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Conhecimentos acerca do
homem e da sociedade;
Conhecimento dos
métodos e técnicas de
intervenção e treino da
sua aplicação;
Conhecimento das
instituições e serviços
sociais;
Desenvolvimento da
responsabilidade
social, fundada no
respeito pela pessoa
humana e pela sua
dignidade.
A formação ministrada nestas escolas tinha a
duração de três anos e organizava-se em
torno de alguns eixos curriculares principais,
designadamente: a área médico-sanitária; a
área jurídica; a área moral e religiosa e a
área técnica. A formação foi alargada para
quatro anos em 1956, em que o quarto ano
passou a incluir a realização de uma
monografia social. Ainda em 1956, foi
também criado o Instituto de Serviço Social
do Porto (Martins, 1999 a).
No caso português, sublinha-se, ainda que no
que se refere à formação de grau superior, isto
é, universitária, em Serviço Social, ela foi
instituída, pela primeira vez, pelo ISCSPU
(actual ISCSP), no ano de 1967, com a criação
do Curso Complementar em Serviço Social, na
sequência da prévia criação (em 1964) do curso
de bacharelato em Serviço Social.
Como sublinham Branco e Fernandes, a
institucionalização do Serviço Social em
Portugal, tanto enquanto formação académica
como enquanto profissão, teve por "marco de
referência o Estado Novo, cuja visão acerca do
Serviço Social era a de uma espécie de
apostolado exclusivamente feminino, de forte
inspiração confessional católica" (2007: 192), o
que enformou, claramente, as representações
e as expectativas sociais em torna da própria
profissão e dos profissionais que a exerciam.
A relação com outras ciências
estratégias de abordagem.
A utilização do empirismo é, nesta
perspectiva, uma forma de produzir
conhecimento objectivo, isto é, quantitativo
e científico, acerca das situações/problemas
com que se defronta no quotidiano e nos
quais tem de intervir.
A procura de regularidades, empiricamente
mensuráveis e quantificáveis, conduz,
inevitavelmente, à separação do
indivíduo .com a sua situação/problema) da sua
história de vida pessoal, do seu meio
envolvente directo e do contexto particular em
que nele se manifesta essa situação/problema.
Ao fazer esta separação, a todos os títulos
artificial, o Serviço Social acaba por interpretar
as condutas individuais à luz de visões
estereotipadas, integrando-as em categorias e
grupos que, pelo facto de não serem conformes
à norma social, representam um factor de
desequilíbrio e desordem social.
Citando Carrillo, "se o mundo é concebido
como estrutura perfeita, em que cada
elemento ocupa um lugar adequado, o
dissonante é considerado patológico"
(2004:168).
A influência funcionalista resulta evidente em
práticas que configuram aquilo que Howe
(1999) designa por intervenção de perfil
assistencialista. Neste tipo de intervenção, a
procura da manutenção da ordem e do
equilíbrio social,
leva os trabalhadores sociais a limitar as suas
acções a pequenas mudanças que
restabeleçam essa ordem e esse equilíbrio,
mas que não impliquem alterações profundas
no meio social.
De igual modo, a ênfase no ajustamento das
condutas às normas sociais, relega para plano
secundário o livre arbítrio do cliente, e fá-lo,
privilegiando, na explicação das
situações/problema, os estereótipos
(fundados em regras e explicações causais
que regem o todo social), em detrimento das
interpretações individuais do sujeito acerca
da sua própria situação.
O Marxismo
O contexto social e económico de desigualdade,
aliado às teses de Hegel e Marx, foi
determinante para o desenvolvimento, no
Serviço Social, de uma teoria do conflito, cujos
conceitos centrais são, justamente, as
formulações marxistas acerca da dialéctica e da
alienação.
Relativamente à primeira, Marx defende que
o mundo é regido por uma dinâmica de
conflito nas relações sociais — a luta de
classes traduzida, em última instância, no
binómio dominadores/dominados.
Quanto à alienação, Marx concentra-se no
seu significado de desumanização do
indivíduo, defendendo que as instituições da
sociedade capitalista, sejam elas sociais,
económicas, religiosas ou políticas, servem
apenas para afastar o homem de si mesmo,
da sua essência, retirando-lhe dimensão
humana e reduzindo-o a objecto.
Do ponto de vista do Serviço Social, o
orientação funcionalista.
Assim, onde o funcionalismo procura a adaptação
à norma social, o marxismo preconiza a mudança
radical da ordem vigente; onde a orientação
funcionalista procede a análises lineares de
relação causa/efeito, a teoria marxista procura
analisar as dimensões latentes, ligadas às
desigualdades sociais originadas pelo capitalismo.
Finalmente, onde o Serviço Social de
orientação funcionalista vê o patológico, isto
é, a perturbação à norma social, o Serviço
Social de inspiração marxista encontra o
único motor para a transformação da
estrutura social.
Reconhecidamente, a história da afirmação
do Serviço Social e a sua progressiva
assimilação ao aparelho dos Estados, colocou-
o numa situação intermédia, de mediação,
entre dois grupos sociais portadores de
interesses antagónicos: de um lado, o grupo
dos detentores do poder político e da
riqueza, do outro, o grupo dos excluídos,
colocados à margem do sistema e sem
recursos de autonomia pessoal e social, que
lhe permitam superar essa sua situação.
Payne (2002:299), citando Rojek, distingue três
posições distintas que podem ser assumidas
pelo trabalhador social: em primeiro lugar, uma
posição progressista, em que o trabalhador se
perspectiva a si próprio como agente de
mudança, ao ligar a sociedade burguesa
(detentora do poder e dos recursos) com a
classe operária. Aqui, o trabalhador social
detém uma importante função, ao nível da
promoção da consciência e acção colectivas e
contribui, por essa via, para a mudança social.
Em segundo lugar, identifica-se uma posição
reprodutiva, em que o trabalhador social se
converte, ele próprio, em elemento de
perpetuação do sistema capitalista, na medida
em que, ao transferir recursos materiais, capazes
de satisfazer as necessidades mais prementes dos
grupos desfavorecidos, ele está a atenuar os
efeitos da desigualdade social e a controlar uma
eventual revolta desses grupos, convertendo-se,
desse modo, num instrumento de opressão, ao
serviço dos interesses da classe dominante.
A terceira das posições possíveis corresponde
ao que Rojek designou por posição
contraditória, em que o trabalhador social
surge como um elemento debilitador da
própria luta de classes, pois se por um lado,
actua como agente de controlo social, por
outro, ele também contribui para o
desenvolvimento da classe operária,
fornecendo-lhe recursos de conhecimento e
poder.
A influência do marxismo sobre o Serviço
Social fez emergir o chamado Serviço Social
radical que, tendo conhecido amplo
desenvolvimento na década de 1970, foi
depois objecto de intensa controvérsia, que
implicou significativa perda de influência
durante a década seguinte, ressurgindo
depois, nos anos 90, associado à constatação
das profundas desigualdades geradas pela
governação conservadora em muitos países
ocidentais (Payne, 2002).
O Serviço Social radical desenvolveu-se, então, a
partir da crítica ao designado Serviço Social
tradicional, demarcando-se dos seus métodos e
colocando novas questões/desafios ao Serviço
Social. Salienta-se, no entanto, que muitas das
perspectivas defendidas pelo Serviço Social
radical estavam já presentes no pensamento de
Gordon Hamilton,
quando, ainda em 1940, se insurge contra a
linearidade da análise aos problemas sociais,
defendendo que estes têm de ser abordados
na sua complexidade, bem como contra a
patologização do cliente, que acreditava
dominar, ainda, a prática do Serviço Social
(Aranda, 2004).
No que respeita às novas questões colocadas
pelo Serviço Social radical, elas interrogam
todo o sistema do trabalho social, tal como
ele se tem organizado desde a sua génese.
Neste sentido, considera que ao ser atribuída,
ao Serviço Social, uma função de controlo
social, no quadro do aparelho de Estado, o seu
principal empregador (seja em organismos
estatais seja em organismos por ele
controlados) isso acaba por se traduzir numa
prática de preservação dos interesses das
classes dominantes.
De igual modo, a profissionalização e a
formação de um grupo profissional, com
identidade própria, podem conduzir à
submissão dos interesses do cliente aos
interesses profissionais de classe (Payne,
2002:301).
O Humanismo
Pela ênfase colocada na dimensão subjectiva e
interpretativa, e pela centralidade da
experiência pessoal, o Humanismo estabelece
uma ruptura com as orientações funcionalista e
marxista, na medida em que, se por um lado
rejeita as explicações objectivas e fundadas na
lógica hipotético-dedutiva,
próprias da abordagem de tipo funcionalista,
por outro, rejeita também a existência de um
determinismo filosófico, de tradição
hegeliana e marxista, que presida à evolução
das sociedades humanas e aos factos sociais a
ela subjacentes.
A orientação compreensiva caracteriza-se,
antes de mais, pela procura das razões
subjectivas que se ocultam por trás da
realidade objectivável e aparente dos factos
sociais, ou seja, pela busca dos significados
mais profundos que os homens atribuem às
suas condutas.
O Humanismo, que teve como uma das suas
figuras centrais Carl Rogers, e a sua Terapia
Centrada no Cliente, reivindicou, como
premissa teórica e metodológica a tese que
todos os indivíduos procuram a
autorealização, através de um projecto de
vida dotado de significado individual, sendo
esta procura de auto-realização o elemento
determinante de todas as suas condutas.
Enquanto influência para o Serviço Social, é
determinante o pressuposto humanista da
subjectividade como única forma de
conhecimento da realidade. A abordagem das
situações tem de ter como ponto de partida,
o ponto de vista do protagonista dessas
mesmas situações.
Assim, o que realmente conta é a apreensão
dos significados e intenções que subjazem à
conduta individual, isto é, "dos significados que
assumem, para os indivíduos, as suas
experiências quotidianas e aforma como estas
experiências afectam o seu comportamento e a
sua conduta perante os outros' (Carrillo,
2004:191).
Ainda do ponto de vista da influência das
teorias humanistas para o Serviço Social,
importa sublinhar a centralidade atribuída à
relação entre o terapeuta e o cliente e às
condições em que esta relação deve ocorrer.
Assim, na sua exploração teórica acerca da
temática da relevância da relação terapêutica,
Rogers defendeu que é pela relação
estabelecida com o profissional que o cliente
descobre, em si mesmo, o seu potencial de
crescimento e transformação, convertendo a
própria relação num espaço de desenvolvimento
individual (Rogers, 1984).
Já no que se refere à sua teorização acerca
das condições que constituem requisitos para
a relação, Rogers destacou e sistematizou
alguns conceitos centrais para o Serviço
Social, como sejam, a empatia, a
sinceridade, a transparência e a aceitação
(Rogers, 1974).
O estatuto científico do Serviço Social
intervenção.
Na verdade, "a utilização precipitada de
materiais de outras disciplinas gerou uma má
utilização das mesmas (... ) esta utilização de
variáveis e indicadores desadequados
significa privar a teoria do Serviço Social da
possibilidade de se enriquecer com conceitos
extraídos da prática" (Caparrós, 1997:20).
Por se ter afirmado com uma lógica
profissionalizante, de "profissão de ajuda", sem
preocupações de demarcação de um espaço
específico no âmbito das ciências sociais, o
Serviço Social só posteriormente se concentrou
na constituição de um corpo teórico e de
métodos de investigação próprios.
Não deixa, aliás, de ser interessante
sublinhar que foi, justamente, a existência
de uma intervenção profissional instituída,
associada a uma formação profissional
específica, que acabou por se constituir como
o elemento legitimador da identidade
científica do Serviço Social.
Paulatinamente, o Serviço Social foi, ao longo
do seu século de existência instituída,
conquistando um espaço próprio, no campo
dos saberes e das práticas das ciências sociais
e, à medida que foi delimitando o seu
alcance real, os seus conteúdos específicos e
a sua praxis profissional, foi-se também
afirmando como uma disciplina social com
fundamentos científicos:
O Serviço Social distingue-se, cada vez mais,
por um esforço de elaboração teórica e
conceptual, de sistematização e
fundamentação da sua experiência e
actividade, que está para além do
conhecimento meramente prático da
sociedade (Lagos, 2004:269)
Segundo Lima (1989), o Serviço Social, no seu
processo de desenvolvimento, passou por
uma sucessão de etapas, cuja designação
ilustra todo um percurso evolutivo no sentido
da afirmação do estatuto científico: etapa
pré-técnica, etapa técnica, etapa pré-
científica e, finalmente, etapa científica, ou
seja, o momento em que o Serviço Social
chama a si a análise das relações causais
entre os fenómenos, abordando-as com um
procedimento científico.
Só nesta última etapa se consagra a faceta
reflexiva do Serviço Social que permite a
produção de teorias que transcendem o
marco da experiência imediata e a
abordagem segmentada dos fenómenos
sociais.
Nesta medida, o Serviço, Social foi-se,
progressivamente, distinguindo das formas de
intervenção social que o precederam,
também pelo seu carácter científico, ou seja,
porque recorre à investigação para construir
conhecimento e planificar
as suas intervenções, porque recorre à teoria
para compreender a realidade social e para
abordar essa realidade e, finalmente, porque
recorre ao pensamento sistemático e à
análise lógica para deduzir, relacionar e
argumentar.
A investigação em Serviço Social
social.
A metodologia da investigação em
Serviço Social
recolha da informação.
Relativamente ao investigador, a metodologia
qualitativa admite á existência de elementos
que comprometem a sua objectividade.
Defende, mesmo, a implicação do investigador
com o objecto de estudo, considerada a única
forma de atingir um conhecimento profundo do
mesmo — o homem como instrumento de
investigação.
Neste processo de implicação com o objecto
em simultâneo.
O objectivo da metodologia qualitativa é a
interpretação (compreensão) dos fenómenos
e, para a conseguir, recorre à lógica indutiva.
A investigação de tipo qualitativo centra-se
no particular e a sua teoria funda-se na
realidade (grounded theory).
Do ponto de vista das técnicas e instrumentos
de investigação, favorece os que lhe
permitem obter conhecimento em
profundidade dos significados subjacentes aos
fenómenos, como sejam, a observação
participante, as entrevistas os focus group,
ou as histórias de vida.
Identificam-se, assim, duas orientações
principais, da investigação científica em
Serviço Social. Estas orientações remetem
para a questão central da abordagem da
realidade fundada na objectividade ou, em
oposição, na subjectividade.
A filiação num destes paradigmas traduz-se,
quantitativo ou qualitativo.
A primeira, influenciada pelo paradigma
empirista (experimentação e quantificação)
dotou o Serviço Social de destreza na
investigação, capacidade de previsão e
instrumentos para avaliação das
intervenções.
Todavia, esta análise fundada em causalidades
lineares, a exaltação da objectividade do
investigador e a defesa da universalidade das
conclusões, tornam esta orientação
particularmente vulnerável a críticas à
profundidade das suas conclusões, face à
comprovada complexidade dos problemas
investigados.
A segunda orientação, dominada pelo paradigma
heurístico, ao destacar a complexidade e
imprevisibilidade do real, rejeita a existência de
conclusões universais e as condutas objectivas do
investigador.