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CIÊNCIA POLÍTICA

Conceito e objeto
A Ciência Política é uma ciência que procura conhecer, descrever, explicar e

sistematizar os fenómenos políticos. Estuda as regras que presidem ao funcionamento

dos sistemas políticos, assim como as causas, características e consequências dos

fenómenos políticos. Analisa os problemas através da observação dos factos e a sua

explicação através de conceitos.

É a partir da Filoso a que surgem diversas disciplinas como o Direito, onde se

inserem vários ramos, como o Direito Constitucional. Neste, incluía-se o estudo do

fenómeno estadual, ou seja, estudava o Estado.

A partir do século XIX, inicia-se um movimento de separação entre o Direito

constitucional e a Ciência Política. Alguns pensadores acreditavam que o Direito

Constitucional não abordava todos os temas políticos que a disciplina deveria estudar.

O argumento utilizado seria que todas as ciências estudavam o indivíduo e o seu

comportamento - realidade social - e, sendo esta realidade muito complexa, cada

disciplina abrange-a de forma diferente.


Em Portugal, esta disciplina emerge mais tarde, visto que foi apenas em 1974

que se separou da disciplina de Direito Constitucional.

É importante que se faça a distinção entre Direito Constitucional e Ciência

Política. De acordo com a primeira, a sociedade política é observada através de normas,

sendo por elas formada e tendo como objeto uma realidade normativa. O Direito

Constitucional visa “o que deve ser”, constituindo, por isso, uma ciência jurídica. A

segunda conhece, descreve, explica e sistematiza os fenómenos políticos, tendo como

objeto uma realidade factual, visa o “ser”, sendo, por esse motivo, uma ciência

descritiva. Ambas as disciplinas estudam as estruturas políticas do Estado.

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A disciplina de Ciência Política engloba três perspetivas: o Estado, o poder

político e o sistema político. O Estado tem três elementos fundamentais: o povo (art.º

4.º CRP), o território (art.º 5.º CRP) e o poder político/soberania (art.º 3.º CRP). Este

engloba a função legislativa (em si e constituinte), a função executiva (política e

administrativa) e a função judicial (esta não é tida como uma função política, mas como

uma técnica de aplicação do Direito). O poder político subdivide-se em fenómeno

estadual (FE) e fenómeno Político (FP). Existem três concepções diferentes: FE < FP,

FE = FP, FE > FP.

FE < FP: Nesta concepção, nem todo o fenómeno estadual é fenómeno político. A

função judicial não pode ser tida como fenómeno político, uma vez que se trata

meramente de uma técnica de aplicação do Direito. Apenas as funções executiva e

legislativa são políticas.

FE = FP: De acordo com este concepção, a função judicial incluía-se no fenómeno

político. Tudo o que é fenómeno estadual é também fenómeno político. As funções do

Estado (legislativa, executiva e judicial) pertencem a ambos os fenómenos.Desta forma,

quando Estado legisla, julga ou administra está a produzir fenómenos políticos.

FE > FP: Segundo esta concepção, o fenómeno político não se restringe apenas e só ao

Estado. Nele, inserem-se as ações dos partidos ou grupos de interesse que tentem

in uenciar o poder. O fenómeno político não está de acordo com o fenómeno estadual,

uma vez que o primeiro se revela menos abrangente ao estudar a de nição e o

funcionamento do partidos políticos, grupos de pressão, associações sindicais e

patronais, a opinião pública, manifestações, entre outros.

O fenómeno político pressupõe uma relação de poder, uma distinção entre

governante e governado ou é o resultado de um con ito de interesses com vista à

conquista ou exercício do poder político. É essencial a ideia de autoridade, possuir

autoridade ou ter força para exercer ou in uenciar o poder.

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A Ciência Política pode ser tida como arte, saber ou ciência. A política é o saber

associar uma boa atividade com uma boa organização da polis, em nome do interesse

comum de todos (Aristóteles). A política é a arte de governar. Por outro lado, ela era

vista como o conjunto de regras a observar para a obtenção e perpetuação do poder

(Maquiavel). A política é a ciência que procura ordenar, sistematizar e dar a conhecer a

realidade política, através do estudo dos fenómenos políticos.

O sistema político
Tendo em conta que o fenómeno político é mais amplo que o fenómeno

estadual, a Ciência Política estuda as atividades políticas, no seu campo mais global, de

uma sociedade, enquadradas num sistema político. De modo a estudar os fenómenos

políticos, é estabelecido um sistema e um modelo teórico. Numa perspetiva sistémica, é

considerado um sistema como um conjunto de variáveis. Desta forma, o sistema político

é um sistema aberto, através do qual se conseguem ver as causas e efeitos de cada

fenómeno. Este sistema recebe inputs provenientes de outros sistemas intrassociais da

mesma sociedade ou de outros sistemas sociais de outras sociedades globais.

Os inputs são ações ou causas dos fenómenos políticos. Podem ser ações de
apoio ao sistema político ou exigências, reivindicações ao sistema político, como

manifestações, eleições, referendos, petições, entre outros. A partir do efeito que é

produzido no sistema político, resultam outputs, isto é, a resposta do sistema político

para resolver o desequilíbrio gerado. A resposta do Estado - os outputs - em relação aos

inputs produz-se através das suas funções (judicial, legislativa e administrativa).

Por sua vez, as modi cações concebidas de forma a que o sistema político se

adaptasse aos efeitos causados pelos fenómenos, por vezes criam novos inputs que

entram no sistema através de um mecanismo de retração ou feedback.

Na sua globalidade, o sistema é caracterizado por duas leis principais: lei da

homeostase e lei da entropia.

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Lei da homeostase: de acordo com esta lei, os sistemas têm tendência para o equilíbrio,

apesar dos impactos e alterações. O sistema político tem a capacidade de conservar o

equilíbrio, interno, apesar dos fatores de alteração, sendo que é através dos outputs

que o equilíbrio se mantém.

Lei da entropia: Segundo esta lei, o sistema tem tendência para um maior equilíbrio e

complexidade, de modo a atenuar o impacto dos inputs sobre o centro de decisão. O

sistema vai-se organizando cada vez mais de forma a reduzir a pressão e que as

exigências feitas causem menos desequilíbrios.

O Estado
O Estado é uma entidade abstrata que atua através de orgãos que o

representam. O Estado surge como uma comunidade politicamente organizada (criado

pelo Homem), xa em determinado território, que lhe é privado e possui como

características a soberania e a legalidade. Os três grandes elementos pertencentes ao

Estado são o povo, o território - constituído por vários domínios - e o poder político.

Todos os Estados estão subordinados à respetiva constituição, uma vez que esta
tem a função de organizar e delimitar o poder político. Cada Estado exerce a função

legislativa, através da produção de leis, cando subordinado às mesma (art.º 3, nº2

CRP). Todos os Estados devem respeitar as normas do Direito Internacional (em

Portugal, art.º 8.º CRP).

O Estado é também a ordem jurídica de uma certa comunidade. É um conjunto

de regras necessárias a um mínimo de organização que é exigível. O Estado é a maior

instituição a nível interno.

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Contexto em que surge o Estado

Até ns do século XVI, não existiu um Estado tal como hoje é entendido, uma vez

que não existia um território xo, um poder que se exercesse de forma molecular sobre

todo o território, não existindo ainda um vínculo de nacionalidade. Em virtude dos

descobrimentos, o renascimento, a teorização do absolutismo, surgiu o Estado

moderno, com o território mais ou menos bem delimitado e o poder soberano

absoluto. Acerca da origem do Estado existem diversas teses.

Teses naturalistas

De acordo com as teses naturalistas, o Homem é um ser social, com tendência

para viver em sociedade. O ser humano nasce egoísta e agressivo, com instinto de

sobrevivência e de procriação, atribuído pela natureza.

Segundo Aristóteles, a família é a primeira forma de Estado. Porém, uma só

família não é auto-sustentável e, desta forma, coopera com outras famílias, formando

uma tribo. As tribos acabam por se unir a outras, de forma a garantir a sua

sobrevivência, levando assim à formação de um Estado.

Os grandes defensores das teses naturalistas são, essencialmente, Aristóteles,


Cícero e S. Tomás de Aquino.

Teses contratualistas

As teses contratualistas têm como base a racionalidade. O estado natural do

Homem é desorganizado e está em constante con ito. O ser humano nasce num estado

agressivo, de egoísmo e de sobrevivência, dispondo de liberdade absoluta. A

característica agressiva do Homem, por sua vez, gera con ito, colocando em causa a

sua sobrevivência. Deste modo, o Homem conclui que tem de ceder uma porção das

suas liberdades em prol da comunidade, estabelecendo um contrato social que vai

impor a criação de uma sociedade civil, organizada através de um contrato voluntário

com reciprocidade.
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O contrato social subdivide-se em duas partes: pactum unionis - que consiste na

criação da sociedade civil organizada - e pactum subjectionis - que consiste no ato de

subordinação à vontade da maioria, que designa os governantes que irão ditar e

executar as regras necessárias à comunidade.

Os grandes defensores das teses contratualistas são Thomas Hobbes (estado

natural, violento e egoísta; contrato irrevogável; preferência pela monarquia), John

Locke (estado natural de incerteza, não tão violento; normas que diminuem a incerteza;

poder sempre do povo, que pode retirar poder; os seus direitos não são alienáveis) e

Jean-Jacques Rosseau (o Homem nasce livre; o Estado protege o Homem e os seus

bens; possível alienação dos seus direitos em benefício da vontade geral).

Teses organicistas

As teses organicistas oscilam entre a consideração do Estado como unidade

espiritual e a equiparação a um organismo natural ou biológico.

Teses voluntaristas

As testes voluntaristas defendem que o Homem foi obrigado a agrupar-se de


forma a sobreviver. É a partir deste ponto que surgem as tribos e os clãs, onde existia

uma imensa solidariedade entre os seus membros, que obedeciam à ordem derivada

de regras naturais de sobrevivência, imposta pelo mais forte. O aparecimento do

Estado não pode resultar da vontade de todos. A partir dos pequenos grupos ter-se-ão

formado outros maiores.

De acordo com esta tese, o Estado resulta de uma ato de vontade. Os orgãos

constituídos por este vão depender da forma política, do regime político e do sistema

de governo. As primeiras regras do Estado correspondem ao modo reorganização, aos

poderes, aos orgãos e à posição do indivíduo perante o Estado. Este ca sujeito às

normas que cria, estando sujeitas à scalização da sua constitucionalidade.

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Caracterização e tipos históricos de Estado

Ao longo da história sucederam-se vários tipos de Estado. Houve várias

abordagens quanto à sua tipologia:

• Quanto ao m de Estado: conservador, reformista, revolucionário, entre

outros.
• Quanto ao grau de intervenção: abstencionista, intervencionista, totalitário,

entre outros.
• Quanto à evolução histórica: antigo, moderno, contemporâneo.
• Quanto ao modo de produção: despótico, esclavagista, feudal, capitalista,

socialista, entre outros.

Faz-se a distinção entre o Estado na fase pré-constitucional de Estado na fase

constitucional, sendo que aquilo que os diferencia é a implementação da Constituição,

marco importante do século XVIII, na Europa e na América. A Constituição é o

documento que organiza de forma escrita o poder político e limita a sua ação que, por

sua vez, protege os direitos fundamentais do povo.

Estados na fase pré-constitucional

Estados antigos

Nos Estados antigos, a estrutura estadual não se assemelha àquela que

conhecemos nos dia de hoje. O Estado é, de certa forma, estruturado, porém a

instabilidade territorial, a falta de poder centralizado e a inexistência de vínculo de

nacionalidade perpetuam a concepção de que não existia ideia de nação.

Dentro dos Estados antigos encontra-mos o Estado Ocidental, o Estado Grego e

o Estado Romano.

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Estado Oriental

É monárquico e teocrático, ou seja, o poder religioso é intrínseco ao poder

político. Neste Estado, o monarca é adorado e tido como um líder espiritual. A ordem

social é caracterizada pela elevada hierarquização e acentuada desigualdade,

interessando também as garantias jurídicas dos cidadãos, neste Estado, reduzidas. O

povo possui origens étnicas distintas, agregadas pela força. O grande objetivo deste

Estado é a expansão universal. São exemplos deste Estado: Egito, Pérsia, Síria e China.

Estado Grego

Surge o conceito de Cidade-Estado, de pequena extensão territorial. Exercia-se

uma democracia direta e as cidades estavam ligadas pela tradição, pela defesa, pelo

culto religioso e por uma política comum. Só aos cidadãos da cidade pertenciam os

direitos políticos. Os restantes indivíduos eram tidos como estrangeiros e estavam

sujeitos a uma jurisdição especial. O poder político era organizado, havendo já a

existência de leis e alguma separação de poderes. Era dada primazia à liberdade

individual e ao exercício da soberania, que constituía um dos deveres dos cidadãos. O

Estado tinha poder, desde que este fosse devidamente justi cado pela leis formuladas

pelos cidadãos. Possui, de certa forma, in uência do Ocidente.

Estado Romano

A concepção territorial é mais ampla, apesar da Roma se encontrar no centro da

ação. Os cidadãos romanos possuem alguns direitos básicos, tais como o direito ao

casamento, o direito à propriedade, o direito de voto e o direito de ser eleito para

exercer determinados cargos públicos. O poder político é observado como um poder

supremo e uno, cuja plenitude pode ou deve ser reservada a uma só pessoa, um único

detentor, fazendo-se a distinção de imperium, de potestas e majestas. Inicia-se uma

monarquia que, posteriormente, virá a ser uma república, depois um principado e

império, onde a concentração de poderes prevalece. O cristianismo surge e, por sua

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vez, abala o sistema, uma vez que reconhece à pessoa humana uma nova posição

dentro da comunidade política e contesta o carácter sagrado do imperador.

Surge a distinção entre poder público (Direito Público - do Estado) e poder

privado (Direito Privado - do pater familias).

“Estado” medieval

Este “Estado” encontra-se dividido em duas fases - a das invasões e a da

reconstrução. Aqui, o poder é reduzido à autoridade da igreja e o poder dos senhores.

Existe a ausência de um Estado, tal como o conhecemos, dado que há uma

diversi cação de poderes particulares, sendo o poder político difuso, concentrado nos

privados (estes eram titulares privilégios, com posições jurídicas que lhes adivinham de

posições sociais que ocupavam na hierarquia feudal). Neste contexto, o poder privatiza-

se e, ao invés do conceito de imperium, temos o dominium (derivado da supremacia

territorial). É a concepção patrimonial do poder.

No “Estado” medieval, os direitos dos cidadãos dependem da classe social a que

pertenciam e da hierarquia de relações de vassalagem. A liberdade advém do estatuto

da pessoa e não da titularidade de direitos enquanto indivíduo.

O rei apenas era detetor do título, estando no topo do poder político sem
qualquer tipo de poder efetivo. Este tinha que subordinar ao papa, o que enfraquecia o

poder político que lhe era concedido.

A partir do século XII/XIV dão-se grandes mudanças: a nação desenvolve-se e o

Direito Romano renasce. Desenrola-se um processo de centralização do poder político

e da emancipação face à igreja, bem como de eliminação de privilégios feudais.

Começa a surgir um reforço de conceitos como o de nação, secularização e de

soberania, voltando o poder a concentrar-se na gura do rei. A justiça e o Direito são

agora a lei-vontade do monarca.

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Estados na fase constitucional

Com o crescimento do capitalismo, a burguesia desenvolve-se. A disparidade

entre poder económico desta classe social e a falta de poder político que lhe é

concedido vão impulsionar as revoluções liberais e o crescimento dos ideais ligados a

estas. A insegurança proveniente da atividade arbitrária e ilimitada do monarca,

empenhado na construção de uma “nação oculta e polida” desencadeiam na burguesia

um sentimento de revolta que vai contra o Estado absoluto.

Assiste-se, assim, ao crescimento de uma nova concepção de Estado, que se

distingue em diversos aspetos. Surge a ideia de um Estado organizado e limitado

juridicamente, que privilegia a proteção e a garantia da autonomia, da liberdade e da

segurança dos cidadãos. É a ideia de um Estado de direito, ou seja, um Estado limitado

juridicamente, de forma a proteger e a garantir a autonomia, liberdade e segurança dos

cidadãos. De forma a terminar com o Estado absoluta, desenvolveram-se ideias com:


• limitação do poder político e racionalização do seu exercício;
• controlo da atividade da administração;
• proteção e liberdade dos cidadãos;
• livre desenvolvimento da economia;
• igualdade dos cidadãos.

Divergências face ao Estado de polícia:

• Soberania do monarca Soberania popular e a lei como expressão da

vontade geral;
• Exercício do poder por um só indivíduo Exercício do poder por muitos,

eleitos pela coletividade;


• Raison d’état (razão do Estado) O Estado está sujeito às normas jurídicas em

vigor;
• Súbditos Cidadãos com direitos.

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Principais instrumentos técnico-jurídicos:


• Constituição;
• Princípio da Legalidade;
• Declarações de Direitos;
• Separação de poderes;
• Representação política.

Estado de Direito liberal

Surge em resposta ao Estado de polícia. Típico do século XIX, é liberal, a nível

político e económico, e assenta nos interesses e valores da sociedade burguesa. Este

Estado ergue-se perante a necessidade de separação entre Estado e economia, ou seja,

o Estado é abstencionista. Baseia-se na ideia de que o Estado deve garantir a

estabilidade necessária ao desenvolvimento e proteger os direitos e liberdades

fundamentais dos cidadãos, deixando a vida económica entre à dinâmica de auto-

regulação do mercado. O Estado era con ado aos particulares que conheciam melhor

os seus interesses e sabiam como alcançá-los, con ando no jogo das liberdades

fundamentais. O papel do Estado prende-se com a garantia e a proteção dos direitos

fundamentais, sendo que a limitação do seu papel serve para assegurar que o Estado
não vai para lá das funções que lhe são concedidas e invada, de forma ilegítima, as

esferas da vida privada.

De acordo com este Estado, os direitos fundamentais não podem ser

contestados ou contrariados, sendo estes anteriores e superiores ao Estado (pré e supra

estaduais). A Constituição, instrumento ao qual é concedida supremacia jurídica, e toda

e qualquer ação do Estado deve submeter-se às normas nela estabelecidas. São

direitos, na sua essência, negativos, uma vez que o Estado deve abster-se em vez de

intervir.

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Direitos do Homem Direitos do cidadão

Direitos da relação com outros, enquanto


Pessoais/individuais, do ser humano
ser que vive em sociedade

Liberdade de consciência Liberdade de culto

Liberdade pessoal Liberdade da associação e reunião

Inviolabilidade do domicílio Direito à greve

Direito `propriedade privada, entre


Entre outros…
outros…

Toda a concepção do Estado de direito liberal está ligada aos interesses da

burguesia e, por este motivo, o direito à propriedade surge como um direito absoluto,

sem limitações, um direito supremo. Só é, verdadeiramente, considerado cidadão

aquele que tiver na sua posse, propriedade. Esta era a condição para que se pudesse

usufruir do exercício pleno dos restantes direitos. Apenas tinha direito ao voto aquele

que possuísse determinado grau de riqueza - voto censitário.

Relativamente à divisão de poderes, este, enquanto elemento do Estado de

Direito liberal, é inseparável da função de garantia dos direitos fundamentais do

Homem. Aqui, surge a ideia de divisão de poderes enquanto especialização jurídica

orgânico-funcional, ou seja, como repartição juridicamente operada das várias funções

do Estado pelos seus diferentes orgãos. É dividida por funções, sendo cada uma delas

atribuída a um orgão. A divisão de poderes só se justi ca em função da necessidade de

garantir a liberdade individual contra o abuso de poder. É inspirada em Montesquieu,

“Espírito das Lei”.

Neste Estado, a função legislativa é atribuída ao parlamento, a função executiva

aos reis e ministros (governo) e a função judicial aos tribunais.

Dois dos princípios que demonstram a verdadeira natureza da divisão de

poderes como técnica de organização do Estado, tendo como objetivo a garanti das
liberdades individuais são o Princípio do império da lei e o Princípio da legalidade da

administração.

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Princípio do Império da Lei: este princípio assenta na ideia de que a lei deve prevalecer

sobre todos os atos. Através deste princípio, a lei é legitimada pela aprovação do orgão

que representa a vontade geral - o Parlamento onde todos estavam representados.

Apenas deste modo era possível garantir a liberdade e a justiça.

A lei é o garante da igualdade, da segurança e permite a previsibilidade, dado

que, enquanto geral e abstrata, excluía, por de nição, a descriminação, o privilégio e o

arbítrio individual. Aprovada pelo Parlamento, seria justa, uma vez que cada um possui

o papel de legislador e, desta forma, ninguém seria injusto para consigo mesmo. A lei é

igual para todos e todos são iguais perante a lei. Cada um obedece à vontade geral e

não à de um indivíduo. Esta, enquanto justo, só necessitava que se zesse cumprir e

que fosse aplicada. O parlamento, dominado pela classe burguesa, esta decisão de

poderes subjetivada a este princípio, resultava num Estado dominado por essa mesma

classe social. Era necessário garantir a subordinação dos demais atos do Estado à lei, ou

seja, dos restantes orgãos constituintes do Estado ao parlamento.

Princípio da Legalidade da Administração: no século XIX, o poder executivo era ainda

receado, já que o poder legislativo, de certa forma, ainda não era burguês. O carácter

soberano da função legislativa exigia que o poder executivo lhe estivesse subordinado,

através da administração e dos tribunais. Apenas deste modo era excluído o abuso de
poder, o privilégio, a discriminação na aplicação da lei, quer pela administração, quer

pelos tribunais. Quanto ao poder judicial, a subordinação estreita do juiz à lei procurava

impedir que as decisões dos tribunais estivessem sujeitos a pressões exteriores.

O grande receio da burguesia prendia-se com o facto de que a atividade

administrativa do Estado pusesse em causa a segurança a liberdade, indispensáveis à

sua atividade. O princípio da legalidade da administração, partindo do Princípio do

império da lei, impõe à função executiva uma estreita subordinação à lei, por parte da

administração, garantindo, deste modo, o respeito pela mesma. Este princípio atua em

duas dimensões:

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Preferência da lei - a administração pode atuar, desde que a lei não o proíba.

Reserva da lei - a administração só atua quando a lei o permite; no caso de

omissões da lei, não pode atuar. “O princípio de reserva da lei evoluiu,

moderadamente, para o princípio da reserva total da lei, segundo o qual toda a

Atividade administrativa (…) pressupõe a existência de fundamento legal.” - Silva &

Alves, 2016.

Estado social e democrático de Direito

Com a crise económica que antecede a Primeira Guerra Mundial, a ideologia

liberal entra em declínio no século XX. Começam a surgir dúvidas relativamente ao

funcionamento da auto-regulação dos mercados, a industrialização vem substituir a

força humana e a sobreprodução traz a baixa de preços. Em meados do século XIX,

começa a veri car-se uma certa crise nos pressupostos em que assenta o modelo do

Estado liberal. Surge, assim, a necessidade de mudança de relação entre Estado e

Sociedade - novas ideologias.

De acordo com a Teoria da Mão Invisível de Adam Smith, as leis do mercado não

só conduziriam a vida económica ao aproveitamento máximo da riqueza. Contudo,


veri cou-se que não criava uma situação de equilíbrio através deste modelo de Estado.

Surgem, deste modo, novas concepções que apelam à intervenção estatal. O Estado,

em resposta, começa a intervir no processo produtivo, na redistribuição do produto

social e na plani cação económica, tornando-se num Estado intervencionista. A ideia de

que a sociedade possui a capacidade de auto-su ciência é ultrapassada, passando a

ser encarada como algo suscetível e carente de transformação e estruturação. Começa

a ser exigido ao Estado que realize a justiça social - Estado Social. Com o Estado Social

assiste-se a um duplo processo.

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(1) Estadualização da Sociedade - a sociedade requer intervenção global do Estado.

• O Estado intervém em todos os domínios, sempre subordinado às normas jurídicas.


• O Estado de ne metas e controla a atividade económica.
• O Estado preocupa-se com a igualdade de oportunidades.
• O Estado assegura serviços como a água, a eletricidade, o património, a saúde, a

educação, entre outros, proporcionando uma vida digna aos cidadãos.

(2) Socialização do Estado - a sociedade participa mais na vida do Estado.

• Sociedade com a intenção de atuar sobre o Estado.


• Cidadãos mais organizados e intervertidos na vida política, a partir de grupos de

pressão, associações, partidos, entre outros.

Estado de Direito (diferente face ao Estado liberal) - exemplo: mantém-se a abstenção

do Estado na interferência nas liberdades do cidadão, mas acrescenta-se condições

para o livre e igual desenvolvimento do indivíduo e da sua dignidade.

Por sua vez, dão-se alterações aos direitos e liberdades fundamentais. Surgem os
direitos sociais, em sentido mais amplo, positivos, cuja concretização depende,

fundamentalmente, da intervenção do Estado. Abrangem os direitos económicos (art.º

80.º a 107.º CRP), os direitos sociais e os direitos culturais, consagrados na Constituição.

Há uma reinterpretação dos direitos, liberdades e garantias (art.º 24.º a 57.º CRP - 1ª

Geração de Direitos), através dos pressupostos do Estado Social. O Direito à

propriedade é desvalorizado (art.º 62.º CRP), perdendo o carácter de Direito absoluto

para ser integrado numa concepção de autonomia individual, que não esquece a

necessidade de integração social. Continua a ser regulado, mas é limitado. Há

dignidade independentemente da riqueza, diminuindo a in uência da burguesia na

sociedade. Em consequência da desvalorização do direito à propriedade, veri ca-se a

generalização da atribuição de direitos políticos, particularmente o direito de voto,

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instaurando-se o sufrágio universal (art.º 49.º CRP e art.º 113.º, nº1 CRP). Os Direitos

fundamentais só se encontram realizados e protegidos em regime democrático. Há um

aprofundamento e consolidação da democracia política, desde à eleição Assembleia

representativa de todos os cidadãos e legitimação democrática de todos os orgãos no

poder, o reconhecimento do pluralismo partidário, direito à oposição, princípio da

alternância democrática, com eleições periódicas; bem como os direitos de

participação política sem quaisquer discriminações de sexo, etnia, idade, convicção

ideológica ou religiosa e condição económica ou cultural (direitos económicos - art.º

58.º CRP, direitos sociais - art.º 64.º CRP e direitos culturais - art.º 73.º e 74.º CRP - 2ª

Geração de Direitos).

Os Direitos fundamentais são concebidos como direitos contra terceiros. São

agora direitos de defesa contra o Estado, contra os abusos e violações provenientes da

autoridade pública, porém, são igualmente concebidos com valores que se opõem

contra toda a sociedade, dirigidos também contra os poderes concedidos a outros

particulares e que os possam ofender, como o direito à greve. Com este domínio, o

princípio democrático confere um novo entendimento aos elementos do Estado de

Direito.

A divisão de poderes sofre alterações. As suas características permanecem as

mesma, porém o governo passa a ter in uência no parlamento que, por sua vez, tem
poder na função executiva. Há tribunais que passam a controlar o parlamento e o

Governo - constitucionalidade das leis. Isto sucede-se de forma a evitar a concentração,

o excesso e o exercício arbitrário do poder.

Parlamento Governo Tribunais

Legislativo Executivo Judicial

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Governo - legislativo: art.º 193.º CRP.

Orgãos de soberania: art.º 110.º CRP.

Tribunais: art.º 202.º CRP.

Oposição democrática: art.º 114.º, nº2 CRP.

Face à atualidade:
• Separação e interdependência dos orgãos de soberania: art.º 111.º e 112.º CRP.
• Assembleia da República: art.º 161.º, c) CRP; art.º 164.º e art.º 165 CRP.
• Governo: art.º 198.º CRP; art.º 197.º, nº2 CRP; art.º 199.º CRP.
• Presidente da República: art.º 134.º, b) CRP (promulgação da lei); art.º 277.º a 283.º

CRP (vetar juridicamente).


• Participação na vida política: art.º 48.º CRP.

Consagra-se pela primeira vez a justiça na constituição, isto é, scalização judicial

de constitucionalidade das leis que é atribuída, em regra, os tribunais comuns ou

especialmente criados para o efeito que apreciam seus atos legislativos estão

conformes com a constituição como mecanismo de compensação das tentações

arbítrio.

O Princípio da legalidade da administração torna-se mais amplo. Por outro lado,


tende para o estabelecimento progressivo do controle judicial do respeito pela

administração não só limites da lei, mas igualmente os princípios gerais do Direito

(reserva total da lei: princípio da legalidade da administração - art.º 266.º e 268.º CRP).

Surgem novos mecanismos de limitação do poder que não existiam no Estado

de direito liberal ou não era su cientemente valorizados:


• Pluralismo partidário;
• Direitos da oposição;
• Direito da alternância política;
• Limitação temporal do exercício de certas funções;
• Divisão vertical ou territorial de funções, através da regionalização política e

administrativa;

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• Repartição social de funções, com o aproveitamento de mecanismo de democracia

participativa e de descentralização;
• Complexi cação dos sistemas de governo e sistemas eleitorais;
• Limitação da interdependência dos orgãos de exercício do poder político.

Regimes e sistemas
A forma como cada Estado estrutura o poder político depende de diversos

aspetos como o regime económico, o regime político e o sistema de governo.

O poder político é a faculdade possuída por um povo de, por autoridade

própria, instituir orgãos que exerçam o senhorio de um território e nele criem e

imponham normas jurídicas, dispondo dos necessários meios de coação.

A Forma Política é o modo como cada sociedade política se estrutura e exerce o

poder político.

Regimes e sistemas económicos

Entende-se, nos dias de hoje, que o modo de organização económica vigente


num Estado, ou seja, o seu regime económico, in uencia necessariamente a forma de

estruturação do respetivo poder político.

Um sistema económico é uma forma abstrata de organização do processo de

produção, envolvendo a propriedade dos meios de produção e a sua gestão e controlo

social. Esta de nição assenta na relevância do modo de apropriação dos meios de

produção, da sua gestão e controlo social, globalmente denominado de “modo social

de produção”.

Sistema económico capitalista: é aquele onde prevalece o modo de produção

capitalista. Este caracteriza-se pela privatização dos meios de produção e a sua gestão e

controlo social, tendo em vista interesses particulares que se consideram concordantes

com o interesse da coletividade.


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Sistema económico socialista: é aquele onde prevalece o modo de produção socialista,

que se caracteriza pela propriedade coletiva dos meios de produção e a sua gestão e

controlo obedecem à realização de interesses coletivos, constitucional ou legalmente

consagrados, objeto de prossecução pelo poder político e que se sobrepõe a qualquer

interesse de natureza particular.

O regime económico é a forma de organização do processo de produção numa

sociedade política concreta, onde se envolvem a propriedade dos meios de produção,

a sua gestão e o controlo social, o modo de organização económica vigente num

Estado. É o concretizar da abstração no plano de um Estado num determinado

momento histórico. É possível distinguir quatro tipos diferenciados.


• Regime económico capitalista;
• Regime económico socialista;
• Regime económico de transição entre o capitalismo e o socialismo;
• Regime económico de transição entre o socialismo e o capitalismo.

Regimes Políticos

Os regimes políticos são conceitos que procuram identi car cada uma das

diferentes formas de exercício do poder político, tendo em conta a relação entre

governantes e governados e o grau de participação dos cidadãos no exercício do

poder, no estado moderno. É constituído pelo conjunto coordenado das instituições

políticas constituindo um subsistema político de um sistema social. Há várias

constituições a mencionar:

• Sãs - Monarquia, aristocracia e República.

• Perversas - Tirania, Oligarquia e Demagogia.

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As constituições “sãs" traduzem formas de exercício do poder que vão ao

encontro do interesse geral. Dentro destas, as que con am o poder político a um só

homem, consagravam um regime chamado monarquia; aquelas em que o poder

político é exercido por um grupo restrito de homens, consagravam aristocracias;

aquelas em que o governo pertencia à coletividade, nela se integrando apenas os

cidadãos ativos, consagravam repúblicas.

As constituições “perversas” traduzem formas de organização política do Estado

degeneradas ou degradadas. Dentro destas, aquelas em que o exercício do poder cabe

a um só homem, mas no seu exclusivo interesse, quando o monarca exerce

despoticamente o poder, consagravam tiranias; as que con am o governo a um grupo

de homens no interesse dos mais ricos, consagravam oligarquias; as que con am o

governo à coletividade que prossegue em exclusivo os interesses dos mais explorados,

consagravam uma república que só vê o interesse dos pobres, a demagogia.

Maquiavel distinguiu pela primeira vez monarquia e república. De acordo com

este pensador, a monarquia compreendia:

• Poder supremo exercido por um só titular;

• O exercício do poder soberano caberia a um só indivíduo por direito próprio,


resultante de investidura derivada, da alienação inicial pela coletividade ou
apropriação do poder pela violência, mas subsequentemente legitimada;

• O chefe de Estado seria hereditário.

Ainda de acordo com Maquiavel, numa República:

• O poder supremo do estado pertence a um colégio de indivíduos, de maior ou


menos extensão, podendo tratar-se de um colégio eleitoral formado por todos os

cidadãos ativos;

• A soberania caberia ao povo ou à nação, só podendo ser exercida em nome e por


delegação da coletividade e através de titulares eleitos, submetidos à lei geral;

• Inexistência de chefe de estado, ou pelo menos não hereditário.

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NOTA: Esta classi cação bipartida não diz respeito aos regimes políticos, mas aos

sistemas de governo.

Sistemas de Governo

Um sistema de governo é a forma política através da qual se procura expressar as

diferentes modalidades de relacionamento entre os órgãos encarregados do exercício

do poder político. Este traduz a titularidade do poder político e a estrutura dos orgãos a

quem é con ado o seu exercício, de forma a determinar quem é considerado titular

dele e quais os orgãos estabelecidos para o seu exercício. Não é possível separar este,

de forma absoluta, dos regimes políticos, onde se considera que as relações

fundamentais aquelas que se estabelecem entre o indivíduo e a sociedade política e

cuja a ideologia e poder político tem por m traduzir na ordem jurídica.

Sistema de Governo Ditatorial

O sistema de governo ditatorial é aquele em que o poder político é exercido em

nome próprio, por uma pessoa ou por um grupo social. Pode ser monocrático, quando

exercido apenas por um homem, ou autocrático, quando exercido por um setor


político económico social fechado (elite, grupo, classe).

Quando monocrático:
• Cesarista - sem legitimidade democrática ou vontade popular (o poder não é

justi cado);
• Monárquico - monarquia absoluta, com legitimidade (há legitimação do poder).

Sistema de governo democrático

Neste sistema, o poder político pertence, originalmente, a toda a coletividade, o

povo, e a sua a tipologia é mais complexa. Pode ser, quanto ao exercício do poder

político e aos respetivos orgãos: direto, semidireto e representativo.


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Sistema de governo democrático direto

Este sistema pressupõe exercício permanente do poder político pela totalidade

dos cidadãos ativos reunidos em Assembleia plenária. Levanta di culdades óbvias de

funcionamento e morosidade da reunião para tratar de assuntos concorrentes. Apesar

disto, em alguns Estados existem certas práticas que se ligam à democracia direta, tais

como o referendo e o direito de iniciativa popular.

Sistema de governo democrático semidireto

Este sistema combina o exercício do poder pelos cidadãos eleitores com o

exercício pelos seus representantes. Coexistem mecanismo próprios da democracia

representativa e mecanismos de democracia direta. Certas decisões só são possíveis

através da manifestação da vontade da totalidade dos cidadãos.

Sistema de governo democrático representativo

Este sistema é mais frequente nas democracias políticas modernas e

contemporâneas. Existe democracia representativa quando o poder político pertence à

coletividade, porém é exercida por orgãos que atuam por autoridade e em nome dela,
tendo por titulares indivíduos escolhidos com intervenção dos cidadãos que a

compõem.

Este conceito de representação política pode compreender duas vertentes

distintas - concentração de poderes e divisão de poderes.

Sistema de governo democrático representativo de concentração de poderes: os

cidadãos elegem um chefe de estado singular ou titulares de uma assembleia política,

exercendo qualquer deles a plenitude dos poderes de Estado.

Sistema de governo democrático representativo de divisão de poderes: divide-se em

três - parlamentar, presidencialista e o semipresidencialista.

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Sistema de governo democrático representativo - de divisão de poderes

Parlamentarista - quanto ao chefe de estado:


• Não tem poder signi cativo;
• Nomeia e exonera ministros segundo as indicações do parlamento;
• Responde perante o parlamento;
• Não tem responsabilidade de exercer atos políticos sem referenda ministerial

(autorização dada pelo ministro para que o chefe de estado possa exercer poder

político).

O sistema parlamentar puro ou de Assembleia foi o primeiro e revela

prevalência absoluta do Parlamento sobre o Governo. O centro da vida política é o

Parlamento. O governo ou é formado por um único partido e é minoritário, o partido

não tem uma maioria absoluta no parlamento ou é formado numa coligação

interpartidária. Em qualquer das situações, é sempre um governo carecido de um apoio

parlamentar sólido, o que faz dele um governo inseguro, podendo ser destruído

facilmente pelo Parlamento. As suas propostas correm permanente o risco de serem

reprovados no parlamento e é instável quando com base em coligação, dependendo

da delidade dos partidos integrantes.

O sistema parlamentar pode ser mitigado ou de gabinete, sendo este


caracterizado por ser mais equilibrado e estável. Numa situação de parlamentarismo

maioritário, o seu líder será chamado a formar um governo e este disporá de um apoio

maioritário no parlamento. O governo, com essa base de apoio, será forte e estável. O

centro da política torna-se o Governo, embora este responda perante o Parlamento, o

apoio que aí goza permite-lhe plena estabilidade e margem de atuação.

O Chefe de Estado com tem uma menor dependência do Parlamento ou seja é

mais livre para escolher o Governo e esta tem a possibilidade de dissolver o

Parlamento.

Por sua vez o governo faz prevalecer os assuntos que entende na reunião do

Parlamento.

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Este sistema parlamentar moderou os excessos do puro. Há efetivação da

responsabilidade política do governo perante o Parlamento ou seja há voto sobre o

programa moção de con ança e censura.

Este sistema parlamentar tem outra distinção possível de acordo com a

estruturação jurídica dos poderes sendo eles: clássico e racionalizado.

Sistema de governo democrático representativo - de divisão de poderes

Presidencialista: o exercício de poderes importantes pelo Chefe de Estado e ausência

de responsabilidade política do executivo perante o parlamento são as características

que distinguem o sistema presidencialista.

Presidencialista - quanto ao chefe de estado:

• Sem poder de dissolução do parlamento;

• Pode votar as leis do congresso;

• Tem iniciativa legislativa;

• Regulamenta as leis do congresso.

Presidencialista - quanto ao parlamento:

• Vota no orçamento;

• Cria comissões de inquérito da administração pública;

• Rati ca tratados internacionais (a vinculação internacional do estado implica

aprovação do presidente e a aprovação do poder legislativo);

• Pode destituir o chefe de estado em caso de crimes contra o mesmo;

• Dá um certo equilíbrio inter-institucional;

Sistema de governo democrático representativo - de divisão de poderes

Semipresidencialista: caracteriza-se pela convergência das duas in uências - a

in uência presidencial e a in uência parlamentar.

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O chefe de Estado é politicamente ativo, mas o governo é responsável perante o

Parlamento e deve responder também ao Chefe de Estado.

A componente parlamentar, é formada de acordo com os resultados das eleições

parlamentares e subsequente composição da Assembleia. A constituição e

sobrevivência

do governo dependem da con ança parlamentar, traduzida na aprovação do programa

do governo e na aprovação de moções e existe a distinção de funções entre o Chefe de

Estado e o Chefe Governo.

O chefe de estado é eleito por sufrágio universal direto. O governo é responsável

perante o chefe de estado, sendo que este tem poderes efetivos (dissolução do

Parlamento, veto) e pode tomar decisões políticas, sem ser responsável por elas

perante Parlamento, e o seu poder aumenta em situações extraordinárias, isto é, em

caso de emergência.

Face a atual Constituição da República Portuguesa:

A quali cação do sistema de governo em relação ao nosso texto constitucional

não foi pací co na doutrina. A generalidade dos constitucionalistas considera

consagrado um sistema de governo semipresidencial.

As relações entre os vários órgãos de soberania estabelecidas na C.R.P apontam


para um sistema misto: parlamentar-presidencial. São visíveis na nossa Constituição

elementos típicos do parlamentarismo e do presidencialismo. Acentua-se, contudo a

tendência para o parlamentarismo.

Elementos do sistema parlamentar:

• Governo formado a partir do Parlamento - art.º 187.º CRP;

• Dualidade chefe de estado/chefe de governo;

• Conselho de ministro, projeto do governo com autonomia institucional e

competência própria - art.º 184.º e 200.º CRP;

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• Responsabilidade política do governo perante o parlamento e o Presidente da

República - art.º 190 e 191.º (apresentação do programa - art.º 192.º, 163.º d), 195.º,

nº1, f); moção de censura ao governo - art.º 194.º, 163.º, e), 195.º, nº1, f); moções de

con ança - art.º 193.º, 163.º, e), 195.º, nº1);

• Atos do presidente da República em referendo ministral - art.º 140.º, 197.º, nº1, a).

Elementos do sistema presidencialista:

• Presidente da República eleito por sufrágio universal e direto - art.º 121.º;

• Presidente da República com poder de veto político e por inconstitucionalidade -

art.º 134.º, b) e g), 136.º, nº1 e nº5;

• Presidente da República com poder para dissolver a Assembleia da República - art.º

133.º, e) e 172.º;

• Há interdependência de poderes:

• PR e GOV (nomeação, demissão, referenda ministerial)

• PR a AR (formação de gov, veto e dissolução do Gov);

• AR e GOV (iniciativa legislativa; programa; moções) ;

Partidos Políticos
Os partidos políticos são uma instituição essencial dos regimes liberais, pois

nasceram e devolveram-se ao mesmo tempo que as eleições e a representação política.

Os partidos políticos podem ser de nidos como um agrupamento de cidadãos

organizado, que visa participar no funcionamento das instituições políticas e exprimir

organizadamente a vontade popular. Desenvolve a sua atividade a nível local e nacional

e visa aceder, exercer ou in uenciar diretamente o poder político. São instituições, ou

seja, uma “organização ao serviço de uma ideia”. São associações de cidadãos que

pretendem, mediante ação consertada junto da opinião pública, obter o exercício e os

benefícios do poder.

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São caracterizados como:

• Duradouros - o agrupamento não pode ser temporário. A conquista do poder não


se efetua com brutalidade, a não ser que seja um golpe de Estado. É crucial

in uenciar a opinião pública, assim como fazer uma campanha organizada e

sistemática.

• Participação no funcionamento das instituições políticas - o exercício do poder


político, bem como a in uência do partido no exercício do poder, é que vale essa

participação.

• Formação e expressão da vontade popular - representação global dos cidadãos.

• Acesso e exercício do poder - Não é rigorosamente necessário o exercício efetivo,


basta a sua in uência nesse exercício.

Normalmente de nições de partido político agrupam-se em três tipos

fundamentais. O primeiro tipo baseia-se no carácter orgânico - o partido é uma reunião

de grupos disseminados pelo país em secções, comités, associações locais etc. O

segundo tipo baseia-se no partido enquanto veículo de um ideal a prosseguir; O

terceiro tipo é de carácter funcional, assentado nas funções que ele deve exercer.

Para a de nição de partido político considera-se mais importante o carácter

funcional e o carácter orgânico, sem ser essencial existência de um programa ou de


uma doutrina ou ideologias claras.

Associação política: sustenta certos princípios políticos e procura difundi-los, para

serem postos em prática pelos governantes. Trata-se de uma representação funcional,

formando-se através de escritura pública e com aprovação de estatutos.

No entanto, por vezes distinção entre partido político e associação suavizasse. Há

casos de associações políticas que concorreram a eleições legislativas e obtiveram

lugares no parlamento. Há também partidos políticos que se quali cam de associações,

limitando-se a in uenciar o poder político.

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Em suma
Partido Político:

• Propõe-se a representar politicamente a sociedade na sua globalidade, experimenta

a vontade popular na realização das opções da coletividade;

• Propõe-se a exercer o poder político ou in uenciar diretamente o seu exercício;

• Agrupamento de carácter duradouro, ou seja, não eterna, mas com esperança de

vida para além dos seus fundadores;

• É exclusivo, sendo a liação incompatível com a pertença a outro.

Associação Política:

• Visa, essencialmente, a representação de setores determinados pela coletividade;

• Limita-se a participar na atividade de instâncias sociais e a tentar in uenciar o

exercício do poder político. Exerce a sua in uência através dos meios de

comunicação ou dos próprios partidos políticos;

• Pode constituir-se por prazo determinado - ou acaba por se transformar em partido

político;

• A participação numa associação é perfeitamente compatível com a participação em

outra ou mesmo num partido político.

Tipos de partidos políticos

Os partidos políticos podem se agrupar em dois tipos: partidos de quadros e

partidos de massas, de acordo com o critério do âmbito da estrutura dos partidos.

Os partidos de quadros caracterizam-se por não ter qualquer preocupação com

a questão quantitativa, pois tem como objetivo reunir quadros bem preparados de

pessoas com prestígio moral, social económico, pela in uência que exercem no

eleitorado quer pelo pelo o apoio económico que podem fornecer para as campanhas

eleitorais. Este tipo de partido tem origem nos primórdios do sufrágio censitário

aquando a institualização do sufrágio universal. Além disto, são também caracterizados

pela ausência de disciplina de voto nos respetivos grupos parlamentares. Têm uma

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função eleitoral, parlamentar e de conquista de eleitores, com atividade periódica e

uma estrutura descentralizada. A componente ideológica é fraca, sendo composto por

partidos de notáveis da grande e da pequena burguesia que se situam à direita e

centro do espetro político.

Os partidos de massa englobam um grande número de aderentes sendo que

demonstram um grande interesse por este e por militantes, manifestam interesses

extraparlamentares, seja através da formação política das populações e a criação e

apoio as estruturas económicas e sociais de massas (centros de convívio, de desportos,

creches). Como nanciamento recebem quotizações pagas pelos seus militantes, tendo

em vista a substituir o nanciamento capitalista pelo nanciamento popular. Este tipo

de partido são de origem exterior. São partidos rígidos, ou seja, dispõe de uma estreita

disciplina de voto do Parlamento e são altamente centralizados. A sua origem coincide

com o nascimento do sufrágio universal e com o desenvolvimento das teses do

socialismo e comunismo. São partidos operários, em que organização conta muito,

sendo portadores de um ideal que contradiz a ordem social vigente e tem que manter

uma coesão apreciável entre seus militantes e uma ação constante juntos de eleitores.

Fins e funções no Estado

Existem dois objetivos/ nalidades fundamentais dos partidos políticos:

• Participar no funcionamento e aperfeiçoamento das estruturas politico-

constitucionais;

• Representar politicamente o povo. - representação que tanto pode ser democrática

representativa (sentido rigoroso), como em regime ditatorial (representação

imperfeita).

Quanto às funções, isto é, às atividades que o partido leva a cabo para alcançar

os seus objetivos/ ns, essas dependem do ambiente em que surgiram, visto que

procuram dar resposta às exigências especí cas próprias desse ambiente. Essas

funções podem dividir-se em:

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Funções políticas:

• Função representativa — função essencial dos partidos em democracia

representativa, que consiste na apresentação de candidaturas às eleições dos

titulares dos órgãos do poder político e do poder local.

• Função de titularidade e exercício do poder político — reconduz-se à preparação de

quadros aptos a desempenhar o poder político e à criação de estruturas de apoio

aos seus dirigentes, militantes ou simpatizantes que exerçam o poder político.

• Função de de nição da política interna — prevê a de nição da posição do partido

para os problemas da coletividade e a designação dos titulares dos seus órgãos

políticos internos.

• Função pedagógica — informar e formar os militantes, simpatizantes e o eleitorado

em geral acerca das principais questões da vida coletiva e das proposições

programáticas e concretas do partido sobre tais questões.

• Função de criação e apoio a estruturas paralelas — traduz-se na criação e apoio a


estruturas políticas, económicas e sociais nos mais diversos domínios da vida

coletiva.

• Função de relações externas — estabelecimento e manutenção de laços de amizade

e cooperação com partidos estrangeiros a ns e acessoriamente com entidades com


órgãos do poder político estrangeiros e organizações internacionais.

Funções administrativas:

• Função administrativa no sentido estrito — atividade de organização interna do

partido, em todos os seus escalões, que visa a criação de infra-estruturas para o

desenvolvimentos das funções políticas, incluindo o local que permita contactos às

cúpulas e unidades de base

• Função nanceira - consiste na gestão dos recursos partidários.

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Estrutura do poder e participação partidária

Considera-se quatro graus de participação partidária: eleitores, simpatizantes,

aderentes/ liados, e militantes ativos. Corresponder-lhes-iam círculos concêntricos de

raio sucessivamente menor, como visto abaixo:

Os leitores são as pessoas que votam no partido, mas não demostram qualquer

tendência de voto antes do ato eleitoral.

Os simpatizantes são aqueles que demostram tendência ou simpatia por

determinado partido, que embora não seja são muito precisa, são eleitores que

confessam a sua preferência política e por isso traduzem elemento de propaganda.

Os aderentes são pessoas inscritas no partido político.


Os militantes ativos, dentro dos aderentes, têm uma categoria especial, pois são

os membros do partido que fazem a propaganda eleitoral.

Grupos de Pressão

Os grupos de pressão são organizações constituídas para a defesa dos

interesses, que exercem pressão sobre os poderes políticos a m de obterem decisões

favoráveis aos seus interesses, incluindo a adoção ou derrogação de medidas

legislativas, sem pretenderem ocupar exercer o poder.

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Características:

• Existência de um grupo organizado — é uma organização bem estruturada

especializada na articulação de interesses com cariz voluntário e durável;

• Defesa de interesses — tem como objetivo a constante defesa dos interesses, que

tanto podem ser Morais com materiais ou ambos

• Exercício de pressão — visam o exercício de pressão sobre o poder político.

Distinção entre grupos de pressão e partidos políticos: os partidos políticos tomam

parte na luta eleitoral, visando exercer o poder político, a conservação do mesmo ou o

seu controlo e conquista caso se encontrem na oposição; os grupos de pressão atuam

direta ou indiretamente sobre o poder político, mas sem pretenderem tomar a

responsabilidade do mesmo.

Espécies de grupo de pressão

Os grupos de pressão podem ser exclusivos, quando possuem como objetivo

apenas o exercício de exercer pressão política. Atuam só no campo político

propriamente dito ou parciais quando, para além do exercício da pressão política tem

outras nalidades.

Formas de intervenção dos Grupos de pressão

A intervenção dos grupos de pressão pode ser direta, quando um dos meios

utilizados é o de que levarem às autoridades os seus pontos de vista sobre a forma de

nota verbal (?), conversa, envio de dossier, troca de correspondência, ou seja, recurso à

informação. Outro meio utilizado é o dos contactos e negociações, tratar de discutir,

fazer valer os pontos mais importantes, depois de informar. Contudo, estes meios nem

sempre produzem os resultados esperados e segue-se a intimidação e recurso a

ameaça ou mesmo à chantagem e corrupção de membros dos órgãos de poder.

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A intervenção dos grupos pode ser indireta, ao tentarem in uir no poder através

dos partidos políticos, com os quais matem relações estáveis. Podem também

pressionar o poder político mediante a in uência sobre a opinião pública, através de

greves, propaganda ou informação.

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