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Caso 12

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ESTUDO DE CASO 12

““Lindo Serviço”
Roberta Fechado, solicitadora desde 1990, foi contactada por Joaquim Obstáculo, que
pretendia doar aos filhos Augusto e Jéssica a casa onde vivia, reservando para si o
direito de aí residir enquanto fosse vivo.
Antes de consultar Roberta, Joaquim pediu conselho a um advogado amigo, o qual lhe
sugeriu que procedesse à partilha dos bens por morte da sua falecida mulher, ficando a
casa para os dois filhos, em raiz, e constituindo usufruto vitalício a favor dele, Joaquim.
Para começar a tratar do assunto e preparar a documentação necessária para a
marcação da escritura, o advogado pediu ao Joaquim 750 euros, dizendo-lhe que iria
demorar uns três ou quatro meses.
Como Joaquim se sentia muito adoentado e com medo de morrer antes de ter o
assunto resolvido, contactou Roberta que, em três dias, obteve certidão do registo
predial, caderneta predial e elaborou documento particular autenticado para a doação.
Redigiu também uma declaração na qual os filhos reconheciam o direito de Joaquim a
habitar e a usufruir da casa enquanto fosse vivo, comprometendo-se a cuidar dele em
caso de doença.
De imediato, procedeu também ao registo da casa a favor de Augusto e de Jéssica.

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1.ª ETAPA:

Elabore a nota de despesas e honorários, bem como a carta a enviar ao cliente,

enunciando os princípios, fatores e legislação a ter em conta para este efeito.

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Proposta:

A resolução desta etapa pressupõe a elaboração de carta dirigida ao cliente no


sentido de lhe apresentar a nota de despesas e honorários.
Na elaboração da conta, não existindo qualquer regulamento específico aplicável,
deve ser observado o disposto no Regulamento dos laudos sobre honorários de
solicitadores (publicado em DR, II Série, n.º 28/2006, Regulamento n.º 7/2006),
especialmente o artigo 4.º.
Os solicitadores têm direito a honorários em regime de profissão liberal
remunerada, nos termos do disposto nos artigos 136 n.os 1 e 2 do EOSAE, 1.º e ss.
da Lei n.º 49/2004, de 24 de agosto e 1158.º do Código Civil – contrato de mandato.
Os honorários correspondem, assim, à compensação económica que deve ser paga
em dinheiro, como resulta do n.º 1 do artigo 149.º do EOSAE.
Por outro lado, na fixação dos seus honorários, o solicitador deve atender aos
critérios previstos no n.º 3 do mesmo artigo 149.º.
Como resulta do n.º 4 do artigo 149.º do EOSAE, os actos fundados em usos
profissionais (atos próprios e habitualmente praticados pelos solicitadores) os
honorários podem/devem ser espelhados em tabela.

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2.ª ETAPA:
Admita que Joaquim encontrou-se com o advogado seu amigo, o qual lhe
disse o seguinte:
«O que você fez não foi nada do que eu lhe disse! Era para se fazer a partilha
no notário e não era para me vir dizer que fez uns papéis numa solicitadora!
Olhe: não pague, e vamos já participar à Ordem!»
«Mais a mais isto até é tudo nulo! O título nem fala em licença de
habitabilidade, nem no certificado energético, nem sei como é que ela
conseguiu registar isto!».
Admitindo que Joaquim participou disciplinarmente de Roberta e que esta
foi notificada pelo conselho superior da OSAE, diga que argumento de defesa
pode a solicitadora apresentar?
Proposta
Trata-se, aqui, de referir as eventuais infrações disciplinares cometidas pela
solicitadora, com a identificação do órgão com competência para a instauração,
tramitação e decisão do procedimento e processo disciplinar, bem como as
eventuais circunstâncias atenuantes que suportem a defesa do comportamento
da solicitadora.
Considerações prévias: refira-se, em primeiro lugar, os direitos/deveres de
independência subjacentes ao exercício da profissão, além dos outros deveres
(designadamente) de integridade, lealdade e cortesia referidos no Estatuto (cf.
Artigo 121.º n.os 1, 2 e 3 do EOSAE), bem como o dever de urbanidade previsto
na alínea a) do n.º 2 do artigo 124.º do EOSAE, com aplicação específica para o
caso concreto na alínea e) do mesmo número e artigo e também a alínea c) do
n.º 2 do artigo 124.º do EOSAE.
Cont…
Cont…
Impunha-se, pois, que a solicitadora tivesse informado e pedisse a nota de despesas
e honorários ao advogado contactado anteriormente pelo cliente, que era o
profissional forense a quem o caso já havia sido cometido.
Como não o fez, tais omissões são suscetíveis de integrar ilícito de natureza
disciplinar, face ao preceituado no n.º 1 do artigo 181.º do EOSAE.
O processo disciplinar vem regulado nos artigos 185.º e ss. do EOSAE, sendo o
conselho superior o órgão competente para a sua tramitação nos termos da alínea
a) do n.º 2 do artigo 33.º do mesmo diploma [vide artigos e fases essenciais do
procedimento no EOSAE].
Em sua defesa, a solicitadora pode alegar circunstâncias atenuantes (as previstas
no artigo 191.º n.º 2 do EOSAE) bem como, eventualmente, o «estado de
necessidade» motivado pelos receios e a urgência invocados pelo cliente (cf. artigos
335.º - colisão de direitos - e 339.º n.º 1 – estado de necessidade - ambos do CC).
3.ª Etapa:
Descreva o procedimento a seguir, caso a notificação que Roberta recebeu seja
proferida pelo conselho profissional de solicitadores da OSAE.

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Proposta:
Com o novo Estatuto, extinguiram-se as secções regionais deontológicas, órgão que,
nos termos no artigo 63.º do ECS tinha, em regra, competência para a emissão de
laudos sobre honorários.
A definição de laudo e a sua tramitação estão previstas no Regulamento dos laudos
sobre honorários de solicitadores (publicado em DR II Série, n.º 28/2006), cf. artigo 2.º
com o novo Estatuto, a competência para a sua emissão passou a ser do conselho
profissional nos termos do disposto no artigo 45.º alínea g) do EOSAE.

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4.ª ETAPA:
Supondo que a questão vai ser discutida em Tribunal e que o depoimento de Roberta
vai ser elemento-chave para a decisão lhe ser favorável, redija o requerimento que lhe
permitirá prestar tal depoimento.
Proposta

Nesta etapa, deve o(a) solicitador(a) elaborar o requerimento no sentido de solicitar o


levantamento do sigilo profissional, o qual deve ser dirigido ao bastonário, nos termos
do disposto na alínea h) do n.º 1 do artigo 20.º do EOSAE.
Porém, agora, no atual Estatuto, prevê-se que esta competência pode ser delegada nos
termos do disposto no n.º 3 daquela disposição legal, nos membros do conselho geral.
O artigo 127.º do EOSAE, embora sobre a epígrafe de “segredo profissional”, refere-se,
na verdade, ao «dever de reserva», uma vez que é genérico e aplicável aos profissionais
dos diferentes colégios.
Mais do que um carácter reservado, a consulta jurídica, deve ter um carácter sigiloso
(ou mesmo secreto).
Assim, é no artigo 141.º do EOSAE que se regula especificamente o segredo profissional
do solicitador, sendo que o n.º 6 do mesmo artigo de especial importância para o caso.
Cont…
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É imperioso que o solicitador exponha detalhadamente a situação em causa e que


demonstre a «absoluta necessidade» de, perante aquelas circunstâncias, prestar
depoimento ou declarações sobre situações profissionais.
Estes são pressupostos essenciais para que possa ser deferido o pedido de
levantamento da obrigação de sigilo, circunstância esta que constituí uma situação
absolutamente excecional face à regra geral.
Note-se que esta obrigação de sigilo abrange, quer os funcionários do solicitador, quer
os solicitadores estagiários, nos termos do disposto no n.º 9 do artigo 141.º e no artigo
134.º n.º 2 alíneas b) e i) e n.º 3, todos do EOSAE.

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5.ª Etapa:

Argumente, contrapondo as vantagens e desvantagens da solução técnica


encontrada por Roberta, face à preconizada pelo advogado, incluindo a suspeita
de eventuais inobservâncias da certificação energética e licença de utilização.
Conforme se pode extrair do artigo 119.º do EOSAE, a solução que melhor
defende os interesses do cliente, nem sempre é aquela que este imaginou.
Compete ao solicitador explicar-lhe os benefícios/consequências e os riscos do
negócio jurídico pretendido, apresentando-lhe a melhor solução técnica (ou
«equivalente») para atingir os objectivos que se têm em vista, sendo certo que, o
resultado final deve estar de acordo com a vontade expressa pelo cliente.
Acresce, ainda, que, ao titular um negócio jurídico por documento particular
autenticado, o solicitador deixa de estar unicamente do «lado» do cliente, para
assumir um papel equidistante das partes tal como o notário (ou, até mesmo, o
juiz).
Assim, não basta a defesa dos direitos e interesses do cliente, é preciso adequar
esses interesses aos princípios da igualdade e da legalidade que se sobrepõem.
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Do ponto de vista técnico, a solução encontrada (de entre as possíveis) parece


mais simples e mais «económica», transmitindo os direitos indivisos de Joaquim
relativos ao imóvel (isentos de IS [e IMT] por se tratar de uma doação aos filhos –
artigo 6.º do CIS) – doação por parte de Joaquim às filhas dos direitos indivisos
que detém no referido imóvel (1/2 + 1/6).
No entanto, importa desde já referir que a declaração de constituição de usufruto
ou uso e habitação deveria ser objeto de registo, no sentido de assegurar o direito
do cliente e impedir a sua alienação, podendo ser oposto a terceiros.
Quanto à declaração de compromisso no sentido de cuidar dos pais em caso de
doença, foi «serviço desnecessário» cf. artigos 1874.º e 2009 e ss. do Código Civil
(CC)..
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Apesar de o enunciado ser omisso a esse respeito, aparentemente, a solução


concreta que foi encontrada por Roberta Fechado, também dispensou a
apresentação de certificado energético, bem como da licença de utilização, cf. DL
n.º 118/2013, de 20 de agosto, e artigo 22.º do DL n.º 116/2008, de 4 de julho e
do DL n.º 281/99, de 26 de julho. Todavia, no que à licença de utilização diz
respeito, dependendo do negócio jurídico concreto subjacente à titulação e cf. a
legislação supra referida, essa também poderia/deveria ser uma crítica a apontar.

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Obrigado…

VOTOS DE MUITO SUCESSO…

Cláudio Serra

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