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GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO

SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA


UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE CÁCERES
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS

Camila Emanuele Cebalho1


Luan Medeiros Garcia2

ESTUDO DE CASO: CRIME DE REDUÇÃO À CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE


ESCRAVO

I. Introdução

Em primeiro lugar, visa destacar a origem, a historicidade, a tipicidade, as causas


de aumento de pena, a competência e outras informações inerente ao crime de trabalho
análogo à escravidão. Nesse sentido, pode-se definir tal conduta ilícita como qualquer
submissão a trabalhos forçados, sob jornada exaustiva, condições degradantes de
trabalho, limitação a meios de locomoção e cerceamento da liberdade do trabalhor.
Sob essa perspectiva, o crime de trabalho análogo à escravidão é aquele que o
indivíduo está submetido a trabalho forçado, jornada exaustiva, servidão por dívidas ou,
ainda, condições degradantes, previsto no artigo 149, do Código Penal brasileiro. Nesse
sentido, é preciso esclarecer que a presente pesquisa utilizou-se da pesquisa
bibliográfica, que é aquela baseada em livros e revistas; e, o método dedutivo.

II. Trabalho análogo à escravidão

O trabalho análogo à escravidão, previsto no Código Penal, é um crime, que,


apesar de estar presente no cenário moderno, possui raízes históricas no período
colonial brasileiro, o qual prevê:

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de


escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a
jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições
degradantes de trabalho, quer restringindo, por
qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida
contraída com o empregador ou preposto: (Redação
dada pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
1
(UNEMAT/ Cáceres – acadêmica do curso de Direito; trabalho apresentado à disciplina de Direito Penal
III, no semestre letivo do 5° semestres).
2
(UNEMAT/ Cáceres – docente do curso de Direito.
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Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da


pena correspondente à violência. (Redação dada pela
Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
§ 1. Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela
Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
I - cerceia o uso de qualquer meio de transporte por
parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de
trabalho; (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
II - mantém vigilância ostensiva no local de trabalho
ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
(Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
§ 2. A pena é aumentada de metade, se o crime é
cometido: (Incluído pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
I - contra criança ou adolescente; (Incluído pela Lei nº
10.803, de 11.12.2003)
II - por motivo de preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou origem. (Incluído pela Lei nº 10.803, de
11.12.2003)
Tráfico de Pessoas (Incluído pela Lei nº 13.344, de
2016)
Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar,
transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante
grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com
a finalidade de: (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de
escravo; (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; (Incluído
pela Lei nº 13.344, de 2016)
IV - adoção ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 13.344, de
2016)
V - exploração sexual. (Incluído pela Lei nº 13.344, de
2016)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
§ 1º A pena é aumentada de um terço até a metade se:
(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
I - o crime for cometido por funcionário público no
exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las;
(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
II - o crime for cometido contra criança, adolescente
ou pessoa idosa ou com deficiência; (Incluído pela Lei
nº 13.344, de 2016)
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco,
domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de
dependência econômica, de autoridade ou de
superioridade hierárquica inerente ao exercício de
emprego, cargo ou função; ou (Incluído pela Lei nº
13.344, de 2016)
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IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do


território nacional. (Incluído pela Lei nº 13.344, de
2016)
§ 2º A pena é reduzida de um a dois terços se o agente
for primário e não integrar organização criminosa.
(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016).

Nesse sentido, é possível vislumbrar que, para o crime de trabalho forçado, a


pena é de reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à
violência. Sob essa ótica, a pena ainda pode ser aumentada de metade, se o crime é
cometido contra criança ou adolescente; ou, por motivo de preconceito de raça, cor,
etnia, religião ou origem.
Dessa forma, é válido ressaltar o posicionamento da suprema corte quanto ao
crime de trabalho análogo à escravidão:

PENAL E PROCESSUAL. RECURSO EM


SENTIDO ESTRITO. ART. 149 DO CP.
REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE
ESCRAVO. CONDIÇÕES DEGRADANTES DE
TRABALHO. VALIDADE DA NORMA. FATOS
DESCRITOS NA DENÚNCIA. SUPOSTA
CONFIGURAÇÃO DO CRIME. IN DUBIO PRO
SOCIETATE. ARTS. 41 E 395 DO CPP.
RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. PRESENÇA
DOS REQUISITOS. RECURSO PROVIDO. 1. Não
há se falar em ofensa aos princípios da legalidade ou
taxatividade, pois, embora o art. 149 do CP constitua
tipo penal aberto, ele apresenta elementos normativos
que possibilitam a interpretação segura da expressão
"condições degradantes de trabalho". 2. Dos fatos
narrados, infere-se haver fortes indícios de que a
situação dos trabalhadores era degradante, notadamente
porque ausentes condições mínimas de higiene,
moradia, saúde e segurança. Assim e, considerando a
irrelevância das condições socioeconômicas e da
percepção da vítima sobre a situação, está
caracterizado, em tese, o delito previsto no art. 149 do
Código Penal. 3. Na fase de recebimento da denúncia,
vige o princípio do in dubio pro societate, ou seja, só se
admite seu desacolhimento caso haja prova definitiva
de inocência. 4. Presentes os requisitos do art. 41 do
CPP e, não configurando o caso nenhuma das hipóteses
previstas no art. 395 do CPP, impõe-se o recebimento
da peça acusatória. (Processo:
5000380-79.2012.404.7012, UF: PR, data da decisão:
28/11/2012; orgão julgador: SÉTIMA TURMA)
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E, ainda:

PENAL. REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À


DE ESCRAVO. BENS JURÍDICOS TUTELADOS.
DIGNIDADE E LIBERDADE DO
TRABALHADOR. CONDIÇÕES
DEGRADANTES. CRIME CONFIGURADO.
FALTA DE ANOTAÇÃO EM CTPS. FALSIDADE
DEMONSTRADA. PENA DE MULTA.
CONCURSO FORMAL. SOMA DAS SANÇÕES.
ATENUANTE GENÉRICA.
RECONHECIMENTO. 1. A nova redação do art. 149
do Código Penal, ao discriminar expressamente as
ações que configuram o tipo, acabou por proteger dois
bens jurídicos distintos, a saber: a dignidade e a
liberdade do trabalhador. O primeiro, por meio das
condutas trabalho forçado, jornada exaustiva e sujeição
a condições degradantes de trabalho e, o segundo,
através de restrições à liberdade, seja em razão de
dívida contraída, seja por meio do cerceamento de
transporte, vigilância ostensiva ou retenção de
documentos ou objetos pessoais. Doutrina. 2. Nesse
contexto, a demonstração cabal das péssimas condições
dos alojamentos e das instalações sanitárias, bem como
a falta de equipamentos de proteção individual em
número adequado, é suficiente para configurar o delito
de redução a condição análoga à de escravo, na
modalidade sujeição a condições degradantes de
trabalho. 3. A emissão de vales para compra em
mercado sem vínculo com o réu e sem demonstração
da efetiva restrição da locomoção dos empregados em
razão das dívidas contraídas subsume-se, em tese, ao
tipo previsto no art. 203, § 1º, I, do Código Penal
(frustração de direito assegurado por lei trabalhista). 4.
Configura o delito descrito no art. 297, § 4º, do Código
Penal, a falta de registro, nas respectivas carteiras de
trabalho, dos contratos daqueles que prestavam
serviços ao denunciado. 5. No caso de concurso formal,
afigura-se imprescindível a fixação de cada uma das
penas, notadamente porque as multas são aplicadas
distinta e integralmente. Inteligência do art. 72 do
Código Penal. 6. A circunstância de o réu ter, logo após
a fiscalização, reparado, na forma do possível, o dano
causado, seja quitando os débitos trabalhistas, seja
firmando Termo de Ajustamento de Conduta, autoriza
o reconhecimento da atenuante genérica prevista no art.
66 do Código Penal. (processo:
5001045-51.2010.404.7211 UF: SC, data da decisão:
04/09/2012; Orgão Julgador: OITAVA TURMA)
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Assim, a partir do caso proposto, há ainda de se mencionar a presença das figuras


equiparadas, previsto artigo 149, § 1º, I e II, do Código Penal, as quais elenca duas
figuras equiparadas, uma vez que incorrem nas mesmas penas mencionadas no caput do
artigo supramencionado. Dessa forma, são figuras equiparadas: cercear o uso dos meios
de transporte, com a finalidade de reter a vítima no local de trabalho; e manter
vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apoderar de documentos ou objetos
pessoais da vítima, com a finalidade de retê-la no local de trabalho.

III. Considerações Finais

O crime de redução à condição análoga à de escravo, portanto, apesar de possuir


raízes históricas no período colonial brasileiro, certo conceitos ainda estão presentes no
atual cenário. Nesse sentido, ainda há um longo percurso pelo Estado brasileiro no
combate ao tipo penal mencionado no artigo 149, do Código Penal, uma vez que,
embora remonte à antiguidade, se faz presente na contemporaneidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível


em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm> Acesso
em: 01 Dez. 2022.

PAULA, Vicente de Rodrigues Maggio. Redução a condição análoga à de escravo


(CP, art. 149, caput). Disponível em:
https://vicentemaggio.jusbrasil.com.br/artigos/514353885/reducao-a-condicao-analoga-
a-de-escravo-cp-art-149-caput> Acesso em: 01 Dez. 2022.

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