Você está na página 1de 82

01/02/2011

às 16:19

A prova de que a nova lei do estupro é


um estupro dos fatos e do bom senso
Vocês querem ver como a estupidez politicamente correta atrapalha as políticas públicas
e distorce a realidade? Alguém que ignorasse a boçalidade nativa ficaria espantado ao
saber que, no estado de São Paulo, de 2009 para 2010, os estupros cresceram 75%!!!

Não é um espanto? Ô se é! Se assim fosse.

Acontece que a Lei nº 12.015/09 alterou a redação de alguns crimes sexuais previstos
no Código Penal. Foi uma imposição de gente perturbada e acabou transformando em
“estupro” até relações consensuais. O pretexto principal foi a defesa da criança e do
adolescente. Como sempre, o exagero traz mais malefícios do que benefícios.

Dia desses comentei aqui uma situação estupefaciente. Um garoto de 18 foi


surpreendido beijando outro de 13 no saguão do cinema de um shopping. Os dois se
sabem homossexuais e estavam ali por vontade própria. A polícia foi chamada. O de 18
foi enquadrado no crime de… estupro!!! Pergunto: beijo é estupro? Não! Beijo não é
estupro em qualquer circunstância, especialmente quando os beijadores agem por livre e
espontâneo tesão.

Um garoto de 18 que transe com a namorada de 13, com a concordância dela, se


denunciado pelo pai da menina ou por qualquer outra pessoa — porque, agora, a ação
não precisa mais do aval da “vítima” — será acusado de… estupro! O pretexto foi punir
e coibir a prostituição infantil, especialmente de meninas. É claro que é uma questão
grave. Mas é estupro?

Também a mulher passa a ser sujeito ativo desse crime. Vale dizer: uma moça de 18 que
“namore” com um garoto de 13 — era o sonho meu e dos meninos do meu tempo; não
sei hoje em dia —  será enquadrada como “estupradora”. Tenham paciência!

A estupidez é de tal ordem que um garoto de 18, denunciado por manter relação sexual
CONSENSUAL com a namorada de 13,  está sujeito a uma pena de 8 a 15 anos de
prisão. A punição é agravada por causa da idade da “vítima”. Atenção: um adulto que
efetivamente estupre uma mulher fica de 6 a 10 anos nha cadeia; o estuprador de um
menor entre 14 e 18 anos puxa cana de 8 a 12 anos. Ou seja: uma relação consensual
pode render mais tempo de cadeia do que um estupro real. A lei foi sancionada por
Lula. É tão cretina que parece ter sido escrita por ele.

Em pouco mais de um ano de vigência da lei, a prostituição infantil está onde sempre
esteve; os molestadores continuam abrigados no seio das famílias, que é onde costumam
estar, e o número de “estupros” — de falsos estupros — disparou. Ah, sim: o que se
entendia antes como “estupro” não precisa mais acontecer. As práticas antes
consideradas “atentantado violento ao pudor” agora estupros são. A depender do caso,
também o antigo “atentado” é dispensável. Basta que se julgue que o sujeito teve a
intenção ou um comportamento inconveniente que, levado ao limite, resultaria em
estupro.

Por uma questão puramente lógica, o estuprador não deixa de ser, de algum modo,
beneficiado ao ver seu crime diluído em meio a outros de muito menor gravidade. O
resultado é este que vemos: uma verdadeira explosão no índice de estupros, sem que se
saiba o que aí, de fato, é ou não violência sexual e qual a sua natureza.

Legisladores devem proteger a sociedade. Às vezes, cabe a pergunta: e quem protege


dos legisladores a sociedade?

Por Reinaldo Azevedo

A LEI No. 12.015 /2009 E O CRIME DE ESTUPRO - PEQUENAS REFLEXÕES

* José Jurandir Bentes da Silva

A lei no. 12.015, que entrou em vigor no dia 07 de agosto do ano em curso,

alterou o Código Penal trazendo relevantes modificações na órbita jurídico-penal,

especialmente no que pertine aos crimes sexuais, com destaque para o crime de estupro.

Tais modificações para o crime de estupro merecem reflexões, haja vista as

repercussões daí decorrentes. Inicialmente, merece destacar que a referida lei alterou

desde a própria rubrica do título VI da parte especial do Código Penal até prever uma

nova espécie de estupro, o praticado contra pessoas em condição de vulnerabilidade.

O antigo título VI, da parte especial do Código Penal, atendendo ao momento

histórico, social e cultural da década de 1940, tratava dos crimes contra os costumes,

enquanto que a nova lei em comento, atendendo à ordem constitucional vigente, que

tem na dignidade da pessoa humana um dos princípios fundamentais da República, trata

dos crimes contra a dignidade sexual .

Previa o Código Penal, no Art. 213: “constranger mulher à conjunção carnal,


mediante violência ou grave ameaça: Pena - reclusão de seis a dez anos”. A atual lei

manteve o Art. 213 para o crime de estupro, porém alterou sua redação prevendo:

“constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou

permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão de 6(seis) a 10

(dez) anos”.

Da comparação entre os dois dispositivos acima transcritos, algumas

observações merecem ser feitas. Primeiro, com relação a quem pode ser vítima do crime

de estupro, de acordo com a nova lei. O antigo Artigo 213 do CP previa que somente

mulher podia ser vítima de estupro, porquanto o tipo previa “constranger mulher... Para

a nova lei, qualquer pessoa, independentemente do sexo, pode ser vítima de estupro,

haja vista, o atual Art. 213 dizer: constranger “alguém”, sendo que alguém é partícula

indefinida de gênero.

Segundo, com relação a quem pode ser autor de estupro. De acordo com o tipo

do antigo Art. 213 do Código Penal, somente o homem podia ser autor desse crime,

uma vez que a lei exigia a conjunção carnal para a sua prática e, por motivos óbvios e

de ordem fisiológica e anatômica, somente homem pode ter conjunção carnal com

mulher. Para o atual Art. 213, ao contrário, qualquer pessoa, homem ou mulher, pode

ser autor de estupro, isso porque o atual tipo penal desse crime estabelece que a sua

prática se dá com a conjunção carnal ou, sempre mediante violência ou grave ameaça,

com a permissão que com ele se pratique “outro ato libidinoso”. Ora, outro ato

libidinoso diverso da conjunção carnal pode ser praticado por qualquer pessoa, homem

ou mulher, basta imaginar, por exemplo, o sexo oral.

A terceira observação que se pode fazer é em relação aos tipos previstos nos

antigo e novo Art. 213 do CP. Quanto a esse aspecto, vale anotar que a nova lei prevê
em um único artigo as condutas conjunção carnal e ato libidinoso. Na redação antiga do

Código Penal, apenas a conjunção carnal estava prevista no Art. 213, que tratava do

crime de estupro, enquanto que o ato libidinoso diverso da conjunção carnal estava

previsto no Art. 214, que tratava do crime de atentado violento ao pudor. Com a junção

de ambas as condutas no Art. 213, em que a conduta típica do atentado violento ao

pudor passa também a ser disciplinada no mencionado artigo, passando tudo a ser

estupro, a nova lei extinguiu o crime de atentado violento ao pudor do ordenamento

penal pátrio. Aliás, a lei 12.015/09 revogou expressamente o art. 214 do Código Penal,

dentre outros.

Relativamente a pena, essa continua a mesma para o tipo fundamental de

estupro, previsto na cabeça do Art. 213, isto é, reclusão de seis a dez anos.

A nova lei dos crimes sexuais também introduziu dois novos parágrafos no Art.

213, prevendo as formas qualificadas de estupro. No § 1º prevê o estupro qualificado

pela lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 anos ou maior de 14

anos, sendo que a pena para tais condutas é de 8 (oito) a 12 (doze) anos de reclusão. No

§ 2º prevê o estupro qualificado pelo resultado morte, para o qual a pena prevista é de

12 (doze) a 30 (trinta) anos de reclusão. De se notar que o legislador andou bem do

ponto de vista técnico, uma vez que trouxe para um só artigo as formas qualificadas de

estupro, introduzindo dois parágrafos no Art. 213 do CP. Duas dessas formas

qualificadas (lesão corporal de natureza grave e morte resultantes de estupro) estavam

previstas no antigo e revogado Art. 223 do Código Penal, na parte das disposições

gerais dos crimes contra os costumes, um pouco fora de contexto, portanto.

Relativamente às penas para as formas qualificadas de estupro, a lei manteve


basicamente as mesmas previstas no revogado Art. 223, isto é, oito a doze anos de

reclusão, para o caso de lesão corporal de natureza grave resultante de estupro e quando

a vítima for menor de dezoito e maior de quatorze anos, bem como alterou o limite

máximo para o caso de morte resultante de estupro, porquanto manteve o limite mínimo

em doze anos e aumentou para 30 anos o limite máximo, que era de 25 (vinte e cinco)

anos de reclusão. As penas agravadas para o estupro qualificado traduzem um

tratamento mais rigoroso da lei para com essas formas de estupro, porquanto os

resultados lesão corporal de natureza grave e morte dele decorrentes denotam maior

periculosidade do infrator, além da demonstração de seu desprezo pela integridade física

das pessoas e pela vida humana.

Há ainda o agravamento da pena para o estupro praticado contra menor de

dezoito anos ou maior de quatorze anos (§ 1º. do Art. 213), sendo qualificado também o

estupro praticado contra pessoa nessa faixa etária. O agravamento nesse particular

reflete a preocupação da lei para com as vítimas menores de idade. Destaque-se que as

vítimas menores de quatorze anos ficaram de fora do estupro qualificado, porque há um

artigo próprio, autônomo, que trata dessas vítimas, o Art. 217-A, do Código Penal, que

analisaremos a seguir.

A nova lei também trouxe uma nova espécie de estupro, o praticado contra

vulnerável. Mas, antes de qualquer análise do dispositivo que prevê essa nova

modalidade de estupro, convém esclarecer quem é vulnerável, para a lei em comento. O

caput do Art. 217-A e seu parágrafo primeiro estabelecem que vulnerável é a pessoa

menor de quatorze anos de idade ou alguém que por enfermidade ou deficiência

mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato ou que, por qualquer

outra causa, não pode oferecer resistência. Portanto, são três as situações de

vulnerabilidade previstas na lei. Em linhas gerais, se pode dizer que para a lei pessoa
vulnerável é aquela que demanda maior proteção; aquela que, por circunstâncias

especiais, se encontra em situação de fragilidade; aquela que, por circunstâncias de

ordem biológica ou de ordem patogênica não tem condições de se defender, ou, por

último, por qualquer outra causa não pode oferecer resistência e que, por isso mesmo,

necessita de maior proteção da lei. Por óbvio que se essas pessoas se encontram em

situação de fragilidade, estarão mais expostas à atuação de um criminoso. Uma pessoa

menor de quatorze anos ainda não tem maturidade bastante para saber se defender da

investida de um criminoso. É possível que essa pessoa ainda não tenha consciência das

conseqüências de um ato sexual. É possível até mesmo que não tenha porte físico que

lhe possibilite se defender da violência. De outra feita, uma pessoa que sofre de

enfermidade ou de deficiência mental, que lhe impeçam o necessário discernimento para

a prática do ato sexual também não reúne qualquer condição de se defender de uma

atuação criminosa, pois, se lhe falta discernimento para a consciência das conseqüências

do ato, ela não terá como se defender do criminoso. Vulnerável também é a pessoa que

por qualquer causa, além das acima mencionadas, não pode oferecer resistência. Essa

terceira situação também parece óbvia, uma vez que a pessoa que não pode oferecer

resistência também não reúne condições físicas ou mentais para se defender do

criminoso, mormente porque o estupro é praticado mediante violência ou grave ameaça,

e se torna extremamente difícil, senão impossível, se defender de uma violência ou de

uma ameaça grave nessas circunstâncias. A título de exemplo, estaria nessa condição a

pessoa que ingerisse uma bebida na qual o criminoso pusesse substância entorpecente

capaz de influir no seu discernimento; ou, em outro exemplo, uma pessoa que estivesse

doente em um leito, sem possibilidade física de reagir à atuação do estuprador.

Estabelece o novo

Art. 217-A “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato


libidinoso com menor de quatorze anos: Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze)

anos”. Relativamente à conduta prevista no dispositivo transcrito, são as mesmas do

tipo fundamental de estupro (Art. 213), isto é, conjunção carnal ou outro ato libidinoso.

Ao introduzir esse novo artigo no Código Penal, com a previsão de pena mais rigorosa,

o legislador deixou claro que o fez com endereço certo, isto é, visou punir severamente

os chamados pedófilos. A quantidade de casos mostrados quase que diariamente na

mídia, em que crianças e adolescentes são vítimas de inescrupulosos criminosos, que

abusam sexualmente desses menores, fez com que o legislador criasse um tipo especial

de estupro, o praticado contra pessoa nessa faixa etária (menor de quatorze anos).

Interessante observar que esse tipo de estupro ocorre, em boa parcela, no seio familiar

da vítima (já tivemos oportunidade de autuar em flagrante um tio que assediou sua

sobrinha de dez anos de idade). Esse registro, aliás, é patente nas delegacias

especializadas de crimes contra criança e adolescente. Infelizmente, nosso país registra

alto índice de ocorrência desse crime, onde os menores são vítimas de uma categoria

sórdida de delinquentes. E o pior é que, em boa parcela, esses criminosos têm a seu

favor o fato de estarem sempre próximos de suas vítimas, por uma relação muitas vezes

familiar, o que facilita a sua atuação, aguardando o melhor momento para agir. Por

outro lado, muitas vezes em razão do parentesco que os une, os crimes não são

noticiados, criando um verdadeiro subregistro desses casos nos órgãos de combate ao

crime contra esses menores.

A lei dos crimes sexuais também trouxe inovações de ordem processual,

relativas à natureza da ação penal para o crime de estupro. Antes de sua vigência, a

regra era a de que a ação para o crime de estupro era privada, promovida pelo

interessado e só excepcionalmente era pública, condicionada ou incondicionada à

representação da vítima. A ação era privada para atender mais ao interesse da vítima,
dado o fato de que crimes dessa natureza deixam profundos traumas de ordem

psicológica e são marcadamente estigmatizantes. Evitava-se assim que a vítima ficasse

exposta no processo, cujo princípio constitucional norteador é a publicidade. A ação

seria pública incondicionada somente quando o estupro fosse cometido com abuso de

pátrio poder, ou da qualidade de padrasto, tutor ou curador. E seria pública

condicionada à representação se a vítima ou seus pais não pudessem prover as despesas

do processo, sem privar-se de recursos indispensáveis à manutenção própria ou da

família. Ocorre que uma gama de estupros era e são cometidos não somente mediante

ameaça grave, mais mediante violência real e, ainda assim, a ação seria privada, em

regra. Para corrigir essa distorção, o STF editou a Súmula no. 608, determinando que no

caso de estupro cometido mediante violência real a ação seria pública incondicionada.

Com a nova lei a regra foi alterada, pois a ação para tais crimes passa a ser pública

condicionada à representação, para os crimes de estupro do tipo fundamental (Art. 213,

caput), preservando ainda a conveniência da vítima para promover ou não a ação, porém

a legitimidade para ajuizar a ação passa a ser do Ministério Público. E será pública

incondicionada a ação para o estupro praticado contra pessoa vulnerável (Art. 217-A),

ou se a vítima é menor de dezoito anos, ficando claro aqui, mais uma vez, que a lei visa

dar uma maior proteção aos menores de dezoito anos e a pessoa que se encontre em

situação vulnerável. Pensamos que a alteração nesse particular, tornando pública e

incondicionada a ação para o estupro praticado contra vulnerável, possa representar um

maior combate aos criminosos desse tipo de crime, em especial os que atentam contra a

dignidade sexual das crianças e dos adolescentes, uma vez que deixando ao arbitro da

vítima, como era a regra antiga, poucos são os casos denunciados, saindo impunes os

criminosos e aumentando, por conseguinte, o número de casos e vítimas de estupro.

Essas as pequenas reflexões sobre o crime de estupro. Espera-se que a nova lei

dos crimes sexuais surta efeitos positivos no combate a esse hediondo crime. Porém,
parece que o problema não é somente de ordem legal, nem a sua solução está somente

em edições de leis mais rigorosas. A sua causa advém de diversos fatores, inclusive de

ordem cultural, demandando esforços conjuntos entre os diversos órgãos ligados à

segurança no sentido de combater a prática desse crime e punir severamente os seus

Autores. Por outro lado, há que haver políticas voltadas para esse setor, inclusive

educacionais, no sentido de esclarecer a criança e o adolescente das conseqüências

desse crime e, principalmente, encorajando-as a denunciar as condutas criminosas dos

delinquentes.

* José Jurandir Bentes da Silva é ex-advogado e membro do Conselho Seccional da

OAB-Ap; ex-chefe do Núcleo da Defensoria Pública de Santana; ex-Procurador da

Câmara dos Vereadores de Santana e atualmente Delegado de Polícia da Central de

Flagrantes de Santana. Pós-graduado em Direito Penal e Ciências Criminais pelo

IBPEX – Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão.

A nova lei de combate aos crimes contra a liberdade sexual: Uma


análise acerca das modificações trazidas ao crime de estupro


Gleick Meira Oliveira, Thaís Maia Rodrigues

Resumo: O presente trabalho orienta-se essencialmente na linha metodológica da nova


lei dos crimes contra a liberdade sexual, buscando analisar de forma comparativa as
mudanças ocasionadas no crime estupro, após a redação dada pela lei nº. 12.015 de
2009, trazendo as principais alterações que ocorreram nesse delito, bem como, os
aspectos positivos e negativos que esta lei trouxe para o ordenamento jurídico brasileiro.
Desse modo, foi reconstituído também, um breve histórico da violência sexual sofrida
por homens e mulheres no decorrer dos tempos, com o intuito de retratar como foram se
lapidando os conceitos sobre o abuso sexual na sociedade, além de examinar o caráter
psicológico que a nova lei trouxe para o crime de estupro, quando revogou o art.224 e
criou o estupro de vulnerável, mostrando dessa forma, a preocupação do legislador no
que diz respeito a condutas voltadas contra a criança ou adolescente e pessoas com
deficiência. Partindo dessas inquietações, esta pesquisa justifica-se pela importância do
fenômeno social chamado violência sexual e suas consequências jurídicas para quem o
pratica, mostrando que o presente estudo é de grave relevância não só para os
operadores e estudiosos do direito, como para a sociedade no geral. Para tal, nos
apoiamos numa pesquisa documental, utilizando-se o método dedutivo, baseada no
art.213 do código penal e nos entendimentos doutrinários dominantes, partindo da
consulta de artigos e material relacionado na internet, analisando a opinião dos
operadores do direito a cerca do tema. Refere-se esta a uma pesquisa jurídico-
interpretativa-compreensivo. Por fim, esta pesquisa fez uma análise mais aprofundada
sobre o tema, que por sua atualidade, tornou-se alvo de várias discussões, possibilitando
dessa forma, seu esclarecimento.

Palavra chave: Estupro. Lei nº. 12015/2009. Modificações

Sumário: Introdução; 1 Histórico da violência, 1.1 O comportamento sexual no mundo


antigo, 1.2 O controle da moral pelo cristianismo, 1.3 A revolução sexual do século XX,
1.4 A sexualidade humana e o controle social pelo direito penal; 2 O crime de estupro e
lei 2.848 de 07 de Dezembro de 1940, 2.1 Elementos Tipo, 2.1.1 Bem jurídico tutelado,
2.1.2 Ação nuclear , 2.1.3 Sujeitos, 2.1.3.1 Sujeito Ativo, 2.1.3.2. Sujeito Ativo:
Marido?, 2.1.3.3 Sujeito Passivo, 2.1.4. Tipo objetivo, 2.1.4.1. Violência e Grave
ameaça, 2.1.4.2. Análise da postura da vítima, 2.1.5. Elementos do Tipo Subjetivo,
2.1.6. Prova do Crime ,2.1.6.1. Conjunção Carnal e a sua prova pericial, 2.1.6.2
Violência e sua prova, 2.1.6.3. Autoria e sua prova, 2.1.7. Consumação e tentativa,
2.1.8. Classificação Doutrinária, 2.1.8.1 Formas, 2.1.8.1.1 Simples, 2.1.8.2 Qualificada
pelo resultado, 2.1.9. Violência Ficta em casos de estupro, 2.1.10. Ação Penal; 3.0 O
crime de estupro após o advento da Lei 12.015 de 7 de agosto de 2009, 3.1 Elementos
do tipo, 3.1.1 Bem Jurídico Tutelado, 3.1.2 Ação nuclear, 3.1.3 Sujeitos, 3.1.3.1 Sujeito
ativo e Sujeito passivo, 3.1.3.2 Sujeito ativo: marido?, 3.1.4 Tipo Objetivo e Subjetivo,
3.1.4.1 Dissenso da vitima: nível de resistência da mulher, 3.1.5 Consumação e
Tentativa, 3.1.6 Classificação doutrinaria, 3.1.7 Formas, 3.1.7.1 Forma simples, 3.1.7.2
Forma Qualificada, 3.1.8 Estupro de vulnerável, 3.1.9 Ação penal e segredo de justiça,
3.1.10 Pontos relevantes, 3.1.10.1 A perspectiva da aplicação do crime continuado, do
concurso material, do concurso formal ou do crime único, 3.1.10.2 Aplicação retroativa
da nova figura do estupro; 3.1.10.3 Gravidez resultante de ato libidinoso; 4.0 Aspectos
positivos e negativos da lei 12.015/2009, 4.1 Aspectos positivos, 4.2 Negativos;
Considerações Finais; Referências Bibliográficas; Anexos

Introdução

De acordo com o art. 213 do Código Penal Brasileiro, estupro, antes do advento da nova
legislação, que trouxe uma visão modificada da realidade executória ao tipo penal em
comento, era definido como "constranger mulher à conjunção carnal, mediante
violência ou grave ameaça".

Tinha como conduta consumativa necessária para a configuração desse delito a


conjunção carnal, ou seja, a penetração do pênis na vagina. Desta forma, as demais
condutas para a realização de atos atrelados à libido, ou seja, aos desejos provenientes
do sexo, imbuídos de violência, que não estivesse presente esta característica, eram
classificadas tipificados em crime diverso - Atentado Violento ao Pudor (art. 214, CP) -
inclusive as praticadas contra homens, apesar de algumas popularmente serem
chamadas de estupro.

Neste contexto explicitava-se que somente a mulher podia ser a vítima desse crime –
sujeito passivo - enquanto que o homem seria o autor delituoso - sujeito ativo -
configurando o crime de estupro quando o homem usando da violência ou grave ameaça
praticando a conjunção carnal sem o consentimento da vitima.

O advento da Lei 12.015/2009, de 07 de agosto de 2009, o estupro passou a ser definido


como: "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”.
(grifo nosso).

A nova redação possui maior abrangência, equiparando homens e mulheres no pólo


passivo do delito, na medida em que substituiu a expressão “mulher” – durante muitos
anos utilizada pela legislação penal pátria - pela determinação gramatical “alguém” –
que corresponde a qualquer ser humano vivo, ou seja, qualquer pessoa pode ser vítima
desse delito.

Mesmo não havendo grandes modificações acerca da estipulação da pena aplicada ao


sujeito infrator desta norma, a nova legislação trouxe, no seu escopo, situações com
penas majoradas, quais sejam: a) resultado lesão corporal grave – parágrafo único, com
pena de 08 a 12 anos; b) se a vítima for menor de 18 anos e maior de 14 anos –
parágrafo único, com pena de 08 a 12 anos; e, c) se da violência praticada resultar a
morte - pena de 12 a 30 anos.

Essa lei, além de transformar todo o sentido e significado do art. 213 do Código Penal,
trouxe como consequência, a revogação do artigo 214 deste, já que as antigas definições
dos crimes de estupro e atentado violento ao pudor, com a nova lei, transformaram-se
em uma única redação que é a atual definição do crime de estupro, não restando outra
alternativa senão a revogação do art. 214, passando a vitima daquele extinto delito, a
partir de então, a ser vitima do crime de estupro.

Sendo importante ressaltar, que a nova lei revogou também o art.224 do Código Penal,
que tratava da presunção de violência e trouxe em seu art.227, o estupro de vulnerável,
o qual tem como objetivo punir toda relação sexual ou qualquer outro ato considerado
libidinoso praticado contra o menor de 14 anos ou qualquer pessoa que por enfermidade
ou doença mental não possua o discernimento para a prática do ato.

Diante do exposto, pergunta-se: Quais os reflexos que às modificações que ocorreram


no crime de estupro após a entrada em vigor da Lei 12.015 2009 no Ordenamento
Brasileiro trouxeram?

Com base nessa premissa, objetivamos analisar o crime estupro, antes e após o advento
da lei 12.015 de 2009, trazendo as principais alterações que ocorreram nesse delito, bem
como, os aspectos positivos e negativos da nova lei para o nosso ordenamento jurídico.
No capítulo, retratamos um breve histórico da violência sexual sofrida por homens e
mulheres no decorrer dos anos, com o intuito de tentar perceber como foram se
lapidando os conceitos sobre o abuso sexual na sociedade.

No segundo e terceiro capítulo, buscamos analisar de forma comparativa as alterações


que ocorreram no crime de estupro, depois da nova redação dada pela Lei 12.015 de
2009, que passou a prever os chamados crimes conta a liberdade sexual, além de
examinar o revogado art.224, que tratava da presunção de violência, e o art.217-A, o
qual trata do estupro de vulnerável.

No quarto e último capítulo, trataremos dos aspectos positivos e negativos que a nova
lei trouxe para o crime de estupro após a sua inserção ao Código Penal Brasileiro,
expondo a opinião dos Doutrinadores acerca do tema.

Para construirmos o presente estudo, ultilizamos uma pesquisa documental, baseada no


art.213 do Código Penal nos entendimentos doutrinários dominante.Tendo como
método de abordagem o dedutivo, o qual parte do geral para chegar ao particular, ou
seja busca-se a aplicação da nova lei ao caso concreto.

A investigação é do tipo jurídico-interprtativo-compreensivo, partido da consulta de


artigos e material relacionado na internet analisando a opinião dos doutrinadores acerca
do tema, que por sua atualidade tornou-se alvo de várias criticas e debates no âmbito
jurídico.

Este trabalho mostra-se de grande importância, por se tratar de um tema novo, alvo de
várias criticas e debates, não existem ainda estudos mais detalhados que possibilitem o
seu esclarecimento, contribuindo dessa forma como mais um meio de pesquisa.

O presente estudo pretende ainda, mostra-se de grande relevância, haja vista que a Lei
12015 de 2009 , não só modificou substancialmente o tratamento legal dos chamados
crimes sexuais , na medida em que trouxe enumeras alterações, a começar pela
modificação redacional do Titulo VI da Parte Especial do Código Penal, antes
chamados “Dos Crimes Contra os Costumes”, hoje denominado “Dos Crimes Contra a
Dignidade Sexual”, essa lei, alterou pontos significantes da matéria, obrigando desta
forma, todos os estudiosos e operadores do Direito Penal a fazer uma revisão dos
conceitos estudados, atualizando informações e propondo reflexões sobre o alcance e a
extensão dos institutos modificados na “reforma” de 2009.

1 Histórico da violência sexual

1.1 O comportamento sexual no mundo antigo

O estupro e outras formas de violência sexuais são práticas antigas na humanidade, as


quais nem sempre eram consideradas ilegais ou tidas como costumes reprováveis,
estando presente em todas as sociedades, das mais variadas culturas e diferentes classes
sócias.

Nos registros históricos mais antigos da humanidade, observa-se que a mulher era
responsável pela sustentação do clã, assim como de varias outras representações
humanas, devido aos chamados mitos de origem. Nessa época, a representação divina
na terra era a fêmea, a qual estava diretamente ligada à fertilidade da terra e dos
animais. Estas eram consideradas Deusas, pois acreditava-se que a vida emergia do seu
corpo.

Esse período perdurou, até o momento em que o papel reprodutivo do homem ainda era
obscuro, pois se tinha a idéia, de que a mulher gerava os filhos sozinhos, independentes
da atividade sexual do homem, que não sabia até então, do seu papel reprodutivo.

Contribuindo com esse entendimento, afirma GRECO, RASSI apud CHAUI: “Desde
que o mundo é mundo, seres humanos e animais são dotados de corpos sexuados e as
práticas sexuais obedecem às regras, exigências naturais e cerimônias humanas”.

Avançando na história, destaca-se que os gregos, consideravam o amor e o sexo como


algo natural, sendo a atividade sexual algo bastante considerável na visão dos
pensadores. Neste sentido, pode-se afirmar que Platão exerceu um papel importante
acerca da moral sexual, trazendo a visão de que o sexo ora era visto como algo positivo,
exercendo uma força na psique da humanidade, ora como algo negativo, capaz de se
tornar um traço perturbador e negativo para o homem.

Em suas obras A República e as Leis, Platão, afirma que as relações sexuais devem se
limitar apenas à procriação e ao matrimônio, considerando a mulher um ser inferior ao
homem, visão esta, que é sustentada por Aristóteles.

Os romanos acreditavam que as atividades sexuais eram pessoais e intimas, colocando a


mulher a serviço do homem, relacionando-se com suas esposas apenas com o intuído de
produzir herdeiros para as suas propriedades, de forma que, as relações políticas e de
poder eram tratadas com mais importância do que satisfação emocional.

Desse modo, GRECO e RASSI dispõem: “Os paterfamiliae relacionavam-se com suas
esposas com o fim de produzir herdeiros de suas propriedades, para prolongar a
existência de suas famílias.”

Ao longo da história encontramos diversos casos de violência sexual, principalmente


relacionada à mulher, que podem ser retratados em varias fases da história, podendo
destacar, as histórias bíblicas, ás guerras do século 20, os mitos na mitologia greco-
romana e na idade média.

Colaborando com esse entendimento afirma LINS: “Em toda a História encontramos
casos de violência sexual: da bíblia as guerras do século 20, passando pela mitologia
greco-romana, com a descrição dos 17 raptos praticados por Zeus, o deus dos deuses e
pela a idade Média”.

Na antiguidade grega, o rapto era à base do casamento convencional, sendo ele um dos
requisitos para que este ocorresse, passando a noiva a fazer parte da família do noivo
depois de ser raptada. Do mesmo modo ocorria na antiga Roma, onde o cortejo nupcial
tirava a noiva de sua mãe, demonstrando dessa forma, que o rapto de mulheres era um
hábito freqüente praticado por estes povos. Nesse sentido afirma: “Os 17 raptos que a
mitologia atribui a Zeus, ou Júpiter, deus dos deuses, não seria mais do que a
transposição metafórica de raptos de mulheres por um povo”.
Na mitologia greco-romana, sumerianas e babilônicas eram comuns os relatos de
estupros, raptos e outras formas de violência sexuais, ocasionadas pelos deuses, sendo
conveniente destacar o livro The Love of lhe Gods in Athic Art Fifth Century B. C. de
Kaemnf-Dimetriadou, o qual relata 395 estupros cometidos pelas divindades masculinas
do Olimpo, a começar por Zeus, que era considerado um praticante compulsivo da
violência sexual.

Assim como os deuses do Olimpo, as histórias que retratavam a vida dos heróis míticos
gregos Teseu, Hércoles e Perseu, que nada mais eram do que representações dos
homens que dominavam o mundo antigo tinham atitudes contrárias a moral e aos bons
costumes, sendo estes, capazes de tudo para alcançar seus objetivos inclusive roubar,
mentir e seduzir, além de estuprar e raptar mulheres.

Sendo pertinente destacar, a Ilíada, um poema épico grego atribuída a Homero que narra
os acontecimentos ocorridos no período de pouco mais de 50 dias durante o décimo e
último ano da guerra de Troia, a qual tras a disputa entre o rei Agamenon e Aquiles por
uma jovem chamada Brisies, que para este, se tratava de seu “premio de guerra”. Onde a
única questão a ser discutida por Homero era qual o merecedor de receber esse premio,
sendo a escravidão sexual da mulher se quer mencionada, pouco importando se a jovem
era peça de propriedade.

A história de Helena também merece relevância, principal heroína do ciclo troiano,


ainda púbere foi raptada por Teseu e seu amigo Piritó, sendo a sua posse decidida por
um sorteio, no qual o vencedor foi Teseu, que posteriormente gerou-lhe uma filha
chamada Ifigênia.

Após ser libertada por seus irmãos Helena, casa-se com Menelau e em sua ausência, se
envolve com Paris que a rapta por uma segunda vez dando inicio a guerra de Tróia.
Posteriormente, após a morte de Paris, Helena casa-se com seu próprio irmão,
entregando-o mais tarde aos gregos, sendo o mesmo mutilado para que ela obtivesse o
perdão pela prática do adultério.

Mais tarde, Menelau recebe-a de volta e após sua morte ela se refugia em Rodes, onde
durante um banho é afogada e pendurada morta em uma arvore por duas mulheres.

Outro mito de grande relevância, é a história de Hércules, herói Grego que casou-se
com Dejanira, a qual foi raptada pelo centauro Nesso, suicidando-se logo em
seguida.Após sua morte, Hércules se casa com Megara, jovem que Lico desejava se
apoderar, mas Hércules o mata antes de alcançar seu objetivo.

Juno, indignada deixou Hércules com tamanha ira que a força de sua reação ocasionou a
morte de Megara e os seus filhos, matando posteriormente, Loomedonte com o intuito
de raptar sua filha Hesíone para presentear o seu amigo Telamon. Não satisfeito,
Hércules ainda rapta a rainha das Amazonas e a obriga a casar-se com seu amigo
Tesseu.

Sendo importante ressaltar, a obra de Heródoto, que traz as formas de violência


causadoras da guerra permanente entre os Gregos e os Persas: os fenícios raptaram Io, a
filha do rei Inácio, em Argos, na Grécia, e a levaram para o Egito. Creta raptou Europa,
a filha do rei da Fenícia e mais tarde, raptaram Medeia filha do rei Colchida, como
resposta a afronta dos Fenícios.

Posteriormente, Paris, filho do rei de Tróia raptou Helena, esposa do rei de Esparta,
pensando que não seria punido, já que Helena tinha sido raptada anteriormente e se
casara com Tesseu, herói que já havia arrebatado Ariane e Antirpe.

Outro marco na história romana foi o rapto e morte de Lucrecia, cidadã romana que foi
raptada e assediada por Sexto Tarquínio, filho do rei Tarquínio, o qual durante a noite,
na cama, mostrou-lhe um punhal e ordenou que ela se deixasse possuir. Mas Lucrecia
não se intimidou e ele então ameaçou assassina-la, colocando-a junto de seu corpo um
escravo nu, para que as pessoas pensassem que ela tinha sido morta pelo seu marido
depois de ter praticado o adultério.

Lucrecia, após ter relatado o que havia ocorrido, suicidou-se logo em seguida com um
golpe de faca no coração, sendo o seu corpo levado em comoção até o foro, rebelião que
depôs a família real e ocasionou a proclamação da República Romana em 509.

Ainda mais trágica foi a história da rainha Boadicéia, na qual o rei dos Icenos nomeou
suas filhas e o imperador Nero como herdeiros de seus bens, com o intuito de facilitar a
sua sucessão. Mas quando foi vencido pelos centuriões, seu palácio foi destruído, sua
esposa chicoteada e suas filhas estupradas.

Foi então que Boadicéia insuflou a rebelião dos betrões contra os romanos de Londres,
rebelião esta, que ocasionou a morte de setenta mil romanos. Por fim Boadicéia e suas
filhas se envenenaram, dizendo: “Bebei! O veneno é menos cruel que a tirania”.

Os casos de violência contra Lucrecia e Boadicéia, entraram para a história em razão do


grande clamor social ocasionado na época, demonstrando dessa forma, que ate mesmo
para os povos antigos o estupro já era considerado um crime.

Alguns povos antigos puniam o estupro com rigor, apenando com a morte o
transgressor que violasse mulher desposada (prometida em núpcias), ou virgem, sendo
neste caso, aplicada a punição pecuniária e de casamento, cumulativamente.

No Egito, o ofensor era mutilado, enquanto que na Grécia, inicialmente, a pena era de
cunho financeiro, passando posteriormente, a pena capital, sendo esta aplicada também
pelos romanos, já que o de estupro era considerado um crime vil. Da mesma forma,
eram os julgamentos germânico, canônico, espanhol, e inglês (neste último, a punição
foi substituída pela castração e vazamento dos olhos).

Na idade média, o estupro era considerado um crime de sangue, caso a vitima fosse
nobre e virgem, punindo-se o agressor com a morte, mas posteriormente, houve a
substituição desta pena pela de castração ou perda dos olhos.

1.2 O controle da moral pelo cristianismo:

Com a queda do Império Romano, houve a dissolução das cidades romanas e posterior
formação dos Feudos na Europa, com a regência da igreja católica, que aos poucos foi
construindo e enrijecendo a moral cristã, já que o tratamento dado ao casamento, à
família e à sexualidade não foi sempre o mesmo dentro do cristianismo.

Neste sentido dispõe GRECO e RASSI: “A trajetória da formação da teologia cristã


acerca do controle da sexualidade e do casamento é uma amálgama dos costumes
germânicos, da tradição estóica grega e dos testamentos bíblicos, o novo e o antigo.”

O tratamento cristão sobre a sexualidade pode ser dividido em duas etapas: a primeira
pregava à recusa concupiscência (desejo) e ao prazer, restringindo o sexo à reprodução;
e a segunda etapa, que institui o casamento cristão, monogâmico e indissolúvel, a qual
tinha como limite a atividade sexual legitima.

Nesse período, o único comportamento permitido era a virgindade e o ascetismo, sendo


a castidade considerada um estado superior que possibilitava o conhecimento da fé e das
vontades humanas, conferindo autoridade moral aos clérigos. Já o casamento, era
considerado hierarquicamente inferior à castidade, um mal, pois tinha como pressuposto
o “pecado” das relações sexuais.

Colaborando com o entendimento, GRECO e RASSI estabelecem: “... no inicio da


teologia cristã o casamento era admissível, mas ainda assim um pecado. Porém, nem a
força da religião foi capaz de camuflar um fenômeno social de tamanha relevância...”.

A partir do século IX, quando a igreja passa a ter maiores poderes sobre os reis e sobre a
aristocracia, começa a regular a instituição do casamento de acordo com os seus
dogmas, deixando de considerar a união entre homem e mulher como um pecado e
passando a pregar o casamento como uma instituição divina.

Nos séculos XII e XIII, com o casamento instituído como categoria de sacramento, a
igreja passou a interferir em todas as estruturas sócias, regulando o casamento e a
própria vida conjugal, abolindo os casamentos entre membros da mesma família e do
mesmo sexo, passando a regular a vida doméstica do casal.

De acordo com GRECO e RASSI: “O conflito se perdurou no tempo, mas as regras


morais sobre a conduta sexual medieval converteram-se em um paradigma para o
tratamento da sexualidade na moderna sociedade ocidental”.

No período das grandes navegações, preocupando-se em povoar suas colônias, Portugal


incentivava os colonos a se casarem com as nativas, raptarem as prostitutas na cidade do
porto, além de ordenarem que as jovens órfãs fossem enviadas para o Brasil, com o
intuito de facilitar o povoamento. Sendo importante destacar, que o abuso sexual de
índios e negros era uma prática comum, que representava a expressão de senhorio dos
colonizadores.

Neste sentido, LINS afirma:

“Desde que o sistema patriarcal se instalou, há 5000 anos, e a sociedade de parceria


entre homens e mulheres cedeu lugar à dominação masculina, a mulher passou a ser
uma mercadoria valiosa. Rapto seguido de estupro foi o método mais usado de adquiri-
la, ocorrendo na própria tribo ou na tribo vizinha”.
As relações sexuais no tempo da colônia, possuíam como base um tripé de sexo
pluriétnico, escravidão e concubinato, sendo os transgressores punidos rigorosamente
pela moralidade religiosa através da inquisição, desde que fossem do interesse da igreja.

1.3 A revolução sexual do século XX

No período compreendido entre o final do século XIX até a primeira metade do século
XX, vários autores passaram à enxerga a sexualidade sob uma nova ótica, conceito este
que só foi possível, devido a valoração da individualidade na idade moderna, a qual
serviu de base para a organização da sociedade capitalista.

A partir da segunda metade do século XX, podem-se destacar dois eventos importantes
que marcaram o estudo da sexualidade: o desenvolvimento de métodos contraceptivos,
que rompe com associação, que ate então existia, entre a atividade sexual e a
reprodução; e o surgimento de novas reflexões sobre o tema.

Nessa época, as mulheres encontravam-se totalmente desamparadas, não existindo


nenhum tipo de lei que resguardasse os seus direitos, consideradas seres inferiores, eram
vítimas de constantes assédios e estupros, ficando totalmente vulnerável a todos os tipos
de violência, já que os seus agressores não sofriam nenhuma punição.

É neste contexto histórico, que surgem os movimentos feministas, com objetivo de


combater as descriminações ocasionadas pelas desigualdades derivadas dos padrões
estabelecidos pela moralidade sexual, lutando pelos direitos legais da mulher, dentre os
quais pode destacar: direito a integridade física, a autonomia, direitos trabalhistas,
reprodutivos, proteção contra a violência doméstica, assédio sexual e estupro.

Esses movimentos foram os principais responsáveis pelo crescimento sobre o estudo de


gênero, dando novas perspectivas sobre as questões teóricas e de investigação sobre a
sexualidade, as quais passaram a ser vistas sob uma nova ótica, ocasionando várias
conseqüências como: a alteração do estereótipo masculinidade, feminilidade e seus
respectivos papéis; novas atitudes liberais em relação ao corpo e as emoções; maior
tolerância ao sexo antes do casamento; maior tolerância as diferenças sociais e a
educação sexual.

1.4 A sexualidade humana e o controle social pelo direito penal.

O comportamento sexual do Brasileiro, assim como tem ocorrido com as civilizações


ocidentais, vem se modificando ao longo dos tempos, a partir dos anos 60, com a
valorização dos aspectos positivos da sexualidade e a sua privatização, surgiu então, a
necessidade de criar novas leis que se adequassem à realidade social.

Desse modo, pode-se afirmar que com as mudanças sócias e culturais vivenciadas no
século XX, houve um afastamento da moralidade religiosa herdada na época medieval,
ganhando a sexualidade uma autonomia individual e subjetiva, nascendo desde então, a
preocupação do Estado em regular todos os tipos de condutas lesivas a liberdade sexual
do individuou.
Neste sentido GRECO e RASSI dispõem: “Essa repressão sexual, ocorre porque o
comportamento sexual é uma conduta tão relevantes na vida em sociedade que o seu
exercício apresenta reflexos diretos nas instituições sociais do próprio estado.”

Dentre as formas de controle social exercidas contra a sexualidade, uma das mais
importantes, é aquela exercida pelo direito, a qual ao longo dos anos, tratou da
sexualidade como uma manifestação maior ou de menor importância, variando o seu
tratamento de acordo com os interesses sociais de cada época.

Contribuindo com o nosso entendimento, GRECO e RASSI estabelecem: “Ocorre que a


moral social sobre o comportamento sexual de cada época sempre influenciou o direito
penal na tutela das condutas sexuais”.

Os direitos sexuais ganharam grande importância ao longo dos tempos, chegando aos
dias atuais com uma preocupação acentuada em relação às condutas voltadas contra o
menor e aquele que está em situação de vulnerabilidade, sendo as reformas legislativas
nesse campo bastante complexas, devido às novas concepções sociais acerca da
sexualidade, demonstrando dessa forma que o direito e a moral caminham juntos.

Portanto, pode-se afirmar que a intervenção do direito penal no comportamento sexual


da sociedade, sempre foi uma questão bastante polemica que esbarra na distinção entre
o direito e a moral, ou seja, até que ponto o comportamento sexual reflete nos interesses
morais de um povo, ou apresenta danosidade suficiente capaz de merecer a tutela
jurisdicional, questão esta que estar longe de ser resolvida.

2 O crime de estupro e lei 2.848 de0 7 de Dezembro de 1940.

O estupro antes do advento da nova legislação estava disposto no titulo VI dos crimes
contra os costumes, no capítulo I Dos crimes contra a liberdade sexual, sendo este
definido como:

“Art. 213: Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave


ameaça:

Pena: - reclusão de seis a dez anos. (redação dada pela lei 8.072 de 1990)”

Parágrafo único: (revogado pela lei 9.281 de 1996)”

Em uma primeira análise, pode-se observar, que o nome do titulo “Dos crimes
contra os costumes” trazia a idéia de bons costumes, tutelando a moral sob o ponto
de vista sexual sem interferir nas relações normais do individuo, reprimindo as
condutas consideradas graves perante a moral média da sociedade, deixando muito
a critério da vitima ou do meio social ao qual pertencia classificar o que seria
contra os costumes.

Neste crime tutelava-se a liberdade sexual da mulher, ou seja, a faculdade que a


mulher tem de escolher livremente o seu parceiro, resguardando o direito dispor
do seu próprio corpo, sem que esta seja forçada violentamente a manter conjunção
carnal com outrem sem o seu consentimento.
Desse modo, o núcleo do referido tipo penal consubstanciava-se no verbo constranger
mulher a conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça, ou seja, era necessário
que a mulher fosse coagida a manter conjunção carnal com o agente pra configurar o
crime de estupro.

Tinha como conduta consumativa necessária para a configuração desse delito a


conjunção carnal, ou seja, a penetração do pênis na vagina. Desta forma, as demais
condutas para a realização de atos atrelados à libido, ou seja, aos desejos provenientes
do sexo, imbuídos de violência, que não estivesse presente esta característica, eram
classificadas tipificados em crime diverso - Atentado Violento ao Pudor (art. 214, CP) -
inclusive as praticadas contra homens, apesar de algumas popularmente serem
chamadas de estupro.

Neste contexto explicitava-se que somente a mulher podia ser a vítima desse crime –
sujeito passivo - enquanto que o homem seria o autor delituoso - sujeito ativo -
configurando o crime de estupro quando o homem usando da violência ou grave ameaça
praticando a conjunção carnal sem o consentimento da vitima.

Neste sentido afirma Fernando Capez:

“Conjunção carnal nos termos do artigo, é somente a cópula ou seja, a introdução do


pênis na cavidade vaginal da mulher.Não se compreendem nesse conceito outras formas
de realização do ato sexual, considerados coitos anormais, por exemplo a cópula oral ou
anal.Tais atos sexuais poderão constituir o crime de atentado violento ao pudor. Desse
modo, aquele que constrange outrem, do mesmo sexo ou não, a praticar com ele ato
libidinoso diverso da conjunção carnal pratica o crime do artigo 214.”

Portanto, as principais alterações ocasionadas no crime de estupro após a nova redação


dada pela lei 12.015/09, é a substituição da palavra mulher pela expressão alguém, bem
como a inclusão das elementares que eram previstas no crime de atentado violento ao
pudor, já que este teve sua redação incorporada no art.213 do código penal, revogando
em decorrência desta unificação o art. 214 do referido diploma legal.

2.1 Elementos Tipo

2.1.1 Bem jurídico tutelado

O bem jurídico protegido é a liberdade sexual da mulher, ou seja o direito que ela tem
de dispor sobre o seu próprio corpo, escolhendo livremente o seu parceiro sem que haja
a necessidade do emprego da violência ou grave ameaça para a pratica do ato sexual,
podendo inclusive recusar o próprio marido, quando assim desejar.

Sendo importante destacar, o conceito de liberdade sexual, a qual pode ser entendida
como a capacidade do sujeito dispor livremente de seu corpo na pratica do ato sexual,
ou seja, liberdade de se comportar no plano sexual de acordo com os seus preceitos,
tanto no que se refere à relação em si, quanto à escolha de seu parceiro e até mesmo no
que diz respeito à capacidade de se negar a executar ou tolerar atos de natureza sexual.

A liberdade sexual tem se materializado como sendo o objeto de proteção que justifica a
intervenção penal na prática sexual dos cidadãos, pretendendo com a sua tutela, mais do
que o exercício da capacidade de autodeterminação sexual, objetiva-se que o
comportamento sexual seja exercido na sociedade com a liberdade de seus participantes,
assegurando dessa forma, a plena liberdade do exercício da atividade sexual das
pessoas.

2.1.2 Ação nuclear

A ação nuclear do tipo penal consubstancia-se no verbo “constranger” mulher a


conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça. Sendo conveniente trazer o
significado do verbo constranger, que nada mais é do que forçar, compelir, coagir a
mulher a praticar com o agente conjunção carnal.

Desta forma, para configurar o referido delito, o agente deve necessariamente


constranger mulher a pratica de conjunção carnal mediante violência ou grave ameaça,
tratando-se portanto, dos meios executivos do crime de estupro.

A conjunção carnal, nos termos do artigo, é a cópula vagínica, ou seja a penetração do


pênis na vagina da mulher, portanto, todas as demais condutas atreladas a libido,
praticadas com violência a pessoa, que não estivesse presente essa características, eram
tipificadas com atentado violento ao pudor.

O mal que se pretende cometer deve ser direto(voltado contra a própria vitima) ou
indireto(voltados contra terceiros ligados a vitima; justo(delatar crimes cometidos pela
vítima) ou injusto( ameaçar de morte a própria vitima); devendo ser analisado sob o
ponto de vista da vitima, ou seja, levando em consideração as suas condições físicas e
psíquicas.

Sendo importante ressaltar, que a permissão para a prática do ato sexual, livre de
qualquer coação, exclui o crime de estupro, sendo necessário o dissenso da vitima, ou
seja, que ela se oponha ao ato sexual, cedendo apenas em face da violência empregada
ou do mal anunciado, exceto no caso de crime praticado contra o menor de 14 anos.

2.1.3 Sujeitos

2.1.3.1 Sujeito Ativo

O sujeito ativo do crime somente pode ser o homem, haja vista que apenas este poderá
executar a ação típica, já que a lei fala em “conjunção carnal”, excluindo, portanto, a
prática dos atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo.

Nesse sentido o professor Damásio de Jesus traz, “ somente o homem pode ser sujeito
ativo do crime de estupro, porque só ele pode manter com a mulher conjunção carnal
que é coito normal.”

Também, Celso Delmanto: “Sujeito ativo: Somente o homem”. Esse era o entendimento
majoritário e mais aceitável da doutrina e jurisprudência pátria.

Assim se uma mulher mediante violência ou grave ameaça, obriga outra mulher a
praticar com ele um ato sexual, o crime tipificado será o de atentado violento ao pudor,
pois neste caso, não teve a conjunção carnal, mas sim a pratica de atos libidinosos, não
estando presente uma característica essencial para a configuração desse delito.

Nada impede, porém, em se tratando de autoria mediata, que a mulher seja sujeito ativo
do referido delito, tendo em vista que nesse caso, ela não executa pessoalmente a
conjunção carnal.

Sendo conveniente mencionar o conceito de autoria mediata de Fernando Capez: “Autor


mediato é aquele que se serve de pessoa sem condições de discernimento para realizar
por ele a conduta típica. Ele é usado como mero instrumento de atuação, como se fosse
uma arma ou um animal irracional.”

Na autoria mediata o executor age sem vontade e sem consciência, pois a conduta típica
é realizada pelo autor mediato do crime, e por esta razão a mulher poderá ser sujeito
ativo deste, respondendo pelo crime na condição de agente mediato.

Apesar do crime de estupro ser classificado como um crime próprio, ou seja, que
pressupõe uma condição ou qualidade do agente, a mulher poderá ser participe, quando
sem realizar o núcleo penal concorreu de alguma forma para a produção do resultado e
co-autora, quando constrange a vitima á prática de conjunção carnal com seu comparsa,
embora não mantenha conjunção carnal com esta.

2.1.3.2. Sujeito Ativo: Marido?

Os doutrinadores mais antigos como Hungria e Noronha, entendem que inexiste o crime
de estupro quando o sujeito ativo do crime se tratar do próprio marido da vitima, pois
para se configurar o referido delito é necessário que a cópula seja ilícita, ou seja, fora do
casamento.

Desta forma, a cópula decorrente do casamento é tida como exercício regular do direito,
considerada dever recíproco dos cônjuges, podendo haver a recusa da mulher somente
nos casos em que o marido tenha contraído moléstia venérea.

“EMENTA: PENAL. CRIME CONTRA OS COSTUMES. ESTUPRO. EXTINÇÃO DA


PUNIBILIDADE. O restabelecimento da sociedade conjugal pré-existente entre
ofendida e o agente do delito constituiu-se, a partir da interpretação analógica in
bonan partem do artigo 107, inciso VII, do Código Penal, causa extintiva da
punibilidade. Decretaram extinta a punibilidade. Unânime.” (Apelação Crime Nº
70009464470, Quinta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luís
Gonzaga da Silva Moura, Julgado em 06/10/2004)

Tal posicionamento, com o passar dos anos não teve mais sentido, mesmo antes do
advento da lei 12015/09, pois a mulher adquiriu o direito à inviolabilidade de seu corpo,
de forma que os meios ilícitos, como violência ou grave ameaça, empregados para
constrangê-la à prática de qualquer ato sexual, mesmo sendo praticados pelo marido,
jamais poderão ser aceitos.

De acordo com esse entendimento, a relação sexual embora constitua dever recíproco
dos cônjuges, o constrangimento ilegal resultante da prática forçada da conjunção
carnal, não constitui exercício regular de direito, e sim abuso de direito, haja vista que a
lei civil não aceita o uso de violência física ou coação moral nas relações sexuais entre
os cônjuges.

Contribuindo com esse entendimento, Bitencourt afirma:

“O chamado debito conjugal, não assegura ao marido o direito de estuprar sua mulher;
garantindo-lhe, tão somente, o direito de postular o termino da sociedade conjugal.Os
direitos e as obrigações de homens e mulheres são, constitucionalmente, iguais.”

No entanto, se a esposa recusa-se continuamente a realizar o ato sexual, o esposo


poderá, poderá utilizar o instituto civil da separação judicial, em virtude de grave
violação dos deveres do casamento que torne insuportável a vida em comum, jamais
poderá obrigá-la à pratica do ato sexual.

Sendo importante ressaltar, que nos casos em que o marido mediante o emprego de
violência ou grave ameaça praticou ou tentou o estupro contra sua esposa, a mulher
poderá pedir a separação judicial devido à impossibilidade de comunhão de vida.

2.1.3.3 Sujeito Passivo

Somente poderá ser a mulher, pois apenas esta pode ser obrigada a pratica da conjunção
carnal, não importando para a configuração do delito se ela é virgem e recatada, já que a
proteção legal não estipula nenhuma característica especifica para a vitima, exceto que
esta seja do sexo feminino. Portanto, não se exclui da proteção legal a prostituta, que
embora comercialize o seu corpo, tem o direito dele dispor da forma que quiser.

Nesse sentido, afirma Bitencourt: “A liberdade sexual é um direito assegurado a toda


mulher, independentemente de idade, virgindade, aspecto moral ou qualquer outra
qualificação/adjetivação que se possa imaginar.”

Portanto, no crime de estupro não se procura saber sobre a conduta ou vida pregressa da
vitima, podendo dele ser sujeito passivo qualquer pessoa do sexo feminino seja ela
honesta, prostituta, virgem, idosa, menor ou ate mesmo cônjuge ou companheira.

No entanto, se o sujeito ativo do crime realizar conjunção carnal com uma vitima que
não seja maior de 14 anos, ainda que haja o consentimento desta para a prática do ato, o
estupro será considerado presumido, tendo em vista que o seu consentimento não é
considerado valido.

2.1.4. Tipo objetivo

A conduta típica no crime de estupro é constranger (forçar, compelir, obrigar) mulher


(deve necessariamente ser do sexo feminino), virgem ou não, maior ou menor, honesta
ou prostituta, mediante violência ou grave ameaça, à conjunção carnal (cópula
vagínica). Sendo qualquer outra forma de coito, considerada anormal, tipificada como
atentado violento ao pudor.

Neste sentido, Mirabete apud Martins define a conjunção carnal como a cópula vaginal:
“em que há introdução do membro viril em ereção, na cavidade vaginal, com ou sem
ejaculação”.
 Sendo necessário, portanto para a configuração do estupro a penetração do pênis na
vagina, não se exigindo a ejaculação nem o rompimento do hímen, estando excluído da
tipificação desse delito a cópula vestibular ou vulvar.

É indispensável também que tenha ocorrido o constrangimento ilegal da mulher


mediante violência ou grave ameaça para a prática da conjunção carnal, exigindo-se que
a esta se oponha ao ato sexual, pois a violência aliada ao dissenso da vitima deve ser
demonstrada para a tipificação do referido delito.

Colaborando com o entendimento afirma Mirabete: “Deve-se configurar, portanto, uma


oposição que só a violência física ou moral consiga vencer, que a mulher seja obrigada,
forçada, coagida, compelida à prática da conjunção carnal”.

A ameaça deve ser grave, ou seja, uma promessa de mal considerável, não importando
se houve justiça do mal ameaçado, tendo sempre que levar em conta a capacidade de
resistência da vítima.

2.1.4.1. Violência e Grave ameaça

O termo violência empregado no tipo penal refere-se a violência física, a vis corporalis,
tendo como finalidade vencer a resistência da vítima, podendo esta ser produzida pela
própria energia corporal do agente como por outros meios, como fogo, água, energia
elétrica (choque), gases, etc.

Essa violência poderá ser imediata, quando for empregada diretamente contra o próprio
ofendido, ou mediata, quando utilizada contra um terceiro ou coisa a que a vítima esteja
diretamente relacionada.

Não sendo necessário que a força empregada seja irresistível, ou seja, basta que esta seja
idônea para coagir a vítima à prática do ato sexual, permitindo que o sujeito ativo
realize a sua vontade.

Já a grave ameaça empregada no tipo penal refere-se a ameaça de u m mal sério e grave,
capaz de causar um grande temor à vítima, a ponto desta, com receio de sofrer o mal
prometido pelo autor, sujeitar-se à conjunção carnal.

O mal prometido no crime de estupro além de futuro e imediato, deve ser determinado,
pois sendo indefinido e vago este não terá grandes efeitos coativos. Não sendo
necessário que o mal prometido seja injusto, pois basta que a pretensão ou a forma de
obtê-la seja injusta para que haja a configuração do referido delito.

Dessa forma, o mal prometido pode até ser justo, mas o fundamento que leva o agente a
prometê-lo ou o método utilizado podem não sê-lo.

Portanto, é irrelevante que a ameaça seja justa ou legal para obter à prática do ato
sexual. Pois é a sua finalidade especial – constranger mulher à conjunção carnal – que
determina a natureza ilícita da conduta, transformando-a em ilegal e penalmente típica.

Sendo importante ressaltar, que as lesões corporais leves constituem elementares do


crime, enquanto que as de natureza grave podem qualificá-lo.
2.1.4.2. Análise da postura da vítima

O artigo 213 do código penal tipifica a conjunção carnal praticada mediante violência
ou grave ameaça, sendo irrelevante para a configuração desse delito a virgindade da
vitima, ou ate mesmo se esta é mulher casada ou solteira, viúva ou prostituta,
embasando-se na supressão do poder da mulher de se defender ou de se opor à prática
do ato sexual.

Os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade tem efetiva aplicação no crime de


estupro, haja vista que no referido delito deve-se analisar a relação de forças,
especialmente a superioridade de forças do agente, ou seja, não é necessário que se
esgote toda a capacidade de resistência da vítima, para reconhecer a violência ou grave
ameaça.

2.1.5. Elementos do Tipo Subjetivo

O elemento subjetivo geral é o dolo, consubstanciado na vontade de constranger a


mulher à pratica do ato sexual, mediante violência ou grave ameaça.

No entanto, além do elemento subjetivo genérico, o crime ainda comporta o elemento


específico, o qual é representado pelo fim de constranger a vitima a pratica da
conjunção carnal, sendo este o elemento que descrimina a tentativa de estupro do
atentado violento ao pudor.

Colaborando com esse entendimento afirma Mirabete: “A vontade de constranger,


obrigar, forçar, a mulher é o dolo do delito de estupro. Exige-se, porém, o elemento
subjetivo do injusto (dolo específico), que é o intuito de manter conjunção carnal”.

Portanto não basta o dolo, elemento subjetivo geral, é necessário que o agente tenha o
fim de constranger a vitima para a prática da conjunção carnal, elemento subjetivo
específico, também chamado de dolo específico.

Sendo importante ressaltar, que quando não houver qualquer contato físico com a
vítima, mas tiver ocorrido grave ameaça, o agente responderá pelo crime de
constrangimento ilegal, já que pela regra da desistência voluntaria o autor só responde
pelos atos ate então praticados.

2.1.6. Prova do Crime

O estupro é um crime que nem sempre deixa vestígios, como na hipótese de tentativa,
onde o agente não pratica a conjunção carnal com a vitima por circunstancias alheias a
sua vontade, e mesmo havendo consumação esses resquícios podem ter desaparecido
durante o tempo ou nem se quer ter ocorrido, dificultando a prova pericial junto a
vitima.

Porém, nos casos em que o crime deixa vestígios será indispensável a prova pericial,
procedendo –se através do exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo ser
suprida pela confissão, de acordo com o art.158 do CPP.
Trata-se, pois, da adoção ao sistema da reserva legal, no qual o juiz não pode buscar a
verdade em nenhum outro meio de prova, pois a lei se apega ao formalismo de exigir a
prova pericial como o único meio capaz de comprovar a materialidade delitiva do fato.
Desse modo, nos casos em que for possível a realização da pericia, a sua falta implicará
na nulidade de todas as provas produzidas em sua substituição.

Contudo a jurisprudência dos tribunais superiores vem se posicionando de maneira


contraria a essa regra, sob o argumento de que todas as provas podem ser valoradas pelo
juiz como admissíveis, desde que estas não sejam ilícitas.

Sendo pertinente destacar o posicionamento do STF:

“A nulidade decorrente da falta de realização do exame de corpo de delito não tem


sustentação frente à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que não considera
imprescindível a perícia, desde que existentes outros elementos de prova”.

No mesmo sentido dispõe o STJ:

“Penal. Processual. Estupro e atentado violento ao pudor. Ausência de exame de corpo


de delito. Habeas Corpus. A falta do exame de corpo de delito por si só, não serve para
anular o processo, quando a condenação tem amparo em outros elementos de prova,
especialmente a testemunhal”.

2.1.6.1. Conjunção Carnal e a sua prova pericial

A prova da conjunção carnal pode-se dar por meio dos vestígios como: presença de
esperma, pêlos, ruptura do hímen, contágio de moléstia venérea, gravidez.

No entanto o STF posicionou-se no sentido que:

“O fato de os laudos de conjunção carnal e de espermatozóides resultarem negativos


não invalida a prova do estupro, dado que é irrelevante se a cópula vagínica foi
completa ou não, e se houve ejaculação. Existência de outras provas. Precedentes do
STF”.

É importante destacar, que não basta a comprovação da conjunção carnal para


configurar o crime de estupro, pois ela não é capaz de demonstrar o nível de resistência
da vitima à prática do ato sexual, sendo necessário portanto, a comprovação de que o
ato sexual se deu mediante constrangimento físico ou moral.

2.1.6.2 Violência e sua prova

A violência que o artigo se refere é aquela causada pelo emprego efetivo da força física,
ocasionando mordidas, tentativa de esganadura, equimoses, escoriações, lesões, na
vítima com o objetivo de obrigá-la a pratica do ato sexual.

Entretanto existem casos em que a vitima não produz nenhuma forma de resistência ao
ato sexual, devendo o juiz levar em consideração outras provas, dentre as quais a
palavra da vítima e a prova testemunhal (exame de corpo de delito indireto).
Sendo importante ressaltar que, via de regra, a palavra da vitima tem valor probatório
relativo, devendo o juiz aceitar com reservas, analisando de acordo com o caso
concreto.

Nas hipóteses de violência moral a prova do crime de estupro é de difícil constatação,


podendo ser utilizado o exame de corpo de delito indireto caso exista prova
testemunhal.

Sendo conveniente destacar o entendimento do relator Ministro Gilson Fernandes, do


tribunal de justiça do maranhão, no julgamento de recurso especial n 401028, D.J.E
23.02.10:

“EMENTA:RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. ESTUPRO.


DENÚNCIA. REJEIÇÃO. EXAME DE CORPO DE DELITO. AUSÊNCIA.
APLICAÇÃO DO ARTIGO 167 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. 1. "A
ausência de laudo pericial não tem o condão de afastar os delitos de estupro e atentado
violento ao pudor, nos quais a palavra da vítima tem grande validade como prova,
especialmente porque, na maior parte dos casos, esses delitos, por sua própria natureza,
não contam com testemunhas e sequer deixam vestígios" (HC-47.212/MT, Relator
Ministro Gilson Dipp, DJ de 13.3.06). 2. Conforme a jurisprudência desta Corte, uma
vez inexistente o exame de corpo de delito, tal fato não tem o condão de descaracterizar
a tipicidade da conduta narrada na exordial acusatória, haja vista a possibilidade de ser
suprido por depoimentos testemunhais, conforme previsão do art. 167 do Estatuto
Repressivo. 3. A rejeição da denúncia somente tem cabimento em casos em que se
verifique de plano a atipicidade da conduta, sem a necessidade de o magistrado, na
simples decisão de recebimento, efetuar um exame aprofundado da prova, cuja
apreciação deve aguardar momento oportuno, qual seja a instrução criminal. 4. O
Tribunal a quo, em sede de ação penal originária, ao concluir pela ausência de prova
material do estupro, incursionou em profunda análise da prova e assim antecipou-se,
indevidamente, ao julgamento de mérito da lide, em momento sabidamente inoportuno,
no qual é vedada a análise exauriente da prova. 5. Recurso ao qual se dá provimento.”

2.1.6.3. Autoria e sua prova

A prova da autoria pode-se dar através da colheita do material genético do suposto


agressor, comparando-o com o material genético encontrado nos vestígios do crime, tais
como esperma, pêlos presentes no corpo da vítima.

No entanto, o réu não esta obrigado a ceder o seu material genético para a realização de
exame de DNA, já que no Direito Penal ninguém é obrigado a produzir provas contra si
mesmo, devendo nesse caso, o juiz analisar a recusa do réu junto com as demais provas
para formar sua convicção.

Colaborando com esse entendimento o art. 157 do CPP traz: “O juiz formará a sua
convicção pela livre apreciação das provas”.

2.1.7. Consumação e tentativa

Consuma-se o crime de estupro quando há a introdução completa ou incompleta do


pênis na vagina da vitima, sendo desnecessária a ejaculação ou o orgasmo,
caracterizando o referido delito independentemente do rompimento da membrana
himenal.

A tentativa é admissível neste delito, caracterizando o crime de estupro na forma tentada


quando o agente tendo iniciado a execução, é interrompido por circunstancias alheias a
sua vontade.

Por se tratar de um crime complexo, a violência ou grave ameaça constitui inicio da


execução, já que está dentro do próprio tipo, como sua elementar, ocorrendo a tentativa
quando o agente ameaça gravemente a vitima, com o objetivo de constrange-la à prática
do ato sexual.

2.1.8. Classificação Doutrinária

O estupro trata-se de um crime comum, pois o fato de apenas o homem ser o sujeito
ativo do crime não o classifica como crime próprio; material, já que o referido delito
causa transformação no mundo exterior; instantâneo, devido a consumação não se
perdura no tempo; unissubjetivo, pois este delito só pode ser cometido por uma única
pessoa; plurissubsistente, pelo fato da conduta se desdobrar em vários atos.

2.1.8.1 Formas

2.1.8.1.1 Simples

Esta prevista no caput do art. 213 do Código Penal: “Constranger mulher à conjunção
carnal, mediante violência ou grave ameaça: Pena-reclusão, de seis a dez anos”.

Dessa forma, para que haja a configuração deste delito em sua forma simplificada, era
necessário que o Homem, sujeito ativo, constrangesse uma mulher, sujeito passivo, a
conjunção carnal mediante violência ou grave ameaça.

Sendo importante destacar, que com essa redação, o crime de estupro e atentado
violento ao pudor por se tratarem de crimes autônomos, haverá a possibilidade de
concurso material entre estes delitos, de modo que se o agente do referido crime,
constranger a vitima à prática da conjunção carnal e a cópula anal, responderá pelos
crimes do art.213 e 214do Código Penal, resultando na aplicação das duas penas.

2.1.8.2 Qualificada pelo resultado

Esta prevista no art. 223 do mesmo diploma legal. O caput do artigo estabelece: “Se da
violência resulta lesão corporal de natureza grave: Pena-reclusão, de oito a doze anos”.
O parágrafo único também estabelece: “Se do fato resulta a morte: Pena-reclusão, de
doze a vinte e cinco anos”.

Qualifica-se o crime quando do estupro resultar lesão corporal de natureza grave ou a


morte da vitima.

Sendo pertinente ressaltar, que o mencionado artigo, traz uma redação defeituosa, haja
vista que o seu caput, traz o resultado qualificador ocasionado pelas lesões de natureza
grave, menciona: “se da violência resultar...”. Enquanto o seu parágrafo único, o qual
trata do resultado qualificador causado pela morte da vítima, dispõe: ”se do fato
resultar...”.

Gerando dessa forma, uma série de debates doutrinários e jurisprudenciais acerca do


tema, haja vista que o referido artigo ocasionava duvidas na sua aplicação, se o delito só
era qualificado se resultasse lesão grave da violência e não da grave ameaça ou se
quando o artigo mencionava o fato, podia se abranger a violência e a grave ameaça ou
somente a violência.

2.1.9. Violência Ficta em casos de estupro

O referido delito esta previsto no art.224 do CP, o qual traz: “Presume-se violência, se a
vitima: a) não é maior de catorze anos; b) é alienada ou débil mental, e o agente
conhecia essa circunstância; c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer
resistência”.

 A violência é presumida quando o agente pratica o crime de estupro contra a vítima


menor de catorze anos, alienada ou débil mental, sendo este caracterizado, mesmo que
tenha o consentimento da vítima.

A aplicação do estupro com violência presumida tomando como critério à idade da


vítima não era pacífica tanto nos Tribunais, como na Doutrina. Sendo essa discussão
voltada para a questão da presunção ter caráter absoluto ou relativo, em relação à idade
da vítima.

Os que defendiam a presunção absoluta argumentavam que o consentimento de uma


menor de 14 anos era sempre invalido, mesmo que esta possuísse um desenvolvimento
físico e psíquico superior a sua idade, em razão da idade da vítima ser elementar do tipo
penal, posição esta, sustentada por Bento de Faria, em seu Código Penal Brasileiro.

No entanto, a maioria dos doutrinadores defende a presunção relativa de violência,


podendo destacar o professor Damásio de Jesus e professor Mirabete que sustentam que
presunção de violência, no caso de a vítima não ser maior de catorze anos, é relativa, já
que o agente pode incidir em erro quanto à idade desta ou a menor de 14 anos pode se
mostra experiente em matéria sexual, devendo cada caso ser analizado de forma
especifica levando sempre em consideração as características físicas e psíquicas da
vitima.

Os Tribunais acompanhavam o entendimento da maioria dos doutrinadores, decididos


pela relatividade da presunção de violência do art. 224, alínea "a" do CP.

Neste sentido, o STF, no julgado, que tinha como relator o Ministro Marco Aurélio, do
Habeas Corpus n.º 73.662 - MG, D.J.U. 20.09.96, traz:

“EMENTA: ESTUPRO - CONFIGURAÇÃO- VIOLÊNCIA PRESUMIDA -


IDADE DA VÍTIMA - NATUREZA. O estupro pressupõe o constrangimento de
mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça - artigo 213 do
Código Penal. A presunção desta última, por ser a vítima menor de 14 anos, é
relativa. Confessada ou demonstrada a aquiescência da mulher e exsurgindo da
prova dos autos a aparência, física e mental, de tratar-se de pessoa com idade
superior aos 14 anos, impõe-se a conclusão sobre a ausência de configuração do
tipo penal. Alcance dos artigos 213 e 224, alínea "a", do Código Penal.” (grifos ora
assinalados)

Sendo conveniente destacar o entendimento do Relator Desembargador Adalto Dias


Tristão do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, no julgamento da Apelação Criminal
n.º 008920004580, em data de 23.11.94, que se mostra totalmente a favor da
relatividade da presunção de violência:

“EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - ESTUPRO - VIOLÊNCIA FICTA OU


PRESUMIDA. Vítima que possui compleição robusta, aparentando ser mulher
formada. Restou provado que o apelado foi por várias vezes procurado pela
vítima, para com ele manter relações sexuais. O apelante é pessoa humilde que
laborou em erro quanto a idade da moça que o procurava insistentemente para
com ele manter congresso carnal. E da jurisprudência não configurar estupro, por
violência presumida, quando a vitima, apesar da tenra idade, além de tomar a
iniciativa para o ato sexual, apresentava ser mulher formada. Apelo improvido, a
unanimidade.” (grifos nossos)

Sendo pertinente ressaltar, a decisão do Relator Desembargador Carmo Antônio do


Tribunal de Justiça do Amapá, no julgamento dos Embargos Infringentes na ACr n.º
128.93, o qual estabelece:

“EMENTA: PENAL - ESTUPRO - VIOLÊNCIA PRESUMIDA - RELEVÂNCIA


DO COMPORTAMENTO MORAL DA VÍTIMA - INEXISTÊNCIA DE DÚVIDA
QUANTO À SUA IDADE. - 1) Nos crimes de estupro, presume-se a violência,
quando a vítima não tem experiência em matéria sexual e nem é despudorada e
sem moral. - 2) Sendo do conhecimento do agente que a vítima, ao tempo do delito,
tinha somente 13 anos, não lhe socorre o argumento de que ela apresentava
desenvolvimento corporal incompatível com sua idade. - 3) Embargos
improvidos.” (Grifos propositais)

No entanto, há decisões em contrário, podendo destacar o entendimento do Tribunal de


Justiça de Goiás, no julgamento da Apelação Criminal n.º 14194.0.213, D.J.E. 11.04.95,
cuja relatoria do Desembargador Juarez Távora de Azeredo Coutinho, o qual optou pela
presunção absoluta:

“EMENTA:Recurso de apelação. Estupro. Violência presumida. Se a pessoa ofendida,


nos crimes sexuais, não for maior de catorze anos, presume-se por avaliação feita pelo
legislador, que o autor do crime atuou com violência, ainda que na realidade tal não
tenha ocorrido.

A presunção legal absoluta da violência deve prevalecer, afastada qualquer dúvida sobre
a maturidade da ofendida em se tratando de menor sem auto determinação no campo
sexual, incapaz de decidir, com liberdade dada sua pouca idade e sem condições
pessoais para repelir propostas feitas pelo namorado. Recurso improvido”.

2.1.10. Ação Penal


A ação penal no crime de estupro é, via de regra, de iniciativa privada, procedendo-se
mediante queixa do ofendido. No entanto, se da violência resultar lesão corporal de
natureza grave ou morte, a ação penal será pública.

3 O crime de estupro após o advento da Lei 12.015 de 7 de agosto de 2009

A preocupação com a exploração sexual de crianças e adolescentes, bem como o


desrespeito a pessoa humana, levou o Congresso Nacional a criar uma CPMI, cujo
resultado foi o PL 253/04, a qual durante o processo legislativo sofreu algumas
alterações culminando com a promulgação e publicação da Lei 12.015/09.

Com o advento dessa lei, o estupro passou a ser disposto no titulo VI dos crimes contra
a dignidade sexual, no capítulo I dos crimes contra a liberdade sexual, passando a
vigorar com as seguintes alterações:

“Titulo IV

Dos crimes contra a dignidade sexual

Capítulo I

Dos crimes contra a liberdade sexual

Estupro

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção
carnal ou praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.

Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de


18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:

Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

§ 2o Se da conduta resulta morte:

Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos”

A lei 12.015/2009 ao disciplinar o crime de estupro no titulo “Dos crimes contra a


dignidade sexual”, trouxe uma idéia de dignidade, demonstrando uma maior
preocupação com a pessoa humana, pois o foco da proteção, não era mais a forma
como a pessoa devia se comportar sexualmente perante a sociedade, mas sim a
proteção de sua dignidade sexual, já que a expressão “crimes contra os costumes”
não trazia mais a realidade dos bens juridicamente protegidos pelo tipo penal em
comento.

Percebe-se que as modificações ocorridas na sociedade trouxeram novas


preocupações, ao invés de proteger a virgindade das mulheres, como acontecia no
passado, o Estado encontra-se diante de outros desafios, o que contribuiu para a
elaboração de uma nova lei que tem como finalidade a proteção da liberdade
sexual do individuo e, num sentido mais amplo, a sua dignidade sexual.

Colaborando com esse entendimento, Rogério Greco traz:

“O nome dado a um Título ou mesmo a um Capítulo do Código Penal tem o condão de


influenciar na análise de cada figura típica nele contida, pois, através de uma
interpretação sistêmica ou mesmo de uma interpretação teleológica, onde se busca a
finalidade da proteção legal, pode-se concluir a respeito do bem que se quer proteger,
conduzindo, assim, o intérprete, que não poderá fugir às orientações nele contidas.”

A nova redação dada pela lei 12.015 de 2009 teve duas finalidades: fundir num mesmo
dispositivo o crime o crime de estupro e atentado violento ao pudor e admitir a violência
sexual contra qualquer pessoa, mesmo que não seja do sexo feminino, sujeito passivo
exclusivo do anterior crime de estupro.

Essa lei, além de alterar substancialmente o titulo VI da parte especial do código penal,
transformou todo o sentido e significado do art. 213 do Código Penal, trazendo como
consequência, a revogação do artigo 214 deste, já que as antigas definições dos crimes
de estupro e atentado violento ao pudor, com a nova lei, transformaram-se em uma
única redação que é a atual definição do crime de estupro, não restando outra alternativa
senão a revogação do art. 214, passando a vitima daquele extinto delito, a partir de
então, a ser vitima do crime de estupro.

Sendo importante ressaltar, que a nova lei revogou também o art.224 do Código Penal,
que tratava da presunção de violência e trouxe em seu art.227, o estupro de vulnerável,
o qual tem como objetivo punir toda relação sexual ou qualquer outro ato considerado
libidinoso praticado contra o menor de 14 anos ou qualquer pessoa que por enfermidade
ou doença mental não possua o discernimento para a prática do ato. Acabando com as
antigas discussões que havia nos nossos tribunais acerca da presunção de violência,
quando a vitima fosse menor de 14 anos.

3.1 Elementos do tipo

3.1.1 Bem Jurídico Tutelado

O bem jurídico protegido é tanto a liberdade quanto a dignidade sexual da pessoa


humana, ou seja, da pessoa que sofreu o constrangimento, podendo esta ser homem ou
mulher, haja vista, que para a configuração do atual crime de estupro não é obrigatória a
figura da mulher como sujeito passivo, diferentemente do que ocorria no delito anterior.
Desse modo, o crime de estupro além de atingir a liberdade sexual da vítima atinge
também a sua dignidade, tendo em vista que esta se sente humilhada com a prática do
ato sexual contrário a sua vontade.

Sendo importante trazer o conceito de liberdade sexual que nada mais é do que a
capacidade do sujeito dispor livremente de seu próprio corpo na prática do ato sexual,
ou seja, a faculdade que todas as pessoas têm de se comportar sexualmente segundo
seus próprios anseios.
Neste sentido dispõe GRECO apud JIMÉNEZ o qual traz o conceito de liberdade
sexual:

“autodeterminação no marco das relações sexuais de uma pessoa, como uma faceta a
mais da capacidade de atuar. Liberdade sexual significa que o titular da mesma
determina seu comportamento sexual conforme motivos que lhe são próprios no sentido
de que é ele quem decide sobre sua sexualidade, sobre como, quando ou com quem
mantém relações sexuais”.

 Desse modo, a liberdade sexual tutelada pelo direito penal, esta relacionada com a
percepção do que representa a sexualidade na vida humana, preocupando-se em garantir
que a atividade sexual das pessoas seja exercida em condições de plena liberdade.

3.1.2 Ação nuclear

A ação nuclear consubstancia no verbo “constranger” alguém, mediante o emprego de


violência ou grave ameaça, à conjunção carnal ou a prática(forma comissiva) de outro
ato libidinoso(qualquer ato destinado ao prazer sexual), bem como permitir que com ele
se pratique outro ato libidinoso(forma passiva).

Com a Lei 12.015 de 2009 os artigos 213 e 214 se transformaram em uma única figura
(art.213), tornado-se um tipo misto, haja vista que o referido delito, com a nova redação,
comporta as condutas descritivas dos antigos crimes de estupro e atentado violento ao
pudor. Portanto, se o agente do crime de estupro constranger a mesma vitima à pratica
da conjunção carnal e/ou outro ato libidinoso qualquer, comete um crime único.

3.1.3 Sujeitos

3.1.3.1 Sujeito ativo e Sujeito passivo

Tanto o sujeito ativo como o sujeito passivo poderá ser qualquer pessoa, haja vista que
com a nova legislação, o crime estupro pode ser cometido por agente homem contra
vítima mulher, por agente homem contra vitima homem, bem como por agente mulher
contra vítima mulher, acabando de vez com as antigas discussões entre os antigos
crimes dos artigos 213 e 214 do CP.

Desse modo, pode-se afirmar que o homem poderá ser sujeito ativo do crime de estupro
quando sua conduta estiver relacionada com o coito vagínico, já que o artigo 213 da
atual legislação refere-se ao verbo conjunção carnal, entendida como relação sexual
normal, entre homem e mulher. No entanto no que diz respeito à prática de ato
libidinoso, qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo bem como sujeito passivo deste
delito, pois nesse caso trata-se de um crime comum.

A mulher também poderá praticar o referido delito com a ajuda de terceiros, já que a
situação desta constranger um homem a ter conjunção carnal com ela, dificilmente
aconteceria, mesmo que ela estivesse com uma arma apontada para a vitima.Todavia ela
poderá cometer o crime de estupro em concurso, usando da grave ameaça para forçar o
homem a ter conjunção carnal com outra mulher.
Hipótese esta, que não poderia ocorrer antes da Lei 12.015 de 2009, pois esta conduta
não se enquadrava nem no artigo 213 nem 214 do CP. Haja vista que não seria estupro
porque o homem não podia ser sujeito passivo do delito, nem seria atentado violento ao
pudor porque o constrangimento não era para a prática de atos libidinosos, ocorrendo
portanto, uma lacuna jurídica.

Sendo importante ressaltar, que a hipótese de uma mulher forçar um homem a ter
conjunção carnal com ela ou com outra mulher será menos provável de ocorrer, do que
a hipótese deste ser vitima de estupro pelo fato de ter sido obrigado a praticar outro ato
libidinoso com outro homem. No entanto a nova legislação preocupou-se em abarcar
todas as situações relacionadas com a liberdade sexual do individuou, equiparando
homens e mulheres no pólo ativo do delito.

3.1.3.2 Sujeito ativo: marido?

Questão controvertida que dividiu a doutrina e a jurisprudência durante muitos anos,


mas que com o advento da Lei 12.015 de 2009 vem perdendo muitos adeptos, pois com
a nova lei o estupro passou a ter uma nova redação, equiparando homens e mulheres no
pólo passivo do delito, não especificando qualquer situação em que a pessoa sofrendo
tal constrangimento não possa estar inclusa como vitima do crime.

Existiam varias correntes que tentavam solucionar tal conflito, a primeira destas, hoje já
superada, entendia que, devido o chamado debito conjugal, o marido que obrigava sua
esposa ao ato sexual agia acobertado pelo exercício regular de direito, posição esta
nitidamente machista.

Nesse sentido afirma GRECO apud HUNGRIA:

“Questiona-se sobre se o marido pode ser, ou não, considerado réu de estupro, quando,
mediante violência, constrange a esposa à prestação sexual. A solução justa é no sentido
negativo. O estupro pressupõe cópula ilícita (fora do casamento). A cópula intra
matrimonium é recíproco dever dos cônjuges. O próprio Codex Juris Canonici
reconhece-o explicitamente [...]. O marido violentador, salvo excesso inescusável, ficará
isento até mesmo da pena correspondente à violência física em si mesma (excluído o
crime de exercício arbitrário das próprias razões, porque a prestação corpórea não é
exigível judicialmente), pois é lícita a violência necessária para o exercício regular de
um direito.”

Posição esta que não faz mais sentido, pois o marido só poderá se relacionar com sua
esposa desde que haja o seu o consentimento, podendo apenas dar causa a separação
judicial devido a quebra dos deveres conjugais, mas nunca poderá ser admitido práticas
violentas ou ameaçadoras a liberdade sexual da mulher com o intuito de se praticar o ato
sexual, se homens e mulheres são iguais perante a lei, portanto a constituição não
permite o Código civil legislar de maneira contraria, tornando a mulher submissa nas
relações conjugais.

Dessa forma, se a constituição estabelece que homens e mulheres são iguais perante a
lei, não cabe o Código civil legislar de maneira contraria, tornando a mulher submissa
nas relações conjugais, portanto não resta duvidas que existe o crime de estupro quando
o agente deste delito for o marido da vitima.
A redação dada ao artigo 226, inciso II, do Código Penal, prevê as causas de aumento
de pena para o crime de estupro e demais crimes contra a dignidade sexual, acabando
com as antigas discussões quanto a possibilidade do marido praticar o crime de estupro:

“Art. 226 A pena é aumentada:

II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,


companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro
título tem autoridade sobre ela.”

Sendo importante destacar que a nova lei, tutela tanto a conduta praticada pelo homem
contra a mulher, quanto a conduta praticada pela mulher contra o homem, portanto a
esposa que cometer o referido delito contra o seu marido também responderá pelo
estupro com aumento de pena.

3.1.4 Tipo Objetivo e Subjetivo     

A conduta típica consubstancia-se no verbo constranger, o qual significa forçar,


compelir. Devendo esse constrangimento se dar mediante violência( coação física)
ou grave ameaça(violência moral), para que a vitima seja forçada à pratica da
conjunção carnal, ou seja, a cópula vagínica, ou a praticar ou permitir que com ela
se pratique outro ato libidinoso.

Sendo necessário para a configuração desse delito o emprego da violência sexual com o
intuito de satisfazer o libido, característica esta que o difere do constrangimento ilegal
tipificado no artigo 146, deste Código.

A expressão conjunção carnal matem o mesmo significado, introdução do pênis na


vagina, no entanto o novo tipo penal preferiu especificá-la e associar a prática de
qualquer ato libidinoso. Nesse sentido , pode-se afirmar que o ato libidinoso é gênero,
do qual envolve a conjunção carnal, devendo ser respeitada tal separação para a
tipificação do referido delito.

O ato libidinoso descrito no artigo é aquele destinado ao prazer, conceito este


muito abrangente, exigindo uma valoração por parte do magistrado, já que não há
um conceito preciso, como ocorre no caso da conjunção carnal, gerando uma serie
de discussões tanto na doutrina quanto na jurisprudência.

Nesse sentido, afirma DELGADO apud PRADO:

“Assim, se é correta a classificação do beijo lascivo ou com fim erótico como ato
libidinoso, não é menos correto afirmar que a aplicação ao agente da pena mínima de
seis anos, nesses casos, ofende substancialmente o princípio da proporcionalidade das
penas.”

Entretanto muitos casos podem ser resolvidos com uma simples análise do elemento
subjetivo, como no caso do beijo, que mesmo contra a vontade da vitima, se o intuito
não era a satisfação da lascívia e sim a manifestação de um sentimento, não constitui um
ato libidinoso, devendo ser analisado cada caso, devido a amplitude dos atos
libidinosos, que podem ir desde um beijo lascivo ate um coito anal.
O elemento subjetivo do tipo é continua o mesmo do delito anterior, ou seja, é dolo,
consistente na vontade livre de praticar a conduta descrita no tipo penal, não admitindo
a forma a forma culposa. Há entendimentos que além do elemento subjetivo é
necessário o dolo específico, ou seja, a vontade de obter a conjunção carnal ou outro ato
libidinoso, com o intuito de satisfazer a própria lascívia.

3.1.4.1 Dissenso da vitima: nível de resistência da mulher

Como já foi dito no crime de estupro anterior a lei 12.015 de 2009, para que haja a
configuração do referido delito é necessário que a vitima tenha sido constrangida
mediante o emprego de violência ou grave ameaça à prática da conjunção carnal ou
praticar ou permitir que se pratique, de forma não consentida outro ato libidinoso.
Sendo necessário, portanto, que não tenha havido o consentimento da vitima para a
prática do ato sexual, sob pena do ato ser considerado atípico, se a vitima não estiver
inserido nas situações do art. 217-A do CP.

De acordo com DELGADO apud NUCCI o dissenso da vitima deveria resistir durante
todo o ato: “Seria evidentemente paradoxal ouvir o depoimento da vítima, afirmando ao
magistrado, por exemplo, que a relação sexual foi uma das melhores que já
experimentou, embora se tenha iniciado a contragosto”.

Com o advento da Lei 12.015 de 2009 essa posição ficou enfraquecida, haja vista que
de acordo com esta era necessário que o dissenso da vitima durante todo o ato sexual, o
que seria insensato exigir quando a vitima fosse homem. Pois, em regra, o homem
chega muito mais fácil a ejaculação, inclusive, em situações em que não há qualquer
romantismo.

Sendo importante ressaltar que a vitima pode modificar a sua vontade a qualquer tempo,
antes da penetração, mesmo que em momentos anteriores tenha demonstrado a sua
vontade de praticar o ato sexual, pois somente o consentimento que precede
imediatamente ao ato deve ser considerado.

Porém os fatos antecedentes também devem ser analisados para efeitos de prova, uma
vez que na maioria das vezes o estupro não é cometido na presença de testemunhas,
dificultando a prova nos casos em que a vitima mantinha relações de intimidade com o
agente, a exemplo do que ocorre com os namorados, noivos e ate entre pessoas casadas.

Dessa forma, entende-se que não deve exigir da vitima uma conduta de quem em defesa
de sua hora deve arriscar a sua vida, só consentido o ato após o esgotamento de suas
forças, avaliando-se cada caso concreto a superioridade de forças do agente pra a prática
do ato. Pois com o advento da Lei 12.015 de 2009, a qual unificou o crime de estupro e
atentado violento ao pudor, deve-se o grau de resistência de qualquer pessoa (homem ou
mulher), guardadas a peculiaridade de cada um.

3.1.5 Consumação e Tentativa

A consumação vai depender da conduta praticada pelo agente. Quando se tratar


da conjunção carnal, a consumação ocorrerá com a introdução completa ou
incompleta do pênis na vagina da vitima, já no caso em que ocorre o ato libidinoso,
segunda parte do art. 213 do Código Penal, a consumação é ampla, bastando um
toque físico com o intuito de satisfazer a lascívia ou o constrangimento efetivo da
vitima para que ocorra a consumação desse crime.

Colaborando com esse entendimento, NUCCI afirma:

“Basta a introdução ainda que incompleta do pênis na vagina, independentemente da


ejaculação ou satisfação efetiva do prazer sexual, sob um aspecto. Com a prática de
qualquer ato libidinoso, independentemente de ejaculação ou satisfação do prazer
sexual, em outro prisma”.

Por se tratar de um crime plurissubsistente a tentativa é plenamente possível, apesar de


difícil comprovação, ocorrendo nos casos em que o agente iniciando a execução não
consegue alcançar o resultado pretendido por circunstancias alheias a sua vontade.

3.1.6 Classificação doutrinaria

O crime de estupro continuou a ser comum, mas agora ele pode ser cometido por
qualquer pessoa (homem ou mulher) e de forma livre (porque pode ser cometido tanto
pela conjunção carnal, quanto por qualquer ato libidinoso).

Continua material, haja vista que demanda resultado naturalístico, consubstanciado no


tolhimento da liberdade sexual da vitima; comissivos, pois os verbos do tipo indicam
uma ação; instantâneos, devido o resultado se dar definida no tempo; de dano, pois a
consumação se dar através de uma lesão praticada contra o bem tutelado;
unissubsistente, porque pode ser cometido apenas por um agente e plurisubsistente, pois
esse delito é praticado em vários atos.

3.1.7 Formas

3.1.7.1 Forma simples

Esta prevista no caput do art. 213 do Código Penal: “Constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele
se pratique outro ato libidinoso: Pena-reclusão, de 6 (seis) a 10(dez) anos”.

3.1.7.2 Forma Qualificada

A Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, criou duas modalidades qualificadas no crime


de estupro, os § 1º e § 2º do art. 213 do mesmo diploma legal, os quais estabelecem:

“§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de


18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze)
anos. § 2o Se da conduta resulta morte: Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta)
anos”.

Sendo importante ressaltar que os resultados qualificadores tratam-se de crimes


qualificados pelo resultado ou crimes preterdolosos (dolo na conduta antecedente e
culpa na conseqüente), onde a lesão grave ou a morte deve ser decorrência de culpa ou
dolo, ou pelo menos eventual, caso contrário, haverá concurso de crimes.
3.1.8 Estupro de vulnerável

A lei 12.015/2009 revogou o art. 224 do Código Penal, que tratava da presunção de
violência e trouxe o art. 217-A, o estupro de vulnerável, o qual tem como objetivo punir
toda relação sexual ou qual quer ato libidinoso praticado contra o menor de 14 anos ou
qualquer pessoa que por enfermidade ou doença mental não possua o discernimento
necessário para a prática do ato. Demonstrando dessa forma, a preocupação do
legislador no que diz respeito às condutas voltadas contra a criança ou adolescente ou e
pessoas com deficiência.

Buscando solucionar o problema da presunção de violência o legislador, criou o tipo


penal autônomo do art.217-A, o qual se encontra inserido no capítulo II do título VI,
“Dos crimes contra o vulnerável”:

“Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14
(catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

§1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que,
por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

§2o (VETADO)

§3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.

§4o Se da conduta resulta morte:


Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.”

Nota-se que o novo tipo penal, não traz mais a elementar violência ou grave ameaça,
tendo em vista que o legislador compreendeu que o consentimento das pessoas com
vulnerabilidade, ou seja, os menores de 14 anos ou as pessoas que por enfermidade ou
deficiência não possuam o discernimento para a prática do ato sexual, não é valido,
diferentemente do que ocorria antes da nova legislação, onde se exigia a elementar
embora se presumisse a sua existência (art.224, “a”, do CP).

Embora o STF tenha se posicionado a respeito da presunção absoluta do antigo art. 224
do CP, inúmeros julgados e inclusive a doutrina sustentavam a relatividade desta
presunção, causando uma enorme discussão acerca do tema, fato este que foi
solucionado com o novo tipo penal.

No entanto afirma NUCCI:

“Entretanto, não se vai apagar a própria etimologia do vocábulo, estupro, que significa
coito forçado, violação sexual com emprego de violência física ou moral. Ademais, a
rubrica do tipo penal traz o termo estupro de vulnerável, representando uma violação
forçada no campo sexual.”

Apesar da supressão da elementar da violência ou grave ameaça do tipo penal em


comento, ter solucionado a questão acerca da relatividade da presunção da violência,
várias foram às críticas a essa alteração legislativa, que tirou a possibilidade do
magistrado afastar a violência nos casos em que a vítima demonstrar pleno
esclarecimento sobre a sexualidade e suas conseqüências.

Sendo importante ressaltar o entendimento de DELGADO, o qual traz:

“De fato, o nosso entendimento é de que o legislador deveria ter seguido outro caminho,
qual seja, ou deixando claro que a presunção de violência seria relativa, ou se preferisse
torná-la absoluta, deveria reduzir essa idade para menor de doze anos, de modo que, o
ato libidinoso com criança (de acordo com a definição do ECA), seria crime. No
entanto, com adolescente, só constituiria fato típico se houvesse o constrangimento
ilegal mediante violência ou grave ameaça, ou na hipótese de vulnerabilidade por tratar-
se de pessoa explorada sexualmente” (art. 218, B, §2º, I, do CP).

Para Zaffaroni, o juiz poderá deixar de aplicar o art.217-A com base no fundamento
constitucional no caso concreto, como a violação ao principio da proporcionalidade, ou
seja, fundamentando no principio da proporcionalidade mínima da pena com a
magnitude da lesão.

O novo art.217-A, abrangeu tanto a conjunção carnal, quanto o ato libidinoso, nos
mesmo moldes do crime de estupro (art.213), elevando a pena para reclusão, de oito a
quinze anos, resolvendo mais um problema, consistente na incidência do aumento
determinado pelo art.9 da lei dos crimes hediondos, o qual gerava a discussão do bis in
idem.
Esse crime pode ser cometido por qualquer pessoa, sendo necessário apenas que o
sujeito passivo seja uma pessoa com vulnerabilidade, ou seja, menor de 14 anos ou
enfermo ou deficiente mental, sem discernimento pára a prática do ato sexual.

O elemento subjetivo é o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de


praticar a conjunção carnal ou outro ato libidinoso com o vulnerável, sendo necessário
também o elemento subjetivo específico, o qual consiste na busca da satisfação da
lascívia.

 O objeto material desse delito é sempre o vulnerável, enquanto que a o objeto jurídico é
a liberdade sexual da vítima. A tentativa é perfeitamente possível, embora seja de difícil
comprovação.

 Sendo importante ressaltar que com a revogação do art.223, do CP, foram inseridas
também no art.217-A as figuras qualificadas, as quais tem previsão nos parágrafos 3 e 4
do mesmo diploma legal, possuindo penas mais severas que o estupro comum.

3.1.9 Ação penal e segredo de justiça

A Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, trouxe uma nova redação para o art.225 do
código, a qual estabelece que a ação penal para os crimes definidos nos Capítulos I (Dos
crimes contra a liberdade sexual) e II (Dos crimes sexuais contra vulnerável), do Título
VI (Dos crimes contra a dignidade sexual) do Código Penal, será de iniciativa pública
condicionada à representação. No entanto, o parágrafo único do referido artigo dispõe
que a ação será publica incondicionada nos casos em que a vitima for menor de 18 anos
ou vulnerável.

Esse artigo sofreu uma importante alteração, haja vista que, qualquer que seja o crime
contra a dignidade sexual a ação será publica, quer de forma condicionada, quer
incondicionada à representação, em alguns casos, diferentemente do que ocorria no caso
do estupro anterior a nova lei, o qual se procedia mediante ação penal privada
propriamente dita.
De fato, já estava ultrapassada a ideía de se poder preservar a imagem da vítima dos
crimes sexuais, deixando ao seu livre arbítrio processar ou não o autor do delito, haja
vista que a gravidade desses delitos, impõe uma resposta severa, sendo de interesse
público a apuração dos fatos, buscando aplicação do jus puniendi estatal.

A súmula 608 do Supremo Tribunal Federal, diz que: “No crime de estupro, praticado
mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada”.

Dessa forma, toda vez que o delito de estupro for cometido com o emprego de violência
real, a ação penal será pública incondicionada, contrariando parte do dispositivo contido
no art.225 do Código Penal, exigindo-se a representação do ofendido apenas nas
hipóteses em que o crime for cometido com emprego de grave ameaça.

O art. 234-B do mesmo diploma legal, estabelece que os processos referentes a crimes
previstos pelo Título VI, os crimes contra a dignidade sexual, correrão em segredo de
justiça.

3.1.10 Pontos relevantes

3.1.10.1 A perspectiva da aplicação do crime continuado, do concurso material, do


concurso formal ou do crime único

Os atos sexuais violentos cometidos contra a mesma pessoa no mesmo contexto


caracterizam crime único, haja vista que nesse caso, só um bem jurídico é lesado, a
liberdade sexual da vítima. Surgindo o delito continuado nos casos em que se detecta a
sucessividade das ações no tempo, podendo-se, também, detectar mais de uma lesão ao
bem jurídico tutelado.

Sendo importante destacar, que o crime continuado, é um instituto criado em favor do


réu, o qual busca uma justa aplicação da pena, quando for observada a prática de várias
ações, separada no tempo, mas que possuem proximidade suficiente para ser
continuação uma das outras. Desse modo, poderá ser aplicado o crime continuado,
quando o agente praticar novamente o crime de estupro, em outro cenário, ainda que
com a mesma vítima.
Já o crime único, demanda apenas um constrangimento, cujo seu objetivo pode ser tanto
a prática da conjunção carnal quanto outro ato libidinoso ou ambos.

O concurso de crimes sofre uma alteração significativa, não existindo mais a


possibilidade de existir concurso material entre o crime de estupro e atentado violento
ao pudor, pois com a nova redação dada ao art.213 do Código Penal, se o agente
constranger a vitima á pratica da conjunção carnal e da cópula anal, comete um único
delito de estupro, já que o referido delito passou a ser um crime único de condutas
alternativas.

No entanto, o concurso material poderá ser aplicado nos casos em que o delito de
estupro tenha sido praticado reiteradamente e não estiverem presentes os requisitos do
art. 71 do código penal, só fazendo sentido o concurso formal quando o agente
constranger duas pessoas, ao mesmo tempo, para lhe satisfazer o libido.

3.1.10.2 Aplicação retroativa da nova figura do estupro

Com o advento da lei 12.015 de 2009 e a nova redação dada ao crime de estupro,
surgiram inúmeras discussões nas cortes brasileiras a cerca da análise do disposto no
art.213 do código Penal, haja vista, que o legislador ao unir numa só figura típica
(estupro e atentado violento ao pudor), revogou o art.214 do mesmo diploma legal,
acabando com o concurso material entre os referidos delitos.

Dessa forma, com a nova legislação, o núcleo do tipo penal passou a ser constranger
alguém, voltando-se a apenas um objeto, fornecendo várias possibilidades de
consumação, já que o agente pode mediante violência ou grave ameaça praticar a
conjunção carnal, outro ato libidinoso, ou permitir que seja praticado outro ato
libidinoso, não havendo nenhuma possibilidade de se romper a unicidade do tipo,
pretendendo-se visualizar dois delitos, quando ocorrer no mesmo cenário contra a
mesma vítima.

Embora O legislador ao criar a lei 12.015/2009 tenha buscado punir com mais rigor os
crimes praticados contra a liberdade sexual, aplicando penalidades mais severas, ao
unificar a redação do art.213 e 214 do Código penal, criando o atual crime de estupro, a
nova redação acabou sendo mais favorável para o réu. Devendo retroagir atingindo
todos os agentes que foram condenados em concurso material de infrações antes de sua
vigência.

3.1.10.3 Gravidez resultante de ato libidinoso

Com a nova redação dada ao crime de estupro, a gravidez resultante de ato libidinoso
diverso da conjunção carnal, enquadrou-se na causa especial de exclusão do delito de
aborto previsto no art. 128, inciso II, do Código Penal, não se falando mais em analogia,
pois o crime de atentado violento ao pudor e o crime de estupro passaram a integrar um
único tipo penal, o atual crime de estupro. Desse modo, se a gravidez for ocasionada por
um ato libidinoso , esta foi resultado de um estupro já que não existe mais distinção
entre esses delitos.

4 Aspectos positivos e negativos da lei 12.015/2009


4.1 Aspectos positivos

Com o advento da lei 12.015 de 2009, não resta duvidas que o marido da vítima pode
ser agente ativo do crime de estupro, haja vista que não se admite mais a tese de que a
conduta violenta praticada por este, constitui exercício regular do direito. Sendo
importante destacar, que a constituição federal assegura igualdade de direitos e
obrigações entre homens e mulheres, reforçando o entendimento do legislador, o qual
equiparou homens e mulheres no pólo ativo do referido delito, sustentando a tese de que
tanto a esposa como o marido da vitima pode ser sujeito ativo do referido delito.

Essa lei, ao unificar os crimes de estupro e atentado violento ao pudor em uma única
redação, a atual definição do crime de estupro, fez desaparecer qualquer referência a
honestidade ou recato sexual da vitima, pois o foco da referida lei não é mais a forma
como as pessoas agem perante a sociedade, e sim a proteção da liberdade sexual do
individuo.

A nova lei, alterou também o art. 1, V, da lei 8.072 de 90, ao incluir em seu rol o
estupro na forma simples, acabando com a antiga discussão que existia sobre a
hediondez desse delito, passando desde então, todas as suas modalidades a ser crime
hediondo.

Revogou o art.223 do CP, que apresentava uma redação defeituosa, acabando com uma
série de debates doutrinários e jurisprudenciais acerca do tema, já que o caput do
referido artigo trazia uma nítida diferença ao tratar do resultado qualificador decorrente
de lesões corporais, o qual mencionava: ”se da violência resulta...” e o seu parágrafo
único, que tratava do resultado qualificador em caso de morte da vitima trazia: ”se do
fato resultar...”.

Resolvendo a polêmica na medida em que substituiu os termos violência e fato pela


terminologia conduta, bastando a pratica desta (constrangimento exercido com violência
ou grave ameaça) resultar em lesão corporal de natureza grave ou morte, para qualificar
o resultado.

Sendo importante ressaltar, que a nova lei, revogou também o art. 224 do código penal,
que tratava da presunção de violência e trouxe um artigo especifico destinado a proteção
do vulnerável (art.217-A), mostrando dessa forma, a preocupação do legislador com as
condutas voltadas contra a criança ou adolescente e pessoas com deficiência. Acabando
com a antiga discussão acerca da presunção de violência, quando a vitima era menor de
14 anos.

Outro ponto de grande importância é o fato de a tutela penal vir a ser aplicada com
maior zelo, em relação às pessoas com vulnerabilidade, tendo em vista que estas são
incapazes de externar seu consentimento de forma plena, podendo relacionar-se
sexualmente sem qualquer coação física, diante do seu estado natural de impossibilidade
de compreensão da seriedade desta pratica, motivo pelo qual não se aplica a tipificação
no modelo comum de estupro.

Sendo importante ressaltar, que o art.217-A, abrangeu tanto a conjunção carnal quanto o
ato libidinoso, nos mesmos moldes do crime de estupro, recebendo pena autônoma e
superior a deste. Resolvendo o problema da incidência do aumento de pena determinado
pelo art.9 da lei dos crimes hediondos, quando era aplicado o art.224 do Código Penal,
superando dessa forma, as discussões que existiam acerca do bis in idem.

Destacando-se que com a nova legislação e atual definição do crime de estupro, a


gravidez resultante de ato libidinoso diverso da conjunção carnal, passou a ser causa
especial de exclusão de ilicitude do crime de aborto quando esta resultar de estupro, fato
este que não podia ocorrer antes do advento da lei 12.015 de 2009, resolvendo dessa
forma, mais um tema controvertido da legislação penal brasileira.

4.2 Negativos

Dentre os aspectos negativos, dessa lei, pode-se destacar o fato de que as pessoas que
cometeram crimes penais mais graves podem ter sua pena diminuída enquanto aqueles
que cometeram crimes de menor potencial ofensivo tenham uma punição mais severa,
havendo uma desproporção entre o delito praticado e sua respectiva sanção,
contrariando o principio da proporcionalidade aplicado no direito penal.

A lei 12.015 de 2009, além de revogar o crime de atentado violento ao pudor, ampliou a
antiga redação do delito de estupro, de modo que as figuras típicas do estupro e do
atentado violento ao pudor foram fundidas em um único tipo penal, passando a integrar
a nova redação do atual crime de estupro. Com isso, os crimes de estupro e atentado
violento ao pudor, que eram crimes autônomos com penas somadas, devem resultar na
aplicação de uma única pena não havendo mais a possibilidade de concurso material
entre estes.

Colaborando com esse entendimento, afirma Nucci: “O concurso de crimes altera-se


substancialmente. Não há mais a possibilidade de existir concurso material entre estupro
e atentado violento ao pudor. Alias, conforme o caso nem mesmo crime continuado”.

Também, Luiza Nagib Eluf:

“Realmente corremos o risco de as penas serem menores. Antigamente aplicávamos


concurso material de delitos. Quem praticou [de forma forçada] sexo vaginal [que era
estupro] e depois oral [que era atentado violento ao pudor] podia receber seis anos por
causa de cada delito. Sempre pedi condenação pelos dois delitos com penas somadas.
Agora eles passaram a ser a mesma coisa.”

A unificação dos tipos penais na figura típica do art.213, não pós fim ao problema da
apuração e punição do referido delito, a formação de provas robustas necessarias para
gerar o convencimento do juiz, haja vista que este crime na maioria das vezes é
praticado sem a presença de testemunhas, dificultando a sua comprovação.

Desse modo afirma Nucci:

“Torna-se, então, um dilema a ser enfrentado: a palavra do acusado(negando) contra a


palavra da vitima(afirmando). O juiz haverá de analisar o passado comportamental de
ambos, buscando conferir maior credibilidade a quem lhe passar confiança e retidão”.
Sendo pertinente destacar, o conceito de novatio legis in mellius, que nada mais é, do
que uma terminologia empregada quando há a publicação de uma nova lei que revoga
outra anteriormente em vigência, beneficiando de alguma forma o condenado.

Portanto, com a revogação do crime de estupro e a notio legis in millius, o legislador


concedeu a vários apenados o direito a revisão criminal bem como a diminuição de suas
sentenças, haja vista, que quando o agente do crime de estupro o praticava em concurso
ou em continuidade delitiva com o atentado violento ao pudor, tinha sua pena
aumentada substancialmente, o que não é mais possível com o advento da nova lei.

Outro ponto relevante, é que a nova lei, além transformar os antigos crimes de estupro e
atentado violento ao pudor em um único delito, não corrigiu a amplitude do atentado
violento ao pudor, o qual pode ser qualquer ato atrelado à libido, aplicando a mesma
pena para ambos os crimes, causando uma verdadeira desproporção entre a conduta do
agente e a sanção imposta, haja vista que o ato libidinoso não é tão grave ao ponto de
aplicar a mesma pena imposta ao agente que praticou a conjunção carnal.

Desse modo afirma Luiza Nagib Eluf:

“[A lei] tinha que ter detalhado melhor o que são esses atos libidinosos. Quando fala em
outro ato libidinoso pode ser qualquer ato. O direito penal tem que ser muito preciso e
claro. Relação oral ou anal forçada é sim comparável ao estupro, mas outros atos já não
são.”

A nova legislação revogou o art. 224 do Código Penal, que tratava da presunção de
violência e trouxe em seu art. 217-A, o estupro de vulnerável, o qual tem como objetivo
punir toda relação sexual ou qualquer ato libidinoso praticado contra o menor de 14
anos ou qualquer pessoa que por enfermidade ou doença mental não possua
discernimento necessário para a prática do ato.

No entanto, a proteção conferida ao menor de 14 anos continua a despertar debates, haja


vista que muitas meninas de 13 anos matem relações sexuais regulares e consentidas,
mostrando que possuem discernimento necessário para a pratica do ato, ficando o juiz
nesses casos, vinculado a idade de 14 anos devendo aplicar o estupro de vulnerável,
sendo mais razoável aplicar esse dispositivo quando a vitima tiver até 12 anos, período
que define a infância para o ECA.

Sendo importante destacar, que a nova lei, trouxe que toda relação sexual praticada com
pessoa deficiência são consideradas violência, atribuindo-lhes a condição de vulnerável,
declarando-as impedidas para a pratica do ato por não possuírem discernimento
necessário, partindo de um pressuposto errôneo, haja vista que nos dias atuais muitos
deficientes possuem uma vida normal, possuindo uma certa limitação, mas não ao ponto
de impedir que se relacione com outras pessoas e constituam uma família.

Considerações Finais

A lei 12.015 de 7 de agosto de 2009, alterou substancialmente alguns artigos do código


penal brasileiro, especificamente no capitulo dos chamados crimes contra os costumes,
destacando-se o crime de estupro, o qual teve uma alteração significativa no seu
dispositivo, com o objetivo de tornar as sanções penais mais severas, punindo com um
maior rigor os agentes de crimes sexuais, mostrado dessa forma a preocupação do
legislador com as condutas que restringem a liberdade sexual do individuo.

Sendo importante destacar, que essa lei, alterou o titulo dos crimes contra os costumes,
passando a prever os chamados crimes contra a dignidade sexual, haja vista, que a
antiga redação que previa os crimes contra os costumes, não traziam mais a realidade
social dos bens juridicamente protegidos pelos tipos penais.

Dispunha o Código Penal Brasileiro:

 “Estupro

Art.213. Constranger mulher a conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça.

Atentado Violênto ao pudor

Art.214. Constranger, alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou


permitir que com ele se pratiqueato libidinoso diverso da conjunção carnal.”

Com o advento da lei 12.015 de 2009, estupro passou a ser definido como:

“Estupro

Art.213 Constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção


carnal ou praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.

§1º Se da conduta resultar lesão corporal de natureza grave ou se a vitima é menor de


18 (dezoito) ou maior de 14(catorze) anos

§2º Se da conduta resultar morte: Pena –reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos”.

Ao unificar as antigas redações dos crimes de estupro e atentado violento ao pudor em


um único tipo penal, incorporando-o no titulo Dos crimes contra a dignidade sexual,
qualquer referência a honestidade ou recato social da vitima desapareceu, pouco
importando como esta se comporta perante a sociedade, ficando em foco apenas a
proteção da liberdade sexual do ofendido.

Com a entrada dessa lei no ordenamento brasileiro, o antigo crime de estupro ganha
nova roupagem, anteriormente, conhecido como um crime praticado por homens contra
mulheres, já que trazia como elementar a conjunção carnal, ato esse que só era possível
coma cópula vaginal, apenas a mulher poderia figurar no pólo passivo desse delito, com
a nova redação dada por esta lei, qualquer pessoa poderá ser vitima desse crime.

A lei 12.015 de 2009 além de revogar o crime de atentado violento ao pudor ampliou a
antiga redação do delito de estupro, de modo que as figuras típicas do estupro e do
atentado violento ao pudor foram fundidas em um único tipo penal, passando a integrar
a nova redação do atual crime de estupro. Com isso, o crime de estupro e de atentado
violento ao pudor que eram dois crimes autônomos com penas somadas deve resultar na
aplicação de uma única pena.
A nova lei trouxe também, para o nosso ordenamento, o delito de estupro de vulnerável
(art.217-A), encerrando desse modo as antigas discussões que existiam em nossos
tribunais, no que diz respeito à presunção de violência, quando o delito era praticado
contra o menor de 14 anos.

Sendo importante destacar, que essa lei além alterar substancialmente o crime de
estupro, trata-se de uma Novatio legis in mellius, ou seja, uma lei nova que revoga outra
anteriormente em vigência, beneficiando de alguma forma todos aqueles que cometeram
o crime de estupro e atentado violento ao pudor em concurso material, concedendo-os o
direito a revisão criminal bem como a diminuição de suas sentenças.

Neste sentido, afirma Luiza Nagib Eluf: “A lei é taxativa, mas a interpretação terá que
se razoável, seguir o bom-senso na sua aplicação”.

Por fim, a nova legislação, fez uma importante alteração no artigo, o qual versava sobre
a ação penal aplicada aos crimes contra a dignidade sexual, estabelecendo a partir de
então, a aplicação da ação penal pública a qualquer que seja o crime, quer de forma
condicionada, quer incondicionada à representação, em alguns casos, diferentemente do
que ocorria no caso do estupro anterior a nova lei, o qual se procedia mediante ação
penal privada propriamente dita, preservando a intimidade da vitima perante a
sociedade.

Referências bibliográficas

Autor desconhecido? Violência sexual. Disponível em: WWW.camanarede.terra.com.br.


Acesso em: 20 de setembro de 2010.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal-Parte Especial, 3. ed, São Paulo:
Saraiva, 2009, vol.4.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal-Parte Especial. 5 ed, São Paulo: Saraiva, 2007, vol.4.

CHAGAS, José Ricardo. A nova lei de estupro. O homem e a mulher como sujeitos ativo e
passivo e o abrandamento punitivo. Disponível em: WWW.jusvigilanlatibus.com.br. Acesso
em 29 de abril de 2010.

DELGADO, Yordan Moreira. Comentários à Lei nº 12.015/09. Disponível em:


WWW.jusnavigandi.com.br. Acesso em 19 de setembro de 20010.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar um projeto de pesquisa. 4. Ed, São Paulo: Atlas, 2004.

GRECO, Alessandra Orcesi Pedro; RASSI, João Dantas. Crimes contra a Dignidade Sexual. São
Paulo: Atlas, 2010

______, Rogério, Dos crimes contra a dignidade sexual. Disponível em:


WWW.editoraimpetus.com.br. Acesso em 29 de abril de 2010.

MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: A prática de resumos, resenhas e fichamentos. 9.


Ed, São Paulo. Atlas, 2008.
MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato. Manual de Direito Penal - Parte Especial. 26 ed,
São Paulo: Atlas, 2009, Vol.2.

NUCCI, Guilherme. Crimes contra a Dignidade Sexual: Comentários a Lei 12.015, de 7 de


agosto de 2009. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

______, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal - Parte Geral e Parte Especial. 6 ed, São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

PAULO, Queiroz. Estupro e atentado violento ao pudor na lei n 12015/2009. Disponível em:
WWW.pauloqueiroz.net.com.br . Acesso em 29 de abril de 2010.

OLIVEIRA, Guizela de Jesus. Estupro Antes e Depois da lei 12015/2009. Disponível em:
WWW.jurisway.org.br. Acesso em : 20 de setembro de 2010.

SOALHEIRO, Marco Antônio. Lei de Estupro pode dar interpretações ambíguas. Disponível em
WWW.consultorjuridico.com.br. Acesso em 29 de abril de 2010.

VERAS, Herbenia Almeida. A nova lei de estupro. Disponível em: WWW.jurisway.com.br.


Acesso em 29 de abril de 2010.

VIEIRA SEGUNDO,Luiz Carlos Furquim. Comentários sobre o crime de estupro após o advento
da lei 12.015 /09. Disponível em: WWW.scribd.com. Acesso em: 19 de setembro de 2010.

WWW.stj.com.br

Anexos: Julgados sobre a lei 12.015/09

Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro

Ementa : Crimes de estupro em continuidade delitiva e de atentado violento ao pudor em


continuidade delitiva, tudo em concurso material - condenação - apelação - sentença
confirmada embargos de declaração com pedido modificativo - alegação de contradição entre
o acordão e a constituição federal - lei nova mais benéfica retroatividade - matéria de ordem
pública não ventilada na apelação - nova redação do artigo 213 do Código Penal - Lei
12.015/09 - alegação de negativa de vigência de lei federal que se acolhe tendo sido revogado
expressamente o artigo 214 do Código Penal não há falar em dois tipos penais distintos -
exclusão da condenação por crime de atentado violento ao pudor - continuidade delitiva entre
os diversos crimes de estupro que não fere qualquer dispositivo penal - embargos
parcialmente acolhidos. (TJRS – Des. Fátima Clemente - Apelação nº 3770/09).

Tribunal de Justiça de Goiás – 1ª Câmara

Apelação Criminal. Prática de conjunção carnal e outro ato libidinoso. Materialidade e autoria
delitiva. Conjunto de provas congruente. Manutenção da condenação. Palavra da vítima em
consonância com demais provas. Retroatividade da Lei mais benéfica. Aplicação das alterações
introduzidas pela nova lei nº 12.015/09. Condenação tipo único. aplicação da pena. 1 - Sendo o
conjunto probatório coerente e harmonioso a indicar condenação, não procede a pretensão
absolutória. 2 - A palavra da vítima, nos crimes sexuais, especialmente quando corroborada
por outros elementos de convicção, tem grande validade como prova, porque, na maior parte
dos casos, esses delitos, por sua própria natureza , não contam com testemunhas e sequer
deixam vestígios. 3 - Considerando as alterações introduzidas pela Lei n° 12.015/09 aos crimes
sexuais, e tendo em conta que a conduta de pratica de ato libidinosos e conjunção carnal se
subsumiram no estupro, constituindo crime de conteúdo múltiplo, bem assim a aplicação do
principio da retroatividade da lei para beneficiar o reu, deve ser alterada, de oficio, a sentença
para aplicar condenação em tipo único. 4 - Alterando-se a condenação, via de conseqüência,
altera-se também a aplicação da sanção penal, a qual fica fixada, definitivamente, in caus, em
9 anos de reclusão, a ser cumprida inicialmente em regime fechado. apelação conhecida e
provida. sentença reformada de oficio para alterar a condenação em aplicação da lei
12.015/09 (novatio legis in mellius), via de conseqüência, modificando a pena. (TJGO – Des.
Rozana Fernandes Camapum – Apelação Criminal 32559-1/213).

Tribunal de Justiça de Goiás – 2ª Câmara

Apelação Criminal. Delitos de estupro e atentado violento ao pudor. Absolvição.


Impossibilidade. Concurso material entre os artigos 213 e 214, do CP. Afastamento. Lei
12.015/09. 'novatio legis in mellius'. INão há cogitar-se de absolvição quando comprovadas,
pela prova jurisdicionalizada, em especial pela palavra da vitima, corroborada pelas provas
pericial e testemunhal produzidas, a autoria e a materialidade dos crimes imputados ao reu. II-
Com o advento da Lei 12.015/09, houve a unificação dos crimes de atentado violento ao pudor
e o de estupro, cujo conceito foi ampliado para abarcar os atos libidinosos diversos da
conjunção carnal, sendo de rigor, nas circunstancias, afastar a regra do concurso material de
crimes, ante a retroatividade da lei penal mais benéfica. Recurso conhecido e improvido.
Sentença reformada, parcialmente, de oficio. (TJGO – Des. Nelma Branco Ferreira Perilo –
Apelação Criminal 37072-8/213).

Tribunal de Justiça de Santa Catarina

Apelação criminal - Crime contra a dignidade sexual - Estupro contra sobrinha (CP, art. 213 c/c
art. 226, II) - Materialidade e autoria comprovadas - Ausência do exame atestando a presença
de esperma - Crime consumado - Desistência voluntária ou arrependimento eficaz não
configurados - Atentado violento ao pudor (CP art. 214) - Superveniência da lei n. 12.015/2009
- Migração da conduta típica ("outro ato libidinoso") para a previsão legal do delito de estupro
(CP, art. 213) - Fenômeno da "continuidade normativo-típica" - Proibição da conduta subsistida
– Nova redação que configura tipo penal misto alternativo - Inviabilidade de condenação em
concurso de crimes - Retroatividade da lei penal benéfica - novatio legis in mellius (CF, art. 5º,
inc. XL e CP, art. 2º, par. un.) - Abolitio criminis peculiar - reconhecimento, ex officio, da
extinção da punibilidade quanto ao crime de atentado violento ao pudor (CP, art. 107, III; e,
CPP, art. 61) (...)assim, a Lei n. 12.015/2009, ao conferir nova redação ao artigo 213 do Código
Penal, instituiu a tipicidade mista alternativa, cuja aplicação repele a possibilidade de concurso
de crimes entre o estupro e o atentado violento ao pudor em suas redações pretéritas, de
ordem a inviabilizar a dupla punição, razão pela qual, como reflexo, deve ser decretada, ex
officio, a extinção da punibilidade do agente condenado pelo delito de atentado violento ao
pudor, haja vista a peculiar hipótese de abolitio criminis (CP, art. 107, III; e, CPP, art. 61). (TJSC
– Des. Salete Silva Sommariva – Apelação Criminal 2008.080994-5).

Tribunal de Justiça de Mato Grosso

HABEAS CORPUS - PRISÃO PREVENTIVA – PACIENTE DENUNCIADO PELA SUPOSTA PRÁTICA DO


CRIME DE ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR CONTRA MENORES – FEITO SUSPENSO - ART. 366
DO CPP - RÉU FORAGIDO OU QUE SE ESCUSA EM ATENDER AO CHAMAMENTO JUDICIAL –
ADVENTO DA LEI Nº 12.015/2009 - PRETENSA ABOLITIO CRIMINIS DA CONDUTA OUTRORA
TIPIFICADA NO CAPUT DO ART. 214 DO CÓDIGO PENAL - INSUBSISTÊNCIA - FALTA DE
FUNDAMENTAÇÃO A ESPECAR O DECRETO PREVENTIVO E A DECISÃO QUE DECRETOU A
REVELIA DO PACIENTE - IMPROCEDÊNCIA - DECISÕES SATISFATORIAMENTE FUNDAMENTADAS
- AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DA PRISÃO PREVENTIVA - CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS -
IRRELEVÂNCIA - AFIGURADA NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA CAUTELAR PARA
ASSEGURAÇÃO DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL - CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE -
ORDEM DENEGADA. 1. A decretação da revelia do réu, com a suspensão do processo e do
curso do prazo prescricional, e ainda com a determinação para produção antecipada de provas
com base no art. 366 do CPP, é faculdade legal do Julgador, e medida que pode ser
considerada urgente diante das peculiaridades do caso concreto, mas que deve ser
concretamente fundamentada. Em assim sendo, afasta qualquer alegação de nulidade e
autoriza a decretação da custódia cautelar nesse ínterim em que suspenso o processo. 2. A
conduta outrora tipificada no caput do art. 214 do CP não foi revogada pela Lei nº
12.015/2009, que apenas a incluiu no caput do art. 213 do CP. (...) 6. Constrangimento ilegal
não evidenciado. Ordem denegada. (TJMT – Des. Carlos Roberto C. Pinheiro – Habeas Corpus
99752/2009).

Superior Tribunal de Justiça

PENAL. RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO. AUMENTO PREVISTO NO ART. 9º DA LEI Nº 8.072/90.


VIOLÊNCIA REAL E GRAVE AMEAÇA. INCIDÊNCIA. SUPERVENIÊNCIA DA LEI Nº 12.015/2009. I -
Esta Corte firmou orientação de que a majorante inserta no art. 9º da Lei nº 8.072/90, nos
casos de presunção de violência, consistiria em afronta ao princípio ne bis in idem. Entretanto,
tratando-se de hipótese de violência real ou grave ameaça perpetrada contra criança, seria
aplicável a referida causa de aumento. (Precedentes). II - Com a superveniência da Lei nº
12.015/2009 restou revogada a majorante prevista no art. 9º da Lei dos Crimes Hediondos,
não sendo mais admissível a sua aplicação para fatos posteriores à sua edição. Não obstante,
remanesce a maior reprovabilidade da conduta, pois a matéria passou a ser regulada no art.
217-A do CP, que trata do estupro de vulnerável, no qual a reprimenda prevista revela-se mais
rigorosa do que a do crime de estupro (art. 213 do CP). III - Tratando-se de fato anterior,
cometido contra menor de 14 anos e com emprego de violência ou grave ameaça, deve
retroagir o novo comando normativo (art. 217-A) por se mostrar mais benéfico ao acusado, ex
vi do art. 2º, parágrafo único, do CP. Recurso parcialmente provido. (STJ – Min. Felix Fisher –
Recurso Especial 1.102.005).

Tribunal Justiça do Rio Grande Sul


REVISÃO CRIMINAL. PROVA NOVA. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA. NOVA DEFINIÇÃO DADA PELA LEI N. 12.015/2009. LEI MAIS GRAVOSA. 1.
Justificação judicial. Retratação da vítima. Prova nova que não afasta o juízo de condenação.
Autoria e materialidade demonstradas pelos demais depoimentos colhidos durante a
instrução. Circunstância fática que permanece inalterada. 2. Nova definição legal dada aos
crimes sexuais pela Lei n. 12.015/2009. Delito de estupro que passou a abranger a figura típica
do antigo art. 214 do CP (atentado violento ao pudor). Conduta que permanece criminalizada.
3. Presunção de inocência. Estupro de vulnerável. Inaplicabilidade do novo tipo penal previsto
no art. 217-A do Código Penal. Lei penal posterior mais gravosa. Revisão criminal julgada
improcedente. Unânime. (Revisão Criminal Nº 70030727788, Quarto Grupo de

Câmaras Criminais, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Danúbio Edon Franco, Julgado em
28/08/2009).

Tribunal de Justiça de Sergipe

APELAÇÃO CRIMINAL - ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR E ESTUPRO - LEI Nº 12.015/2009 -


REVOGAÇÃO DO ART. 214 DO C.P - NOVA CAPITULAÇÃO (ART 217-A) NOVA REDAÇÃO NÃO
MODIFICA O JULGADO ANTERIOR - DELITO CONSUMADO - VÍTIMA MENOR DE 14 ANOS E
ENTEADA DO RÉU - DEPOIMENTO DA VÍTIMA COERENTE E SINTONIZADO COM TEMPO E
LUGAR -LAUDO PERICIAL QUE REVELA A MATERIALIDADE DELITIVA - SENTENÇA
CONDENATÓRIA BEM CALIBRADA - PELA ADMISSÃO DO APELO, PARA NEGAR-LHE
PROVIMENTO. 1 - A palavra da vítima, nesta espécie de crime, geralmente praticado às
escondidas, merece relevância ímpar para a aferição de um juízo de condenação,
especialmente quando vem corroborada pelo restante das provas. 2- Presença de prova
convincente capaz de ensejar a condenação do acusado. 3 - Estupro de vulnerável disposto no
artigo 217-A da novel lei, apenou mais severamente o ato libidinoso diverso da conjunção
carnal, logo, se mais grave a lei, terá aplicação apenas a fatos posteriores à sua entrada em
vigor. No presente caso deve ser mantida incólume a condenação uma vez que a sentença foi
proferida anteriormente à lei. 4- Apelo Improvido. Decisão unânime.(TJSE – Des. Netônio
Bezerra Machado – Apelação Criminal 0461/2009).

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul

APELAÇÃO CRIME. CRIMES CONTRA OS COSTUMES. ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO


PUDOR. PROVA. CONDENAÇÃO MANTIDA. A materialidade e a autoria restaram
suficientemente comprovadas pela prova produzida nos autos, notadamente considerando o
depoimento da vítima, amparados pelo auto de exame de corpo de delito, que confirma o
constrangimento submetido pelo réu, o qual admitiu parcialmente o delito. ATENTADO
VIOLENTO AO PUDOR E ESTUPRO. CONTINUIDADE DELITIVA. POSSIBILIDADE, ANTE A NOVA
REDAÇÃO DO ARTIGO 213 DO CÓDIGO PENAL. TRATANDO-SE DE CRIMES DO MESMO GÊNERO
E DA MESMA ESPÉCIE, CONFORME A RECENTE ALTERAÇÃO ADVINDA COM A LEI 12.015/09,
RESTA ADMITIDA CONTINUIDADE DELITIVA, COM O FRACIONAMENTO DE 1/3 APLICADO À
PENA MAIOR, POR SEREM CINCO OS FATOS COMETIDOS. APELO DA DEFESA PROVIDO, PARA
ADMITIR A ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA NO SEGUNDO FATO E PARA ADMITIR A
CONTINUIDADE DELITIVA ENTRE OS CINCO FATOS DESCRITOS NA DENÚNCIA. (Apelação Crime
Nº 70030230593, Oitava Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel de Borba
Lucas, Julgado em 19/08/2009).

Tribunal de Justiça de Goiás

Apelação Criminal. Nulidade processual. Suspeição do juízo. Parcialidade. Não caracterização.


Crimes sexuais praticados pelo pai contra as filhas menores de 14 anos. Absolvição.
Impossibilidade. Pena. 'novatio legis in mellius'. Retroatividade. Aplicação de oficio. I - A
suspeição só pode ser deduzida por meio de exceção, não como preliminar da apelação, não
fosse improcedente o motivo que a consubstancia, proferimento de sentença contraria aos
interesses do acusado, que não esta contemplado na taxativa enumeração do art. 254 do CPP.
II - Nos crimes sexuais, ordinariamente praticados a sorrelfa, ganham relevo as palavras das
vitimas que, arrimadas no acervo probatório, atestam os abusos sexuais cometidos. III - Nao há
falarse em absolvição por insuficiência de provas se a negativa de autoria e versão isolada do
caderno de provas. IV - Dada a recente unificação das condutas de estupro e atentado violento
ao pudor sob o mesmo tipo penal, fica admitida a continuidade delitiva quando caracterizados
crime de estupro e atentado violento ao pudor cometidos com similitude de tempo, lugar e
'modus operandi' mormente quando a providência se mostra mais benéfica ao réu. V - Apelo
improvido. Pena retificada de oficio. (TJGO – Des. José Lenar de Melo Bandeira – Apelação
Criminal 36831-8/213)

Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR, COMETIDO MEDIANTE VIOLÊNCIA


PRESUMIDA. CONDUTA ANTERIOR À LEI Nº 12.015/09. AFASTAMENTO DA HEDIONDEZ.
AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA. CONSTITUCIONALIDADE. ROUBO CIRCUNSTANCIADO.
EMPREGO DE ARMA. NECESSIDADE DE APREENSÃO. AFASTAMENTO DA CAUSA DE AUMENTO.
1. A partir do julgamento do Habeas Corpus nº 88.664/GO, houve uma mudança no
entendimento da Sexta Turma, para que não mais se considerassem hediondos os crimes de
estupro ou atentado violento ao pudor praticados antes da Lei nº 12.015/09 quando
cometidos mediante violência presumida. 2. "A não aplicação da agravante da reincidência
evidencia a violação ao artigo 61, I, do Código Penal, pois inexistente a inconstitucionalidade
do dispositivo que a prevê. O simples reconhecimento da reincidência não importa em bis in
idem, porquanto tão-só visa reconhecer maior censurabilidade à conduta de quem reitera a
prática infracional, após o trânsito em julgado da sentença em que anteriormente foi
condenado." (AgRg no Resp 916657/RS, Relatora Desembargadora convocada Jane Silva, DJ de
28.4.08). 3. Prevalece o entendimento na Sexta Turma desta Corte de que, para incidir a
majorante prevista no art. 157, § 2º, inciso I, do Código Penal, é indispensável a apreensão da
arma, com a posterior perícia a fim de se constatar sua potencialidade lesiva. 4. Ordem
parcialmente concedida para, de um lado, afastar a hediondez do crime de atentado violento
ao pudor; de outro, afastando da condenação referente ao roubo o acre cimo decorrente do
emprego de arma, reduzir as penas recaídas sobre o paciente de 14 (quatorze) anos de
reclusão, e 48 (quarenta e oito) dias-multa para 12 (doze) anos e 6 (seis) meses de reclusão,
mais 18 (dezoito) diasmulta, mantido, no mais, o acórdão de apelação. (STJ – Min. Og
Fernandes – Habeas Corpus 128.648)..

Superior Tribunal de Justiça                    


HABEAS CORPUS. ESTUPRO. VIOLÊNCIA PRESUMIDA. VÍTIMA MENOR DE 14 ANOS.
CONSENTIMENTO. IRRELEVÂNCIA. REVOGAÇÃO PELA LEI N.º 12.015/09. NOVATIO LEGIS IN
PEJUS. ABOLITIO CRIMINIS INEXISTENTE.1. A presunção de violência, anteriormente prevista
no art. 224, alínea a, do Código Penal, tem caráter absoluto, afigurando-se como instrumento
legal de proteção à liberdade sexual da menor de quatorze anos, em face de sua incapacidade
volitiva, sendo irrelevante o seu consentimento para a formação do tipo penal do estupro. 2.
Embora a Lei n.º 12.015/09 tenha retirado do texto penal incriminador a figura da violência
presumida, não se verifica, na espécie, hipótese de abolitio criminis, já que o novo texto legal,
que substituiu o art. 224, alínea a, do Código Penal, impõe uma obrigação geral de abstenção
de conjunção carnal e de ato libidinoso com menores de 14 anos – art. 217-A, do mesmo
Diploma Repressivo. 3. Ordem denegada. (STJ – Min. Felix Fisher – Resp 1.102.005).

Tribunal de Justiça do Rio Grande Sul

REVISÃO CRIMINAL. ESTUPRO. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. RETRATAÇÃO. JUSTIFICAÇÃO


JUDICIAL. PROVA INSUFICIENTE. RETROATIVIDADE. LEX MITIOR. INVIABILIDADE. 1. A simples
retratação da ofendida, em audiência de justificação judicial, não é suficiente para a
desconstituição da condenação criminal de seu padrasto, por atentado violento ao pudor.
Necessário, outrossim, avaliar as razões dessa nova postura, cotejando-a com as provas
carreadas aos autos e às máximas da experiência. 2. Preliminar ministerial rejeitada. A revisão
criminal não é a via adequada para a aplicação de lei nova mais benéfica ao condenado.
Eventual apreciação acerca da Lei 12.015/2009, (lex mitior) incumbe ao juízo da execução
criminal, nos termos do artigo 66, inciso I, da Lei de Execuções Penais e da Súmula 611 do STF.
Rejeitaram a preliminar argüida pelo MP envolvendo tese de aplicação imediata da Lei
12.015/2009 e julgaram improcedente a revisão criminal. Unânime. (Revisão Criminal Nº
70031696107, Terceiro Grupo de Câmaras Criminais, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Mario
Rocha Lopes Filho, Julgado em 16/10/2009).

O Âmbito Jurídico não se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma


solidária, pelas opiniões, idéias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira
responsabilidade de seu(s) autor(es).

Sumário: 1. Introdução – 2. As repercussões práticas da lei 12.015/09 no Título VI do Código


Penal

1. INTRODUÇÃO

A Lei 12.015 de 07 de agosto de 2009 entrou em vigor três dias após ser sancionada, alterando
a redação do Título VI do Código Penal dedicado aos Crimes Contra os Costumes – atualmente,
desde então, Crimes Contra a Dignidade Sexual.

A mudança do título foi uma resposta às inúmeras reivindicações dos doutrinadores ao


sustentarem que os crimes elencados no Título VI não atentavam contra a moralidade pública
ou coletiva, mas sim contra a dignidade e a liberdade sexual das vítimas. A dignidade sexual
encerra o conceito de intimidade e revela-se em harmonia com o princípio da dignidade da
pessoa humana – fundamento basilar da Constituição de 1988 (Art. 1°, III).
As modificações realizadas com a redação da lei 12.015/09 põem fim às várias controvérsias
aludidas nas tipificações anteriores. Em contrapartida, como toda e qualquer mudança,
terminam por originar outras polêmicas discussões. Vale dar destaque a algumas delas em
breve análise.

2. As repercussões práticas da lei 12.015/09 no Título VI do Código Penal

Uma das alterações mais importantes resultou na união de dois tipos penais que já existiam - o
estupro e o atentado violento ao pudor – que foram fundidos em um único tipo penal, sob a
rubrica “Estupro”, traduzindo o crime no seu sentido amplo:

Estupro 

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou
a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: 

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

§ 1o  Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18


(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

§ 2o  Se da conduta resulta morte: 

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos

Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal é o estupro
no sentido estrito do tipo, enquanto que constranger alguém, mediante violência ou grave
ameaça a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso é o atentado
violento ao pudor que, agora, passa a ser uma espécie de estupro.

O outro ato libidinoso seria aquele destinado a satisfazer a lascívia, o apetite sexual. Cuida-se
de conceito bastante abrangente, na medida em que compreende qualquer atitude com
conteúdo sexual que tenha por finalidade a satisfação da libido. Não se incluem nesse conceito
as palavras, os escritos com conteúdo erótico, pois a lei se refere ao ato, ou seja, a uma
realização física completa. Por exemplo: realizar masturbação na vítima, introduzir o dedo ou
instrumento postiço em seu órgão sexual, realizar coito oral ou anal etc. Condutas mais leves
como apalpadelas, amassos, beijos lascivos devem ser enquadradas como contravenção penal
(Art.61 LCP).

CRIMINAL. RECURSO ESPECIAL. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. DESCLASSIFICAÇÃO PARA


CONTRAVENÇÃO DE IMPORTUNAÇÃO OFENSIVA AO PUDOR PROMOVIDA PELO JUÍZO
MONOCRÁTICO RELATIVAMENTE AO PRIMEIRO FATO DELITUOSO. MANUTENÇÃO EM
SEGUNDO GRAU. PLEITO DE CONDENAÇÃO POR ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR.
IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.º 07/STJ. NÃO CONHECIMENTO. ATENTADO
VIOLENTO AO PUDOR COMETIDO CONTRA A SEGUNDA VÍTIMA. FORMA SIMPLES. DELITO
HEDIONDO. PROGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 2º, § 1º
DA LEI N.º 8.072/90 DECLARADA INCIDENTER TANTUM PELO PLENÁRIO DO STF. RECURSO
PARCIALMENTE CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE. I. Hipótese em que o recorrido foi
condenado por importunação ofensiva ao pudor contra a primeira vítima e por tentativa de
atentado violento ao pudor contra a segunda vítima. II. Sendo a decisão que desclassificou o
crime de atentado violento ao pudor para a contravenção penal de importunação ofensiva ao
pudor motivada pela análise das provas dos autos, a pretensão de sua revisão esbarra no óbice
da Súmula n.º 07 desta Corte. III. Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, quando
cometidos em sua forma simples ou com violência presumida, enquadram-se na definição
legal de crimes hediondos, recebendo essa qualificação ainda quando deles não resulte lesão
corporal de natureza grave ou morte da vítima. Precedentes do STF e do STJ. Relator(a)
Ministro GILSON DIPP (1111) Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA Data do Julgamento
17/08/2006. Data da Publicação/Fonte DJ 11/09/2006 p. 344.

1ª repercussão prática: antes, se o sujeito ativo, em um mesmo contexto fático, praticasse o


estupro e o atentado violento ao pudor contra uma determinada vítima, estaríamos diante da
prática de dois crimes distintos, em concurso material. Essa era a posição majoritária, inclusive
do STF e do STJ.

HABEAS CORPUS. CRIMES DE ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR E DE ESTUPRO, PRATICADOS


DE FORMA INDEPENDENTE. CONFIGURAÇÃO DE CONCURSO MATERIAL DE CRIMES, E NÃO DE
CONTINUIDADE DELITIVA. Os crimes de estupro e de atentado violento ao pudor, ainda que
praticados contra a mesma vítima, não caracterizam a hipótese de crime continuado, mas
encerram concurso material de crimes. Precedentes. Caso em que o crime de atentado violento
ao pudor não foi praticado como "prelúdio do coito" ou como meio necessário para a
consumação do estupro, a evidenciar a absoluta independência das duas condutas
incriminadas. Ordem denegada. Relator(a): CARLOS BRITTO. Julgamento: 17/12/2006. Órgão
Julgador: Primeira Turma. Publicação: DJe-097 DIVULG 29-05-2008 PUBLIC 30-05-2008 EMENT
VOL-02321-01 PP-00135.

PENAL. HABEAS CORPUS. ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. PROGRESSÃO DE


REGIME. REITERAÇÃO DE PEDIDO. WRIT PREJUDICADO. ALEGADA CONTINUIDADE DELITIVA.
INOCORRÊNCIA. CONCURSO MATERIAL. ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA.
INDEFERIMENTO DE PEDIDO DE EXAME COMPARATIVO DE DNA. INOCORRÊNCIA.
DISCRICIONARIEDADE REGRADA DO MAGISTRADO. PROVAS SUFICIENTES PARA A
CONDENAÇÃO. I - Considerando que a controvérsia acerca da possibilidade de progressão de
regime, pelo paciente, já foi apreciada no HC 78.429/SP, perdeu o objeto, nesta parte, o
presente writ. II - Se, além da conjunção carnal, é praticado outro ato de libidinagem que não
se ajusta aos classificados de praeludia coiti, é de se reconhecer o concurso material entre os
delitos de estupro e de atentado violento ao pudor. A continuidade delitiva exige crimes da
mesma espécie e homogeneidade de execução. Relator(a): Ministro FELIX FISCHER.
Julgamento: 18/11/2008. Órgão Julgador: T5 - QUINTA TURMA. Publicação: DJe 02/02/2009.

Após a união dos dois comportamentos em um só tipo no Art. 213, as duas condutas foram
convertidas em um só crime de ação múltipla ou conteúdo variado. Logo, se num mesmo
contexto fático o sujeito ativo mantiver conjunção carnal violenta com a vítima, vindo em
seguida a praticar com ela outro ato libidinoso, ele responderá por um só crime. Caberá ao
juiz, obviamente, considerar a pluralidade de núcleos na fixação da pena base. Assim, quem
somente pratica conjunção carnal violenta será merecedor de uma pena menor do que aquele
que tem conjunção carnal violenta e, logo em seguida, pratica outro ato libidinoso.

Ao tornar-se crime único, isso significa uma mudança benéfica na esfera penal devendo a lei,
por sua vez, retroagir para alcançar os fatos pretéritos. Assim, todo aquele que foi condenado
anteriormente em concurso material por ter praticado as duas condutas nucleares do tipo
num mesmo contexto fático será beneficiado com a alteração. Caso o agente já esteja
cumprindo pena, competirá ao juiz da execução corrigi-la aplicando a lei mais benéfica (art. 66,
I, da Lei de Execuções Penais, e Súmula n. 611 do STF - Transitada em julgado a sentença
condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna).

2ª repercussão prática: sabem-se existir duas exceções permissivas para o abortamento no


Brasil, constantes no Art. 128 do Código Penal. Um deles, no inciso II, é o abortamento
sentimental para gravidez proveniente de estupro (se a gravidez resulta de estupro e o aborto
é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal). A
doutrina, em sua pequena minoria, tentava a extensão do abortamento sentimental caso a
gravidez fosse proveniente de atentado violento ao pudor. Com a mudança, não existe mais
dúvida: o estupro, em sentido amplo (agora incluindo a espécie de atentado violento ao pudor
no Art. 213) permite o abortamento sentimental, tenha sido a gravidez resultante de
conjunção carnal ou de qualquer outro ato libidinoso diferente desta.

3ª repercussão prática: na legislação anterior, o estupro era um crime de mão própria no que
se referia ao sujeito ativo (homem), e crime próprio em relação ao sujeito passivo (mulher).
Com a lei 12.015/09, o estupro passa a ser um crime comum (tanto a mulher como o homem
poderão ser sujeitos ativos ou passivos).

4ª repercussão prática: antes da lei 12.015/09, os crimes de estupro e de atentado violento ao


pudor eram qualificados se da violência resultasse lesão corporal grave ou morte. Com a
inclusão do § 1o, a qualificadora foi incrementada. Entretanto, antes de se falar nos resultados
qualificadores, o estupro em sentido amplo qualifica o crime se a vítima é menor 18 (dezoito)
ou maior de 14 (catorze) anos. Essa qualificadora não existia. Ela era uma circunstância que o
juiz utilizava na fixação da pena base. Como é uma inovação que agrava a pena, deve-se
atentar que essa qualificadora não poderá retroagir para alcançar fatos pretéritos.

5ª repercussão prática: o Art. 223 revogado pela lei 12.015/09 já previa a pena de reclusão, de
8 (oito) a 12 (doze) anos, se da violência resultasse lesão corporal de natureza grave. Essa
violência referia-se à violência física, não abrangendo a grave ameaça. O § 1o  do atual Art.
213 diz “se da conduta resulta lesão corporal grave”, ou seja, a lesão grave qualifica o crime de
estupro pouco importando se foi advinda da violência física ou da grave ameaça. Quando se
fala em conduta, abrangem-se as duas condutas descritas no caput do Art. 213: violência ou
grave ameaça.

ESTUPRO - CONFIGURAÇÃO - VIOLÊNCIA PRESUMIDA - IDADE DA VÍTIMA - NATUREZA. O


estupro pressupõe o constrangimento de mulher à conjunção carnal, mediante violência ou
grave ameaça - artigo 213 do Código Penal. A presunção desta última, por ser a vítima menor
de 14 anos, é relativa. Confessada ou demonstrada a aquiescência da mulher e exsurgindo da
prova dos autos a aparência, física e mental, de tratar-se de pessoa com idade superior aos 14
anos, impõe-se a conclusão sobre a ausência de configuração do tipo penal. Alcance dos
artigos 213 e 224, alínea "a", do Código Penal. STF- HC 73662 / MG - Relator(a): Min. MARCO
AURÉLIO. Julgamento: 21/05/1996. Órgão Julgador: Segunda Turma. Publicação: DJ DATA-20-
09-1996 PP-34535 EMENT VOL-01842-0.

HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. ESTUPRO. VIOLÊNCIA PRESUMIDA. [...] 3. A presunção


de violência prevista no art. 224, a, do Código Penal, tem caráter absoluto, afigurando-se como
instrumento legal de proteção à liberdade sexual da menor de quatorze anos, em face de sua
incapacidade volitiva, sendo irrelevante o consentimento da menor para a formação do tipo
penal do estupro. HC 79.756/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em
14.06.2007, DJ 06.08.2007 p. 594.

6ª repercussão prática: o revogado parágrafo único do Art. 223 previa que “se do fato resulta
a morte: pena - reclusão, de 12 (doze) a 25 (vinte e cinco) anos”. Em contrapartida, o atual Art.
213 prevê no seu § 2o que “se da conduta resulta morte: pena - reclusão, de 12 (doze) a 30
(trinta) anos”. Aqui, outro impasse foi solucionado, pois havia conflito na doutrina. Uma
minoria defendia que a morte no estupro qualificava o crime, não importando se existiu um
fator de grande violência ou de grave ameaça, ou ainda, se a morte proviesse de qualquer
outro fato superveniente relativamente independente como, por exemplo, um atropelamento:
a vítima, querendo fugir do seu estuprador, vem a ser atropelada e morre. Entendia-se que,
apesar da vítima não ter morrido em razão da violência e nem da grave ameaça, ela teria
morrido em razão do fato, daí incidindo a qualificadora. O STF vinha evitando tal excesso e, por
fim, o legislador o corrigiu, definitivamente, ao restringir a qualificadora somente à conduta.

7ª repercussão prática: alguns aspectos chamam atenção também no atual Art. 215 que trata
da Violação sexual mediante fraude:

Violação sexual mediante fraude

Art. 215.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude
ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: 

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 

Parágrafo único.  Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa.

A fraude, isto é, o ardil, o engano, o artifício, portanto, é um dos meios utilizados pelo agente
para que tenha sucesso na prática da conjunção carnal ou de outro ato libidinoso. É o chamado
estelionato sexual.

O Art. 215 inovou ao incluir a conduta através de “outro meio que impeça ou dificulte a livre
manifestação de vontade da vítima”. Não há que se confundir o cerceamento dessa
manifestação de vontade com o vício da vontade do Direito Civil (coação), pois uma vez que a
vítima fique impossibilitada de oferecer resistência, nós estaremos diante do mais novo tipo
“Estupro de vulnerável”. O que o legislador quis ao incluir “outro meio que impeça ou dificulte
a livre manifestação de vontade da vítima”, foi abranger o que a doutrina tinha dificuldade de
enquadrar: o temor reverencial. Casos como a conjunção carnal praticada em detrimento do
temor reverencial - que não seria uma grave ameaça, mas apenas uma ameaça - apesar de não
retirar totalmente a capacidade de resistência da vítima, viciaria a livre manifestação da
vontade da mesma. Certamente haverá doutrina defendendo que neste caso, também, poderá
ser enquadra a vítima embriagada moderadamente, lembrando-se, por sua vez, que se
totalmente embriagada, a vítima não poderá oferecer resistência, tratando-se assim de
estupro de vulnerável.

8ª repercussão prática: Há de se comentar no Art. 216-A, assédio sexual. A inclusão do § 2o


estabelece que “a pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito)
anos”. Vale salientar que o sujeito ativo deve ter ciência da idade da vítima, com o objetivo de
evitar a responsabilidade penal objetiva. A aplicação dessa majorante – que tem o seu limite
de aumento em até um terço - ficará a critério do juiz, não se permitindo retroagir aos fatos
pretéritos. Isso não impedirá que o juiz, considerando as circunstâncias dos fatos pretéritos, a
aplique na fixação da pena.

9ª repercussão prática: o novo tipo do Art. 217-A foi acrescentado pela lei 12.015/09, e
também merece destaque - o estupro de vulnerável.

Estupro de vulnerável 

Art. 217-A.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze)
anos: 

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. 

§ 1o  Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. 

§ 2o  VETADO

§ 3o  Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: 

Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.

§ 4o  Se da conduta resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

Faz-se necessário uma breve análise do contexto anterior à alteração: em síntese, o estupro de
vulnerável seria a soma dos antigos Art. 213 e Art. 214 quando praticados nas circunstâncias
do revogado Art. 224. Cabe a elucidação através de um exemplo: antes da alteração pela lei
12.015/09, o agente que praticasse estupro ou atentado violento ao pudor com uma vítima de
13 (treze) anos responderia pelos respectivos crimes na modalidade qualificada pelo Art. 224
(presunção de violência). Caso o agente empregasse violência real contra esse menor,
responderia somente pelos antigos artigos 213 ou 214, sem a incidência da majorante.
Entretanto, a doutrina e a jurisprudência não chegavam a um consenso no debate sobre a
violência real. Se essa não fosse empregada, era presumida pelo Art. 224. Na ausência de
emprego da violência real, o que a doutrina questionava era se a violência presumida
empregada era absoluta ou relativa. O juízo que prevalece atualmente nos tribunais é que se
trata de violência absoluta, ou seja, não admite prova em contrário. Com a nova redação do
Art. 217-A, a questão foi encerrada: pouco importa se houve violência ou não, e muito menos
se essa presunção é absoluta ou relativa. Agora, se o agente mantiver conjunção carnal ou
outro ato libidinoso com uma vítima de 13 (treze) anos, a pena será de 8 (oito) a 15 (quinze)
anos, pouco importando se houve violência ou grave ameaça.

É oportuno destacar o preterdolo (dolo no antecedente e culpa no consequente) nas formas


qualificadas pelo resultado previstas nos §§ 3º e 4º do Art. 217-A.

10ª repercussão prática: no crime de estupro simples o verbo constranger traduz a conduta
do agente em obrigar a vítima a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso. No estupro de vulnerável, o legislador foi omisso quanto ao cerceamento da
vontade da vítima. Essa omissão do legislador no Art. 217-A restringiu a conduta a ter ou
praticar o ato com o menor de 14 (catorze) anos. E, observe-se: com o menor de 14 (catorze)
anos - ou seja, pratica-se o ato com o menor, seja tendo comportamento ativo ou passivo – o
agente praticando “no” menor ou, ainda, o menor praticando “nele”.

11ª repercussão prática: a vítima no caput do art. 217-A é menor de 14 (catorze) anos. O
estupro simples do Art. 213 é qualificado se a vítima é maior de 14 (catorze) anos. O legislador
foi omisso na tipificação do crime para a vítima que tem idade igual a 14 (catorze) anos.
Vejamos: o adolescente tem menos de 14 (catorze) anos até a véspera do seu aniversário; tem
mais de 14 (catorze) anos a partir do primeiro dia seguinte à data do seu aniversário e, por fim,
tem 14 (catorze) anos exatamente no dia do seu aniversário (nem mais e nem menos). Diante
da inobservância desses detalhes, nos deparamos com as seguintes situações quanto à vítima:

1) Se maior de 14 (catorze) anos e houve violência ou grave ameaça, trata-se de estupro


qualificado.

2) Se maior de 14 (catorze) anos e não houve violência ou grave ameaça, o fato será atípico.

3) Se menor de 14 (catorze) anos, com e sem violência ou grave ameaça, trata-se de estupro
de vulnerável.

4) Se exatamente com 14 (catorze) anos (no dia do aniversário), e houve violência ou grave
ameaça, será um estupro simples.

5) Se exatamente com 14 (catorze) anos (no dia do aniversário), e não houve violência ou
grave ameaça, o fato será atípico.

Antes da lei 12.015/09, a doutrina e a jurisprudência tentavam chegar a um consenso sobre a


possibilidade de aplicar as qualificadoras do antigo Art. 223: se da violência resultasse lesão
corporal de natureza grave (pena – reclusão, de 8 a 12 anos) ou morte, no parágrafo único
(pena – reclusão, de 12 a 25 anos), tanto no estupro quanto no atentado ao pudor - ambos
com violência presumida pelo Art. 224. Nesse impasse, havia jurisprudência do STJ e do STF,
que também defendia a aplicação do disposto no art. 9º da Lei 8.072/90, que diz que “a pena
será acrescida de metade, respeitando o limite superior de 30 (trinta) anos de reclusão,
estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224 do Código Penal”.
PENAL. ESTUPRO. VIOLÊNCIA REAL. VÍTIMA MENOR DE CATORZE ANOS. INCIDÊNCIA DA
MAJORANTE PREVISTA NO ART. 9º DA LEI 8.072/90. AUSÊNCIA DE CIRCUNSTÂNCIA
QUALIFICADORA. IRRELEVÂNCIA. MAJORANTE DESCRITA NO ART. 226, III, DO CÓDIGO PENAL.
REVOGAÇÃO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. HABEAS CORPUS CONCEDIDO DE OFÍCIO. 1.
Reconhecer a majoração constante do art. 9º da Lei 8.072/90 nos casos de simples presunção
de violência constituiria repudiável bis in idem, sendo que essa circunstância já integra o tipo
penal nas hipóteses em que não há violência real. 2. Entretanto, tratando-se de hipótese de
violência real, seja moral ou física, que por si só enseja a condenação pelos crimes sexuais em
tela, aliada à circunstância de ser a vítima menor de catorze anos, tem-se aplicável a causa de
aumento de pena retro-referida, independentemente de restarem configuradas as
qualificadoras constantes do art. 223 do Código Penal. 3. Não se pode confundir os conceitos
de violência real como forma autônoma para a implementação do tipo penal,
independentemente da presunção de violência, com a forma qualificada prevista no art. 223 do
Código Penal. 4. Nos termos expostos, não há falar em bis in idem (que somente ocorreria nas
hipóteses de violência ficta, presumida, onde não há recusa expressa da vítima), mas no efetivo
respeito ao princípio da proporcionalidade, pelo qual condutas diversas merecem reprimendas
diversas, na medida da sua reprovabilidade ou hediondez, pois é indiscutível que o estupro
praticado mediante violência real contra uma criança é mais reprovável do que aquele
cometido contra uma pessoa adulta.STJ, REsp 235.746/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES
LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 10/05/2007, DJ 28/05/2007 p. 382.

PENAL. RECURSO ESPECIAL. ART. 213, C⁄C ART. 224, ALÍNEA A, DO CÓDIGO PENAL. VIOLÊNCIA
REAL. CRIME HEDIONDO. AUMENTO PREVISTO NO ART. 9º DA LEI Nº 8.072⁄90. I - Se a violência é
presumida, inadequado falar-se de lesão grave ou morte. Contudo, pode haver violência real
contra vítima que esteja entre as indicadas no art. 224 do Código Penal, como ocorreu in casu.
II - Esta Corte tem entendido que o reconhecimento da majorante do art. 9º da Lei 8.072⁄90, nos
casos de presunção de violência, consistiria em afronta ao princípio ne bis in idem. Entretanto,
tratando-se de hipótese de violência real perpetrada contra criança, tem-se como aplicável a
referida causa de aumento. (Precedentes) STJ, REsp 761.950/RS, Rel. Ministro FÉLIX FISCHER,
QUINTA TURMA, DJ 14/11/2005 p. 402.

PENAL. HABEAS CORPUS. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. VÍTIMA MENOR DE 14 ANOS.


VIOLÊNCIA REAL. MAJORANTE DO ART. 9º DA LEI 8.072⁄90. AUSÊNCIA DE CIRCUNSTÂNCIA
QUALIFICADORA. IRRELEVÂNCIA. CONCURSO ENTRE VIOLÊNCIA REAL SUFICIENTE PARA
IMPLEMENTAR O TIPO PENAL E CIRCUNSTÂNCIA CONSTANTE DO ART. 224 DO CP. ORDEM
DENEGADA. 1. Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor são considerados hediondos,
ainda que na forma simples, conforme prescreve o art. 1º, incisos V e VI, da Lei 8.072⁄90. 2. As
hipóteses de crimes de estupro e atentado violento ao pudor mediante violência presumida não
foram excepcionadas pela Lei 8.072⁄90, restando aplicáveis as regras repressivas especiais
também a esses casos. 3. Reconhecer a majoração constante do art. 9º da Lei 8.072⁄90 nos casos
de simples presunção de violência constituiria repudiável bis in idem, sendo que essa
circunstância já integra o tipo penal nas hipóteses em que não há violência real. 4. Entretanto,
tratando-se de hipótese de violência real, seja moral ou física, que por si só ensejaria a
condenação pelos crimes sexuais em tela, aliada à verificação de qualquer das circunstâncias
objetivas de presunção de violência, tem-se aplicável a causa de aumento de pena retro-
referida, independentemente de restarem configuradas as qualificadoras constantes do art.
223 do Código Penal. 5. Efetivamente, nesses casos, não se trata de bis in idem, mas da efetiva
aplicação da majorante às hipóteses em que concorrem violência real suficiente para a
condenação pelos crimes de estupro ou atentado violento ao pudor e qualquer das causas de
presunção de violência. 6. Não se pode confundir os conceitos de violência real como forma
autônoma para a implementação do tipo penal, independentemente da presunção de
violência, com a forma qualificada prevista no art. 223 do Código Penal. 7. O disposto no art. 9º
da Lei dos Crimes Hediondos é expresso ao determinar a incidência da majorante em todos os
casos de violência real, revelada tanto pelo caput dos arts. 213 e 214, quanto pelas formas
qualificadas consubstanciadas pela lesão grave ou morte, desde que incida também alguma
das hipóteses previstas no art. 224 do Código Penal. 8. Nos termos expostos, não há falar em
bis in idem, mas no efetivo respeito ao princípio da proporcionalidade, pelo qual condutas
diversas merecem reprimendas diversas, na medida da sua reprovabilidade ou hediondez. HC
38824⁄RJ, 5ª Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJU de  22.08.2005.

Desse modo, antes da vigência da lei 12.015/09, tanto o estupro quanto o atentado violento
ao pudor - ambos com violência presumida - tinham suas penas de reclusão de 6 (seis) a 10
(dez) anos. Aplicando-se o disposto no artigo 9º da Lei de Crimes Hediondos, elas tornar-se-
iam de 9 (nove) a 15 (quinze) anos. Para o magistrado que adotava essa corrente, estará ele
agora limitado em aplicar apenas a pena do Art. 217-A – pena: de 8 (oito) a 15 (quinze) anos -
até porque, com a revogação do Art. 224 do Código Penal, o parágrafo 9º da Lei 8.072/90
perdeu completamente o seu sentido. Nesse caso, para aqueles que foram apenados com base
no aumento da Lei de Crimes Hediondos, a lei 12.015/09 é melhor e deverá retroagir em
benefício do preso, não mais cabendo a hipótese de aumento da lei 8.072/90 para os fatos
pretéritos por se tratar de lei maléfica para o réu.

Caso o crime do Art. 217-A tiver sido praticado com emprego de violência física ou mesmo da
grave ameaça (elementares que não integram o estupro de vulnerável como ocorre com o
estupro tipificado no art. 213), será possível identificar o concurso material dos crimes de
estupro de vulnerável e o delito de lesão corporal (leve, grave ou gravíssima), ou a ameaça do
Art. 117, ambos do Código Penal.

12ª repercussão prática: o crime de corrupção de menores também foi modificado pela lei
12.015/09, trazendo consigo aspectos intrigantes na sua redação:

Corrupção de menores 

Art. 218.  Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: 

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

A novidade é o lenocínio especial, que antes se limitava ao Art. 227: “induzir alguém a
satisfazer a lascívia de outrem. Pena – reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos”. Com a mudança
excluiu-se essa especialidade caso a vítima seja menor de 14 (catorze) anos. Sendo o lenocínio
crime de explorar, estimular ou facilitar a prostituição ou a devassidão de alguém, estamos
abordando um tipo que inclui os seguintes personagens: o lenão, que é o mediador entre a
pessoa que vai ser satisfeita com a vítima induzida; a vítima, que é menor de 14 (catorze) anos;
por fim, o consumidor: aquele que é destinatário do induzimento à satisfação da lascívia. A
falha técnica do tipo em comento é que o Art. 218 só pune o lenão – que é o mediador.

Se a lascívia de outrem consistir em conjunção carnal ou outro ato libidinoso com menor de 14
(catorze) anos, estaremos diante de um estupro de vulnerável. Logo, não se há que se falar em
lenão para esse caso, tratando-se, assim, de concurso de agentes para estupro de vulnerável
– o destinatário estuprou e o mediador da lascívia concordou de qualquer modo. Porém,
haverá corrente que defenderá uma provável exceção pluralista da teoria monista, na qual
duas pessoas concorrem para o mesmo crime, mas respondem por tipos diversos: o mediador
responderia pela corrupção de menores do Art. 218 (com pena bem menor e direito a sursis) e
o destinatário da lascívia responderia pelo Art. 217-A (crime hediondo e pena bem maior).
Desse modo, essa corrente conseguiria retirar do mediador a hediondez de um crime
viabilizado por ele.

Deduz-se, ainda, que o grau do comportamento na satisfação da lascívia será determinante


na aplicação do tipo do Art. 218. Tendo o destinatário apenas um comportamento
contemplativo – por exemplo, aquele que induz a vítima a fazer um streap-tease para outrem -
será punido o lenão pelo crime de corrupção de menores, enquanto que o destinatário
(outrem) que satisfaz a sua lascívia com olhos atentos ao ato do menor não sofrerá nenhuma
punição.

13ª repercussão prática: a criação do Art. 218-A também inovou ao tipificar algumas condutas
estabelecendo núcleos alternativos. Agora é crime quando o sujeito pratica a conjunção carnal
ou outro ato libidinoso na presença do menor de 14 (catorze) anos, ou induz este menor a
presenciar, sendo que este menor não participa do ato (senão, estaríamos diante de estupro
de vulnerável).

Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente 

Art. 218-A.  Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a


presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de
outrem: 

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.” 

No crime em comento, temos os seguintes comportamentos a serem analisados para a sua


consumação:

1º caso - o agente aproveita-se de um menor que está olhando. Ele mantém a conjunção
carnal ou o ato libidinoso percebendo a presença do menor que está por perto. Ele aceita ser
observado e é isso que satisfaz a sua lascívia; porém, se o menor já está vendo, o crime só se
consuma quando o agente pratica o ato de libidinagem.

2º caso - o agente não só percebe a presença do menor como, ainda assim, o induz a
presenciar o ato de libidinagem. A consumação ocorre no induzimento do menor para ver o
ato, vindo esse a ocorrer ou não. Porém, se o ato libidinoso ocorre, será considerado um mero
exaurimento do tipo.
14ª repercussão prática: o tipo penal que já era previsto na lei 8.069/90 – Estatuto da Criança
e do Adolescente: “Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput
do art. 2º desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual”. O favorecimento da prostituição
ou outra forma de exploração sexual de vulnerável é mais rigoroso no que concerne às penas.

Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável 

Art. 218-B.  Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual
alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a
abandone: 

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. 

§ 1o  Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também
multa. 

§ 2o  Incorre nas mesmas penas: 

I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e
maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; 

II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas


referidas no caput deste artigo. 

§ 3o  Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da


licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.

Em contrapartida, o legislador negligenciou um possível conflito entre o Art. 218-B e as


qualificadoras do Art. 228, § 1º que se encontram inseridas no Capítulo V dedicado ao
lenocínio e do tráfico de pessoa para fim de prostituição ou outra forma de exploração
sexual. Por exemplo, se o agente tem alguma ligação mais estreita com a vítima, ou seja, se ele
é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador,
preceptor ou empregador, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância para com essa vítima menor e a submete à prostituição, ele poderá
responder pelo crime do Art. 228, § 1º - Favorecimento da prostituição ou outra forma de
exploração sexual – submetendo-se a penalidade bem menor: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8
(oito) anos. Tal incoerência afronta os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

15ª repercussão prática: a lei 12.015/09 determina que a ação penal pública condicionada à
representação será a regra geral para os crimes contra a dignidade sexual. A ação pública
incondicionada será exceção, sendo aplicada somente para os casos em que a vítima for
menor de 18 anos ou pessoa vulnerável.

Ação penal

Art. 225.  Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação
penal pública condicionada à representação.
Parágrafo único.  Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a
vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.

Logo, fica abolida a ação penal de iniciativa privada nos crimes sexuais, salvo a ação penal
privada subsidiária da pública, por se tratar de uma garantia constitucional do indivíduo
(Constituição Federal, Art. 5º, LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se
esta não for intentada no prazo legal).

Quanto aos estupros praticados antes da lei 12.015/09 que se encaixavam na regra da ação
privada, porém ainda não havendo processo em andamento, certamente haverá doutrina que
dirá que esses estupros pretéritos deverão ter o seu processo iniciado através da queixa, pois a
ação penal privada estará atrelada às causas extintivas da punibilidade, as quais a ação penal
pública não tem: renúncia do ofendido, perdão do ofendido, perempção; e haverá doutrina
defendendo que será através da denúncia, baseando-se no princípio da lei vigente ao ato do
processo - tempus regit actum – o tempo rege o ato. Essa última retroagiria de forma maléfica
ao réu, não sendo, portanto, possível a sua aplicação.

16ª repercussão prática: os tipos previstos no Capítulo V – Do lenocínio e do tráfico de pessoa


para fim de prostituição ou para outra forma de prostituição, também sofreram alterações.
Relevante tecer algumas considerações ao Art. 229 – casa de prostituição.

Casa de prostituição

Art. 229.  Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra
exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou
gerente:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

A prostituição consiste na realização de ato sexual mediante paga, em caráter habitual;


enquanto que a exploração sexual equivale a tirar proveito de ato sexual de outrem. Havia
polêmica sobre esse tipo. Alguns defendiam a sua revogação pela ocorrência de evolução nos
costumes da sociedade. Entretanto, a mudança do texto foi de grande êxito ao salientar a
ocorrência de exploração sexual. O texto anterior tipificava como crime a conduta de “manter,
por conta própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para fim
libidinosos”, o que dava ensejo a incluir os motéis no rol de lugares considerados casa de
prostituição. A redação atual não mais dá margem para esse tipo de interpretação, porém não
define exatamente o que seja essa exploração sexual. A doutrina a classifica como gênero que
abrange as espécies: prostituição, turismo sexual, tráfico de pessoas e pornografia. Assim,
qualquer estabelecimento mantido com essas finalidades em atos contínuos estará adequada
ao tipo em comento.

Vale salientar que o Brasil adota o sistema abolicionista - que não criminaliza a prostituição em
si - não intervindo o Estado nesta seara nem buscando impedi-la, mas pune a prática do
proxenitismo, própria dos lenões e rufiões, em geral.
17ª repercussão prática: quando o legislador cria uma lei ele deve obediência às regras de
técnica legislativa sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis que
estão estabelecidas na Lei Complementar 95 de 1998. A Sessão III dessa norma estabelece:

Artigo 12 - A alteração da lei será feita:

I - mediante reprodução integral em novo texto, quando se tratar de alteração considerável;

II - na hipótese de revogação;

III - nos demais casos, por meio de substituição, no próprio texto, do dispositivo alterado, ou
acréscimo de dispositivo novo, observadas as seguintes regras:

a) não poderá ser modificada a numeração dos dispositivos alterados;

b) no acréscimo de dispositivos novos entre preceitos legais em vigor, é vedada, mesmo


quando recomendável, qualquer renumeração, devendo ser utilizado o mesmo número do
dispositivo imediatamente anterior, seguido de letras maiúsculas, em ordem alfabética, tantas
quantas forem suficientes para identificar os acréscimos;

c) é vedado o aproveitamento do número de dispositivo revogado, devendo a lei alterada


manter essa indicação, seguida da expressão "revogado";

d) o dispositivo que sofrer modificação de redação deverá ser identificado, ao seu final, com as
letras NR maiúsculas, entre parênteses.

A melhor alternativa para o fiel cumprimento de tais parâmetros com clareza está expressa no
inciso I do Artigo 12, acima. Ao criar a lei 12.015/09 o legislador não optou essa opção,
tornando a sequência dos tipos penais sem uma lógica adequada para o entendimento por
quem a aprecia. À primeira vista, os vazios derivados de vetos e revogações dão a sensação de
desorganização e má elaboração, talvez como reflexo da própria desordem que habita as Casas
Legislativas nos últimos tempos. A título de ilustração, para uma maior compreensão desse
comentário, destacaremos na nova redação somente os dispositivos vigentes do Capítulo I ao
Capítulo IV, do título reservado aos Crimes contra a dignidade sexual:

TÍTULO VI – CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

CAPITULO I - DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL (Redação dada pela Lei nº 12.015 de
2009)

Estupro 

Art. 213.  Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou
a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: (Redação dada pela Lei nº
12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 1o  Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18


(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 2o  Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Violação sexual mediante fraude (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Art. 215.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude
ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: (Redação
dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Parágrafo único.  Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Assédio sexual (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001)

Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes
ao exercício de emprego, cargo ou função." (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001)

Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001)

§ 2o  A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos. (Incluído
pela Lei nº 12.015, de 2009)

CAPÍTULO II - DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL (Redação dada pela Lei nº 12.015,
de 2009)

Estupro de vulnerável (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Art. 217-A.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze)
anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 1o  Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. (Incluído pela Lei nº 12.015,
de 2009)

§ 3o  Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)

Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 4o  Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Corrupção de menores 

Art. 218.  Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de


outrem: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente (Incluído pela Lei nº


12.015, de 2009)

Art. 218-A.  Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a


presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de
outrem: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.” (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável (Incluído


pela Lei nº 12.015, de 2009)

Art. 218-B.  Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual
alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a
abandone: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 1o  Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também
multa. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 2o  Incorre nas mesmas penas: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e
maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; (Incluído pela Lei nº
12.015, de 2009)

II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas


referidas no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 3o  Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da


licença de localização e de funcionamento do estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)

CAPÍTULO III - DO RAPTO (artigos 219 ao 222 foram revogados pela Lei nº 11.106, de 2005)

CAPÍTULO IV - DISPOSIÇÕES GERAIS (artigos 223 ao 224 foram revogados pela Lei nº 12.015,
de 2009)

Ação penal

Art. 225.  Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação
penal pública condicionada à representação. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Parágrafo único.  Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a
vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)

Aumento de pena

Art. 226. A pena é aumentada: (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)

I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas;


(Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)

II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge,


companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título
tem autoridade sobre ela; (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)

CAPÍTULO V - DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU


OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Mediação para servir a lascívia de outrem

Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:

Pena - reclusão, de um a três anos.

§ 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu


ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a
quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda: (Redação dada pela
Lei nº 11.106, de 2005)

Pena - reclusão, de dois a cinco anos.

§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena correspondente à violência.

§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual  (Redação dada pela Lei
nº 12.015, de 2009)

Art. 228.  Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-
la, impedir ou dificultar que alguém a abandone: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de
2009)

§ 1o  Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro,


tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma,
obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspondente à violência.

§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

Casa de prostituição

Art. 229.  Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra
exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou
gerente: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

Rufianismo

Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou
fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.       

§ 1o  Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é


cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor
ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma,
obrigação de cuidado, proteção ou vigilância: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 2o  Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que
impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima: (Redação dada pela Lei nº
12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena correspondente à violência.
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual (Redação dada pela Lei nº
12.015, de 2009)

Art. 231.  Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a
exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá
exercê-la no estrangeiro. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 1o  Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim
como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. (Redação
dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 2o  A pena é aumentada da metade se: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)


II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para
a prática do ato; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro,


tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma,
obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 3o  Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também
multa. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)       

Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual  (Redação dada pela Lei nº 12.015, de
2009)

Art. 231-A.  Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para
o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual: (Redação dada pela Lei nº
12.015, de 2009)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 1o  Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa
traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou
alojá-la. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 2o  A pena é aumentada da metade se: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para
a prática do ato; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro,


tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma,
obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; ou (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

§ 3o  Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também
multa. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Art. 232 - (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)

Referências:

________. Lei n. 12.015, de 07 de agosto de 2009. Disponível em: Acesso em: 10 de agosto de
2009.
________. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1190. Disponível em: Acesso em: 03 de setembro de
2009.

________. Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990. Disponível em: Acesso em: 03 de setembro de
2009.

________. Lei Complementar n. 95, de 26 de fevereiro de 1998. Disponível em: Acesso em: 03
de setembro de 2009.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte especial, Vol 4. São Paulo:
Saraiva, 2008.

BRASIL. Código Penal Brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial, Vol 3. São Paulo: Saraiva, 2006.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, Vol. III. Rio de Janeiro: Impetus, 2009
(com revisão de 26/08/2009 e Adendo – Lei n. 12.015/2009 Dos Crimes Contra A Dignidade
Sexual).

NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008.

PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol 3, Parte Especial – arts. 184 a 288.
Revista dos Tribunais: São Paulo, 2008.

O Âmbito Jurídico não se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma solidária,
pelas opiniões, idéias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade
de seu(s) autor(es).

 
TÍTULO VI (*)
(*) Este material foi produzido, em parceria, pelos professores, Fernando Henning e
Ana Cláudia Lucas, a partir das primeiras conversas e impressões, de ambos, a respeito das alterações
introduzidas pela Lei 12015/09.
DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL
(O título era “Dos Crimes contra os Costumes”)
CAPÍTULO IDOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUALEstupro
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça,a ter conjunção
carnal ou a praticar ou permitir que com ele sepratique outro ato libidinoso:Pena -
reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
Observações I: Era “constranger mulher” e não “constranger alguém”; era constranger“à
conjunção carnal” e não “a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com elese
pratique outro ato libidinoso”. O tipo novo abrange o estupro antigo e também
oatentado violento ao pudor; e criminaliza o ato da mulher que constrange homem
àconjunção carnal, que não era crime na lei anterior.Observações II: Como se resolvem os casos
de múltipla ação numa mesmaoportunidade? Se o agente constrange a vítima a ato
diverso da conjunção carnal (sexoanal, por exemplo) e imediatamente prossegue para a
prática da conjunção carnal, hádois crimes ou crime único? E se houver
constrangimento a dois atos diversos daconjunção carnal, por exemplo, sexo oral
seguido por sexo anal, sem a conjunção carnalconvencional? E se houver
constrangimento à conjunção carnal seguido por novoconstrangimento à conjunção
carnal? Esses casos são de crime único ou múltiplo? Se ocrime é único, a multiplicidade
das ações interfere na dosimetria da pena? Se há dois cri-mes, é caso de crime
continuado?
 
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou sea vítima é menor de 18
(dezoito) e maior de 14 (catorze) anos:Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
Observações: a qualificadora das lesões graves já existia no direito anterior, e
implicavaa mesma pena. Mas a qualificadora da idade é nova e nela pode haver erro de
tipo.
§ 2o Se da conduta resulta morte
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos." (NR)

Observações: a qualificadora da morte já existia no direito anterior; mas a pena era


dedoze a vinte e cinco anos. A pena máxima foi aumentada

Observações: foi revogado o artigo 214, que correspondia ao atentado violento


aopudor, que agora ficou subsumido no estupro.

Atentado Violento ao Pudor

Art. 214 - Revogado

Violação sexual mediante fraude

 Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso comalguém, mediante
fraude ou outro meio que impeça ou dificulte alivre manifestação de vontade da
vítima:Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Observações I: O nomen iuris era “posse sexual mediante fraude”, não “violação
sexualmediante fraude”. O núcleo era “ter conjunção carnal” somente, sem qualquer
menção a“outro ato libidinoso”; e era sempre “com mulher”, não “com alguém”. O
tipo novoabrange a antiga posse sexual mediante fraude e também o atentado
violento ao pudormediante fraude; e criminaliza o ato da mulher que, mediante
fraude, leva homem àconjunção carnal.Observações II: Veja a Observação II ao art.
213.Observações III: Na nova redação, o crime fica configurado não só no caso de
fraude,mas também quando o agente emprega “outro meio que impeça ou dificulte a
livremanifestação de vontade da vítima”. Mas, ao menos nos casos em que o meio
impedetotalmente a manifestação de vontade da vítima (estupefaciente, coma
alcoólico),pareceria que o agente termina por reduzir a vítima a uma situação na qual
ela não pode oferecer resistência; e isso pareceria estupro de vulnerável, na forma do
§ 1º do artigo217-A. Veja a observação naquele parágrafo.Observações IV: A pena foi
aumentada: era de um a três anos, passou a ser de dois aseis.

Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obtervantagem econômica,


aplica-se também multa.

Observações I: Desapareceu a antiga qualificadora, que incidia quando a vítima


eramulher virgem menor de dezoito anos e maior de catorze. Mas isso não é novatio
legis inmellius, porque a pena da antiga forma qualificada era de dois a seis anos de
reclusão,que vem a coincidir com a nova pena para a forma fundamental do
delito.Observações II: Não se sabe o que levou o legislador a prever esta nova
qualificadora, seé que se pode chamar assim uma circunstância que adiciona a uma
pena pecuniária àpena corporal. O que nos ocorre é a hipótese de extorsão (paga ou
vou contar para tua mulher o que fizemos ), de golpe-do-baú (novela:transou agora
tem de casar ), e de meio  

para cometimento de furto (Marília Pera em “Pixote”). Mas não gosto de nenhum
dosmeus casos.

Atentado ao pudor mediante fraude

Art. 216 - Revogado

Assédio sexual

 Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem oufavorecimento


sexual, prevalecendo-se o agente da sua condiçãode superior hierárquico ou
ascendência inerentes ao exercício deemprego, cargo ou função.Pena – detenção, de 1
(um) a 2 (dois) anos.

Observações: Até aqui ficou igual.

§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de18 (dezoito) anos.

Observações: A causa especial de aumento de pena é nova.

CAPÍTULO IIDOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL

(O Capítulo era: Da Sedução e da Corrupção de Menores)

Sedução

Art. 217 – Revogado pela Lei 11106/05.

Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso commenor de 14
(catorze) anos:Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

Observações I: Este tipo cobre os casos da antiga presunção de violência por razões
deidade, que levava a tipificar com estupro ou atentado violento ao pudor os casos
deconjunção carnal ou ato libidinoso praticados com menor de catorze anos. Agora
essescasos ficam subsumidos a este tipo independente.Observações II: E se além de
ser menor, a vítima resiste e precisa ser forçada ao ato,física ou moralmente? Poderia
haver concurso entre este 217-A e o art. 146(constrangimento ilegal)? E se o
constrangimento vai às lesões leves do artigo 129caput, teríamos concurso dos três
dispositivos, 146, 129 caput e 217-A? Uma coisa  

parece certa: não pode haver concurso entre o 217-A e os parágrafos do 129, pois
aslesões graves são expressamente previstas como qualificadora no parágrafo terceiro
doartigo em comento. Contudo, veja o comentário àquele parágrafo, que põe em
hipóteseesse último concurso.

§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas nocaput com alguém
que, por enfermidade ou deficiência mental, nãotem o necessário discernimento para
a prática do ato, ou que, porqualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

Observações I: Esta regra de extensão típica se propõe abranger os outros casos


deviolência presumida da lei antiga, que eram a alienação ou debilidade mental ou
outrascausas que impeçam a vítima de oferecer resistência.Observações II: É
interessante notar que a lei nova liga a enfermidade ou deficiênciamental à falta de
discernimento para a prática do ato. O que leva à pergunta: quãoextensa tem de ser a
debilidade mental para que se possa dizer que tal pessoa não tem onecessário
discernimento para a prática de atos sexuais?Observações III: É crime por si só a
prática de atos sexuais com pessoa que “porqualquer causa não pode oferecer
resistência”? Pelo texto, parece. Mas é evidente que omarido que pratica sexo
consentido com a esposa inválida, por exemplo, não cometecrime. Ou seja: embora o
tipo não enuncie, é claro que o dissenso é elementar do tipo deestupro de vulnerável
quando a vulnerabilidade não vem da idade ou da incapacidadepara consentir, mas
sim da incapacidade para oferecer resistência

Observações IV: Exatamente como se separa o caso da vítima que “por qualquer
outracausa não pode oferecer resistência” do caso em que o agente emprega “meio
queimpeça a livre manifestação de vontade da vítima” (art. 215)? Será que neste caso
se temAÇÃO DELIBERADA para reduzir a vítima à incapacidade de reagir, ao passo
naquele hámero APROVEITAMENTO da incapacidade preexistente? Mas faz sentido
aplicar oito aquinze no caso em que o agente aproveitou-se da situação normal de
incapacidade davítima, e dois a seis quando ele ativamente reduz a vítima à
incapacidade?

§ 2o (VETADO)§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:Pena -


reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.

Observações I: A primeira observação é que o tipo do caput não envolve violência;


defato, ele foi construído para cobrir casos de violência presumida, hipóteses onde não
hádissenso, mas sim impossibilidade de dissentir dada a idade da vítima. E a mesma
coisavale para o § 1º, que trata também da incapacidade para dissentir ou para resistir.
Então,como é que se pode pensar em casos em que da conduta resulta lesão corporal
denatureza grave?Observação II: Bem, uma primeira possibilidade é que haja alguma
condição particularda vítima que faça com que o simples ato sexual implique lesão
grave. É o caso deestupro de crianças muito pequenas, que podem sofrer sérias lesões
internas emdecorrência do ato; ou de mulheres incapazes de consentir que se achem
em estágioavançado de gravidez, quando o ato pode levar à aceleração de
parto.Observação IIII: A segunda possibilidade é que, embora vulnerável, a vítima haja
reagido,e que o agressor tenha então causado lesões graves. Mas aqui é de pensar se
essaslesões resultam da conduta do caput (que, já se viu, não descreve violência),
comoparece exigir o § 3º, ou se elas são destacáveis daquela conduta, de modo a ter-
se entãoconcurso entre estupro de vulnerável e lesões graves, em vez de ver-se nestas
umaqualificadora.

§ 4o Se da conduta resulta morte

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

Observações I: Veja as observações ao parágrafo anterior.

Corrupção de Menores ???

Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer alascívia de


outrem:Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.

Observações I: O crime é de formal ou material? Se é material, exatamente qual


oresultado que se exige? Primeira situação – o menor de 14 anos se recusa a realizar
oato que satisfaria a lascívia alheia. Crime? Tentado ou consumado? Segunda situação
–o menor concorda em realizar o ato, mas não chega a praticá-lo, por razão externa,
porexemplo, os pais o impedem. Crime? Tentado ou consumado?Observações II: O
agente induz o menor de 14 anos a tirar a roupa para satisfazer alascívia de um
terceiro. Aplica-se este artigo, claro. Agora: o agente induz o menor decatorze anos a
praticar conjunção carnal com terceiro, ou sexo anal, ou outro ato sexual“grave”. Qual
o crime? O deste artigo ou participação em estupro de vulnerável? Poderiaser (que
interessante!) estupro de vulnerável, caso o beneficiário não saiba que aquelecom
quem pratica ato sexual é vulnerável (CP, art. 20 § 2º)?

Satisfação de lascívia mediante presença de criança ouadolescente

Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze)anos, ou induzi-lo a


presenciar, conjunção carnal ou outro atolibidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria
ou de outrem:Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.

Observações I: Esse é uma espécie de voyeurismo de segundo grau. Não gosta


deobservar, gosta de observar o menor observando.

Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploraçãosexual de vulnerável

Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra formade exploração


sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que,por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessáriodiscernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir
ou dificultarque a abandone:Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.

Observações I: Menor de dezoito anos é criança ou adolescente. Como fica o artigo


244-A do ECA? A resposta a isso não faz grande diferença prática, é verdade, porque
aspenas são iguais. Mas lá há sempre pena de multa, ao passo que aqui a pena de
multa sóse aplica no caso do § 1º.Observações II: Estranho. Incorre em estupro de
vulnerável quem faz sexo com alguémque tem enfermidade ou deficiência mental que
lhe tira o necessário discernimento para a prática do ato. Portanto, o terceiro, que
induz o vulnerável ao ato, é partícipe no crimede estupro de vulnerável. Contudo, se
esse terceiro induz o deficiente mental a manterrelações sexuais profissionalmente, o
crime é o deste artigo. Para esse caso a penaficou pequena, especialmente se
compararmos com a do 217-A.Observações III: O mesmo raciocínio da observação
anterior vale para a vítima menor de14 anos.

§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econô-mica, aplica-se


também multa.§ 2o Incorre nas mesmas penas:I - quem pratica conjunção carnal ou
outro ato libidinoso comalguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos
nasituação descrita no caput deste artigo;II - o proprietário, o gerente ou o
responsável pelo local em que severifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.

Observações I: Quais são “as práticas referidas neste artigo”? A prostituição


demenores e incapazes, propriamente dita? ou os atos de submeter, induzir e atrair?
Odono do bar onde há prostitutas menores fica sujeito a este dispositivo pela
simplestolerância à sua atividade de prostitutas? ou a punição dele depende de que
toleretambém os cafetões e suas atividades? Veja observação seguinte.Observação II:
O art. 244-A do ECA fala em “práticas referidas no caput deste artigo”. Elá fica claro
que as práticas são a prostituição e a exploração sexual e não os atos desubmissão de
criança ou adolescente a tais atividades. Será isso um argumento paraentender que
aqui a referência deve ser entendida como feita à prostituição em si?

§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório dacondenação a


cassação da licença de localização e de funciona-mento do estabelecimento para  

a prática do ato. Portanto, o terceiro, que induz o vulnerável ao ato, é partícipe no


crimede estupro de vulnerável. Contudo, se esse terceiro induz o deficiente mental a
manterrelações sexuais profissionalmente, o crime é o deste artigo. Para esse caso a
penaficou pequena, especialmente se compararmos com a do 217-A.Observações III: O
mesmo raciocínio da observação anterior vale para a vítima menor de14 anos.

§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econô-mica, aplica-se


também multa.§ 2o Incorre nas mesmas penas:I - quem pratica conjunção carnal ou
outro ato libidinoso comalguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos
nasituação descrita no caput deste artigo;II - o proprietário, o gerente ou o
responsável pelo local em que severifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.

Observações I: Quais são “as práticas referidas neste artigo”? A prostituição


demenores e incapazes, propriamente dita? ou os atos de submeter, induzir e atrair?
Odono do bar onde há prostitutas menores fica sujeito a este dispositivo pela
simplestolerância à sua atividade de prostitutas? ou a punição dele depende de que
toleretambém os cafetões e suas atividades? Veja observação seguinte.Observação II:
O art. 244-A do ECA fala em “práticas referidas no caput deste artigo”. Elá fica claro
que as práticas são a prostituição e a exploração sexual e não os atos desubmissão de
criança ou adolescente a tais atividades. Será isso um argumento paraentender que
aqui a referência deve ser entendida como feita à prostituição em si?

§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório dacondenação a


cassação da licença de localização e de funciona-mento do estabelecimento.

Observações I: Evidentemente só se pode aplicar esse efeito se o proprietário


doestabelecimento for réu na ação penal, não bastando que a ação tenha sido
intentadacontra o gerente ou responsável. E será um efeito automático ou precisa ser
declarado?

CAPÍTULO IIIDO RAPTO

Art. 219. (Revogado)Art. 220. (Revogado)Art. 221. (Revogado)Art. 222. (Revogado).

 
 CAPÍTULO IVDISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 223. (Revogado)Art. 224. (Revogado)

Ação Penal

Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título,procede-se mediante
ação penal pública condicionada àrepresentação.

Observações I: Todo o capítulo I é de ação pública condicionada? E o estupro


seguidode lesão corporal grave? E o estupro seguido de morte?Observações II: O que
acontece com a súmula 608/STF? Está revogada? Parece que sim,dada a menção ao
capítulo I. E como ficam as ações públicas incondicionadas emandamento? Terá de
haver representação em trinta dias, numa espécie de analogia como artigo 91 da lei
9.099/95?

Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penalpública incondicionada


se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos oupessoa vulnerável.

Observações I: O Capítulo II chama-se “Dos Crimes Sexuais Contra Vulnerável”, o


quesugere que todos os crimes nele previstos submetem-se a este parágrafo único,
ficandoentão sujeitos a ação pública incondicionada. Mas então porque o legislador
fezreferência ao capítulo II no caput, que prevê ação pública condicionada?
Observações II: Não há mais a regra que previa ação pública incondicionada para
oscasos de crime sexual cometido com abuso de pátrio poder ou da qualidade
depadrasto, tutor ou curador. Parece não haver mais necessidade dessa regra, pois
aspessoas que estão sob pátrio poder ou que possuem tutor ou curador são
sempremenores de dezoito anos ou vulneráveis.

Aumento de pena

Art. 226. A pena é aumentada:I – de quarta parte, se o crime é cometido com o


concurso de 2(duas) ou mais pessoas;II – de metade, se o agente é ascendente,
padrasto ou madrasta,tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor
ouempregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridadesobre ela;

CAPÍTULO VDO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DEPROSTITUIÇÃO OU


OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃOSEXUAL

(O Capítulo era intitulado: Do lenocínio e do tráfico de pessoas)

Mediação para servir a lascívia de outrem

Art. 227 – Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:Pena – reclusão de 1(um) a


3(três) anos.§ 1º. Se a vítima é maior de 14(catorze) e menor de 18 (dezoito)anos, ou
se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge oucompanheiro, irmão, tutor ou
curador ou pessoa a quem estejaconfiada para fins de educação, de tratamento ou de
guarda:Pena - reclusão de 2(dois) a 5(cinco) anos.§ 2º. Se o crime é cometido com
emprego de violência , graveameaça ou fraude:Pena – reclusão de 2(dois) a 8(oito)
anos, além da penacorrespondente à violência.§ 3º. Se o crime é cometido com o fim
de lucro, aplica-se também amulta.

Observação: Nada foi alteradol

Favorecimento da Prostituição ou outra forma de exploraçãosexual

Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma deexploração sexual,
facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém aabandone:

Observações: o tipo penal foi acrescido da expressão “ou outra forma de


exploraçãosexual”. O que significa, propriamente, exploração sexual ???

exploraçãosexual

é o meio pelo qual o indivíduo obtém lucrofinanceiro por conta da prostituição de


outra pessoa, sejaem troca de favores sexuais, incentivo à prostituição,turismo sexual,
ou rufianismo.

 Repetição desnecessária !!

Pena – reclusão, de 2(dois) a 5(cinco) anos, e multa.§ 1º. Se o agente é ascendente,


padrasto, madrasta, irmão,enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador,
preceptor ouempregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma,obrigação
de cuidado, proteção ou vigilância:Pena- reclusão de 3(três) a 8(oito) anos.

Observações: O parágrafo primeiro foi alterado, já que o anterior remetia ao


parágrafoprimeiro do crime de mediação para servir a lascívia de outrem, tendo sido
excluída ahipótese de a vítima ser maior de 14 e menor de 18 anos – já que para essa
hipótese hátipo específico = Art. 218, 218-A e 218-B. Foram acrescidas, ainda, a
madrasta, oenteado. Excluídos o tutor, curador ou pessoa a quem esteja confiada para
fins deeducação, de tratamento ou de guarda, mas incluídos na hipótese do “se
assumiu porlei, ou outra forma, obrigação de proteção cuidado ou vigilância.

§ 2º. Se o crime é cometido com emprego de violência, graveameaça ou fraude:Pena –


reclusão de 4(quatro) a 10(dez) anos, além da penacorrespondente à violência.C. Se o
crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também amulta.

Casa de Prostituição
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimentoem que ocorra
exploração sexual, haja ou não intuito de lucro oumediação direto do proprietário ou
gerente:Pena – reclusão de 2(dois) a 5(cinco) anos, e multa.

Observações: A redação foi alterada, tendo sido excluídas as expressões “ casa


deprostituição ou o lugar destinado a encontros para fins libidinosos” – o que acaba
coma discussão sobre os motéis ou similares – e foi acrescida a expressão
exploraçãosexual. A pena se manteve. Há diferenças entre casa de prostituição ou
estabelecimentoem que ocorra a exploração sexual?? Por que a alteração. Parece-nos,
ao fim e ao cabo,que o tipo penal continua o mesmo, muito embora a substituição das
expressões.

Rufianismo

Art. 230 . Tirar proveito a prostituição alheia, participandodiretamente dos seus lucros,
ou fazendo-se sustentar, no todo ouem parte, por quem a exerça:Pena – reclusão, de
1(um) a 4 (quatro) anos, e multa

§ 1º. Se a vítima é menor de 18(dezoito) e maior de 14(catorze)anos ou se o crime é


cometido por ascendente, padrasto, madrasta,irmão, enteado, cônjuge, companheiro,
tutor ou curador, preceptorou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou
outraforma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância.Pena – reclusão de 3(três) a
6(seis) anos e multa§ 2º. Se o crime é cometido mediante violência, grave
ameaça,fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação davontade
da vítima:Pena – reclusão de 2(dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da
penacorrespondente à violência.

 Observações I: O caput não foi alterado, nem na redação, nem a cominação da


pena;Observações II: Foi acrescido o parágrafo primeiro com alterações, já que o
anteriorremetia ao parágrafo primeiro do crime de mediação para servir a lascívia de
outrem.Figura qualificada. A pena foi mantida a mesma.Observações III: Também foi
incluído o parágrafo segundo, com redação ampliada – jáque o anterior só referia à
violência ou grave ameaça. Agora se o crime foi praticadocom emprego de fraude ou
outro meio que dificulte a livre manifestação de vontade davítima. Figura qualificada.
Nesta hipótese também a pena foi mantida.

Tráfico Internacional de pessoa para fim de exploração sexual

Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, dealguém que nele
venha a exercer a prostituição ou outra forma deexploração sexual, ou a saída de
alguém que vá exercê-la noestrangeiro:Pena – reclusão, de 3(três) a 8(oito) anos.§ 1º.
Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar oucomprar a pessoa traficada,
assim como, tendo conhecimento destacondição, transportá-la, transferi-la ou alojá-
la.§ 2º. A pena é aumentada de metade se:I – a vítima é menor de 18(dezoito) anos;II –
a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem onecessário discernimento
para prática do ato

III – se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado,cônjuge,


companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregadorda vítima, ou se assumiu,
por lei ou outra forma, obrigação decuidado, proteção ou vigilância; ouIV – há
emprego de violência, grave ameaça ou fraude.§ 3º. Se o crime é cometido com o fim
de obter vantagemeconômica, aplica-se também multa.

Observações I: No caput foi excluída a expressão intermediar, porque


realmentedesnecessária. Foi acrescida a expressão “ou outra forma de exploração
sexual”.Observações II: Foi acrescido o parágrafo primeiro, para quem agencia, alicia
ou compraa pessoa traficada, ou transporta ou transfere, para alojá-la. Figura
assemelhada aocaput.Observações III: Foi acrescido o parágrafo segundo, como
majorante, ou causa especialde aumento de pena.Estão revogados, assim, os antigos
parágrafos primeiro e segundo do original artigo231.Observações IV: Foi reeditado o
revogado parágrafo terceiro, de modo a aplicar-semulta, se o fim for obtenção de
vantagem econômica.

Tráfico Interno de pessoa para fim de exploração sexual

Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentrodo território


nacional para o exercício da prostituição ou outra formade exploração sexual.Pena –
reclusão de 2(dois) a 6(seis) anos.§ 1º. Incorre na mesma pena aquele que agenciar,
aliciar, venderou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimentodessa
condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la.§ 2º. A pena é aumentada de metade
se:I – a vítima é menor de 18(dezoito) anos;II – a vítima, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem onecessário discernimento para prática do ato;III – se o
agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado,cônjuge, companheiro,
tutor, curador, preceptor ou empregador da

vítima , ou se assumiu por lei ou outra forma, obrigação de cuidado,proteção ou


vigilância; ouIV – há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.§ 3º Se o crime é
cometido com o fim de obter vantagemeconômica, aplica-se também a multa.

Observações I: No caput foi excluída a expressão intermediar, porque


realmentedesnecessária. Foi acrescida a expressão “ou outra forma de exploração
sexual”.Observações II: Foi acrescido o parágrafo primeiro, para quem agencia, alicia
ou compraa pessoa traficada, ou transporta ou transfere, para alojá-la. Figura
assemelhada aocaput.Observações III: Foi acrescido o parágrafo segundo, como
majorante, ou causa especialde aumento de pena.Está revogado, assim, o antigo
parágrafo único do original artigo 231-A.Observações IV: Foi reeditado o revogado
parágrafo terceiro, de modo a aplicar-semulta, se o fim for obtenção de vantagem
econômica.

Art. 232 – Revogado.

CAPITULO VIIDISPOSIÇÕES GERAISAto Obsceno

Art. 233. Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ouexposto ao público:Pena
– detenção, de 3(três) meses a 1(um) ano, ou multa.

Observações: Nada foi alterado.

Escrito ou objeto obsceno

Art. 234. Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda,para fim de
comércio, de distribuição ou de exposição pública,escrito, desenho, pintura, estampa
ou qualquer objeto obsceno:Pena – detenção, de 6(seis) meses a 2(dois) anos, ou
multa.Parágrafo único: Incorre na mesma pena quem

I. Vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dosobjetos referidos neste


artigo;II. realiza, em lugar público ou acessível ao público, representaçãoteatral ou
exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou qualqueroutro espetáculo que tenha
o mesmo caráter.III. realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo
rádio,audição ou recitação de caráter obsceno.

Observações: Nada foi alterado.

Aumento de pena

Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada:I - (VETADO);II -
(VETADO);III - de metade, se do crime resultar gravidez; eIV - de um sexto até a
metade, se o agente transmite à vitimadoença sexualmente transmissível de que sabe
ou deveria saberser portador.Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes
definidos nesteTítulo correrão em segredo de justiça.

REFLEXOS DA LEI 12015/09 NAS LEIS 8072/90 E NAS LEIS8069/90

LEI 8072/90 – Alterado o artigo 1º., incisos V e VI, paraacrescentar:V – estupro (art.
213, caput e §§ 1º. e 2º);VI – estupro de vulnerável (art. 217-A, caput, e §§ 1º, 2º, 3º e
4º.);LEI 8069/90 – Incluído o artigo 244-B
 

 Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de18(dezoito)anos, com ele


praticando infração penal, ou induzindo-oa praticá-la:Pena – reclusão, de 1(um) a
4(quatro) anos.§ 1º. Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem praticaas
condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meioseletrônicos, inclusive salas de
bate-papo da internet.§ 2º. As penas previstas no caput deste artigo são aumentadas
deum terço no caso de a infração cometida ou induzida estar incluídano rol do artigo
1º. da Lei 8072/90.

Observação: A inclusão deste artigo no ECA levou a revogação da Lei 2252/1954.

Você também pode gostar