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A construção da Acção Colectiva

 Importância da Negociação Resolução de


Conflitos e criação de Consensos
 Analise de Actores

Docente: Fernanda Teixeira


1º Semestre - 2022
A acção colectiva como um processo que se
constrói a partir de forças, tensões e
interacções:
 Dada a complexidade da sociedade actual, a acção
colectiva resulta não apenas da implementação de etapas
racionais e sequenciais de um projecto, de forma linear,
mas resulta sobretudo de uma acção flexível e em constante
mutação, construída a partir da força dos acontecimentos,
da sua imprevisibilidade, das suas contradições e
antagonismos e de interesses que se combinam;
 Assim, construir uma acção colectiva, pressupõe a
habilidade e capacidade técnica de saber partir das
circunstancias e oportunidades, de saber gerir imprevistos
que decorrem da própria acção, numa permanente
construção de relações entre diferentes actores.
A acção colectiva envolve actores
colectivos e individuais:
Actor colectivo – “grupo de pessoas
organizadas, mobilizadas a partir de
experiências, interesses e de solidariedade
convergentes em torno de um projecto comum”
( Duperrê, 2004);
Mas por sua vez estes grupos são compostos
por indivíduos que têm os seus interesses, as
suas motivações e aspirações individuais, que
por vezes resultam em tensões que criam uma
dinâmica nas relações do grupo influenciando a
acção.
Assim a construção e afirmação de uma acção
colectiva, caracteriza-se cada vez mais pelo
“resultado de construçoes, elaborações ou
negociações, concretizadas na base entre
indivíduos que conciliam interesses face a
determinado objectivo e que cruzam
implicações” (Monteiro, 2004:135);
Assim diz-se que a AC não é inata, mas sim
construída, mesmo se numa fase inicial surge
como uma reacção espontânea face a um
acontecimento ou acontecimentos adverso/s.
Constrói-se através da capacidade de
avaliar, decifrar, desvendar as
justificações e logicas para a acção dos
diferentes actores, muitas vezes
contraditórias.
A partir da heterogeneidade de
motivações e interesses individuais, se
vão adoptando diferentes papéis dos
indivíduos que compõem o grupo ou
grupos, desenvolvendo-se e afirmando-se
assim uma identidade (Besson, 2008)
 Um dos riscos que por vezes se corre na analise dos
processos de construção de uma acção colectiva, é o
da tendência para se considerarem os actores de uma
forma homogénea, sem compreender a singularidade
de cada um.
 Assim, deve tomar-se em conta que “a pessoa não é
nem individual nem colectiva, mas fruto da dialéctica
entre o singular e o universal” (Garnier, 1998).
 A forma como um individuo estabelece relações
sociais, não surge como dicotomia entre individual e
o colectivo, mas sim como o resultado de uma
coexistência dos diferentes papeis individuais e
colectivos de cada um.
Pólos constitutivos da Acção Colectiva

Actor Acção

 Acções geradas a partir


 Diferentes
de acontecimentos,
motivações e circunstâncias que se
interesses;
Dife Dinâmicas vão alterando;
 Diferentes lógicas e tensões
 Modelo dedutivo
de acção; (linear) ou indutivo
 Indivíduo com
( dinâmico)
vários papéis.

Actor / Acção
Na análise da construção da AC é
interessante considerar a análise das
lógicas dos actores a partir dos “mundos
de justificações” que Luc Boltanski e
Laurent Thevenot identificam.
Segundo estes autores os 6 mundos de
justificação do quadro a seguir, são a
origem para os principios e valores, bem
como justificações do papel e identidade
dos actores.
Mundos de justificação dos actores

Mundo Cívico

Mundo Mundo
inspiração Industrial

Mundo
Mundo Opiniao
Domestico

Mundo
Administrativo

Ramos, Teresa Margarida, com


base em Besson (2008)
 Mundo Cívico: Dimensão colectiva, democracia,
participação (ligação entre os membros da
colectividade)
 Mundo Industrial: Projecto/Objectivos, metodologia,
eficácia, performance ou desempenho
 Mundo doméstico: Confiança, empoderamento,
proximidade
 Mundo Administrativo: Leis, regulamentos
 Mundo Opinião: Representações, reconhecimento
pelos outros;
 Mundo Inspiração: Relações Humanas, Estimular
recursos pessoais, desenvolvimento pessoal –
estabelece ligação entre a pessoa e uma totalidade.
Cada um destes mundos tem como
referencia diferentes valores, provocando
tensões entre actores e dando importância
`a necessidade de se identificarem os
mundos em presença e de se
estabelecerem compromissos entre si.
Não se está pois perante um actor
unificado, pacifico, igual a si próprio o
tempo todo, mas perante um actor plural
com diferentes experiencias e papeis e
múltiplas formas de os preencher.
A importância da negociação, resolução
de conflitos e criação de consensos:
As sociedades hoje caracterizam-se por uma
grande diversidade de crenças e valores muitas
vezes antagónicos (nos indivíduos ou nas
organizações);
Numa interacção entre pessoas com valores e
crenças diferentes, é necessário que se construam
compromissos, tendo em conta os seus interesses,
experiências e valores;
Deve procurar-se um consenso em nome do bem
comum (desde os interesses económicos até às
formas de ver a vida, a sexualidade, a família).
Isto significa:
A possibilidade de fabricar e manter laços
sociais sem os quais, viver em conjunto
deixa de fazer sentido;
E remete para a capacidade de o sistema
de actores dar um sentido, uma visão de
conjunto considerada por todos como
legítima, apesar das diferenças existentes
em cada um dos actores.
Quem são os actores na AC – análise da
estratégia dos actores:
 Esta estratégia para a análise dos actores na AC (que muitas vezes
designamos pela palavra inglesa “stakeholders”) é a estratégia
levada a cabo para identificar pessoas, instituições ou grupos,
envolvidos nas diferentes fases de uma Acção Colectiva (desde o
planeamento à intervenção), visando compreender melhor as suas
características, as suas motivações e o que as mobiliza para a
Acção, tendo em conta os objectivos desta.
 Esta estratégia pode ser designada de diferentes formas: análise
de actores, análise de poder e influência de actores, participação
ou dinâmica de parceria, etc.
 Parte do princípio, de que os grupos sociais, organizações e as
autoridades aos diferentes níveis, têm perspectivas e expectativas
diversificadas e múltiplos interesses e que é fundamental analisar
o seu posicionamento face aos projectos de intervenção.
Não existe uma definição única de actor
numa acção colectiva, mas o que é
importante reter, é que não são apenas
indivíduos, mas também grupos ou
instituições;
A análise tem que ser feita com base nas
relações de interesse ou implicação nas
acções e nos seus atributos face a uma dada
questão ou a um recurso, mas também nas
relações de poder e como é que estes
diferentes actores interagem entre si.
A que se chama actor?
“Pode ser uma pessoa, um grupo de indivíduos, uma
organização ou uma instituição com um ou mais porta
–vozes” (Bion)
São “sujeitos” que participam na historicidade – isto
é têm um interesse próprio e uma participação
individual com fins colectivos – e não são meros
agentes de troca.
Os actores têm um projecto de sociedade e
estabelecem entre si uma rede de relações ainda que
desiguais.
Quando os actores representam interesses colectivos
são designados por actores institucionais.
A constituição de um actor faz-se por via da acção.
Como fazer a análise estratégica dos actores?

Não existem técnicas que se possam aplicar de


forma mecânica em todas as situações, mas deve
analisar-se caso a caso. O importante é responder
às seguintes questões:
◦ Que técnica de participação deve ser usada para cada
momento?
◦ Para cada técnica: quais são os objectivos? Quem
participa e porquê? Os interesses estão todos
representados? Os interesses dos mais desprotegidos
estão representados? Como pode a técnica de
participação melhorar o que está a ser feito? Que riscos
existem na sua utilização? Quais são as suas limitações?
O que se pretende com esta análise?
◦ Identificar as pessoas, instituições ou grupos
envolvidos nos processos de planeamento e noutros
projectos de intervenção.
◦ Aprofundar as suas características e motivações
que os levam a mobilizar-se para participarem em
Acções Colectivas.
◦ Nesta análise estratégica analisa-se também o
poder e a influência dos actores, a sua participação,
as dinâmicas das parcerias que desenvolvem, etc.
◦ O objectivo é aumentar a capacidade de
participação dos vários actores e fazer corresponder
os projectos aos vários interesses e expectativas.
As técnicas existentes:
Para identificação da caracterização dos
actores;
Da interacção e relações de poder;
Análise processual de referência aos
objectivos do programa e de adesão ao
programa por parte dos actores.
O objectivo fundamental é caracterizar cada
actor e o seu lugar no processo de AC, bem
como a influência que cada um pode ter e a sua
importância no interior da rede de actores.
Importância dos actores no Planeamento da AC

 Quando se planeia uma AC colocam-se questões


como:
◦ Quais são os actores que estão presentes e quais os seus
interesses e experiências?
◦ Que legitimidade estes conjuntos de actores têm para
participar numa dada acção?
◦ Como é que os actores chegam a acordos nas
negociações?
◦ Que dispositivos permitem gerar uma certa “harmonia”
nas trocas? Que contrapartidas entre os diferentes actores?
◦ Como se garantem os interesses dos excluídos?
◦ Quais são as dinâmicas e os sentidos das parcerias entre
actores?
Técnicas de identificação dos actores
O método básico de identificação dos actores
relevantes para um projecto de AC passa por 4 etapas:
◦ Etapa 1- compreender e delimitar as fronteiras do projecto,
bem como as problemáticas centrais da mudança que se
pretende implementar;
◦ Etapa 2 – Identificar os grupos, instituições, indivíduos,
organizações , autoridades que
 Estejam de alguma forma relacionados com o projecto;
 Quer estejam ou não localizados na região;
 Que tenham ou não uma posição de influência;
 Quer possam ou não ser afectados pelo projecto.
◦ Etapa 3 – Analisar mais detalhadamente alguns dos grupos,
seleccionado os mais significativos que se prevê que venham
a ter uma grande influência sobre o projecto.
Etapa 4 – A análise dos actores
envolvidos, mesmo que pouco ambiciosa,
tem sempre como objectivo fornecer
elementos para a estratégia de acção: a
representação de interesses que pode ser
útil ou que pode ser obstáculo, o
equilíbrio de parceiros no projecto, a
dinâmica de grupos, etc.
Na análise podem ser usadas diferentes
matrizes, que analisam as várias vertentes
que são relevantes.
Estudo de Caso:
Implementação do CPC (Cartão de
Pontuação Comunitária) para promoção
da melhoria de oferta de serviços de
educação `as comunidades.
Exemplo: Melhoria dos Serviços de Educação com o uso do CPC

Quem sente o
problema?
. Estudantes
Análise dos .Pais
resultados e
Negociação Comunidade em
impacto
geral;
Responsáveis da
Educação;
CE
Problema sentido: Professores
baixa qualidade do ONGs
serviço de educação

Mudança
Definição da
acção e
procura dos
meios

Acção colectiva
Matriz de identificação dos actores com base nas
características:

Problemáticas Problemática 1 Problemática 2 Problemática 3

Actores

Actor 1
Actor 2
Actor 3
Matriz de identificação dos actores pelos seus
interesses e envolvimento
Interesses Impacto Prioridade e
potencial no mobilização face
projecto ao projecto
Primários:
Actor 1
Actor 2
Actor 3
Secundários:
Actor 1
Actor 2
Actor 3
Terciários:
Actor 1
Actor 2
Actor 3
Matriz da identificação dos recursos dos
actores

Competências Impacto Legitimidade e Recursos Pontuação


do aceitação no meio total
projecto
Público
Serviços
públicos, etc

Eleitos
Municípios,
etc

Associa
-ções

Outros
Matriz da relação entre actores e entre actores e os
problemas identificados

Modo como é Capacidade e Relação com


afectado pelo motivação para outros actores
problema participar na
resolução do
problema
Actor 1
Actor 2
Actor 3
Matriz de análise organizacional

Tipo de Envolvimento/ Capacidade Importância


entidade adesão de liderança dos objectivos
Actor 1
Actor 2
Actor 3
Matriz de actores motores e actores freio

Actor motor Actor freio Actores sem


classificação
Actor 1
Actor 2
Actor 3
Matriz sumária da análise da participação
Informação Consulta Parceria Controle
Identificação
Planeamento
Implementação
Monitoria e
avaliação

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