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Docente: Ana Teresa Viegas Milheiro

Disciplina: Economia Política, 2021

Notas das aulas

CAPITULO I - CONCEITOS SOBRE O PENSAMENTO ECONÓMICO

1.1 O Objecto do Estudo da Economia versus Economia Política

Economia, é definida como sendo a ciência que estuda a produção,


distribuição e consumo de bens e serviços em presença de recursos escassos, perante
as necessidades humanas. Estes actos podem assumir essencialmente uma
abordagem individual ou do agente económico (microeconomia) ou uma
abordagem colectiva ou agregada como consequências do agregado das acções
microeconómicas numa dimensão espacial, temporal, sectorial, etc
(macroeconomia).

Paul Samuelson1 define a economia como o estudo da forma como as


sociedades utilizam recursos escassos para produzir bens com valor e como os
distribuem entre pessoas.

Alfred Marshal2 define Economia política ou mais tarde Economia como sendo
um estudo da humanidade nos negócios comuns da vida; examina a parte da acção
individual e social que está mais intimamente ligada à conquista e ao uso dos requisitos
materiais do bem-estar. Assim, é por um lado um estudo da riqueza; e, por outro lado, e
mais importante, parte do estudo do homem.

Porquê economia política? A expressão economia política provém de uma


perspectiva em que o objecto central da ciência económica se envolve na análise
das consequências colectivas como reflexo das escolhas individuais.

A economia pode funcionar somente a partir de decisões individuais, sendo


que estas decisões podem trazer desequilíbrios económicos e sociais como os
monopólios, os oligopólios, a subprodução, o desinvestimento, a desigualdade na
distribuição de rendimentos, a pobreza, etc, por isso em economia política entende-
se que deverá haver uma entidade supra (geralmente uma entidade estatal ou o
Estado) que deverá intervir no mercado no sentido de regular tais desequilíbrios.
Essa regulação poderá ser feita através da intervenção directa, substituindo-se ao
agente económico ou indirecta, através de normas jurídico-económicas. Nos últimos
anos, houve um renascimento da Economia Política, com o propósito mais
específico de assegurar a re-conexão dos avanços teóricos com o plano das
políticas económicas tendo em conta a maximização de valores de “bem-estar
social”.

Paul samuelson e William D.Nordhaus, 18ª Edição, McGraw-Hill, 2005.


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2Marshall, Alfred (1890 [1920]), Principles of Political Economy, v. 1, pp. 1-2 [8th ed.]. London:
Macmillan.

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Além disso, devido a tendência de democratização dos países e a
privatização da iniciativa económica, (pois se concluiu pela história da economia
que a economia de mercado é aquela capaz de criar riqueza porque é a que
incentiva à criatividade e a produtividade) os governos necessitam de se financiarem
a partir dos impostos pagos pelos agentes económicos, logo surge uma maior
necessidade por parte dos governos em controlarem a economia.

Origem do conceito de Economia Política

A expressão “Economia Política” foi usada em 1615 pelo


francês Antoine Montchrétien e apareceu pela primeira vez em seu livro Traité de
l'Economie Politique (Tratado de Economia Política). Montchrétien, inspirado em
autores ligados ao pensamento político absolutista, com Jean Bodin, foi um dos
primeiros teóricos a ressaltar a interpenetração entre política e economia, ou entre
organização social, o Estado, e a actividade económica.

Economia Política e as suas ramificações

Ainda no século XVII, autores como o britânico John Locke deram


prosseguimento às reflexões sobre a interacção entre actividade económica e a
política, desde um ponto de vista filosófico, procurando definir o carácter natural
do direito à vida, à liberdade e à propriedade; até o papel que o Estado
desempenharia: proteger tais direitos. Locke foi sucedido pela tradição dos
chamados economistas clássicos, ou os clássicos do liberalismo britânico, dos
séculos XVIII e XIX. Adam Smith, com o seu livro “A Riqueza das Nações”,
figura entre os principais. Outros nomes importantes são os
de David Ricardo, Thomas Malthus e Turgot.

O Liberalismo Económico (séc XVIII)

O liberalismo económico tem em Adam Smith sua principal figura3. Para ele, o
Estado não deveria intervir na economia, defende a livre concorrência, o livre

3 Para compreender a economia ou ciência económica moderna, que tem como objecto de análise fenómenos como a
acumulação de riqueza, a divisão do trabalho, o valor sobre bens e produtos, a moeda e os juros, etc., é indispensável saber
quem foram alguns autores como Adam Smith (1723-1790) e as contribuições que ele legou para esse tema.
O escocês Adam Smith se debruçou sobre diversos temas da ciência económica no século XVIII, e construiu modelos de
explicação que se tornaram clássicos entre os britânicos e exerceu influência sobre a quase totalidade de economistas e
teóricos sociais do século XIX, tais como David Ricardo, John Stuart Mill, Karl Marx e Carl Menger.
A sua primeira obra de destaque, cujo título era The Theory of Moral Sentiments [Teoria dos sentimentos morais], de 1759,
não tratava diretamente do mercado e dos fenómenos económicos, mas fazia uma profunda análise sobre o modo como as
nossas “paixões” (ódio, vaidade, inveja, benevolência, bondade, solidariedade etc.) constroem a auto imagem que queremos
que os outros tenham de nós mesmos. Essa necessidade da aprovação do outro depende de como conseguimos administrar
essas “paixões”, principalmente as negativas. Paixões negativas, como o ódio, fecham-nos para o convívio social. Essas
investigações foram fundamentais para a teoria que Smith desenvolveu sobre o trabalho e sobretudo o trabalho que é feito
dentro da esfera da economia de mercado, após a revolução industrial, funcionaria como uma forma de ajustamento dessas
“paixões”. O trabalho exercido no âmbito do livre mercado, segundo Smith, harmoniza os interesses dos indivíduos, sejam
esses indivíduos bondosos e benevolentes, sejam egoístas e destemperados. A sua obra principal, An Inquiry into the Nature
and Causes of the Wealth Of Nations (Uma investigação sobre a natureza e as causas da Riqueza das Naç ões), de 1776,

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câmbio no mercado e a propriedade privada, sendo que a sua única função era a de
assegurar que o mercado não sofreria intervenções. Para Smith, a “mão invisível” do
mercado era capaz de se auto-regular, constituindo-se um elemento independente,
eficiente e eficaz.

Adam Smith defendia que era necessário acabar com o mercantilismo4, os altos
impostos e o proteccionismo com o fim de estimular o comércio internacional.
Segundo os liberalistas, os agentes económicos são movidos por impulsos e
ambição próprios, o que impulsionaria o crescimento e desenvolvimento económico,
favorecendo toda a sociedade, promovendo uma evolução generalizada.
Resumidamente, o liberalismo económico cria a pura concorrência, a lei da oferta e
da procura e os mecanismos de auto-regulação naturais do mercado (ex. os mais
criativos e com preços mais baixos são os que mais vendem).

Do Estado de Bem-Estar Social ao Neoliberalismo Económico no Século XX

A noção de Estado de Bem-Estar Social teve início na Inglaterra no pós-II


Guerra Mundial, quando o partido trabalhista, de ideologia social-democrata,
estabeleceu que independentemente do seu rendimento, todo cidadão teria o direito
de ser protegido pelo Estado.
A partir do pensamento e da implantação do bem-estar social dos cidadãos, os
governos começaram a criar medidas para que o Estado oferecesse serviços para a
sociedade. Para isso, foi necessário implantar uma estruturada de previdência
social e um organizado sistema de assistência médica. Desde então, alguns
Estados passaram a oferecer serviços prestativos aos cidadãos, como a
Smith diz: “Não é da benevolência do dono do talho ou do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que
eles têm pelos seus próprios interesses. Nós nos dirigimos não ao seu humanitarismo, mas à sua autoestima, e nunca lhes
contamos as nossas próprias necessidades, mas eles conhecem-nas pensando nos benefícios que poderão obter delas3. Não
é necessário que sejamos virtuosos nas nossas acções dentro da esfera do mercado, visto que, para Smith, a satisfação da
procura dos outros está implícita na acção em prol de si mesmo. Essa é a tese expressa pela metáfora da “mão invisível”,
isto é, da autorregulação do mercado, bem como do paradigma político liberal.
As investigações de Smith também se estenderam para outros âmbitos, como o do processo de acumulação de capital a
partir do excedente produzido e do investimento que se faz com esse excedente, que é a motriz do sistema da economia de
mercado. Smith conseguiu fazer exposições satisfatórias sobre esse processo e outros, como o da definição de valor sobre o
produto (e a diferença entre valor de uso e valor de troca), os juros, a questão da estipulação do salário e a relação entre
empregador e empregado – reflexões que foram analisadas criticamente por outros autores, a posteriori, como Karl
Marx, Ludwig Von Mises e John Meynard Keynes.Smith também se caracterizou pela sua dura crítica
ao sistema mercantilista (crítica que também foi feita pelos fisiocratas franceses) e ao sistema de governo que o
acompanhava, o absolutismo, que tornava o Estado superdotado de mecanismos de interferências não só no âmbito do
mercado, mas também na vida dos indivíduos.
4 Características do mercantilismos: Vigente durante o Absolutismo Monárquico, sistema de governo centrado

exclusivamente na figura do rei / rainha. Assim, o Estado controlava totalmente a economia;


Acúmulo máximo de metais preciosos, prática que ficou conhecida como Metalismo ou Bulionismo;
Estado exporta mais do que importa, táctica aplicada para fortalecer a indústria nacional. Esta prática ficou conhecida
como Colbertismo (em referência ao ministro das finanças francês Jean-Baptiste Colbert, que impulsionou a ideia)
ou Balança Comercial Favorável;
Acúmulo de capitais oriundos do comércio marítimo pelos países europeus, graças as grandes navegações. Graças a este
sistema, os países podiam comprar barato e vender caro, através dos Pactos Coloniais;
Incentivo e desenvolvimento de indústrias locais, principalmente nos países mais ricos, dificultando a necessidade de
importar produtos de outros Estados e evitando a saída de moedas.

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institucionalização de seguros contra a velhice, a invalidez, doenças e
maternidade. Posteriormente, implantaram-se outros serviços assistenciais, como o
seguro-desemprego. Todos os seguros sociais disponibilizados pelo Estado aos
seus cidadãos passaram a ter enormes custos para os governos, e muitos governos
resolveram apenas parcialmente os problemas sociais, mas em contrapartida os
Estados tiveram que aumentar os tributos públicos.

O neoliberalismo surgiu então com o objectivo de minimizar a acção do Estado


na economia e promover a política de cortes em gastos sociais, ou seja, de diminuir
o Estado Providência. O neoliberalismo teve a sua ascensão na década de 1970, na
Inglaterra e nos Estados Unidos, onde o Estado de bem-estar social sofreu várias
restrições na assistência à população.

O neoliberalismo é uma premissa económica e social que se manifesta em


defesa do Estado mínimo, que seria a menor intervenção possível do Estado na
economia. Trata-se de uma retoma das ideias liberais existentes nos séculos XVIII
e XIX e que estavam relacionadas com o pensamento de Adam Smith.

A diferença básica entre liberalismo e neoliberalismo, primeiramente, reside no


contexto histórico em que surgiram (o primeiro no século XVIII e o segundo no
século XX) e, em segundo lugar, reside no facto de o neoliberalismo defender
eventuais intervenções estatais na economia em tempos de crise, para socorrer o
mercado enquanto o liberalismo defende uma maior ausência efectiva do Estado
na Economia.

Mas o que significa dizer que o Estado não deve intervir na economia? Muitas
pessoas não compreendem a ideia de “Estado mínimo”, afinal, independentemente
do regime político adoptado, os governos tendem a controlar os rumos da
economia, seja para aumentar ou diminuir as taxas de juros ou os valores
salariais, por exemplo. Mas nesse caso, a mínima intervenção pública no mercado
significa a retirada do Estado em acções de empresas e a extinção ou a menor
existência possível de instituições públicas. Diante disso, a principal face do
neoliberalismo são as privatizações, que representam a venda ou transferência das
instituições públicas para a iniciativa privada.

Outra expressão do modelo económico neoliberal são os cortes dos gastos


públicos. A fim de desonerar de impostos a população e, principalmente, as
grandes empresas (que, ao menos em tese, seriam responsáveis pela geração de
empregos), o governo deveria evitar gastos com políticas sociais e de infraestrutura,
além de reduzir investimentos em educação e saúde. Para os neoliberais, esses
setores da sociedade são melhor oferecidos pela iniciativa privada e a presença do
Estado só inviabilizaria o rendimento dos empresários e a geração de empregos por
eles oferecida.

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Aquele que é considerado o precursor do neoliberalismo no mundo é o
economista austríaco Friedrich August von Hayek, que, na década de 1940,
argumentava a não interferência do Estado na economia e criticava planos
económicos como o New Deal nos Estados Unidos, baseado em ideias
relacionadas com a social-democracia, que defende o controlo do mercado pelas
instituições do Estado. A principal acusação de Hayek à social-democracia era a
de que incentivava a proliferação de sindicatos, elevava os gastos com salários e
mão-de-obra e onerava, portanto, os investidores.
Apesar desse modelo ter sido pensado a partir de 1947 (2 anos após o final da
segunda guerra mundial), foi apenas no final da década de 1970 e início dos anos
1980 que o modelo foi adoptado pelos países considerados centrais, como
Estados Unidos (com Ronald Reagan) e, principalmente, na Inglaterra (com
Margareth Thatcher). Nos países periféricos, os primeiros a adotarem o “novo”
sistema foi o Chile (graças ao regime ditatorial de Augusto Pinochet), a Bolívia, e
o Brasil.
O neoliberalismo se justificava ainda por incentivar a intensificação da
competição entre os pares de uma mesma sociedade, sob as premissas da
chamada meritocracia (construída sobre os parâmetros do Darwinismo Social) e
por estabelecer uma distinção entre “vencedores” e “derrotados”, além de
enfraquecer as leis trabalhistas e o poder dos sindicatos. Os neoliberais defendem
que a assistência social não é dever do Estado, mas um problema que deve ser
superado pelas leis do mercado. O neoliberalismo sofreu várias críticas dos
movimentos sociais.
A economia planificada

A Economia planificada, também chamada de economia centralizada, é um


modelo económico que defende o controlo do Estado sobre a economia. Esse
modelo ficou conhecido após a sua aplicação durante mais de 70 anos na extinta
União Soviética5.

No modelo de economia centralizada, a maioria das empresas que atuam


na economia é estatal, ou seja, pertence ao Estado. Ao contrário do que acontece
na economia de mercado, a lei da oferta e da procura não dita as leis do comércio,
o governo é quem toma as decisões sobre os preços, a oferta, etc. Assim, um
produto que esteja em falta não sofre um aumento do preço e, do mesmo modo,
um produto que esteja em excesso não sofre reduções.

Assim, as lógicas e estratégias de mercado seguem a elaboração de planos.


Esses planos, que na União Soviética eram chamados de “planos quinquenais”, têm
a função de desvendar e resolver os problemas e fragilidades da economia. Outro
objetivo é conter o desemprego, através da ampliação do setor produtivo.

5 A economia planificada na URSS se baseou nas teorias do marxismo, que na sua forma pura, defende que deve haver uma
revolução pela qual a classe operária toma para si os meios de produção e o governo, suprimindo a burguesia e os seus
meios de hegemonia e manutenção do poder, que constituem os conjuntos chamados infraestrutura e superestrutura.

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Com a planificação da economia, seria possível o controlo da problemática
da distribuição do rendimento, pois todos teriam emprego e salários que não
seriam suficientes para a acumulação, mas que permitiriam a manutenção dos
custos de vida na sociedade.

Actualmente, apenas Cuba, Coreia do Norte, Vietname e Mianmar adoptam


a planificação da economia. O declínio desse modelo está ligado ao fim da URSS
e às sanções impostas pelos países capitalistas, liderados pelos Estados Unidos,
contra aqueles países que aderem à economia planificada. Outro motivo é o alto
índice de burocratização, visto que todas as ações comerciais são controladas pelo
Estado, o que desfavorece a dinamização e o desenvolvimento, além de contribuir
para o aumento da corrupção.

Além disso, em todos os países que adotaram a economia planificada,


observou-se a formação de uma classe dominante, atrelada ao Estado que detinha
maiores e melhores privilégios sociais que eram pagos à custa da grande parcela
da população, o que também ocorre na economia de mercado.

1.2 A Escassez e a Afectação de Recursos, as Opções na base da Escassez

As escolhas de que trata a Economia são aquelas que são ditadas pela escassez
de bens e recursos disponíveis para que a satisfação das necessidades possa ser
alcançada. Por isso o objectivo essencial da ciência económica é o de encontrar
soluções que permitam minimizar (ou equilibrar) essa escassez.

O Corolário ou as consequências da escassez leva-nos a constatar que:

1. Se não fosse a escassez as escolhas de que trata a Economia seriam


irrelevantes, visto que uma opção errada quanto ao emprego dos bens e
recursos disponíveis poderia sempre ser remediada, lançando-se mão de
alternativas ilimitadas;

2. Apesar de alguns exemplos particulares de abundância ou de


superabundância, a escassez se verifica globalmente no sentido de que o total
dos meios disponíveis é insuficiente para o total das necessidades; dito de
outra maneira a procura potencial de meios que satisfazem as necessidades
excede sempre a oferta potencial desses meios;

3. Algumas necessidades básicas de sobrevivência, como a alimentação por


exemplo, são efectivamente recorrentes, sendo que a sua plena satisfação num
dado momento não impede o seu ressurgimento posterior, de forma periódica e
cíclica, pelo que, vistas do presente, essas necessidades se afiguram como
inesgotáveis, a reclamarem a administração, ao longo do tempo dos meios que
que possam saciá-las;

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4. A escassez é eminentemente gradual e relativa, visto que a intensidade com que
ela se verifica depende da própria intensidade com que as necessidades são
sentidas. Por exemplo mais ou menos intensas dependendo de hábitos e
influências externas;

5. Não sendo possível uma utilização indiscriminada e universal dos recursos, o


facto de eles serem superabundantes para a satisfação de uma necessidade não
significa que o excedente desses recursos possa ser reorientado, com um mínimo
de eficiência, para as restantes necessidades que o reclamam (por exemplo,
uma estrutura produtiva que está a lançar no mercado canetas em excesso não
pode reafectar, sem custos, parte dos seus recursos para a produção de
tinteiros);

6. Mesmo que em abstracto cada um de nós dispusesse de todos os meios


adequados à satisfação completa de todas as suas necessidades, um meio
continuaria sempre a ser escasso - o tempo - , a impedir a satisfação
simultânea daquelas necessidades.

1.3 O Institucionalismo, a Economia e o Direito

O estudo da economia política levou a conceitos como o institucionalismo.

Institucionalismo: A economia institucional ou institucionalismo é uma corrente


do pensamento económico que surgiu nos Estados Unidos, no início do século XX,
impulsionada principalmente pelos escritos de Thorstein Veblen, John Rogers
Commons e Wesley Clair Mitchell. Já na área jurídica, o Institucionalismo é uma
corrente desenvolvida em França e em Itália6. Concentra-se na compreensão do
papel das instituições na moldagem do comportamento económico clássico ou de
iniciativa individual sem a intervenção do estado. A sua reintrodução na forma da
economia política institucionalista é portanto um desafio explícito à economia
neoclássica, visto que se baseia na premissa fundamental, à qual os neoclássicos
se opõem, de que a economia não pode ser separada dos sistemas político e social
nos quais ela está inserida. A escola económica de pensamento institucionalista se

6 A chamada economia política institucionalista, oferece ao direito e aos juristas engajados na


teoria e na prática do direito económico a oportunidade de tomar parte em um rico diálogo sobre do
desenvolvimento económico e seus enigmas. Isso resulta do fato de o institucionalismo ser um
campo eminentemente interdisciplinar e transversal, no qual as agendas de pesquisa das ciências
sociais podem almejar ganhos explicativos conjuntos e fertilizações cruzadas entre as disciplinas.
Em particular, o institucionalismo caracteriza-se como um campo aberto aos temas e debates da
economia política, nos quais o direito, e o chamado direito económico, em especial, tem importantes
contribuições a dar. O institucionalismo pode servir, assim, como um referencial interessante e muito
útil para o direito (e para os juristas) no seu papel de analisar e aperfeiçoar as instituições que
organizam e planeiam a economia.

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desenvolveu rebatendo ou contrariando argumentos da escola neoclássica sobre a
noção de utilidade marginal e sobre a existência de um equilíbrio natural da
economia.

De um modo geral, o institucionalismo é uma importante ferramenta para o


estudo e compreensão da sociedade, pois o funcionamento e a efectividade das
instituições permitem entender uma série de funções sociais, políticas, económicas e
culturais através das quais se regula o comportamento do indivíduo. No entanto, o
desenvolvimento dos estudos institucionais tem gerado novas abordagens sobre o
tema e ao que hoje vigora dá-se o nome de Neoinstitucionalismo. As novas
concepções sobre o tema surgiram no decorrer das décadas de 1970 e 1980 em
resposta a supostas crises de abordagem do Institucionalismo. Enriqueceram o
debate os enfoques racionalistas e formalistas que negavam os aspectos históricos
e sociológicos em que se baseavam as teorias tradicionais para a explicação da
acção social.

A economia institucional enfatiza o estudo abrangente das instituições e


considera o mercado como resultado de uma interacção complexa entre essas
várias instituições (e.g. indivíduos, firmas, estados, normas sociais). A tradição
mais antiga continua ainda hoje como uma abordagem heterodoxa da economia.
Uma variante significativa é a nova economia institucional do final do século XX,
que integra desenvolvimentos mais recentes da economia neoclássica na sua
análise. As leis e a economia têm sido um grande tema desde a publicação de
Fundações Legais do Capitalismo, de John Rogers Commons, em 1924. A economia
comportamental é outro marco da economia institucional baseado no que se sabe
sobre psicologia e ciência cognitiva, em vez de simples suposições sobre o
comportamento económico (já iniciada com a visão de Adam Smith).

Alguns institucionalistas vêem Karl Marx como pertencente à tradição


institucionalista, devido ao fato de ele ter descrito o capitalismo como um sistema
social historicamente determinado. Outros economistas institucionalistas
discordam da definição do capitalismo proposta por Marx e consideram que
elementos definidores, como mercados, moeda e propriedade privada dos meios de
produção, evoluam, de fato, ao longo do tempo, mas como resultado de acções
intencionais dos indivíduos.

O institucionalismo tradicional (e sua contraparte moderna, a economia


política institucionalista) enfatiza os fundamentos legais de uma economia ( John
R. Commons) e os processos evolucionários, habituais e volitivos pelas quais as
instituições são erigidas e depois mudadas. As vacilações das instituições são
necessariamente um resultado dos incentivos criados pelas próprias instituições,
sendo portanto endógenas. O institucionalismo tradicional é, de muitas maneiras,

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uma resposta para a ortodoxia económica moderna. A sua reintrodução na forma
da economia política institucionalista é portanto um desafio explícito à economia
neoclássica, visto que se baseia na premissa fundamental, à qual os neoclássicos
se opõem, de que a economia não pode ser separada dos sistemas político e social
nos quais ela está inserida7.

1.4 A Racionalidade Económica: a Optimização, a Racionalidade Limitada, o


Raciocínio Marginalista

Falar em racionalidade justifica-se devido à escassez de recursos económicos. Com


o estudo centrado na determinação e avaliação de escolhas racionais, a Economia
tem influências sobre a modelação jurídica, na medida em que esta seja fruto ou
objecto de escolhas sociais e se trate de prever os efeitos de regras jurídicas
alternativas aplicadas ás decisões individuais.

A análise económica da racionalidade pode assumir duas vias:

1. A de olhar para os objectivos e determinar a racionalidade da adequação dos


meios para os atingir;

2. A de olhar para os meios disponíveis e tentar, encontrar-lhes objectivos para os


quais eles se afigurem racionalmente adequados.

Num caso predominarão na análise económica propósitos de optimização de


meios, no outro, objectivos de maximização dos fins. Devemos a George Stigler a

7 Veja-se e.g Thorstein Veblen (1857–1929) escreveu o seu primeiro e mais influente
livro, A Teoria da Classe Ociosa (1899). Nele, Veblen analisa a motivação para o
consumismo conspícuo, vigente no capitalismo, como um forma de demonstrar sucesso -
um comportamento adoptado não só por uma classe endinheirada e predatória mas
também imitado pelas classes mais baixas. A ociosidade conspícua foi outro foco da
crítica de Veblen. O conceito de consumo conspícuo estava em contradição directa com a
visão neoclássica de que o capitalismo era eficiente. Em A Teoria do Negócio Empresarial
(1904), Veblen apontou o conflito entre a motivação da indústria (produzir mercadorias
úteis) e a motivação empresarial (usar ou subutilizar a infraestrutura industrial para gerar
lucros), argumentando que a primeira é normalmente prejudicada porque as empresas
perseguem a segunda. A produção e os avanços tecnológicos são prejudicados pelas
práticas empresariais e pela criação de monopólios. As empresas protegem os seus
investimentos e se utilizam excessivamente do crédito, o que leva a depressões e crescentes
gastos militares e de guerra, graças ao controle empresarial do poder político. Todavia,
esses dois livros, o primeiro centrado na crítica ao consumismo, e o segundo na crítica à
especulação, não defendiam mudanças.

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formulação neoclássica do princípio da optimização: que é o da escolha da
conduta que, de entre todas as possíveis, apresenta a máxima diferença entre
benefícios e custos. Sendo custos de oportunidade todos os benefícios que deixamos
de receber por sacrificarmos as opções que tínhamos, se preteridas em favor da
conduta que escolhemos.

O conceito de racionalidade limitada reporta determinada conduta para uma


relação de ponderação de custos implícitos na racionalidade, e que por isso, nas
decisões comuns e do “comportamento económico” se, substitui o objectivo da
maximização pelo da satisfação, substitui a exigência do óptimo pela do
meramente suficiente.

O Marginalismo representou um instrumento que veio permitir a assunção de


que usos alternativos e limitados poderiam determinar o óptimo individual ou
colectivo perante a utilização de recursos escassos.

A óptica do Consumidor: Nesta óptica o marginalismo preconiza a análise das


necessidades humanas e da forma como os indivíduos as procuram satisfazer.
Partindo da assunção que a utilidade adicional retirada de cada bem pelo seu
consumidor vai diminuindo, logo o elemento fundamental é a medida de valor.
Estava criada a denominada teoria do valor-utilidade, que rompeu com a teoria do
valor-trabalho, base da análise socialista, segundo a qual o valor das coisas é
medido pelo trabalho.

A óptica do Productor (Paul Samuelson): Nesta óptica temos o conceito de


custo marginal, como a mudança ocorrida no custo total quando se aumenta ou
diminui a produção total de bens ou serviços numa unidade. Cmg=∆CT/∆Q.

Cmg-Custo Marginal

∆CT-Variação do Custo Total

∆Q-Variação da Quantidade Produzida

1.5 As Interrogações Elementares da Decisão Económica

As interrogações elementares da decisão económica

1. O que produzir e quanto?

2. Como produzir e como optimizar o modo de produzir?

3. Para quem produzir e quando?

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4. Quem decide e por que processo? Mercado?Estado?Ambos?

5. Como confiar?

1.6 A tipologia de Economia em Angola e os postulados económicos da


Constituição da República

Com a independência de Angola a Lei Constitucional de 11 de Novembro de


1975 consagrava postulados constitucionais de âmbito económico assente no
projecto constitucional do MPLA-Partido do Trabalho essencialmente com base
nos princípios da propriedade socialista, implicando a intervenção directa e
indirecta do estado na actividade produtiva.
Seguindo Sousa Franco8 trata-se de uma nova importância à uma
regulamentação jurídica da economia que se revelou na instauração revolucionária
de novos sistemas sócio-económicos de teor socialista colectivista. As revoluções
marxistas do século XX caracterizaram-se por tomar como elemento deliberado do
projecto revolucionário a transformação radical da ordem económica. Esta torna-
se, assim, elemento nuclear na estruturação das condições de transição para o
socialismo, segundo os conceitos marxistas-leninistas, no domínio económico tal
como no domínio político.
Como as diversas constituições dos estados socialistas9, também a
constituição angolana de 1975 dava grande importância à direcção e
regulamentação administrativa da economia e a socialização da propriedade feita
através do Estado e das Cooperativas, embora com características próprias, pois
por exemplo no artigo 9º estabelecia-se que a base do desenvolvimento económico
e social era a propriedade estatal e cooperativa, no artigo 10º consagrava-se a
protecção e garantia de actividades e propriedade privada (significando um
reconhecimento da propriedade privada).
A constituição de 1975 conheceu diversas revisões constitucionais que
visavam essencialmente a organização política do Estado:
• 1976 (Lei nº71/76 de 11 de Novembro);
• 1977 (Lei nº13/77 de 7 de Agosto) ;
• 1978 (Lei Constitucional revista de 7 de Fevereiro de 1978) ;

8 António L. De Sousa Franco, Noções de Direito da Economia, vol.I, Lisboa, 1983, pg.21.
9 A Declaração dos direitos do povo trabalhador e explorado da República Soviética Russa, de 17
de Janeiro de 1918 foi o primeiro texto constitucional gerado por uma experiência social com uma
versão extrema do programa de transformação social típico do marxismo-leninismo. As diversas
constituições dos estados socialistas optaram por um modelo de gestão administrativa
centralizada como no caso da soviético ou por um modelo mais descentralizado como no caso
jugoslavo.

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• 1979 (Lei nº 1/79 de Janeiro);
• 1980 (Lei Constitucional revista de 23 de Setembro de 1980) ;
• 1986 (Lei nº1/86 de 1 de Fevereiro) ;
• 1987 (Lei nº2/87 de 31 de Janeiro);
• 1991 (Lei nº12/91 de 6 de Maio);
• 1992 (Lei nº23/92 de 16 de Setembro).
Com a Revisão da Lei Constitucional de 7 de Fevereiro de 1978 abre-se um
pequeno foco à iniciativa e propriedade privada (artigos 2º e 9º). Mas continuaram
as nacionalizações, confiscos, participações públicas. As sucessivas revisões à
Constituição no período 1987-1992 advêm da profunda viragem na política
económica em Angola resultante de factores de natureza externa, designadamente,
a transformação dos Estados de ideologia marxista-leninista em Estados Sociais
Democráticos, assim como de natureza interna devido a uma profunda crise
económica com elevados índices de inflação e de um débil crescimento do produto
interno bruto (PIB).
A crise económica reflectia-se na degradação do poder de compra, dos salários,
bem como em profundas assimetrias económico-sociais entre a Capital, Províncias,
Municípios e Povoações, e grandes movimentos populacionais para o litoral como
resultado da guerra que se estendeu um pouco por todo o País. Como consequência
as revisões constitucionais do período em referência foram proporcionando a
abertura para a criação de empresas privadas, mistas e familiares, prevalecendo o
princípio das zonas económicas de reserva pública (absoluta e relativa).
Em 1992 dá-se mais uma revisão constitucional (Lei nº 23/92 de 16 de
Setembro) que na verdade deu origem a uma nova constituição, em que os
postulados de âmbito económico consagravam a coexistência de propriedade dos
meios de produção, conforme expressa na redacção do artigo 10º em que “o sistema
económico assenta na coexistência de diversos tipos de propriedade pública,
privada, mista, cooperativa e familiar, gozando todos de igual protecção”. O livre
acesso e a liberdade económica (livre iniciativa) foram outros princípios plasmados
na referida constituição.
A eficiência e a intervenção no mercado, são outros princípios que podemos
depreender na Constituição Económica de 1992, quando estabelece como critério a
utilização racional de todas as capacidades produtivas e recursos naturais (artigo
9º, 2ª parte da Lei Constitucional), incumbindo ao Estado a criação de condições
para o funcionamento eficaz do processo económico, por outras palavras, do
mercado (artigo 10º, da Lei Constitucional).
A actual Lei Constitucional de Angola de 5 de Fevereiro de 2010, reafirmou
a consagração de uma economia de mercado com base nos princípios e valores da
sã concorrência, da moralidade e da ética, previstos e assegurados por lei. Em
conformidade com os seguintes princípios fundamentais sob os quais se alicerça a
organização económica, financeira e fiscal, tais como enumerados no artigo 89º: a)
o papel do Estado de regulador da economia e coordenador do desenvolvimento

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Notas das aulas


nacional harmonioso, nos termos da Constituição e da Lei; b) livre iniciativa
económica e empresarial, a exercer nos termos da lei; c) economia de mercado, na
base dos princípios e valores da sã concorrência, da moralidade e da ética,
previstos e assegurados por lei; d) respeito e protecção à propriedade e iniciativas
privadas; f) função social da propriedade; h) defesa do consumidor e do ambiente.
E ainda, direito à propriedade privada, à sua transmissão, nos termos da
Constituição e da Lei, garantia de respeito e protecção da propriedade e demais
direitos reais das pessoas singulares, colectivas e das comunidades locais, sendo
permitida a requisição civil temporária e a expropriação mediante justa
indemnização nos termos da Constituição e da Lei (artigo 37º), livre iniciativa
empresarial e cooperativa, a exercer nos termos da lei, a lei promove, disciplina e
protege a actividade económica e os investimentos por parte de pessoas singulares
ou colectivas privadas, nacionais, estrangeiras, a fim de garantir a sua contribuição
para o desenvolvimento do país (artigo 38º), protecção da propriedade intelectual,
às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a
outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento
tecnológico e económico do país (artigo 42º).
À diferença da legislação de 1992, que exordia numa economia de mercado
e abertura á um sistema político democrático, notam-se nos postulados da
constituição de 2010 princípios que vão de encontro a preocupação da “defesa da
ordem liberal”10 ou seja, que direccionam e promovem a sã concorrência, da
moralidade e da ética, função social da propriedade, defesa do consumidor e do
ambiente. Podendo-se mesmo afirma que a constituição de 2010 reflectiu a tomada
de consciência dos reflexos negativos em termos económicos e do desenvolvimento
da empresa, de experiências constitucionais radicais anteriores (tanto socialistas
como capitalistas). Sobre esta matéria de acordo com Soares Martínez (1990) “se
tem procurado circunscrever a economia ao conhecimento regido por leis naturais, a
semelhança dos fenómenos estudados pelas ciências físicas. A economia seria,
segundo essa concepção, a ciência das riquezas; e o homem o escravo dessas
riquezas, apenas um dos instrumentos necessários à sua produção. Assim o
entenderam quer os liberais quer os socialistas. Mas desiludidos são cada vez
mais numerosos os economistas que afirmam a necessidade de uma revisão de
concepções que reconduza a economia ao homem”11.
Entretanto apesar de uma Constituição que reconheça a economia de
mercado será difícil afirmar que se trata de uma economia liberal de mercado pelo
número de empresa públicas ainda detidas pelo estado, pelo número de
instituições públicas que intervêm na economia (instituições ministeriais, institutos
governamentais, etc, como pelas constantes intervenções legislativas, todas com o
objectivo de alavancar uma economia com subprodução em diversos sectores (da

10Ibid. Sousa Franco, 1983, pg.12.


11cf. Soares Martinez, Dispersos Económicos, Separata da Revista da Faculdade de Direito, Lisboa,
1990, pg. 301; cf. também Ibid. Sousa Franco, 1983; cf. também Bento XVI, Caritas in Veritate, 2ª
Edição, Diário do Minho, 2009, pg.54.

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apelidada economia real), logo podemos afirmar que a actual economia
angolana se caracteriza por uma economia mista.

De facto Seguindo a reflexão de Paul Samuelson e William Nordhaus


(2005), “Ao medir os méritos relativos do Estado e do mercado, o debate público
por vezes simplifica demasiado as escolhas difíceis que a sociedade enfrenta. Os
mercados fizeram milagres em alguns países. Mas sem o tipo adequado de
estrutura legal e política e sem o capital de base que promova o comércio e o
investimento privado, os mercados também deram origem ao capitalismo corrupto
com grande desigualdade, pobreza persistente e declínio dos níveis de vida.” De
facto no que se refere a Angola a experiência de impacto negativo sobretudo em
termos de erradicação da pobreza extrema e de desigualdade social de uma
mudança da economia centralizada e socialista para a economia de mercado levou
o governo a uma maior intervenção e atenção à regulação económica que se foi
consolidando após Abril de 2002 com o fim da guerra civil.
Angola não constitui excepção às tendências dominantes na ideologia
económica actual de economia mista, ou seja, do aproveitamento dos governos do
sector privado através do mecanismo de mercado para facilitar o alcance dos
meios sociais, por isso embora continue com o processo de desestatização,
privatização e criação de um empresariado nacional, o Estado mantém uma
intervenção directa através da criação e modernização de empresas públicas (sendo
neste aspecto criticado e acusado de excessivamente intervencionista) e através de
uma intervenção reguladora que se reflecte na constituição de 2010 com maior
atenção pelo respeito à propriedade, ao meio ambiente.
Centrando sobre os ditos excessos intervencionistas do Estado na economia,
através da criação e modernização de empresas públicas e mistas, se levanta a
questão de se saber se o estado angolano não estará simplesmente a implementar
uma das teorias de Jonh Keynes sobre a promoção do desenvolvimento económico
se substituindo à incapacidade de privados de realizarem tais investimentos? Pois,
de acordo com a teoria em apreço, a poupança investida aumenta a produção, para
tal é necessário: incentivar o consumo; organizar o afluxo de investimentos de
acordo com uma política monetária adequada; o investimento público deverá ser
um recurso na insuficiência de investimento privado, mas não se substituindo em
permanência ao investimento privado, desinvestindo quando a dinâmica do
investimento privado é grande; regulamentar os mercados financeiros para impedir
que eles tenham um efeito perturbador.
No caso de Angola, sendo um país onde as receitas públicas são
essencialmente patrimoniais, pois provêem essencialmente da exploração
petrolífera, o Estado tem notavelmente maior disponibilidade de capital do que os
privados que acabam de sair de uma guerra civil. O problema está em se saber até

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que ponto o Estado pretende continuar a substituir-se aos privados e que políticas
pretende implementar de modo a estimular o investimento privado.
Trata-se de um processo com características específicas rodeado de
dificuldades ligadas por exemplo à criação de um mercado concorrencial
equilibrado, da demolição de barreiras à entrada e de funcionamento, de
legislação económica eficaz e a sua rápida aplicação de modo a responder à
evolução do mercado, de boa capacidade de resposta da administração pública e
de infra-estruturas económicas.
Check

1. Caracterize cronologicamente o pensamento económico em Angola a partir de


1975 até a actualidade (2021). Enriqueça o seu argumento com legislação,
artigos de jornais, etc.

2. Caracterize cronologicamente o “Estado de Bem-Estar Social” ou “Estado


Providência”. Quais são os países que adoptaram esse tipo de Estado e
enriqueça o seu argumento com a legislação, artigos de jornais, etc.

3. Caracterize cronologicamente o “Estado Neo-Liberal”, quais são os países que


adoptaram esse tipo de Estado e enriqueça o seu argumento com a legislação,
artigos de jornais, etc.

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