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Profissional do
Advogado:
Teoria
versus
Prática
Formação CE2022/2023
Moura Santos
Advogado e formador do Conselho Regional de
Lisboa da Ordem dos Advogados
(mourasantos-6649l@advogados.oa.pt)
Bibliografia
É uma matéria que deve ser complementada com a que será aflorada
adiante a propósito da relação entre A. e cliente.
Voltamos à pergunta atrás formulada: de que esperamos do
advogado? A confiança.
A confiança, por um lado, nasce da autoridade que lhe advém do
conhecimento técnico (arts. 81º nº 1, 98º nº 2 e 100º, nº1, al. b).
Por outro, o de estar vinculado à deontologia (por exemplo, respeitar
o segredo profissional) sendo que o exercício da profissão está
regulamentado em função da confiança (arts. 97º e 98º).
Sem essas qualidades do A. não há confiança.
Acresce que só pode existir confiança se a honorabilidade, a
honestidade e a integridade do A. existirem perante o cliente.
Para além de virtudes profissionais, são obrigações profissionais (cfr.
art. 2.2. CDAE).
Decorre do art. 97º que o A. não pode agir como agente encoberto,
no âmbito da investigação criminal (ver Parecer do CDL, consulta nº
29/2009, em que se pretendia ver esclarecida a seguinte questão:
Em que circunstâncias, e sob que regras, um advogado no exercício
da sua actividade profissional pode actuar em concertação com as
autoridades judiciárias, desempenhando o papel de agente
“encoberto”, em processo pendente onde está formalmente
constituído mandatário?).
A confiança é, por conseguinte, indissociável do dever de
integridade, que proíbe uma actuação oposta aos compromissos do
A. para com o Direito e a Justiça (art. 88º): exp.: proposta desonesta
do cliente ao A. que vai contra o Direito e a Justiça (defender um
sequestro praticado pelo cliente – se o A. aceita, está a violar esse
dever, bem como os deveres para a com a comunidade (art. 90º, nº
1 e 2, als. a), c) e d).
A confiança é também o suporte essencial do segredo profissional
(ponto 2.3.1. do CDAE).
Artigo 1170.º
(Revogabilidade do mandato)
2. (…)
2. A Independência do advogado
Art. 89º:
O advogado deve agir de forma livre de qualquer pressão,
designadamente do seu cliente.
Quanto a este deve defender os legítimos interesses, mas sem
prejuízo das normas legais e deontológicas que regem a sua
actividade profissional – art. 92º, nº 2 EOA.
Os advogados mais antigos costumam dizer que o principal
adversário do A. é o cliente. Sem querer generalizar, é um facto que
muitas vezes deparamos com atitudes de ingratidão e de má índole
da parte deles. Se o desfecho da sua causa lhe fôr favorável, o A. é
elevado aos píncaros. Mas se tal não acontece, mesmo por razões
alheias à actuação do A., arriscamo-nos a ouvir que este foi
“comprado” pela parte contrária, ou agiu, em qualquer caso, contra
os interesses do cliente e por isso foi prejudicado.
Existem clientes que parecem fazer da litigância modo de vida,
mesmo contra os seus advogados. O Conselho de Deontologia de
Lisboa tem situações em que uma mesma pessoa apresenta
compulsivamente participações contra vários advogados, chegando
a haver quem o fez 43 vezes (!) contra outros tantos advogados.
O A. confronta-se igualmente com a falta de pagamento dos seus
honorários e despesas por parte de alguns desses clientes.
O A. deve obediência à lei (art. 90º) é um servidor da justiça, tendo
deveres para com a comunidade (exp. não aceitar patrocínios de
causas que considere injustas (art. 90º nº 2 a) e b) ou de não
entorpecer a descoberta da a verdade, proibição da quota litis (art.
106º), goza de autonomia técnica (art. 76º nº 1) e pode exercer o
direito de protesto (art. 80º).
A independência e a liberdade do A. perante qualquer entidade
pública ou privada são essenciais para a defesa dos direitos
humanos – art. 81º, nº 1 - liberdades e garantias dos cidadãos.
A liberdade de expressão e de actuação no exercício do patrocínio e
do mandato forense é um instrumento dessa mesma independência
do advogado (art. 110º, nº 2 e 150º, nº 2 CPC e 326º CPP) e que
decorrem das imunidades necessárias ao exercício eficaz do
mandato, constitucionalmente consagradas.
A actividade do A. não pode reger-se por princípios de subordinação
ou de vinculação hierárquica nem por deveres de obediência, que
possam coarctar a liberdade e independência no momento de tomar
decisões e na forma de actuar (artigo 81º n.º 2). O exercício da
advocacia será, então, incompatível com actividades ou funções que
possam coarctar a independência do Advogado.
A independência é diferente da imparcialidade - característica que
não é do advogado, pois defende a causa do cliente - mas o A. deve
exigir correcção por parte do cliente, sendo isento (art. 97º, nº 2).
Decorre também do dever de isenção a proibição da falar com as
testemunhas de forma a distorcer a prova e alterar a verdade dos
factos.
Deve ser independente perante o cliente, magistrados, colegas, etc.,
actuando sempre segundo a sua consciência e os valores éticos da
sociedade.
Daí resulta a confiança do cliente e da comunidade.
O Advogado não é do cliente, mas dos interesses legítimos do
cliente.
3. O Direito de Protesto
Art. 80º (regulamenta o direito, os seus termos e os efeitos).
É um direito/dever quando ocorre o impedimento do exercício do
direito de patrocínio por parte do A.
O requerimento pode vir a ser deferido ou indeferido pelo juiz, mas
não pode ser recusada a sua formulação. Se recusada a sua
formulação, então é que deverá ser exercido o acto de protesto, que
não pode deixar de constar da acta.
É um acto formal de arguição de uma nulidade e não um acto de
desabafo mais ou menos veemente por parte do A.
Vale desde logo como arguição da nulidade consubstanciada no
impedimento ao exercício do seu dever de patrocínio, mas também
pode valer como arguição da eventual nulidade que pela via do
requerimento se pretendia arguir. Atente-se que há irregularidades
cometidas na audiência que devem ser arguidas de imediato, sob
pena de perda de eficácia e ficar suprida (art. 123º CPP).
Aliás, o impedimento ao exercício do patrocínio constitui uma
irregularidade (art. 123º CPP). Por isso, no protesto deve constar a
matéria do requerimento e o objecto que tinha em vista.
O direito de protesto vale para todos os actos e diligências em que o
A. intervenha, quer perante o juiz, quer perante o ministério público.
Arts. 66º, nº 3, 69º, 89º, 100º, nº 1, al. b) – dever deontológico;
Arts. 12º e 13º da LOSJ (Lei nº 62/2013 de 26-08); e
Art. 362º, nº 2 do CPP:
“2 - O presidente pode ordenar que a transcrição dos requerimentos
e protestos verbais seja feita somente depois da sentença, se os
considerar dilatórios”.
(o que obriga o juiz a ouvir o protesto, consignar em acta a sua
decisão e ordenar a sua transcrição depois da sentença, se
considerar que o mesmo é dilatório – Germano Marques da Silva,
Direito de Protesto, Protesto ao abrigo da lei, disponível na net).