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APELAÇÃO CÍVEL Nº 5540175.79.2018.8.09.

0051
COMARCA GOIÂNIA
APELANTE UNIMED GOIÂNIA
APELADOS JOÃO CARLOS SILVA OLIVEIRA E OUTRA
RELATOR DES. OLAVO JUNQUEIRA DE ANDRADE

VOTO

Presentes os pressupostos de admissibilidade do recurso de apelação, dele


conheço.

Conf. relatado, trata-se de recurso de apelação (mov. nº 37), concluso a esta


Relatoria, em 09 p. p. (09/12/2019), interposto, em 06/11/2019, pela UNIMED
GOIÂNIA, da sentença (mov. nº 33) prolatada pelo MM. Juiz de Direito da 7ª Vara
Cível desta Comarca de Goiânia, Dr. Luciano Borges da Silva, no processo da “ação
declaratória cumulada com obrigação de fazer” movida por JOÃO CARLOS SILVA
OLIVEIRA e LETÍCIA MARIA TIRADENTES OLIVEIRA, ora Apelados; julgando
procedente o p.: “Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos da inicial.
CONFIRMO os efeitos da tutela inicialmente deferida para determinar o
restabelecimento do plano de saúde contratado pela parte autora. CONDENO a
requerida no pagamento de indenização por danos morais, no importe de R$6.000,00
(seis mil reais), corrigidos pelo INPC-IBGE, mais juros de mora de 1%(um por cento)
ao mês a partir da data da sentença. CONDENO a requerida no pagamento das
custas e despesas processuais, com honorários fixados em 20%(vinte por centos)
sobre o valor da condenação, art. 85, §2º do CPC/2015.”

Os Apelados/AA. moveram esta ação, relatando são beneficiários de plano de


saúde administrado pela Apelante/R., na qualidade de titular e dependente.

Asseveram que, ao realizar uma consulta de rotina, perceberam que o plano


de saúde havia sido cancelado unilateralmente e que não foram notificados acerca da
rescisão contratual.

Contam que foram informados que o plano havia sido cancelado devido à
inadimplência das parcelas 08/2018 e 09/2018.

Asseveram que solicitaram os boletos em aberto para procederem ao

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pagamento, realizando a quitação no dia 31/10/2018; contudo, o plano de saúde foi
cancelado, sem qualquer comunicado prévio.

Após regular trâmite processual, sobreveio sentença julgando procedente o p.

Inconformada, a Apelante/R. interpôs este recurso, aduzindo que houve a


notificação prévia dos Apelados/AA. para cancelamento do contrato.

Afirma: “O TEXTO LEGAL NÃO DETERMINA A NOTIFICAÇÃO PESSOAL


DO BENEFICIÁRIO, BASTANDO PARA ISSO QUE A NOTIFICAÇÃO SEJA
ENTREGUE NO ENDEREÇO DE CORRESPONDÊNCIA FORNECIDO PELO
CONTRATANTE/APELADO, O QUE CONTRADIZ OS ARGUMENTOS DA
SENTENÇA, NA QUAL O JUÍZO DE PISO ENTENDEU, EQUIVOCADAMENTE SER
NECESSÁRIA A NOTIFICAÇÃO PESSOAL.”

Assevera que é obrigação dos beneficiários o pagamento das faturas em dia.

Alega que não há necessidade de notificação pessoal dos beneficiários do


plano de saúde, para cancelamento do contrato.

Verbera: “o INADIMPLEMENTO POR DIAS CONSECUTIVOS OU NÃO NOS


ÚLTIMOS DOZE MESES DE VIGÊNCIA DO CONTRATO FACULTA À OPERADORA,
NO EXERCÍCIO REGULAR DO SEU DIREITO, PROMOVER A RESCISÃO
UNILATERAL DO CONTRATO, APÓS NOTIFICAR O DEVEDOR, O QUE
EFETIVAMENTE FOI CUMPRIDO e provado neste recurso.”

Aponta a inexistência de danos morais suportados pelos Apelados/AA.

Inicialmente, cumpre ressaltar que, tratando-se de contrato de plano de


saúde, a relação entre as partes se caracteriza como consumerista por excelência,
devendo, portanto, ser analisada à luz dos preceitos do Código de Defesa do
Consumidor, consoante o enunciado da Súmula 469 do Superior Tribunal de Justiça:
“Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde.”

Cediço que a rescisão unilateral do contrato de plano de saúde, por


inadimplemento do consumidor, está condicionada ao inadimplemento por período
superior a sessenta (60) dias, e a notificação do consumidor até o quinquagésimo dia

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de inadimplemento; vejamos:

“Art. 13. Os contratos de produtos de que tratam o inciso I e o § 1o do


art. 1o desta Lei têm renovação automática a partir do vencimento do
prazo inicial de vigência, não cabendo a cobrança de taxas ou
qualquer outro valor no ato da renovação.

Parágrafo único. Os produtos de que trata o caput, contratados


individualmente, terão vigência mínima de um ano, sendo
vedadas:
(…)
II – a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato, salvo por
fraude ou não-pagamento da mensalidade por período superior
a sessenta dias, consecutivos ou não, nos últimos doze meses
de vigência do contrato, desde que o consumidor seja
comprovadamente notificado até o quinquagésimo dia de
inadimplência.”

Daí, infere-se que a notificação do consumidor é requisito imprescindível à


rescisão unilateral do contrato de plano de saúde, cuja inobservância leva à
invalidação do distrato.

A propósito, segundo entendimento jurisprudencial majoritário, para que a


notificação seja reputada válida, é necessário que seja prévia e pessoal, o que não se
verifica no caso.

No caso, os documentos, colacionados no processo na mov. nº 20 - 12 ar.01


e 13.ar.02, demonstraram que as aludidas notificações foram recebidas por Dorival
Tiradentes, pessoa que não figura na titularidade da relação contratual estabelecida
entre as partes.

A notificação, ainda que no endereço contratual, não supre a necessidade da


notificação pessoal do titular do plano, conforme disposto no art. 13, parágrafo único,
inciso II, da Lei nº 9.656/1998, conf. entendimento jurisprudencial firmado, senão
vejamos:

“ (...) Tratando-se de plano de saúde individual, faz-se


imprescindível a notificação do beneficiário antes do
cancelamento unilateral por inadimplência, na forma do art. 13,
inciso II, da Lei n° 9.656/98. A jurisprudência desta Corte é

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assente no sentido de que além do decurso do prazo de 60
(sessenta) dias, consecutivos ou não, exige-se a notificação
pessoal do consumidor. Agravo de instrumento conhecido e
provido. Decisão reformada.” (TJGO, 3ª C. Cível, A.I. nº
5342647-64.2016.8.09.0000, Rel. Des. Itamar de Lima, ac.
unânime de 30/04/2017, DJ de 30/04/2017.)

“(...) De acordo com a parte final do inciso II, do artigo 13, da


Lei n. 9.656/98, admite-se a rescisão unilateral do contrato de
Plano de Saúde, desde que o consumidor seja
comprovadamente notificado até o qüinquagésimo dia de
inadimplência. (...) Apelação Cível conhecida e provida.”
(TJGO, APELAÇÃO 0011599-91.2017.8.09.0137, Rel.
CARLOS ALBERTO FRANÇA, 2ª Câmara Cível, julgado em
06/12/2018, DJe de 06/12/2018.)

Nesse contexto, observo que a Apelante/R. não notificou pessoalmente os


Apelados, conf. art. 13, parágrafo único, inciso II, da Lei nº 9.656/988, de forma que a
manutenção da sentença, que determinou a restauração do vínculo contratual, é
medida que se impõe.
Quanto aos danos morais, insta destacar que, para que sejam configurados, é
preciso que a pessoa seja atingida em sua honra, reputação, personalidade e em seu
sentimento de dignidade; passe por dor, humilhação, constrangimentos e tenha os
seus sentimentos violados, isso devidamente comprovado.

In casu, evidenciada a prática de ato ilícito, qual seja, o cancelamento do


plano de saúde com inobservância às normas aplicáveis à espécie, restou comprovado
que os Apelados/AA. sofreram incômodo além do normal.

Ademais, a falta de notificação descaracteriza a alegação de culpa exclusiva


da vítima pelo dano sofrido, ou de má-fé, diante da falta de ciência do fato e de
oportunidade para saldar a dívida.

Não há falar-se em exercício regular de direito por parte da Apelante, quando


não atendidas as formalidades legais para a rescisão unilateral do contrato de plano
de saúde.

Evidente que o cancelamento abrupto do plano de saúde pela Apelante/R.,


enseja o dever de indenização; vejamos:

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“ (...) O cancelamento repentino do plano de saúde pela
empresa traduz-se em verdadeiro abalo moral, porquanto
desatendidos os requisitos estabelecidos na lei de regência,
causando aflição psicológica e angústia à segurada. 5. A
fixação da indenização por danos morais no montante de R$
5.000,00 (cinco mil reais) não destoa da justa indenização
devida. APELAÇÕES CÍVEIS CONHECIDAS E
DESPROVIDAS.” (TJGO, Apelação (CPC) 5248326-
78.2016.8.09.0051, Rel. SANDRA REGINA TEODORO REIS,
6ª Câmara Cível, julgado em 04/07/2019, DJe de 04/07/2019.)

“ (...) A rescisão unilateral de contrato de plano de saúde,


quando ilegal, é situação que traduz profunda angústia e
sensação de desamparo ao consumidor, extrapolando a seara
do mero aborrecimento e caracterizando dano moral
indenizável. 6. Sendo o valor da indenização proporcional e
razoável, sendo suficiente a reparar o prejuízo sofrido sem,
contudo, implicar em enriquecimento ilícito da vítima ou
empobrecimento elevado do agressor, forçosa a sua
manutenção, em atenção ao que preconiza a Súmula nº 32
deste Tribunal de Justiça. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO.” (TJGO, Apelação (CPC) 0144068-
39.2015.8.09.0051, Rel. LEOBINO VALENTE CHAVES, 3ª
Câmara Cível, julgado em 08/10/2018, DJe de 08/10/2018.)

Por fim, esclareço que não houve p. de minoração do quantum arbitrado à


título de danos morais, razão pela qual deve ser mantido àquele fixado pelo MM.
Julgador a quo, uma vez que atende aos requisitos da proporcionalidade e
razoabilidade.

Daí, diante das considerações tecidas, o desprovimento do apelo é medida


que se impõe.

Por fim, em razão do desprovimento do apelo, condeno a Apelante/R. ao


pagamento dos honorários advocatícios recursais, cujo importe fixo em 3% (três por
cento) sobre o valor da condenação, conf. art. 85, § 11 do CPC, que deverão
cumulados com os fixados em 1º grau.

Do exposto, conhecido do apelo, submeto o seu exame à Turma Julgadora


desta eg. 5ª Câmara Cível; pronunciando-me pelo seu desprovimento; mantendo-se
incólume a r. sentença, por estes e seus próprios fundamentos; destarte, fixando-se
honorários recursais em 3% (três por cento), sobre o valor da condenação, cumulados
com os já arbitrados no 1º grau.

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É o voto.

Goiânia, 04 de junho de 2 020.

Des. Olavo Junqueira de Andrade


Relator
(6)

ACÓRDÃO

VISTOS, relatados e discutidos os presentes autos do APELAÇÃO CÍVEL Nº


5540175.79.2018.8.09.0051.

ACORDAM os integrantes da Terceira Turma Julgadora da Quinta Câmara


Cível do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, à unanimidade, em
CONHECER DO RECURSO E DESPROVÊ-LO; nos termos do voto do Relator.

VOTARAM, além do Relator, o Desembargador Guilherme Gutemberg Isac


Pinto e o Desembargador Marcus da Costa Ferreira.

Presidiu a sessão o Desembargador Alan S. de Sena Conceição.

Presente a Procuradora de Justiça Dra. Márcia de Oliveira Santos.

Goiânia, 04 de junho de 2 020.

Des. Olavo Junqueira de Andrade


Relator

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