Você está na página 1de 6

(49) 99977- 5988

deborabehmadv@gmail.com

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DO JUIZADO


ESPECIAL CÍVEL DA SUBSEÇÃO JUDICIARIA DE CHAPECÓ DO ESTADO DE
SANTA CATARINA.

JUSTIÇA GRATUITA

CRISPIM DA ANUNCIAÇÃO SILVA, brasileiro, maior, solteiro,


aposentado, portador do CPF 488.346.295-15, inscrito sob o RG
57.227.508-0, residente e domiciliado na Linha Quarta Secção, nº 0,
Zona Rural, CEP 89.883-000, município de Águas de Chapecó/SC,
por intermédio de suas procuradoras e advogadas, que ao final
subscrevem, vem, sempre respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência propor:

AÇÃO PREVIDENCIÁRIA
REVISIONAL DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ

INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO SOCIAL – INSS, na


pessoa de seu representante legal da procuradoria federal da
autarquia previdenciária, situada na Rua Rui Barbosa, n. 42-D,
centro, no município de Chapecó - SC, com os seguintes
fundamentos fáticos e jurídicos a serem deduzidos a seguir.

1. PRELIMINARMENTE:___________________________________________

1.1. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA:___________________________________

O segurado não possui condições financeiras para arcar com as custas


processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo do seu sustento e de sua
família. Nesse sentido, junta-se Declaração de Hipossuficiência, cópia da Carteira de
Trabalho e Cadastro Nacional de Informações Sociais.

Por tais razões, pleiteiam-se os BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA,


assegurados pela Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e pela NCPC, artigo 98 e
seguintes.
(49) 99977- 5988
deborabehmadv@gmail.com

2. DOS FATOS E FUNDAMENTOS JURÍDICOS:_________________________

O Autor teve concedido o Benefício de Aposentadoria por Invalidez


Previdenciário, sob o NB 645.725.997-2, com DIB em 17/07/2023, contudo, o RMI
foi atribuído no valor errôneo de R$ 1.320,00 (um mil e trezentos e vinte reais).

Previamente, é crucial relembrar que antes da Reforma da Previdência


(EC 103/2019), o coeficiente de aposentadoria por invalidez era sempre de
100% do salário de benefício do segurado (art. 44 da Lei 8.213/91).

No entanto, com o advento da Reforma, conforme seu art. 26, §2º, a RMI
da aposentadoria por invalidez passaria a corresponder a um coeficiente de 60% +
2% a cada ano de contribuição que exceder 20 anos (segurado do sexo masculino).

Constata-se, que há ausência de proporcionalidade e razoabilidade


na adoção da nova forma de cálculo da aposentadoria por invalidez, eis que a
aposentadoria por invalidez é um benefício de prestação continuada substitutivo de
renda devido justamente aos segurados que perderam a capacidade laborativa
(o que nem sempre ocorre com a aposentadoria por tempo de contribuição e com a
aposentadoria por idade), não podendo haver uma quebra abissal de uma certa
equivalência entre o custeio e o benefício, que é o que passou a ocorrer, pois 40%
(quarenta por cento) de perda no valor nominal imposto pela nova forma de cálculo
já corresponderia a uma espécie de confisco.

E neste tipo de situação com o agravante de que essa "quebra abissal de


uma certa equivalência entre o custeio e o benefício" ocorre sem paralelo com os
demais benefícios do RGPS, inclusive com as outras aposentadorias (e aí estaria a
falta de proporcionalidade e de razoabilidade também, pois apenas um benefício não
poderia sofrer toda essa perda no bojo de uma mesma reforma).

E com o agravante de que justamente a aposentadoria por invalidez


não pode ser programada (então a pessoa não pode se antecipar poupando, e a
invalidez pode até surgir em pessoas bem jovens) em flagrante violação à
dignidade da pessoa humana e justamente em flagrante violação da dignidade
das pessoas mais vulneráveis, que são as pessoas incapacitadas
permanentemente sob o ponto de vista médico e jurídico, as quais, inclusive no
âmbito do Direito Comparado, são justamente as pessoas que precisam de uma
maior proteção previdenciária, que corresponde ao núcleo essencial do Direito
Previdenciário.

Ademais, no caso em tela, na medida em que o benefício de


aposentadoria por invalidez reconhecido ao segurado é precedido de auxílio-
doença implantado em 06/06/2019 (primeiro benefício concedido ao segurado em
virtude das patologias da coluna), e o benefício n. 641.008.918-3 que o segurado
recebia e foi convertido em aposentadoria por invalidez possuía salario maior do que
o benefício convertido, visto que o auxílio doença possuía RMI de R$ 1.895,33 e a
aposentadoria por invalidez R$ 1.320,00.

Assim, evidenciado está que a aposentadoria por invalidez não é um


novo de benefício, mas, sim, a continuação do original pela simples conversão
(49) 99977- 5988
deborabehmadv@gmail.com

da renda mensal inicial (RMI) inicial de 91% para 100% do salário-de-benefício,


nos termos estabelecidos pelo art. 44 da Lei nº 8.213/91, não se sujeitando às
inovações trazidas pela EC nº103/2019, pois decorrente de relação jurídica e fática
geradora nascida em momento anterior.

Consequentemente, não tardou para que a inconstitucionalidade da


alteração promovida fosse reconhecida pelo Poder Judiciário, com efeito, após
reiterados precedentes favoráveis de Turmas Recursais, a questão foi apreciada
pelo órgão máximo de uniformização de jurisprudência no âmbito do
microssistema dos Juizados Especiais na 4ª Região, qual seja, a Turma Regional
de Uniformização da 4ª Região (TRU-4), a qual ratificou o reconhecimento da
inconstitucionalidade do art. 26, §2º da EC nº 103/2019, em julgado assim
ementado, cujo aresto adotamos como causa de pedir:

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INCAPACIDADE


PERMANENTE. DISCRIMINAÇÃO ENTRE OS COEFICIENTES DA
ACIDENTÁRIA E DA NÃO ACIDENTÁRIA. CÁLCULO DA RENDA
MENSAL INICIAL. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 26, § 2º, III, DA
EC N.º 103/2019. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA
ISONOMIA, DA RAZOABILIDADE E DA IRREDUTIBILIDADE DO VALOR
DOS BENEFÍCIOS E DA PROIBIÇÃO DA PROTEÇÃO DEFICIENTE.
1. A EC 103/2019 alterou a forma de cálculo dos benefícios
previdenciários. Em relação a aposentadoria por incapacidade permanente
não acidentária, estabeleceu, até o advento de lei posterior, que o seu
cálculo, corresponda a 60% (sessenta por cento) da média aritmética
simples dos salários de contribuição contidos no período de apuração, com
acréscimo de 2% (dois por cento) para cada ano de contribuição que
exceder o tempo de 20 anos de contribuição para os homens ou 15 anos de
contribuição para as mulheres.
2. O art. 194, parágrafo único, IV, da CF/88, garante a
irredutibilidade do valor dos benefícios. Como a EC 103/19 não tratou do
auxílio-doença (agora auxílio por incapacidade temporária) criou uma
situação paradoxal. De fato, continua sendo aplicável o art. 61 da LBPS,
cuja renda mensal inicial corresponde a 91% do salário de benefício. Desta
forma, se um segurado estiver recebendo auxílio-doença que for convertido
em aposentadoria por incapacidade permanente, terá uma redução
substancial, não fazendo sentido, do ponto de vista da proteção social,
que um benefício por incapacidade temporária tenha um valor superior
a um benefício por incapacidade permanente.
3. Ademais, não há motivo objetivo plausível para haver
discriminação entre os coeficientes aplicáveis à aposentadoria por
incapacidade permanente acidentária e não acidentária.
4. Em razão da inconstitucionalidade do inciso III do §2º do art.
26 da EC 103/2019, esta turma delibera por fixar a seguinte tese : "O
valor da renda mensal inicial (RMI) da aposentadoria por
incapacidade permanente não acidentária continua sendo
de 100% (cem por cento) da média aritmética simples dos
salários de contribuição contidos no período básico de
cálculo (PBC). Tratando-se de benefício com DIB posterior a EC
103/19, o período de apuração será de 100% do período contributivo
desde a competência julho de 1994, ou desde o início da contribuição,
se posterior àquela competência. (TRU-4, PEDILEF Nº 5003241-
81.2021.4.04.7122/RS, Rel. JUIZ FEDERAL DANIEL MACHADO DA
ROCHA, j. em 11.03.2022).
(49) 99977- 5988
deborabehmadv@gmail.com

As Turmas Recursais dos Juizados Especiais Fenderias de São Paulo, do


mesmo modo estão abordando sobre definir se os benefícios de aposentadoria por
incapacidade permanente, sob a vigência da EC nº 103/2019, devem ser concedidos
ou revistos, de forma a se afastar a forma de cálculo prevista no art. 26, §2º, III,
da EC nº 103/2019, ao argumento de que seria inconstitucional, como é possível
observar:

PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA CONVERTIDO EM


APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. REDUÇÃO DA RMI. APLICAÇÃO
REGRAS EC Nº 103/2019. SOBRESTAMENTO.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,
decide a Quinta Turma Recursal do Juizado Especial Federal da Terceira
Região - Seção Judiciária de São Paulo, por unanimidade, sobrestamento
do feito, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante
do presente julgado.

JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO. TURMAS RECURSAIS


DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS DE SÃO PAULO. RECURSO
INOMINADO CÍVEL (460) Nº 0088839-56.2021.4.03.6301. RELATOR: 15º
Juiz Federal da 5ª TR SP. RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO
SEGURO SOCIAL – INSS.
RECORRIDO: ANDRE HENRIQUE RODRIGUES DE ARRUDA

VOTO
No caso dos autos, a autora relata que esteve em gozo de auxílio-doença
NB 617.229.763-9, no período de 08/01/2017 a 21/11/2019, com DII em
24.12.2016, com renda de R$ 2.650,83. Relata que o benefício foi cessado
em razão de não ter comparecido à nova perícia médica. Novo auxílio-
doença foi concedido sob NB 630824068-4, com DER e DIB em 24.12.2019
e renda de R$ 2.412,25, que cessou em 22/01/2021, quando lhe foi
concedida a aposentadoria por incapacidade permanente, com data
retroativa a 14/01/2020, com valor de R$ 1.847,57.
Assim, houve uma redução na RMI/RMA de sua renda mensal após a
conversão do auxílio-doença em aposentadoria por invalidez.
A parte autora requer o reconhecimento de “direito adquirido, nos
termos do art. 5º, inc. XXXVI, e ao final, determinar por sentença a
revisão do benefício previdenciário com a consequente aplicação da
fórmula de cálculo anterior a EC 103/2019, condenando-se a Requerida
nas custas processuais e honorários de sucumbência e demais
cominações legais; Ou ainda, que seja determinada a
inconstitucionalidade do art. 26, §§ 2º e 5º da EC 103/2019, nos termos
do art. 194, parágrafo único, inc. IV, da Constituição Federal.
EC103/2019.”
Observo que há determinação de suspensão de todos os processos
pendentes, individuais ou coletivos, que versem acerca da questão
delimitada pelo Tema 318 da Turma Nacional de Uniformização:
Definir se os benefícios de aposentadoria por incapacidade
permanente, sob a vigência da EC nº 103/2019, devem ser concedidos
ou revistos, de forma a se afastar a forma de cálculo prevista no art.
26, §2º, III, da EC nº 103/2019, ao argumento de que seria
inconstitucional.
Outrossim, é de se destacar a importância da uniformização de
jurisprudência como corolário do princípio da segurança jurídica, e seu
papel na conjugação de valores dentro da sistemática processual moderna,
baseada pela ponderação entre princípios como a celeridade, a segurança e
a justiça.
Desta feita, voto no sentido de sobrestar o processo, no aguardo da fixação
de tese sobre o assunto. Acautelem-se os autos em pasta própria. É o voto.
(49) 99977- 5988
deborabehmadv@gmail.com

Além disso, é dever do INSS reconhecer o direito ao melhor benefício ao


segurado, possui, inclusive, previsão na Instrução Normativa do INSS, isto é, já foi
internalizado pela Autarquia Previdenciária. Veja-se o disposto no art. 687 da IN nº
77/2015: Art. 687. O INSS deve conceder o melhor benefício a que o segurado
fizer jus, cabendo ao servidor orientar nesse sentido.

Aliado a isso, o artigo 688 determina que, quando estiverem satisfeitos os


requisitos para mais de um tipo de benefício, o INSS deverá oferecer direito de
opção, mediante a apresentação dos demonstrativos financeiros.

Por sua vez, o Enunciado 5 do CRPS dispõe que “a Previdência Social


deve conceder o melhor benefício a que o segurado fizer jus, cabendo ao servidor
orientá-lo nesse sentido”.

Já o art. 176-E do Decreto 3.048/99 determina: Art. 176-E. Caberá ao


INSS conceder o benefício mais vantajoso ao requerente ou benefício diverso do
requerido, desde que os elementos constantes do processo administrativo
assegurem o reconhecimento desse direito. Importante mencionar que o STF já se
manifestou sobre este princípio:

Na ocasião, foi decidido que o segurado tem o direito de ter o seu


benefício concedido ou revisado de modo que corresponda à maior
renda mensal possível entre aquela obtida inicialmente e aquela que
estaria recebendo no momento, se houvesse requerido anteriormente o
benefício, quando já preenchidos os requisitos para a sua concessão (RE
630.501/RS, Relª. Minª. Ellen Gracie, Rel. p/ Acórdão Min. Marco Aurélio,
Tribunal Pleno, DJe 23.08.2013).

Conforme cálculo em anexo, no caso concreto, a RMI apurada com o


afastamento do art. 26, §2º, da EC 103/2019 é mais favorável à parte autora,
indo de R$ 1.320,00 (um mil e trezentos e vinte reais), para R$ 1.949,21 (um mil e
novecentos e quarenta e nove reais e vinte e um centavos), razão pela qual
requer-se a declaração incidental de sua inconstitucionalidade, procedendo-se ao
cálculo da RMI com aplicação de coeficiente de 100% do salário de benefício.

3. PEDIDOS:____________________________________________________

Desse modo, a autora vem, respeitosamente, requerer:

a) Seja RECEBIDA A PRESENTE com os documentos que a


acompanham.

b) Requer os Benefícios da GRATUIDADE DA JUSTIÇA, na medida em


que a Autora não possui condições de custear o processo sem prejudicar seu
sustento ou de sua família, nos termos do art. 5º, LXXIV, da CRFB/88 e do art. 98 e
seguintes, do CPC/15, conforme os documentos anexos.
(49) 99977- 5988
deborabehmadv@gmail.com

c) Seja determinada a CITAÇÃO DA AUTARQUIA RÉ, para contestar a


presente.
d) REQUER A TOTAL PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS, IMPONDO AO
INSS na obrigação de fazer, consubstanciada na REVISÃO DA RMI DO
BENEFÍCIO NB 645.725.997-2 PARA R$ 1.949,21 (um mil e novecentos e
quarenta e nove reais e vinte e um centavos), a qual foi majorada, conforme
cálculo em anexo, em razão da aplicação do coeficiente de 100% sobre o salário de
benefício, conforme julgamento do PEDILEF Nº 5003241-81.2021.4.04.7122/RS
pela Turma Regional de Uniformização da 4ª Região,

e) Ou, caso seja o entendimento do juízo, a cessação da aposentadoria


por invalidez n. 645.725.997-2 e restabelecimento do auxílio doença n. 641.008.918-
3 por tempo indeterminado, visto a redução substancial da RMI, visando a
proteção social do segurado.

f) Requer a CONDENAÇÃO DO INSS NA OBRIGAÇÃO DE PAGAR AS


DIFERENÇAS DEVIDAS DESDE A DIB DO BENEFÍCIO ATÉ A DATA DA
EFETIVA IMPLANTAÇÃO DA REVISÃO, devidamente atualizadas pelo manual de
cálculos da Justiça Federal e do Tema 810 do STF por ocasião do cumprimento de
sentença.

g) A parte autora informa inexistir interesse em audiência de conciliação,


sobretudo por se tratar de matéria de direito e ante a notória impossibilidade de
acordo em questões como a presente por parte do INSS.

h) Condenar o Réu ao pagamento das CUSTAS PROCESSUAIS E


HONORÁRIAS ADVOCATÍCIOS.

Protesta, outrossim, PROVAR O ALEGADO POR TODOS OS MEIOS DE


PROVAS EM DIREITO ADMITIDAS, tal como pela prova documental ora
acostada, testemunhal e depoimento pessoais, assim como todas as outras que
se evidenciarem necessárias.

Dá-se a causa o valor de R$ 9.708,07 (nove mil e setecentos e oito reais e sete
centavos).

Nestes Termos,
Pede e espera o Deferimento.
Chapecó-SC, 23 de outubro de 2023.

DÉBORA BEHM DA SILVA KARINA BRANDT


OAB/SC 66.352 OAB/SC 42.333

Você também pode gostar