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Aula 02

Direito Penal p/ OAB 1ª Fase XXXII


Exame - 2021

Autor:
Cristiano Rodrigues
Aula 02

14 de Dezembro de 2020
Cristiano Rodrigues
Aula 02

Sumário

1 - Considerações Iniciais.................................................................................................................................... 2

2 - TEORIA DO CRIME – Conceito Analítico de Crime e Tipo Penal Doloso ....................................................... 2

2.1 - Fato Típico ou tipicidade........................................................................................................................ 3

3 - TEORIA DO CRIME – Tipo Penal Culposo e Tipo Pretedoloso....................................................................... 8

3.1 - Tipo Culposo........................................................................................................................................... 8

3.2 - Crimes Pretedolosos ou Preterintencionais ........................................................................................... 10

4 - TEORIA DO CRIME – Ilicitude - Excludentes - Estado de Necessidade ....................................................... 14

4.1 - Ilicitude ou Antijuridicidade .................................................................................................................. 14

4.2 - Excludentes de Ilicitude (Art. 23 do CP) ............................................................................................... 16

4.3 - Estado de Necessidade (Art. 24 do CP) .............................................................................................. 16

5 - TEORIA DO CRIME – Ilicitude - Excludentes - Legítima defesa - Estrito cumprimento de dever legal - Exercício
regular de direito - Consentimento do Ofendido ............................................................................................. 19

5.1 - Legítima defesa (Art. 25 CP) ............................................................................................................... 19

5.2 - Estrito cumprimento do dever legal...................................................................................................... 22

5.3 - Exercício regular de direito.................................................................................................................. 24

5.4 - Consentimento do ofendido.................................................................................................................. 24

5.5 - Ilicitude ................................................................................................................................................. 30

6 - Considerações Finais ................................................................................................................................... 30

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1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Galera, vamos dar início ao estudo da famosa Teoria do Crime, coração do Direito Penal e, com certeza, a
parte mais importante da nossa matéria, no que tange à cobrança no exame de ordem e em qualquer
concurso público!!!

Evidentemente, em sentido amplo, nós já estamos estudando a Teoria do Crime desde a nossa aula passada,
em que abordamos o Iter criminis que, como sabemos, aborda as etapas de realização do crime doloso.

Porém, agora nós vamos entrar no estudo da chamada Teoria do Crime, em sentido estrito, ou seja, analisar
o conceito analítico de crime, e analisar seus elementos estruturais.

2 - TEORIA DO CRIME – CONCEITO ANALÍTICO DE CRIME E TIPO PENAL


DOLOSO
Como sabemos, nosso ordenamento, através da teoria finalista da ação, adotou a concepção tripartida de
delito, através da qual o conceito analítico de crime é formado por três elementos, cumulativos e necessários
para que, portanto, se possa falar em crime (estrito senso), são eles:

- Fato típico

- Ilicitude ou antijuridicidade

- Culpabilidade (reprovabilidade)

Cada um desses elementos possuirá desdobramentos e características que são frequentemente objeto de
questões na nossa prova, e podemos resumir a estrutura do crime, adotada pelo nosso Código Penal da
seguinte forma:

Conduta

Resultado
FATO TÍPICO
Nexo causal

Tipicidade

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Excludentes

Estado de necessidade (art. 24)

Legítima defesa (art. 25)


ILICITUDE
Estrito cumprimento do dever legal

Exercício regular do direito

**Consentimento do ofendido (causa supralegal)

Imputabilidade
CULPABILIDADE
Potencial conhecimento da ilicitude
(REPROVABILIDADE)
Exigibilidade de conduta diversa

Vamos passar então ao estudo desses elementos separadamente, começando, nesta aula, com o estudo do
Fato Típico, suas características e aspectos, para que posteriormente possamos analisar a ilicitude e depois
a culpabilidade, com suas respectivas características, e assim completar o estudo do crime e de seus
elementos integrantes.

Vocês vão perceber que nosso estudo do Fato Típico tira se dividir em duas partes para facilitar nosso
aprendizado, primeiro vamos estudar o tipo penal doloso, que é a regra geral para incriminação de condutas,
e depois iremos passar para o estudo do tipo penal culposo, que é exceção e incrimina as condutas
descuidadas que geram certos resultados típicos previstos em Lei.

2.1 - Fato Típico ou tipicidade

Muito bem, de forma bem simples podemos definir o Fato típico, em seu aspecto formal, como sendo a
descrição na lei da conduta humana proibida para qual se estabelece uma sanção.

Nosso Código Penal, nas bases do finalismo, adotou a teoria indiciária da ilicitude (ratio cognoscendi), pela
qual todo fato típico, a princípio, será também ilícito, salvo se estiver presente uma causa de justificação, ou
seja, uma excludente de ilicitude, que afastará a ilicitude e o próprio crime, sem afetar, no entanto, a
tipicidade do fato.

Como já estudamos, na nossa aula de princípios, vocês devem lembrar que, em seu aspecto material, a
tipicidade se traduz na lesão do bem jurídico tutelado (Princípio de lesividade), e também de acordo com a
sua relevância, significância ou não (Princípio da insignificância).

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2.1.1 - Elementos integrantes do fato típico doloso

No finalismo, o tipo penal se divide em dois grandes grupos de elementos, quais sejam, os objetivos
(relacionados aos fatos) e os subjetivos (relacionados à vontade do sujeito).

2.1.1.1 - Elementos objetivos

São aqueles concretamente previstos na norma, expressamente descritos no próprio tipo, você vai perceber
os elementos objetivos no próprio texto do artigo da lei.

São eles:

a) Verbo, que traduz a conduta (ação ou omissão);

b) Elementos descritivos: são aqueles que descrevem algo de forma direta e imediata (ex.: alguém, coisa
etc.);

c) Elementos normativos (jurídicos e extrajurídicos): são aqueles que necessitam de conceitos, valorações
para serem compreendidos, e assim classificados de acordo com a origem dos conceitos necessários para
sua interpretação (ex.: funcionário público, cheque, moléstia venérea etc.).

Assim...

ELEMENTOS OBJETIVOS

Elementos Elementos
Verbo
descritivos normativos

necessitam de
descrevem algo de
conceito para serem
traduz a conduta forma direta e
compreendidos e
imediata
classificados

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2.1.1.2 - Elementos subjetivos (dolo e especial fim de agir)

São aqueles que traduzem o que está na cabeça do sujeito ao agir, sua intenção, sua finalidade, e seu fim
específico para atuar, fiquem atentos à palavra, subjetivo significa ligado ao sujeito, por isso se referem a
intenção do sujeito ao atuar.

Dessa forma, o elemento subjetivo divide-se em:

- Geral, ou seja, o dolo do agente ao atuar;

- Especial, o especial fim de agir, elemento subjetivo específico, que em alguns crimes (delitos de intenção)
traduz uma finalidade específica do agente ao atuar, que além do dolo será necessária para caracterizar esses
crimes.

Ex: “para si ou para outrem” no furto – art. 155 do CP; “fim de obter vantagem” na extorsão mediante
sequestro – art. 159 do CP.

- Elemento subjetivo geral: Trata-se do dolo, que caracteriza a conduta típica praticada; é a intenção, a
finalidade do agente ao atuar.

No finalismo esse dolo, elemento do tipo, é chamado de dolo natural, valorativamente neutro, já que traduz
a simples intenção do agente ao atuar, sem se questionar o “porquê ou para quê” de sua ação,
diferentemente do antigo dolo causalista, que era chamado de dolo normativo, valorativo, e integrava o
juízo de reprovação como elemento da culpabilidade.

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Nosso ordenamento trabalha com algumas espécies de dolo, e fiquem atentos a essa separação, pois ela é
muito cobrada em nossas provas, são elas:

a) Dolo direto de 1º grau: é o conceito puro de dolo; sendo a intenção, finalidade e a vontade do agente ao
atuar, direcionada para a produção de resultado (Teoria da vontade).

b) Dolo direto de 2º grau: é aquele em que o agente possui a intenção, a finalidade de gerar determinado
resultado, porém reconhece que outros resultados paralelos com certeza se produzirão como produto da
sua conduta.

No dolo direto de 2º grau o agente não quer o resultado, mas sabe que ele ocorrera e mesmo assim
atua, sendo que, quanto a esses resultados paralelos produzidos responderá a título de dolo direto de 2º
grau.

Neste caso, as penas dos crimes serão somadas através do concurso formal imperfeito (art. 70, 2ª parte).
Ex.: querendo matar um desafeto (dolo direito de 1º grau), explode uma bomba no avião, possuindo,
quanto aos demais passageiros, dolo direto de 2º grau.

Atenção que neste exemplo, o agente não é um terrorista, não quer matar todo mundo, caso queira, não
haverá dolo de 2º grau, mas sim dolo direto de 1º grau quanto a todos os passageiros.

c) Dolo geral: ocorre quando o agente pratica determinada conduta dolosa e, acreditando ter alcançado o
resultado pretendido, realiza um segundo ato, porém, o resultado na verdade só ocorre em decorrência
desse segundo ato.

Sendo assim, o dolo da primeira ação será geral e abrangente para alcançar o segundo ato (que não é
doloso), e o agente responderá por um único crime doloso consumado (ex.: dispara para matar, acha que a
vítima está morta e joga o corpo no rio, vindo esta a morrer afogada).

O dolo geral ocorreu também no “Caso Nardoni” em que o pai acreditando que a filha estava morta após
estrangulá-la, jogou o “corpo” pela janela, mas ela estava viva e morreu da queda.

Atenção:

Alguns autores tratam o dolo geral como sinônimo da chamada aberratio causae, porém, tecnicamente são
institutos diferentes, já que a segunda ocorre quando, por meio de uma única conduta o agente gera o
resultado pretendido, porém, este resultado ocorre em razão de uma causa diferente da imaginada e
desejada inicialmente pelo autor

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Ex.: jogar vítima de uma ponte para que esta morra afogada, porém, esta morre de traumatismo craniano
ao bater a cabeça em uma pedra.

Já no dolo geral há duas condutas praticadas pelo mesmo agente e o resultado decorre da segunda conduta
realizada.

d) Dolo eventual: Vamos agora tratar da mais conhecida e badalada espécie de dolo, o famoso dolo
eventual!!!

Podemos afirmar que o dolo eventual se trata de modalidade suis generis de dolo, pois nele o agente ao
atuar não possui a intenção de gerar o resultado, e age de acordo com os seguintes elementos:

I. Previsão concreta do resultado: o resultado deve ter passado previamente e concretamente na cabeça do
autor, sendo diferente do conceito de previsibilidade, que é apenas a possibilidade de prever um resultado
ao agir, e que caracteriza os crimes culposos;

II. Consentimento, indiferença quanto à eventual produção do resultado previsto (Teoria do consentimento
ou assentimento);

III. Agir aceitando, assumindo os riscos de ocorrência dos resultados.

No dolo eventual, o agente responde pelo crime doloso normalmente; porém, como não há vontade de gerar
resultado, só será imputado por aquilo que efetivamente causar, entendendo-se majoritariamente que não
há como falar em tentativa, caso o resultado previsto não ocorra.

A ausência de tentativa no dolo eventual se explica pelo fato de não haver vontade de gerar qualquer
resultado, e a tentativa pressupõe que o resultado não ocorra por motivos alheios a vontade do agente.

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IMPORTANTE

Os Crimes de trânsito, em sua maioria, serão culposos (arts. 302 e 303 do CTB), salvo em
algumas hipóteses de “pega ou racha” e alguns raríssimos casos de embriaguez em que, de
acordo com o STF, pode-se falar em dolo eventual, embora com as recentes mudanças do
código de transito brasileiro, mesmo nestes casos, a configuração do dolo eventual tenha
se tornado bastante difícil.

Dolo direto de 1º intenção, finalidade e vontade do


grau agente ao atuar

o agente não quer o resultado, mas


Dolo direto de 2º
sabe que ele ocorrerá e mesmo assim
grau
atua
ESPÉCIES DE DOLO
há duas condutas praticadas pelo
Dolo geral mesmo agente e o resultado decorre
da segunda conduta realizada.

o agente ao atuar não possui a


Dolo eventual
intenção de gerar o resultado

3 - TEORIA DO CRIME – TIPO PENAL CULPOSO E TIPO PRETEDOLOSO

3.1 - Tipo Culposo

Amigos, vamos agora mudar completamente o enfoque no tipo penal e tratar dos crimes culposos, aqueles
em que o agente não possui intenção, vontade de gerar qualquer resultado típico, porém, devido à sua
conduta descuidada acaba gerando uma lesão a determinado bem jurídico tutelado.

O tipo culposo é aquele que decorre da falta de cuidado do agente ao atuar, ou seja, da sua negligência,
imprudência ou imperícia, gerando assim um resultado que lhe era previsível, punido como crime, desde que
haja a forma culposa expressamente prevista em lei (regra da excepcionalidade do crime culposo – Ex.: o
crime de dano do art. 163 do CP não possui forma culposa).
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3.1.1 - Elementos integrantes do Tipo Culposo

Galera, assim como vimos que o crime doloso é composto por diversos elementos, os crimes culposos
também são formados por certos elementos, sendo que, fiquem atentos, pois isso já foi objeto de questão
na nossa prova.

São eles:

b) Resultado típico c) Nexo causal (vínculo


a) Conduta
(previsto na forma entre a conduta e o
(ação/omissão);
culposa); resultado);

d) Falta de cuidado e) Previsibilidade do


devido (imprudência, resultado (possibilidade
negligência e imperícia); de prever).

Fiquem ligados, esses elementos, são cumulativos e necessários para que se caracterize o crime culposo!!!

Embora não seja comum de se perguntar na nossa prova, precisamos lembrar que de acordo com a
controvertida teoria da imputação objetiva do resultado, oriunda do direito penal alemão (vide nosso livro:
Temas controvertidos de Direito Penal – ED. GEN), e com base no chamado princípio da confiança, aquele
que cumpre as regras impostas pela sociedade e pelo Estado para determinada atividade pode confiar que
os outros também o farão e, ao atuar, independentemente da análise da situação específica, não age com
falta de cuidado e não poderá responder pelo crime culposo.

Ex: quem passa direto por sinal verde na madrugada e bate em outro carro que avançava o sinal vermelho
não responde pelo resultado, por mais que fosse previsível que alguém avançaria o sinal nesse horário).
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3.1.2 - Espécies de culpa

Amigos, assim como vimos que o dolo possui diversas espécies, a culpa também se divide em duas categorias,
sendo que, em ambas as hipóteses o agente responde igualmente pelo crime culposo praticado.

Sendo assim, há duas espécies de culpa, admitidas em nosso ordenamento:

a) Culpa inconsciente ou culpa comum: é a regra geral para os crimes culposos, e nela o agente não tem
consciência, não tem previsão do resultado, atuando com falta de cuidado devido (imprudência/negligência/
imperícia), já que o resultado era apenas previsível (previsibilidade) para o agente, que ao agir não previu
concretamente o resultado causado.

b) Culpa consciente: é aquela em que o agente tem previsão concreta do resultado, porém repudia a
ocorrência desse resultado e só atua quando crê, sinceramente, em suas habilidades para agir sem que o
resultado se produza.

regra geral
ESPÉCIES DE CULPA

Culpa inconsciente ou culpa


comum
o agente não tem consciência nem previsão do
resultado

Culpa consciente o agente tem previsão concreta do resultado

Entretanto, na culpa consciente o agente ao atuar, acaba causando o resultado típico não desejado,
respondendo assim por ele a título de culpa (ex.: atirador de elite que atinge a vítima de sequestro, ou o
caso do Ônibus 174 no Rio de Janeiro).

3.2 - Crimes Pretedolosos ou Preterintencionais

Galera, pra concluirmos o estudo do tipo penal, primeiro elemento integrante do conceito de crime, vamos
falar dos conhecidos crimes preterdolodos que, na verdade, acabam sendo um somatório de dolo e culpa
num mesmo tipo penal.
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Os chamados crimes preterdolosos são modalidade específica de tipo penal em que o agente tem dolo na
sua conduta, mas acaba gerando um resultado que vai além desse dolo, causado por culpa (falta de cuidado),
logo, trata-se de um crime doloso qualificado por um resultado culposo mais grave do que o originariamente
desejado pelo sujeito.

Para que possamos falar em crime preterdoloso esta modalidade deve estar expressamente prevista na lei
como forma qualificada de certos crimes, possuem penas maiores em razão do resultado gerado (ex.: lesão
corporal seguida de morte – art. 129, § 3º, do CP), e devido à sua natureza (resultado gerado a título de
culpa), são em regra, incompatíveis com a forma tentada.

(FGV/IV Exame de Ordem Unificado) Osíris, jovem universitária de Medicina, soube estar gestante. Todavia,
tratava-se de gravidez indesejada, e Osíris queria saber qual substância deveria ingerir para interromper a
gestação. Objetivando tal informação, Osíris estimulou uma discussão em sala de aula sobre o aborto. O
professor de Osíris, então, bastante animado com o interesse dos alunos sobre o assunto, passou também a
emitir sua opinião, a qual era claramente favorável ao aborto. Referido professor mencionou, naquele
momento, diversas substâncias capazes de provocar a interrupção prematura da gravidez, inclusive
fornecendo os nomes de inúmeros remédios abortivos e indicando os que achava mais eficazes. Além disso,
também afirmou que as mulheres deveriam ter o direito de praticar aborto sempre que achassem
indesejável uma gestação.
Nesse sentido, considerando-se apenas os dados mencionados, é correto afirmar que o professor de Osíris
praticou
a) o crime previsto no art. 286 do Código Penal, que dispõe: “incitar, publicamente, a prática de crime”.
b) a contravenção penal prevista no art. 20 do Decreto-Lei 3.688/1941, que dispõe: “anunciar processo,
substância ou objeto destinado a provocar aborto”.
c) fato atípico.
d) o crime previsto no art. 68 da Lei 8.078/1990, que dispõe: “fazer ou promover publicidade que sabe ou
deveria saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde
ou segurança”.
Comentários
Resposta: C
A conduta narrada no enunciado descreve um professor que, durante explicação de um tema, expõe sua
posição a respeito do assunto (aborto) e se coloca favorável a essa prática. Porém, em momento algum o
professor estimulou seus alunos a realizar a conduta de aborto, ou promoveu a realização desse fato como
algo positivo ou que deveria vir a ser realizado por terceiros, afastando-se, assim, a incidência do crime de
incitação ao crime (art. 286 do CP). Também não houve, de acordo com o enunciado, qualquer anúncio,
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propaganda ou promoção de fatos, meios ou objetos destinados a realizar aborto, mas somente menção de
quais as formas mais eficazes para realizar esse tipo de procedimento. Dessa forma, percebe-se que a
conduta realizada pelo professor, narrada no enunciado, é absolutamente atípica.

(FGV/X Exame de Ordem Unificado) Jane, dirigindo seu veículo dentro do limite de velocidade para a via, ao
efetuar manobra em uma rotatória, acaba abalroando o carro de Lorena, que, desrespeitando as regras de
trânsito, ingressou na rotatória enquanto Jane fazia a manobra. Em virtude do abalroamento, Lorena sofreu
lesões corporais. Nesse sentido, com base na teoria da imputação objetiva, assinale a afirmativa correta.
a) Jane não praticou crime, pois agiu no exercício regular de direito.
b) Jane não responderá pelas lesões corporais sofridas por Lorena com base no princípio da intervenção
mínima.
c) Jane não pode ser responsabilizada pelo resultado com base no princípio da confiança.
d) Jane praticou delito previsto no Código de Trânsito Brasileiro, mas poderá fazer jus a benefícios penais.
Comentários
Resposta: C
Esta questão avalia a possibilidade de se imputar a título de culpa as lesões corporais causadas em Lorena a
Jane. Embora aborde no enunciado a famosa e controvertida Teoria da Imputação Objetiva, desenvolvida no
Direito Penal alemão, e de aplicação restrita no Brasil (de acordo com o STF), mas que poderia ser resolvida
com base na análise dos requisitos do Tipo Culposo. Na conduta narrada, Jane conduz seu veículo dentro da
velocidade permitida e de acordo com as regras de trânsito, sendo que é a própria vítima Lorena que realiza
manobra arriscada e desrespeita as regras de trânsito, faltando com o cuidado devido. Sendo assim, Jane
não faltou com o cuidado devido e, mesmo tendo dado causa objetivamente ao resultado lesão corporal em
Lorena, não poderá responder culposamente por esse resultado, já que não agiu com “culpa” (imprudência,
negligência ou imperícia). O referido princípio da confiança, para a Teoria da Imputação Objetiva, é o que
impede a imputação do resultado a título de culpa em uma situação como essa, já que Jane, ao cumprir as
regras de trânsito, teria o direito de confiar que Lorena também o faria, e por isso, ao dirigir pela rotatória
dentro da velocidade permitida, não pratica ato culposo, e não pode responder pelo crime.

(FGV/XII Exame de Ordem Unificado) Wilson, competente professor de uma autoescola, guia seu carro por
uma avenida à beira-mar. No banco do carona está sua noiva, Ivana. No meio do percurso, Wilson e Ivana
começam a discutir: a moça reclama da alta velocidade empreendida. Assustada, Ivana grita com Wilson,
dizendo que, se ele continuasse naquela velocidade, poderia facilmente perder o controle do carro e
atropelar alguém. Wilson, por sua vez, responde que Ivana deveria deixar de ser medrosa e que nada
aconteceria, pois se sua profissão era ensinar os outros a dirigir, ninguém poderia ser mais competente do
que ele na condução de um veículo. Todavia, ao fazer uma curva, o automóvel derrapa na areia trazida para
o asfalto por conta dos ventos do litoral, o carro fica desgovernado e acaba ocorrendo o atropelamento de
uma pessoa que passava pelo local. A vítima do atropelamento falece instantaneamente. Wilson e Ivana
sofrem pequenas escoriações. Cumpre destacar que a perícia feita no local constatou excesso de velocidade.
Nesse sentido, com base no caso narrado, é correto afirmar que, em relação à vítima do atropelamento,
Wilson agiu com
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a) dolo direto.
b) dolo eventual.
c) culpa consciente.
d) culpa inconsciente.
Comentários
Resposta: C
O enunciado narra uma situação em que determinado agente (Wilson) conduz seu veículo em alta
velocidade, causando, assim, um acidente e a morte de uma pessoa. Porém, fica claro, no caso narrado, que
Wilson estava ciente do risco, e que possuía previsão concreta a respeito da possibilidade de causar esse tipo
de resultado. Além disso, de acordo com o narrado, percebe-se que, por possuir habilidades específicas no
que tange à condução de veículos automotores (“sua profissão era ensinar os outros a dirigir, ninguém
poderia ser mais competente do que ele na condução de um veículo”), agiu confiando nessas habilidades,
certo de que nada de errado ocorreria. Sendo assim, como estão presentes os requisitos técnicos de
“previsão concreta do resultado”, “não aceitação de risco e repúdio pela produção do resultado”, além de
“confiar em suas habilidades ao atuar”, conclui-se que o agente atuou em situação de Culpa Consciente,
devendo responder pelo crime de homicídio culposo no trânsito (art. 302 da Lei 9.503/1997).

(FGV/XIII Exame de Ordem Unificado) Jaime, objetivando proteger sua residência, instala uma cerca elétrica
no muro. Certo dia, Cláudio, com o intuito de furtar a casa de Jaime, resolve pular o referido muro,
acreditando que conseguiria escapar da cerca elétrica ali instalada e bem visível para qualquer pessoa.
Cláudio, entretanto, não obtém sucesso e acaba levando um choque, inerente à atuação do mecanismo de
proteção. Ocorre que, por sofrer de doença cardiovascular, o referido ladrão falece quase instantaneamente.
Após a análise pericial, ficou constatado que a descarga elétrica não era sufi ciente para matar uma pessoa
em condições normais de saúde, mas sufi ciente para provocar o óbito de Cláudio, em virtude de sua
cardiopatia. Nessa hipótese é correto afirmar que:
A) Jaime deve responder por homicídio culposo, na modalidade culpa consciente.
B) Jaime deve responder por homicídio doloso, na modalidade dolo eventual.
C) Pode ser aplicado à hipótese o instituto do resultado diverso do pretendido.
D) Pode ser aplicado à hipótese o instituto da legítima defesa preordenada.
Comentários
Resposta: D
A questão se refere à análise das excludentes de ilicitudes, mais especificamente à legitima defesa
preordenada, através instalação de uma cerca elétrica para Protecao da propriedade. As chamadas
ofendículas são consideradas como excludentes de ilicitude, e do crime, através do exercício regular de
direito, ou mesmo da legitima defesa preordenada. Esta última, apenas considerada na hipótese da cerca
elétrica, por ser mecanismo ativo capaz de repelir uma agressão atual (invasão), porém, previamente
instalado. As demais alternativas encontram-se incorretas, de acordo com as normas previstas no Código
Penal e da doutrina, pois se referem a possibilidade de imputação de crime neste caso.

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4 - TEORIA DO CRIME – ILICITUDE - EXCLUDENTES - ESTADO DE


NECESSIDADE

4.1 - Ilicitude ou Antijuridicidade

Galera, agora passamos para o estudo do segundo elemento integrante do conceito de crime, a ilicitude, que
também é chamada de antijuridicidade, e que como sabemos, tem como ponto central de cobrança as suas
famosas causas de exclusão.

Como vocês sabem, temos 4 causas de exclusão da Ilicitude previstas no Art. 23 do Código Penal e, dentre
elas, as 2 mais cobradas nas nossas provas são o Estado de Necessidade e a conhecida Legítima defesa.

Para que a gente possa estudar essas excludentes e ver como elas serão cobradas na nossa prova, precisamos
começar nosso estudo analisando o conceito geral de Ilicitude, como elemento do crime e, depois sim,
passaremos a análise das suas famosas causas de exclusão.

Vamos com tudo, que esse tema, além de super interessante, cai bastante nas nossas provas!!!

CONCEITO DE ILICITUDE

A Ilicitude ou antijuridicidade pode ser conceituada como sendo a relação de contrariedade entre
determinado comportamento que integre um fato típico e o ordenamento jurídico, sendo, portanto, o
segundo elemento integrante do conceito tripartido de crime.

De acordo com a chamada teoria indiciária da ilicitude (ratio cognoscendi), adotada por nosso ordenamento,
a tipicidade é o indício da ilicitude, logo, todo fato típico será também ilícito, salvo se estiver presente uma
causa de justificação, ou seja, uma excludente da ilicitude.

Fiquem atentos pois essa teoria quer acabamos de abordar acima já foi objeto de questão na nossa prova de
1ª Fase da OAB!!!

Todos sabemos que o nosso Código Penal, em seu art. 23, prevê 4 causas de exclusão da ilicitude, quais
sejam:

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a) o estado de necessidade

b) a legítima defesa

c) o estrito cumprimento do dever legal

d) o exercício regular de direito

Assim...

CAUSAS DE EXCLUSÃO DA
ILICITUDE

o estrito
o estado de o exercício regular
a legítima defesa cumprimento do
necessidade de direito
dever legal

Além disso, não podemos nos esquecer do famoso consentimento do ofendido, que, embora não esteja
previsto em lei, é considerado como causa supralegal de exclusão da ilicitude.

Importante lembrar que, havendo qualquer causa de exclusão da ilicitude, o fato deixará de ser considerado
crime, pois a conduta típica realizada estará autorizada, permitida pelo próprio ordenamento jurídico, razão
pela qual os artigos que preveem essas excludentes (ex.: arts. 24 e 25 do CP) são chamados de tipos penais
permissivos.

Quero lembrar vocês que, em uma questão concreta que envolva uma excludente de ilicitude, o fato
permanece sendo Típico, apenas terá sua ilicitude afastada e por isso deixa de ser considerado crime, mas
não se confundam, pois exclusão de ilicitude não faz com que um fato se torne atípico...ATENÇÃO!

Cada uma das causas de exclusão da ilicitude terá características específicas e necessárias para que sejam
reconhecidas e, preenchidos os elementos integrantes que formam seu conceito, será afastada a ilicitude
da conduta praticada e o fato típico não será considerado CRIME.

Sendo assim, a seguir estudaremos cada uma dessas excludentes de ilicitude separadamente, tema que,
como dissemos, é muito cobrado no exame de ordem bem como em qualquer concurso público!!!

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4.2 - Excludentes de Ilicitude (Art. 23 do CP)

Preparei esse pequeno esquema para que possamos resumir TODAS as principais características de cada
uma das causas de exclusão da ilicitude adotadas em nosso ordenamento:

1. atual e
inevitável

estado de
2. não criado por
necessidade (art. perigo
vontade do autor
24, CP)
(Excludentes) Art. 3. inexigibilidade
23, CP ---> do sacrifício do
consentimento bem
do ofendido -
causa supralegal 1. atual ou
(não cabe para iminente
vida)
ILICITUDE
2. injusta
legítima defesa agresão
3. bem próprio ou
estrito de terceiro
funcionário
cumprimento do
público
dever legal 4. meio
moderados
exercício regular
ex: ofendículas
de direito

4.3 - Estado de Necessidade (Art. 24 do CP)

Seguindo a ordem do Código Penal, vamos agora estudar a primeira causa de exclusão de ilicitude presente
no Art. 23 do CP, o badalado Estado de Necessidade!!!

Podemos começar lembrando que o Estado de Necessidade decorre de uma situação de perigo em que há
a estrita necessidade de lesionar, sacrificar certo bem jurídico para se preservar outro.

Dessa forma, estará autorizada a lesão de determinado bem jurídico quando esta for a única forma de
garantir a preservação do outro bem, havendo assim um conflito entre bens jurídicos em jogo diante de uma
situação de perigo.

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Quanto à natureza jurídica do estado de necessidade, o Código Penal adotou a chamada teoria unitária, pela
qual todo estado de necessidade será sempre causa de exclusão da ilicitude, por isso chamado de estado de
necessidade justificante, independentemente da valoração do bem jurídico a ser preservado e a ser
sacrificado, na situação concreta.

Há ainda a chamada teoria diferenciadora, no que tange a natureza jurídica do estado de necessidade, e que
não foi adotada pelo nosso Código Penal, mas que está prevista no Código Penal militar, pela qual se
diferenciam duas categorias ou espécies de estado de necessidade:

- Estado de necessidade justificante (excludente de ilicitude), assim como no nosso Código Penal.

- Estado de necessidade exculpante (excludente de culpabilidade), de acordo com a natureza dos


bens preservado e sacrificado.

Amigos, vamos agora passar para a análise dos elementos integrantes e necessários para que se reconheça
um estado de necessidade, em um caso concreto apresentado:

a) Elementos integrantes do estado de necessidade:

a.1) Perigo atual e inevitável: para que haja o estado de necessidade, a situação de perigo tem de
estar presente, ocorrendo, embora o dano possa ainda ser iminente, sendo que, a única forma de
preservar o bem em perigo terá de ser a lesão, o sacrifício de um bem alheio, ou seja, para se
autorizar a lesão do bem alheio não pode haver outra alternativa a não ser lesionar o outro bem.

a.2) Não criação do perigo por vontade do agente: aquele que criar dolosamente a situação de
perigo não poderá agir em estado de necessidade para preservar o seu bem diante desse perigo
criado. Entretanto, atenção, pois nada impede que o agente atue em estado de necessidade quando
criar a situação de perigo por culpa, ou seja, por falta de cuidado.

a.3) Bem próprio ou de terceiros: é possível agir em estado de necessidade quando o próprio bem
está em jogo, em perigo, ou apenas para preservar um bem alheio, mesmo que não haja qualquer
vínculo entre o agente e o terceiro titular do bem em perigo.
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a.4) Inexigibilidade de sacrifício do bem: não haverá estado de necessidade quando for exigível
que o agente tolere o sacrifício do bem ameaçado ao invés de lesionar o outro bem. Esta limitação
ocorre fundamentalmente quando há o confronto entre um bem disponível (ex.: patrimônio) a ser
preservado e outro bem indisponível (ex.: vida) a ser sacrificado, não sendo autorizada, nesses casos,
a lesão do bem indisponível.

Contudo, num caso concreto, se mesmo assim o agente, nesse tipo de situação, optar por preservar o bem
disponível, sacrificando o indisponível, responderá pelo crime, não havendo estado de necessidade, porém,
diante da anormalidade da situação concreta em questão (perigo etc.) sua pena deverá ser reduzida de 1/3
a 2/3 (art. 24, § 2º, CP).

ELEMENTOS INTEGRANTES DO ESTADO DE NECESSIDADE

Não criação do perigo


Perigo atual e Bem próprio ou de Inexigibilidade de
por vontade do
inevitável terceiros sacrifício do bem
agente

b) Limitações e classificações do Estado de Necessidade:

Amigos, percebam que de acordo com o art. 24, § 1º, do CP, quem possui o dever legal de enfrentar o perigo
não poderá alegar estado de necessidade; logo, esse dispositivo se refere aos garantidores, especificamente
aos que têm por lei o dever de proteção, cuidado e vigilância (Art. 13, § 2º, a CP), e por isso não poderão
alegar estado de necessidade (ex.: bombeiro).

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A doutrina classifica ainda o estado de necessidade em defensivo, quando, para preservar o bem ameaçado,
o agente precisa lesionar a própria fonte desse perigo (ex.: matar cachorro feroz), e estado de necessidade
agressivo ou ofensivo, quando, para preservar seu bem do perigo, for preciso lesionar um bem de terceiro
inocente, cabendo nesse caso reparação cível do prejuízo (ex.: violar um domicílio para fugir do ataque de
um cachorro feroz).

5 - TEORIA DO CRIME – ILICITUDE - EXCLUDENTES - LEGÍTIMA DEFESA -


ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL - EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO -
CONSENTIMENTO DO OFENDIDO

5.1 - Legítima defesa (Art. 25 CP)

Galera, agora vamos ao estudo da mais famosa e mais cobrada das excludentes de ilicitude, a badalada
Legítima Defesa, e podemos começar dizendo que ela ocorre quando o agente sofre uma injusta agressão,
que seja atual ou iminente, a um bem jurídico próprio ou mesmo de terceiro, atuando para repelir essa
agressão e garantir a proteção do bem jurídico ameaçado/agredido, desde que atue usando
moderadamente os meios suficientes, disponíveis e necessários para isso.

Muito bem, assim como fizemos com o Estado de Necessidade, vamos agora partir para a análise separada
de cada um dos elementos necessários para que se reconheça, num caso concreto, uma legítima defesa
como excludente da ilicitude.

a) Elementos integrantes da legítima defesa:

a.1) Agressão atual ou iminente: primeiramente precisamos lembrar que agressão é toda conduta
humana voltada a lesionar bem jurídico alheio, e para caracterizar situação de legítima defesa essa
agressão deverá ser atual, ou seja, estar ocorrendo (já começou, mas ainda não terminou) ou
iminente, aquela que está prestes a ocorrer, ou seja, que se dá no último momento antes da
atualidade.

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Sendo assim, podemos concluir que não há legítima defesa de agressões passadas, que já ocorreram, nem
de agressões futuras, promessas de agressão.

Agora, muito cuidado pois, quando a agressão ainda for futura (promessa de agressão), mas a única forma
do agente garantir a proteção de seu bem for se antecipar a ela, haverá a chamada legítima defesa
antecipada, que para a maioria da nossa doutrina não se enquadra na legítima defesa como excludente de
ilicitude, mas configura uma causa supralegal (que não está na lei) de exclusão da culpabilidade, por
inexigibilidade de conduta diversa.

Além disso, também é importante lembrar que o ataque de animal não gera agressão, mas tão somente
perigo; logo, não gera legítima defesa, mas poderá dar origem a um estado de necessidade, salvo se o animal
estiver sendo usado como instrumento, arma, por um ser humano para atacar outro, quando então haverá
agressão, e poderá se falar em legítima defesa diante de um caso concreto apresentado na sua prova.

a.2) Injusta agressão: é toda aquela que não esteja autorizada pelo ordenamento jurídico; logo, não
há legítima defesa quando a agressão sofrida for praticada por alguém que esteja atuando autorizado
por qualquer situação excludente de ilicitude.

Sendo assim, não há legítima defesa de uma conduta praticada por quem esteja agindo em estado de
necessidade, em estrito cumprimento de dever legal, em exercício regular de direito; e ainda, não há legítima
defesa de legítima defesa (legítima defesa recíproca).

Galera, é importante lembrar que nada impede a legítima defesa do ataque de um inimputável, já que este
realiza uma agressão injusta (fato típico e ilícito) embora não tenha culpabilidade e não responda pelo crime,
e isto pode gerar uma questão concreta bem perigosa na nossa prova...Atenção!
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a.3) Bem próprio ou de terceiros: Esse requisito é bastante simples, pois haverá legítima defesa
quando o próprio indivíduo sofre a agressão, ou quando esta agressão é contra um terceiro, mesmo
sem haver qualquer vínculo entre quem atua defensivamente e esse terceiro.

a.4) Meio moderado: Por fim, precisamos lembrar que o agente deverá atuar utilizando apenas os
meios estritamente necessários e suficientes para afastar, fazer cessar a agressão, e ainda, de
acordo com o que estiver disponível para ele no momento.

ELEMENTOS Agressão atual ou iminente


INTEGRANTES DA
LEGÍTIMA DEFESA
Injusta agressão

Bem proprio ou de terceiros

Meio moderado

Não podemos deixar de lembrar que na falta de moderação, quando o agente vai além do necessário para
afastar a agressão, haverá o excesso, que será punido normalmente a título de dolo ou culpa (art. 23,
parágrafo único, do CP) e com base no resultado causado durante esse excesso.

Percebam que havendo excesso, o agente estará atuando de forma ilícita, permitindo assim que o agressor
originário possa se defender desse excesso passando a agir em legítima defesa.

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A legitima defesa que surge do excesso é chamada de legítima defesa sucessiva, pois sucede aquela em que
o agente (agressor originário) se excedeu.

Em certos casos, quando o excesso for produto de extremo abalo psicológico do agente, e em razão da
situação concreta não for possível se exigir a moderação, fala-se em excesso exculpante, considerado causa
supralegal de exclusão da culpabilidade, e o agente não responderá criminalmente por este excesso.

A Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime) acrescentou um parágrafo único no referido artigo 25 do Código
Penal, que prevê a excludente de ilicitude da legítima defesa, com o seguinte texto:

“ Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em
legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida
refém durante a prática de crimes.”

Tecnicamente, esta alteração era absolutamente desnecessária, e nos parece ter razões exclusivamente
políticas, já que as situações previstas neste novo paragrafo único já eram consideradas pela doutrina, e
jurisprudência, como abrangidas pela legítima defesa, pois, nestes casos agora previstos em Lei, há a estrita
necessidade do agente público repelir a injusta agressão, atual ou iminente, praticada contra um terceiro,
vítima ou refém de um crime.

A alteração legislativa talvez se justifique pela errônea interpretação, ainda dada por alguns, ao considerar
que, nestes casos, poderia se falar em estrito cumprimento de dever legal, o que, em tese, impediria a
exclusão da ilicitude do agente que eventualmente tirasse a vida de um meliante numa situação como esta.

Pessoal, de toda forma isso foi bom, não é? Pois, com a alteração promovida pela nova lei, esta errônea
interpretação fica definitivamente afastada, já que estas condutas passaram formalmente a ser tratadas pela
lei expressamente como hipóteses de legítima defesa, causa de exclusão da ilicitude e do crime.

5.2 - Estrito cumprimento do dever legal

Amigos, vamos passar agora para o estudo do estrito cumprimento do dever legal, causa de exclusão da
ilicitude bastante simples e que não possui artigo específico, apenas a previsão genérica do Art. 23 CP, como
causa de exclusão da ilicitude.

De forma simples, age licitamente o funcionário público que atua cumprindo os deveres legais inerentes a
sua função, desde que o faça de forma estrita, ou seja, dentro dos limites da sua função.

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Portanto, dá pra perceber que, mesmo realizando um fato típico, este funcionário não estará atuando de
forma ilícita e não haverá crime.

Ex.: Policial que efetua uma prisão cumprindo um mandado não responde pela privação da liberdade que
caracteriza o fato típico do sequestro (art. 148 do CP).

Como vimos, de acordo com nosso ordenamento, o estrito cumprimento de dever legal é causa de exclusão
da ilicitude, embora, de acordo com a famosa teoria da tipicidade conglobante (Zaffaroni), que não foi
adotada pelo nosso código, ele é reconhecido como causa de exclusão da própria tipicidade penal.

O policial que dispara sua arma contra meliante não atua em estrito cumprimento de dever
legal, e somente poderá fazer isso se estiver atuando em legítima defesa, própria ou de
terceiros, para repelir uma injusta agressão; caso contrário, responderá normalmente pelas
lesões geradas.

A legítima defesa putativa (virtual) não é excludente de ilicitude, já que na verdade não há
situação de legítima defesa, embora o agente acredite estar atuando em legítima defesa.
Via de regra, trata-se de um erro a respeito da situação de agressão, que na verdade não
existe, chamado erro de tipo permissivo (art. 20, § 1º, do CP), porém, em certos casos, a
legítima defesa putativa ocorre quando o agente erra a respeito da existência, ou mesmo
dos limites, da autorização para a legitima defesa, ocasionando assim um erro de proibição
(art. 21 CP), modalidades de erro que estudaremos no capítulo referente à teoria do erro.

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5.3 - Exercício regular de direito

Agora vamos tratar do exercício regular de direito, mais uma excludente de ilicitude que não possui artigo
específico, e em palavras simples podemos dizer que, de acordo com essa causa de exclusão da ilicitude,
age licitamente todo aquele que exerce de forma regular, e dentro dos limites, um direito que lhe tenha sido
outorgado pela lei.

Nesse caso, mesmo que realize um fato típico, não responderá pelo crime, já que estará afastada a ilicitude
da sua conduta.

Ex.: exercício do poder familiar, lesões desportivas (dentro das regras), intervenções cirúrgicas e as
ofendículas ou ofensáculos (meios de proteção da propriedade previamente colocados como: caco de vidro,
arame farpado, cachorro etc.).

A cerca elétrica, que é uma ofendícula, é vista por alguns doutrinadores como modalidade
de legítima defesa chamada de preordenada (também excludente de ilicitude), pois possui
funcionamento ativo capaz de afastar/repelir o agressor no momento em que este está
atuando, embora haja quem prefira tratá-la, junto com as demais ofendículas, como
hipótese de exercício regular de direito.

5.4 - Consentimento do ofendido

Por fim, vamos tratar do consentimento do ofendido, que é uma causa supralegal de exclusão da ilicitude,
já que não possui previsão na lei, e ocorre quando o titular de um bem jurídico disponível autoriza
previamente sua lesão, desde que o agente atue dentro dos limites do consentimento, afastando assim a
ilicitude da conduta e consequentemente o crime.

Atenção, o que pode aparecer como pegadinha neste tema, na nossa prova, é o fato de que não cabe
consentimento do ofendido em crimes contra a vida, já que o bem jurídico é indisponível, como por

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exemplo, na hipótese de uma eutanásia consentida, em que, mesmo com a autorização do titular da vida, o
agente que atuar responderá pelo homicídio doloso (privilegiado pelo motivo de relaxante valor moral).

Podemos, por fim, elencar algumas hipóteses de consentimento do ofendido, em que a ilicitude será
afastada, como por exemplo, autorizar certas lesões ao patrimônio, fazer uma tatuagem, um piercing,
condutas consentidas de sadomasoquismo, etc.

(FGV/IX Exame de Ordem Unificado) Acerca das causas excludentes de ilicitude e extintivas de punibilidade,
assinale a afirmativa incorreta.
a) A coação moral irresistível exclui a culpabilidade, enquanto que a coação física irresistível exclui a própria
conduta, de modo que, nesta segunda hipótese, sequer chegamos a analisar a tipicidade, pois não há
conduta penalmente relevante.
b) Em um bar, Caio, por notar que Tício olhava maliciosamente para sua namorada, desfere contra este um
soco no rosto. Aturdido, Tício vai ao chão, levantando-se em seguida, e vai atrás de Caio e o interpela quando
este já estava saindo do bar. Ao voltar-se para trás, atendendo ao chamado, Caio é surpreendido com um
soco no ventre. Tício praticou conduta típica, mas amparada por uma causa excludente de ilicitude.
c) Mévio, atendendo a ordem dada por seu líder religioso e, com o intuito de converter Rufus, permanece
na residência deste à sua revelia, ou seja, sem o seu consentimento. Neste caso, Mévio, mesmo cumprindo
ordem de seu superior e mesmo sendo tal ordem não manifestamente ilegal, pratica crime de violação de
domicílio (art. 150 do Código Penal), não estando amparado pela obediência hierárquica.
d) O consentimento do ofendido não foi previsto pelo nosso ordenamento jurídico-penal como uma causa
de exclusão da ilicitude. Todavia, sua natureza justificante é pacificamente aceita, desde que, entre outros
requisitos, o ofendido seja capaz de consentir e que tal consentimento recaia sobre bem disponível.
Comentários
Resposta: B
A questão se refere à análise das excludentes de ilicitudes e de culpabilidade e suas características, porém o
enunciado pede que seja assinalada a alternativa INCORRETA, logo, teremos três afirmativas corretas e
apenas uma errada.

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A alternativa “B” narra uma hipótese concreta em que o sujeito é agredido fisicamente, e, após sofrer a
agressão, quando o agressor já estava se retirando do local, vai em direção a este e o agride, “devolvendo”
o ataque, e afirma que, embora a conduta seja típica, haveria exclusão da ilicitude do fato.
O que pode parecer como uma situação de legítima defesa (art. 25 do CP), na verdade não é, pois, um dos
requisitos fundamentais dessa excludente de ilicitude é que a agressão a ser repelida seja “atual ou
iminente”, e na situação narrada a agressão já havia cessado (agressão passada). Sendo assim, a alternativa
“B” está INCORRETA, pois não há exclusão de ilicitude (legítima defesa) na conduta praticada e ambos os
agentes deverão responder pelos crimes de lesão corporal praticados. As demais alternativas encontram-se
corretas e de acordo com as normas previstas no Código Penal e a doutrina.

(FGV/XI Exame de Ordem Unificado) Débora estava em uma festa com seu namorado Eduardo e algumas
amigas quando percebeu que Camila, colega de faculdade, insinuava-se para Eduardo. Cega de raiva, Débora
esperou que Camila fosse ao banheiro e a seguiu. Chegando lá e percebendo que estavam sozinhas no
recinto, Débora desferiu vários tapas no rosto de Camila, causando-lhe lesões corporais de natureza leve.
Camila, por sua vez, atordoada com o acontecido, somente deu por si quando Débora já estava saindo do
banheiro, vangloriando-se da surra dada. Neste momento, com ódio de sua algoz, Camila levanta-se do chão,
agarra Débora pelos cabelos e a golpeia com uma tesourinha de unha que carregava na bolsa, causando-lhe
lesões de natureza grave. Com relação à conduta de Camila, assinale a afirmativa correta.
a) Agiu em legítima defesa.
b) Agiu em legítima defesa, mas deverá responder pelo excesso doloso.
c) Ficará isenta de pena por inexigibilidade de conduta diversa.
d) Praticou crime de lesão corporal de natureza grave, mas poderá ter a pena diminuída.
Comentários
Resposta: D
A questão se refere à possibilidade de aplicação do instituto da legítima defesa (art. 25 do CP), excludente
de ilicitude, ao caso concreto narrado.
Na conduta narrada a agressão produzida por Débora em Camila já havia cessado quando esta resolve se
levantar e golpear a desafeta com a tesoura de unha.
Dessa forma, já não havia agressão atual (ou iminente) por parte de Débora, o que impossibilita se falar em
legítima defesa por parte de Camila. Sendo assim, como a agressão já havia cessado quando Camila atacou
Débora, ela deverá responder pelas lesões corporais produzidas. Entretanto, como a conduta praticada por
Camila foi realizada sob violenta emoção e logo após a injusta provocação da vítima (Débora), deve-se aplicar
a causa de diminuição de pena prevista no art. 129, § 4º, do CP.

(FGV/XIII Exame de Ordem Unificado) Jaime, objetivando proteger sua residência, instala uma cerca elétrica
no muro. Certo dia, Cláudio, com o intuito de furtar a casa de Jaime, resolve pular o referido muro,
acreditando que conseguiria escapar da cerca elétrica ali instalada e bem visível para qualquer pessoa.
Cláudio, entretanto, não obtém sucesso e acaba levando um choque, inerente à atuação do mecanismo de

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proteção. Ocorre que, por sofrer de doença cardiovascular, o referido ladrão falece quase instantaneamente.
Após a análise pericial, ficou constatado que a descarga elétrica não era sufi ciente para matar uma pessoa
em condições normais de saúde, mas sufi ciente para provocar o óbito de Cláudio, em virtude de sua
cardiopatia. Nessa hipótese é correto afirmar que:
a) Jaime deve responder por homicídio culposo, na modalidade culpa consciente.
b) Jaime deve responder por homicídio doloso, na modalidade dolo eventual.
c) Pode ser aplicado à hipótese o instituto do resultado diverso do pretendido.
d) Pode ser aplicado à hipótese o instituto da legítima defesa preordenada.
Comentários
Resposta: D
O caso narrado aponta para um clássico exemplo das chamadas ofendículas, ou ofensáculos, ou seja,
obstáculos previamente colocados que visam a proteção do patrimônio ou propriedade. Também podem ser
vistos como exemplos de ofendículas, o arame farpado, cacos de vidro, o cachorro etc.
Há divergência quanto à natureza jurídica das ofendículas, sendo que a maioria da doutrina afirma que via
de regra são espécies de exercício regular de direito e, portanto, causas de exclusão da ilicitude (art. 23 do
CP).
Porém, no que tange à cerca elétrica, que possui funcionamento ativo capaz de afastar o invasor (agressor)
no momento em que este atua, boa parte da doutrina entende que seria melhor tratar esta ofendícula como
hipótese de legítima defesa (art.25 do CP), chamada de preordenada, já que repele, afasta o agressor, mas é
previamente colocada, predisposta, pelo titular do bem. Independentemente de se considerar a cerca
elétrica como hipótese de exercício regular de direito ou como espécie de legítima defesa chamada de
preordenada, ela será considerada causa de exclusão da ilicitude e o titular do bem não responderá pelas
lesões produzidas no agressor.

(FGV/XV Exame de Ordem Unificado) Carlos e seu filho de dez anos caminhavam por uma rua com pouco
movimento e bastante escura, já de madrugada, quando são surpreendidos com a vinda de um cão pitbull
na direção deles. Quando o animal iniciou o ataque contra a criança, Carlos, que estava armado e tinha
autorização para assim se encontrar, efetuou um disparo na direção do cão, que não foi atingido,
ricocheteando a bala em uma pedra e acabando por atingir o dono do animal, Leandro, que chegava
correndo em sua busca, pois notou que ele fugira clandestinamente da casa. A vítima atingida veio a falecer,
ficando constatado que Carlos não teria outro modo de agir para evitar o ataque do cão contra o seu filho,
não sendo sua conduta tachada de descuidada. Diante desse quadro, assinale a opção que apresenta a
situação jurídica de Carlos.
a) Carlos atuou em legítima defesa de seu filho, devendo responder, porém, pela morte de Leandro.
b) Carlos atuou em estado de necessidade defensivo, devendo responder, porém, pela morte de Leandro.
c) Carlos atuou em estado de necessidade e não deve responder pela morte de Leandro.

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d) Carlos atuou em estado de necessidade putativo, razão pela qual não deve responder pela morte de
Leandro
Comentários
Resposta: C
Esta questão envolve a análise tanto das excludentes de ilicitude (art. 23 do CP) quanto do erro quanto ao
crime praticado (art. 74 do CP) já que em face do erro acaba se acertando uma pessoa ao invés de atingir o
animal.
O ataque de animal configura situação de perigo, razão pela qual permite ao agente atuar em situação de
estado de necessidade para afastar esse perigo e preservar a integridade física de seu filho.
Não se pode falar em legítima defesa, pois não existe agressão, que pressupõe conduta humana, e no caso
de animal só se caracteriza agressão quando um ser humano utilizar o animal como arma para agredir
outrem.
Desta forma afasta-se a ilicitude da conduta, e Carlos não poderá responder pela morte do animal (Dano –
art. 163 do CP). Entretanto, houve um erro na conduta realizada e uma pessoa acabou sendo atingida pelo
disparo, vindo a morrer.
Quanto à imputação desta morte a Carlos há divergência, sendo que, a banca seguiu a linha de que se
entende a exclusão da ilicitude relativa à morte do animal para impedir a imputação do homicídio culposo
ao agente, embora a situação narrada seja a do art. 74 do CP, ou seja, aberratio criminis e este dispositivo
determine a imputação do resultado causado a título de culpa ao autor (art. 121, § 5º, do CP).

(FGV/XXV Exame da OAB) Laura, nascida em 21 de fevereiro de 2000, é inimiga declarada de Lívia, nascida
em 14 de dezembro de 1999, sendo que o principal motivo da rivalidade está no fato de que Lívia tem
interesse no namorado de Laura. Durante uma festa, em 19 de fevereiro de 2018, Laura vem a saber que
Lívia anunciou para todos que tentaria manter relações sexuais com o referido namorado. Soube, ainda, que
Lívia disse que, na semana seguinte, iria desferir um tapa no rosto de Laura, na frente de seus colegas, como
forma de humilhá-la.
Diante disso, para evitar que as ameaças de Lívia se concretizassem, Laura, durante a festa, desfere facadas
no peito de Lívia, mas terceiros intervêm e encaminham Lívia diretamente para o hospital. Dois dias depois,
Lívia vem a falecer em virtude dos golpes sofridos. Descobertos os fatos, o Ministério Público ofereceu
denúncia em face de Laura pela prática do crime de homicídio qualificado. Confirmados integralmente os
fatos, a defesa técnica de Laura deverá pleitear o reconhecimento da
A) inimputabilidade da agente.
B) legítima defesa.
C) inexigibilidade de conduta diversa.
D) atenuante da menoridade relativa.
Comentários
Resposta: A

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A imputabilidade, que podemos definir como a plena capacidade de entender o mundo e a natureza dos
fatos, e ainda de se autodeterminar de acordo com esse entendimento. Uma das causas de exclusão da
imputabilidade é a menoridade, segundo a qual há presunção absoluta de incapacidade fundada em
aspectos orgânicos, biológicos, logo, os menores de idade não cometem crime nem recebem pena.

(FGV/XVII Exame da OAB) Durante um assalto a uma instituição bancária, Antônio e Francisco, gerentes do
estabelecimento, são feitos reféns. Tendo ciência da condição deles de gerentes e da necessidade de que
suas digitais fossem inseridas em determinado sistema para abertura do cofre, os criminosos colocam, à
força, o dedo de Antônio no local necessário, abrindo, com isso, o cofre e subtraindo determinada quantia
em dinheiro. Além disso, sob a ameaça de morte da esposa de Francisco, exigem que este saia do banco,
levando a sacola de dinheiro juntamente com eles, enquanto apontam uma arma de fogo para os policiais
que tentavam efetuar a prisão dos agentes.
Analisando as condutas de Antônio e Francisco, com base no conceito tripartido de crime, é correto afirmar
que
A) Antônio não responderá pelo crime por ausência de tipicidade, enquanto Francisco não responderá por
ausência de ilicitude em sua conduta.
B) Antônio não responderá pelo crime por ausência de ilicitude, enquanto Francisco não responderá por
ausência de culpabilidade em sua conduta.
C) Antônio não responderá pelo crime por ausência de tipicidade, enquanto Francisco não responderá por
ausência de culpabilidade em sua conduta.
D) Ambos não responderão pelo crime por ausência de culpabilidade em suas condutas.
Comentários
Resposta: C
Segundo o conceito tripartido de crime, este é formado por três elementos, cumulativos e necessários para
que se possa falar em crime: Fato típico, Ilicitude ou antijuridicidade, Culpabilidade (reprovabilidade).
A tipicidade, em seu aspecto formal, é a descrição na lei da conduta humana proibida para qual se estabelece
uma sanção. Já a culpabilidade pode ser conceituada como a reprovabilidade pessoal da conduta típica e
ilícita praticada, sendo elemento integrante do conceito de crime, fundamento e pressuposto para a
aplicação da pena.
No caso trazido pelo enunciado, estamos diante de uma coação. Antônio foi coagido fisicamente, o que
afasta a conduta e logo a tipicidade; e Francisco foi coagido moralmente, o que afasta a culpabilidade.

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5.5 - Ilicitude

Perigo:

a) atual e inevitável
Estado de
b) não criado por vontade do sujeito
necessidade (art. 24
do CP)
c) bem próprio ou de terceiros

d) inexigibilidade do sacrifício do bem


ameaçado
Excludentes (art.
Agressão:
ILICITUDE 23 do CP)
a) atual ou iminente
Legítima defesa
b) injusta
(art. 25 do CP)
c) bem próprio ou de terceiro

d) meios moderados
Estrito cumprimento do dever legal (funcionário público)
Exercício regular do direito (ex.: ofendículas)
Consentimento do ofendido (causa supralegal de exclusão)

6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muito bem, galera, fechamos nosso estudo dos dois primeiros elementos do conceito analítico de crime,
passando pela tipicidade, com estudo do crime doloso e do crime culposo, e depois pelo estudo da ilicitude,
seus elementos e suas causas de exclusão, tema super cobrado na nossa prova!!!

Agora passaremos para o terceiro, e último, elemento integrante do conceito de crime, a culpabilidade que,
assim como a ilicitude, terá diversas causas de exclusão, para estudarmos e entendermos, e que esse
assunto também é muito recorrente na prova da OAB!!!

Até já!!!

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