Você está na página 1de 2

Assédio sexual

(art. 216 do CP)

Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de Trata-se de crime próprio, que só pode ser
obter vantagem ou favorecimento sexual, praticado por sujeito que preencha as condições
prevalecendo-se o agente da sua condição de estabelecidas no tipo penal, a saber: condição de
superior hierárquico ou ascendência inerentes ao superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
exercício de emprego, cargo ou função. exercício de emprego, cargo ou função.
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. Se autor da infração é ascendente, padrasto ou
Parágrafo único. (VETADO) madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,
§ 2º A pena é aumentada em até um terço se a tutor, curador, preceptor ou empregador da
vítima é menor de 18 (dezoito) anos. vítima ou por qualquer outro título tiver
autoridade sobre ela a pena será aumentada de
Considerações Iniciais metade nos termos do art. 226, II, do Código
Penal.
Com o fim de se evitar bis in idem, não se aplica
O crime de “assédio sexual” foi introduzido no
a majorante quando o autor for preceptor ou
Código Penal pela Lei nº 10.224, de 15 de maio
empregador da vítima, pois tais condições já
de 2001.
compõem a descrição típica da conduta.
Quando da publicação da presente lei, discutiu-
se sobre a necessidade da criminalização da
Atenção!!!
conduta, para uma primeira corrente, a
Por muito tempo a doutrina questionava se a
incriminação era desnecessária, uma vez que já
relação entre professor e aluno poderia ser
tínhamos as descrições dos crimes de
enquadrada no presente tipo penal. Em 2019, a
constrangimento ilegal, ameaça, além da
Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, no
contravenção da importunação ao pudor (art. 61
REsp nº 1.759.135/SP, entendeu que o termo
da LCP – Decreto 3.688/41) e recursos cíveis e
"ascendência", constante do tipo penal, não deve
trabalhistas; já a segunda corrente, entendia que
se limitar à ideia de relação empregatícia entre as
a incriminação era necessária, uma vez que as
partes, abarcando, também a relação estabelecida
figuras penais existentes nunca ofereceram
em ambientes acadêmicos
proteção aos bens jurídicos questionados, por
falta de perfeita adequação típica.
[...] “3. Insere-se no tipo penal de assédio sexual
a conduta de professor que, em ambiente de sala
Objeto Jurídico de aula, aproxima-se de aluna e, com intuito de
obter vantagem ou favorecimento sexual, toca
Tutela-se a dignidade sexual da vítima, no partes de seu corpo (barriga e seios), por ser
entanto, aqui outros bens jurídicos são atingidos propósito do legislador penal punir aquele que se
além da liberdade sexual, o que nos leva a prevalece de sua autoridade moral e intelectual -
concluir por um delito pluriofensivo. dado que o docente naturalmente suscita
Na lição de Cezar Roberto Bitencourt (2019. p. reverência e vulnerabilidade e, não raro, alcança
91), temos que os bens jurídicos protegidos são a autoridade paternal - para auferir a vantagem de
liberdade sexual; a honra e a dignidade sexuais; e natureza sexual, pois o vínculo de confiança e
a dignidade nas relações trabalhista-funcionais. admiração criado entre aluno e mestre implica
Diante da decisão da Sexta Turma do Superior inegável superioridade, capaz de alterar o ânimo
Tribunal de Justiça, no REsp nº 1.759.135/SP, da pessoa constrangida. 4. É patente a aludida
entendemos que se protege, também, a dignidade "ascendência", em virtude da "função"
nas relações educacionais. desempenhada pelo recorrente - também
elemento normativo do tipo -, devido à
Sujeitos atribuição que tem o professor de interferir
diretamente na avaliação e no desempenho
acadêmico do discente, contexto que lhe gera,
Sujeito Ativo
inclusive, o receio da reprovação. Logo, a
"ascendência" constante do tipo penal objeto
deste recurso não deve se limitar à ideia de prática do crime, exceto da violência e da grave
relação empregatícia entre as partes. ameaça.
Interpretação teleológica que se dá ao texto legal.
5. Recurso especial conhecido e não provido.” O projeto de lei que deu origem ao art. 216-A
(REsp 1759135/SP, Rel. Ministro Sebastião Reis previa a figura de um parágrafo único, vetado
Júnior, Rel. p/ Acórdão Ministro Rogerio Schietti pelo Presidente da República que dispunha o
Cruz, Sexta Turma, julgado em 13/08/2019, DJe seguinte: “Incorre na mesma pena quem cometer
01/10/2019) o crime: I – prevalecendo-se de relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; II
Sujeito Passivo – com abuso ou violação de dever inerente a
Da mesma forma que o autor do crime, o sujeito ofício ou ministério.”.
passivo também é próprio, ou seja, exige-se uma Dentre as razões do veto, foi aludido que o crime
condição especial, qual seja: ser subalterno ao de assédio sexual cometido nas situações
autor. descritas no parágrafo único, implicava inegável
Se não houver esse vínculo de sujeição podemos quebra do sistema punitivo adotado pelo Código
caracterizar o delito de constrangimento ilegal Penal. No entanto, com o veto presidencial, o
(art. 146 do Código Penal). crime de assédio restringiu-se ao aspecto laboral,
Se a vítima for menor de 18 (dezoito) anos, excluindo situações domésticas e aquelas
aplica-se a majorante prevista no parágrafo decorrentes de ministério.
segundo, aumentando a pena em 1/3.
Elemento Subjetivo
Conduta
É o dolo, consistente na vontade consciente na
“Constranger alguém com o intuito de obter conduta de constranger alguém com o intuito de
vantagem ou favorecimento sexual, obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de prevalecendo-se o agente da sua condição de
superior hierárquico ou ascendência inerentes ao superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
exercício de emprego, cargo ou função” exercício de emprego, cargo ou função.
Embora o nomen iuris do tipo penal seja Ressalte-se que há um fim especial de agir no
“assédio sexual”, o legislador optou por utilizar o tipo penal representado pela expressão “com o
verbo constranger na descrição da conduta. intuito de obter vantagem ou favorecimento
“Assédio” significa insistência inoportuna junto sexual”.
de alguém com perguntas, propostas e
pretensões; enquanto o verbo “constranger”
significa tolher a liberdade, cercear, forçar,
Consumação e Tentativa
coagir, compelir.
O crime se consuma com o ato de constranger a
Assim, o art. 216-A do Código Penal pune a
vítima, bastando um único ato para que o crime
conduta daquele que constrange alguém com o
se aperfeiçoe. Trata-se de crime formal, portanto,
intuito de obter vantagem ou favorecimento
não é necessário que o agente efetivamente
sexual, prevalecendo-se o agente da sua
obtenha a vantagem ou o favorecimento sexual.
condição de superior hierárquico ou ascendência
No entanto, a obtenção desta caracteriza-se como
inerentes ao exercício de emprego, cargo ou
mero exaurimento do crime.
função.
A tentativa é possível quando, o meio empregado
não chega ao conhecimento da vítima ou quando
‘Trata-se de crime de forma livre, onde o sujeito
esta não se sente intimidada com a ação realizada
ativo pode valer-se de qualquer meio para a
pelo agente.

Você também pode gostar