
disposto nos arts. 502 e seguintes do Código de Processo Civil impedem a
rediscussão da questão. Portanto, até que a sentença proferida na produção
antecipada de provas seja desconstituída, as provas produzidas naqueles autos são
válidas e podem ser aproveitadas neste processo.

Assim, passando à análise da prova, nota-se a partir dos


documentos de nº 05 a 08 da petição inicial que o Buffet Bela Mesa tem como
política velada não realizar eventos religiosos. Ocorre que a Constituição Federal
protege a liberdade religiosa e a liberdade de culto, em seu art. 5º, VI e VIII. Logo,
ninguém pode ser discriminado por essa razão. O fato de o Buffet ser pessoa
jurídica de direito privado, que presta serviços privados e em caráter não exclusivo,
não altera esse cenário, pois o art. 39, II e IX, do Código de Defesa do Consumidor
dispõe ser ilegal a recusa de atendimento aos consumidores se o fornecedor tem
condições de prestar os serviços.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
63

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/N, SÃO PAULO-SP, CEP 01501-000
Horário de atendimento ao público: das 12h30 às 19h00

Ressalte-se outrossim que, para aferir os fatos narrados nos autos, esta
magistrada encontrou em contato com o Buffet Bela Mesa em 16.4.2021, por
telefone, para solicitar orçamento para um bar mitzvah e recebeu como resposta
que o réu estaria sem agenda para a data solicitada. Quando esta magistrada
respondeu que a data seria flexível, desde que o observado o mês de outubro de
2021, os representantes do réu responderam que todo o mês de outubro estaria
tomado. Como esse fato não é crível, ainda mais durante a pandemia da Covid-19,
esta juíza reputa que o Buffet incorreu sim em ilegal discriminação religiosa.

O princípio da livre iniciativa (CF, art. 170) tampouco socorre ao


réu, pois o Supremo Tribunal Federal já fixou que ele não é absoluto e admite
limitações: “Calixto Salomão Filho, referindo-se à doutrina do eminente Min. Eros
Grau, adverte que ‘livre iniciativa não é sinônimo de liberdade econômica
absoluta. (...) O que ocorre é que o princípio da livre iniciativa, inserido no caput
do art. 170 da Constituição Federal, nada mais é do que uma cláusula geral, cujo
conteúdo é preenchido pelos incisos do mesmo artigo. Esses princípios claramente
definem a liberdade de iniciativa não como uma liberdade anárquica, porém social
e que pode, consequentemente, ser limitada’ (Regulação da atividade econômica:
princípios e fundamentos jurídicos, São Paulo: Malheiros, 2001, pp. 93-94).

(...) Dadas as características do mercado de cigarros, que encontra na tributação


dirigida um dos fatores determinantes do preço do produto, parece-me de todo
compatível com o ordenamento limitar a liberdade de iniciativa a bem de outras
finalidades jurídicas tão ou mais relevantes, como a defesa da livre concorrência e
o exercício da vigilância estatal sobre setor particularmente crítico para a saúde
pública”.3

3
STF, Pleno, MC em AC nº 1657, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Rel. p/ acórdão, Min. Cézar Peluso, j.
27.6.2007. Trecho do voto vencedor do Min. Cézar Peluso.

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
64

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO CENTRAL CÍVEL
PRAÇA JOÃO MENDES S/N, SÃO PAULO-SP, CEP 01501-000
Horário de atendimento ao público: das 12h30 às 19h00

Nesse contexto, diante da prática reiterada de discriminação religiosa por


parte do Buffet Bela Mesa e considerando o precedente do Supremo Tribunal
Federal transcrito acima, o qual é de observância obrigatória (CPC, art. 927, V),
julgo integralmente procedente a demanda.

Como a conduta do réu é grave e deve ser reprimida, fixo os danos


morais em R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) para cada um dos autores. O valor
deverá ser corrigido monetariamente pelo índice do Tribunal de Justiça de São
Paulo desde a publicação da sentença e acrescido de juros de mora de 1% ao mês
desde a data da citação. Deixo de aplicar a Selic ao caso por sua inadequação.
Condeno ainda o réu ao pagamento de honorários de sucumbência arbitrados em
20% (vinte por cento) da condenação.

São Paulo, 17 de maio de 2021.

Publique-se. Registre-se. Intime-se

Lilian Soebel

Juíza de Direito

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA
65

REALIZAÇÃO:

IBDP
INSTITUTO BRASILEIRO DE
DIREITO PROCESSUAL

TODAS AS INFORMAÇÕES E DADOS USADOS NO CASO SÃO FICTÍCIOS. QUALQUER SEMELHANÇA COM
DADOS E FATOS REAIS SERÁ MERAMENTE COINCIDÊNCIA

Você também pode gostar