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Importunação sexual

Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua lascívia própria ou de outrem, teremos o crime
anuência ato libidinoso com o objetivo de de “satisfação de lascívia mediante presença de
satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: criança ou adolescente”, previsto no art. 218-A,
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o do Código Penal com pena de reclusão, de 2
ato não constitui crime mais grave. (dois) a 4 (quatro) anos.

Considerações Iniciais Conduta


O crime de importunação sexual, previsto no art. “Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato
215-A do Código Penal, foi inserido pela Lei nº libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria
13.718, de 24 de setembro de 2018. lascívia ou a de terceiro”
A presente lei revogou expressamente o art. 61 A ação nuclear descrita na conduta é “praticar”,
do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de que significa fazer, realizar ou levar a efeito ato
1941 (Lei das Contravenções Penais), que previa libidinoso, com o objetivo de satisfazer a própria
a seguinte conduta: “importunar alguém, em lascívia ou a de terceiro.
lugar público ou acessível ao público, de modo O tipo penal exige que o ato libidinoso seja
ofensivo ao pudor”. praticado contra alguém, ou seja, pressupõe uma
Na contravenção mencionada, normalmente, pessoa específica a quem deve se dirigir o ato de
eram enquadradas as condutas que hoje estão no autossatisfação. Assim é não só porque o crime
art. 215-A, do Código Penal. está no capítulo relativo à liberdade sexual, da
qual apenas indivíduos podem ser titulares, mas
Objeto Jurídico também porque somente desta forma se evita
confusão com o crime de ato obsceno.
Tutela-se a dignidade sexual da vítima, em Qual a melhor interpretação que se pode dar a
especial a sua liberdade que é lesada pela expressão “ato libidinoso”?
importunação sexual praticada pelo agente, sem Cezar Roberto Bitencourt aponta que as condutas
que tenha dado seu consentimento. tipificadoras do crime de estupro, conjunção
carnal e ato libidinoso diverso, como sexo oral e
Sujeitos anal, estariam excluídas da aplicação do art. 215-
A em face da desproporcionalidade da gravidade
Sujeito Ativo do ato com a pena aqui prevista (2019. p. 83).
Trata-se de crime comum, que pode ser praticado Por consequência, devemos interpretar o art.
por qualquer pessoa, não se exigindo nenhuma 215-A como um delito subsidiário, em face da
condição especial. previsão expressa no seu preceito secundário,
Se autor da infração é ascendente, padrasto ou alocando aqui condutas libidinosas menos
madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, gravosas e que não se amoldam aos crimes de
tutor, curador, preceptor ou empregador da estupro.
vítima ou por qualquer outro título tiver
autoridade sobre ela a pena será aumentada de Superior Tribunal de Justiça:
metade nos termos do art. 226, II, do Código “[...] 3. A meu ver, referido entendimento merece
Penal. uma melhor reflexão. De fato, no que concerne à
possibilidade de desclassificação do crime do art.
Sujeito Passivo 217-A para o do art. 215-A, ambos do Código
A vítima do crime pode ser qualquer pessoa, não Penal, registro, de início, que o estupro de
mais se exigindo qualquer condição especial. vulnerável não traz em sua descrição qualquer
É de se observar que se a conduta for praticada tipo de ameaça ou violência, ainda que
na presença de alguém menor de 14 (catorze) presumida, mas apenas a presunção de que o
anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal menor de 14 anos não tem capacidade para
ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer consentir com o ato sexual. Dessa forma, tenho
dificuldades em identificar, de pronto, óbice à libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria
possibilidade de desclassificação, porquanto é lascívia ou a de terceiro.
possível que o caso concreto, pela ausência de O tipo penal possui um elemento subjetivo
expressiva lesão ao bem jurídico tutelado, não especial, ou seja, uma finalidade específica da
demande a gravosa punição trazida no art. 217-A conduta que está prevista na expressão: “com o
do Código Penal. Com efeito, não é objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de
recomendável que as condutas de conjunção terceiro”.
carnal, sexo oral e sexo anal possuam o
mesmo tratamento jurídico-penal que se dá ao
beijo lascivo, sob pena de verdadeira afronta
Consumação e Tentativa
à proporcionalidade. [...]
O crime se consuma com a prática do ato
libidinoso. Embora teoricamente possível, a
4. O Supremo Tribunal Federal iniciou o
modalidade tentada nos parece pouco
julgamento do Habeas Corpus n. 134.591/SP, de
improvável na prática, pois se o agente inicia a
Relatoria do Ministro Marco Aurélio, no qual o
execução já temos a prática de ato libidinoso e,
Ministro Luís Roberto Barroso, em voto-vista, se
qualquer conduta anterior, serão atos
manifestou no sentido da possibilidade de se
preparatórios.
desclassificar a conduta do art. 217-A para a do
art. 215-A, ambos do Código Penal. Consignou
Atendado ao pudor mediante fraude
que o problema real é que na prática como o tipo
(Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
do art. do 217-A não distingue condutas mais ou
Art. 216. (Revogado pela Lei nº 12.015, de
menos invasivas, com frequência, como
2009)
aconteceu aqui, os juízes desclassificavam.
Portanto, o meio caminho talvez seja uma
O art. 216 do Código Penal foi revogado pela Lei
solução melhor que um dos dois extremos. Além
nº 12.015, de 2009. A sua redação anterior previa
do que, com todo respeito, acho que um réu
a seguinte figura típica:
primário de bons antecedentes que deu um beijo
Art. 216. Induzir alguém, mediante fraude, a
lascivo numa criança, gravíssimo, não merece
praticar ou submeter-se à prática de ato
oito anos de cadeia, que é uma pena superior a
libidinoso diverso da conjunção carnal:
um homicídio. 5. Nesse encadeamento de ideias,
Pena - reclusão, de um a dois anos.
ressalvo meu ponto de vista quanto à
Parágrafo único. Se a vítima é menor de 18
possibilidade de desclassificação do tipo penal
(dezoito) e maior de 14 (quatorze) anos:
do art. 217-A para o do art. 215-A, ambos do
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Código Penal, porém mantenho o entendimento
de ambas as Turmas do Superior Tribunal de
Da mesma forma que ocorreu com o art. 214 do
Justiça, no sentido da impossibilidade de
Código Penal, as condutas que estavam
desclassificação, quando se tratar de vítima
estampadas na redação do art. 216 foram
menor de 14 anos, em razão do argumento
contempladas na nova redação do art. 215.
central de presunção de violência. (AgRg na PET
Assim, as condutas foram aglutinadas no mesmo
no REsp 1684167/SC, Rel. Ministro Reynaldo
tipo penal sem que isso importasse em abolicio
Soares Da Fonseca, Quinta Turma, julgado em
criminis.
18/06/2019, DJe 01/07/2019)
Novamente, ocorreu o chamado princípio da
continuidade normativa ou continuidade típico
Elemento Subjetivo normativa, ou seja, a conduta criminosa
permanece intacta, apenas foi deslocada para um
É o dolo, consistente na vontade consciente de tipo penal diferente. No caso, as condutas estão
praticar contra alguém e sem a sua anuência ato sob o nomen iuris da violação sexual mediante
fraude.

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