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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (ÍZA) DE DIREITO DO ____

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE UBERABA - MINAS GERAIS


JOSANA MARTINS RODRIGUES AGRELI, brasileira, natural de Uberaba/MG, casada,
advogada regularmente inscrita na OAB/MG sob o nº 176.571, cadastro de pessoa física sob
o nº XXX, Registro de Identidade nº XXX, expedida em 01/01/1000, nascida em
01/01/1000, filha de XXX e XXX, residente e domiciliada na avenida XXX, nº X, Bairro X,
CEP 38.000-000, Uberaba/MG, vem com fulcro nos artigos 42 e 49, ambos do Có digo de
Defesa do Consumidor propor ação de restituição de indébito em desfavor de XXX, CNPJ:
XXX, Inscriçã o Estadual: XXX, com matriz na rua XXX, nº X - Sala X, Centro, Sã o Paulo/SP -
CEP: XXX, e-mail: xxx @xxx.com.br (doc. 4 em anexo), o que faz pelos razõ es de fato e de
direito a seguir alinhavadas.
1. A Requerente é advogada (doc. X em anexo) atuando em causa pró pria nos termos do
art. 103, parágrafo único do CPC, motivo pelo qual dispensa-se procuraçã o.
2. A Requerente adquiriu em 10.04.2017 as 13h51, via internet, uma TV registrada sob o
pedido de nº XXX, que nã o correspondeu à s suas expectativas, pois como consumidora e
sem informaçã o tecnoló gica, restou comprando uma TV sem a tecnologia WI-FI (nã o smart)
que, portanto nã o se conecta à internet (docs. X/X).
3. O produto foi entregue em 13.04.2017 as 16h43 (docs. X e X).
4. Em 17.04.2017 por volta de 11h20, ou seja, 04 (quatro) dias após o recebimento do
produto, a Requerente solicitou via telefone (11) XXXX-XXXX, o cancelamento do
produto e de sua respectiva garantia, o que gerou junto à Requerida o protocolo de
atendimento nº XXX, nos exatos termos do direito de arrependimento das compras
efetuadas fora do estabelecimento comercial, o que inclui a Internet.
Art. 49 da Lei nº 8.078/1990. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias
a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a
contrataçã o de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento
comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.
(grifos nossos)
Art. 1º do Decreto 7.962/2013. Este Decreto regulamenta a Lei nº8.078 de 11 de
setembro de 1990, para dispor sobre a contrataçã o no comércio eletrô nico, abrangendo os
seguintes aspectos:
III - respeito ao direito de arrependimento.
5. A Requerente, imediatamente ao cancelamento da compra da TV nã o smart, em
17.04.2017 as 11h38, via xxx.com.br, expressando sua boa-fé objetiva comprou uma TV
SMART, pedido de nº YYY (docs. Y/Y).
6. Entretanto, somente apó s insistentes contatos entre a Requerente e a Requerida (docs. X
a X), é que, finalmente, e, apó s exatos 100 (cem) dias, em 25.07.2017, o produto foi
recolhido (docs. X/X) e a promessa de estorno expresso foi efetivado, em 26.07.2017, pela
Requerida (doc. X). Sendo inegá vel a afronta ao escopo do art. 49 do Có digo de Defesa do
Consumidor (Lei nº 8.078/1990) c/c art. 1º do Decreto de Contrataçã o no Comércio
Eletrô nico (Decreto 7.962 de 15 de março de 2013), uma vez que a mercadoria deveria ter
sido imediatamente retirada quando da solicitaçã o desta consumidora e a mesma
ressarcida quanto aos valores eventualmente já pagos, o que inclui os valores pagos com a
garantia estendida original do produto e seu frete, por serem estes acessó rios do produto.
Art. 5º, Decreto 7.962/2013. O fornecedor deve informar, de forma clara e ostensiva, os
meios adequados e eficazes para o exercício do direito de arrependimento pelo
consumidor.
§ 1o O consumidor poderá exercer seu direito de arrependimento pela mesma ferramenta
utilizada para a contrataçã o, sem prejuízo de outros meios disponibilizados.
§ 2o O exercício do direito de arrependimento implica a rescisã o dos contratos acessó rios,
sem qualquer ô nus para o consumidor.
§ 3o O exercício do direito de arrependimento será comunicado imediatamente pelo
fornecedor à instituiçã o financeira ou à administradora do cartã o de crédito ou similar,
para que:
I - a transaçã o nã o seja lançada na fatura do consumidor; ou
II - seja efetivado o estorno do valor, caso o lançamento na fatura já tenha sido realizado.
§ 4o O fornecedor deve enviar ao consumidor confirmaçã o imediata do recebimento da
manifestaçã o de arrependimento.
(sem grifos no original)
7. A Requerente restou pagando a TV nã o smart, objeto desta lide, bem como os valores dos
acessó rios (garantia estendida original de vinte e quatro meses mais frete) até a décima e
ú ltima parcela, cada parcela no valor de R$200,00 (duzentos reais) (docs. X a X),
perfazendo o valor total da compra mais frete, a saber R$2.034,90 (dois mil e trinta e
quatro reais e noventa centavos). O que indubitavelmente, preenche os três requisitos
necessá rios para que a Requerida seja condenada ao ressarcimento em dobro do valor
efetivamente pago pela Requerente, nos termos do art. 42, pará grafo ú nico do CDC c/c art.
5º do Decreto 7.962/2013, quais sejam, a existência de cobrança indevida, o pagamento
desta pelo consumidor e “engano injustificável” uma vez que o pró prio fornecedor
reconheceu expressamente o cancelamento do pedido, efetuou o recolhimento do produto
e expressou a previsã o de estorno em cartã o de crédito (doc. X). Cabendo à Requerente o
ressarcimento no importe de R$4.069,80 (quatro mil e sessenta e nove reais e
oitenta centavos).
Art. 42, CDC. Omissis
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetiçã o
do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correçã o
monetá ria e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.” (sem grifos no original).
8. Frise-se que a Requerente efetuou em 17.04.2017 (quatro dias apó s o recebimento do
produto) contato telefô nico com a Requerida pelo nú mero (11) XXXX-XXX, o que gerou o
protocolo de atendimento nº XXX, informando que ao receber informaçã o do técnico,
contratado por esta para realizar a instalaçã o da TV, informou-lhe que a mesma nã o
possuía tecnologia WI-FI, conversa esta que, foi informado pela Requerida, foi gravada,
sendo prova documental cabal para comprovar o exercício do direito de arrependimento
da Requerente, mas que se encontra em poder da Requerida, restando, se assim entender
este douto juízo, como imprescindível para a soluçã o da lide, seja degravada pela
Requerida, nos termos exatos de inversã o do ô nus da prova aplicado ao CDC e à Lei
9.099/95.
Art. 6º da Lei 8.068/90. Sã o direitos bá sicos do consumidor:
VIII - a facilitaçã o da defesa de seus direitos, inclusive com a inversã o do ô nus da prova, a
seu favor, no processo civil, quando, a critério do
juiz, for verossímil a alegaçã o ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordiná rias de experiências;
(grifos nossos)
Neste sentido colaciona-se alguns julgados:
TJ-DF - ACJ: 16096320118070001 DF 0001609-63.2011.807.0001, Relator: JOSÉ
GUILHERME DE SOUZA, Data de Julgamento: 20/03/2012, 2ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais do Distrito Federal, Data de Publicaçã o: 11/04/2012, DJ-e Pá g. 265.
CONSUMIDOR. CARTÃ O DE CRÉ DITO. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE REJEITADA.
COBRANÇA INDEVIDA DE VALORES EM DUPLICIDADE NA FATURA DO CONSUMIDOR.
RESTITUIÇÃ O DO INDÉ BITO DEVIDA. ENGANO INJUSTIFICÁVEL. DEVOLUÇÃO EM
DOBRO DEVIDA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 2) AVERIGUADO O PAGAMENTO
INDEVIDO, PELO CONSUMIDOR, DE QUANTIA COBRADA IRREGULARMENTE PELA
EMPRESA REQUERIDA, DEVE ESTA SER CONDENADA A DEVOLVER EM DOBRO OS
VALORES ILICITAMENTE COBRADOS, PRINCIPALMENTE QUANDO AUSENTE HIPÓ TESE
DE ENGANO INJUSTIFICÁ VEL (ART. 42, PARÁ GRAFO Ú NICO, DO CDC). 3) CONFORME
FIRME JURISPRUDÊ NCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, Ó RGÃ O JUDICIÁ RIO COM
A ATRIBUIÇÃ O DE PACIFICAR A INTERPRETAÇÃ O DA LEGISLAÇÃ O
INFRACONSTITUCIONAL, A REGRA DO PARÁ GRAFO Ú NICO DO ART. 42 DO CÓ DIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR, QUE DETERMINA A DEVOLUÇÃ O EM DOBRO, OBJETIVA
CONFERIR À SUA INCIDÊ NCIA FUNÇÃ O PEDAGÓ GICA E INIBIDORA DE CONDUTAS
LESIVAS AO CONSUMIDOR (RESP Nº 817733) E PRESSUPÕ E ENGANO INJUSTIFICÁ VEL. IN
CASU, HOUVE COBRANÇA INDEVIDA, EFETIVO PAGAMENTO PELO CONSUMIDOR E
ENGANO INJUSTIFICÁVEL, DIANTE DE INÚMERAS TENTATIVAS DE SOLUCIONAR A
QUESTÃO EXTRAJUDICIALMENTE, SEM QUALQUER ÊXITO. INDUBITÁVEL O DIREITO
DA CONSUMIDORA À DEVOLUÇÃO EM DOBRO NO VALOR DE R$ 1.098,00 EM
DECORRÊ NCIA DE COBRANÇA DE QUANTIA DOBRADA EM FATURA DE C ARTÃ O DE
CRÉ DITO, CORRIGIDO MONETARIAMENTE A PARTIR DA DATA DO EFETIVO DESEMBOLSO
DE CADA PARCELA/FATURA, INCIDINDO JUROS A PARTIR DA CITAÇÃ O, NO PERCENTUAL
DE 1% (UM POR CENTO) AO MÊ S.
(grifos nossos).
Superior Tribunal de Justiça – STJ já se pronunciou no sentido de que "a só remessa de carta
de cobrança ao consumidor não preenche o suporte do art. 42, parágrafo único, do Código de
Defesa do Consumidor; diversamente do art. 1531 do Código Civil, para o qual é suficiente a
simples demanda, o Código de Defesa do Consumidor apenas autoriza a repetição se o
consumidor tiver efetivamente pago o indébito". (STJ, REsp. nº 539.238/RJ, Relator Min.
Ari Pargendler, DJ. 29.03.2004.)
(grifos nossos).
9. Em suma, conclui-se, por toda documentaçã o acostada aos autos, que apesar de todo
imbró glio o produto foi recolhido pela Requerida, mas os débitos foram indevidamente
efetuados no cartã o de crédito da Requerente, até a ú ltima parcela, no valor integral do
produto.
Ante o exposto, requer:
1) a citaçã o da Requerida para que, querendo, ofereça defesa no prazo processual legal, sob
pena de sujeitar-se aos efeitos da revelia;
2) seja julgada TOTALMENTE PROCEDENTE a açã o, com a consequente condenaçã o da
Requerida ao pagamento da repetiçã o do indébito dos valores pagos indevidamente no
importe de R$4.069,80 (quatro mil e sessenta e nove reais e oitenta centavos),
acrescidos de juros e correçã o monetá ria;
Provará o que for necessá rio, utilizando-se de todos os meios de prova permitidos em
direito, em especial pela juntada de documentos atuais (em anexo) e novos.
Dá ao pleito o valor de R$4.069,80 (quatro mil e sessenta e nove reais e oitenta
centavos).
Termos em que
p. deferimento.
Uberaba, 20 de março de 2018.

Josana Martins Rodrigues Agreli


OAB/MG 176.571

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