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Humberto Delgado foi morto à


paulada

FRANCISCO MANGAS

O Porto, que "guarda os homens livres no âmago do seu coração", homenageou ontem Humberto
Delgado, cinquenta anos depois do general, na abertura da campanha para as presidenciais, ser recebido
por uma multidão impressionante. Nesse dia, prometeu deixar à cidade o seu coração, o Porto ergue-lhe
agora uma estátua e lança um apelo para que seja reposta a verdade sobre a sua morte.

Foi Artur Santos Silva, durante a apresentação do volumoso livro Humberto Delgado/ Biografia do
General Sem Medo, ontem de manhã, que lançou o desafio. Essa obra, escrita por Frederico Delgado
Rosa, neto do biografado, deve ser o ponto de partida para amplo debate público e "relançamento do
julgamento de Humberto Delgado". Porque o general, oposicionista de Salazar, "não foi morto a tiro,
mas à paulada, num acto premeditado".

A brigada PIDE, que em 1965 assassinou o general Delgado na zona de Badajoz (Espanha), já levava
consigo "ácido sulfúrico e cal" para precipitar a decomposição do cadáver, disse Santos Silva. O autor da
biografia não confirma a presença de ácido sulfúrico, mas está provada a existência de cal. O relatório da
autópsia, que as autoridades espanholas elaboraram, demonstra, sublinha Delgado Rosa, que o seu avô
morreu na sequência de um "espancamento selvático". Mas esse facto "não convinha aos juízes do
Tribunal de Santa Clara", Lisboa, que, em 1978, julgaram os elementos da polícia política, autores da
cilada na zona de Badajoz.

O tribunal, que recusou o relatório das autoridade espanholas e a realização de uma nova autópsia,
"fabricou uma mentira estrondosa", acusa o biógrafo do General sem Medo. "A morte a tiro fez do autor
material o único bode expiatório, os restantes elementos foram assim ilibados." Os juízes defenderam a
tese de que "a brigada da PIDE não foi para matar, mas para prender o general".

A homenagem ao general, 50 anos depois de passar pelo Porto e abrir caminho à queda da Ditadura, foi
uma iniciativa da Fundação Humberto Delgado, Governo Civil e Câmara do Porto. A estátua, da autoria
de José Rodrigues, que mostra Delgado envolto numa bandeira nacional, na Praça de Carlos Alberto, fica
a escassos metros da antiga sede de candidatura do candidato oposicionista a Salazar. Na cerimónia
intervieram também o autarca Rui Rio, o ministro Augusto Santos Silva, Isabel Oneto, governadora civil,
Iva Delgado e Coelho dos Santos, que integrava a campanha de Delgado em 1958.

O que aconteceu no Porto, há 50 anos, com uma multidão estimada em 200 mil pessoas a receber
Humberto Delgado, segundo Iva Delgado, filha do general, foi uma verdadeira revolução. "Foi um
momento de paixão pela liberdade", disse. Por seu turno, Rui Rio lembrou que o povo do Porto, ao apoiar
Delgado em 1958, demonstrou mais uma vez "ter razão antes do tempo".|

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