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CAPÍTULO I – A POSIÇÃO GEOPOLÍTICA DO ESTADO NO

SISTEMA INTERNACIONAL
No contexto das relações internacionais determinados elementos
estruturantes representam as unidades de um conjunto de variáveis que
permitem quantificar, estruturar e ordenar as relações entre os diversos sujeitos,
actores e agentes que compõem o xadrez geopolítico das relações internacionais.

Dentro deste conjunto de actores, reside um dos mais importantes


agentes da política internacional que possui inerentemente determinadas
prerrogativas de legitimação, como o uso de certos poderes, e que, neste quadro,
o Estado se posiciona como um actor geopolítico funcional em função da
existência das suas clássicas características.

Deste modo, ao perceber a necessidade de situar e estruturar o


presente capítulo, surge a necessidade de se discorrer sobre o conceito de Estado
e suas características, a evolução histórica do sistema internacional, seus
conceitos envolventes, sua tipologia e a posterior, enunciar aspectos ligados a
geopolítica.

1.1. A origem do Estado, conceito e suas características


Os actores consagrados na arena internacional encontram-se em
constantes mudanças, estas mudanças pressupõem a criação de novos conceitos
permitindo um outro olhar de abordagem, transformando-se deste modo no
epicentro das análises. Fazendo uma leitura sistémica, os Estados não encontra-
se isento do dinamismo inerente na dinâmica dos conceitos, sendo estes alvos de
transformação.
Neste sentido, em função da complexidade em volta da discussão
sobre este importante actor, urge a necessidade de compreender os elementos
conceituais que estão por detrás desta problemática.
A história representa o elemento fundamental para a compreensão da
origem dos fenómenos mais marcantes. Para tal, existem inúmeras teorias ou
1
correntes doutrinárias que abordam sobre a origem do Estado, bem como o
momento histórico da concepção, entre outros factores. Além disto, o Estado é
um ente dotado de complexidade extrema, podendo ser analisado sob inúmeros
enfoques, como político, jurídico e sociológico.
A natureza humana atribui ao indivíduo a essencialidade de se
constituir como ser gregário, o que permitiu o estabelecimento de vínculos
socias com os demais indivíduos na sociedade, fazendo jus à célebre expressão
latina, “Ubi Societas, Ibi Ius, Ibi Ius Ubi Societas”, ou seja, onde há sociedade
há lei e onde há lei a sociedade deve reger-se por estas leis 1. Este factor,
permitiu a criação das bases para o surgimento do Estado, resultando em
diversas teorias que abordam sobre a origem do Estado.
Teoria Naturalista;
 Teoria Contratualista;
 Teoria da Corrente Hegeliana;
 Teoria Marxista;
 Teoria Organicista.
 Teoria Naturalista: teorizado por Dalmo Abreu e Carlos
Bernadez, defende que os Estados surgem de forma
natural, através de laços parentescos de diversas famílias
Matriarcal e patriarcal, dando origem a várias
comunidades de residências. A teoria apresentada por estes
dois actores acima frisados afirma também que os mais
fortes detinham o controlo do poder, ou seja, na
inexistência de leis para reger a sociedade, a anarquia
imperava como sua característica2.

1
MARINHO, Naira Carneiro. Ubi societas, Ubi Ius: O Processo Natural de Regulação Proveniente das Relações
em Sociedade. Editora: Forteleza, Ceará, 2019. P. 29
2
ABREU, Dalmo DE. Teoria Geral do Estado: Concepção Naturalista e Contratualista. Editora: Lisboa. Lisboa
2005. P. 38
2
 Teoria da corrente Contratualista: esta teoria consagra uma
visão diferente da primeira, teorizado por Thomas Hobbes,
Jean Jack Rosseaux e Jonh Luck, os autores divergem com
a corrente anterior e compreendem que para que haja
harmonia dentro na sociedade, o indivíduo necessita de
proceder a transferência da legitimidade a uma entidade
com competência para gerir o Estado. Esta teoria,
fundamenta a necessidade de extinção do princípio
“Homo Homini Lupus”, ou seja o homem é o lobo do
próprio homem, defendendo que o Estado surgiu por meio
de um contracto social através do qual os indivíduos
delegam os seus direitos a um órgão supremo de modos a
garantir paz, a justiça social bem como promover a
segurança, passando a fase de Estado de natureza para o
Estado de sociedade.
A corrente Hegeliana: conhecida também como a teoria “divina”,
do filósofo Alemão, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, traz uma abordagem
meramente religiosa, reconhecendo um ser transcendental, uma realidade
substancial e racional, para este actor o Estado surge através de uma inspiração
“divina”, por meio da incarnação do Espírito de Deus, rejeitando desta forma as
duas teorias acima levantada3.
A corrente Marxista: Esta teoria, que tem seus percursores Karl Marx
e Friedrich Engels, remete a explicação do surgimento do Estado através luta de
classes. Apresenta-se como uma corrente que perspectiva o surgimento do
Estado através de uma racionalidade económica. O fundamento desta visão,
assenta no facto de que o Estado surge por via da divisão de classes, entre
aqueles que detêm os meios de produção e classe proletária, que oferece a mão-

3
NICOLOU, Marcos Fábio, Alexandre. A Ciência da Lógica o no Sistema Hegeliano. Editora: FUNCAP,
Brasília, 2010. P. 12
3
de-obra. Neste sentido, Marx e Engels, consideram o Estado como um aparelho
dominante defendendo os interesses da classe capitalista em relação a classe
proletária4.
Corrente organicista: Os percursores desta corrente são Friedrich
Ratzel, Rudolf Kjellen e Spencer. Divergindo com as anteriores teorias, defende
que o Estado apresenta-se como um organismo natural semelhante a todos os
seres vivos, ou seja, o Estado, por via da antropomorfização, nasce, cresce e
morre. Tal como processo, ocorre no seio de um espaço geográfico, adaptando a
novas realidades quer sejam estas políticas, económicas e culturais5.
1.1.1. Conceito de Estado.
A existência do Estado pressupõe a organização política de um povo,
que controlo soberanamente um território com vista a garantir a justiça e
assegurar o bem-estar da colectividade6.
Assim, o Estado representa uma organização político-jurídica de uma
sociedade de uma sociedade, dispondo de órgãos próprios que exercem o poder
sobre um determinado território interno. Desta interpretação, depreende-se que a
figura do Estado existe pois a sociedade acredita que sem ele não é possível manter
a paz interna, nem assegurar a defesa externa.
Por outro lado, Bonavides levanta um ponto de inflexão mais
adensado, conceituando que, o Estado é a instituição por excelência que organiza e
governa um povo, soberanamente, em determinado território7. O Estado representa
todos os cidadãos, sendo uma entidade pública, responsável pela formação das
instituições públicas, em todas as áreas, como educação, saúde e segurança, sendo

4
DONÁRIO, Arlindo Alegre; SANTOS, Ricardo Borges. A Teoria de Karl Marx. Editora: CARS, Lisboa, 2007.
P.8
5
RATZEL, FRIENDRICH. A Geopolítica como Área de Estudo. Editora: PUC-RIO. Rio de Janeiro, 2018. P.23
6
GOMES, M. A formação do povo grego e as cidades estado. https://pt.slideshare.net. 07/01/2011. Disponível
em: <https://pt.slideshare.net/mariafimgomes/a-formao-do-povo-grego-e-das-cidades-estado> Acesso em:
15/05/2021
7
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. Edição: 10ª. Revista e Actualizada. 9ª. Tiragem. São Paulo: Helvética,
2000. P.27.
4
este uma construção lógica e política, baseada em preceitos jurídicos e culturais,
formando com a sociedade um contrato de convivência.
De maneira sintética, importa destacar certas funções própria da
natureza do Estado para a posterior, aquando do aprofundamento do trabalho,
possibilite uma compreensão mais ampla sobre a posição do Estado no Sistema
Internacional bem como dos elementos partes desta monografia.
Neste sentido, para que o Estado possa garantir o normal
funcionamento das suas estruturas bem como proporcionar bem-estar para a sua
colectividade territorial, este exerce determinadas funções específicas a ele
inerente, sendo estas as seguintes8:
 Função governativa
 Função Legislativa
 Função Administrativa
 Função Judicial
Em suma, estas quatro funções permitem com que o Estado preserve
certas prerrogativas e permite com que as suas instituições se auto-regulem e
promovam a satisfação das necessidades dos seus cidadãos. Entretanto, não
obstante o Estado ser dotado destes elementos, para que o mesmo possa ser
considerado um órgão legítimo de facto, necessita de possuir as seguintes
características:
 População
 Poder Político
 Território.
A população representa a unidade orgânica que procede ao normal
funcionamento do Estado, o poder político é, portanto, a representação legítima
daqueles que se responsabilizam, através da sua escolha por meio do contrato-
social e por fim, o território, subsiste como um espaço geográfico definido por

8
BRITO, Figueira. O Papel do Estado, suas Funções. 2ª Edição. Editora: OLISSIPO. Lisboa, 2015. P.9.
5
fronteiras terrestre, marítimas e aéreas onde o governo exerce uma autoridade
directa sobre as suas populações e recursos dentro deste espaço geográfico.
Entretanto, no actual contexto das relações internacionais, surge um quarto
elemento que representa uma das características para que se possa constituir um
Estado. Tal pressuposto, encontra fundamento no Direito Internacional Público,
sendo o reconhecimento internacional.
No plano jurídico, o Estado é a pessoa de Direito Internacional
Público9, dotado de capacidade jurídica plena, tanto no âmbito interno, quanto
no externo, recordando-se que nem as organizações internacionais e nem a
pessoa humana, apesar da importância que esta ocupa na actualidade, possuem a
totalidade e a extensão dos poderes inerentes à situação jurídica do Estado.
Por fim, mais do que constituir-se de maneira singular como uma
entidade interna, o Estado desempenha igualmente uma acção externa, sendo
que tais acções têm lugar no que doutrinariamente designa-se como Sistema
Internacional.
1.2. A Evolução histórica do sistema internacional.
A interdependência das economias e a conciliação de políticas
eliminam hipóteses de conflito e consolidam uma economia e uma política forte
de união. É neste sentido que os Estados, com vista a alcançarem os seus mais
profundos interesses, quer seja no âmbito económico, político-diplomático ou
securitário, interagem entre si, e esta interação ocorre no contexto do sistema
internacional.
Raymond Aron definiu Sistema Internacional como um conjunto
constituído por unidades políticas que mantêm entre si relações regulares e que
todas são susceptíveis de ser implicadas numa guerra geral10.

9
Direito Internacional Público é um conjunto de normas e valores, sejam elas positivas e costumeiras que se
aplicam no contexto internacional com vista a regular as relações entre os sujeitos de direito internacional.
MANGUEIRA, Joaquim Belo. O Direito Internacional e a Endoculturação de Valores. Editora: Setúbal. Luanda,
2007. P. 20.
10
Raymond Aron, Apud FERNADES António José. Relações Internacionais Contemporâneas. Do Mundo da
Europa à Europa do Mundo. Editora: universidade do vale do Itajaí. Itajaí, 1998. P. 104
6
Desta definição, entende-se que a intensidade das relações regulares
de todos os actores partes do SI e os mecanismos que os unem criam um
ambiente em que um fenómeno como a guerra ou ainda uma crise económica
afectaria não somente as partes que desenvolvem tal conflito, mas também todos
membros que participam do sistema.
Ainda assim, esta visão apresenta-se simplista, pois que olha
unicamente o Estado como único actor do SI, descurando a presença de outros
actores.
Para Paulo Laraburu, a compreensão de Sistema Internacional está
relacionada a interacção entre diversos actores, tanto directa ou indirectamente e
onde as intenções e movimentações dos mesmos se repercutem sobre o ambiente
que os abriga11.
Assim, Paulo Laraburu, coloca uma definição mais abrangente e
completa, pois enfatiza elementos de pluralidade e destaca o facto de que não
são somente os Estados os únicos actores intervenientes no sistema
internacional. Laraburu faz menção a questão de que os fenómenos que ocorrem
no sistema afectam directamente os mais variados actores em função da
existência da interdependência entre estes.
Deste modo, percebe-se que o sistema internacional é um ambiente
onde os mais variados actores desenvolvem as suas relações e para isso usam
vários meios. Não obstante a isso, como estes actores possuem os seus próprios
interesses, existe assim dentro do sistema uma constante luta para os satisfazer,
facto que torna o sistema internacional num ambiente propenso a existência de
conflitos.
Em termos característico o sistema internacional é anárquico, todavia,
a anarquia neste contexto não pode ser compreendida como a existência de

11
Disponível em: http://visaglobal.blogspot.com/2008/06/o-conceito-dessitemainternacional.html?m=1. Pesquisa
efectuada aos 21-11-20 20 as 10hrs33 min.
7
guerra todos contra todos, pois existe naturalmente uma relativa moralidade que
conduz as relações entre os actores neste mesmo sistema12.

Por conseguinte, o sistema internacional possui dois tipos de sistema,


nomeadamente:
 Sistema Homogéneo; Neste tipo de sistema há uma
visão compartilhada entre os seus membros. Os
Estados que são partes do sistema homogéneo
possuem a mesma concepção política e não colocam
a ordem internacional vigente em situação que
origina uma ruptura13. Reduzindo desta forma a
possibilidade do surgimento de um conflito.

 Sistema Heterogéneo; este tipo de sistema está


constituído por entidades (Estados) alinhados por
princípios e valores diferentes. Estes utilizam os
meios à disposição no sentido de transformar o
sistema em que fazem parte14. Portanto, aqui há uma
maior probabilidade de surgir um conflito facto que
condiciona o equilíbrio do sistema.
Neste contexto do sistema internacional
heterogéneo os Estados não partilham a mesma visão sobre o sistema, e
desenvolvem as suas acções de forma coordenada com o objectivo de alteração
do status quo reinante e para isto na vertente da geopolítica articulam seus
interesses através de coalizões, sendo os BRICS uma destas actuais
coalizações15.
12
MALATESTA Errico. Anarquismo e Anarquia. Editora, faísca. Net. 2009. P.4.
13
CRSITOVAO, António Lopes. Apontamentos de Relações Internacionais, Instituto de Relações
Internacionais/MIREX,2016.
14
SOUSA, Fernando de, Dicionário de Relações Internacionais. Edição Afrontamentos, Lisboa,2005. P.187.
15
Coalização significa acordo ou aliança, liga ou aliança entre potências.
8
Deste modo, percebe-se que o SI é um ambiente onde os mais
variados actores desenvolvem as suas relações e para isso usam vários meios.
Não obstante a isso, como estes actores possuem os seus próprios interesses,
existe assim dentro do sistema uma constante luta para os satisfazer, facto que
torna o SI num ambiente propenso a existência de conflitos.
Todavia, além de constituir-se em unidade que se interligam entre si,
sendo estas unidades compostas por entidades estaduais, o Sistema Internacional
apresenta igualmente determinada características que importa destacar.
1.3. Características do sistema internacional.
Para melhor compreensão das características do SI, é imperioso fazer-
se recurso aos níveis de análise bem como as correntes que norteiam o
pensamento das Relações Internacionais (RI).
Anarquia: SI é anárquico por existir a ausência de um poder superior,
um tribunal ou ainda um órgão com competência para punir ou reger todas as
relações que se desenvolvem neste mesmo sistema. Os Estados são, assim,
únicos responsáveis pela satisfação das suas necessidades e salvaguarda das suas
próprias soberanias, entendendo-se anarquia como a sociedade organizada sem
autoridade, no entanto compreende-se a autoridade como a faculdade de impor a
própria vontade16.
Ademais, a ausência de um poder superior ou de um ente que regule
juridicamente a acção dos Estados não é sinónimo de uma completa anarquia.
Mas, no Sistema Internacional não existe um polícia ou ainda um tribunal que
faça o uso com legitimidade da força, nem igualmente existe consenso sobre
quais serão os valores e regras normativas de Direito Internacional 17 que irão
regular o próprio sistema18.

16
MALATESTA Errico. Anarquismo e anarquia. Editora, faísca. Net. 2009.p,4.
17
O Direito Internacional é o conjunto de normas elaboradas para regulamentar as relações externas, sejam elas
entre os Estados, particulares ou organizações. Dados os diferentes interesses dos actores internacionais, o direito
internacional busca promover uma convivência harmoniosa e solucionar possíveis conflitos.
18
SOUSA Fernando. Dicionário de Relações Internacionais. Edições Afrontamento, Lisboa.2005. Op. Cit,p.13.
9
Num sistema anárquico denota-se a necessidade de cada Estado
constituir-se o único guardião da sua própria característica soberana, sua
independência e sua segurança. Mas ainda assim, existe implicitamente uma
relativa moralidade que conduz as relações entre os actores neste mesmo
sistema.
Assim, para Hedley Bull, tendo em conta a característica de soberania
inerente aos Estados, nenhum Estado está sujeito a um Governo Comum, e que
sendo assim, existe uma “anarquia internacional”19.
Neste contexto, embora o sistema internacional se configure como
anárquico e apresente vários actores que em função da ausência de uma entidade
que corporiza o poder e a falta de um “Estado Gendarme 20” que rege por
intermédio da força as variadas relações, estes desenvolvem a cooperação entre
si tendo em conta os mais diversos interesses que partilham em comum, deste
modo surge uma relativa ordem determinada por instituições e normas.
A existência da pluralidade de actores internacionais dá-se pelo facto
de todos os agentes ou ainda protagonistas possuírem a capacidade de intervir
em questões de várias ordens, de modo a atingirem os seus objectivos. A
pluralidade dos actores se traduz na existência de vários centros de decisões.
Para Hudley Bull, cada actor possui um governo e afirma a sua
soberania com reclamação a uma parte da superfície terrestre e tal ocorre quando
os Estados traçam a sua política externa21.
Segundo Philippe Braillard, tal visão das Relações Internacionais
enfatiza a interdependência existente entre os Estados. Pois as relações
internacionais contemporâneas não obedecem o paradigma levantado pelos
ideais conflitual e inter-estatal realista22. Sendo que depois do término da Guerra

19
BULL Hedley. A Sociedade Anárquica, IPRI, São Paulo, 2002, p.57.
20
Estado Gendarme é aquele cuja única função é manter a ordem pública, monitorando e protegendo a liberdade
recíproca dos indivíduos dentro da lei. É, portanto, a antítese do Estado intervencionista em questões
económicas, sociais, técnicas e culturais, cuja manifestação mais aguda é encontrada no Estado totalitário.
21
BULL Hudley : A Sociedade Anárquica, IPRI, São Paulo,2002, P.13.
22
SOUSA, Fernando de, Dicionário de Relações Internacionais. Edição Afrontamentos,Lisboa,2005. P.187.
10
Fria23, e com o desenvolvimento da tecnologia bem como do processo de
globalização, houve uma maior aproximação entre os diversos actores
internacionais que contribuiu para se criar um maior fluxo de interação entre
estes.
Contundo, o determinante do comportamento dos actores no sistema
internacional ocorre em função das características do próprio sistema que tendo
em conta a distribuição do poder cria o seu próprio alinhamento.
1.3.1. A Distribuição do poder no sistema internacional
Partindo do pressuposto de que este trabalho se propõe a analisar a
ordem e estrutura do sistema internacional, torna-se imperioso compreender as
nuances da distribuição do poder que são igualmente característica do próprio
sistema, bem como, entender até que ponto tal influencia para a existência de
determinada ordem entre os mais variados actores partes do sistema.
Deste modo, no que se refere a distribuição do poder, o SI configura-
se em : Sistema unipolar: este sistema possui o poder como elemento
central e a concentração deste mesmo poder em um único pólo. Aqui, existe um
actor com maior poder que os seus semelhantes. Por outro lado, este sistema
pode ainda dar lugar a três tipos de sistema, nomeadamente;
Confederação mundial; entende-se como aquela que tem origem em
decorrência de um processo de integração mundial, com a existência de um
único Governo que uma vez concebido, actuaria sobre todos os outros governos
nacionais e não directamente sobre os indivíduos. O que resultaria na
diminuição da característica soberana dos Estados membros desta mesma
confederação. São exemplos os Estados Federados.

23
Guerra Fria é uma expressão cunhada por Bernard Baruch, conselheiro de Roosevelt, para qualificar o período
compreendido entre os finais da Segunda Guerra Mundial (1945) e a queda do muro de Berlim (1989), período
também qualificado por Raymond Airon, de guerra improvável, paz impossível uma vez que a dissuasão nuclear
impediu as duas super-pontências rivais, EUA e URSS, de desencadearem uma guerra, mas sendo também a paz
impossível, uma vez que os dois actores em causa eram adversários.
11
Estado Universal; este surgiria dentro de uma integração 24 completa.
Dela resultaria a criação de uma comunidade mundial, o que daria lugar a
extinção do nacionalismo e a consequente divisão do actual sistema de Estados
separados por fronteiras terrestres.
Império Mundial; resultaria sob a existência de um Estado
hegemónico com a capacidade de centralizar em si o poder mundial. Tal Estado,
passaria assim, a dominar o globo por meio da demonstração de força que se
entenderia superior com uma capacidade de neutralizar ou aniquilar rapidamente
e por intermédio do poder militar, qualquer outro que pudesse surgir e perigar o
seu status quo25 dentro do sistema.
Sistema Bipolar: Neste tipo de sistema, diferente do sistema unipolar
o poder centraliza-se em dois polos. Tem como composição a existência de duas
superpotências que disputam entre si a hegemonia do poder mundial. Cada uma
delas possui um grau de poder incomparavelmente superior em relação a
qualquer outro Estado parte do sistema. No entanto, aqui não se regista uma
confrontação directa entre os mesmos, partindo do pressuposto que há o receio
da destruição mútua, desloca-se assim a confrontação para as áreas periféricas26.
Um exemplo de sistema bipolar ocorreu aquando da Guerra Fria, onde
havia a coabitação de duas superpotências. Por um lado, os EUA, que liderava o
bloco capitalista, e por outro lado, a União das Repúblicas Socialistas e
Soviéticas (URSS) que liderava o bloco socialista27.
24
Bela Balassa define integração como sendo um processo e um e um estádio. Como processo, a integração
entende-se como as medidas que visam a supressão da discriminação entre as entidades económicas que
resultariam da existência de diferentes Estados nacionais. Por outro lado, como estádio, Bela Balassa, considera
a integração como a ausência de diferentes formas de discriminação entre as entidades económicas nacionais.
25
Status quo é uma expressão abreviada de “in status quo ante”, que significa “no estado em que as coisas
estavam anteriormente”. Status quo é uma expressão que remete para o estado das coisas e situações, e por isso
em Relações Internacionais, quando utilizada, vem geralmente acompanhada de expressões como manter,
defender ou mudar.
26
Entende-se por áreas periféricas ou periferia, aqueles países que geográficas e economicamente encontram-se
numa fase de subdesenvolvimento, em oposição aos países do centro, constituídos pelos países industrializados.
O modelo centro-periferia é um esquema explicativo das relações entre dois espaços.
27
CRSITOVAO, António Lopes. Apontamentos de Relações Internacionais, Instituto de Relações
Internacionais/MIREX,2016.

12
Sistema multipolar: aqui partilha-se o poder em mais de dois polos e
em várias ordens. Tanto económica, militar bem como política.
Sistema difuso: neste tipo de sistema encontra-se uma variedade de
pólos onde está concentrado o poder, facto que torna este sistema variável pela
existência de múltiplos actores que em função da barganha, jogam um papel na
manutenção da balança do poder mundial.
Um exemplo de sistema difuso pode ser o actual sistema
internacional. Onde a capacidade de cada actor, não obstante a sua centralização
geográfica ou sua composição populacional, barganha directamente com aqueles
actores que em perspectiva possuem maior poder. Neste contexto, podemos
referenciar a correlação de força entre os EUA e a Coreia Norte.
Em suma, fica evidente, diante do exposto que a arquitectura do SI
assume-se como importante para a compreensão da movimentação dos actores e
está composto por um conjunto diversificado de definições que variam em
função da orientação teórica de cada autor, e que deste sistema, interactuam
certas forças que se circunscrevem no quadro do domínio da geopolítica.
1.4. Origem da geopolítica.
Ao longo da história da humanidade, tem sido uma constante por parte
de estadistas, diplomatas, militares, filósofos, historiadores e geógrafos de todo o
mundo, a interpretação das características e fenómenos dos espaços geográficos
das regiões visando à formulação de soluções de carácter político para alcançar
interesses específicos das nações ou dos Estados.
Nos vários aportes bibliográficos, encontram-se escritos sobre o
assunto de maneiras não sistematizadas elaboradas na Idade Antiga,
principalmente na Grécia e em Roma (até 476 DC) por Heródoto, Hipócrates,
Tucídides, Platão, Aristóteles, Lucrécio, Estrabão e Possidônio28.

28
MORTON, Adam David. A Geopolítica do Sistema dos e Capitalismo Global em Questão. REVISTA DE
SOCIOLOGIA E POLÍTICA Nº 29: 45-62 NOV. 2007. P.53.
13
Pelas características isolacionistas e corporativistas, houve uma
acentuada queda de interesse pelo assunto durante a Idade Média (até 1453);
encontram-se escritos de Marco Polo, Mandeville, Constantino VII, Marcelino e
Alberto Magno sobre o assunto. Durante a Idade Moderna (até 1789),
Montesquieu, Maquiavel, Jean Bodin, Botero, Münster e outros escreveram sobre
o tema, ao dar realce aos aspectos físicos da geografia com a organização dos
Estados, com suas características culturais e económicas29.
Posteriormente, surgem estudiosos como Brunhes, Haushofer, La
Blache, Bowman, Vallaux, Mahan, Mackinder, Spykman, Roucek, Borden,
Seversky e outros contemporâneos que se dedicaram ao estudo da Geopolítica,
alguns chegaram a estabelecer teorias que servem de base para se analisar as
acções políticas dos Estados30. Conforme citado acima, foram os trabalhos e
conceitos sobre a natureza política, geográfica e social do Estado, de Friedrich
Ratzel, que serviram como base para o estabelecimento da Ciência Geopolítica, o
que vale o seu reconhecimento como o precursor desta nova e importante ciência.
Seu grande mérito foi aproveitar os estudos políticos, económicos e
humanos dentro de um espaço geográfico, ao recorrer a História, através dos
estudos do passado e o momento actual dos Estados. Friedrich Ratzel (1844 1904),
natural da Alemanha e professor de Geografia em Munique e em Leipzig, criador
da Antropogeografia, no desenvolvimento de seus estudos escreve a obra
“Geografia Política”, na qual considera o Estado como resultante do binário solo-
homem; o homem influencia o Estado através de sua cultura e da actividade
política, enquanto o Estado permanece ligado ao solo, como um organismo vivo e,
por isso mesmo, sujeito a leis biológicas inevitáveis. É sobre o solo do Estado,
espaço físico-político, que o homem exerce suas actividades, as quais, se

29
IDEM.P.54.
30
MARTINS, Raul François. Geopolítica e Geoestratégia: O que são e Para que servem. 2º Edição. Editora:
Brasileirense, São Paulo. P. 54.
14
enérgicas, predispõem ao crescimento; se débeis, predispõem ao seu
enfraquecimento e até à extinção31.
Levando-se em conta a visão de poder da época, nota-se que o
conceito “ratzeliano” pressupõe como crescimento do Estado, o crescimento do seu
espaço físico em relação ao território original. Este conceito justificaria,
posteriormente, a política expansionista de Hitler, quando resolveu avançar nos
territórios dos Estados vizinhos. A essência da teoria do espaço vital (lebensraum)
foi base de sua obra, intitulada “Os Estados Unidos da América” 32.
Nesse trabalho, são estudados os fundamentos do poder estatal
exemplificados na hegemonia estadunidense no seio da família americana de
nações. Essa teoria ganhou maior desenvolvimento e profundidade em Leis do
Crescimento Territorial dos Estados Unidos (1896), ampliando ainda mais através
das suas sete leis de expansão do Estado, na obra Geografia Política, publicada em
189733.
Com os seus conceitos, entre outros, Ratzel deixou dois pensamentos
de alto grau de periculosidade: “O Estado é um organismo vivo”; “Espaço é
poder”. Baseado nessas premissas e conceitos, formulou as chamadas “Leis do
Crescimento dos Estados”, também conhecidas como “Leis dos Espaços
Crescentes”, inspiradoras de outras leis básicas da Geopolítica.
Do ponto de vista do seu conceito, Geopolítica pode ser definida como
o conjunto de acções e práticas realizadas no âmbito do poder, geralmente
envolvendo os Estados Nacionais no sentido de promover o gerenciamento e o
controle de seus territórios34.
Neste sentido, pode-se perceber que essas relações muitas vezes vão
além da própria noção de Estado, como a constituição de organizações regionais e
31
CASTRO, Iná Elias de. Geografia e Política: território, escala de análise e instituições. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2005. P.5.
32
ARLEY, Santana. A Teoria do Espaço Vital. 1º Edição. Editora: FUNIBER. 2019. P. 23.
33
ASSIS, José Ferreira. A Teoria Geopolítica Clássica de Mackinder Validada Pelas Açoes e Acontecimentos
Envolvendo A Rússia na Atualidade. 1ª Edição. Rio de Janeiro. P.4.
34
CORREIA, Pedro de Pezarat. Manual de Geopolítica e Geoestratégica. Ediçoes:70. Editora: Almedina. 2018.
P.91.
15
mecanismos internacionais, a exemplo da ONU (Organização das Nações Unidas)
e da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que constituem
territórios supranacionais.
Por fim, compreende-se que é no plano da geopolítica onde os mais
variados actores das relações interactuam e concebem a estratégia para se
constituírem em alianças ou coalizões num contexto multipolar de distribuição de
poder, onde surgem os países emergentes e a nova ordem mundial.

16
CAPÍTULO II- Os Países Emergentes no Contexto da Nova Ordem
Mundial.
O carácter dinâmico e policêntrico das relações internacionais permite
com que se possa depreender que dentro da dinâmica e do relacionamento
estatal exista, como característica inerente, uma visão de descentralização de
poder bem como concentração de forças em determinados pôlos de poder que,
no contexto de disputa geopolítica ou de construção de uma visão geoestratégica
facilita com que surjam ajuntamento de Estados, que mobilizados através de
interesses comum, se reúnam no sentido de criar-se as bases para o alcance de
seus obejctivos.
Neste sentido, do ponto de vista geral, compreende-se que, uma das
características do mundo que se descortina ao iniciar-se a segunda década do
século XXI é a crescente importância da inserção internacional dos designados
países emergentes. Estes países, através da identificação de determinadas
valências em comum, constroem uma nova geografia económica e social no
mundo, que não permite mais negligenciá-los na discussão dos grandes assuntos
políticos e econômicos internacionais35.
Por outro lado, a relevância cada vez maior dos países emergentes
pode ser concretamente percebida na legitimidade da afirmação do G20 como
principal foro de coordenação econômica mundial, na consolidação do grupo de
concertação dos BRICS bem como na reestruturação dos órgãos de governança
mundial, seja económica, como no caso das mudanças em curso nos
procedimentos das instituições de Bretton Woods, seja política, como na

35
CERVO, Armando Luís. História da Política Externa Brasileira. 2ª Edição. Editora UNB, 2013. p.21.
17
pretendida reforma do Conselho de Segurança da ONU, a fim de lhe conceder
maior representatividade, legitimidade e eficácia.
Desta feita, o presente capítulo propõem-se em abordar, de maneira
concisa, aspectos ligados aos países emergentes, a nova ordem mundial, a
caracterização dos países em desenvolvimento perpassando, no entorno da
caracterização geral dos cinco países membros dos BRICS (Brasil, Rússia,
Índia, África do Sul), com vista a compreender-se melhor as variáveis
subjacente à cooperação alargada entre os Estados membros desta organização.
2.1. Os países emergentes
Partindo do princípio de que em relações internacionais os fenómenos
não surgem por acaso nem abruptamente, e tendo em conta a necessidade da
adopção do conceito de causas profundas para a compreensão da origem dos
fenómenos, é importante entender-se que, o contexto de criação dos países
emergentes está em geral, associado a realização da Conferência de Bandung em
1955, ao surgimento do Movimento dos Países Não Alinhados, a formação do
Grupo dos 77, e num contexto mais contemporâneo, ao período posterior a
Guerra Fria, em que os países, do ponto de vista da sua estratificação, passaram
a ser objecto de divisão entre norte e sul36.

Neste sentido, dentro do campo doutrinário, não obstante a


inexistência de um conceito uniforme sobre o que seria entendido como sendo
países emergentes, a literatura compreende que, são países emergentes aqueles
países subdesenvolvidos que apresentam quadros de crescimento económico
prósperos e características socioeconómicas que diferenciam esses países das
demais economias periféricas. Todavia, este conceito foi primeiramente
adoptado pelo Banco Mundial na década de 1980 e, em consequência, tal

36
ALFRED, Sauvy. La Place du Tiers Monde dans les Relations Internationals. 1ª Ed. Editora, Larrousse. Paris,
2003. P. 6. (Tradução do autor).
18
configurou-se como designação para identificar países pertencentes ao sul global
que apresentavam níveis de crescimento económico elevado37.

Por conseguinte, do ponto de vista das suas características, os países


emergentes apresentam níveis medianos de desenvolvimento, um dinámico
parque industrial, uma boa capacidade de exportações e certo dinamismo
económico. Em função destes factores, estes países são igualmente, designados
por países em desenvolvimento, cujos exemplos englobam, entre outros, Brasil,
China, México, Índia, Singapura, Coreia do Sul, Argentina, Turquia, Indonésia e
Taiwan38.

Neste sentido, o Brasil, Rússia, Índia, China e a África do Sul,


inserem-se neste grupo de países emergentes, cujo crescente protagonismo na
política e na economia mundial, no plano académico, tem gerando análises que
apontam para a criação de uma nova ordem global. Ademais, os designados
BRICS têm sido utilizados no discurso político para qualificar algumas das
principais forças políticas da nova ordem mundial.
2.2. A Nova Ordem Mundial
As relações internacionais são em geral marcadas pelo dinamismo.
Este dinamismo permite com que não se mantém o mesmo status quo por um
longo período de tempo nem se afasta a possibilidade de uma superpotência
ceder o lugar a outros Estados que, em função das características que obtêm,
buscam um maior domínio económico, político, diplomático ou estratégico, com
o objectivo claro de alterar uma determinada ordem instaurada.
Em termos análogos, verifica-se que o sistema internacional, ao longo
do período da sua formação, foi marcado por vários períodos de transição que
em geral, podem ser descritos como uma ordem, status quo, estruturas ou
conjunturas favoráveis ao exercício de poder por parte de determinados Estados.
37
CHIN, Gregory. The Emerging Countries and China in the G20: Reshaping Global Economic Governance. 3ª
Edição. Editora Studia Diplomatica. Vol LXII. 2010. p.37. (Tradução do autor).
38
HURREL, Andrew. Hegemonia, Liberalismo e Ordem Global: Qual o espaço para potências emergentes? 1ª
Edição. Editora: FGV. 2009. p.67.
19
Tal verifica-se na evolução do sistema internacional que ao longo da
sua evolução histórica é possível identificar quatro tipos de SI. Nomeadamente o
Sistema Clássico Internacional (1648 a 1789: a Paz de Westfália). O SI de
Transição (1789 a 1945: Congresso de Viena e Versalhes), SI posterior à SGM
(1945 a 1989: A Carta da ONU) e por fim, o SI Contemporâneo pós Guerra
Fria39. É neste último onde se centraliza a abordagem do trabalho, tendo em
conta que após o declínio do Muro de Berlim, em 1989, e a dissolução da União
Soviética, em 1992, a antiga Ordem Mundial não cabia mais. A partir daí, surgia
uma Nova Ordem Mundial, em que a bipolaridade entre o capitalismo e o
socialismo, deixou de existir, dando espaço para o domínio dos Estados Unidos
como potência política e militar40.

Por outro lado, tendo em conta o processo de globalização, verificou-


se uma maior expansão das transações económicas, o que deu lugar ao
surgimento de novos blocos. Em consequência, novos países se destacaram
nesse campo, como a Alemanha e o Japão. Neste sentido, do ponto de vista da
sua caracterização, compreende-se que a Nova Ordem Mundial é caracterizada
pela unipolaridade na área militar e política, e pela multipolaridade na
economia.

Neste contexto, a Nova Ordem Mundial acarretou uma necessidade de


reclassificar a hierarquia entre os Estados Nacionais. Os que se classificavam
como países de primeiro, segundo e terceiro mundo, conforme o
desenvolvimento socioeconómico, passaram a ser chamados de países do norte
(desenvolvidos) e países do sul (subdesenvolvidos)41. Neste caso, a linha
imaginária de divisão não segue a linha do Equador, nem tampouco a divisão
norte-sul cartográfica.
39
DIAS, Reinaldo. Introdução ao Estudo da Sociedade Internacional Global, Editora. São Paulo. 2010. p. 59.
40
LOVE, Joseph L. A Construção do Terceiro Mundo. Teorias do Subdesenvolvimento na Romênia e no Brasil.
Rio de Janeiro. Editora: Paz e Terra, 1998. P. 643.
41
PINTO, Fábio de Almeida. Uma Proposta de Nova Ordem Mundial. 1º Edição. Editora: CIVICUS. 2017. p.54.
20
Sendo assim, os critérios de classificação são econômicos, e não
geográficos. Por outro lado, incluindo os países que se encontram no hemisfério
norte, como México e Índia, são considerados países do sul (subdesenvolvidos).
Da mesma forma, países localizados no hemisfério sul, como Austrália e Nova
Zelândia, estão classificados como países do norte42. Todavia, a abordagem
sobre a Nova Ordem Mundial, contém em si determinadas características
específicas que se podem compreender em43:

 Fortalecimento da globalização;
 O crescimento do neoliberalismo;
 O surgimento de novos blocos econômicos;
 A expansão dos sistemas financeiros internacionais;
 A facilidade de transporte e a ampliação da internet;

Deste modo, tendo em conta os factores descritos acima, percebe-se


que os blocos económicos passaram a ganhar mais importância depois da Guerra
Fria, que permitiu com que por conta da competitividade criada pelo aumento da
globalização e do neoliberalismo, os países precisavam se fortalecer e proteger-
se.

Em função disso, passou a verificar-se a ascensão de determinados


blocos económicos que uniram-se com vista a formar essa modalidade
económica. Alguns exemplos disso são a União Europeia, o Mercosul, a APEC
e o Nafta bem como os BRICS.

Neste sentido, os BRICS, grupo de países emergentes, paulatinamente


destacam-se no crescimento da economia. No actual contexto, esses cinco países

42
BEZERRA, Juliana. Diferença entre Países Desenvolvidos e em Desenvolvimento. Disponível em:
hhtps://www.diferenca.com/países desenvolvidos-e-subdesenvolvidos/. Pesquisa efetuada ao 21 de Outubro de
2021 às 12h:52min.
43
SOLDERA, Ricardo António. Fundamentos da Ordem Mundial Pós-Guerra Fria. 1ª Ed. Campinas, SP
2016.p.43.
21
juntos representam cerca de 25% da economia mundial e agregam ao mundo a
possibilidade de descentralização de poder, desconstruindo a visão de que o
sistema internacional actual seria marcado por uma centralização de poder onde
apenas 2 ou 3 potências responderiam pelos direitos e deveres da população
mundial44.
Em função disso, os países membro dos BRICS têm unido sinergias,
na intenção de proceder a uma reconfiguração ou roptura com a antiga ordem
mundial, caracterizada por um unipolarismo onde somente um único Estado
exerce a totalidade dos poderes. Numa visão centralizadora, antes apenas cerca
de oito países desenvolvidos se reuniam para tratar da economia mundial,
todavia, no actual contexto, com os BRICS surgiu o G20, onde os países
emergentes se reúnem junto com os desenvolvidos para discussão da economia
mundial45.

Percebe-se que a demonstração prática de tal pretensão, está


relacionada a transformação do G8 por G20, onde, através de uma estratégia de
extensão levado a cabo pelos BRICS, foi possível expandir o número de países
para este restrito círculo da governança global.
Portanto, a Nova Ordem Mundial surge para
reconfigurar o actual quadro das relações internacionais bem como
descentralizar o poder, tendo os BRICS como um dos blocos mais poderosos no
cenário global.
2.3. Caracterização dos países em desenvolvidos e em desenvolvimento
Feito o processo de contextualização da Nova Ordem Mundial,
importa neste subtema da pesquisa introduzir as características inerentes ligadas
aos Estados desenvolvidos e aos Estados em desenvolvimento, usualmente
designados como países ricos e pobres, noutras vezes identificados como países
44
LIMA, José António Graça et al. Cadernos de Política Exterior / Instituto de Pesquisa de Relações
Internacionais (IPRI). – V. 1, n. 1, 2015. Brasília: FUNAG. p. 20.
45

22
do Norte e países do Sul. Todavia, antes de proceder-se a introdução da
diferença existente entre os dois tipos de países, importa compreender-se o
conceito de desenvolvimento46.
Neste sentindo, compreendendo que um dos principais papéis do
Estado se consubstancia na promoção do bem-estar social para o seu povo, na
manutenção da paz e no asseguramento da sua soberania interna e externa, o
autor Gilson Oliveira, define o desenvolvimento como sendo um processo que
ocorre mediante alterações e melhorias institucionais sistemáticas dentro de um
Estado e que, em consequência, estas melhorias ou avanço irão refletir-se em
sectores políticos, económicos e fundamentalmente social47.
Deste modo, existem indicadores característicos para determinar o
grau de desenvolvimento dos países. Que são: indicadores simples e os
indicadores compostos48.
 Indicadores simples: usam-se para determinar o
desenvolvimento social, demográfico e económico de um país.
Dentre estes indicadores encontram-se o Produto Interno Bruto
(PIB), o grau de industrialização, a taxa de natalidade e
mortalidade, a taxa de escolaridade, a estabilidade das
instituições, o grau de democracia bem como o reconhecimento
dos direitos humanos.
 Indicadores compostos: resultam da junção dos indicadores
simples e compostos. Este tipo de indicador permite ter uma
maior precisão da realidade por ser mais geral na análise e tem
como objectivo compreender os dados numéricos resultantes do
estudo da economia, do avanço social e da demografia de um
46
Agência Brasileira de Cooperação. Formulação de Projetos de Cooperação Técnica Internacional (PCT):
Manual de Orientação / Ministério das Relações Exteriores, Agência Brasileira de Cooperação. 2ª Ed. Brasília,
2004. p. 13.
47
OLIVEIRA, Gilson Batista. Uma Discussão sobre o Conceito de Desenvolvimento. Revista. FAE, Curitiba,
Maio/ Ago 2002. V.5, n2, P.37- 48
48
MAIA, Redento. Economia- Lições Fundamentais. 2ª Edição. Plural Editoras- Grupo Porto Editora. Angola,
2015. p. 336
23
país. Estes indicadores são o Índice de Desenvolvimento
Humano. (IDH), o Índice de Pobreza Humana (IPH) e o Índice
de Desenvolvimento Ajustado ao Género (IDG) entre outros.
Por conseguinte, é através destes indicadores que se irão
verificar a diferença de desenvolvimento entre os países
desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Nos países
desenvolvidos a industrialização teve início em finais do século
XVII, geralmente estes países apresentam um grau de
desenvolvimento económico e social acentuado, o sector
comercial e dos serviços são activos e possuem uma economia
pós-industrial.

Assim, em termos de característica, os países em desenvolvimento são


marcadamente caracterizados por49:

 Elevado peso demográfico;


 Ligações limitadas para o comércio com países vizinhos;
 Bens de consumo vendidos internamente a preços muito acima do poder
de compra dos residentes;
 Mercado interno limitado;
 Baixa procura local dos produtos e fraca diversificação;
 Base produtiva limitada e, um nível muito elevado de importação de bens
devido à incapacidade de produção interna.

Deste modo, em função dos factores mencionados acima, os países em


desenvolvimento são caracterizados como tendo uma economia débil e como
sendo países fortemente dependentes das ajudas externas por parte das
instituições de Breeton Woods (Fundo Monetário Internacional e o Banco
Mundial)50, das exportações de commodities.
49
ALMEIDA, Paulo Roberto. A Organização Mundial do Comércio e os Países em Desenvolvimento. 1ª Edição.
Editora; Aduaneiras. São Paulo 2003. p.67.
50

24
Sendo assim, é por meio dos factores descritos acima, que verificar-
se-à a diferença de desenvolvimento entre os países desenvolvidos e os países
em desenvolvimento. À princípio, nos países desenvolvidos compreende-se que
a industrialização é objecto de um processo histórico e teve o seu início em
finais do século XVII, na generalidade estes países apresentam um grau de
desenvolvimento económico e social elevado, o sector comercial e dos serviços
são activos e possuem uma economia pós-industrial. Do ponto de vista dos
exemplos, paíseses como os Estados Unidos da América, Austrália, França, Grã-
Bretanha, são alguns destes países51.

Em contrapartida, nos países em desenvolvimento, em função das


várias circunstâncias históricas, o processo de industrialização teve início após a
segunda metade do século XX, e não obstante ocorrer um nível de crescimento
económico elevado, geralmente a riqueza criada nestes países não se traduz na
melhoria das condições de vida das populações, o que condiciona deste modo o
desenvolvimento do seu Índice de Desenvolvimento Humano52.

Portanto, em termos característico, compreende-se que no contexto da


divisão entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, existe um conjunto
de factores que subjuga os países em desenvolvimento no processo da sua
afirmação externa e que consequentemente os impele à solicitação de ajudas
externas ao desenvolvimento aos países desenvolvidos.

O sistema de gestão monetária de Bretton Woods estabeleceu as regra para as relações comerciais e financeiras


entre os Estados Unidos, Canadá, países da Europa Ocidental, Austrália e Japão após o Acordo de Bretton
Woods de 1944. A criação dos Sistemas de Bretton Woods foi o primeiro exemplo de uma ordem monetária
totalmente negociada destinada a governar as relações monetárias entre Estados independentes. As principais
características do sistema de Bretton Woods foram, a obrigação de cada país adoptar uma  política monetária que
mantivesse suas taxas de câmbio externas dentro de 1%, amarrando sua moeda ao ouro e a capacidade do Fundo
Monetário Internacional (FMI) de resolver desequilíbrios temporários de pagamentos. Além disso, houve a
necessidade de enfrentar-se a falta de cooperação entre outros países e evitar também a desvalorização
competitiva das moedas.
51
Disponível em: https://www.diferenca.com/paises-desenvolvidos-e-subdesenvolvidos/. Pesquisa efectuada aos
23-10-2021 às 12:05 min.
52
MATOS, Augusto Teixeira. Desindustrialização vs Industrialização. Jornal de Angola. Disponível em:
http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/desindustrializacao-versus-industrializacao-da-fantasia-aorealismo.
Pesquisa efectuada aos 23-10-2021 às 13:11 min.
25
Todavia, esta ajuda ao desenvolvimento concedida pelos organismos
externos, quer sejam em formato bilateral ou multilateral, cria um processo de
condicionamento operante e de dependência, em que os países em
desenvolvimento, do ponto de vista político, económico e social, através das
medidas de austeridade53, tornam frágeis as suas soberanias.

É neste contexto que, face aos elementos enunciados acima, que se


apresentam como factores de entraves para o desenvolvimento dos países do
Sul-global, e no sentido de equilibrar a balança de poder internacional, surgem
os países emergentes, que são os países com uma posição intermediária quanto
ao seu nível de crescimento económico e industrial54.

E estes países são a República Federativa do Brasil, Federação Russa,


Índia, República Popular da China bem como a África do Sul, que no contexto
contemporâneo, através dos seus processos de crescimento económico,
capacidade de barganha e capacidade de persuasão, criam um modelo de
descentralizar o poder internacional.

2.4. Caracterização Geral da República Federativa do Brasil

Oficialmente República Federativa do Brasil, nos termos do artigo 1º


da constituição de 1967, proclamou-se país independente a 7 de Setembro de
1822. É o maior país da América do Sul e o quinto do mundo em extensão
territorial. Com proporções continentais, estende-se por uma área de 8.515.767
km²55.

Situado na parte Centro-Oriental da América do Sul e banhado


exclusivamente pelo oceano Atlântico, o território brasileiro tem a forma

53
As medidas de austeridade são tomadas pelo governo durante um período de condições econômicas adversas,
para reduzir seu deficit orçamentário usando uma combinação de cortes de gastos ou aumento de impostos.
54
ADLER. Alexandre. O Novo Relatório da CIA: Como Será o Mundo em 2025. 1ª Ed. Editora, BIZÂNCIO.
Lisboa, 2009. p.198.
55
Enciclopédia Britânica Publicações Ltda.1º Edição; São Paulo-Rio de Janeiro Brasil. P. 1599. 63 IBGE:
Divisão Territorial do Brasil. Disponível em:https://pt.scribd.com/document/420590955/DivisaoRegional-Do-
Brasil-IBGE. Pesquisa efectuada aos 11-11-2021 as 12:30 min.
26
aproximada de um triângulo, possui as bases localizadas em latitudes inferiores
a 6º, com vértice apontado para o sul.

A República Federativa do Brasil está limitada a norte pela


Venezuela, Guiana, Suriname e pelo departamento ultramarino francês da
Guiana Francesa, a noroeste é limitado pela Colômbia, Bolívia e Peru, a
sudoeste pela Argentina e Paraguai e ao sul pelo Uruguai.

A República Federativa do Brasil afigura-se como uma República


Federativa de tipo presidencialista, com 26 estados e um distrito federal. Possui
aproximadamente uma população de 210 milhões de habitantes. O país é
dividido por 5 regiões (nomeadamente, Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste
e Sul). O país detém a maior reserva de água doce do planeta e possui também
mais de 20% de toda biodiversidade do mundo.

A constituição brasileira em vigor, a oitava desde a independência, foi


promulgada em 5 de Outubro de 1988. Nela, o poder executivo Federal é
exercido pelo presidente da República, eleito por sufrágio directo, em eleição de
dois turnos, e substituído em seus impedimentos pelo vice-presidente56.

Por possuir uma configuração Federativa, no plano estadual, o poder


executivo é exercido pelo governador, substituído em seus impedimentos pelo
vice-governador, e auxiliado por seus secretários de estado.

Portanto, a República Federativa do Brasil é igualmente um Estado


membro dos BRICS, e a sua caracterização geral, parte da necessidade em
compreender, num sentido analítico, o seu contexto interno, para, num plano
posterior, compreender a sua participação externa, com particular realce para o
organismo BRICS.

56
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
https://direitodescomplicado.com/download/constituicao-de-1988-em-pdf/. Pesquisa efetuada aos 23-11-2021 as
17hrs35min.
27
2.4.1. Caracterização Geral da Federação Russa

A Federação Russa congrega vários factores históricos que lhe


concedem o estatuto de importante actor no domínio das relações internacionais.
Herdeira do antigo império soviético, a Rússia é uma das principais nações em
termos geopolíticos de todo o globo.

A geografia russa, em razão da sua extensão espacial, é bastante


diversificada. O território russo é populoso e pouco povoado. A economia da
Rússia está ancorada em diversas atividades, como o comércio e os serviços
sendo o país uma dos principais pôlos logísticos da Eurásia57.

Do ponto de vista da sua organização, os russos são governados por


um sistema semipresidencialista. A Rússia dispõe, não só de uma enorme
quantidade de recursos energéticos (carvão, petróleo, gás natural e hidro-
energia) e minerais (cobalto, crómio, cobre, ouro, chumbo, manganésio, níquel,
platina, volfrâmio, vanádio e zinco), como também de praticamente todas as
matérias-primas requisitadas pela indústria moderna58.
Por outro lado, a industrial assenta as suas estruturas e desenvolvimento
nas indústrias ligadas ao fabrico de máquinas (turbinas, geradores elétricos,
utensílios de construção, automóveis, locomotivas, etc.), de produtos químicos e
de roupa e calçado (existem mesmo cerca de 30 cidades cuja população se
dedica, exclusivamente, à indústria têxtil), enquanto a agricultura obtém da
produção cerealífera (sobretudo trigo e cevada) a maior parte dos seus
rendimentos59.

Nesta mesma senda, a silvicultura e a atividade piscatória são de


grande importância económica, pois a Rússia não só tem a maior reserva
florestal do Mundo, como vê a sua imensa frota pesqueira ter acesso às duas

57
PIMENTEL, José Vicente. Debatendo o BRICS.3ª Edição. Editora: FUNAG, Brasília, 2013. p.76.
58
Caderno de Política Externa. Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais. V.1 nº1 (março,2015). p.43.
59
GIL, Izabel Castanha. Os BRICS podem Influenciar a Actual Ordem Mundial? Editora: Portas. São
Paulo,2010. p.36.
28
mais importantes áreas de pesca: os oceanos Atlântico e Pacífico. Os principais
parceiros comerciais da Rússia são a China, Brasil, Alemanha, os Estados
Unidos da América, Índia).

2.4.2. Caracterização geral da Índia

Situado no continente asiático, a Índia é o segundo país a nível


mundial com o maior número de população (mais de um bilião de habitantes).
Esta população caracteriza-se por uma diversidade étnica, religiosa e cultural
que marca toda a forma de vida da população. A partir dos anos 60, começou a
existir um rigoroso controlo do crescimento da população, pois este agravou o
quadro social do país a nível de miséria e fome60.

Assim, surgiram algumas medidas de modo a diminuir este


crescimento, tais como: divulgação de métodos contracetivos; esterilização da
população pobre e a limitação do número de filhos por família. O crescimento
tão elevado desta população está relacionado com questões culturais. Pois os
indianos acreditam que, quantos mais filhos tiverem mais condições de
confortos terão na velhice.

O forte aumento populacional, gerou sérios problemas em relação à


produção de alimentos. Para o combate à fome, o governo incentivou, a partir de
1960, a Revolução Verde. Esta caracterizou-se pela modernização das
actividades agrícolas por meio da introdução de técnicas avançadas de cultivo,
como o uso de maquinaria moderna e sementes seleccionadas.

Todavia, não obstante esta medida aumentar o volume da produção


agrícola, tal não solucionou o problema da fome no país. Isto porque, a Índia
destinava grande parte da sua produção agrícola à exportação, o que diminui a
oferta destes géneros no mercado interno. O Hinduísmo é a principal religião da

60
MODENA, Amanda Vilela. Índia: O país das diferenças. Disponível em:
http://www.brasilescola.com/historia/india-antiga.htm. Pesquisa efetuada aos: 25 de Novembro de 2021, as
12hr30min.
29
Índia, esta constitui um sistema social, uma vez que divide a sociedade em
diferentes castas, que são estabelecidas pela hereditariedade. As castas são
grupos de pessoas e famílias que se diferenciam uns dos outros, de acordo com a
posição social que ocupam, com mais ou menos privilégios e deveres. Este
sistema determina uma forte separação social, que explica assim o papel de cada
indivíduo na sociedade. Oficialmente, o governo indiano não reconhece a
existência de castas, no entanto, estas marcam muito a sociedade e o modo de
vida da população indiana.

Nas últimas décadas, o sector industrial atravessou uma série de


dificuldades, como a escassez de capital para novos investimentos. Assim, o
governo recorreu a empréstimos do FMI (Fundo Monetário Internacional), e
teve assim que obedecer às regras e politicas impostas por este.

Em troca da ajuda financeira do FMI, o país a partir de 1990 teve que


promover uma maior abertura da sua economia, elmininar as barreiras
alfandegárias, diminuir o proteccionismo e dar uma maior liberdade às
importações e ao capital externo. Tal facto originou um crescimento de
aproximadamente 8%, nos últimos anos.

Devido a esta nova política, muitas empresas particulares indianas e


do governo, não têm conseguido concorrer com as multinacionais, decretam
falência ou são geralmente compradas pelas multinacionais. Em suma, a Índia
apesar de pertencer a um mundo subdesenvolvido destaca-se por ser um país de
forte influência política e económica.

2.4.3. Caracterização geral da China

Do ponto de vista político a China possui o socialismo como


característica, porém embora seja caracterizada como uma República Socialista
o sistema Chinês tem também o capitalismo como o seu modelo económico
funcionando desta forma com dois modelos.
30
A actual constituição da RPC data de 4 de Dezembro de 1982, o poder
legislativo é da responsabilidade da Assembleia Nacional do Povo, e o Poder
Judiciário é de tutela do Congresso Nacional do Povo e por último o poder
Executivo é uma competência do Presidente da República61.

Após Mao tse Tung, a China passou por um processo de reformas que
foram aprofundadas por Deng Xiao Ping 27 tanto no plano político como
económico e que representaram uma ruptura radical com todo o caminho de
fechamento que os Chineses viviam até a década de 70, que abarcaram
instituições e o pensamento das Relações internacionais confucionista62.

No plano económico quando Deng Xiao ping começou com as


reformas económicas em 1978, a economia Chinesa tinha somente 5% do
tamanho dos Estados Unidos da América, com um PIB per capita praticamente
igual ao da Zâmbia, porém após as reformas a China experimentou um porém
após as reformas a China experimentou um crescimento médio do PIB de cerca
de 10% ao ano até 2014, elevando assim o PIB per capita quase 50 vezes63.

Desta forma a China deixou apenas de ser uma economia emergente e


retornou o seu status de grande potência económica ocupando o segundo lugar
depois dos Estados Unidos.

Quanto aos aspectos económicos a China apresenta-se como sucesso da


economia Mundial, com um processo de “ Dual track” 30 que se traduziu na
melhoria das condições materiais e sociais da população quadruplicando a renda
média da população e atingido em 2010 uma renda nominal per capita,
ponderada pela paridade no poder de compra ( PPP), de US$ 7536, que segundo

61
VISENTINI, Paulo ET al. BRICS: As potÊncias Emergentes: China, China, Índia, Brasil e África do Sul. 1ª
Edição. Editora vozes. Petrópoles, Rj.2013. p. 12.
62
MENDONÇA, Bruno Macêdo. A transiçaõ de Deng Xiao Ping e a China Conteporânea: Continuidade e
Aprofundamento das Reformas na era Globalizada. Universidade de Brasília. Brasília, 2009. p.21.
63

31
estimativa do Banco Mundial aponta que, entre 1978 e 2004, 500 milhões de
pessoas teriam deixado a linha de pobreza, com o número de pobres a cair para
60% em 1978, para 10% em 200464.

Contudo a Existência Milenar do Império Chinês e a sua posterior


transformação em RPC, conjugada com a sua capacidade económica que lhe
atribui a posição de segunda potência económica mundial bem como a sua
densidade populacional, com mais de 1 milhão de habitantes, e a sua extensão
territorial são factores que inevitavelmente estimulam sua expansão na busca de
uma posição de primeira potência.

2.4.4. Caracterização geral da República da África do Sul

O último país membro dos BRICS a ser objecto de caracterização


como fundamento para sustentar o trabalho é a República da África do Sul.

A República da África do Sul situada no extremo meridional do


continente africano, possui uma área de 1 219 912 km2. Encontra-se limitada
pela Namíbia, a noroeste, pelo Botswana e pelo Zimbabwe, a norte, por
Moçambique e pela Suazilândia, e com o Lesoto, um enclave totalmente
rodeado pelo território sul-africano65.

Esta nação é conhecida pela sua vastíssima biodiversidade, além da


grande diversidade étnica-línguistica (não existe uma cultura unificada e a
língua mais falada é o inglês somando mais 10 idiomas que varia conforme a
região). Sendo que o último censo realizado em 2011 estima-se que a população
sul-africana é constituída por um total de 44.819.778 habitantes, sendo que os
negros constituem cerca de 79,3%; os brancos 9,1%, mestiços 9% e os indianos

64
GUIMARÃES, Alendre Queiroz. A Economia Política do Modelo Económico Chinês: O Estado, o Mercado, e
Os Principais desafios. Editora Curitiba. Curitiba Novembro de 2012. p. 104.
65
PEREIRA, Analucia  Danilevicz. A longa história da desigualdade na Africa do Sul. IN: Mal-estar na Cultura.
Abril-Novembro de 2010. Disponível em: www.malestarnacultura.ufrgs.br. Pesquisa efetuada em: 15/11/2021 as
16hr57 min.
32
e asiáticos 2,6%. Estima-se que em 2025 a população diminua para 35 109 000
habitantes, como consequência da expansão da epidemia de SIDA66.

Além que o país constitui o lar de cerca de 5 milhões de imigrantes


ilegais e abriga uma considerável população de refugiados e exilados
provenientes de países vizinhos. Os maiores grupos religiosos incluem-se no
Cristianismo, também se professam as crenças tradicionais, o Hinduísmo e o
Islamismo.

Por conseguinte, no actua contexto muito se tem discorrido sobre o


seu crescente papel no cenário internacional, uma vez, que sendo este um país
emergente criado e desenvolvido sobre a visão do regime do apartheid ou, ou
seja, do desenvolvimento separado que consolidou-se como política e como
ideologia (que visava a separação, a superioridade racial e a intolerância), que
desenvolveu-se sobretudo após a II Guerra Mundial (1939-1945) até início da
década de 90, que levou posteriormente a adopção da democracia multi-racial do
Governo Mandela que constitui os desafios relacionados a lidar com as
crescentes demandas dos seus cidadãos para a realização de direitos económicos
e sociais, bem como respeito pelas liberdades civil e política fundamentais.

No plano da sua actuação externa, e tendo em conta a sua importância


geopolítica, a África do Sul foi convidada a fazer parte dos BRICS, que no
início era formado apenas por países como o Brasil, Rússia, Índia e China. A
importância da África do Sul deve-se em grande parte por esse país ser
considerado como um representante da África em geral, uma vez que é o país
africano mais desenvolvido economicamente.

66
RODRIGUES, Jorge Luiz. Na África do Sul: Uma Fome que vai Além dos Golos.
http://oglobo.globo.com/esportes/na-africa-do-sul-uma-fome-que-vai-alem-de-gols-3051002. Pesquisa efetuada
em: 27 Novembro 2021.

33
  A inclusão da África do Sul está bem mais direccionada para uma
jogada política, visto que o PIB sul-africano é bem menor do que o dos outros
integrantes, ocupando uma posição bem mais baixa no ranking mundial. A
questão é que sendo a África do Sul um membro dos BRICS, este grupo passa a
ter influência em mais um continente.  Apesar de ser uma potência emergente a
África do sul não possui uma série de características comuns aos países do
mesmo status, como território extenso, grande população e poder militar, há
ainda a necessidade de eliminar uma série de problemas históricos e recentes,
que poderão garantir maior influência global e uma maior estabilidade do país.

Contundo, percebe-se que, o dinamismo das relações internacionais, o


seu carácter policêntrico e o surgimento dos países emergentes, se inserem numa
nova abordagem marcada por um processo de profundas transformações na
distribuição do poder internacional. No contexto da nova ordem mundial
compreende-se que o protagonismo adquirido pelos países em desenvolvimento
traduziu-se numa configuração crescentemente multipolar do sistema
internacional, sendo que o paradigma tradicional baseado na actuação
unidireccional da cooperação do Norte para o Sul já não explica uma realidade
que se apresenta mais complexa, heterogénea e interdependente da qual a os
BRICS são parte deste novo paradigma

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